A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO CONTRIBUIÇÕES A COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO DA ILHA DO CARDOSO, COM ÊNFASE EM FATORES MORFODINÂMICOS Pedro Michelutti Cheliz1 Regina Célia de Oliveira2 Resumo: Realizou-se aplicação do nível de tratamento da Compartimentação de Relevo de Ab`Saber a Ilha do Cardoso, no litoral sul de São Paulo. Após realização de trabalhos de campo, criação e sobreposição de mapas altimétricos, clinográficos e geológicos propose dividir e caracterizar a Ilha a partir de dois grandes compartimentos, Planícies Costeiras e Serranias Mamemolizadas. Num segundo momento segmentou-se as unidades em subcompartimentos, tendo para este fim atenção especial a fatores morfodinâmicos predominantes nos fluxos de matéria vinculados a Ilha. Espera-se que compartimentação proposta possa servir, por meio de elaboração de cenários pretéritos de distribuição das subunidades, fornecer subsídios para discussão das oscilações nas condições morfodinâmicas da Ilha ao longo do tempo. Palavras-chave: geomorfologia litorânea, Região Lagunar Cananéia-Iguapé, Compartimentação do Relevo Abstract: Has made implementation of the first level of treatment of relief propused by Ab`Saber relief to the Cardoso Island, south of São Paulo. After conducting field work, creation and overlay of elevation, inclination and geological maps the Island has been characterized by the point of view of two large compartments, Coastal Plains and Diversificate Saws. Secondly it has segmented into sub units, and for this purpose special attention to prevailing morphodynamic factors in terms of flows linked to island. It is expected that subdivision proposal can serve, through elaboration of past tenses scenarios distribution of the subunits, to provide subsidies for discussion of fluctuations in morphodynamic conditions of the island over time. Keywords: coastal geomorphology, Cananeia-Iguape Region, geomorphology 1 – Introdução Aproximando-se do paralelo 25 do litoral brasileiro, massivas silhuetas erguem-se defronte a linha de costa a partir das águas circundantes. Inserida na costa sudeste do Brasil e no litoral sul paulista, a Ilha do Cardoso e seu relevo se 1 Núcleo de Estudos Ambientais e Litorâneos, Departamento de Geografia, Instituto de Geociências da UNICAMP (IG-UNICAMP) 2 Núcleo de Estudos Ambientais e Litorâneos, Departamento de Geografia, Instituto de Geociências da UNICAMP (IG-UNICAMP) 4678 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO destacam rapidamente mesmo numa análise inicial do chamado Complexo Lagunar Cananéia-Iguapé (Besnard, 1956). Constituída por pouco mais de uma centena de quilômetros quadrados de extensões emersas, realça-se em diversas escalas e pontos de observações possíveis. De estudiosos que analisam o Litoral Sul das mais elevadas alturas do firmamento por imagens de aeronaves e satélites, à navegantes que em pequenas embarcações lançam seus olhares ao horizonte. A figura imponente da Ilha se faz presente já há milhares de metros de distância. Rompe aparente suavidade do relevo local alçando-se centenas de metros aos céus através de monumentais escarpas rochosas, em meio às vastas planícies rentes ao oceano e águas lagunares. As amplas Serranias recobertas por matas atlânticas e as Planícies Costeiras arenosas e suas florestas de restinga, manguezais e campos de dunas consolidam sua posição no contexto regional. Firma-se como massivo anteparo que resguarda as águas plácidas da Região Lagunar da inclemente ação das forças do Oceano Atlântico. Movimentado relevo da Ilha constituiu ainda referencial natural para a navegação no tempo histórico - das frágeis embarcações dos ancestrais homens de sambaqui as imponentes caravelas coloniais. Dos densos navios de cabotagem a vapor às criativas e ágeis canoas e barcos caiçaras. Cumpriu longamente o papel de selar o limite meridional do Litoral Sul, servindo-lhe de marco terminal natural (Souza, 2011). Usualmente é tida como resquício de um anteriormente mais vasto contraforte litorâneo. Violentas tempestades subtropicais, potentes vagas e ressacas marinhas, intensas correntes de vento, oscilantes regimes fluvio-marinhos, processos paleoclimáticos e mesmo longínquos terremotos derruíram amplamente o embasamento rochoso original da Ilha. Em conjunto ou alternadamente exumaram profundezas plutônicas sieníticas do edifício ígneo primordial e trouxeram a tona litologias de distintas fácies metamórficas, cujos reminiscentes formam as escarpas centrais da Ilha. Contribuíram ainda para criar espaço de acomodação suficiente para deposição de extensos depósitos sedimentares inconsolidados em planícies e cordões litorâneos que bordejam as escarpas centrais. O Dinamismo da geomorfogênese na Ilha se manifesta também no tempo histórico, particularmente através de ativos e dinâmicos processos de sedimentação 4679 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO e erosão marinhas. A intensidade destes processos é tal que foi capaz de promover no espaço de décadas registro de progradações e retrogradações da linha de costa que podem atingir dezenas de metros de magnitude em planta (Tesler e Suguio, 1990). Ao longo dos últimos anos vem se registrando novos episódios desta dinâmica em áreas que permaneceram até então sob agradação, evidenciados entre outros por ação erosiva agressiva em setores diversos das Planícies Costeiras da Ilha. Ao analisar tais processos, Mialy e Agudo (2002) e Ângulo, Sousa e Muller (2007) sustentam que envolvem magnitudes sem precedentes dentre o registro histórico. Defendem ainda que tais processos levarão à mudanças radicais no traçado dos bordos da Ilha e mesmo a rupturas na continuidade das próprias Planícies Costeiras. Gouveia (2012) por sua vez defende que os processos atuais podem ser compreendidos como inseridos dentro da magnitude registradas no tempo histórico para episódios pretéritos. Diante deste contexto, o presente trabalho busca realizar estudo geomórfológico da Ilha do Cardoso a partir da proposta tríade de Ab’SAber (1969), com foco no nível de tratamento da compartimentação do relevo. A Compartimentação da Paisagem visa através de uma sobreposição da análise das bases geológicas e morfométricas, delimitar unidades geomórficas relativamente homogêneas. No caso específico do presente trabalho procurou-se, sobretudo para definição dos sub-compartimentos de relevo, dar um peso especial não somente para atributos altimétricos, morfométricos e da balização litológica como também destacar processos morfodinâmicos predominantes. O presente texto apresentará resultados parciais e discussões vinculadas a compartimentação de relevo da Ilha, ligado a projeto de mestrado em desenvolvimento no Instituto de Geociências da UNICAMP. 2 – Desenvolvimento Com base na sobreposição dos modelos digitais de terreno, mapas clinográficos, altimétricos, geológicos, vegetacionais e trabalhos de campo realizados foram delimitados dois grandes compartimentos de relevo, as Planícies 4680 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Costeiras e Serranias Mamemolizadas. Seus atributos sumários, e sub- compartimentos associados, são a seguir apresentados. Numa análise inicial as Planícies Costeiras da Ilha do Cardoso parecem não revelar diferenças significativas de outras unidades geomórficas similares que pautam o litoral do Complexo Lagunar de Cananéia e mesmo do litoral sudeste brasileiro nos locais onde prevalecem Planícies Costeiras areno-argilosas. As condições geológicas, topográficas e vegetacionais inicialmente parecem pouco diferir dos padrões usuais médios para estas áreas. Envolvem extensões de depósitos sedimentares areno-argilosos e/ou coberturas de alteração deles derivadas contidos entre 0 e 20 metros acima do mar, gradando da linha de costa para os sopés das Serranias através de declividades suavizadas e raramente superiores a cinco graus. De maneira similar a outros segmentos em que predominam planícies costeiras sedimentares encontram-se marcados pela alternância de formas de detalhe que incluem praias arenosas, planícies alagáveis, terraços marinhos, fluviais e flúvio marinhos. Seus conjuntos geomórficos, depósitos sedimentares e coberturas de alteração encontram-se superimpostos a associações vegetais também características do litoral sudeste brasileiro, Das matas das restingas associadas a seus cordões arenosos aos manguezais ligadas aos depósitos argilosos periodicamente alagados, das associações diversificadas instaladas em campos de dunas a vegetação hidrófila instalada em microdepressões permanentemente encharcadas. Numa abordagem de maior aprofundamento porém realçam-se algumas peculiaridades significativas das Planícies Costeiras da Ilha do Cardoso em relação a maioria das unidades geomórficas semelhantes do litoral do Brasil Sudeste. Uma delas envolve o caráter relativamente delgado dos depósitos sedimentares que constituem o substrato básico de suas paisagens. Enquanto em áreas como a Baixada Santista ou mesmo na adjacente Ilha Comprida existem registros de sondagens de subsuperfície e/ou estudos geofísicos que bancos sedimentares atingem a magnitude de centenas de metros de espessura antes de encontram o substrato rochoso, na Ilha do Cardoso dados similares apontam que a espessura dos estratos areno-argilosos dificilmente atingem vinte metros (Karman et al, 1999). Registram-se mesmo entre os pescadores da Ilha na desembocadura de muitos dos 4681 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO rios que cruzam as Planícies rumo a laguna, dificuldade para deslocamento mesmo de pequenos barcos ante lâminas rochosas do assoalho que se sobresaem em meio a cobertura sedimentar. Caráter delgado das planícies possivelmente encontra-se associado a níveis erosionais esculpidos por condições morfodinâmicas e climáticas pretérias, enquanto o caráter espesso da maior parte das Planícies do litoral sudeste encontram-se ligadas ao expressivo rejeito das bacias sedimentares cenozóicas costeiras. As Planícies da Ilha também se realçam por estarem simultaneamente em exposição a fatores morfodinâmicos significativamente diversos. Seus segmentos nortistas encontram-se resguardado da ação direta das fortes vagas, ventos e correntes do oceano atlânticos devido estarem a retaguarda do anteparo rochoso representado pelas Serranias da Ilha. Já seus segmentos a sul encontram-se expostas diretamente a intensa ação morfodinâmica atlântica, enquanto os canais de Ararapira a Oeste e a Barra de Cananéia apresentam aspectos particularizados ao perfarezerem a transição e troca de fluxo e energia entre a região lagunar e o mar aberto. Tal diferenciação já é significativa para as Serranias e seus conjuntos rochosos de maior resistência a ação marinha. Para as Planícies, e seus mais facilmente desagregados e remobilizáveis cordões sedimentares, esta exposição a diversificados fatores morfodinâmicos adquirem maior centralidade e constituem fator central ao ser levado em conta na análise de seus atributos geomórficos. As Planícies Costeiras abrangem predominantemente formas de relevo semi-aplainadas associadas a depósitos sedimentares arenosos inconsolidados e a cotas altimétricas entre 0 e 20 metros, perfazendo cerca de 38%. da Ilha do Cardoso. Distribuem-se ao longo de praticamente todas as bordas da Ilha a partir dos sopés das Serranias Mamelolizadas em diversificadas extensões. Enquanto em múltiplos setores ao sul da Ilha elas não cheguem a perfazer um quilômetro em planta a partir da linha de costa antes de darem lugar as Serranias em múltiplos segmentos a norte, particularmente no nordeste da Ilha, chegam facilmente a perfazerem cinco quilômetros de distanciamento entre o Complexo Ígneo-Central e a Baia Interna. Uma observação apressada aponta para as Planícies Costeiras uma aparente homogeneidade morfológica, em oposição aos marcantes contrastes 4682 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO paisagísticos das Serras Mamelonizadas. Analisando-se com maior rigor porém nota-se uma série de sutis mas importantes quadros de diferenciação internas. Heterogeneidades pautadas sobretudo por diferentes exposições aos diversificados mecanismos das dinâmicas fluviais, marinhas e eólicas e distintas legados herdados da dinâmica paleoambiental quaternária. Nesta linha de raciocínio pode-se segmentar as Planícies em sete subunidades de relevo, dentro do que Ross (1992) chama de morfoescultura: Planícies Alagáveis, Praias Atuais, Cordões Litorâneos Frontais, Morros Residuais, Cordões Litorâneos Intermediários e Cordões Litorâneos Elevados. As quatro primeiras subunidades encontram-se atualmente sob influência direta de variações cíclicas das marés enquanto as duas últimas encontram-se majoritariamente resguardada da ação cíclica das águas salobras oceânicas (Petri, Suguio, 1971). As praias atuais constituem de material majoritariamente arenoso, sem cobertura vegetal e raramente excede a altimétria de 3 metros. Encontram-se expostas diretamente a ação da maré e, no segmento sul, a ação de arrebatenção de ondas atlânticas. No segmento norte da Ilha apresentam extensão em planta média de 30 metros enquanto no segmento sul podem exceder 100 metros em vários trechos. As Planícies Alagáveis são formadas por predomínio de material argiloso, altimétria raramente superior a 3 metros e podem ser recobertas por águas salobras por ocasião das marés mais elevadas, sendo pautadas pela fixação de ecossistemas de Manguezal. Os Cordões Litorâneos Frontais apresentam cobertura de material arenoso e presença de neossolos, sustentando ecossistemas de Restinga Aberto pautado pelo predomínio de gramíneas e vegetação arbustiva com raridade ou ausência de estratos arbóreos. Altimetria oscila entre 2 e 6 metros acima do nível marítimo atual. São ocasionalmente cobertos pelas lâminas de água oceânica pela ocasião da sobreposição de marés mais elevadas e tempestades marítimas intensas. Morros Residuais são constituídos por reminiscentes isolados do embasamento ígneo-metamórfico que compõe as Serranias, pautando-se por altimetrias que podem superar 50 metros, declividades médias de 20 graus e vertentes mamemolizadas com bases marcadas por solapamento e estreitos terraços decorretes da ação marinha. Os Cordões Litorâneos Intermediários por sua vez encontram-se contidos 4683 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO majoritariamente entre as cotas de 6 e 10 metros acima do nível marítimo. Pautamse pelo predomínio arenoso e ocorrência de neossolos, sustentando ecossistemas de maior biomassa que os anteriores englobando a Restinga Baixa, pautada pela presença mais intensa de estratos arbóreos e predomínio de bromélias. Os Cordões Litorâneos Elevados encontram-se majoritariamente contido nas cotas entre 10 e 20 metros, também de predomínio arenoso pautado pela presença de espodossolos e vegetação de Restinga Alta marcada por estratos arbóreos mais elevado e menor presença das bromélias. Já Serranias Mamemolizadas trata-se da unidade paisagística de maior destaque na Ilha, tanto em área total quanto em expressão visual. Suas monumentais escarpas são visíveis a quilômetros de distância, alçando-se subitamente centenas de metros rumo aos céus em contraste fragrante com as Planícies praticamente rentes ao oceano que as bordejam. As Serranias Mamemolizadas associam-se a conjunto de vertentes de média e alta declividade bem como a interflúvios e remanescentes residuais dispersos ligados ao complexo ígneo-metamórfico central da Ilha, abrangendo predominantemente os intervalos de cotas altimétricas entre 20 e 700 metros e cerca de 62% da extensão total da Ilha. A ascensão altimétrica das Serranias é tão brusca e o contraste com as circunvizinhanças tão intenso que compromete a sua própria estabilidade mesmo na escala temporal humana. A maior parte de sua extensão corresponde a destroços reliquiares acumulados de um pretérito muito mais expressivo conjunto de picos e serras. As violentas tempestades torrenciais que abatem-se sobre as íngremes serranias as fazem com frequência entrarem em colapso, num processo constante de destruição e remobilização por meio de enérgicos movimentos de massa. Suas escarpas erguem-se em meio as gigantescas e espessas pilhas de escombros do edifício rochoso original. Os amplos vales sulcados pelas vertentes que a dissecam encontram-se escavados em meio a amplos depósitos de blocos rochosos originados de fluxos gravitacionais As escarpas da Serra do Mar e mesmo de várias outras Ilhas Continentais e Oceânicas do litoral brasileiro se apresentam predominantemente na forma de rebordos de extensos planaltos. Mesmo escarpas de Ilhas expostas a ação de climas semi-áridos e com grande heterogeneidade litológica como Trindade 4684 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO (Almeida, 1964) mostram-se frequentemente como bordos de extensos planaltos elevados e semi-aplainados. Na Ilha do Cardoso tal organização morfológica ocorre de maneira distinta. Suas maiores atitudes não encontram-se correlacionadas a unidades de planaltos mas sim a enxutos alinhamentos descontínuos de enxutos interflúvios graníticos. Picos estes que por vezes se mostram em formatos pontiagudos desnudos similares aos designados como “Dedo de Deus” por Ab’Saber (1954), blocos graniticos maciços despidos de sua cobertura regolítica pretérita em forma de setas mamelonizadas cortando as nuvens mais rebaixadas vindas do oceano profundo. Tal alinhamento de altos picos se mostra alinhados em direção predominante SW-NE, atingindo altimetria de 720 metros no segmento mais a sudoeste e em intensidade assimétrica decresce em atitude até a extremidade leste, onde se limita pela cota de 480 metros e apresenta inflexão aproximando-se da direção W-E. Nos segmentos proximais ao extremo sudoeste do alinhamento os interflúvios enxutos se mostram mais contínuos, chegando a apresentarem distâncias horizontais de vários quilômetros em que a variação de altitude não excede 40 metros. Já nos segmentos mais próximos a extremidade leste a continuidade dos alinhamentos é comprometida. Múltiplas das vertentes dos canais que seccionam seus bordam mostram-se recuadas em relação a seus segmentos a este, com os vales das cabeceiras da rede de drenagem logrando seccionar o alinhamento de interflúvios. Em verdade é justamente na extremidade leste que se se mostra com mais frequência os picos agudos do tipo “Dedo de Deus”, praticamente ausentes no segmento oeste das Serranias. A sul e a norte a partir deste alinhamento elevado de picos se mostram os conjuntos mais prominentes de escarpas. Elas salientam-se a navegantes que aproximam-se da Ilha vindos de qualquer direção pelo aspecto de muralhas massivas. Tais conjuntos pautam-se onduladas pelas extensas vertentes que as cortam, em canais principais de direção predominante próxima do N-S e com distâncias médias entre os enxutos interflúvios de mais de 2 quilômetros. Os conjuntos de escarpas encontram-se expostas a intensidades de ação marinha e superimpostas a ossaturas geológicas bastante distintas. O conjunto de escarpas a sul dos altos picos mostram-se voltadas para o mar aberto, sendo vários de seus 4685 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO trechos bordejados diretamente pelo Oceano Atlântico, sobrepondo-se a um conjunto diversificado de rochas graníticas. As que desenvolvem-se a norte encontram-se voltadas predominantemente para as menos agitadas águas lagunares, e mostram-se num conjunto litológico de maior diversificação. Nas cotas topográficas mais elevadas também mostram-se sobrepostas a litologias graníticas mas nas altitudes intermediárias e inferiores estão associadas a heterogêneo conjunto de rochas metamórficas, desde mica-quartzo xistos rosas que predominam nas cotas mais rebaixadas até quartzo-mica xistos que mostram-se com mais frequência nas cotas intermediárias (Karmann, Dias Netos e Weber, 1999). Encontram-se nas Serranias inúmeros registros de anomalias e heterogeneidades morfológicas nos segmentos sul e norte. No segmento norte as declividades médias e o arrasamento dos interflúvios é reduzido quando comparado ao segmento sul – no segmento sul chegam a se registrar padrões dentífricos de drenagem enquanto no segmento norte encontra-se unicamente o padrão retangular. Registra-se também maior presença de interflúvios em cotas topográficas intermediárias preservados quando comparado ao segmento sul. Registram-se ainda número significativo de anomalias em vertentes principalmente nas direções Leste-Oeste e Noroeste-Sudeste, sendo as vertentes voltadas para norte com inclinações por vezes até 50 graus superiores as voltadas para sul. Tais heterogeneidades surpreendem numa primeira análise pois diante da distribuição litológica seria justamente o contrário o esperado. Os sienitos ao sul apresentam resistência ao intemperismo mecânico e químico muito maior do que o conjunto de rochas metamórficas ao norte, de forma que favoreceriam um arrasamento maior dos interflúvios no segmento voltado para a Baia de Paranaguá e não no direcionado diretamente ao Oceano Atlântico. Aponta-se assim a influência de outros fatores que estão se sobrepondo a influência litológica, que podem incluir em intensidades diversificadas deformações rúpteis e/ou dúcteis e a exposição diferenciada a aumentos da energia erosiva por ocasião das mudanças de base que acompanharam oscilações marítimas pretéritas. Interessante também notar que embora existam amplos setores com declividades médias elevadas estas são amplamente inferiores as dos conjuntos serranos continentais a pouco mais de uma dezena de quilômetros a norte da Ilha 4686 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO como a Serra do Aleixo Enquanto os contornos dos mencionados alinhamentos serranos são profundamente salientes e dissecados – com predomínio de inclinações acima de 50 graus em suas vertentes - as escarpas da Ilha apresentamse comparativamente relativamente suavizadas, tendo apenas 10% de suas extensões com inclinações superiores a 30 graus. Simultaneamente suas cotas altimétricas mais elevadas são relativamente próximas do registrado nas serranias continentais – os picos altimétricos da Ilha se aproximam dos 800 metros enquanto na Serra do Aleixo chegam a pouco mais de 900 e na de Ipitangui próximo dos 700 metros. A despeito de sua ampla diversidade de formas ela pode ser dividida em 3 compartimentos de relevo: Altos Interflúvios e Vertentes, Média Vertentes e Baixas Vertentes. Os Altos Interflúvios e Vertentes perfazem as cotas altimétricas mais elevadas da Ilha, estando contidos majoritariamente entre 400 e 720 metros. Pautam-se também por elevadas inclinações médias, que superam 40 graus. Registra-se o predomínio de processos erosivos - notadamente o fornecimento de detritos para movimentos de massas em episódios de intensa pluviosidade - estando praticamente ausentes a presença de blocos de rochas. Há que exclusivamente afloramentos de rocha expostas. As Médias Vertentes majoritariamente encontramse contidas nas altimetrias entre 200 e 400 metros, pautando-se por inclinações médias que superam os 30 graus em geral tanto mais intensas quanto maior a altimetria. Caracterizam-se pela atuação tanto de processos erosivos de movimento de massa quanto pela sedimentação decorrente dos mesmos processos, com granulometria média dos blocos de rocha que recobrem os canais e encostas oscilando entre 40 centimétricos e 5 metros sendo elevação dos valores médios controlados também pelo crescimento da altimetria. As Baixas Vertentes encontramse inseridas primordialmente entre as cotas de 20 e 200 metros, dominando inclinações que oscilam entre 10 e 30 graus. Prevalecem nelas os processos de sedimentação associada aos movimentos de massa com granulometria média entre 10 e 30 centímetros dos blocos rochosos que recobrem os canais fluviais. Ao se delimitar as unidades na compartimentação da paisagem procurouse realizar especial ênfase na identificação dos processos morfodinâmicos dominantes em cada uma delas. Tal intuito se fez dentre outros motivos devido a 4687 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO intensa variação espacial que se registra ao longo do tempo das formas de relevo, sobretudo as ligadas a Planícies Costeiras. Pretende-se em etapas posteriores da pesquisa aprofundar a caracterização das unidades de relevo delimitadas através de procedimentos como a análise laboratorial petrográfica, química e granulométrica de amostras de sedimentos, solos e rochas recolhidas. Busca-se também em momento posterior identificar, fotografias aéreas e imagens de satélite, padrões texturais e assinaturas espectrais das unidades de relevo identificadas e caracterizadas,. Tal procedimento tem o fim de permitir por meio de imagens aéreas identificação do padrão de distribuição de unidades de relevo em diferentes períodos. Tal prática é buscada sobretudo por cada unidade de relevo identificada encontra-se relacionada a determinados processos morfodinâmicos predominantes. Espera-se ao fim do processo poder analisar assim não somente a mudança temporal na distribuição das formas de relevo mas também do predomínio dos processos responsáveis pela geração das unidades geomórficas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AB`SABER, A.N. Um conceito de geomorfologia a serviço das pesquisas sobre o quaternário. Geomorfologia, n.18, 1969 ________. Fundamentos da Geomorfologia Costeira do Brasil Atlântico Inter e Subtropical. Revista Brasileira de Geomorfologia n 1, V1. 2000 ALMEIDA, F.F.M. Geologia e Petrografia do Arquipélago de Fernando de Noronha. Monografia XIII da Divisão de Geologia e Mineralogia do Departamento Nacional de Produção Mineral. Rio De Janeiro, 1958. BESNARD, W. 1950. Considerações gerais em torno da região lagunar de Cananéia-Iguape. II. Diversos aspectos atuais da região lagunar. Bol Inst. paul. Oceanogr., 1(2):3-28. KARMANN, CARACTERIZAÇÃO I, MARINS, C, LITOLÓGICA E NETO, D, WERNER, ESTRUTURAL W DAS (1999). ROCHAS METASSEDIMENTARES DO CONJUNTO INSULAR CARDOSO, SUL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Revista Brasileira de Geociências. V 29, N.2. P 157-162. PETRI, S. ; SUGUIO, K (1971). . Exemplo de trabalho do mar no litoral sul do Brasil. Notícias Geomorfológicas, Campinas, SP, v. 11, p. 61-66. 4688 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Ross, J. S.Registro cartográfico dos fatos geomorfológicos e a questão da taxonomia do relevo. Rev. Geografia. São Paulo, IG-USP, 1992 WEBER, W; BEASELL, M, SIGA, O; KEI, S (2001) . O magmatismo alcalino Neoproterozóico na Ilha do Cardoso, Sudeste do Estado de São Paulo. 4689