14 - Universidade de Évora

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POTENCIAL ECONÓMICO DAS JAZIDAS DE ROCHAS ORNAMENTAIS
NA ZONA DE OSSA - MORENA
Lopes, J. Luís. G. 1 & Gonçalves, F.1
1
Departamento de Geociências da Universidade de Évora, Colégio Luís António Verney, Apartado 94 - 7001 EVORA CODEX, Portugal. email: [email protected]
ABSTRACT
Portugal is now one of the world most important country when regarding the production of ornamental rocks. This short review of the
ornamental rocks mining at Alentejo portuguese country shows up that the great economical values of these rocks are still unknown.
Nevertheless, all the Alentejo production in ornamental rocks is originated in the Ossa-Morena Zone tectonostratigraphic terrain. It
makes more than 90% of the portuguese production in ornamental stones, including marbles, slates and granites.
These facts show the need of deeper studies that can provide a more correct evaluation of the real potentialities, this work is already
being done at the Geosciences Department of Évora University.
RESUMO
No panorama internacional das rochas ornamentais, Portugal ocupa um lugar cimeiro. Na última década esta posição foi reforçada pela
iniciativa empresarial. Efectivamente, na Comunidade Económica Europeia, produz-se 45,7% das rochas ornamentais do mundo, onde
Portugal ocupa o quinto lugar em termos de produção com 7,3% da produção da CEE, o que considerando, por um lado, a dimensão
do País e, por outro que 42,1% desta produção provem de Itália, constituí percentagem proporcional significativa no contexto mundial.
Por outro lado, em Portugal, cerca de 90% da produção nacional de rochas ornamentais é extraída no Alentejo, mais precisamente na
Zona de Ossa-Morena. Do que atrás ficou exposto podemo-nos aperceber da importância desta zona tectonoestratigráfica como produtora de rochas ornamentais. No entanto o alto valor económico das rochas ornamentais permanece, em grande parte, ainda desconhecido. Neste trabalho faremos uma síntese dos principais núcleos de rochas ornamentais que se encontram em exploração ou que têm
potencialidades para vir a ser explorados para tal fim.
INTRODUÇÃO
Pedra natural - Um produto único em cada obra.
Esta ideia opõe-se à uniformização de padrões e texturas dos produtos sintéticos,
concorrentes nas aplicações com as pedras naturais. Vender a “pedra” como produto único e irreprodutível deve ser um argumento de força para a valorizar em relação aos produtos sintéticos onde a identidade de uma aplicação final não existe.
A exploração de rochas ornamentais constitui hoje, no vasto campo dos recursos
naturais, uma das mais importantes actividades económicas do nosso país. Em particular
no Alentejo, devido às condições geológicas favoráveis e à actual escassez de alternativas, esta indústria pode mesmo considerar-se fundamental num qualquer modelo de
desenvolvimento económico regional (Lopes & Lopes, 1996). Embora o peso das rochas
ornamentais no PIB não seja muito significativo, acontece que nos maiores centros de
exploração (e.g. Estremoz - Borba - Vila Viçosa, Alpalhão, Trigaches) e transformação
(e.g. Pêro Pinheiro, Vila Viçosa) constituem o principal dinamizador económico e agente
empregador.
O papel e importância da indústria de rochas ornamentais portuguesa no contexto
mundial pode ser avaliado pela análise do Quadro I:
Quadro 1 - Produção nacional de rochas ornamentais na Comunidade Económica Europeia , em 1995 e incidência de
acordo com a área e o número de habitantes.
Produção
Produção / área
Produção / habitante
País
000 tons
%
000 Km2
tons. Km2
Hab. mill
kg / hab.
Itália
7.500
42.1
301
24.9
57.40
130.7
Espanha
3.500
19.7
501
7.0
37.40
93.6
Grécia
2.050
11.5
132
15.5
10.15
202.0
França
1.500
8.4
544
2.8
56.60
26.5
Portugal
1.300
7.3
92
14.1
10.25
126.8
Alemanha
600
3.4
357
1.7
79.48
7.5
Bélgica
400
2.2
31
12.9
9.95
40.2
Finlândia
430
2.4
338
1.3
4.98
86.3
Suécia
280
1.6
450
0.6
8.55
32.7
Irlanda
150
0.8
69
2.2
3.50
42.8
Outros
100
0.6
332
0.3
75.90
1.3
Total CEE
17.810
100
3.147
5.7
354.16
50.3
% Mundial
45.7
-
2.3
-
6.3
-
Fonte: http://www.marbleintheworld.com/
Deste quadro resulta que a nível europeu Portugal ocupe o 5º lugar em termos de
produção e o 3º em relação às produções por área e por habitante. A nível mundial situase em 10º lugar a nível de produção mantendo o 3º lugar nos restantes parâmetros. Para
além dos países da CEE com maior produção que Portugal, e constantes do Quadro I, os
outros são: China (5.000.000 tons), Brasil (1.700.000 tons), Índia (1.800.000 tons), Coreia
do Sul (1.400.000 tons) e Estados Unidos da América (1.400.000 tons).
Estes recursos geológicos têm sido explorados desde a mais remota antiguidade
(e.g.: monumentos megalíticos, edificações romanas, etc.). Nesta região com área total de
26091 Km2, 12% dela é ocupada por rochas graníticas, 3% por rochas dioríticas e gabros
e 2% por rochas carbonatadas (Gonçalves & Lopes, 1993).
A exploração de rochas ornamentais depende em primeiro lugar da geologia das
jazidas, mais ou menos propícias e depois da competência, audácia e diligência dos
industriais e ainda, em larga medida, do comportamento do mercado (principalmente do
mercado externo uma vez que cerca de 56% de toda a exploração nacional se destina a
exportação).
Existem explorações de rochas ornamentais um pouco por todo o País mas é no
Nordeste alentejano que se concentram os mais importantes centros de exploração tanto
2
de rochas carbonatadas (mármores do anticlinal de Estremoz) como de granitos (Alpalhão, Monforte - Santa Eulália) (Fig. 1).
Fig. 1 - Localização dos principais centros de exploração de rochas ornamentais. Adaptado de Martins (1991)
Neste trabalho damos uma retrospectiva do estado actual da indústria extractiva de
rochas ornamentais no Alentejo, indicando onde e quais os tipos petrográficos explorados.
Por outro lado, fazemos referência a algumas rochas que não sendo actualmente exploradas, apresentam características que poderão viabilizar o seu aproveitamento para tal
fim. A título de curiosidade refira-se que no primeiro semestre de 1996, no Brasil foram
descobertas e iniciou-se a exploração de vinte novas pedras naturais, únicas pelas suas
cores e texturas.
As rochas exploradas nos diferentes núcleos extractivos podem ser separados
segundo vários critérios (idade, afinidades petrográficas, localização geográfica, interesse
económico relativo, etc.). Consideramos, pois, em primeiro lugar, uma divisão petrográfica
e em segundo a localização geográfica, enumerando de norte para sul cada tipo petrográfico considerado.
Em cada um dos referidos núcleos extractivos apresentamos o seu enquadramento
geológico, localização das explorações, aspectos gerais mais relevantes das explorações,
análise petrográfica mesoscópica da rocha explorada e perspectivas das explorações no
contexto nacional e internacional da indústria extractiva de rochas ornamentais.
3
1. ROCHAS SILICIOSAS (GRANITOS E AFINS)
As rochas graníticas apresentam uma extensão aflorante de cerca de 3 118 Km2.
Ocorrem em maciços batolíticos dispersos em vários sub-domínios da Zona de OssaMorena (Oliveira et al., 1991). Esta designação engloba rochas com composição diversa,
desde granitos alcalinos a calco-alcalinos, incluindo granodioritos, de textura porfiróide e
não porfiróide, com idades e graus de deformação diversos.
Estas rochas encontram-se intimamente relacionadas com a evolução geodinâmica
da Zona de Ossa-Morena. A existência de rochas provenientes de materiais fundidos
implica necessariamente um percurso de pressão e temperatura ao longo do tempo para
estes materiais. Os processos de génese, ascensão, diferenciação, instalação e arrefecimento de materiais fundidos (magmas) apenas se tornam possíveis na crusta terrestre se
a eles for inerente um dinamismo ao nível das placas litosféricas. Assim sendo, a existência de tipos petrográficos ígneos tão distintos como os que se encontram na Zona de
Ossa-Morena são o primeiro indicador de uma evolução geodinâmica com períodos de
confrontação entre placas litosféricas, onde se dará o espessamento crustal com consequente fusão parcial e génese de magmas e outros períodos de distensão com adelgaçamento crustal, desenvolvimento de bacias sedimentares e ascensão por levantamento
isostático das raízes montanhosas anteriormente formadas. Contudo não é nosso objectivo descrever a evolução geodinâmica da Zona de Ossa-Morena, apenas queremos
chamar a atenção para a interligação entre as litologias observadas e os factores geológicos, físicos, químicos e mecânicos inerentes sua génese.
1.1. Ortognaisses graníticos ante-variscos
Englobamos neste grupo todas as rochas graníticas ortoderivadas que foram, pelo
menos, afectadas por uma fase de deformação da orogenia varisca. Na maior parte estes
materiais apresentam-se muito deformados, fracturados e alterados o que inviabiliza o
seu aproveitamento para fins ornamentais. No entanto existem alguns afloramentos susceptíveis de análise mais pormenorizada, onde ainda não foi efectuado qualquer estudo
neste sentido.
Nos domínios mais setentrionais da Zona de Ossa-Morena afloram os denominados
"granitos tectonizados de Portalegre", granitos ante-hercínicos (466 ± 10 M.a.) provavelmente relacionados com a Orogenia cadomiana. São rochas gnáissicas derivadas de granitos alcalinos, porfiróides de grão grosseiro, grosseiro a médio ou de grão fino, e não porfiróides de grão grosseiro a médio e fino, situadas na faixa blastomilonítica. Neste conjunto consideramos a existência de vários maciços com estrutura e idade diferentes dos
quais salientamos o maciço de Portalegre. Este está instalado entre terrenos do Ordovícico inferior contactando também a ocidente e sudeste com terrenos proterozóicos da Formação de Urra. Na periferia do maciço observam-se granitos porfiróides de grão médio a
grosseiro com predomínio deste e no núcleo granitos com textura não porfiróide de grão
médio (Gonçalves & Lopes, 1993).
As explorações de pedra ornamental localizam-se na zona central dos afloramentos,
da região de Alagoa, onde o granito tectonizado não apresenta já deformação tão intensa
como a que se observa junto do cavalgamento de Portalegre. Existem duas cortas com
laboração suspensa. A rocha explorada tem a designação comercial de "Jané", apresenta
textura cataclástica, com aspecto orientado e desenvolvimento de planos “C” e “S” bem
marcado e evidenciando componente cisalhante sinistrógira. As biotites dispõem-se ao
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longo destes planos “C” e “S” e não se apresentam espelhadas devido á recristalização
da rocha após a destruição dos cristais (Est. III - Fig. 1). Neste ortognaisse os minerais
essenciais são: quartzo, microclina - pertite, micropertite, microclina e albite.
A rocha recristalizada permite tirar bloco e obter superfície polida onde está bem
patente a deformação que sofreram os seus minerais constituintes. Na pedreira que se
situa junto de Alagoa parte dos feldspatos apresentam coloração esverdeada cuja origem
poderá estar relacionada com a recristalização pós - metamorfica. O mesmo não é tão
evidente na pedreira do Monte da Chaínça. Esta diferença de cor nos feldspatos valoriza
a rocha do ponto de vista ornamental. A fracturação predominante neste granito situa-se
nas direcções N40E-S40W e E-W, ambas muito inclinadas (cerca de 80° para norte e
para sul). O espaçamento permite tirar bloco de grande dimensão (3.0 x 1.5 x 1.8 m)
(Gonçalves & Lopes, 1993).
Outro afloramento que mereceu a atenção dos industriais foi o ortognaisse granítico
de Viana do Alentejo, que contacta a ocidente com o Complexo de Beja e a oriente com
as corneanas calcossilicatadas que constituem os mármores de Viana do Alentejo. Tratase de um gnaisse bandado, de grão médio, e cor castanha acinzentada. Os leitos de
quartzo dificultam o tratamento como rocha ornamental. A fracturarão concentra-se em
famílias de direcção N80°W-S80°E, N30°W-S30°E e N35°E-S35°W, que apresentam
espaçamento métrico permitindo facilmente a obtenção de bloco. No entanto a concentração de quartzo em bandas paralelas à orientação gnáissica, levanta problemas técnicos
que dificultam a transformação deste tipo litológico de inegável interesse ornamental. É,
ainda, interessante notar, por um lado, a escassa alteração do afloramento explorado
quando comparado com os mais próximos e por outro a variedade petrográfica entre
estes afloramentos; chegam a existir rochas que podemos considerar hololeucocratas.
Exploração mais recente, em gnaisses migmatíticos, situa-se a 500 m a Sul do Monte de Rosada, perto da estrada nacional 114, de Montemor-o-Novo para Évora. Ao contrário das rochas anteriormente referidas, estas são consideradas paraderivadas. Trata-se
de caso único, onde este tipo de rocha permite a obtenção de blocos para fins ornamentais. Assinale-se que estes gnaisses têm vários quilómetros de extensão aflorante (em
duas bandas de direcção NW-SE) entre Montemor-o-Novo e Évora (Valverde), onde
poderão ocorrer outros locais propícios à instalação de pedreiras; este estudo está por
realizar. Texturalmente e petrograficamente estas rochas, originadas em frentes de migmatização da orogenia varisca tendo sido depois exumadas até à superfície, são muito
variáveis, contudo, delas é possível obter efeitos ornamentais muito interessantes.
1.2. Rochas siliciosas tardí / pós-variscas. Granitos.
Como resultado da orogenia varisca surgem maciços graníticos variscos (hercínicos)
e tardi-hercínicos, em geral sem deformação ou com deformação incipiente. Estes têm
sido explorados com frequência e o seu interesse económico é por demais reconhecido.
Assim, de norte para sul encontramos vários maciços que passamos a descrever.
No limite setentrional da Zona de Ossa-Morena encontra-se o extenso afloramento
granítico situado entre Sto. António das Areias e Tolosa e entre Arez e Aldeia da Mata a
sul. A ocidente é coberto pelos depósitos cenozóicos da Bacia do Tejo e, para leste aflora
em grande extensão no território de Espanha onde toma a designação de batólito de Los
Pedroches. O limite norte faz-se com o Supergrupo Dúrico-beirão (Complexo Xistograváquico) e a sul limita o afloramento de granitos tectonizados atrás referidos, e a nor5
deste destes, contacta com terrenos do Paleozóico inferior. A sudoeste intersecta os terrenos do Proterozóico, cortando claramente a deformação varisca que os atingiu. Esta
intersecção é clara em Portugal mas em Espanha este batólito já chegou a ser considerado como o limite entre as zonas de Ossa-Morena e Centro-Ibérica, uma vez que a sua
orientação se torna paralela às estruturas hercínicas.
Este maciço apresenta uma estrutura zonada onde afloram em grande extensão
granitos calco-alcalinos, porfiróides em geral de grão grosseiro. Estas rochas não foram
ainda objecto de exploração como pedra ornamental devido à intensa alteração superficial. No entanto na zona média do afloramento há granitos, equigranulares, sobretudo de
grão fino, que estão a ser explorados com aquela finalidade. Trata-se do denominado
granito de Alpalhão (comerciável sob o nome "SPI", Est. III - Fig. 2). Esta rocha é muito
homogénea, ainda assim verificam-se alguns gradientes composicionais, como sejam um
acréscimo local de biotite, quase sempre em moscas, o que acontecia em pedreiras
recentemente abandonadas situadas na estrada que liga Alpalhão a Arez.
A rocha granítica, explorada a norte de Alpalhão, aflora numa extensão de 25 Km e
a sua largura varia entre 0.5 e 2 Km. É na região de Alpalhão, onde o afloramento tem
maior largura, que se situam as explorações mais importantes. O espaçamento entre diaclases de cada família é de tal ordem que permite obter blocos de maior dimensão, aliás
aquela que as máquinas de corte e polimento permitem; chegou-se mesmo numa obra
específica, a retirar da pedreira da empresa Granitos de Maceira um bloco com 15 m de
comprimento (Est. I - Fig. 1).
Claramente discordante das estruturas hercínicas o maciço ígneo de Santa Eulália Monforte tem sensivelmente a mesma idade de granito de Alpalhão. Apresenta uma estrutura concêntrica que limita granitos de cor e aspectos texturais variados (Oliveira, 1975),
alguns dos quais são objecto de exploração. Os granitos do Maciço ígneo de Santa Eulália são calco-alcalinos, com texturas que vão de granito equigranular de grão fino a médio
a granito porfiróide com granularidade fina e média. No anel mais externo o feldspato dos
granitos tem cor rósea com tonalidade variável ao longo do afloramento e mesmo a nível
da pedreira tornando, às vezes, difícil a obtenção de bloco homogéneo de dimensões
aceitáveis para utilização como pedra ornamental. A rocha granítica é comercializada com
nomes diferentes de acordo com a coloração do feldspato ("Forte rosa", “Rosa Sta Eulália”
,”Rosa Arronches" (Est. IV - Fig. 1), "Rosa Monforte", “Rosa Chacins” (Est. IV - Fig. 3),
“Rosa Coral”, etc.). Tratando-se de um granito tardí orogénico é interessante notar que os
encraves existentes neste anel mais externo, do maciço tem a orientação das estruturas
hercínicas envolventes. Estudo a decorrer pelo Departamento de Geociências da Universidade de Évora, no anel externo de granitos cor de rosa deste maciço (Lopes & Lopes,
1996), demonstrou, até agora, que as áreas mais interessantes e sem necessidade de
estudo do subsolo para que se possa instalar uma pedreira, já estão ocupadas para tal
fim, com a excepção de um local, nas proximidade do v.g. Carreira, muito promissor onde
se fez estudo em profundidade e se confirmaram os bons indícios identificados à superfície. Dois outros locais estão a ser alvo de estudo em profundidade. Ao contrário do
usualmente aceite, demonstrou-se a existência de gradientes colorimétricos a pequena
escala a tal modo que mesmo em zonas pouco fracturadas inviabilizam a obtenção de
blocos homogéneos. Por exemplo, numa sondagem com 56 m identificaram-se sete tipos
colorimétricos intercalados. Importante, ainda, foi constatar-se a variação da orientação
nas famílias de diaclases e fracturas em profundidade, assim como o espaçamento irregular entre diaclases subhorizontais, com zonas de concentração.
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Nos anéis internos os feldspatos são brancos. A passagem do granito róseo ao granito cinzento porfiróide é gradual. Da referida coloração, resultam belos efeitos ornamentais observáveis nalgumas pedreiras (Lopes & Gonçalves, 1992).
Os anéis em exploração são: o exterior, na região de Monforte, granito róseo que
envolve granito porfiróide de grão médio; este, por sua vez, rodeia granito equigranular de
grão médio. Quaisquer destes granitos têm pedreiras para extracção de bloco.
O granito de Santa Eulália, porfiróide de grão médio a fino, com predominância do
médio, contêm biotite com inclusões microscópicas de pirite que se altera em ambiente
oxidante. Esta alteração é mais evidente ao longo das fracturas, Registe-se porém que
mesmo onde as fracturas estão mais concentradas o espaçamento é ainda assim considerável (60 cm a 2.0 m); no entanto, o desbaste da zona alterada não permite a obtenção
de bloco com interesse económico.
O anel de granito cinzento não porfiróide, de grão médio a fino (Est. IV - Fig. 2)
assemelha-se ao granito de Alpalhão ("SPI") sendo, no entanto, mais grosseiro.
Sintetizando, no maciço ígneo de Santa Eulália - Monforte, existem cerca de 20
pedreiras de granitos pertencentes a 18 empresas onde se exploram as seguintes rochas:
- Granitos róseos equigranulares de médio a grosseiros, de várias tonalidades
- Granitos cinzentos de grão médio a fino com tendência porfiróide
- Granitos cinzentos de grão médio a fino não porfiróide.
A três quilómetros do Vimieiro, na estrada para Pavia, e próximo de Bardeiras, a
noroeste do Vimieiro, localizam-se as pedreiras das empresas GRANITAL e AMIA (Est. I Fig. 2), respectivamente. Exploram um granito calco-alcalino, em geral cinzento, de textura porfiróide e de grão médio, de duas micas com predomínio da biotite. A alteração
superficial muito desenvolvida a partir das diaclases para o interior da rocha, neste maciço
ígneo, é o principal obstáculo à obtenção de bloco. Para além das explorações referidas,
existem outras que se encontram inactivas devido a restrições de mercado e à deficiente
planificação do plano de lavra que poderia torná-las economicamente viáveis. Como contraponto a esta situação podemos indicar a pedreira da empresa AMIA, cujo desenvolvimento acompanhamos, praticamente desde o seu início, e onde um plano de lavra bem
dimensionado e adequado às condições geológicas e geomorfológicas, levado a cabo
desde que se iniciou a extracção de blocos, permite alto rendimento a custos mínimos.
O granito de Sabugueiro, também explorado no passado pela empresa GRANITAL,
situa-se na parte média do maciço ígneo de Vimieiro - Pavia. Aqui apresenta textura porfiróide de grão mais grosseiro. Particularmente interessante é a presença de feldspatos
zonados, de coloração avermelhada nos bordos e branca no núcleo, que valoriza a rocha
como pedra ornamental. Esta coloração parece estar relacionada com a presença de
filões hidrotermais pouco inclinados, visíveis na pedreira e condicionantes da extracção
em associação com o campo de tensões local, que originou os espaços onde os filões se
instalaram e que induz importante fracturação com duas famílias de diaclases principais
(N40°W-S40°E e N80°W-S80°E) que dificultam qualquer plano de lavra.
Existem ainda outros afloramentos de rochas granitóides no Alentejo que têm sido
alvo de exploração sistemática para fins de construção mas cujo o valor como pedra
ornamental permanece desconhecido; por exemplo o granodiorito do Redondo, o granito
de Évora, o granito de Pias, etc. Contudo, daqui não se pode concluir que estas rochas
graníticas não possam ser objecto de exploração no futuro, quando estejam devidamente
7
reconhecidas. Como exemplo podemos apontar o caso dos granitos tectonizados e gnaisses migmatíticos, donde à partida não seria de esperar obter rocha ornamental.
1.3. Quartzodioritos e Granodioritos.
Os quartzodioritos são também considerados tardí-orogénicos, apresentam, contudo, alguma orientação que, na maior parte dos casos, é posta em evidência pelo alinhamento de encraves que contêm. Apresentam textura fanerítica média a grosseira e são
mesocráticos a leucomesocráticos; contêm horneblenda verde e biotite. Merece referência
particular o provável quartzodioríto da Vendinha, explorado pela empresa GRANITOS DE
MACEIRA, situado próximo de Reguengos na mancha granodiorítica de Fonte Furada.
Trata-se de rocha equigranular de grão médio, com quartzo, plagioclase, anfibola (horneblenda), biotite e feldspato potássico, como acessórios apresenta apatite, esfena, zircão e
minerais opacos. O quartzo apresenta-se deformado e com tonalidade levemente azulada, donde provem o seu nome comercial ("Azulália") daí a originalidade da rocha com
belo efeito ornamental. Pelo seu grau de alterabilidade, quando posta em contacto com os
agentes meteóricos, recomenda-se a sua utilização em revestimentos interiores. Aliás
esta alteração evidência a deformação da rocha pelo alinhamento dos minerais ferromagnesiamos mais facilmente alteráveis; esta orientação poderá ser justificada pela idade da
rocha, entre 328 ± 28 M.a. a 307 ± 9 M.a., determinada para a biotite por F. Mendes em
1967-68, in: Carvalhosa & Zbyszewski (1991), ainda sob a influência da orogenia varisca.
As diaclases mais importantes têm direcção: N-S, N50°E-S50°W e N50°W-S50°W. O
espaçamento nestas famílias chega a permitir a obtenção de blocos de grandes dimensões (3.20x1.60x1.10 m), contudo explorado que foi um núcleo de menor densidade de
fracturas, a exploração enfrenta alguns problemas de continuidade devido à intensa fracturação.
Na grande mancha de rochas granodioríticas-quartzodioríticas do Redondo, explorase no Monte do Hospital um granodiorito provável, trata-se duma rocha mesocrata com
inúmeros encraves de reduzidas dimensões alinhados segundo a orientação hercínica
regional. Pode-se afirmar que esta rocha é claramente mais antiga do que o granito de
Pavia que a corta. Tal facto explica porque é que esta rocha ígnea apresenta textura anisótropa. A tonalidade levemente azulada que sobressai da rocha poderá dever-se a
deformação cristalina do quartzo seu constituinte, no entanto tal hipótese não foi investigada. Estando a exploração em fase de arranque, torna-se difícil perceber se a, aparente,
pequena densidade de fracturas está ou não confinada à área em exploração. A título de
curiosidade registe-se o facto de todos os caos de blocos circundantes serem constituídos
por elementos de pequena dimensão, o que faria antever uma densidade de fracturas
relativamente elevada.
Próximo do Pólo da Mitra da Universidade de Évora, a empresa GRANIALPA explora o Granito branco de Évora (Est. III - Fig. 3). Trata-se de um quartzodiorito leucocrata
de grão médio em geral não porfiróide mas, localmente com tendência porfiróide. Mineralogicamente é uma rocha com quartzo que se caracteriza pela maior percentagem de
microclina estando a ortoclase quase ausente, o mineral máfico presente por excelência é
a horneblenda embora também ocorra biotite, a plagioclase presente é a oligoclase. A
zona em exploração é petrograficamente homogénea e pouco fracturada permitindo obter
blocos com 2.80 X 1.80 X 1.50 m. Numa análise superficial esta área está circunscrita à
exploração e nas imediações começam a aparecer alguns encraves máficos e muitos
filões e filonetes microfaneríticos félsicos.
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No Monte das Pedras, entre Vila Nova da Baronia e Viana do Alentejo, a empresa
MARLENA explora uma rocha mesocrática quartzodiorítica equigranular de grão médio
com biotite abundante (Est. III - Fig. 4). A presença de biotite em percentagem tão elevada (±30%) condiciona a sua utilização, limitando-a a aplicações interiores, uma vez que
em contacto com os agentes atmosféricos se meteoriza rapidamente provocando o aparecimento de manchas castanhas nas superfícies expostas. Aparece associada a diorítos
e gabros pertencentes ao extenso Complexo de Beja, do qual poderemos considerar tratar-se dum diferenciado mais félsico com distribuição espacial limitada. A pedreira em
lavra teve entre 1993 e 1996 um período de inactividade mas devido a alterações no mercado a rocha passou a ser procurada pelo que a empresa decidiu reabrir a exploração,
embora só o tenha feito com três operários. A existência de duas famílias de diaclases
mais importantes de direcção N50E-S50W e N20W-S50E, embora seja um grande obstáculo à obtenção de blocos de dimensão aceitável, não inviabiliza de todo a actividade
extractiva.
1.4. Dioritos e Gabros
No mercado das rochas ornamentais estes tipos litológicos são os mais valorizados.
A importação portuguesa de rochas ornamentais é essencialmente constituída por estas
variedades, escassas no nosso País. Actualmente, no Alentejo, apenas se produz rochas
dioríticas na pedreira da empresa GRANITAL, no maciço ígneo de Santa Eulália - Monforte. Existem outros locais susceptíveis de dar rocha ornamental, alguns dos quais foram
explorados no passado.
Estas rochas afloram numa extensão de 771 Km2, em contextos geológicos diversos. Por exemplo, na estrutura concêntrica de Santa Eulália aparecem em anel descontínuo exterior ao granitos róseo, no granodiorito do Redondo constituem pequenos afloramentos associados a esta rocha, por fim, fazem parte das rochas constituintes do Complexo de Beja onde têm maior expressão (Gonçalves & Lopes, 1993).
Os diorítos de Santa Eulália, foram explorados nos anos oitenta como pedra ornamental nos afloramentos da Sra. do Rosário e de Furadas. Estas jazidas foram abandonadas em virtude dos inúmeros fenómenos de hibridismo que atinge todos os afloramentos do maciço. Já com alguns anos de exploração e em fase de ampliação, explora-se no
limite oriental do maciço, a variedade designada por “Favaco” (Est. IV - Fig. 4). A intensa
fracturação e, localmente, os fenómenos de hibridismo, contribuem para o índice de aproveitamento entre 2 e 3%; estas cifras só são sustentáveis devido à valorização do produto
no mercado e a planos de lavra bem dimensionados.
Os diorítos do Redondo explorados até 1993, no Monte Branco, apresentam problemas similares aos referidos anteriormente. Esta rocha muito interessante esteticamente
apresenta tonalidades cinzento escura a esverdeada e granularidade média a grosseira.
A ocorrência de frequentes veios pegmatíticos e a falta de uniformidade na distribuição
granulométrica penalizam fortemente a rocha para fins ornamentais, o que levou à paralisação das explorações (Carvalhosa et al., 1987).
No Complexo de Beja foram em tempos explorados gabros para a obtenção de bloco. Destes sobressai o gabro anortosítico de Ferreira do Alentejo que pela composição
mineralógica produz efeitos, em superfície polida, de rara beleza. Actualmente é explorado para brita (empresa A. Cachão, situada na estrada nacional de Ferreira do Alentejo
para Beja) não se conhecendo afloramentos de onde se possa extrair blocos. Próximo de
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Odivelas obtiveram-se em tempos idos, blocos de dimensões médias de um gabro quase
negro que hoje não teria qualquer dificuldade em ser colocado no mercado a preços elevados. Este seria um bom local para iniciar um trabalho de pesquisa sobre estas rochas
de reconhecido valor ornamental.
1.5. Brecha Riolítica.
A empresa GRANITOS DE MACEIRA explora estas rochas que fazem parte do
Complexo de Beja e afloram em retalhos dispersos no meio dos riólitos, junto da estrada
Alcaçovas - Torrão. É uma brecha de natureza riolítica de cimento avermelhado e elementos esverdeados, comercializada com o nome de "Robrato" (Est. II - Fig. 3). Trata-se de
vulcanito heterogéneo onde nem sempre cimento e elementos se encontram bem individualizados; quando isto sucede a rocha é destituída de interesse. A fracturação, devido ás
características mecânicas da rocha (muito competente) apresenta várias famílias de diaclases de direcções definidas: E-W, N65°E-S65°W, N60°W-S60°E, N30°W-S30°E e
N25°E-S25°W. As fracturas dispõem-se em leque tanto horizontal como verticalmente;
ainda assim, permitem extrair blocos de dimensões aceitáveis (até 1.20x1.50x3.00 m,
embora blocos destas dimensões sejam raros). O Robrato depois de polido possui belos
efeitos ornamentais, tem contudo um obstáculo que é a ferruginização da especularite ás
vezes abundante nas diaclases e dispersa na rocha. Outras limitações são a exiguidade
da exploração e o pequeno tamanho dos blocos explorados (Gonçalves & Lopes, 1993).
2. MÁRMORES, CALCÁRIOS CRISTALINOS E CORNEANAS CALCOSSILICATADAS.
As rochas carbonatadas hercínicas contribuem com mais de 60% da totalidade da
produção de rochas ornamentais portuguesas, contribuindo o anticlinal de Estremoz com
mais de 95% desta percentagem. Estas rochas, com larga implantação no mercado
nacional e internacional, ocupam uma área pequena do território alentejano (cerca de 456
Km2) e são largamente exploradas pelas qualidades estéticas e facilidade de extracção e
transformação.
No anticlinal de Estremoz encontram-se em laboração cerca de 250 pedreiras, o que
constituí mais de metade das 464 explorações de rochas ornamentais em Portugal. Esta
formação geológica contribuí com 60% da quantidade e 80% em valor dos materiais
explorados para fins ornamentais.
À estrutura anticlinal corresponde um núcleo do Proterozóico superior, constituído
por xistos negros, metachertes e liditos sobre o qual assenta em discordância a Formação
Dolomítica, constituída por conglomerados, metavulcanitos predominantemente ácidos,
mas também com termos básicos, calcoxistos e dolomitos cristalinos (“pedra cascalva”).
Também em discordância, materializada, na maior parte do anticlinal, por horizonte silicioso mineralizado com sulfuretos (essencialmente pirite) pseudomorfizados em óxidos de
ferro, ocorre o Complexo Vulcano Sedimentar Carbonatado de Estremoz, constituído por
mármores, metavulcanitos predominantemente básicos intrusivos e extrusivos, calcoxistos, metapelitos e xistos pelíticos; a idade mais provável para este complexo será o Ordovício superior (Carvalhosa et al., 1987; Lopes, 1995). Os mármores de Estremoz exploram-se em áreas privilegiadas, sobretudo na região periclinal sudeste, no flanco sudoeste
entre Lagoa e Barro Branco e em Estremoz e no flanco nordeste entre Vila Viçosa e Borba, e não em toda a sua extensão (Lopes 1995). Foi afectado por dois eventos de deformação dúctil não coaxiais de vergências opostas. Efectivamente, a estrutura macroscópica do anticlinal deve-se à segunda fase de deformação. Contudo em vários locais, em
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particular nas zonas de Borba e Lagoa, estruturas de primeira fase podem ser claramente
observadas, assim como o padrão de interferência resultante destas. A primeira fase é
caracterizada pela génese da clivagem xistenta e formação de dobras deitadas vergentes
para oeste - sudoeste que foram retomadas pela segunda fase que produziu dobras de
plano axial subvertical levemente vergentes para nordeste e clivagem de fractura por
vezes com disposição em leque (Est. I - Fig. 3). Igualmente importante no maciço calcário
são as fendas de tracção de segunda fase (NE-SW, variando um pouco ao longo do anticlinal, por exemplo no Barro Branco é N40E-S40W e na Lagoa N65E-S65W). Nas fases
finais do segundo evento de deformação desenvolvem-se corredores de cisalhamento
esquerdos NNW-SSE ligeiramente vergentes para NE. O carácter esquerdo da deformação em regime cisalhante está, de resto, omnipresente em todo o anticlinal o que está de
acordo com o regime de deformação proposto para os domínios setentrionais da Zona de
Ossa-Morena (Lopes et al., 1994). Posteriormente, dá-se a instalação de filões doleríticos
(“cabos reais”) em fendas NE-SW, subverticais. Por fim desenvolve-se a fracturação tardíhercínica que origina, entre outros, desligamentos direitos NNW-SSE e esquerdos NESW, associada ao levantamento isostático por descompressão da cadeia orogénica que
provoca o diaclasamento dos mármores em regime frágil. Este último é o factor mais
importante a considerar quando se considera a viabilidade de uma exploração na faixa
marmórea; efectivamente é usual dizer-se que qualquer mármore é bom desde que não
esteja partido. Cálculos superficiais permitem concluir, que aos ritmos de extracção
actuais, existem reservas para mais 200 anos! O que não deixa de ser impressionante.
Trata-se do afloramento com maior intensidade de exploração no contexto geomineiro do País; explorando diferentes variedades de mármore, desde o rosa salmão ao branco, mais ou menos venados ao mármore cinzento escuro. Verifica-se ainda uma boa correlação entre a ocorrência de finos leitos de rochas piroclásticas e o mármore de tonalidade rósea com vergada verde. Nalguns locais, a variação de coloração é controlada pela
estratificação. Na periferia do maciço calcário, subjacente aos terrenos xistentos do
Paleozóico, explora-se um mármore cinzento escuro conhecido comercialmente por "Ruivina". O limite inferior da faixa marmórea é constituído por calcários cristalinos, calcários
dolomíticos e dolomitos cristalinos, de grão em geral muito fino e sem interesse económico como pedra ornamental. No entanto, como a dolomitização não atingiu todo este afloramento, há janelas de calcário que foram prospectadas e algumas mesmo exploradas
(Gonçalves & Lopes, 1993). Sobre a faixa marmórea há uma dolomitização per descensium que condiciona a jazida, ao longo de diaclases, falhas, e planos de estratificação
(Gonçalves, 1972).
A autenticidade dos mármores de Estremoz para ser comprovada através da análise
das percentagens relativas dos isótopos de carbono e oxigénio (Cabral et al., 1988).
Quando se projectam os valores obtidos num gráfico bidimensional, observa-se que ocupam um campo definido e distinto de outros, por exemplo dos de Carrara.
O maciço calcário de Viana do Alentejo é constituído por corneanas calcossilicatadas, em bandas relacionadas com a litologia original e com o metamorfismo de contacto.
Em conjugação com as fases de dobramento, estas características originam efeitos
ornamentais muito peculiares(Est. I - Fig. 4). Apesar de requerer cuidados específicos na
sua transformação, os mármores verdes de Viana são muito valorizados comercialmente,
sendo o seu preço próximo do dos gabros importados. No entanto outras variedades aqui
extraídas, como o branco e várias tonalidades de azul, também se colocam com facilidade
no mercado. Em 1960 Martins da Silva (in: Carvalhosa, 1972) efectuou uma avaliação de
reservas que apontava para 250 milhões de toneladas.
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Ao contrário do que sucede em Estremoz, aqui as duas fases de deformação não
estão sobrepostas observando-se dobras de ambas as fases e padrões de interferência.
As rochas ornamentais exploradas em S. Brissos - Trigaches são corneanas cálcicas, com textura granoblástica, de grão médio a grosseiro às vezes muito grosseiro e de
cor variável na gama dos cinzentos e azuis (Est. II - Fig. 4). O afloramento embora de
pequenas dimensões tem ainda grandes potencialidades. Uma particularidade destas
rochas é o característico cheiro fétido que emanam quando percutidas.
Os calcários cristalinos de Ficalho apresentam também estrutura anticlinal, com
enquadramento geológico semelhante ao de Estremoz, isto é, um núcleo onde afloram
terrenos do Proterozóico superior, aos quais se sobrepõem terrenos atribuídos ao Câmbrico inferior representados por calcários cristalinos muito xistificados, na maior parte
dolomitizados, dolomitização provavelmente epigénica e penecontemporânea da sedimentação, aos quais sucedem calcários cristalinos que no flanco sudoeste são explorados
como pedra ornamental. Tal como em Estremoz, é a fracturação que vai condicionar a
obtenção de bloco com dimensões aceitáveis, por isso, para optimizar a exploração o bloco é talhado in situ. Convêm anotar que o mármore de Ficalho, explorado pela empresa
MONUMAR (Est. II - Fig. 2), embora tenha bons efeitos ornamentais , é de grão mais fino
que o de Estremoz, por tal facto, a resistência ao choque é menor e a superfície da rocha
em fractura fresca tem forma concoidal. Tal como em Viana do Alentejo, observam-se
bem duas fases de deformação hercínica dúctil, cujas orientações sofrem variação devido
à proximidade do contacto com a Zona Sul-Portuguesa, que se estabelece pelo cavalgamento de Ferreira-Ficalho, sinistrógiro e cavalgante para sul.
O afloramento calcário cristalino com textura granoblástica média a grosseira de
Serpa (Monte D. Brites) com orientação N-S apresenta-se muito deformado. Nele, a
empresa SINTRA FILHOS explora um mármore verde conhecido no mercado por "Verde
Atlântico". Nesta pedreira ocorre ainda uma variedade de mármore bandado multicolor em
que as bandas vermelhas, verdes, cremes, brancas e azuis têm entre um e três centímetros cada. Esta variedade, contudo, está confinada a uma zona muito restrita da pedreira
donde as reservas são muito pequenas. Trata-se de uma ocorrência de reduzidas dimensões, limitado a Sul por acidente que coloca os mármores em contacto com rochas
gabróicas do Complexa de Beja.
Junto a Vera Cruz, próximo de Portel, explorou-se o “calcário azulado de Vera Cruz”
com desmonte em grandes blocos, no entanto estas explorações há muito que se encontram abandonadas. Situação semelhante ocorre no Escoural onde as reservas marmóreas se encontram esgotadas.
3. XISTOS
Apesar de constituírem a mais extensa área aflorante no Alentejo, as rochas xistentas não tem sido, sistematicamente, alvo de exploração para fins ornamentais. Tal facto
deve-se, por um lado, à não coaxialidade das fases de deformação que afectaram a
região, e por outro, à intensa fracturação causada pelos estádios finais da deformação
que afectou a região, com comportamento frágil.
Existem contudo algumas excepções que passamos a analisar.
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Na pedreira da empresa “SOXISTO” em Mourão exploram-se xistos cinzentos
esverdeados com textura lepido-porfiroblástica e interesse ornamental relativo, dada a
exiguidade da exploração (Est. II - Fig. 1). Estes xistos argilosos finos, por vezes arcósicos e quartzosos têm idade provável ordovícica, por correlação com os de Barrancos,
uma vez que são paleontologicamente estéreis. Apesar de as placas extraídas não serem
de grandes dimensões, a sua transformação em produtos de revestimento (azulejos e
mosaicos), efectuada praticamente sobre a exploração, viabiliza o seu aproveitamento
económico.
Rocha com características muito similares à explorada em Mourão, extraí-se de forma descontinua na Herdade dos Pássaros. Esta rocha ornamental caracteriza-se por
apresentar tonalidades verdes e avermelhadas mais fortes, além de as superfícies de clivagem por onde a rocha abre apresentarem aspecto mais luzente. O acesso a esta exploração é difícil uma vez que não se encontra próxima de qualquer estrada pavimentada.
Por outro lado, a rocha encontra-se ainda mais fracturada do que a de Mourão; juntos, os
factores referidos, contribuem para o insucesso da exploração.
Na Pedreira do Mestre André, em Barrancos, exploram-se rochas de textura lepidoblástica, de aspecto bandeado, com grão muito fino, os denominados “Xistos com Phyllodocites” de Nery Delgado. Estes correspondem às fácies de transição da Formação de
Barrancos para a Formação da Colorada (esta essencialmente constituída por grauvaques, quartzitos e arenitos) (Perdigão et al. 1982). Apresentam-se normalmente muito bioturbados com grandes superfícies cobertas por pistas orgânicas. Estas são normalmente
meandriformes estando representados os seguintes icnofósseis (Delgado, 1908 e Perdigão 1967 in: Perdigão et al. 1982): Phyllodocites, Crossopodia, Gordia e Nereites e como
pistas verticais Arenicolites e Chondrites (?).
As condições geológicas presentes, com uma fase de deformação, onde se gera a
clivagem xistenta, sendo as outras duas fases identificadas de fraca intensidade e imprimindo apenas ligeira crenulação nos xistos, assim como a longevidade que esta exploração já detêm e os trabalhos de ampliação que se encontram a decorrer e a boa aceitação
no mercado do material explorado, permitem antever um futuro auspicioso para esta
exploração, importante, ainda mais, por se localizar numa região onde o desemprego
atingiu em 1996 valores alarmantes.
CONCLUSÕES
O potencial económico da Zona de Ossa-Morena como principal produtor de rochas
ornamentais em Portugal ficou bem demonstrado nas páginas precedentes. No entanto,
apesar da extensão que ocupam as referidas rochas, a maior parte dos afloramentos não
foram ainda suficientemente estudados para se ter uma avaliação correcta das potencialidades existentes. Este trabalho está a ser levado a cabo pelo Instituto Geológico e Mineiro em colaboração com o Departamento de Geociências da Universidade de Évora, no
maciço ígneo de Santa Eulália e no anticlinal de Estremoz.
Já em 1993 chamámos à atenção para Importância do conhecimento correcto dos
recursos existentes através da realização de programas de investigação para a sua ava13
liação, preservando o meio ambiente. E da aposta na formação profissional do pessoal a
vários níveis, sobretudo de técnicos superiores que irão gerir estes recursos à medida que
forem devidamente conhecidos. Entretanto a situação pouco se alterou pelo que esta previsão permanece actual. Empresários e investigadores, apesar do interesse comum no
objecto de análise, têm vivido de costas voltadas. É fundamental modificar esta situação
com benefícios óbvios para ambos. O Departamento de Geociências da Universidade de
Évora, pelos cursos que ministra e pelo apoio que solicita e fornece às empresas do sector, bem como o esforço que tem feito ao dinamizar e promover um Pólo da Universidade
de Évora em Estremoz, em plena faixa mármorea, e onde tem desenvolvido acções de
sensibilização, divulgação da ciência, colóquios e conferências tendo como pano de fundo
o mármore, está, pensamos, no bom caminho. Por fim, assiste-se hoje a um interesse e
boa vontade generalizados por parte de instituições e de alguns empresários. Bom seria
que daí surgissem frutos que valorizassem e dignificassem o Sector das Rochas Ornamentais.
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