4 Uma proposta de identificação do câncer infanto-juvenil a

Propaganda
relatos de pesquisa
UMA PROPOSTA DE IDENTIFICAÇÃO DO
CÂNCER INFANTO-JUVENIL A PARTIR
DA ATENÇÃO BÁSICA
Leonardo Magela Lopes Matoso*
Libina Edriana da Costa Oliveira**
Sibele Lima da Costa***
RESUMO
O câncer infanto-juvenil representa, no Brasil, a
segunda causa de mortalidade entre crianças e
adolescentes de um a dezenove anos. Seu impacto no
ranking das doenças torna-se significativamente
importante para a saúde pública, já que a primeira
causa de morte infanto-juvenil está relacionada aos
acidentes e à violência. Muitas crianças ainda são
encaminhadas aos centros de alta complexidade para
tratamento oncológico com a doença em estágio
avançado, o que revela algumas lacunas na detecção
precoce. Diante desta problemática, objetivou-se
analisar as atividades desenvolvidas junto às equipes
da atenção primária para identificação dos casos
suspeitos do câncer infanto-juvenil. Trata-se de um
estudo de natureza descritiva, exploratória, com
abordagem quali-quantitativa, que foi desenvolvida em
seis Unidades Básicas de Saúde, no Município de
Mossoró. Contou com a participação de vinte e quatro
profissionais da Atenção Primária em Saúde. Como
instrumento de coleta de dados foi utilizado um
questionário semiestruturado. Os dados quantitativos
foram analisados através da estatística descritiva, com
relação aos dados qualitativos, os mesmos foram
analisados de acordo com a Análise de Conteúdo, por
meio de temas geradores.
Percebeu-se que os
profissionais possuem conhecimentos sobre a
identificação do câncer infanto-juvenil, e, demandam
conhecer mais sobre os sinais e sintomas para
identificação precoce, e a prestação de uma assistência
sistematizada. Torna-se fundamental estimular a
qualificação dos profissionais da atenção primária para
a identificação precoce e o fortalecimento de uma rede
de assistência que proporcione atendimento integral e a
redução no retardo do diagnóstico de câncer infantojuvenil.
Palavras-chave: Detecção Precoce de Câncer. Atenção Primária
à Saúde. Neoplasias. Criança. Adolescente.
* Escritor/Autor. Acadêmico do Curso
Técnico em Radiologia e Acadêmico
de Enfermagem da Universidade
Potiguar – UnP, Campus Mossoró.
Bolsista do Conselho Nacional de
Desenvolvimento
Científico
e
Tecnológico (CNPq) atrelado ao
Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica (PIBIC) do
Centro de Oncologia e Hematologia
de
Mossoró
–
RN.
E-mail:
[email protected]
** Acadêmica de Enfermagem da
Universidade Potiguar – UnP,
Campus Mossoró. Monitora da
Disciplina de Atendimento PréHospitalar (APH). Pesquisadora do
Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica (PIBIC) do
Centro de Oncologia e Hematologia
de
Mossoró
–
RN.
E-mail:
[email protected]
*** Enfermeira. Especialista em
Saúde da Família pela Universidade
Federal do Ceará – UFC. Mestranda
em Enfermagem. Docente do Curso
de Graduação em Enfermagem da
Universidade Potiguar - UnP,
Campus
Mossoró/RN.
E-mail:
[email protected]
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p. 187-205, jul./dez. 2014
187
Leonardo Magela Lopes Matoso, Libina Edriana da Costa Oliveira, Sibele Lima da Costa
1 INTRODUÇÃO
A
O aumento progressivo dos diver-
World
Health
Organizations
sos tipos de câncer - este compreendido
(2009) e a International Union Against
como uma doença caracterizada pelo de-
Cancer (2009)1 alertam ainda para o
senvolvimento anômalo da morfofuncio-
crescimento continuado do número de
nalidade celular - tem levado pesquisado-
mortes por câncer no mundo. Estima-se
res a estudar e desvendar a sua etiologia,
em doze a dezessete milhões de mortes
bem como as modalidades de tratamento
em 2030, podendo chegar a vinte e seis
e prevenção.
milhões de casos de câncer no mundo.
O câncer na infância compreende
Atualmente, segundo a UICC, a
um conjunto de patologias relativamente
expectativa de vida de cinco anos é maior
raras, mas é a principal causa de morte
em
relacionada com a doença entre crianças
quando
e adolescentes em países de alta renda.
desenvolvimento (30-40%).
A taxa de incidência média anual para
países
A
desenvolvidos
comparada
divulgação
(50-60%),
àqueles
mundial
em
de
todos os tipos de câncer nesse grupo
conhecimentos e resultados de pesquisas
etário,
que mostrem a importância da temática
até
20
anos,
é
de
18,8
casos/100.000 pessoas-ano nos Estados
prevenção
Unidos (GRABOIS et al., 2013).
reduziria, todavia, o aparecimento de
Camargo et al. (2010), apresentou
em seu doutorado que a taxa mediana de
e
diagnóstico
precoce,
novos casos e a cura de um terço dos
casos de cânceres (UICC, 2009).
incidência de câncer na infância em 14 de
No Brasil, pais em desenvolvi-
seus registros de base populacional é de
mento, o câncer já representa a segunda
154,3/milhão no Brasil, representando a
causa de mortalidade proporcional entre
quarta e a quinta causas de óbito na faixa
crianças e adolescentes de 1 a 19 anos,
etária de um a 18 anos nos sexos
para todas as regiões, assim como em
feminino e masculino, respectivamente, e
países desenvolvidos. Tendo em vista que
a primeira causa de morte por doença a
a primeira causa está relacionada aos
partir dos cinco anos de idade.
1
A UICC foi fundada em 1933 e reúne mais de 300
organizações-membro, especializado e engajado na luta contra
o câncer, em mais de 100 países através do mundo, com sede
em Genebra, Suíça, sem fins lucrativos, se classifica como
sendo apolítica e não sectária. Fonte: www.uicc.org
188
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014
Uma proposta de Identificação do câncer infanto-juvenil a partir da atenção básica
acidentes e à violência, pode-se dizer que
nervoso central e os linfomas. Mais raros,
o câncer é a primeira causa de morte por
mas
doença, após um ano de idade, até o final
neuroblastoma, tumores renais (Tumor de
da adolescência (BRASIL, 2011).
Willms),
O câncer infanto-juvenil corres-
igualmente
típicos
retinoblastoma,
germinativos,
são
tumores
osteossarcomas
e
ponde a um grupo de várias doenças que
sarcomas de tecidos moles. Dos óbitos
têm em comum o desenvolvimento de
por neoplasias na infância e adolescência
células que perderam sua capacidade de
em
crescimento normal e, assim, sofreram
representam
multiplicação e proliferam desordenadas,
responsáveis por 39% das mortes na
no local ou à distância (ROSEFELD et al.,
Europa e por 50% nas Américas, Oceania
2011). Esse tipo de câncer varia de
e Ásia (BRASIL, 2008).
acordo com o tipo histológico, localização
primária do tumor, etnia, sexo e idade.
nível
mundial,
as
a
causa,
maior
leucemias
sendo
Os linfomas e neoplasias retículoendoteliais correspondem ao terceiro tipo
Portanto, o mesmo é considerado
de câncer mais comum em crianças norte-
quando
as
americanas, após as leucemias e os
neoplasias que acometem os adultos,
tumores do Sistema Nervoso Central. O
correspondendo entre 2 e 3% entre todas
que
as neoplasias malignas e, geralmente,
necessita ser visualizada sobre uma ótica
afeta as células do sistema sanguíneo e
diferenciada pelos profissionais da área
os tecidos de sustentação, enquanto que,
da saúde, principalmente no que se refere
o câncer do adulto afeta as células do
à detecção precoce do câncer infanto-
epitélio, que recobre os diferentes órgãos
juvenil,
(câncer de mama, câncer de pulmão).
vislumbrada
Apresenta ainda, tendência a menores
sintomas (BRASIL, 2011).
raro
comparado
com
revela
que
pois
está
sua
apenas
problemática
identificação
é
pelos
e
sinais
períodos de latência, crescimento rápido e
O diagnóstico precoce do câncer
invasivo, porém responde melhor as
infanto-juvenil compreende medidas para
terapêuticas atuais (BRAGA et al., 2002).
identificação de sinais e sintomas clínicos
As
neoplasias
frequentes
em fase inicial da doença, podendo
entre crianças e adolescentes são as
influenciar positivamente o prognóstico de
leucemias,
câncer
os
mais
tumores
do
sistema
na
criança
e
adolescente
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014
e
189
Leonardo Magela Lopes Matoso, Libina Edriana da Costa Oliveira, Sibele Lima da Costa
possibilita tratamento menos agressivo,
como maiores possibilidades
de cura
Em vista dessa situação, há necessidade de se desenvolver ações e estratégias que tenham por objetivo a detecção
(BRASIL, 2011).
De acordo com a Politica Nacional
precoce do câncer infanto-juvenil, assim
de Atenção Oncológica (PNAO) todo e
como iniciativas que objetivem desenvol-
qualquer sujeito deve ter seus direitos
ver o conhecimento das populações e de
garantidos e as ações de promoção,
profissionais da saúde em relação ao im-
prevenção,
pacto causado por esta enfermidade.
diagnósticos,
reabilitação
e
tratamentos,
cuidados
paliativos
Nessa
ótica,
salienta-se
deste
estudo
a
assegurados, levando em consideração a
importância
por
importância epidemiológica do câncer no
compreender que a equipe de saúde
Brasil e a sua magnitude social.
qualificada pode ser determinante no
Sendo assim, a atenção primária
processo da detecção precoce do câncer
se configura como a porta de entrada
infanto-juvenil, uma vez que estará apto a
para o Sistema Único de Saúde (SUS),
identificar antecipadamente os sinais e
onde é a partir deste que ocorre o
sintomas
primeiro contato do usuário com os
consequentemente o encaminhamento ao
serviços de saúde, uma vez que possui
serviço especializado para o tratamento.
capacidade satisfatória de resolubilidade,
sugestivos
Nesta
de
perspectiva,
neoplasia
é
e
relevante
as
apontar a necessidade de estudar a
necessidades e demandas de saúde das
temática tendo em vista que a discussão
populações. Assim, pode exercer papel
do câncer infanto-juvenil é considerada
positivo
significativa para a oncologia, para a
respondendo
nas
adequadamente
ações
de
identificação
precoce do câncer infanto-juvenil.
família, e principalmente para as crianças.
Dessa forma, se faz o seguinte
Diante do exposto, este estudo tem
questionamento: Qual a importância da
como objetivo geral analisar as atividades
detecção precoce do câncer infanto-
desenvolvidas junto às equipes da aten-
juvenil? E quais melhorias podem existir
ção primária para identificação dos casos
na atuação da equipe de profissionais de
suspeitos do câncer infanto-juvenil. Como
saúde da atenção primária, no que se
objetivos específicos tem-se identificar o
refere à identificação precoce do câncer
conhecimento dos profissionais da aten-
infanto-juvenil?
ção primária acerca dos sinais e sintomas
190
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014
Uma proposta de Identificação do câncer infanto-juvenil a partir da atenção básica
sugestivos do câncer-juvenil; Desenvolver
reduzidos
atividades de capacitação para identifica-
variáveis (MINAYO, 2014).
ção do câncer infanto-juvenil e produzir
a
operacionalização
Quanto
a
sua
de
classificação
em parceria com o Centro de Oncologia e
metodológica, a mesma será realizada
Hematologia de Mossoró (COHM) uma
mediante
cartilha sobre a sintomatologia sugestiva
acordo com Thiollent (2005), é um tipo de
do câncer infanto-juvenil.
pesquisa social com base empírica que é
a
concebida
2 METODOLOGIA
Pesquisa-Ação,
e
realizada
em
que
de
estreita
associação com uma ação ou com a
resolução de um problema coletivo e no
Trata-se de um estudo de caráter
descritivo
com
abordagem
qual os pesquisadores e os participantes
quali-
representativos da situação ou problema
quantitativa, desenvolvido na forma de
estão envolvidos de modo cooperativo ou
pesquisa ação.
participativo. Dois objetivos são atribuídos
Para Minayo (2014), a pesquisa
à pesquisa-ação, que segundo Thiollent
descritiva nos proporciona a oportunidade
(2005) é o objetivo prático, este é
de observar fatos, realizar registros e
relacionado ao tipo de problema que a
analisar, assim como, interpretar os dados
pesquisa pretende resolver ou contribuir
coletados
para sua resolução; e o objetivo de
questionário
através
de
um
semiestruturada
roteiro
e
pela
própria observação do pesquisador.
Já a pesquisa qualitativa responde
a questões muito particulares. Ela se
conhecimento,
este
deve
obter
informações, aumentar o conhecimento
sobre determinado tipo de problemática.
Tripp
(2005)
classifica
o
preocupa, nas ciências sociais, com um
conhecimento obtido por meio da prática
nível de realidade que não pode ser
cotidiana
quantificada. Ou seja, ela trabalha com
enquanto através da pesquisa ação pode
um universo de significados, motivos,
ser compartilhado com outros na mesma
aspirações, crenças, valores e atitudes, o
instituição ou profissão. A partir daí é
que corresponde a um espaço mais
divulgado não somente por meio de
profundo das relações, dos processos e
publicações direcionadas para poucos
dos fenômenos que não podem ser
sujeitos, proporcionando a possibilidade
como
sendo
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014
individualista
191
Leonardo Magela Lopes Matoso, Libina Edriana da Costa Oliveira, Sibele Lima da Costa
de mudanças, da prática cotidiana, aos
assinatura do Termo de Consentimento
sujeitos participantes da pesquisa.
Livre e Esclarecido – TCLE. Como
O cenário desse estudo foram seis
Unidades
Básicas
de
Saúde
(UBS)
critérios de exclusão não participarão os
profissionais
que
exercem
funções
localizadas no município de Mossoró/RN,
administrativas e gerenciais, profissionais
a saber: UBS Dr. Chico Porto, localizada
que estejam na unidade para serviços
no bairro Aeroporto; UBS Marina Ferreira,
temporários,
localizada no Sítio Barrinha; UBS Dr. Luiz
estagiários.
UBS
Sinharinha
Borges,
por
exemplo,
Após o convite para participarem
Escolástico, localizada no bairro Santa
Delmira;
como
da
pesquisa
os
participantes
foram
localizada no bairro Barrocas; UBS Centro
informados sobre os procedimentos da
Clínico Evangélico Edgard Bulamarque;
pesquisa, e os que desejaram participar
localizada
assinaram o TCLE.
no
centro
da
cidade
de
Mossoró e UBS Dr. Cid Salém Duarte,
Os sujeitos foram convidados a
localizado no Abolição IV. Essas unidades
participar do estudo através de contato
foram escolhidas por ser campo de
direto, individualmente e no seu próprio
estágio/prática da Universidade Potiguar -
local
UnP o que facilita o contato com os
identidade dos mesmos, utilizou-se em
profissionais.
substituição
de trabalho. Para preservar a
aos
nomes
reais
dos
como
entrevistados, nome de personagens de
sujeitos os profissionais das Unidades
desenhos animados da Walt Disney, tais
Básicas de Saúde, sendo estes: médicos,
como: Margarida, Pateta, Mickey, Minnie,
enfermeiros, odontólogos, técnicos de
Jane, Anastásia, Alice, Pluto, Rapunzel,
enfermagem, auxiliares de consultório
Mulan, entre outros.
O
referido
estudo
teve
Para
dentários e agentes comunitários de
saúde.
alcançar
os
objetivos
propostos utilizou-se como instrumento de
Como critérios de inclusão os
coleta
de
dados
um
questionário
profissionais deveriam fazer parte da
semiestruturada. Minayo (2008) discorre
equipe de saúde da família das unidades
que esta técnica combina perguntas
selecionadas para a pesquisa, exercer
fechadas (ou estruturadas) e abertas,
atividades assistenciais na unidade e
onde o entrevistado tem a possibilidade
aceitar participar da pesquisa, mediante
de
192
discorrer
o
tema proposto,
sem
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Uma proposta de Identificação do câncer infanto-juvenil a partir da atenção básica
O terceiro momento foi realizado
respostas ou condições prefixadas pelo
sete meses após o segundo momento.
pesquisador.
O estudo foi dividido em três
Vale ressaltar que o espaço temporal foi
momentos, onde o primeiro refere-se à
escolhido por comodidade, uma vez que
etapa de diagnóstico situacional junto às
este
equipes de saúde, para isso, utilizou-se
descrever as mudanças ocorridas na
um
prática assistencial das equipes após as
questionário
abordando
quais
semiestruturada,
os
conhecimentos
ações
momento
de
foi
direcionado
capacitação,
e
para
quais
as
acerca dos sinais e sintomas do câncer
perspectivas de futuro em relação a essa
infanto-juvenil
da
mudança. Esse parâmetro foi identificado
importância do diagnóstico precoce do
através da realização de um questionário
câncer. Nessa primeira etapa participaram
semiestruturada, que foi conduzido com o
noventa e três (93) profissionais da
objetivo de avaliar a construção do
Atenção Básica em Saúde.
processo,
e
a
percepção
O segundo momento constitui-se
elencando
os
principais
benefícios e dificuldades identificadas
no seminário de treinamento das Equipes
nessa mudança.
da Atenção Básica, baseado no que foi
Os
dados
quantitativos
identificado no primeiro momento em
analisados
relação aos conhecimentos referentes ao
descritiva
(porcentagem)
câncer
referencial
teórico. Com relação aos
infanto-juvenil,
onde
foram
através
da
foram
estatística
à
luz
do
abordados os conteúdos em que os
dados qualitativos, os mesmos foram
mesmos tiverem mais dúvidas. Para
analisados de acordo com a técnica de
esses seminários solicitou-se a presença
análise de conteúdo, que segundo Bardin
de uma médica especialista em câncer
(2009) é uma técnica de análise das
infanto-juvenil do Centro de Oncologia e
comunicações,
Hematologia de Mossoró. Durante o
procedimentos, sistemáticos e objetivos
percurso do treinamento, participaram
de
apenas trinta e nove (39) profissionais e
mensagens, indicadores (quantitativos ou
estes
não)
receberam
ao
termino,
certificado de quatro horas aula.
um
descrição
que
onde
visa
do
permitam
obter
conteúdo
a
inferência
por
das
de
conhecimentos relativos às condições de
produção e recepção dessas mensagens.
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014
193
Leonardo Magela Lopes Matoso, Libina Edriana da Costa Oliveira, Sibele Lima da Costa
Ressalta-se que para realização
deste
estudo
consideração
foram
os
constituindo
levados
em
pressupostos
da
resolução 466/12 do Conselho Nacional
assim,
o
corpus
desse
estudo.
3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS
de Saúde/Ministério da Saúde que dispõe
sobre pesquisas com seres humanos, foi
A
seguir
serão
abordados
os
no transcorrer
da
organização
das
solicitado também, o consentimento livre e
resultados
obtidos
esclarecido da população estudada, bem
pesquisa.
Para
como a aprovação do Comitê de Ética da
categorias da análise de conteúdo na
Instituição, onde o número do CAAE é
modalidade temática, proposto por Bardin
06204012.8.0000.5296
(2009)
e
parecer
nº
126.092.
a
utilizam-se
as
questões
norteadoras como elemento estruturante
para os temas centrais. As categorias
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
emergiram, a partir da codificação dos
indicadores evidenciados nas falas dos
Dos noventa e três (93) sujeitos
sujeitos, estes foram organizados de
que participaram da primeira etapa da
forma
pesquisa, que se reportava a captação da
visualização e análise dos dados.
discursiva
para
facilitar
a
realidade por meio de um roteiro de um
questionário semiestruturado, observou-
Tabela 1 - Caracterização dos Sujeitos
se uma evasão dos mesmos durante a
realização da segunda etapa, que se
referia ao treinamento direcionado à
identificação precoce do câncer infantojuvenil, comparecendo apenas trinta e
nove (39) participantes.
Durante o processo de análise e
confrontamento da primeira e segunda
etapa, observou-se que dos trinta e nove
(39) participantes, apenas vinte e quatro
(24) corresponderam as duas etapas,
194
Fonte: Informações provenientes dos participantes dessa pesquisa (2014).
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014
Uma proposta de Identificação do câncer infanto-juvenil a partir da atenção básica
A faixa etária dos profissionais
variou entre 20 e 50 anos ou mais, sendo
de câncer infanto-juvenil, durante a sua
vida profissional.
seis (25%) entre 20 e 30 anos, sete (29%)
Indagados se já identificaram sinais
entre 30 e 40 anos, sete (29%) entre 40 e
e sintomas sugestivos de câncer infanto-
50 anos e apenas quatro sujeitos tinha
juvenil, vinte (83,3%) falaram que não e
acima
quatro (16,6%) que sim. Os sinais e
de
50
anos
de
idade,
correspondendo a 16%. Destes, vinte e
sintomas
referidos
pelos
sujeitos
da
três (96%) são do gênero feminino e um
pesquisa na entrevista estão listados no
(4%) do gênero masculino. Quanto ao
quadro a seguir:
cargo/função exercido, dezessete (70,1%)
são Agentes Comunitários de Saúde
(ACS), quatro (16,7%) enfermeiros, dois
Tabela 2 - Conhecimento do grupo sobre os sinais
e sintomas que podem sugerir câncer nas crianças
e adolescentes.
(8,2%) Auxiliar de Saúde Bucal (ASB) e
uma (4,2%) Assistente Social (AS). No
que se refere ao campo de atuação, vinte
e dois (92%) trabalham na Estratégia de
Saúde da Família (ESF) e dois (8%) na
Unidade Básica de Saúde (UBS).
Em
relação
ao
conhecimento
prévio dos sujeitos, dezenove (79,1%),
envolvendo todas as classes profissionais
citadas,
referiram
conhecer
sinais
e
sintomas do câncer infanto-juvenil. Já os
demais sujeitos envolvidos na pesquisa, o
que corresponde a 20,9% relataram não
conhecer nenhum sinal ou sintoma, mas
tinham interesse em aprender sobre a
temática.
Quatorze
entrevistados
não
participaram de treinamentos direcionados
para a identificação de sinais e sintomas
Fonte:Informações provenientes dos participantes
dessa pesquisa (2014).
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014
195
Leonardo Magela Lopes Matoso, Libina Edriana da Costa Oliveira, Sibele Lima da Costa
Nas poucas oportunidades em que
para a prevenção e o diagnóstico precoce
os profissionais identificaram sinais e
– uma política sob a responsabilidade das
sintomas sugestivos de câncer, esses
secretarias
foram relatados e resolvidos em forma de
(AZEVEDO et al., 2012).
encaminhamentos
para
serviços
municipais
de
saúde
Diante disso, a atenção primária é,
de
portanto, responsável por realizar, na
Oncologia e Hematologia de Mossoró
Rede de Serviços Básicos de Saúde,
(COHM).
ações de caráter individual e coletivo,
especializados
como
o
Centro
três
promoção da saúde e prevenção do
dificuldades
câncer, assim como o diagnóstico precoce
enfrentadas pela Atenção Básica em
e apoio a terapêutica de tumores, aos
Saúde (ABS) na detecção precoce do
cuidados paliativos e às ações clínicas
câncer infanto-juvenil; A importância do
para o seguimento de doentes tratados.
Das
grandes
narrativas,
categorias:
emergiram
As
Aspectos
Porém, a percepção que se tem é
apresentados às mudanças apreendidas
um desvio do que regue a Política
depois da capacitação.
Nacional de Atenção Oncológica, bem
diagnostico
precoce
e
os
como, os princípios e diretrizes do SUS.
4.1 DIFICULDADES ENFRENTADAS
PELA UBS NA DETECÇÃO
PRECOCE DO CÂNCER INFANTOJUVENIL
As falas dos profissionais de saúde
revelam um conhecimento insatisfatório
acerca da detecção precoce do câncer
infanto-juvenil. Associado a isso, fica claro
O Ministério da Saúde criou, em
2005, a Política Nacional de Atenção
Oncológica, que prega a necessidade de
integração da atenção básica às médias e
altas
complexidades.
Esta
política
o receio destes em realizar um olhar
direcionado para as suspeita de câncer na
criança e no adolescente, pois não
sentem segurança em suas avaliações
clínicas.
defende a facilitação do acesso a todas
as instâncias de controle do câncer, por
meio de uma linha que alcançasse todos
os níveis de atenção e atendimento.
Destaca
ainda
a
importância
da
elaboração de ações de saúde voltadas
196
“Acho que tem manchas pelo
corpo, aquelas manchas estranhas
que surgem do nada” (ELZA).
“O que eu conheço do câncer na
criança é aqueles sinais básicos,
que precisam ser bem avaliados,
pois pode indicar outras doenças.
Os sinais e sintomas são
sangramento, apatia, dor óssea,
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014
Uma proposta de Identificação do câncer infanto-juvenil a partir da atenção básica
vomito, palidez, aumento de
abdômen, olho de gato (mancha
branca),
febre,
petequeias,
gânglios infartados” (TIANA).
(2010),
em
estudo
de
revisão para
localizar produções científicas nacionais
que abordem assistência à saúde da
A maior parte dos sujeitos da
criança com câncer, encontraram, em um
pesquisa possui bom tempo de formação,
período de vinte e cinco anos, apenas um
atuando somente na saúde da família a
artigo
mais de 10 anos. Com isso, pressupõe-se
diagnóstico precoce, divulgado no ano de
que estes profissionais tiveram acesso a
dois mil e três com o título “Diagnóstico
conhecimentos sobre a temática durante
precoce
os seus cursos, sejam técnicos ou de
responsabilidade de todos”, publicado na
graduação, uma vez que no processo de
Revista da Associação Médica Brasileira,
formação essa temática tem recebido
dos autores Rodrigues e Camargo.
com
aprofundamento
do
câncer
em
infantil:
Somado à escassez de produções
maior ênfase nos últimos 25 anos.
A idade dos participantes evidencia
cientificas, existe também a falta de
uma população adulta, relativamente já
campanhas para a conscientização do
próxima da aposentadoria, inclusive com
câncer
um
os
estudado e difundido. Ressalta-se ainda a
pode
dificuldade pelos profissionais de saúde
demonstrar que os profissionais de saúde
em suspeitar de uma neoplasia nesta
não viram em suas trajetórias de nível
faixa etária e aplicar a conduta adequada
superior ou técnico conteúdos referentes
para confirmar a doença.
participante
cinquenta
anos.
já
ultrapassando
Esse
dado
a sinais e sintomas de câncer infanto-
infanto-juvenil,
Sendo
assim,
este
a
é
pouco
inclusão
nas
juvenil, por se tratar de uma temática
grades curriculares de uma disciplina para
recente trazida
familiarizar os futuros profissionais com o
para discussões
nas
Universidades.
Corroborando com a afirmação
anterior de que a discussão quanto ao
assunto é de extrema necessidade com
uma das soluções para atenuar esta
realidade.
diagnóstico precoce é recente, Castro
(2009) afirma que temas como “prevenção
do câncer” ganhou destaque na mídia nos
“Não sei muita coisa sobre o
câncer infanto-juvenil, a não ser
aquele olho de gato que aparece
na mídia” (ANASTASIA).
últimos dez anos. Já Mutti, Paula e Souto
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014
197
Leonardo Magela Lopes Matoso, Libina Edriana da Costa Oliveira, Sibele Lima da Costa
né? A gente não tem voz para eles
e acabam dizendo que não é
nada...” (MULAN).
A mídia, citada pelos profissionais,
foi considerada como fonte de conhecimento configurando-se numa grande aliDiante
ada na detecção precoce do câncer infanto-juvenil, pois divulga amplamente os
sinais e sintomas para toda a população,
facilitando a absorção da informação passada e consequentemente a aplicação
Assim, a atuação da mídia é um
fator indispensável para a mobilização
social, no qual estratégias de comunicasão
consideradas
fundamentais
a
atenção
primária é responsável por realizar, na
Rede de Serviços Básicos de Saúde,
ações de caráter individual e coletivo,
câncer, assim como o diagnóstico precoce
e apoio a terapêutica de tumores, aos
cuidados paliativos e às ações clínicas
para o seguimento de doentes tratados
Durante a condução deste trabalho,
“As duas vezes que percebi sinais
e sintomas sugestivos de câncer
na criança e tentei contatar, o
médico mandou a criança voltar
dizendo que a febre e a dor óssea
eram normais” (RAPUNZEL).
o quesito ‘encaminhamento’ revelou-se
preponderante, uma vez que muitos
entrevistados referiram dificuldade em
o
que
é
(BRASIL, 2005).
(CASTRO, 2009).
contatar
salientar
circunstância,
promoção da saúde e prevenção do
desta na prática.
ção
importante
dessa
serviço
de
referência,
retardando o diagnóstico precoce; outro
No Brasil, segundo o INCA, muito
ponto é a complexidade da assistência
ainda tem que ser feito para que os
médica em detectar precocemente o
profissionais da atenção básica assumam
câncer
a
infanto-juvenil,
compreendendo
responsabilidade
que
lhes
cabem
assim, como uma falha no Serviço de
quanto à prevenção, diagnóstico e ao
Saúde.
dos
controle do câncer. A adequação das
profissionais evidenciam muitas dúvidas
condutas diagnósticas e terapêuticas, e
que dificultam a viabilização de tais ações
agilidade no encaminhamento do caso
nos serviços básicos de saúde.
constituem o âmago do exercício efetivo
Ainda
assim,
as
falas
de tal responsabilidade (BRASIL, 2012).
“A gente que é enfermeira para
encaminhar essas crianças é
complicado, às vezes o serviço diz
está
lotado,
outras
vezes
conversamos com o médico da
unidade, mas você sabe como é
198
“É muito complicado detectar
precocemente
o
câncer
na
criança, primeiro porque tem a
questão da prevenção para a
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014
Uma proposta de Identificação do câncer infanto-juvenil a partir da atenção básica
gente conhecer e tentar evitar (...)
ai tem os inúmeros sinais e
sintomas
para
realizar
o
diagnóstico diferencial, e quando a
gente encaminha, não temos
feedback, não existe aquela
conversa entre a atenção básica e
o hospital (...) éramos para ser
tanto a porta de entrada como a
de saída” (TIANA).
complexidade em rede de referência e
contra-referência.
Concordando
recursos
capazes
de
responder
a
demanda dá uma ideia das condições
estruturais para que haja a integralidade
das ações. A escassez de profissionais
capacitados e a existência de uma rede
de assistência que não consegue dar
continuidade
aos
procedimentos
diagnósticos, devido à falta de referência
e
contra-referência,
constituem-se
barreiras à integralidade (CONILL, 2004).
Deste modo, a atual estrutura de
saúde disponível relatada nos discursos é
insuficiente para garantir o sistema de
referência
e
impossibilitando
assistência,
contra-referência,
a
além
integralidade
de
inviabilizar
da
a
estimativa de casos novos, causado pela
falta de acessibilidade (AZEVEDO, 2010).
Fratini, Saupe e Massaroli (2008)
fazem crítica ao sistema de referência e
contra-referência organizado por fluxos
ascendentes e descendentes, em que os
usuários
percorrem
os
níveis
de
os
referidos
autores, Mendes (2002) afirma que esse
modelo de rede não é contínuo e
fundamenta-se
complexidade
A verificação da existência de
com
em
um
conceito
equivocado,
de
quando
classifica a atenção primária à saúde
como menos complexa, o que leva
aqueles mesmos autores a defenderem
uma mudança de modelo, apontando para
a adoção de um tipo que seja organizado
a partir da lógica do que seria mais
importante
para
cada
usuário,
com,
inclusive, uma tecnologia adequada para
a demanda.
Todavia Fratini, Saupe e Massaroli
(2008), ao mesmo tempo em que fazem
essa defesa pela mudança de modelo,
reconhecem que o modelo vigente é
fundamental para o fortalecimento do
sistema de encaminhamento, porque as
experiências evidenciadas no país ainda
são isoladas e fragilizadas.
Mendes (2002) ressalta, por sua
vez, sobre este aspecto, que os sistemas
fragmentados de serviços de saúde são
os que (des) organizam tudo, por meio de
pontos de atenção à saúde isolados e
incomunicáveis
entre
si,
acarretando
assim uma atenção primária à saúde que
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014
199
Leonardo Magela Lopes Matoso, Libina Edriana da Costa Oliveira, Sibele Lima da Costa
não tem como prestar uma assistência
busca dos usuários as unidades de
contínua, o que termina por prejudicar a
saúde.
coletividade.
Diante disso, observa-se uma falta
A palavra câncer mencionada de
de preparo da equipe em lidar com a
uma forma temerosa, para muitos, ainda
detecção do câncer, uma vez que eles,
está associada a sofrimento e morte, onde
em
pouco ou nada se pode fazer, mesmo em
desacreditar a possibilidade de cura como
termos de prevenção, o que é percebido
visto na fala:
alguns
momentos,
demonstram
“Para mim quando a pessoa tem
câncer é como dar um ultimato de
morte, entendeu?” (BELA).
nas falas dos profissionais:
“Sabe por que ninguém atenta
para os sinais de câncer em
criancinhas? Porque ninguém
imagina que elas podem pegar
isso e morrer” (BRANCA).
Essa postura dos profissionais por
consequência,
pode
não
considerar
relevante às ações de detecção precoce.
Diante disso surge a discussão
acerca da falta de preparo do profissional
em lidar com essa temática. Onde o
despreparo pode gerar sentimentos de
medo no profissional e com isso impedi-lo
de
procurar
identificação
saber
mais
precoce,
o
dificultar
seu
percurso
labirinto
que
pode
sobre
que
no
existir
a
E a partir disso evidenciou-se, bem como
foi
relatado
pelos
profissionais
à
necessidade de uma preparação para
esses no que diz respeito à identificação
precoce
de
câncer
infanto-juvenil
e
possíveis encaminhamentos.
pode
complexo
entre
o
4.2 A IMPORTÂNCIA DO DIAGNOSTICO
PRECOCE
diagnóstico e a terapia do câncer (SETH,
2010). Quando na verdade o profissional
poderia tonar-se um agente ativo na
detecção precoce do câncer infantojuvenil, através da realização de ações de
educação em saúde, trabalhando de
forma
multidisciplinar
e
intersetorial.
Essas ações podem favorecer a detecção
de algumas alterações e antecipar à
200
Indagados
acerca
de
qual
a
importância da detecção e diagnóstico
precoce do câncer infanto-juvenil, vinte e
dois (91%) afirmaram que seria pela cura
e dois (8,4%) responderam que não sabia
os motivos.
“Diagnosticando precocemente as
chances de cura são altas, por
isso a importância” (JASMINE).
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014
Uma proposta de Identificação do câncer infanto-juvenil a partir da atenção básica
“Não basta apenas sugerir câncer
por meio dos sinais e sintomas, é
preciso fazer um diagnóstico
diferencial,
extrair
supostas
doenças para que a cura exista”
(ESMERALDA).
Muitos (71,9%) conhecem alguns
sinais e sintomas, precisando, entretanto,
saber sistematizar essa identificação, bem
como conhecer os procedimentos após a
suspeita da doença, de maneira que
racterísticas específicas. Enquanto o câncer no adulto se desenvolve lentamente,
na criança é muito mais agressivo. Isto
acontece porque as células se multiplicam
rapidamente, devido a fase de crescimento. Mas se esta alteração for descoberta no início a taxa de cura varia de
80% a 90% (MUTTI; PAULA; SOUTO,
2010).
possibilite o diagnóstico precoce e assim
sejam conduzidos ao tratamento e cura.
Nos
tumores
adolescência,
até
da
o
infância
momento,
e
4.3 ASPECTOS APRESENTADOS ÀS
MUDANÇAS APREENDIDAS DEPOIS
DA CAPACITAÇÃO
não
Para Dionne (2007), a avaliação
existem evidências científicas que deixem
claro a associação entre a doença e
fatores externos. Logo, prevenção é um
desafio para o futuro. A ênfase atual deve
ser
dada
orientação
(MUTTI;
ao diagnóstico precoce
terapêutica
PAULA;
de
SOUTO,
e
qualidade
2010).
É
possível fazer o diagnóstico precoce, mas
não há como prevenir o câncer em
dos resultados obtidos na pesquisa-ação
é a última fase do plano de intervenção.
Essa etapa deve estar centrada na
análise e na avaliação final das ações
implementadas,
as
necessários
possíveis,
Instituto Nacional de Câncer (2013) afirma
que a taxa de cura supera os 70%. Essa
realidade esta longe de ser alcançada no
Brasil e o principal motivo é a dificuldade
que os profissionais têm de diagnosticar a
doença de forma precoce.
O câncer infanto-juvenil possui ca-
se
forem
devem
ser
reativadas após decisão conjunta do
grupo participante.
Thiollent (2007) ressalta que os
crianças e adolescentes.
Para os países desenvolvidos, a
e
quais
participantes podem fornecer informações
que não estavam previstas, possibilitando
assim
enriquecer
descrições.
Quanto
ainda
à
mais
as
avaliação
das
ações, o autor afirma ainda que as
implicações da ação aos níveis individuais
e coletivos devem ser explicitadas e
avaliadas em termos realistas, evitando
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014
201
Leonardo Magela Lopes Matoso, Libina Edriana da Costa Oliveira, Sibele Lima da Costa
criar
falsas
expectativas
entre
os
Os profissionais da UBS afirmam
participantes no que diz respeito aos
que, após o seminário, estabeleceu-se a
problemas da sociedade global.
aproximação deles com os profissionais
avaliação
do Centro de Oncologia e Hematologia de
contínua do projeto, foi realizada um
Mossoró, hospital referência no Município
questionário individual com os sujeitos
de
que participaram dos seminários, para
hematológicas.
analisar os resultados após quatro meses
comunicação
do término dos seminários.
possibilitou aos profissionais uma prática
Além
da
ação
de
Mossoró
para
doenças
Essa
com
relação
o
oncode
especialista
com segurança, quanto ao conhecimento
“Conhecer os sinais e sintomas de
uma forma mais clara, faz com
que direcionemos o olhar, torna o
olhar mais clínico” (MERIDA).
adquirido e aos encaminhamentos de
“Tivemos
oportunidade
de
conhecer diversos tipos de câncer
na infância, tais como leucemia e
retinoblastomas” (CINDERELA).
essa comunicação estabelecida entre as
casos suspeitos.
Para Lefreve e Lefreve (2004),
UBS e o Hospital de Referência ainda não
é a comunicação social em saúde, pois,
As percepções dos profissionais de
desse diálogo, não participou o aparelho
saúde demonstraram o compromisso e a
de Estado ligado à saúde (Secretarias de
responsabilidade do grupo diante do
Saúde). Os autores afirmam que tal
aprendizado adquirido.
mudança é necessária.
Mendes (2002) aponta para a
“A gente observa com mais
cuidado
os
usuários
e
principalmente as crianças durante
o C e D” (TIANA).
“As visitas domiciliares mudou por
aqui, ao menos na minha visão e
na das minhas colegas que vamos
a campo, investigar, observar cada
família. Quando visitamos uma
família com criança, o olhar muda”
(ANNA).
“O direcionamento de hipóteses
diagnosticas né? E tipo, caso a
gente suspeite de algo, a gente
sabe como encaminhar para quem
encaminhar” (AURORA).
202
tendência de uma melhoria significativa,
com a diminuição de óbitos infantis,
aumento da cobertura de exames de prénatal, cobertura vacinal, dentre outras,
mesmo afirmando que a atenção primária
à saúde ainda tem muito que melhorar
qualitativamente.
“Continuar a fazer esses ciclos de
palestras, se possível em outros
temas, isso enriquece muito nós
como
profissionais
e
principalmente a comunidade”
(ARIEL).
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014
Uma proposta de Identificação do câncer infanto-juvenil a partir da atenção básica
Para Brasil (2008), é indispensável
pesquisa.
Resultados
imediatos
de
na realização de todo e qualquer trabalho
satisfação e de insatisfação passaram a
de cunho educativo na área de saúde
ser apresentados, apontando para a
e/ou
complexidade que é desenvolver uma
de
intervenção
saúde/doença,
processo
a
atividade dessa natureza pela equipe da
realidade na qual os indivíduos estão
UBS, pois sabemos que, dentre os vários
inseridos e suas vulnerabilidades, assim
fatores
como, é necessário também levar em
identificação precoce de câncer nesse
consideração as suas potencialidades.
nível, foi pinçada pelos participantes da
Sendo assim, todo e qualquer trabalho
pesquisa-ação a falta de preparo como
que visa mudanças de comportamentos
diagnóstico situacional.
deve-se
levar
buscar
do
consideração
que
concorrem
para
a
os
Este estudo trouxe contribuições
interesses, conhecimentos pré-existentes
para as crianças com câncer, fortalecendo
dos
o debate do tema na enfermagem e para
envolvidos,
em
conhecer
as
vulnerabilidades,
necessidades e potencialidades.
toda a equipe multiprofissional em saúde,
tendo em vista que o câncer é um
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
problema que afeta tanto o portador da
doença quanto seus familiares por induzir
Investir na identificação precoce de
nestes, sentimentos contrários desde o
sinais e sintomas de câncer em nível de
temor do diagnóstico, a expectativa do
atenção primária é uma das ações pouco
prognóstico até a possibilidade de cura ou
empenhada nas UBS, embora seja de
de morte.
extrema relevância para a população em
Os autores compreendem que, por
geral e mais particularmente a população
meio desse tipo de pesquisa o estudo foi
infantil, ainda mais quando essa investida
além dos objetivos traçados, superando a
traz resultados satisfatórios quase que
expectativa
imediatos.
objetivo do seminário sobre a importância
A utilização da metodologia de
e
conseguindo
atingir
o
da identificação de sinais e sintomas.
pesquisa-ação identificou necessidades e/
Concomitante à realização desse
ou problemas a serem atendidos e
estudo, elaborou-se uma cartilha intitulada
resolvidos
“Orientações Gerais Sobre o Câncer In-
durante
o
processo
de
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014
203
Leonardo Magela Lopes Matoso, Libina Edriana da Costa Oliveira, Sibele Lima da Costa
fanto-Juvenil” que foi entregue as UBSs
se vivenciou durante o seu desenvolvi-
trabalhadas e que posterior a isso, bus-
mento e a partir do conhecimento cons-
cou-se apoio na Prefeitura Municipal de
truído através dele. Com base nesse co-
Mossoró, para tornar apto a divulgação e
nhecimento, pode-se entender a urgência
disseminação da cartilha em todas as re-
do aprimoramento de novos saberes que
des de atenção básica, uma vez que no
viabilizem concepções e práticas sociais
instrumento constará os sinais e sintomas,
mais eficazes (MATOSO et al., 2014).
as formas de encaminhamentos, as unidades sócio- assistenciais, dentre outros
AGRADECIMENTOS
itens que auxiliam na detecção precoce
do câncer infanto-juvenil.
Ressalta-se que este trabalho pro-
Agradecemos
ao
Centro
de
Oncologia e Hematologia de Mossoró
piciou uma reflexão importantíssima, en-
(COHM),
quanto futuros profissionais de enferma-
disponibilidade e incentivo necessário
gem, uma vez que o mesmo estimulou a
para a construção deste trabalho, pois é
ampliar os conhecimentos na área, forta-
através da sua brilhante inciativa, que
lecendo uma visão crítica sobre o tema.
vem fazendo a diferença na assistência à
Reconhece-se as limitações deste traba-
saúde, ensino e pesquisa da nossa
lho e compreende-se que mais estudos
cidade.
por
ter
oferecido
espaço,
relacionados a essa temática devam ser
Agradecemos também a Prefeitura
realizados, uma vez que a mesma pro-
Municipal de Mossoró, pelo compromisso
voca muitas discussões.
com a cidadania e pelo apoio direcionado
A pesquisa não pode encerrar-se
a pesquisas no campo da saúde.
nas suas conclusões, mas abrir possibilidades para uma reflexão acerca do que
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