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O EDIFÍCIO CHAGAS RODRIGUES (DER-PI) NA PAISAGEM
CULTURAL DA AVENIDA FREI SERAFIM, EM TERESINA-PI: Seu
reconhecimento enquanto marco e análise do projeto de
intervenção proposto.
CASTELO BRANCO, André M. C. (1); MAGALHÃES, Aminna R. S. (2); MELO,
Neuza B. A. L. (3).
1. Instituto Camillo Filho. Arquitetura e Urbanismo
Av. Aviador Irapuan Rocha, nº 2071, apto 301, Bairro de Fátima, Teresina-PI, 64049-518
[email protected]
2. Instituto Camillo Filho. Arquitetura e Urbanismo
R. Alberone Lemos, nº 258, Bairro Acarape, Teresina-PI, 64003-780
[email protected]
3. Instituto Camillo Filho. Arquitetura e Urbanismo
Av. Marechal Castelo Branco, nº 330, apto 702, Bairro Frei Serafim, Teresina-PI, 64001-920
[email protected]
RESUMO
A presente pesquisa propõe o estudo arquitetônico do Edifício Chagas Rodrigues, sede do DER-PI em
Teresina, além do estudo arquitetônico do edifício e de sua trajetória, como forma de reconhecimento
da obra enquanto marco na paisagem cultural e, assim, abrir a discussão de perspectivas que abordem
a sua preservação, além de uma análise da proposta de reforma existente. O projeto do arquiteto
carioca Maurício Sued, datado de 1955, é considerado o primeiro edifício modernista do estado.
Exemplo característico da Escola Carioca de Arquitetura, ele apresenta os princípios corbusianos de
fachada e planta livres da estrutura e uso de pilotis no térreo livre, além da volumetria prismática
simples, rompida pela escada helicoidal, e do painel do artista Genes Soares. A adaptação ao clima se
faz presente nas fachadas, com cobogós a oeste e esquadrias recuadas e brises a leste. Está
localizado na Avenida Frei Serafim, principal via de ligação entre o centro e a zona leste da cidade, em
um ponto da via próximo ao limite leste da mancha urbana na época em que foi edificado, que coincide
com o início da expansão da cidade naquela direção. Por este motivo, constitui marco fronteiriço entre o
trecho mais a oeste da avenida, que conta com diversas casas de tipologia eclética da primeira metade
do século XX, e aquele mais a leste, após o cruzamento com a ferrovia, de ocupação posterior à
edificação do DER; na esquina oposta está o conjunto da Estação Ferroviária de Teresina, tombado a
nível federal, e todo o corredor da avenida tem suas fachadas protegidas por legislação municipal. O
edifício é testemunho de um período de modernização da cidade e reestruturação da máquina
administrativa pública no estado; nas décadas de 1950 e 1960, a Arquitetura Moderna é adotada no
Piauí nos edifícios sede de diversos órgãos governamentais. Além de representativo desse momento, o
Edifício Chagas Rodrigues constituiu, ao longo de sua trajetória, um marco na paisagem da Avenida
Frei Serafim, tendo sido tombado a nível estadual em 1997. Porém, conforme a prática comum da
época, o tombamento considerou o edifício como objeto isolado e, mesmo assim, mostrou-se
insuficiente para sua conservação adequada, como atesta a condição atual do imóvel. Estão em
andamento os trâmites para uma reforma, cujo projeto já foi elaborado. O trabalho pretende analisar
essa proposta para compreender o tratamento dado à Paisagem Cultural em que o edifício está
inserido, como marco limítrofe entre dois momentos da Avenida Frei Serafim, e contribuir para a
preservação do bem ao promover seu reconhecimento, identificação e apropriação, lançando mão de
pesquisa e aprofundamento da reflexão acerca dele. Serão realizadas pesquisas histórica,
arquitetônica, iconográfica e bibliográfica para conhecimento da trajetória do bem ao longo do tempo e
do projeto da reforma, além de levantamentos e registros fotográficos do atual estado do edifício, para
fundamentar a análise e discussão sobre ele. Espera-se, assim, aprofundar a discussão sobre a política
patrimonial desenvolvida no Piauí e promover a difusão do conhecimento desse importante bem
cultural teresinense, na perspectiva da sua preservação.
Palavras-chave: Patrimônio Cultural; Arquitetura Moderna; Maurício Sued; Teresina; Edifício Chagas
Rodrigues.
4º COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO
Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Introdução
Este artigo tem como objeto o Edifício Chagas Rodrigues, sede do Departamento de Estradas
de Rodagem do Piauí (DER-PI), inserido no contexto da Avenida Frei Serafim, em Teresina. O
órgão é uma autarquia estadual vinculada à Secretaria dos Transportes, com a atribuição de
gerir o transporte rodoviário no Piauí. Sua sede, composta pelo edifício principal e um
auditório anexo, está situada no limite leste do centro da cidade, ocupando uma quadra
delimitada pela Avenida Frei Serafim ao norte, Avenida Miguel Rosa ao leste, Rua Paissandu
ao sul e Rua Dezenove de Novembro ao oeste.
Figura 1 – Recorte espacial do trabalho, com localização do DER-PI e da Av. Frei Serafim em Teresina.
Fonte: Elaborado pelos autores, com imagem adaptada de Google Earth, 2016.
A Avenida Frei Serafim teve origem no último quartel do século XIX, como caminho
espontâneo de ligação do centro da cidade (estabelecido à margem do Rio Parnaíba, fronteira
oeste do estado do Piauí) com a margem do Rio Poti, e passou por diversos momentos ao
longo de sua trajetória. Situada fora do perímetro urbano original da cidade, a primeira
ocupação de seu entorno foi com chácaras, recebendo ampla reforma urbanística no período
do Estado Novo (1937-1945) e, a partir de então, tendo sua arquitetura transformada com a
demolição das casas de palha que ali havia e a construção de diversos bangalôs ecléticos.
Posteriormente, a avenida se consolidou como o principal eixo de expansão centro-leste da
cidade e no seu entorno surgiram sucessivamente edificações de linhas Art Déco, Modernas e
contemporâneas, dispostas quase em ordem cronológica de construção e estilo. Ao longo do
século XX, a avenida assumiu importante função simbólica, pois seu papel como eixo de
expansão da malha urbana em novo sentido, a forma de boulevard com que foi dotada nas
suas reformas, a importância e imponência dos seus edifícios e o seu papel econômico a
tornaram a mais importante via da cidade.
Considerado o primeiro edifício institucional Moderno no Piauí, o Edifício Chagas Rodrigues
data de 1955 e foi projetado pelo arquiteto carioca Maurício Sued, formado na Faculdade
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Nacional de Arquitetura (FNA). Está implantado no cruzamento da Av. Frei Serafim com a Av.
Miguel Rosa, cujo traçado acompanha a linha férrea edificada na década de 1920
circundando o núcleo urbano e que configurou, à sua época, a delimitação deste. O edifício é
um exemplo característico da chamada Escola Carioca de Arquitetura, ramo do Modernismo
fortemente influenciado por Le Corbusier. Em 1973, o edifício recebeu um anexo na testada
da Av. Miguel Rosa, projetado para abrigar o Auditório e Sala de Debates Prof. Herbert
Parentes Fortes. A obra é relevante no contexto da avenida tanto pela sua localização num
cruzamento que constituiu à sua época o limite da malha urbana da cidade quanto pela sua
forma, que tanto assinala o surgimento da Arquitetura Moderna no estado quanto constitui
marco estilístico e temporal no processo de ocupação da Frei Serafim.
Figura 2 – As fachadas leste e oeste, respectivamente, do Edifício Chagas Rodrigues, sede do DER-PI.
Fontes: MÜLLER, [197-?]; FEITOSA, 2008.
Justifica-se a escolha dessa paisagem como objeto para estudo, primeiramente, pelos valores
que a Avenida Frei Serafim como um todo e o Edifício Chagas Rodrigues em particular
apresentam: histórico, por testemunhar um período de transformações em Teresina; estético,
pela qualidade arquitetônica das edificações da via e do DER-PI em particular; técnico, pelo
emprego do concreto armado, atenção ao conforto ambiental e arrojo estrutural; e de uso
prático, pelo seu emprego continuado como sede de uma autarquia estadual. Além disso, a
pesquisa e documentação sobre a arquitetura teresinense ainda é incipiente, sendo composta
em grande parte por apresentações e inventários gerais que tomaram corpo e assumiram
caráter analítico do ponto de vista arquitetônico apenas na última década. Essa produção
existente é de grande valor, mas alerta acertadamente para a necessidade de aprofundar as
reflexões sobre o acervo da cidade, tarefa com a qual se pretende contribuir.
A significação cultural da paisagem em estudo foi reconhecida pelo poder público quando da
elaboração de instrumentos jurídicos de salvaguarda como o tombamento do Edifício Chagas
Rodrigues a nível estadual, realizado em 1997, e a criação da Zona de Preservação Ambiental
pelo plano diretor de 2006, que protege as fachadas de toda a avenida. Apesar de ser uma
iniciativa importante, esta medida se mostrou insuficiente para a preservação dos bens em
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questão, pois diversas fachadas da avenida apresentam alterações substanciais e a sede do
DER-PI encontra-se bastante deteriorada devido à falta de manutenção. Dessa forma, faz-se
necessária a adoção de outras medidas para sua conservação e preservação, que
demandam a realização de estudos e análises sobre sua significação e atual estado.
Pretende-se contribuir para a preservação dessa paisagem e do edifício ao promover seu
(re)conhecimento e apropriação enquanto bens patrimoniais, através da pesquisa e
aprofundamento das reflexões prévias. Para tanto, fazem-se necessárias pesquisas histórica,
bibliográfica, arquitetônica e iconográfica para conhecimento da trajetória da Avenida Frei
Serafim e do DER-PI ao longo dos anos, além de levantamentos e registros do atual estado de
conservação do edifício, para fundamentar a análise e discussão sobre ele e seu contexto.
Espera-se, assim, promover a difusão do conhecimento desses importantes bens culturais
teresinenses, na perspectiva da sua preservação.
Arquitetura, Cidade e Sítio Histórico
O arquiteto e teórico italiano Aldo Rossi entende a arquitetura como uma criação inseparável
da vida civil e da sociedade em que se manifesta, porque realiza um ambiente artificial mais
favorável à vida, sempre com uma intencionalidade estética. Ela é a cena fixa e palco da vida
do homem. Essa intencionalidade se transforma ao longo do tempo e, ao crescer, a cidade
adquire consciência e memória de si mesma e os fatos urbanos desenvolvem-se em contínua
relação com a própria ideia de cidade (ROSSI, 2001, p.1-5).
A palavra cidade, segundo o historiador da arquitetura Leonardo Benevolo, pode significar a
organização da sociedade e a sua situação física, que são correspondentes. Essa
correspondência, porém, não é perfeita e a forma urbana pode se realizar às vezes em
antecipação ou em resposta às estruturas sociais. A forma física é frequentemente mais
durável do que a própria sociedade e constitui importante objeto histórico cujo estudo fornece
valiosas informações sobre quem a habitou (BENEVOLO, 2001, p.13-28).
A Carta de Washington, adotada pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios
(ICOMOS, órgão consultor da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura [UNESCO] para questões relacionadas ao patrimônio material) em 1987, afirma que
“todas as cidades do mundo são expressões materiais da diversidade das sociedades através
da história e são todas, por essa razão, históricas”. Seus bairros e centros históricos são
documentos e expressões de valores (ICOMOS, 1987, p.1). Elaborada no mesmo ano no
Brasil, a Carta de Petrópolis compreende a cidade em termos semelhantes, enquanto
expressão cultural. O sítio histórico urbano é nela definido como “[...] o espaço que concentra
testemunhos do fazer cultural da cidade em suas diversas manifestações” e seu contexto
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inclui a paisagem e as vivências da sociedade (SEMINÁRIO BRASILEIRO PARA
PRESERVAÇÃO E REVITALIZAÇÃO DE CENTROS HISTÓRICOS, 1987, p.1).
Arquitetura Moderna
Como toda transformação histórica importante, de acordo com Benevolo (2001), o Movimento
Moderno é o resultado de inúmeras contribuições, tanto coletivas quanto individuais, e é
impossível fixar sua origem num só lugar ou ambiente cultural. Guimarães (2015) afirma que a
arquitetura moderna surgiu entre o fim do século XIX e o início do século XX e tem como
principais características a primazia de medidas; o destaque ao detalhe técnico; o
elementarismo; a criação a partir de protótipos, a construção projetual baseada na repetição
modular; a subdivisão da estrutura global em volumes eficazes; a procura primordial pela
funcionalidade, a abstração e o racionalismo formal e a construção do complexo a partir do
simples. Benevolo (2001, p.403) descreve a primeira década de experiências, distinguindo,
em primeiro lugar, as duas mais inovadoras: a obra didática de Gropius e seus colaboradores
da Bauhaus e a obra de Le Corbusier como arquiteto; em segundo lugar, algumas
experiências ligadas aos movimentos culturais do período anterior à guerra.
A Bauhaus, fundada em 1919 na Alemanha por Walter Gropius, era uma escola de artes que
tinha como objetivo construir uma nova sociedade, tendo influenciado bastante a arquitetura
modernista, através de seus ideais de funcionalidade e simplicidade das formas (SILVA,
2005). Já o franco-suíço Le Corbusier foi um dos mais importantes expoentes da arquitetura
do século XX. Nascido na França, enfrentou as tradições de seu país com o propósito de
inovar e romper os paradigmas do classicismo ornamentalista. Em 1914, o arquiteto
esforça-se para idealizar a célula de moradia econômica, repetível em série: surgiu, neste
momento, a Casa Domino. Em 1926, em parceria com Pierre Jeanneret, Le Corbusier deu sua
maior contribuição para a disciplina, os cinco pontos da nova arquitetura: pilotis, tetos-jardim,
planta livre, janelas horizontais e fachada livre. Suas principais obras deste momento são a
Villa Savoye e as Unidades de Habitação em Berlim (BENEVOLO, 2001).
O Movimento Moderno no Brasil não surgiu repentinamente. Para Bruand (2002), ele foi o
resultado da evolução do pensamento de alguns grupos intelectuais brasileiros,
especialmente paulistas, que resultou na Semana de Arte Moderna em 1922. Foi através do
arquiteto russo Gregori Warchavchik que o modernismo arquitetônico fez sua primeira
aparição no Brasil. Publicou em 1925 um manifesto da Arquitetura Funcional e construiu em
1928 sua casa, considerada a primeira casa Modernista de São Paulo. Porém, apesar do
pioneirismo paulista, o modernismo encontrou na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de
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Janeiro, maior espaço para debate. A primeira visita de Le Corbusier teve pouco destaque e
aconteceu em 1929.
Em 1936, aconteceu o concurso público para a sede do Ministério da Educação e Saúde
(MES) no Rio de Janeiro, que teve seu resultado desconsiderado pelo governador em
vigência Gustavo Capanema, delegando à Lucio Costa o papel de desenvolver um novo
projeto. (ANDRADE, 2005). Com apoio do governo, Costa contratou uma equipe de arquitetos
modernistas brasileiros e também a consultoria de Le Corbusier. Na segunda visita ao Brasil,
Corbusier foi mais visibilizado devido à grandiosidade do projeto do MES e a melhor aceitação
do modernismo arquitetônico por parte da população. Nesta visita, ele pôde esclarecer sobre
a flexibilidade de sua doutrina, demonstrando que “sabia libertar-se de sua rigidez,
estimulando, sempre que possível, sua capacidade criadora” (BRUAND, 2002, p.90).
As consequências da 2ª Guerra Mundial (1939-1945) fizeram-se sentir no Piauí na forma de
estagnação econômica, devido ao declínio das exportações de produtos do extrativismo local.
Como resposta, o governo federal planejou, na década de 1950, a estruturação da máquina
administrativa no estado, buscando fomentar o desenvolvimento da região com a criação de
empresas estatais para atuar nos setores de infraestrutura, finanças e abastecimento. Essa
década viu uma nova dinâmica na urbanização do Piauí, que objetivava consolidar a
importância de Teresina no contexto estadual (GUIMARÃES, 2015, p.240). A modernização
do aparato administrativo refletiu-se também na estética dos edifícios, pois, do mesmo modo
que o Estado Novo adotou o Art Déco como espécie de estilo oficial, as novas sedes dos
órgãos públicos e das empresas estatais edificadas em Teresina a partir desse período
adotaram a Arquitetura Moderna.
A primeira obra modernista projetada por um arquiteto com formação universitária na cidade
foi a casa do médico Zenon Rocha, de 1952, criada por Anísio Medeiros, teresinense radicado
no Rio de Janeiro e formado na Faculdade Nacional de Arquitetura (ANDRADE, 2005,
p.25-28). Logo depois, outros proprietários contrataram o arquiteto, levando essa estética a
ser adotada na região próxima à Avenida Frei Serafim. Em 1955 foi inaugurado o primeiro
edifício institucional marcadamente Moderno do Piauí: o Edifício Chagas Rodrigues, projetado
pelo carioca Marcelo Sued. (AFONSO, 2015b, p.47-48).
Patrimônio e Paisagem Cultural
O conceito atual de patrimônio é recente, tendo surgido na Europa apenas no período
seguinte à Revolução Francesa de 1789. Àquela época, a população francesa depredava
edifícios e objetos que remetiam ao Antigo Regime, como palácios e objetos artísticos. O
governo revolucionário tomou para si a tarefa de salvaguardá-los e ressignificá-los, conferindo
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ao seu conjunto o papel de base material para a cultura nacional do Estado em formação.
Fez-se um esforço para construir a ideia de que os franceses eram um só povo, com uma só
língua, cultura e história, da qual o patrimônio seria testemunha. Esse modelo de tutela estatal
do patrimônio se difundiu por diversos países posteriormente, inclusive no Brasil, onde
influenciou a criação do IPHAN (CHOAY, 2006, p.17-28, 61-67; FONSECA, 2009, p.52-60;
FUNARI; PELEGRINI, 2006, p.3-5).
No início do século XX, o austríaco Alois Riegl elaborou a teoria dos valores, com uma
perspectiva distanciada, focada na percepção. Riegl considerou que todos os monumentos
têm dimensões histórica e estética e, adotando uma concepção de história centrada na ideia
de desenvolvimento e evolução, sua teoria levou à superação da noção de cânone e à
afirmação do valor específico de cada período (FONSECA, 2009, p.66-67). O conceito de
valores permanece relevante na prática preservacionista atual e geralmente é compreendido
como composto pelos valores culturais (de identidade, técnico ou artístico relativo, de
originalidade) e valores socioeconômicos (econômico, funcional, educativo, social, político). A
valoração dos bens é decorrente de um processo crítico que inclui a investigação e a
documentação e a conjugação das duas categorias de valores é fundamental para avaliar os
impactos que podem ter sobre os bens patrimoniais (FIGUEIREDO, 2008, p.87-90).
A atuação sobre o patrimônio hoje tem forte referência na teoria do Restauro Crítico,
desenvolvida principalmente no segundo pós-guerra por teóricos italianos como Pane, Bonelli
e Brandi. Para os autores, as intervenções decorrem dos valores de que o bem é portador
(identificados num processo crítico) e o ato criativo busca recompor a unidade potencial do
bem que carrega estes valores, demandando, a formulação de respostas específicas para
cada caso. Brandi, particularmente, coloca a necessidade de reconhecer na obra tanto a
dimensão física quanto a dupla instância histórica e estética, tendo esta última prevalência em
caso de eventuais tensões. Afirma, ainda, que a obra deve ser compreendida como
inseparável da sua paisagem circundante (FIGUEIREDO, 2008, p.83-87; KÜHL, 1998,
p.205-206).
Antes restrito a monumentos provenientes da arqueologia e da História da Arquitetura erudita,
após a 2ª Guerra Mundial o universo do patrimônio passou a incluir obras não monumentais
de usos, épocas e lugares distintos, como a produção dos “esquecidos”, das minorias, dos
países orientais e do chamado 3º mundo, através do reforço do seu valor cultural. Ocorreu
uma sobreposição das noções de bem patrimonial e bem cultural e a preservação passou a se
justificar pela ideia de direitos culturais. (CHOAY, 2006, p.12-15; FONSECA, 2009, p.52-53,
70-75).
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O período é marcado pela cooperação internacional, com a realização de encontros entre
profissionais de diversos países que produzem documentos chamados Cartas Patrimoniais,
objetivando a uniformização de discursos e práticas. Espécie de documento base do
ICOMOS, a Carta de Veneza, de 1964, incorporou diversos princípios do Restauro Crítico. O
texto reconheceu os valores histórico e estético dos bens, abrangeu também as obras
modestas, afirmou a necessidade de pensar o bem no seu contexto, estabeleceu diretrizes
para atuação e colocou a necessidade de fazer extensa documentação de todos os trabalhos.
É colocado que a preservação deve incidir sobre a dimensão histórica e também sobre a
estética, deve abranger o esquema de escala do entorno e deve sempre considerar o bem
associado ao seu contexto físico e histórico (FIGUEIREDO, 2008, p.88; ICOMOS, 2014,
p.1-4).
A substituição definitiva da terminologia “Patrimônio Histórico, Artístico e/ou Nacional” por
“Patrimônio Cultural” aconteceu na Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial,
Cultural e Natural, realizada em 1972 pela UNESCO. A Convenção incorpora a teoria dos
valores ao definir que o Patrimônio Cultural compreende os monumentos e conjuntos com
valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte e da ciência e os lugares
notáveis com valor excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou
antropológico (UNESCO, 2014, p.2).
Nas últimas décadas, fortaleceu-se a discussão acerca do conceito de Paisagem Cultural,
entendida como “[...] uma porção peculiar do território nacional, representativa do processo de
interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas
ou atribuíram valores“ (BRASIL, 2009, p.17). O caráter peculiar, especial, é o que faz uma
paisagem ser portadora de valores culturais. Uma das formas com que essa peculiaridade,
que lhe confere identidade, pode se fazer presente é por marcas inscritas no espaço. Essas
marcas são características morfológicas, produzidas em diferentes momentos históricos, que
se cristalizam no espaço e carregam o testemunho dessas diferentes interações do homem
com o meio natural ao longo do tempo. São, por isso, tempo passado, mas também tempo
presente por estarem inseridas na vida atual e a forma dessa inserção também é relevante
para seus conteúdos. A identidade da paisagem não reside apenas em sua forma, mas
também na maneira como a sociedade a apreende e vivencia (NASCIMENTO; SCIFONI,
2010, p.30-32).
A Avenida Frei Serafim
O Piauí teve colonização a partir do interior, centrada na pecuária, a partir do século XVII. Em
1852, deslocou-se a capital de Oeiras, no sudeste do estado, para Teresina, de modo a minar
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a polarização econômica de Caxias, no Maranhão, e facilitar o transporte de bens através da
navegação do Rio Parnaíba. (AFONSO, 2015a, p.218-224; COPLAN S.A., 1969, p.11-12;
FRANCO, 2015, p.68).
A Avenida Frei Serafim teve origem no último quartel do século XIX, com o início da
construção da Igreja São Benedito, na forma do caminho percorrido para buscar material para
a obra na margem do Rio Poti, fato testemunhado pelo Cruzeiro ainda de pé no centro da via,
próximo ao rio. Nas primeiras décadas do século XX, a ocupação no entorno da então
Travessa Frei Serafim era composta por chácaras e quintas. Na década de 1920, foi
construída a linha férrea na cidade, com traçado semicircular (em parte coincidente com a Av.
Miguel Rosa), que induziu uma ocupação desordenada em torno de vias radiais. A Estação
Ferroviária, de arquitetura com fortes traços ecléticos, foi edificada no cruzamento das
avenidas Miguel Rosa e Frei Serafim, onde era então o limite da área urbanizada da cidade
(COPLAN S.A., 1969, p.12; FRANCO, 2015, p.70-71).
A transformação seguinte na paisagem da avenida ocorreu durante o Estado Novo
(1937-1945), quando o discurso oficial de modernidade foi aplicado à forma urbana pelo Plano
de Embelezamento elaborado para Teresina nos anos 1940. A Frei Serafim recebeu o título
de Avenida dos Sonhos e passou por uma reforma que incluiu o alargamento das pistas,
arborização e alargamento do passeio central, meio-fio, terraplanagem, iluminação elétrica e
pavimentação. Em 1941, uma legislação específica para a avenida proibiu a construção de
edificações de um só pavimento e determinou a demolição, em até 180 dias, de todas as
casas de palha existentes nas quintas. Esta medida teve viés higienista, como outros planos
semelhantes elaborados em cidades brasileiras a partir da década de 1930, e foi levado a
cabo através de incêndios e demolições, muitas vezes, criminosas. Nesse contexto, a avenida
assumiu função residencial de habitantes com alto poder aquisitivo, que edificaram diversos
bangalôs de linhas ecléticas no trecho da avenida mais próximo da Igreja São Benedito, a
oeste. Posteriormente, surgiram também residências de tipologia Art Déco e Modernas,
dispostas ao longo da avenida numa sucessão quase cronológica de estilos no sentido
oeste-leste (FRANCO, 2015, p.71; NASCIMENTO, 2002, p.152).
Em 1957, foi inaugurada a Ponte Juscelino Kubitschek sobre o Rio Poti, situada na
extremidade leste da Frei Serafim. A obra impulsionou a ocupação da área a leste do rio, onde
já havia alguns empreendimentos imobiliários, além de consolidar a avenida como a via de
acesso para essa expansão. (COPLAN S.A., 1969, p.12).
Teresina passou por diversas modificações em seu espaço urbano nos anos 1970, que se
fizeram sentir também na Avenida Frei Serafim através do asfaltamento das duas pistas e de
novo paisagismo para seu canteiro central. O projeto, de autoria de Roberto Burle Marx,
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contou com nova arborização, espelhos d’água, fontes luminosas e nova iluminação. Nesse
período já são visíveis as sucessões de estilos arquitetônicos na avenida, com as linhas retas
e a plasticidade do Modernismo se fazendo presente nas fachadas em contraste aos bangalôs
ecléticos. A partir de então, ocorreram ao longo das décadas seguintes as primeiras
mudanças de uso em edificações da avenida e a instalação das sedes de órgãos públicos
como a Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel) e a Delegacia Regional do
Trabalho (FRANCO, 2015, p.71-72). A última reforma da avenida aconteceu em 2007, quando
a Prefeitura Municipal retirou as fontes e espelhos d’água, refez a pavimentação do passeio,
implantou rampas para acessibilidade, instalou novos bancos e plantou novas árvores, além
de ter alargado o leito carroçável da via em alguns trechos.
Atualmente, a avenida apresenta uso comercial e institucional na quase totalidade das suas
edificações. Após o primeiro movimento de expansão da ocupação para o leste, em direção
ao Rio Poti, iniciou-se também o processo de mudança de uso do trecho de ocupação mais
antiga, em que diversas obras foram demolidas para dar lugar a novas edificações, como
supermercados, hotel e panificadoras. No trecho entre a Igreja São Benedito e a Avenida
Miguel Rosa, em que se observa a situação de avanço cronológico e estilístico das
edificações, é possível observar que o casario eclético remanescente apresenta exemplares
bem conservados, alguns mesmo sem nenhuma descaracterização na fachada, ainda que
todos (exceto o palácio episcopal) tenham passado por adaptação de uso. Já as casas de
traços mais próximos do Modernismo sofreram mais alterações em suas fachadas e
volumetria, um possível desdobramento do fato de este patrimônio carecer do valor de
ancianidade, como descrito por Riegl. Sua aparência não evoca o mesmo sentido de
distanciamento no tempo que as casas ecléticas, o que contribui negativamente para sua
preservação.
Ao longo da via, a Avenida Frei Serafim guarda diversas marcas da passagem do tempo e do
desenvolvimento da relação da sociedade com aquele espaço, que constituem o componente
“físico” da paisagem cultural. A Igreja São Benedito e o cruzeiro no canteiro central, já próximo
ao Rio Poti são testemunho da gênese da via; a Estação Ferroviária faz lembrar da época em
que esse modal de transporte fazia parte do cotidiano da população e a Avenida Miguel Rosa
constituía o limite leste da malha urbana; as casas ecléticas são remanescentes da ocupação
pela elite da época estadonovista; o Hospital Getúlio Vargas e a configuração da caixa da rua
com o largo passeio marcam a época da “avenida dos sonhos” da década de 1940; as casas
de linhas Art Déco e Modernistas, dispostas em direção ao leste, demonstram a ocupação
progressiva da via; o Edifício Chagas Rodrigues marca o período de modernização da
administração da cidade iniciado nos anos 1950; o largo passeio central arborizado, com
desenhos em paralelepípedos portugueses no piso e os altos postes de iluminação são
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remanescentes da ampla reforma da década de 1970; os novos edifícios de vários
pavimentos, como a sede da Embratel e o Metropolitan Hotel marcam a mudança de usos do
primeiro trecho da avenida, nem sempre com a devida atenção ao patrimônio; os
estabelecimentos comerciais mais próximos do Rio Poti, como a Loja Automaq e a sede da
Construtora Parente, marcam a ocupação mais recente; as novas áreas de convivência onde
antes havia as fontes luminosas no passeio central foram acrescentados na reforma de 2007.
Figura 3 – Metropolitan Hotel, residência de traços Modernos e residência de traços ecléticos,
respectivamente, ilustrando a sequência estilística e cronológica das edificações da Frei Serafim;
perspectivas da paisagem da avenida.
Fontes: Google Street View, 2016; Perspectivas elaboradas pelos autores.
Com relação ao aspecto da identidade da paisagem presente na forma como a sociedade
apreende e vivencia aquele espaço, Viana e Sousa realizaram em 2005 um estudo em que
investigaram a relação de usuário da avenida com aquele espaço. Segundo os autores, os
aspectos subjetivos mais citados foram o de “[...] marco histórico, cartão postal e símbolo da
cidade, um local de manifestações culturais, aconchegante, receptivo e belo, onde o novo e o
antigo convivem harmonicamente” (VIANA; SOUSA, 2005, p.7). Os elementos físicos mais
presentes na imagem da avenida são os de “[...] um corredor, uma via de acesso, interligação,
a ‘espinha dorsal’, um ponto de convergência, concentração ou limite, um marco urbanístico,
arquitetônico e de desenvolvimento da cidade, um local de passeio, um corredor verde”
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(VIANA; SOUSA, 2005, p.8). Os elementos que mais chamam a atenção dos usuários da
avenida são as edificações, o cruzeiro, a arborização e o mobiliário urbano; os edifícios mais
citados são o Colégio Sagrado Coração de Jesus, o Palácio Episcopal, o Hospital Getúlio
Vargas, a sede do DER-PI, a sede do 2º Batalhão de Engenharia de Construção (2º BEC), o
Convento São Benedito, o Metropolitan Hotal e as diversas edificações ecléticas (VIANA;
SOUSA, 2005, p.8-9). Esse trabalho, ainda que exploratório, demonstra que a paisagem
cultural constituída pela Avenida Frei Serafim tem grande relevância simbólica para a
população e, dentre outras edificações, o Edifício Chagas Rodrigues constitui um marco
bastante significativo na via, caráter que se busca reconhecer e evidenciar na presente
pesquisa através de uma reflexão mais aprofundada sobre ele.
O Edifício Chagas Rodrigues (DER-PI)
O Departamento de Estradas de Rodagem do Piauí (DER-PI) é uma autarquia estadual que
gere o transporte rodoviário, sediada no edifício Chagas Rodrigues, que ocupa uma quadra no
cruzamento das avenidas Frei Serafim e Miguel Rosa.
O edifício teve seu projeto desenvolvido em 1955 pelo arquiteto carioca Maurício Sued,
graduado pela Faculdade Nacional de Arquitetura (FNA). De grande importância histórica
para a cidade de Teresina, a edificação é considerada o primeiro exemplar da arquitetura
moderna no Piauí, apresentando todos os princípios definidos por Le Corbusier: pilotis, planta
e fachada livres da estrutura, mas adaptados ao clima tropical através do emprego de
cobogós na fachada oeste e de brises e esquadrias recuadas na fachada leste. O edifício em
lâmina implantado na direção norte-sul é a situação mais desfavorável possível numa região
equatorial, em termos de conforto térmico, por maximizar a insolação. O recuo das salas em
relação às fachadas e o emprego das barreiras à insolação são uma resposta a este fator.
O prédio é um exemplo característico da chamada Escola Carioca, ramo da arquitetura
moderna brasileira influenciado por Le Corbusier. Seu projeto apresenta volumetria prismática
simples, marcada pela pureza das formas e por eixos bem definidos, com configuração de um
bloco retangular. Possui fachadas longitudinais a leste e a oeste e encontra-se inserido na
malha urbana, no centro da cidade. Sua estrutura é caracterizada pelo uso do concreto
armado, com o bloco assentado sobre uma sequência de pilotis, deixando o pavimento térreo
livre. A entrada principal, em sua fachada frontal, é marcada por uma esbelta marquise em
concreto armado, jardim e calçada com o desenho de uma palma de carnaúba (palmeira
símbolo da região) em paralelepípedo português. A escada helicoidal, que dá acesso aos 3
pavimentos, fica próxima ao centro da planta e rompe a ortogonalidade da edificação. Ainda
no térreo, o prédio conta com um painel artístico, característica comum nos prédios
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Modernistas institucionais na cidade. De autoria do artista Genes Celeste Soares, a obra
retrata o modo de vida sertanejo piauiense na mata e os carnaubais, além de um arquiteto em
sua prancheta e alguns elementos, como uma motoniveladora, que remetem a um contexto
de construção e modernidade. Sua cobertura é de laje recoberta por telhas de fibrocimento,
sustentadas por treliças de madeira. Todas essas características levam o edifício Chagas
Rodrigues a guardar semelhança com a arquitetura produzida poucos anos depois nas
superquadras de Brasília. Sua significação foi reconhecida pelo governo do Estado, que
realizou seu tombamento a nível estadual em 1997.
Figura 4 – Fachadas oeste, leste e norte; corredor interno da fachada oeste; detalhe dos brises e
esquadrias da fachada leste; detalhe da escada helicoidal.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Em visita realizada no dia 28 de junho de 2016 ao Edifício Chagas Rodrigues, foi feito
levantamento fotográfico e coleta de informações com funcionários do órgão, de modo a
apurar e registrar seu atual estado de conservação e as patologias presentes. A estrutura do
edifício encontra-se íntegra e os danos existentes afetam, em sua maioria, os elementos de
revestimento e fechamento.
A fachada frontal, voltada para a Avenida Frei Serafim, possui rachaduras no reboco e
pichações. O letreiro com a sigla do DER – PI, em bronze, foi retirado no mandato do
governador Zé Filho para permitir a colocação de um painel do Governo do Estado e nunca foi
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recolocado. Segundo um servidor, o letreiro foi perdido e não existem planos para refazê-lo. A
fachada oeste do edifício, voltada para a Rua Dezenove de Novembro, apresenta problemas
no revestimento, como perda de reboco. A fachada leste, voltada para a Avenida Miguel Rosa,
é uma das mais prejudicadas. Sua parede apresenta umidade e, por isso, manchas e perda
de trechos da pintura. Fios elétricos estão expostos, gerando poluição visual e riscos à
segurança. A pintura dos brises está desbotada e descascando. A fachada sul não apresenta
problemas consideráveis, observando-se apenas problemas na pintura, algumas rachaduras
no reboco e oxidação da tubulação exposta. A laje sobre o térreo, incluindo a da marquise,
apresenta pontos de perda do material, expondo a armadura do concreto à oxidação e
podendo, a longo prazo, prejudicar a estabilidade estrutural da edificação.
As pastilhas que revestem os pilares no térreo apresentam manchas e em um deles, situado
sob a marquise na fachada frontal, observa-se a perda de uma área considerável do
revestimento, expondo o substrato de fixação. Ainda no térreo, o painel do artista plástico
Genes Celeste Soares possui falhas ocasionadas por perda da pintura. Não foram obtidas
informações concretas sobre uma possível restauração. A escada helicoidal está em bom
estado.
O auditório não apresenta danos em sua estrutura, mas encontra-se sem condições de uso.
Observa-se a infestação de cupins, tanto no interior quanto no exterior, e extensos danos
causados pela umidade. Segundo informações de funcionários, o anexo foi transferido à
Secretaria da Administração e Previdência.
Para sanar os inúmeros problemas apresentados pelo edifício, dois projetos de reforma já
foram realizados, tendo sido o segundo aprovado pelos órgãos competentes por apresentar
custo mais baixo e adequação às normas de proteção ao patrimônio que incidem sobre ele. O
projeto prevê reparação dos danos levantados, como pintura das fachadas, pintura do letreiro,
reparo de esquadrias, reposição de pastilhas nos pilares e reforço de guarda corpo e
corrimãos, mas sem alterações substanciais que descaracterizariam o bem. A mudança mais
substancial na arquitetura do edifício é a construção de um espaço isolado, envidraçado, para
a permanência do vigilante, nas proximidades do painel artístico do térreo. Coloca-se a
necessidade de atentar à preservação das condições de visibilidade da obra de arte, que pode
ser prejudicada por esta inserção. A reforma faz-se necessária para a preservação e
conservação do edifício, devido à sua importância histórica para a cidade. Não existe ainda
uma data definida para o início das obras.
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Considerações finais
Ao longo do trabalho, foi possível perceber novas dimensões da paisagem cultural da Avenida
Frei Serafim, tanto no que diz respeito às marcas físicas deixadas ao longo do seu
desenvolvimento, como edificações de diferentes estilos e épocas, quanto na imagem que os
usuários da via fazem, identificando os aspectos mais representativos para eles. Ficou clara a
importância da avenida para a cidade, nos âmbitos funcional e simbólico, e a do Edifício
Chagas Rodrigues enquanto marco importante no conjunto da via.
A sede do DER-PI é significativa tanto como obra arquitetônica esteticamente relevante,
quanto como documento histórico, testemunha de um momento singular da história da cidade,
de modernização das instituições e de chegada da Arquitetura Moderna ao estado através da
Escola Carioca, cujas características técnicas e estéticas estão ali presentes. O trabalho
identificou, reconheceu e registrou estes aspectos relevantes do edifício, além do seu estado
de conservação e do papel que cumpre na realidade do contexto da avenida.
O patrimônio oriundo da produção do Movimento Moderno tem sido reconhecido, estudado e
recebido medidas de preservação há pouco tempo, realidade ainda mais pronunciada em
Teresina. Além disso, a questão do reconhecimento da paisagem cultural e da relação de
edifícios significativos com ela também tem estudo incipiente na realidade local. Buscou-se,
com este trabalho, contribuir para a produção sobre o tema no Piauí e em Teresina em
particular, promovendo o reconhecimento de bens patrimoniais importantes e das suas
inter-relações, na perspectiva de sua apropriação e preservação.
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