relatos de pesquisa UMA PROPOSTA DE IDENTIFICAÇÃO DO CÂNCER INFANTO-JUVENIL A PARTIR DA ATENÇÃO BÁSICA Leonardo Magela Lopes Matoso* Libina Edriana da Costa Oliveira** Sibele Lima da Costa*** RESUMO O câncer infanto-juvenil representa, no Brasil, a segunda causa de mortalidade entre crianças e adolescentes de um a dezenove anos. Seu impacto no ranking das doenças torna-se significativamente importante para a saúde pública, já que a primeira causa de morte infanto-juvenil está relacionada aos acidentes e à violência. Muitas crianças ainda são encaminhadas aos centros de alta complexidade para tratamento oncológico com a doença em estágio avançado, o que revela algumas lacunas na detecção precoce. Diante desta problemática, objetivou-se analisar as atividades desenvolvidas junto às equipes da atenção primária para identificação dos casos suspeitos do câncer infanto-juvenil. Trata-se de um estudo de natureza descritiva, exploratória, com abordagem quali-quantitativa, que foi desenvolvida em seis Unidades Básicas de Saúde, no Município de Mossoró. Contou com a participação de vinte e quatro profissionais da Atenção Primária em Saúde. Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionário semiestruturado. Os dados quantitativos foram analisados através da estatística descritiva, com relação aos dados qualitativos, os mesmos foram analisados de acordo com a Análise de Conteúdo, por meio de temas geradores. Percebeu-se que os profissionais possuem conhecimentos sobre a identificação do câncer infanto-juvenil, e, demandam conhecer mais sobre os sinais e sintomas para identificação precoce, e a prestação de uma assistência sistematizada. Torna-se fundamental estimular a qualificação dos profissionais da atenção primária para a identificação precoce e o fortalecimento de uma rede de assistência que proporcione atendimento integral e a redução no retardo do diagnóstico de câncer infantojuvenil. Palavras-chave: Detecção Precoce de Câncer. Atenção Primária à Saúde. Neoplasias. Criança. Adolescente. * Escritor/Autor. Acadêmico do Curso Técnico em Radiologia e Acadêmico de Enfermagem da Universidade Potiguar – UnP, Campus Mossoró. Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) atrelado ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) do Centro de Oncologia e Hematologia de Mossoró – RN. E-mail: [email protected] ** Acadêmica de Enfermagem da Universidade Potiguar – UnP, Campus Mossoró. Monitora da Disciplina de Atendimento PréHospitalar (APH). Pesquisadora do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) do Centro de Oncologia e Hematologia de Mossoró – RN. E-mail: [email protected] *** Enfermeira. Especialista em Saúde da Família pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Mestranda em Enfermagem. Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Potiguar - UnP, Campus Mossoró/RN. E-mail: [email protected] C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p. 187-205, jul./dez. 2014 187 Leonardo Magela Lopes Matoso, Libina Edriana da Costa Oliveira, Sibele Lima da Costa 1 INTRODUÇÃO A O aumento progressivo dos diver- World Health Organizations sos tipos de câncer - este compreendido (2009) e a International Union Against como uma doença caracterizada pelo de- Cancer (2009)1 alertam ainda para o senvolvimento anômalo da morfofuncio- crescimento continuado do número de nalidade celular - tem levado pesquisado- mortes por câncer no mundo. Estima-se res a estudar e desvendar a sua etiologia, em doze a dezessete milhões de mortes bem como as modalidades de tratamento em 2030, podendo chegar a vinte e seis e prevenção. milhões de casos de câncer no mundo. O câncer na infância compreende Atualmente, segundo a UICC, a um conjunto de patologias relativamente expectativa de vida de cinco anos é maior raras, mas é a principal causa de morte em relacionada com a doença entre crianças quando e adolescentes em países de alta renda. desenvolvimento (30-40%). A taxa de incidência média anual para países A desenvolvidos comparada divulgação (50-60%), àqueles mundial em de todos os tipos de câncer nesse grupo conhecimentos e resultados de pesquisas etário, que mostrem a importância da temática até 20 anos, é de 18,8 casos/100.000 pessoas-ano nos Estados prevenção Unidos (GRABOIS et al., 2013). reduziria, todavia, o aparecimento de Camargo et al. (2010), apresentou em seu doutorado que a taxa mediana de e diagnóstico precoce, novos casos e a cura de um terço dos casos de cânceres (UICC, 2009). incidência de câncer na infância em 14 de No Brasil, pais em desenvolvi- seus registros de base populacional é de mento, o câncer já representa a segunda 154,3/milhão no Brasil, representando a causa de mortalidade proporcional entre quarta e a quinta causas de óbito na faixa crianças e adolescentes de 1 a 19 anos, etária de um a 18 anos nos sexos para todas as regiões, assim como em feminino e masculino, respectivamente, e países desenvolvidos. Tendo em vista que a primeira causa de morte por doença a a primeira causa está relacionada aos partir dos cinco anos de idade. 1 A UICC foi fundada em 1933 e reúne mais de 300 organizações-membro, especializado e engajado na luta contra o câncer, em mais de 100 países através do mundo, com sede em Genebra, Suíça, sem fins lucrativos, se classifica como sendo apolítica e não sectária. Fonte: www.uicc.org 188 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014 Uma proposta de Identificação do câncer infanto-juvenil a partir da atenção básica acidentes e à violência, pode-se dizer que nervoso central e os linfomas. Mais raros, o câncer é a primeira causa de morte por mas doença, após um ano de idade, até o final neuroblastoma, tumores renais (Tumor de da adolescência (BRASIL, 2011). Willms), O câncer infanto-juvenil corres- igualmente típicos retinoblastoma, germinativos, são tumores osteossarcomas e ponde a um grupo de várias doenças que sarcomas de tecidos moles. Dos óbitos têm em comum o desenvolvimento de por neoplasias na infância e adolescência células que perderam sua capacidade de em crescimento normal e, assim, sofreram representam multiplicação e proliferam desordenadas, responsáveis por 39% das mortes na no local ou à distância (ROSEFELD et al., Europa e por 50% nas Américas, Oceania 2011). Esse tipo de câncer varia de e Ásia (BRASIL, 2008). acordo com o tipo histológico, localização primária do tumor, etnia, sexo e idade. nível mundial, as a causa, maior leucemias sendo Os linfomas e neoplasias retículoendoteliais correspondem ao terceiro tipo Portanto, o mesmo é considerado de câncer mais comum em crianças norte- quando as americanas, após as leucemias e os neoplasias que acometem os adultos, tumores do Sistema Nervoso Central. O correspondendo entre 2 e 3% entre todas que as neoplasias malignas e, geralmente, necessita ser visualizada sobre uma ótica afeta as células do sistema sanguíneo e diferenciada pelos profissionais da área os tecidos de sustentação, enquanto que, da saúde, principalmente no que se refere o câncer do adulto afeta as células do à detecção precoce do câncer infanto- epitélio, que recobre os diferentes órgãos juvenil, (câncer de mama, câncer de pulmão). vislumbrada Apresenta ainda, tendência a menores sintomas (BRASIL, 2011). raro comparado com revela que pois está sua apenas problemática identificação é pelos e sinais períodos de latência, crescimento rápido e O diagnóstico precoce do câncer invasivo, porém responde melhor as infanto-juvenil compreende medidas para terapêuticas atuais (BRAGA et al., 2002). identificação de sinais e sintomas clínicos As neoplasias frequentes em fase inicial da doença, podendo entre crianças e adolescentes são as influenciar positivamente o prognóstico de leucemias, câncer os mais tumores do sistema na criança e adolescente C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014 e 189 Leonardo Magela Lopes Matoso, Libina Edriana da Costa Oliveira, Sibele Lima da Costa possibilita tratamento menos agressivo, como maiores possibilidades de cura Em vista dessa situação, há necessidade de se desenvolver ações e estratégias que tenham por objetivo a detecção (BRASIL, 2011). De acordo com a Politica Nacional precoce do câncer infanto-juvenil, assim de Atenção Oncológica (PNAO) todo e como iniciativas que objetivem desenvol- qualquer sujeito deve ter seus direitos ver o conhecimento das populações e de garantidos e as ações de promoção, profissionais da saúde em relação ao im- prevenção, pacto causado por esta enfermidade. diagnósticos, reabilitação e tratamentos, cuidados paliativos Nessa ótica, salienta-se deste estudo a assegurados, levando em consideração a importância por importância epidemiológica do câncer no compreender que a equipe de saúde Brasil e a sua magnitude social. qualificada pode ser determinante no Sendo assim, a atenção primária processo da detecção precoce do câncer se configura como a porta de entrada infanto-juvenil, uma vez que estará apto a para o Sistema Único de Saúde (SUS), identificar antecipadamente os sinais e onde é a partir deste que ocorre o sintomas primeiro contato do usuário com os consequentemente o encaminhamento ao serviços de saúde, uma vez que possui serviço especializado para o tratamento. capacidade satisfatória de resolubilidade, sugestivos Nesta de perspectiva, neoplasia é e relevante as apontar a necessidade de estudar a necessidades e demandas de saúde das temática tendo em vista que a discussão populações. Assim, pode exercer papel do câncer infanto-juvenil é considerada positivo significativa para a oncologia, para a respondendo nas adequadamente ações de identificação precoce do câncer infanto-juvenil. família, e principalmente para as crianças. Dessa forma, se faz o seguinte Diante do exposto, este estudo tem questionamento: Qual a importância da como objetivo geral analisar as atividades detecção precoce do câncer infanto- desenvolvidas junto às equipes da aten- juvenil? E quais melhorias podem existir ção primária para identificação dos casos na atuação da equipe de profissionais de suspeitos do câncer infanto-juvenil. Como saúde da atenção primária, no que se objetivos específicos tem-se identificar o refere à identificação precoce do câncer conhecimento dos profissionais da aten- infanto-juvenil? ção primária acerca dos sinais e sintomas 190 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014 Uma proposta de Identificação do câncer infanto-juvenil a partir da atenção básica sugestivos do câncer-juvenil; Desenvolver reduzidos atividades de capacitação para identifica- variáveis (MINAYO, 2014). ção do câncer infanto-juvenil e produzir a operacionalização Quanto a sua de classificação em parceria com o Centro de Oncologia e metodológica, a mesma será realizada Hematologia de Mossoró (COHM) uma mediante cartilha sobre a sintomatologia sugestiva acordo com Thiollent (2005), é um tipo de do câncer infanto-juvenil. pesquisa social com base empírica que é a concebida 2 METODOLOGIA Pesquisa-Ação, e realizada em que de estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no Trata-se de um estudo de caráter descritivo com abordagem qual os pesquisadores e os participantes quali- representativos da situação ou problema quantitativa, desenvolvido na forma de estão envolvidos de modo cooperativo ou pesquisa ação. participativo. Dois objetivos são atribuídos Para Minayo (2014), a pesquisa à pesquisa-ação, que segundo Thiollent descritiva nos proporciona a oportunidade (2005) é o objetivo prático, este é de observar fatos, realizar registros e relacionado ao tipo de problema que a analisar, assim como, interpretar os dados pesquisa pretende resolver ou contribuir coletados para sua resolução; e o objetivo de questionário através de um semiestruturada roteiro e pela própria observação do pesquisador. Já a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se conhecimento, este deve obter informações, aumentar o conhecimento sobre determinado tipo de problemática. Tripp (2005) classifica o preocupa, nas ciências sociais, com um conhecimento obtido por meio da prática nível de realidade que não pode ser cotidiana quantificada. Ou seja, ela trabalha com enquanto através da pesquisa ação pode um universo de significados, motivos, ser compartilhado com outros na mesma aspirações, crenças, valores e atitudes, o instituição ou profissão. A partir daí é que corresponde a um espaço mais divulgado não somente por meio de profundo das relações, dos processos e publicações direcionadas para poucos dos fenômenos que não podem ser sujeitos, proporcionando a possibilidade como sendo C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014 individualista 191 Leonardo Magela Lopes Matoso, Libina Edriana da Costa Oliveira, Sibele Lima da Costa de mudanças, da prática cotidiana, aos assinatura do Termo de Consentimento sujeitos participantes da pesquisa. Livre e Esclarecido – TCLE. Como O cenário desse estudo foram seis Unidades Básicas de Saúde (UBS) critérios de exclusão não participarão os profissionais que exercem funções localizadas no município de Mossoró/RN, administrativas e gerenciais, profissionais a saber: UBS Dr. Chico Porto, localizada que estejam na unidade para serviços no bairro Aeroporto; UBS Marina Ferreira, temporários, localizada no Sítio Barrinha; UBS Dr. Luiz estagiários. UBS Sinharinha Borges, por exemplo, Após o convite para participarem Escolástico, localizada no bairro Santa Delmira; como da pesquisa os participantes foram localizada no bairro Barrocas; UBS Centro informados sobre os procedimentos da Clínico Evangélico Edgard Bulamarque; pesquisa, e os que desejaram participar localizada assinaram o TCLE. no centro da cidade de Mossoró e UBS Dr. Cid Salém Duarte, Os sujeitos foram convidados a localizado no Abolição IV. Essas unidades participar do estudo através de contato foram escolhidas por ser campo de direto, individualmente e no seu próprio estágio/prática da Universidade Potiguar - local UnP o que facilita o contato com os identidade dos mesmos, utilizou-se em profissionais. substituição de trabalho. Para preservar a aos nomes reais dos como entrevistados, nome de personagens de sujeitos os profissionais das Unidades desenhos animados da Walt Disney, tais Básicas de Saúde, sendo estes: médicos, como: Margarida, Pateta, Mickey, Minnie, enfermeiros, odontólogos, técnicos de Jane, Anastásia, Alice, Pluto, Rapunzel, enfermagem, auxiliares de consultório Mulan, entre outros. O referido estudo teve Para dentários e agentes comunitários de saúde. alcançar os objetivos propostos utilizou-se como instrumento de Como critérios de inclusão os coleta de dados um questionário profissionais deveriam fazer parte da semiestruturada. Minayo (2008) discorre equipe de saúde da família das unidades que esta técnica combina perguntas selecionadas para a pesquisa, exercer fechadas (ou estruturadas) e abertas, atividades assistenciais na unidade e onde o entrevistado tem a possibilidade aceitar participar da pesquisa, mediante de 192 discorrer o tema proposto, sem C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014 Uma proposta de Identificação do câncer infanto-juvenil a partir da atenção básica O terceiro momento foi realizado respostas ou condições prefixadas pelo sete meses após o segundo momento. pesquisador. O estudo foi dividido em três Vale ressaltar que o espaço temporal foi momentos, onde o primeiro refere-se à escolhido por comodidade, uma vez que etapa de diagnóstico situacional junto às este equipes de saúde, para isso, utilizou-se descrever as mudanças ocorridas na um prática assistencial das equipes após as questionário abordando quais semiestruturada, os conhecimentos ações momento de foi direcionado capacitação, e para quais as acerca dos sinais e sintomas do câncer perspectivas de futuro em relação a essa infanto-juvenil da mudança. Esse parâmetro foi identificado importância do diagnóstico precoce do através da realização de um questionário câncer. Nessa primeira etapa participaram semiestruturada, que foi conduzido com o noventa e três (93) profissionais da objetivo de avaliar a construção do Atenção Básica em Saúde. processo, e a percepção O segundo momento constitui-se elencando os principais benefícios e dificuldades identificadas no seminário de treinamento das Equipes nessa mudança. da Atenção Básica, baseado no que foi Os dados quantitativos identificado no primeiro momento em analisados relação aos conhecimentos referentes ao descritiva (porcentagem) câncer referencial teórico. Com relação aos infanto-juvenil, onde foram através da foram estatística à luz do abordados os conteúdos em que os dados qualitativos, os mesmos foram mesmos tiverem mais dúvidas. Para analisados de acordo com a técnica de esses seminários solicitou-se a presença análise de conteúdo, que segundo Bardin de uma médica especialista em câncer (2009) é uma técnica de análise das infanto-juvenil do Centro de Oncologia e comunicações, Hematologia de Mossoró. Durante o procedimentos, sistemáticos e objetivos percurso do treinamento, participaram de apenas trinta e nove (39) profissionais e mensagens, indicadores (quantitativos ou estes não) receberam ao termino, certificado de quatro horas aula. um descrição que onde visa do permitam obter conteúdo a inferência por das de conhecimentos relativos às condições de produção e recepção dessas mensagens. C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014 193 Leonardo Magela Lopes Matoso, Libina Edriana da Costa Oliveira, Sibele Lima da Costa Ressalta-se que para realização deste estudo consideração foram os constituindo levados em pressupostos da resolução 466/12 do Conselho Nacional assim, o corpus desse estudo. 3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS de Saúde/Ministério da Saúde que dispõe sobre pesquisas com seres humanos, foi A seguir serão abordados os no transcorrer da organização das solicitado também, o consentimento livre e resultados obtidos esclarecido da população estudada, bem pesquisa. Para como a aprovação do Comitê de Ética da categorias da análise de conteúdo na Instituição, onde o número do CAAE é modalidade temática, proposto por Bardin 06204012.8.0000.5296 (2009) e parecer nº 126.092. a utilizam-se as questões norteadoras como elemento estruturante para os temas centrais. As categorias 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES emergiram, a partir da codificação dos indicadores evidenciados nas falas dos Dos noventa e três (93) sujeitos sujeitos, estes foram organizados de que participaram da primeira etapa da forma pesquisa, que se reportava a captação da visualização e análise dos dados. discursiva para facilitar a realidade por meio de um roteiro de um questionário semiestruturado, observou- Tabela 1 - Caracterização dos Sujeitos se uma evasão dos mesmos durante a realização da segunda etapa, que se referia ao treinamento direcionado à identificação precoce do câncer infantojuvenil, comparecendo apenas trinta e nove (39) participantes. Durante o processo de análise e confrontamento da primeira e segunda etapa, observou-se que dos trinta e nove (39) participantes, apenas vinte e quatro (24) corresponderam as duas etapas, 194 Fonte: Informações provenientes dos participantes dessa pesquisa (2014). C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014 Uma proposta de Identificação do câncer infanto-juvenil a partir da atenção básica A faixa etária dos profissionais variou entre 20 e 50 anos ou mais, sendo de câncer infanto-juvenil, durante a sua vida profissional. seis (25%) entre 20 e 30 anos, sete (29%) Indagados se já identificaram sinais entre 30 e 40 anos, sete (29%) entre 40 e e sintomas sugestivos de câncer infanto- 50 anos e apenas quatro sujeitos tinha juvenil, vinte (83,3%) falaram que não e acima quatro (16,6%) que sim. Os sinais e de 50 anos de idade, correspondendo a 16%. Destes, vinte e sintomas referidos pelos sujeitos da três (96%) são do gênero feminino e um pesquisa na entrevista estão listados no (4%) do gênero masculino. Quanto ao quadro a seguir: cargo/função exercido, dezessete (70,1%) são Agentes Comunitários de Saúde (ACS), quatro (16,7%) enfermeiros, dois Tabela 2 - Conhecimento do grupo sobre os sinais e sintomas que podem sugerir câncer nas crianças e adolescentes. (8,2%) Auxiliar de Saúde Bucal (ASB) e uma (4,2%) Assistente Social (AS). No que se refere ao campo de atuação, vinte e dois (92%) trabalham na Estratégia de Saúde da Família (ESF) e dois (8%) na Unidade Básica de Saúde (UBS). Em relação ao conhecimento prévio dos sujeitos, dezenove (79,1%), envolvendo todas as classes profissionais citadas, referiram conhecer sinais e sintomas do câncer infanto-juvenil. Já os demais sujeitos envolvidos na pesquisa, o que corresponde a 20,9% relataram não conhecer nenhum sinal ou sintoma, mas tinham interesse em aprender sobre a temática. Quatorze entrevistados não participaram de treinamentos direcionados para a identificação de sinais e sintomas Fonte:Informações provenientes dos participantes dessa pesquisa (2014). C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014 195 Leonardo Magela Lopes Matoso, Libina Edriana da Costa Oliveira, Sibele Lima da Costa Nas poucas oportunidades em que para a prevenção e o diagnóstico precoce os profissionais identificaram sinais e – uma política sob a responsabilidade das sintomas sugestivos de câncer, esses secretarias foram relatados e resolvidos em forma de (AZEVEDO et al., 2012). encaminhamentos para serviços municipais de saúde Diante disso, a atenção primária é, de portanto, responsável por realizar, na Oncologia e Hematologia de Mossoró Rede de Serviços Básicos de Saúde, (COHM). ações de caráter individual e coletivo, especializados como o Centro três promoção da saúde e prevenção do dificuldades câncer, assim como o diagnóstico precoce enfrentadas pela Atenção Básica em e apoio a terapêutica de tumores, aos Saúde (ABS) na detecção precoce do cuidados paliativos e às ações clínicas câncer infanto-juvenil; A importância do para o seguimento de doentes tratados. Das grandes narrativas, categorias: emergiram As Aspectos Porém, a percepção que se tem é apresentados às mudanças apreendidas um desvio do que regue a Política depois da capacitação. Nacional de Atenção Oncológica, bem diagnostico precoce e os como, os princípios e diretrizes do SUS. 4.1 DIFICULDADES ENFRENTADAS PELA UBS NA DETECÇÃO PRECOCE DO CÂNCER INFANTOJUVENIL As falas dos profissionais de saúde revelam um conhecimento insatisfatório acerca da detecção precoce do câncer infanto-juvenil. Associado a isso, fica claro O Ministério da Saúde criou, em 2005, a Política Nacional de Atenção Oncológica, que prega a necessidade de integração da atenção básica às médias e altas complexidades. Esta política o receio destes em realizar um olhar direcionado para as suspeita de câncer na criança e no adolescente, pois não sentem segurança em suas avaliações clínicas. defende a facilitação do acesso a todas as instâncias de controle do câncer, por meio de uma linha que alcançasse todos os níveis de atenção e atendimento. Destaca ainda a importância da elaboração de ações de saúde voltadas 196 “Acho que tem manchas pelo corpo, aquelas manchas estranhas que surgem do nada” (ELZA). “O que eu conheço do câncer na criança é aqueles sinais básicos, que precisam ser bem avaliados, pois pode indicar outras doenças. Os sinais e sintomas são sangramento, apatia, dor óssea, C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014 Uma proposta de Identificação do câncer infanto-juvenil a partir da atenção básica vomito, palidez, aumento de abdômen, olho de gato (mancha branca), febre, petequeias, gânglios infartados” (TIANA). (2010), em estudo de revisão para localizar produções científicas nacionais que abordem assistência à saúde da A maior parte dos sujeitos da criança com câncer, encontraram, em um pesquisa possui bom tempo de formação, período de vinte e cinco anos, apenas um atuando somente na saúde da família a artigo mais de 10 anos. Com isso, pressupõe-se diagnóstico precoce, divulgado no ano de que estes profissionais tiveram acesso a dois mil e três com o título “Diagnóstico conhecimentos sobre a temática durante precoce os seus cursos, sejam técnicos ou de responsabilidade de todos”, publicado na graduação, uma vez que no processo de Revista da Associação Médica Brasileira, formação essa temática tem recebido dos autores Rodrigues e Camargo. com aprofundamento do câncer em infantil: Somado à escassez de produções maior ênfase nos últimos 25 anos. A idade dos participantes evidencia cientificas, existe também a falta de uma população adulta, relativamente já campanhas para a conscientização do próxima da aposentadoria, inclusive com câncer um os estudado e difundido. Ressalta-se ainda a pode dificuldade pelos profissionais de saúde demonstrar que os profissionais de saúde em suspeitar de uma neoplasia nesta não viram em suas trajetórias de nível faixa etária e aplicar a conduta adequada superior ou técnico conteúdos referentes para confirmar a doença. participante cinquenta anos. já ultrapassando Esse dado a sinais e sintomas de câncer infanto- infanto-juvenil, Sendo assim, este a é pouco inclusão nas juvenil, por se tratar de uma temática grades curriculares de uma disciplina para recente trazida familiarizar os futuros profissionais com o para discussões nas Universidades. Corroborando com a afirmação anterior de que a discussão quanto ao assunto é de extrema necessidade com uma das soluções para atenuar esta realidade. diagnóstico precoce é recente, Castro (2009) afirma que temas como “prevenção do câncer” ganhou destaque na mídia nos “Não sei muita coisa sobre o câncer infanto-juvenil, a não ser aquele olho de gato que aparece na mídia” (ANASTASIA). últimos dez anos. Já Mutti, Paula e Souto C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014 197 Leonardo Magela Lopes Matoso, Libina Edriana da Costa Oliveira, Sibele Lima da Costa né? A gente não tem voz para eles e acabam dizendo que não é nada...” (MULAN). A mídia, citada pelos profissionais, foi considerada como fonte de conhecimento configurando-se numa grande aliDiante ada na detecção precoce do câncer infanto-juvenil, pois divulga amplamente os sinais e sintomas para toda a população, facilitando a absorção da informação passada e consequentemente a aplicação Assim, a atuação da mídia é um fator indispensável para a mobilização social, no qual estratégias de comunicasão consideradas fundamentais a atenção primária é responsável por realizar, na Rede de Serviços Básicos de Saúde, ações de caráter individual e coletivo, câncer, assim como o diagnóstico precoce e apoio a terapêutica de tumores, aos cuidados paliativos e às ações clínicas para o seguimento de doentes tratados Durante a condução deste trabalho, “As duas vezes que percebi sinais e sintomas sugestivos de câncer na criança e tentei contatar, o médico mandou a criança voltar dizendo que a febre e a dor óssea eram normais” (RAPUNZEL). o quesito ‘encaminhamento’ revelou-se preponderante, uma vez que muitos entrevistados referiram dificuldade em o que é (BRASIL, 2005). (CASTRO, 2009). contatar salientar circunstância, promoção da saúde e prevenção do desta na prática. ção importante dessa serviço de referência, retardando o diagnóstico precoce; outro No Brasil, segundo o INCA, muito ponto é a complexidade da assistência ainda tem que ser feito para que os médica em detectar precocemente o profissionais da atenção básica assumam câncer a infanto-juvenil, compreendendo responsabilidade que lhes cabem assim, como uma falha no Serviço de quanto à prevenção, diagnóstico e ao Saúde. dos controle do câncer. A adequação das profissionais evidenciam muitas dúvidas condutas diagnósticas e terapêuticas, e que dificultam a viabilização de tais ações agilidade no encaminhamento do caso nos serviços básicos de saúde. constituem o âmago do exercício efetivo Ainda assim, as falas de tal responsabilidade (BRASIL, 2012). “A gente que é enfermeira para encaminhar essas crianças é complicado, às vezes o serviço diz está lotado, outras vezes conversamos com o médico da unidade, mas você sabe como é 198 “É muito complicado detectar precocemente o câncer na criança, primeiro porque tem a questão da prevenção para a C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014 Uma proposta de Identificação do câncer infanto-juvenil a partir da atenção básica gente conhecer e tentar evitar (...) ai tem os inúmeros sinais e sintomas para realizar o diagnóstico diferencial, e quando a gente encaminha, não temos feedback, não existe aquela conversa entre a atenção básica e o hospital (...) éramos para ser tanto a porta de entrada como a de saída” (TIANA). complexidade em rede de referência e contra-referência. Concordando recursos capazes de responder a demanda dá uma ideia das condições estruturais para que haja a integralidade das ações. A escassez de profissionais capacitados e a existência de uma rede de assistência que não consegue dar continuidade aos procedimentos diagnósticos, devido à falta de referência e contra-referência, constituem-se barreiras à integralidade (CONILL, 2004). Deste modo, a atual estrutura de saúde disponível relatada nos discursos é insuficiente para garantir o sistema de referência e impossibilitando assistência, contra-referência, a além integralidade de inviabilizar da a estimativa de casos novos, causado pela falta de acessibilidade (AZEVEDO, 2010). Fratini, Saupe e Massaroli (2008) fazem crítica ao sistema de referência e contra-referência organizado por fluxos ascendentes e descendentes, em que os usuários percorrem os níveis de os referidos autores, Mendes (2002) afirma que esse modelo de rede não é contínuo e fundamenta-se complexidade A verificação da existência de com em um conceito equivocado, de quando classifica a atenção primária à saúde como menos complexa, o que leva aqueles mesmos autores a defenderem uma mudança de modelo, apontando para a adoção de um tipo que seja organizado a partir da lógica do que seria mais importante para cada usuário, com, inclusive, uma tecnologia adequada para a demanda. Todavia Fratini, Saupe e Massaroli (2008), ao mesmo tempo em que fazem essa defesa pela mudança de modelo, reconhecem que o modelo vigente é fundamental para o fortalecimento do sistema de encaminhamento, porque as experiências evidenciadas no país ainda são isoladas e fragilizadas. Mendes (2002) ressalta, por sua vez, sobre este aspecto, que os sistemas fragmentados de serviços de saúde são os que (des) organizam tudo, por meio de pontos de atenção à saúde isolados e incomunicáveis entre si, acarretando assim uma atenção primária à saúde que C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014 199 Leonardo Magela Lopes Matoso, Libina Edriana da Costa Oliveira, Sibele Lima da Costa não tem como prestar uma assistência busca dos usuários as unidades de contínua, o que termina por prejudicar a saúde. coletividade. Diante disso, observa-se uma falta A palavra câncer mencionada de de preparo da equipe em lidar com a uma forma temerosa, para muitos, ainda detecção do câncer, uma vez que eles, está associada a sofrimento e morte, onde em pouco ou nada se pode fazer, mesmo em desacreditar a possibilidade de cura como termos de prevenção, o que é percebido visto na fala: alguns momentos, demonstram “Para mim quando a pessoa tem câncer é como dar um ultimato de morte, entendeu?” (BELA). nas falas dos profissionais: “Sabe por que ninguém atenta para os sinais de câncer em criancinhas? Porque ninguém imagina que elas podem pegar isso e morrer” (BRANCA). Essa postura dos profissionais por consequência, pode não considerar relevante às ações de detecção precoce. Diante disso surge a discussão acerca da falta de preparo do profissional em lidar com essa temática. Onde o despreparo pode gerar sentimentos de medo no profissional e com isso impedi-lo de procurar identificação saber mais precoce, o dificultar seu percurso labirinto que pode sobre que no existir a E a partir disso evidenciou-se, bem como foi relatado pelos profissionais à necessidade de uma preparação para esses no que diz respeito à identificação precoce de câncer infanto-juvenil e possíveis encaminhamentos. pode complexo entre o 4.2 A IMPORTÂNCIA DO DIAGNOSTICO PRECOCE diagnóstico e a terapia do câncer (SETH, 2010). Quando na verdade o profissional poderia tonar-se um agente ativo na detecção precoce do câncer infantojuvenil, através da realização de ações de educação em saúde, trabalhando de forma multidisciplinar e intersetorial. Essas ações podem favorecer a detecção de algumas alterações e antecipar à 200 Indagados acerca de qual a importância da detecção e diagnóstico precoce do câncer infanto-juvenil, vinte e dois (91%) afirmaram que seria pela cura e dois (8,4%) responderam que não sabia os motivos. “Diagnosticando precocemente as chances de cura são altas, por isso a importância” (JASMINE). C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014 Uma proposta de Identificação do câncer infanto-juvenil a partir da atenção básica “Não basta apenas sugerir câncer por meio dos sinais e sintomas, é preciso fazer um diagnóstico diferencial, extrair supostas doenças para que a cura exista” (ESMERALDA). Muitos (71,9%) conhecem alguns sinais e sintomas, precisando, entretanto, saber sistematizar essa identificação, bem como conhecer os procedimentos após a suspeita da doença, de maneira que racterísticas específicas. Enquanto o câncer no adulto se desenvolve lentamente, na criança é muito mais agressivo. Isto acontece porque as células se multiplicam rapidamente, devido a fase de crescimento. Mas se esta alteração for descoberta no início a taxa de cura varia de 80% a 90% (MUTTI; PAULA; SOUTO, 2010). possibilite o diagnóstico precoce e assim sejam conduzidos ao tratamento e cura. Nos tumores adolescência, até da o infância momento, e 4.3 ASPECTOS APRESENTADOS ÀS MUDANÇAS APREENDIDAS DEPOIS DA CAPACITAÇÃO não Para Dionne (2007), a avaliação existem evidências científicas que deixem claro a associação entre a doença e fatores externos. Logo, prevenção é um desafio para o futuro. A ênfase atual deve ser dada orientação (MUTTI; ao diagnóstico precoce terapêutica PAULA; de SOUTO, e qualidade 2010). É possível fazer o diagnóstico precoce, mas não há como prevenir o câncer em dos resultados obtidos na pesquisa-ação é a última fase do plano de intervenção. Essa etapa deve estar centrada na análise e na avaliação final das ações implementadas, as necessários possíveis, Instituto Nacional de Câncer (2013) afirma que a taxa de cura supera os 70%. Essa realidade esta longe de ser alcançada no Brasil e o principal motivo é a dificuldade que os profissionais têm de diagnosticar a doença de forma precoce. O câncer infanto-juvenil possui ca- se forem devem ser reativadas após decisão conjunta do grupo participante. Thiollent (2007) ressalta que os crianças e adolescentes. Para os países desenvolvidos, a e quais participantes podem fornecer informações que não estavam previstas, possibilitando assim enriquecer descrições. Quanto ainda à mais as avaliação das ações, o autor afirma ainda que as implicações da ação aos níveis individuais e coletivos devem ser explicitadas e avaliadas em termos realistas, evitando C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014 201 Leonardo Magela Lopes Matoso, Libina Edriana da Costa Oliveira, Sibele Lima da Costa criar falsas expectativas entre os Os profissionais da UBS afirmam participantes no que diz respeito aos que, após o seminário, estabeleceu-se a problemas da sociedade global. aproximação deles com os profissionais avaliação do Centro de Oncologia e Hematologia de contínua do projeto, foi realizada um Mossoró, hospital referência no Município questionário individual com os sujeitos de que participaram dos seminários, para hematológicas. analisar os resultados após quatro meses comunicação do término dos seminários. possibilitou aos profissionais uma prática Além da ação de Mossoró para doenças Essa com relação o oncode especialista com segurança, quanto ao conhecimento “Conhecer os sinais e sintomas de uma forma mais clara, faz com que direcionemos o olhar, torna o olhar mais clínico” (MERIDA). adquirido e aos encaminhamentos de “Tivemos oportunidade de conhecer diversos tipos de câncer na infância, tais como leucemia e retinoblastomas” (CINDERELA). essa comunicação estabelecida entre as casos suspeitos. Para Lefreve e Lefreve (2004), UBS e o Hospital de Referência ainda não é a comunicação social em saúde, pois, As percepções dos profissionais de desse diálogo, não participou o aparelho saúde demonstraram o compromisso e a de Estado ligado à saúde (Secretarias de responsabilidade do grupo diante do Saúde). Os autores afirmam que tal aprendizado adquirido. mudança é necessária. Mendes (2002) aponta para a “A gente observa com mais cuidado os usuários e principalmente as crianças durante o C e D” (TIANA). “As visitas domiciliares mudou por aqui, ao menos na minha visão e na das minhas colegas que vamos a campo, investigar, observar cada família. Quando visitamos uma família com criança, o olhar muda” (ANNA). “O direcionamento de hipóteses diagnosticas né? E tipo, caso a gente suspeite de algo, a gente sabe como encaminhar para quem encaminhar” (AURORA). 202 tendência de uma melhoria significativa, com a diminuição de óbitos infantis, aumento da cobertura de exames de prénatal, cobertura vacinal, dentre outras, mesmo afirmando que a atenção primária à saúde ainda tem muito que melhorar qualitativamente. “Continuar a fazer esses ciclos de palestras, se possível em outros temas, isso enriquece muito nós como profissionais e principalmente a comunidade” (ARIEL). C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014 Uma proposta de Identificação do câncer infanto-juvenil a partir da atenção básica Para Brasil (2008), é indispensável pesquisa. Resultados imediatos de na realização de todo e qualquer trabalho satisfação e de insatisfação passaram a de cunho educativo na área de saúde ser apresentados, apontando para a e/ou complexidade que é desenvolver uma de intervenção saúde/doença, processo a atividade dessa natureza pela equipe da realidade na qual os indivíduos estão UBS, pois sabemos que, dentre os vários inseridos e suas vulnerabilidades, assim fatores como, é necessário também levar em identificação precoce de câncer nesse consideração as suas potencialidades. nível, foi pinçada pelos participantes da Sendo assim, todo e qualquer trabalho pesquisa-ação a falta de preparo como que visa mudanças de comportamentos diagnóstico situacional. deve-se levar buscar do consideração que concorrem para a os Este estudo trouxe contribuições interesses, conhecimentos pré-existentes para as crianças com câncer, fortalecendo dos o debate do tema na enfermagem e para envolvidos, em conhecer as vulnerabilidades, necessidades e potencialidades. toda a equipe multiprofissional em saúde, tendo em vista que o câncer é um 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS problema que afeta tanto o portador da doença quanto seus familiares por induzir Investir na identificação precoce de nestes, sentimentos contrários desde o sinais e sintomas de câncer em nível de temor do diagnóstico, a expectativa do atenção primária é uma das ações pouco prognóstico até a possibilidade de cura ou empenhada nas UBS, embora seja de de morte. extrema relevância para a população em Os autores compreendem que, por geral e mais particularmente a população meio desse tipo de pesquisa o estudo foi infantil, ainda mais quando essa investida além dos objetivos traçados, superando a traz resultados satisfatórios quase que expectativa imediatos. objetivo do seminário sobre a importância A utilização da metodologia de e conseguindo atingir o da identificação de sinais e sintomas. pesquisa-ação identificou necessidades e/ Concomitante à realização desse ou problemas a serem atendidos e estudo, elaborou-se uma cartilha intitulada resolvidos “Orientações Gerais Sobre o Câncer In- durante o processo de C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.187-205, jul./dez. 2014 203 Leonardo Magela Lopes Matoso, Libina Edriana da Costa Oliveira, Sibele Lima da Costa fanto-Juvenil” que foi entregue as UBSs se vivenciou durante o seu desenvolvi- trabalhadas e que posterior a isso, bus- mento e a partir do conhecimento cons- cou-se apoio na Prefeitura Municipal de truído através dele. Com base nesse co- Mossoró, para tornar apto a divulgação e nhecimento, pode-se entender a urgência disseminação da cartilha em todas as re- do aprimoramento de novos saberes que des de atenção básica, uma vez que no viabilizem concepções e práticas sociais instrumento constará os sinais e sintomas, mais eficazes (MATOSO et al., 2014). as formas de encaminhamentos, as unidades sócio- assistenciais, dentre outros AGRADECIMENTOS itens que auxiliam na detecção precoce do câncer infanto-juvenil. Ressalta-se que este trabalho pro- Agradecemos ao Centro de Oncologia e Hematologia de Mossoró piciou uma reflexão importantíssima, en- (COHM), quanto futuros profissionais de enferma- disponibilidade e incentivo necessário gem, uma vez que o mesmo estimulou a para a construção deste trabalho, pois é ampliar os conhecimentos na área, forta- através da sua brilhante inciativa, que lecendo uma visão crítica sobre o tema. vem fazendo a diferença na assistência à Reconhece-se as limitações deste traba- saúde, ensino e pesquisa da nossa lho e compreende-se que mais estudos cidade. por ter oferecido espaço, relacionados a essa temática devam ser Agradecemos também a Prefeitura realizados, uma vez que a mesma pro- Municipal de Mossoró, pelo compromisso voca muitas discussões. com a cidadania e pelo apoio direcionado A pesquisa não pode encerrar-se a pesquisas no campo da saúde. nas suas conclusões, mas abrir possibilidades para uma reflexão acerca do que REFERÊNCIAS R. AZEVEDO, M. C. C. 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