OS INVESTIMENTOS DA REPÚBLICA POPULAR DA CHINA NO

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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
OS INVESTIMENTOS DA REPÚBLICA POPULAR DA CHINA
NO MUNDO GLOBALIZADO: NOVAS TERRITORIALIDADES
NO PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO TERRITORIAL
FLUMINENSE
THIAGO JEREMIAS BAPTISTA1
Resumo
O artigo em tela evidencia a ascensão do Brasil como um dos maiores receptores de investimentos
estrangeiros diretos (IED) oriundos da República Popular da China (RPC) no início do século XXI,
bem como elenca a inserção de regiões em desenvolvimento neste processo e identifica o estado do
Rio de Janeiro (ERJ) como uma das Unidades Federativas (UF) da região Sudeste do país que mais
recebe este tipo de investimento. Com efeito, evidencia-se através deste trabalho que essa situação
deve-se a tentativa do país asiático assegurar seu acesso aos recursos estratégicos dado o ingresso
de grandes empresas estatais chinesas que passam a atuar como novas territorialidades no processo
de reestruturação territorial fluminense.
Palavras-chave: Investimentos chineses, território fluminense, reestruturação territorial.
Abstract
The article on screen shows the raisen of Brazil as one of the biggest receptoes of direct foreign
investments coming from Popular Republic of China in the begining of the 21st century, as welll as the
insertion of developing regions in this process and it idenfigirs the state of Rio de Janeiro as one of the
Federative Unions of the Southest region of Brazil, that receives these investments the most. Due to
this, through this work, it can be seen that this situation happens due to the attempt of the asian
country to ensure its access to strategic resources thus the ingress of big state chinese bussiness that
start to act with new territories in the process of reestructuration of the fluminense territory.
Key-words: Chinese investments, fluminense territory, territorial restructuration.
1 – Introdução
O artigo em tela evidencia que no início do século XXI, o Brasil ascendeu
como um dos maiores receptores de investimentos externos diretos2 (IED) oriundos
da República Popular da China (RPC). A espacialização desse tipo de investimento
1
- Mestrando em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro e integrante do Núcleo de Estudos de Geografia Fluminense (NEGEF).
E-mail: [email protected].
2
Embasando-se em Gonçalves (2003) Videira (2011) define investimento externo direto (IED) ou
investimento direto estrangeiro (IDE) como todo fluxo de capital com o intuito de controlar a empresa
receptora do investimento. Para a autora o principal agente de realização do IED é a empresa
transnacional, ou seja, uma empresa de grande porte que controla ativos em pelo menos dois países.
Assim, entende-se por IED ou IDE os investimentos internacionais realizados por uma empresa ou
entidade em um país distinto daquele que emite o investimento, abarcando assim todo o tipo de
capital investido em um país com interesse duradouro, sendo direcionado para o setor produtivo ou
para apoiar a produção, excetuando-se aqueles capitais com fins especulativos no setor financeiro.
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no território nacional privilegia o Sudeste (RENAI, 2012), região onde o estado do
Rio de Janeiro (ERJ) está inserido e projeta-se como um dos maiores receptores no
referido período. Os fatores que conduziram a inserção do território fluminense no
processo de expansão dos investimentos chineses apresentam-se como a questão
central a ser analisada, sobretudo, quando se elenca as atividades produtivas
chinesas implantadas no território como um novo agente e uma nova territorialidade
no processo de reestruturação territorial assistido pelo estado supracitado e a
possibilidade de continuação dessa trajetória, haja vista a visita do Primeiro-Ministro
chinês Li Keqiang – em maio de 2015 – ao Brasil e o anúncio de mais investimentos
chineses no território nacional. A relevância e a contribuição do artigo decorrem da
avaliação da internacionalização dos investimentos chineses tendo como recorte
espacial o território fluminense, visto que estudos realizados tomaram outras escalas
geográficas como recorte analítico. Para isto, conta-se além desta introdução com
mais três seções que antecedem suas conclusões.
2 – Procedimentos metodológicos
Os procedimentos metodológicos utilizados para a elaboração do artigo
compreendem àqueles realizados pelas pesquisas qualitativas. Com efeito, o estudo
se baseia na revisão bibliográfica acerca da temática, bem como na obtenção de
referenciais teóricos, documentos oficiais, dados e informações referentes à
ascensão da RPC como investidor internacional e o ingresso dos investimentos
chineses no território fluminense. O trabalho fundamenta-se ainda no uso de dados
quantitativos referentes à expansão dos investimentos chineses no mundo e no
Brasil. Assim, parte da pesquisa se baseia no uso de fontes primárias – relatórios
oficiais – que apresentaram informações relevantes disponibilizadas em bibliotecas e
sítios eletrônicos de instituições oficiais como: Comissão Econômica para América
Latina e Caribe (ECLAC – sigla em inglês), Centro Empresarial Brasil-China (CEBC),
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), assim como no uso de fontes
secundárias marcadas pela literatura especializada.
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3 – Expansão e reorganização geográfica dos investimentos
chineses: o influxo do capital sínico no território nacional
A organização do espaço mundial assistiu aos diferentes ciclos sistêmicos de
acumulação caracterizados por uma unidade central hegemônica que moldou a
economia e o sistema-mundo. Como decorrência deste processo ciclos sistêmicos
de acumulação se conformaram desde os séculos XV-XVI tendo como centro
hegemônico Gênova, Holanda, Inglaterra e os Estados Unidos (ARRIGHI, 2012).
A atual transferência do epicentro da economia política global da América do
Norte para a Ásia Oriental, onde a China se projeta como novo líder do
renascimento econômico regional evidencia a constituição de um novo regime
(ARRIGHI, 2008). Assim, a conformação de um novo ciclo sistêmico de acumulação
dá-se pelo renascimento econômico da Ásia Oriental, e nesta perspectiva, “a atual
recentralização da economia na Ásia” (ARRIGHI, 2008, p. 37) configura a região
como o novo centro dinâmico da economia mundial (FIORI, 2007 e ARRIGHI, 2008),
projetando-se como um fenômeno relevante, sobretudo, por que a região abriga um
país que emergiu política e economicamente no sistema interestatal capitalista, a
República Popular da China.
A posição de liderança ocupada pela RPC na Ásia Oriental conforma-se como
uma importante mudança nos polos de comando e poder da economia mundial.
Com efeito, a espetacular projeção econômica chinesa é entendida como parte das
mudanças estruturais pela qual passa o sistema internacional, em que se sobressai
a formação de novos centros de geração de riqueza e poder (GONÇALVES, 2010).
De acordo com Harvey (s.d, p. 145) a “China domina la totalidad del este y el sureste
de Asia como una potencia hegemónica regional con una enorme influencia global”.
Como resultado, a “China se abrió en su totalidad a las fuerzas del mercado y del
capital extranjero, aunque todavía bajo el ojo vigilante del partido” (HARVEY, s.d, p.
131).
“A China superpotência econômica dos dias atuais é o legado de Deng
Xiaoping” (KISSINGER, 2011, p. 326), e compartilhando com os históricos países do
centro capitalista o desenvolvimento da globalização, “a China vê sua participação
na globalização como uma condição para o seu próprio desenvolvimento econômico
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e social que, no seu dizer, a conduziria para uma economia de mercado socialista.
Contando com densa participação nos intercâmbios internacionais de comércio e
investimento” (GEIGER, 2012, p. 207). Diante desse contexto, o país mais populoso
do mundo ingressa no século XXI como a segunda maior economia mundial, tendo
como pilares de seu crescimento econômico a produção industrial, o comércio
externo, os investimentos estrangeiros e a internacionalização de suas atividades
produtivas (LYRIO, 2010), ocupando posição relevante como investidor internacional
dado o aumento de sua participação no estoque e no fluxo de IED.
Embora a China permaneça, no decorrer da última década, como o país
asiático que mais recebeu IED, e como efeito de uma trajetória econômica que
remonte a abertura do território chinês ao influxo de capital estrangeiro no período
da gestão Xiaoping3 (KISSINGER, 2011), nota-se que dada a sua relevância muitos
estudos abordaram esta temática. Entretanto, a ascensão da economia chinesa à
condição de investidor internacional motivou a realização de pesquisas elaboradas
por Ipea (2011), Oliveira (2012), Cebc (2013; 2014; 2015), Ribeiro (2013) e Alves
(2014), tomados aqui como referências teóricas acerca da expansão dos
investimentos chineses no mundo e no Brasil. Porém, convergimos com os
apontamentos de Oliveira (2012) e Ribeiro (2013) quando destacam que pouca tem
sido a atenção conferida à RPC como investidor internacional.
Ampliando sua projeção econômica, no âmbito das finanças internacionais, a
RPC expandiu a atuação de empresas estatais e investiu em diferentes regiões do
espaço mundial. Por esse prisma o país asiático que em 2010 afirmou-se como
segundo maior PIB global e maior economia asiática é um novo ator no sistema
interestatal capitalista e possui um importante papel na geopolítica e na economia
mundial, sobretudo, quando se projeta como um novo investidor no território
nacional. Na condição de investidor internacional, o país asiático, ampliou sua
participação no estoque e nos fluxos de investimentos no mundo (Tabelas 01 e 02).
3
A chegada de Deng Xiaoping ao poder foi marcada por importantes mudanças, entre estas, tem-se
a abertura do território chinês ao influxo de investimentos internacionais e a modernização das
estruturas produtivas do país.
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País de origem
China
Ano - (US$ milhões)
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
916
6.885
2.518
2.855
5.498
12.261
21.160
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
26.510
55.910
56.530
68.811
74.654
84.220
101.000
Tabela 01 – China: Fluxo de investimento direto para o exterior (2000-2012/13) (Em US$ milhões)
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Alves (2014) e http://chinability.com/ODI.htm - acesso em: 12
abr 2015.
Através da análise da tabela acima, nota-se que entre 2000 e 2013 a China
ampliou seu fluxo de investimentos no exterior, assim o país atingiu US$ 101 bilhões
em fluxos de investimento em 2013.
Com um estoque de IED compreendendo US$ 509 bilhões, em 2012, o país
asiático ascendeu à posição de destaque entre os investidores internacionais,
passando a ocupar a 13ª posição entre os maiores investidores diretos no exterior e
alcançando o 1º lugar entre os países em desenvolvimento, atingindo participação
de 2,16% no estoque de IED no mundo naquele ano (Tabela 02).
País de Origem
1990
2000
2005
2010
2012
Participação %
Mundo
China
4.455
27.768
57.706
317.211
509.001
2,16
Tabela 02 – China: Estoque de investimento direto no exterior (1990-2012) (Em US$ milhões)
Fonte: Adaptado de ALVES, 2014.
A primeira fase da expansão dos investimentos chineses ao exterior
compreende o último quartel do século XX, entretanto, a partir da década de 1990 e
da estratégia Go Global4 no início do século XXI ocorreu a saída mais expressiva de
capitais chineses para o mercado internacional (Tabela 01) (JABBOUR, 2010;
OLIVEIRA,2012; ALVES 2014).
Ao longo dessa trajetória, a internacionalização dos investimentos chineses
teve entre as suas prioridades e objetivos garantir acesso ao suprimento de recursos
estratégicos e necessários ao desenvolvimento do país. Com esse objetivo a RPC
“Inserida na estratégia de desenvolvimento delineada pelo Décimo Plano Quinquenal (2001-2005) e
marco inicial do terceiro e último período, que se estende até o presente” (ALVES, 2014, p. 353), a
estratégia Go Global estabeleceu políticas de incentivo ao investimento externo, estando entre os
seus objetivos a inserção competitiva das firmas chinesas no mercado globalizado com diferentes
objetivos, entre estes, apoiar firmas na exploração além-mar de recursos naturais escassos
domesticamente.
4
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iniciou a expansão de seus investimentos no exterior direcionando-os aos países
desenvolvidos, no entanto, mais recentemente a reorganização geográfica na
distribuição espacial de seus investimentos conduziu os países em desenvolvimento,
em especial aqueles localizados na Ásia e América Latina à condição de maiores
receptores dos investimentos chineses (IPEA, 2011). Portanto, entre 2003-2009 os
países que integram a região da Ásia e Bacia do Pacífico, assim como a África, a
América Latina e o Caribe foram às regiões para onde se direcionaram os maiores
volumes dos fluxos de investimentos externos diretos oriundos da RPC (Gráfico 01).
Gráfico 01 – Distribuição geográfica dos fluxos de investimentos externos diretos chineses por
regiões (2003-2009) (em %)
Fonte: Ministry of Commerce of China (MOFCOM), 2009. Statistical Bulletin of China’s Outward
Foreign Direct Investment, Beijing, 2010. Asia and the Pacific includes the countries of Oceania and
therefore Australia, one of the main destinations for Chinese outward FDI apud Rosales & Kuwayama
(2012, p. 33).
Como efeito desse processo o influxo do capital sínico no território nacional foi
ampliado. Assim, há que se destacar que embora houvesse este tipo de
investimento no país em momentos pretéritos, os mesmos não possuíam vulto tão
relevante quanto aos US$ 13 bilhões investidos no país em 2010 (Tabela 03). Neste
ano, a RPC intensificou a incorporação das trocas com o Brasil às necessidades da
sua economia, bem como elevou consideravelmente os investimentos neste país
sul-americano.
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Ano
Valor total em US$
2007
434.000.000
2008
20.000.000
2009
95.000.000
2010
13.090.000.000
2011
8.030.000.000
2012
3.449.000.000
2013
3.235.000.000
Total
28.353.000.000
Tabela 03 – Investimento externo direto (IED) chinês no Brasil (2007-2013)
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Cebc, 2013; Cebc, 2014 e Cebc, 2015.
Compreende-se, através da análise da tabela acima, que embora tenha
ocorrido a diminuição no influxo de investimentos chineses no território nacional nos
últimos anos, o período 2011-2013 é caracterizado por um influxo superior aos anos
que antecederam 2010. Acompanhando a tendência nacional, o ERJ, entre 20042013, recebeu considerável volume de investimentos chineses. Nesse sentido, a
maior contribuição conferida por este artigo deve-se ao fato de propor uma análise
acerca dos investimentos chineses direcionados ao território do ERJ, tendo em vista,
que estudos acerca da internacionalização dos investimentos sínicos 5 foram
realizados apresentando sua distribuição em outras escalas geográficas, utilizandose, portanto, de recortes espaciais distintos do proposto por este trabalho.
4 – Uma nova territorialidade no processo de reestruturação
territorial fluminense: os investimentos chineses
Com uma extensão de 43,7 mil km², o território fluminense apresenta uma
organização constituída por 8 regiões de governo6 e malha municipal conformada
por 92 municípios (Figura 03). Situado na Região Sudeste do Brasil, o ERJ é a
segunda maior economia do país e quando somado aos estados desta mesma
região (SP, MG e ES) representa mais de 50% do PIB nacional. Marcado por uma
nova conjuntura econômica o aludido estado individualmente tem ampliado sua
participação na economia brasileira, o que corresponde atualmente por 11,5% do
5
Investimentos de origem chinesa.
Não consiste enquanto objetivo deste trabalho analisar a forma de regionalização proposta ao
estado do Rio de Janeiro, mas tão somente utilizá-la como escala de análise por facilitar a obtenção
de dados que orientam a realização deste estudo.
6
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PIB nacional, bem como assiste a uma reestruturação territorial, cuja principal
característica compreende a reorganização do influxo de investimentos e
implantação de atividades produtivas no interior do território, entretanto, sem muita
participação do capital sínico.
Esta seção avalia o influxo de investimentos chineses no ERJ no início do
século XXI e considera-os como uma nova territorialidade que atua na
reestruturação territorial pelo qual o ERJ vem passando. No início deste século, o
território fluminense7 assiste um grande influxo de investimentos, parecendo
confirmar a tendência avaliada por estudiosos que analisando a sua reestruturação
produtiva a partir dos anos 1990, compreenderam as últimas décadas do século XX
como um momento de superação da trajetória de estagnação pari passum ao
processo de retomada de crescimento econômico do estado, sendo este capaz de
reverter sua perda de importância na economia nacional após o período de perdas
relativas ou de esvaziamento econômico atravessado entre as décadas de 19301980, dada a redução de sua participação na produção industrial do Brasil e
diminuição da participação do supracitado estado no PIB brasileiro (Tabelas 04 e 05)
(MELO, 2001; OLIVEIRA, 2008; SILVA, 2012).
UF
1907
1919
1939
1949
1950
1960
1975
1980
1985
2000
RJ*
40,0
28,4
22,0
19,3
21,1
17,3
13,5
10,6
9,5
8,6
SP
16,5
33,0
45,4
48,0
46,6
54,5
55,9
53,4
51,9
42,0
Tabela 04 – Rio de Janeiro e São Paulo: participação na produção industrial do Brasil (%) (19072000)
*Soma da cidade do Rio de Janeiro com o estado do Rio de Janeiro entre 1907-1975.
Fonte: Elaborado a partir de Melo, 2001.
% / Ano
1939
1949
1959
1970
1975
1980
1985
1990
1997
Total
21,0
20,0
18,0
16,0
15,0
13,2
12,4
12,3
11,0
Tabela 05 – Participação do estado do Rio de Janeiro no PIB brasileiro em % (1939-1997)
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de SANTOS, 2003 e SILVA, 2012.
Portanto, diante de uma nova conjuntura econômica, o ERJ destaca-se em
primeiro lugar na carteira de investimentos industriais, logísticos e de serviços. Com
efeito, os investimentos públicos e privados previstos para o estado do Rio de
Janeiro no período 2011-2013 alcançaram um significativo montante de R$ 181,4
7
No que concerne a atual configuração territorial fluminense esta resulta de eventos históricos
importantes, que remontando a década de 1970 implicaram a fusão entre os estados da Guanabara e
do Rio de Janeiro.
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bilhões (TERRA et al, 2012).O incremento de investimentos no território evidencia a
maior inserção deste na economia globalizada e a superação daquele período de
estagnação e de esvaziamento econômico ou perdas relativas de participação na
economia nacional dada a implantação de novas atividades produtivas no território
do estado.
Desde a década de 1990, o influxo de capitais produtivos no território
promoveu reconfigurações de economias regionais que se mostravam como
espaços economicamente decadentes, especializando regiões do território e
promovendo sua reestruturação produtiva na passagem do século XX para o XXI
(OLIVEIRA, 2008; MARAFON et al, 2011; SILVA, 2012). A participação de
atividades relacionadas direta e indiretamente à extração petrolífera na porção
setentrional do território estadual e sidero-metalúrgicas, metal-mecânicas e
automotivas na porção meridional do estado dada a reorganização dos fluxos de
investimentos no território (Figura 03) deram o tom da reestruturação territorial sem
muita participação do capital sínico.
Figura 1 – ERJ: Regiões de governo, municípios e o redirecionamento dos investimentos no território
Entretanto, o incremento no influxo de capital sínico e a aumento de sua
participação em setores produtivos da economia brasileira incluiu o estado do Rio de
Janeiro entre as áreas compreendidas pelo processo de internacionalização dos
investimentos da RPC, sobretudo, quando se identifica que entre os anos 2007-2013
os investimentos chineses no Brasil totalizaram US$ 28,3 bilhões, sendo a Região
Sudeste a mais contemplada com esses investimentos (CEBC, 2015). A expansão e
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a reorganização geográfica dos investimentos chineses no mundo, bem como a
inserção de regiões em desenvolvimento na lógica de internacionalização do capital
sínico implicou o influxo de US$ 26 bilhões no território fluminense entre 2004-2013
(Tabela 06). Tal fato permite elencá-los como um novo agente e uma nova
territorialidade atuante no processo de reestruturação territorial assistido pelo ERJ
após o período de esvaziamento econômico ou perdas relativas.
Ano
Empresa
Origem
Valor Anunciado em
US$
Modo de
Entrada
Setor
2004
Sinopec
240.000.000
Greenfield
Central SOE
Busca de Mercado
2010
Sinopec
Repsol Brasil
7.109.000.000
Central SOE
Busca de Recursos
2010
Sinochem
Statoil ASA*
3.070.000.000
Energia (petróleo e
gás)
Central SOE
Busca de Recursos
2010
CR Zongshen**
Sinopec/
CNOOC***
20.000.000
Fusões &
Aquisições
(parcial)
Fusões &
Aquisições
(parcial)
Greenfield
Energia (petróleo e
Gás)
Energia (petróleo e
gás)
Automotivo
Privada
Busca de Mercado
Fusões &
Aquisições
(parcial)
Joint Venture
Energia (petróleo e
gás)
Central SOE
Busca de Recursos
Siderurgia
Central SOE
Busca de Recursos
Fusões &
Aquisições
(parcial)
Fusões &
Aquisições
(completa)
Fusões &
Aquisições
(parcial)
Fusões &
Aquisições
(parcial)
Fusões &
Aquisições
(parcial)
Energia (petróleo e
gás)
Central SOE
Busca de Recursos
Ferroviário
SOE
Busca de Mercado
Energia (Petróleo
e Gás)
Central SOE
Busca de Recursos
Energia (Petróleo
e Gás)
Central SOE
Busca de Recursos
Energia (Petróleo
e Gás)
Central SOE
Busca de Recursos
2010
6.000.000.000
2010
Wuhan
Iron/Steel
Group
(Wisco)
****
3.500.000.000
2010
Sinopec
*****
Não divulgado
2011
CNR
200.000.000
2011
Sinopec
3.500.000.000
2012
Sinopec
(Anunc)
947.000.000
2013
CNPC e
CNOOC
1.500.000.000
Estrutura de
Propriedade
Determinante do
Investimento
Total
26.086.000.000
Tabela 05 – Investimentos chineses no território fluminense 2004-2013
*Aquisição de 40% da exploração do Campo de petróleo offshore Peregrino (Bacia de Campos)
**Instalação de Fábrica utilizando a marca KASINSKI
***Negociações separadas para aquisição de 20% no campo de petróleo offshore e participação em ativos da OGX (Bacia de Campos)
****Instalação de siderúrugica, com 70% de participação da Wisco na joint venture (Porto do Açú - São João da Barra)
*****Participação acionária no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ)
Fonte: Elaborado pelo autor.
O ingresso das empresas estatais chinesas (Central SOE) no território
fluminense evidencia a materialização desses investimentos, cujo determinante
compreende a busca de recursos e a busca de mercado, tendo como modo de
entrada dos investimentos tanto o joint-venture e o greenfield, quanto às fusões e
aquisições.
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5 – Conclusões
Através da identificação do volume de investimentos e das principais
empresas chinesas que ingressaram no território fluminense pode-se inferir que o
influxo de investimentos chineses no ERJ visa, sobretudo, assegurar recursos
estratégicos, em especial o petróleo, à RPC, haja vista que estes se materializam
através da presença de agentes como as empresas estatais de origem sínica em
sua maior parte as petrolíferas CNOOC, CNPC, SINOPEC e SINOCHEM, assim
como conformam uma nova territorialidade presente no processo de reestruturação
territorial do aludido estado por atuar visando o controle de áreas e recursos neste
existente.
6 – Referências
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