Mitos e verdades sobre a transmissão da toxoplasmose pelos

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Sandra Helena D’Império Bueno
Mitos e verdades sobre a transmissão da toxoplasmose pelos
felinos em pessoas imunossuprimidas com o vírus HIV
São Paulo/SP
2015
Sandra Helena D’Império Bueno
Mitos e verdades sobre a transmissão da toxoplasmose pelos
felinos em pessoas imunossuprimidas com o vírus HIV
Monografia apresentada como requisito final à
obtenção do Título de Especialista no Curso de
Pós-Graduação, Especialização em Clínica Médica
de Felinos, do Centro de Pós Graduação em São
Paulo, pela EQUALIS, sob orientação de Prof. Dr.
Gustavo Sabatini.
São Paulo/SP
2015
Sandra Helena D’Império Bueno
Mitos e verdades sobre a transmissão da toxoplasmose pelos
felinos em pessoas imunossuprimidas com o vírus HIV
Monografia apresentada como requisito final à
obtenção do Título de Especialista no Curso de
Pós-Graduação, Especialização em Clínica Médica
de Felinos, do Centro de Pós Graduação em São
Paulo, pela EQUALIS, sob a orientação de Prof.
Dr. Gustavo Sabatini.
São Paulo/SP, _______ de __________________ de 20___
– Orientador –
São Paulo/SP
2015
DEDICATÓRIA
Ao meu querido pai Wagner Gonçalves Bueno (In Memorian), pela sua alegria
em me ver uma Médica Veterinária. Ao meu mestre Gustavo Sabatini pela
amizade. À minha mãe e irmão pelo incentivo e principalmente ao meu marido
Marcos Alexandre Barbosa pelo carinho, compreensão e ajuda nos momentos
mais difíceis desta trajetória.
AGRADECIMENTOS
A todos que direta ou indiretamente contribuíram para este trabalho.
RESUMO
Esta pesquisa foi desenvolvida através de revisão bibliográfica visando demonstrar os
principais aspectos sobre a transmissão da toxoplasmose, elucidando os mitos e verdades em
relação aos felinos e os benefícios do convívio destes animais com pessoas portadoras do
vírus HIV. O Toxoplasma gondii é um protozoário com distribuição mundial, apresenta vários
hospedeiros intermediários sendo os felinos os únicos hospedeiros definitivos do parasita.
Existem várias formas de contágio e este se dá através da ingestão de oocistos infectantes
presentes nos alimentos e ambiente. Os gatos liberam oocistos através das fezes e estes vão se
tornar infectantes após um período expostos no ambiente. Através do conhecimento do ciclo
de vida do parasita, as formas de contágio e como evitar o contato com oocistos infectantes,
torna-se possível a convivência com felinos por pessoas imunocomprometidas sem o risco de
contágio, pois os animais trazem benefícios psicológicos a este grupo de pessoas.
Palavras-chave: Toxoplasmose, HIV, Toxoplasma gondii.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................ 7
1.1
2
3
ZOONOSES .................................................................................................................................................... 8
HISTÓRIA, PREVALÊNCIA, IMPACTO DA AIDS E RISCOS DE ZOONOSES.................................................... 9
2.1
PORQUE MÉDICOS VETERINÁRIOS DEVEM ENTENDER SOBRE HIV/AIDS E ZOONOSES ................................................ 10
2.2
RISCOS DE ZOONOSES.................................................................................................................................... 10
MORFOLOGIA E CICLO EVOLUTIVO DO T. GONDII .................................................................................12
3.1
CICLO SEXUADO DO T. GONDII ........................................................................................................................ 13
3.2
CICLO ASSEXUADO DO T. GONDII ..................................................................................................................... 14
4
TOXOPLASMOSE ....................................................................................................................................15
5
BENEFÍCIOS DO RELACIONAMENTO ENTRE ANIMAIS E O HOMEM ........................................................17
6
RECOMENDAÇÕES PARA PROPRIETÁRIOS DE ANIMAIS .........................................................................18
7 CONCLUSÃO .................................................................................................................................................19
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................................21
7
1 INTRODUÇÃO
Toxoplasma gondii é um parasita zoonótico, cosmopolita, com uma ampla
variedade de espécies envolvidas. Os felinos são os únicos hospedeiros definitivos, capazes de
excretar
oocistos infectantes em suas fezes. As infecções nos felinos geralmente são
subclínicas mas pode levar a sinais clínicos como febre, dispnéia, taquipnéia, icterícia,
manifestações oftalmológicas, ou morte. Nos seres humanos, através de conhecimentos de
saúde pública, a toxoplasmose pode ser evitada. (Dubey, 2010 apud Sukura et al., 2012).
O T. gondii é o agente causador da toxoplasmose. Em indivíduos normais, a
infecção aguda pode passar desapercebida mas em casos de debilidade do sistema
imunológico como no caso da AIDS pode levar a sérios problemas oculares e neurológicos
levando a morte ou a sequelas irreversíveis. (Meireles, 2001).
O T. gondii é encontrado em vários animais incluindo o homem e os felinos são os
hospedeiros definitivos do parasita (Dubey, et al., 2006 apud Bresciani, et al., 2013). A
toxoplasmose é uma zoonose com alta distribuição gobal e estima-se que 60% da população
humana mundial apresentem títulos de anticorpos contra T. Gondii. Devido aos felinos serem
seus hospedeiros definitivos sua presença torna-se essencial ao ciclo de vida do parasita.
(Pappas, et al., 2009 apud Burón, et al., 2013).
Como nos humanos a toxoplasmose adquirida na vida pós natal apresenta um
curso benigno e assintomático na maioria dos hospedeiros imunocompetentes, a evolução
crônica ou latente da infecção devido a persistência do parasita na forma de cisto, pode
apresentar reativação nos casos de imunossupressão, onde podemos citar a AIDS que leva
a.uma significante debilidade do sistema imune com riscos de complicações devido as
zoonoses. (Amendoeira et al, 2008).
A maneira mais comum de contágio pelo parasita é através do consumo de
alimentos contaminados com os oocistos infectantes. (Silveira, 2001).
A transmissão da infecção se dá pela presença ambiental de felinos através de um
ciclo que envolve hospedeiros intermediários que albergam cistos latentes, que ao serem
ingeridos pelos felinos como forma de presas dão continuidade ao ciclo. Após a ingestão, os
felinos vão eliminar através das fezes oocistos infectantes que podem aderir ao ambiente por
meses ou anos. (Meireles, 2001).
8
O tipo de alimento como as presas, podem ser um importante fator
epidemiológico na propagação da toxoplasmose nos felinos e a soroprevalência do
protozoário varia de acordo com a distribuição geográfica e clima que favorece a esporulação
dos oocistos (Burón, et al., 2013).
Na última década, pesquisas em animais selvagens no mundo todo, tem
demonstrado aspectos importantes na epidemiologia do ciclo silvestre de Toxoplasma gondii,
sendo necessário para conhecermos a forma de transmissão na vida silvestre, e manutenção
desse parasita em função das frequentes interações com o homem em áreas peri-urbanas.
(Gennari et al., 2013).
1.1 Zoonoses
Zoonoses são doenças transmitidas de animais para seres humanos. A transmissão
pode ocorrer através de contato direto com o animal, contato com secreções ou excreções dos
animais, em contato com veículos como água, alimentos ou fômites contaminados. A maioria
dos agentes zoonóticos podem infectar quaisquer pessoas independentemente de seu estado
imunitário, entretanto quando pessoas imunossuprimidas são infectadas, as doenças podem se
tornar mais graves. (Rodan, et al., 2004).
Apesar dos avanços nos conhecimentos e na prática médica, as doenças
parasitárias continuam a ser um importante problema de saúde global, e entre as principais
enfermidades de importância mundial podemos incluir os protozoários que podem atingir
humanos e animais como é o caso do Toxoplasma gondii. Por ser um potencial causador de
zoonose e de distribuição cosmopolita, o T. gondii tem sido um dos protozoários mais
amplamente estudados (Costa, 2013).
9
2 HISTÓRIA, PREVALÊNCIA, IMPACTO DA AIDS E RISCOS DE
ZOONOSES
A AIDS é a doença causada pelo vírus da imunodeficiência humana. O HIV pode
ser considerado um vírus astuto e mortal. Os seres humanos não são a espécie de origem deste
vírus e acredita-se que sua origem tenha vindo de macacos africanos. Existem dois principais
sorotipos de vírus sendo eles o HIV 1 e HIV 2. Sem dúvida ultimamente a AIDS é a mais
importante doença infecciosa sendo que é a quarta principal causa de morte, ficando atrás
apenas de doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e respiratórias. Hoje em dia os
indivíduos soropositivos estão vivendo por mais tempo devido a utilização das medicações
antiretrovirais. Existem muitas pessoas infectadas com o vírus HIV que desconhecem o seu
estado, e por isso enquanto as pessoas em geral não infectadas possuem um mínimo risco de
adquirir zoonoses, pessoas imunocomprometidas apresentam um risco maior. Por não
conhecerem seu estado de infecção com o vírus HIV, as pessoas podem passar de
soropositivas para a fase da AIDS propriamente dita, aumentado ainda mais os riscos de
adquirirem infecções por patógenos associados aos animais, a água e aos alimentos. Devido
ao risco de zoonoses e ao número de pessoas infectadas com o vírus do HIV, os Médicos
Veterinários assumem um importante papel aconselhando de forma clara as pessoas
soropositivas, bem como outros profissionais de saúde. A AIDS pode ser considerada como
um problema endêmico e existem programas educacionais sobre as formas de infecção e
contágio que podem ser úteis para que novas infecções não ocorram. (Davis et al., 2008).
O primeiro caso clínico de AIDS no Brasil ocorreu em 1983 e estudos posteriores
permitiram a identificação retrospectiva de casos no período de 1980 a 1982. O perfil
epidemiológico caracterizava-se por pacientes masculinos, com alto nível socio- econômicos
e com caráter homossexual ou bissexual. Ao final da década de 80 ocorreu uma mudança no
perfil epidemiológico da doença acometendo heterosseuais, mulheres e indivíduos de baixa
renda. O impacto da AIDS propiciou desde o início intensa mobilização a favor da prevenção,
luta pelos direitos dos pacientes em especial contra o preconceito. (Marques, 2006).
10
2.1 Porque Médicos Veterinários devem entender sobre HIV/AIDS e
zoonoses
O Médico Veterinário é um profissional com conhecimentos sobre zoonoses.
Entendendo sobre a AIDS, estes profissionais conseguem educar pessoas soropositivas sobre
as possíveis zoonoses que podem vir a acometê-los, criando assim uma boa convivência
destes pacientes com seus animais de estimação. (Davis, et al., 2008).
Almeida et al., (2006), através de um estudo, investigou a percepção de estudantes
de medicina veterinária em relação ao convívio entre HIV positivos e seus animais de
estimação. O foco do estudo foi mostrar os benefícios e os riscos destes pacientes em relação
ao convívio com cães e gatos. Foram entrevistados estudantes através de um questionário
onde os resultados mostraram que embora os entrevistados tenham classificado como
importante a relação homens e animais, eles não estavam aptos a distinguir as possíveis
zoonoses advindas dessa convivência.
Médicos Veterinários por serem especialistas em zoonoses, nos casos de HIV
podem intervir e ajudar não como forma de diagnóstico e tratamento da doença, e sim fazendo
com que haja informações precisas proporcionando um bom laço humano e animais de
estimação, pois muitos Médicos não se sentem à vontade para discutir riscos de zoonoses e de
como aconselhar seus pacientes. Animais de estimação incluindo os gatos, podem oferecer
muitos benefícios a saúde dos seres humanos, incluindo aumento da felicidade e diminuição
da depressão. (Rodan, et al., 2004).
2.2 Riscos de zoonoses
Quanto as zoonoses que podem infectar as pessoas com HIV e AIDS, as que
causam maior preocupação incluem o Toxoplasma gondii, Cryptosporidium spp., Salmonella
spp., Campylobacter spp., Bartonella spp., Mycobacterium spp., Giardia spp. e os
dermatófitos. As pessoas infectadas podem vir a sofrer de criptococose, toxoplasmose,
micobacteriose, criptosporidiose, dermatofitose entre outros. Em relação as doenças
oportunistas houve um estudo que demosntrou não haver diferenças significativas entre
proprietários que possuem ou não animais, indicando que a posse destes não aumentam
11
drasticamente o risco de infecções zoonóticas em pessoas soropositivas para o HIV (Davis, et
al., 2008).
Sukura et al., (2015), através de um estudo mostrou que a prevalência de gatos
que eliminaram oocistos no ambiente foi baixa e só foram eliminados por um período
limitado.
As zoonoses mais comuns que podem ser transmitidas pelos gatos na prática de
pequenos animais são várias, e podemos encontrar múltiplos agentes dentre eles a Giardia sp,
Cryptosporidium, Salmonella, Toxocara cati, Toxoplasma gonddi entre outros. O Toxoplasma
gondii necessita de um período fora do hospedeiro para se tornar infeccioso, e é mais provável
que os seres humanos sejam infectados por este protozoário através de contato com o meio
ambiente contaminado com fezes de gatos, do que com o contato direto com o gato
propriamente dito (Rodan, et al., 2004).
12
3 MORFOLOGIA E CICLO EVOLUTIVO DO T. gondii
O Toxoplasma gondii é um parasita intracelular obrigatório, com morfologia
variada múltipla em seu ciclo biológico de acordo com o habitat e estádio evolutivo em que se
encontra. O homem adquire a infecção através da ingestão de cistos teciduais em carne crua
ou mal cozida, pela ingestão de oocistos esporulados e pela via transplacentária. O parasita
apresenta-se em várias formas na natureza. O oocisto é o resultado do ciclo sexual que ocorre
no intestino delgado dos felinos e contém os esporozoítos, o taquizoíto é a forma assexuada
invasiva e o cisto contém os bradizoítos capazes de persistir nos tecidos durante a fase latente
da infecção. O oocisto é excretado junto com as fezes dos felinos e pode persistir viável por
até 18 meses em solo úmido, representando uma fonte potencial de infecção, mas o mesmo
requer a esporulação para ter poder infectante que ocorre em 2 a 3 dias em temperatura de
24ºC ou em 14 a 21 dias em temperatura de 11ºC. A esporulação não ocorre em temperaturas
acima de 37ºC ou abaixo de 4ºC. O taquizoito é visto na fase aguda da infecção e pode invadir
todas as células dos mamíferos, que se tornam hospedeiros intermediários por acometimento
intracelular obrigatório. Quando há um excesso de taquizoítos, ocorre a lise celular e estes são
destruídos pelo sistema imunológico dos hospedeiros através da resposta humoral ativada pelo
sistema complemento. Os cistos são encontrados mais frequentemente no miocárdio, na
musculatura esquelética e no cérebro. (Farhat; Carvalho, 1999).
Os protozoários pertencem ao Reino Protista, sub-reino Protozoa, compreendendo
muitas espécies de importância veterinária e médica. O T. Gondii foi descrito pela primeira
vez em humnos em 1923 e no Brasil em 1927. Em 1942 a toxoplasmose foi detectada em
gatos e em 1967 foi demonstrado que o protozoário poderia ser contraído pela ingestão de
oocistos eliminados nas fezes dos felinos. Em 1970 houve a elucidação so ciclo pela
descoberta de felinos como hospedeiros definitivos (Costa, 2013).
O protozoário possui ciclo de vida heteroxeno, sendo que todos os animais de
sangue quente podem participar do ciclo como hospedeiros intermediários. (Costa, 2013).
Os oocistos são produzidos pelos felinos através de uma reprodução sexuada do T.
gondii. Os gatos defecam os oocistos imaturos e no ambiente ocorre a esporulação em dois e
quatro esporozoítos. Os taquizoítos são as formas mais rápidas de replicação do T. gondii,
sendo responsáveis pela disseminação sistêmica e subsequente infecção nos hospedeiros
intermediários. Os taquizoítos possuem um complexo apical que tem uma aparência
pontiaguda. Este complexo apical é responsável pela invasão da célula hospedeira. A invasão
13
envolve a saída de proteínas a partir de grânulos de secreção que são expelidos através da
organela coronóide tubular que está alojada dentro do complexo apical. Ao entrar em uma
célula hospedeira o taquizoíto é envolto por um vacúolo onde é capaz de sobreviver e se
replicar. Além do complexo apical, o taquizoíto apresenta um citoesqueleto que permite sua
mobilidade. Os bradizoítos são referidos como a forma latente do parasita e característicos da
infecçao crônica. Os bradizoítos são encontrados dentro de cistos teciduais que podem
persistir em vários órgãos por toda vida do hospedeiro, e estes possuem a capacidade de se
deslocar de uma célula infectada para outra havendo a disseminação mesmo na forma crônica
(Smith, et al., 2013).
Segundo Burón et al., (2013), insetos podem ser definidos como hospedeiros de
transporte do T. Gondii uma vez que são capazes de espalhar os oocistos de matéria fecal
contaminada.
3.1 Ciclo sexuado do T. Gondii
O ciclo sexuado necessita de células epiteliais intestinais dos felinos. Após a
ingestão de um cisto por um gato, as enzimas digestivas fazem liberar os bradizoítos que
invadem o epitélio intestinal. Os bradizoítos sofrem replicação e transformação produzindo
microgametas que fertilizam os macrogametas produzindo os zigotos. Cada zigoto ou oocisto
é rodeado por uma parede celular saindo do intestino através das fezes, onde em um prazo de
5 a 7 dias vai esporular no ambiente. Os oocistos sofrem várias divisões e desenvolvimento
resultando em um oocisto infeccioso contendo esporozoítos. Os taquizoítos ou os
esporozoítos também podem ser ingeridos, embora seja menos comum. Após a ingestão do
bradizoíto, milhões de oocistos podem ser liberados a cada dia por várias semanas. Cada
oocisto esporulado tem o potencial de sobreviver por um longo período. Em casos de
imunossupressão que pode estar relacionada a má nutrição ou infecções concomitantes, ou
uma re-infecção, anos depois um felino pode liberar novos oocistos (Dubey, 2010 apud
Smith, et al., 2013).
14
3.2 Ciclo assexuado do T. gondii
O cliclo assexuado ocorre em qulquer subpopulação de células nucleadas de um
hospedeiro intermediário. O ciclo de replicação assexuada é iniciado quando um hospedeiro
intermediário ingere um oocisto ou cisto em um tecido. Tal como ocorre em felinos, estas
estruturas se rompem no trato gastrointestinal, libertando bradizoítas ou esporozoítos que
invadem e diferenciam-se em taquizoítos no epitélio intestinal. Taquizoítos vem a se
disseminar por todo o corpo, principalmente através da corrente sanguínea, e são capazes de
infectar as células nucleadas em qualquer tecido podendo até afetar o feto. O modo de
transporte do parasita não está muito bem esclarecido, mas foram encontrados taquizoítos em
leucócitos no sangue de pacientes com toxoplasmose. Após várias fases de reprodução
assexuada dentro de uma célula hospedeira, os taquizoítas lisam a célula hospedeira e vão
para o espaço extracelular em células adjacentes. No tecido de um hospedeiro intermediário,
após um período de replicação ativa, taquizoítos se diferenciam em bradizoítos. O local de
formação de cistos depende das espécies de hospedeiros e nos seres humanos o sistema
nervoso central e a retina são os sítios mais comum de cistos. A conversão de bradizoíta para
taquizoíta pode ocorrer posteriormente (Montoya, 1997 apud Smith, et al., 2013).
15
4 TOXOPLASMOSE
Aproximadamente 30 a 40 % das pessoas são soropositivas para toxoplasmose,
onde podem ser infectadas congenitamente, através da ingestão de oocistos infectantes ou
através da ingestão de cistos presentes em carne crua ou mal cozida. Clinicamente a doença e
leve em pessoas saudáveis e geralmente as mesmas nem percebem a infecção aguda. A
doença clínica é geralmente mais grave em indivíduos immunodeficientes, incluindo as
pessoas com AIDS e pessoas tratadas com agentes imunossupressores. Toxoplasmose pode
ser considerada uma doença oportunista comum em pessoas com AIDS quando estas
apresentem números baixos de linfócitos CD-4 e T-helper podendo resultar em ativação dos
bradizoítos encontrados em cistos teciduais presentes no cérebro e tecido ocular (Rodan, et
al., 2004).
A neurotoxoplasmose é uma das principais causas de encefalite focal em pacientes
com síndrome da imunodeficiência adquirida. A doença resulta, na maioria dos casos de
reativação de uma infecção latente e apresenta elevada morbi-mortalidade, se não reconhecida
e tratada precocemente. A doença manifesta-se clinicamente de forma semelhante às outras
complicações oportunistas que acometem o sistema nervoso central destes pacientes, tais
como linfoma primário do SNC, encefalites virais ou fúngicas, reativação da doença de
chagas e neurotuberculose. Estas doenças podem ocorrer concomitantemente com outras no
mesmo local, dificultando assim até uma possível confirmação diagnóstica (Figueiredo;
Borges, 2004).
A maior manifestação ocular relacionada ao HIV é a retinocoroidite pela
toxoplasmose (Coelho, et al. 2004). A toxoplasmose ocular, é uma das mais importantes
infecções oculares secundárias em pacientes com AIDS. Trabalhos mostraram que indivíduos
com toxoplasmose adquirida apresentam risco de desenvolver tardiamente lesões oculares que
comprometem de forma irreversível a visão (Silveira, 2001).
Em relação a transmissão da toxoplasmose houve um estudo que demosntrou que
os gatos só eliminaram oocistos no ambiente por alguns dias e assim um gato estará
eliminando oocistos no ambiente por apenas uma pequena fração em todo o seu ciclo de vida.
Oocistos são eliminados na forma não infecciosa, então o contato com fezes frescas de felinos
acaba não sendo um risco. Gatos são exigentes e não gostam de deixar suas fezes em seus
pelos por um tempo suficiente para que ocorra a esporulação e com isto podemos concluir que
16
apenas ao tocar gatos é uma maneira improvável de se adiquirir a toxoplasmose (Rodan, et al.,
2004).
Freire e Dias (2005) relatam que devido a doença apresentar sintomas ausentes em
muitos casos, existem dificuldades na caracterização clínica da patologia e posterior
notificação.
Como nos homens, a gravidade da infecção pelo T. gondii nos felinos, está
relacionada com a virulência do parasita, estado imunológico e infecções concomitantes com
outros agentes. (Gennari et al., 2013).
Segundo Rodan et al., (2004), pessoas com infecção pelo HIV que possuem gatos
não são mais propensos a adiquirir a toxoplasmose do que outros que não possuem. Quando a
toxoplasmose cerebral ocorre concomitantemente com a AIDS, pode ser devido a reativação
de uma infecção crônica e não primária na maioria das vezes. Não há um teste sorológico que
mostre quando um gato eliminou um oocisto infectante no passado, e os que já eliminaram é
pouco provável que voltem a eliminar. Um exame de fezes pode determinar se um indivíduo
está eliminando o oocisto infectante, mas isto não apresenta muita importância em saúde
pública pois o período de eliminação do oocisto é muito curta.
17
5 BENEFÍCIOS DO RELACIONAMENTO ENTRE ANIMAIS E O
HOMEM
O relacionamento entre homens e animais de estimação tem sido benéfica no tratamento
de distúrbios com crianças, idosos, deficientes físicos e mentais, além de ser muito boa no tratamento
de pacientes com HIV. Os animais podem aliviar sentimentos de solidão e carência, porém os
indivíduos portadores do HIV, devido a sua condição imunológica estão sob maior risco de adquirirem
infecções e muitas vezes são privados do convívio com seus animais por preconceito ou
desinformação, ou então, ficam expostos a riscos desnecessários devido à falta de orientação
(Almeida, et al. 2006).
Segundo Schoffel, Malbergiera (2011), a infecção pelo HIV é freqüentemente associada a
transtornos psiquiátricos e dentre eles a depressão é o mais comum. O diagnóstico e o tratamento dos
transtornos depressivos são fundamentais para melhorar a qualidade de vida desses pacientes. A AIDS
tem se mostrado objeto de interesse de estudo por parte de psiquiatras e psicólogos, pelo tropismo do
vírus pelo SNC e o impacto psicológico, desde o diagnóstico até a evolução da doença.
Hoje em dia estima-se que muitas famílias possuem pelo menos um animal de
estimação, e a probabilidade entre uma pessoa infectada com o vírus HIV e outra não
infectada é a mesma de possuírem animais. Os animais de companhia trazem muitos
benefícios aos seres humanos incluindo os benefícios psicológicos. Alguns estudos
demostraram que pessoas com AIDS que possuem animais apresentam menos riscos de
sofrerem com problemas mentais. Algumas pessoas com HIV são aconselhadas a desistir de
seus animais com o intuito de proteger sua saúde, mas especialistas reconhecem que a posse
de animais de estimação trazem benefícios aos pacientes (Davis et al., 2008).
18
6 RECOMENDAÇÕES PARA PROPRIETÁRIOS DE ANIMAIS
Os animais devem estar protegidos com parasiticidas e devem ser examinados
pelo Veterinário à cada seis meses para cuidados preventivos como esquema vacinal. Gatos
devem ser mantidos dentro de casa para que não ocorra o risco de caçarem e se contaminarem
ingerindo carne crua de animais como roedores. Todos os alimentos destinados aos gatos
devem ser de boa qualidade e industrializados e jamais devem ser alimentados com carne crua
ou mal cozida (Davis, 2008). Gatos adotados devem ser colocados em quarentena até que os
mesmos sejam avaliados por Veterinários e pessoas com sistema imunológico comprometido
devem evitar manipular gatos doentes principalmente aqueles com sintomas gastrointestinais,
respiratórios, dermatológicos, neurológicos e jamais devem manusear gatos desconhecidos
(Rodan, et al., 2004).
Pessoas com HIV devem evitar o contato com animais de rua, devem apresentar
hábitos de higiene tais como manter gaiolas limpas, pegar as fezes de animais e limpar caixas
de areia de gatos utilizando-se de luvas. Deve-se utilizar luvas também ao mexer com
jardinagem, pois fezes de gatos podem estar presentes no solo e também ao manusear carne
crua ou exposições semelhantes. As áreas a serem desinfetadas devem se utilizar de sabão e
água quente. Forros de gaiolas e caixas sanitárias devem ser lavadas e deixadas de molho com
água sanitária a 1%. Os alimentos devem ser consumidos cozidos (Davis, et al., 2006).
Segundo Rodan et al., (2004), as caixas de areia sanitária de gatos devem ser
limpas diariamente pois oocistos requerem dias para esporulação. Pacientes imunodeprimidos
devem evitar a limpeza das caixas de areia dos gatos e se isto não for possível sempre deve-se
utilizar luvas. Oocistos esporulados são extremamente resistentes à maioria dos desinfetantes
sendo que a limpeza com água fervente ou vapor são mais eficazes.
Segundo Smith et al.,
(2013), as frutas e verduras devem ser lavadas e os
utensílios de cozinha devem ser lavados após o contato com carne crua, gatos devem ser
impedidos de caçarem. No caso de pessoas imunocomprometidas, estas devem estar atentas as
formas de contágio da toxoplasmose através de campanhas de saúde pública e programas de
educação.
19
7 CONCLUSÃO
A toxoplasmose é uma zoonose de distribuição mundial e é transmitida pelo
protozoário T. gondii. Esta zoonose pode acometer vários animais como seus hospedeiros
intermediários, e os felinos são considerados seus únicos hospedeiros definitivos.
A infecção pelo T. gondii apresenta curso benigno nos seres humanos desde que
os mesmos não apresentem deficiência do sistema imunológico. A pessoa com AIDS
apresenta uma queda na taxa de seus linfócitos e consequente imunidade fazendo com que
muitas doenças oportunistas possam manifestar-se. O T. gondii pode ficar nos seres humanos
através de cistos, na sua forma crônica da doença e virem a agudizar com uma queda de
imunidade.
Como o parasita possui tropismo por várias células entre elas do SNC e ocular
pode levar as pessoas imunocomprometidas a apresentarem doenças graves do sistema
nervoso central como encefalites por toxoplasmose e uveítes.
Devido as possibilidades de sérias complicações relacionadas a toxoplasmose,
pessoas com HIV muitas vezes são mal orientadas quanto aos seus animais de estimação
principalmente os felinos, trazendo sofrimento desnecessário, as pessoas e aos animais. Os
Médicos, não se encontram confiantes com o tema zoonoses, ficando claro assim a grande
importância do Médico Veterinário em orientações sobre a doença.
O trabalho demonstrou que os felinos eliminam oocistos que podem se tornar
infectantes no ambiente por um período muito curto de tempo, e os mesmos oocistos para
tornarem-se infectantes devem permanecer no ambiente por um período de 2 a 7 dias. Com
base nestes fatos podemos dizer que uma simples medida educacional para pessoas infectadas
com o vírus HIV sobre a forma de transmissão do parasita ajudaria. As fezes de gatos não
devem permanecer em bandejas higiênicas por muito tempo e sim devem ser retiradas
diariamente evitando a possibilidade de possíveis oocistos se tornarem infectantes. Gatos não
devem possuir vida livre evitando-se assim a possibilidade de caça e da ingestão de carnes
cruas com cistos, tornando-se assim muito claro que as formas mais comuns dos seres
humanos adquirirem o T. gondii é través da via oral pela ingestão de carnes cruas e sem
procedência, de legumes e frutas mal lavadas, através do contato com utensílios contaminados
e com o solo contaminado do que com o gato propriamente dito.
Se pessoas fossem orientadas por profissionais capacitados em zoonoses tais
como os Médicos Veterinários, isso evitaria problemas psicológicos em pessoas com HIV ao
20
se desfazerem de seus animais. Medidas educativas são suficientes para evitar o sofrimento
humano e dos animais, permitindo um convívio saudável entre eles.
21
REFERÊNCIAS
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