Artigo 03

Propaganda
Artigo Original
Perfil epidemiológico da mortalidade por câncer
de laringe em Minas Gerais
Epidemiological profile of mortality from cancer of the
larynx in Minas Gerais
Resumo
Introdução: O câncer de laringe é uma das mais importantes
neoplasias em todo o mundo. Assim estudos epidemiológicos
sobre mortalidade são importantes, pois permitem planejar ações
de atenção à saúde. Objetivo: Estudar a evolução das mortes por
câncer de laringe no Estado de Minas Gerais no sexênio 20052010 assim como traçar o perfil epidemiológico da mortalidade
por câncer de laringe no período estudado. Metodologia: estudo
descritivo, de corte transversal. Consideraram-se os óbitos por
câncer de laringe em Minas Gerais no período de 2005 a 2010,
obtidos do Sistema de Informação sobre Mortalidade. Foram
analisados por meio da estatística descritiva e os resultados
apresentados em gráficos e tabelas. Resultados: Ocorreram 2.086
óbitos por câncer de laringe em Minas Gerais entre os anos 2005
e 2010, taxa bruta de mortalidade de 2,32 por 100.000 habitantes.
Não ocorreram variações significativas nas taxas de mortalidade
nesse período. O perfil predominante foi de homens, negros,
faixas etárias mais elevadas, casados, menor escolaridade, no
hospital e residentes nas regiões Centro sul, oeste e Sudeste. A
mortalidade no sexo masculino é significativamente maior que no
sexo feminino. Conclusão: Ocorreu estabilidade na mortalidade
entre os sexos e homogeneidade entre as macrorregiões.
Descritores: Neoplasias Laríngeas; Mortalidade; Neoplasias.
INTRODUÇÃO
O câncer configura-se como importante problema
de saúde pública em todo o mundo, especialmente nos
países em desenvolvimento1. Atualmente o câncer é
responsável por aproximadamente 7 milhões de óbitos
no mundo2. No ano de 2005, o câncer foi responsável
por 13% de todos os óbitos ocorridos mundialmente,
sendo 70% deles ocorreram em países de baixa renda.
No Brasil, atualmente os óbitos por câncer representam
10,3% do total de mortes, ficando atrás somente das
doenças cardiovasculares3.
Fabricio de Andrade Galli 1
Vanessa Ribeiro Orlando Galli 2
Selme Silqueira de Matos 3
Vinicius Antunes Freitas 4
Abstract
Introduction: cancer of the larynx is one of the most important
worldwide neoplasms. Epidemiological studies on mortality are
important because they allow you to plan actions of health care.
Objective: to Study the evolution of laryngeal cancer deaths
in the State of Minas Gerais in 2005-2010 Sexennium so as to
trace the epidemiological profile of mortality from cancer of the
larynx in the studied period. Methodology: descriptive, crosssectional study. Considered themselves the deaths from cancer
of the larynx in Minas Gerais in the period from 2005 to 2010,
obtained the information system on mortality. Were analyzed
through descriptive statistics and the results presented in charts
and tables. Results: there were 2,086 deaths from cancer of the
larynx in Minas Gerais between the years 2005 and 2010, crude
mortality rate of 2.32 per 100,000 inhabitants. There were no
significant variations in mortality rates between 2005 and 2010.
Male mortality is significantly higher than in females. The profile
was men, blacks, higher age groups, married, less schooling
in hospital and residents in the Central South, West and East.
Conclusion: stability in mortality Occurred between sexes and
homogeneity between the macro-regions.
Key words: Laryngeal Neoplasms; Mortality; Neoplasms.
As estimativas mundiais de casos novos de câncer
apontam que no ano de 2020, pode ocorrer aumento
de 50% nos casos desta doença, identificando-se 15
milhões de casos novos, dos quais 60% ocorrerão em
países em desenvolvimento 4,1.
Neste contexto, o câncer de laringe (CL) destacase como um das mais importantes neoplasias em todo
o mundo. Países como França, Uruguai, Espanha,
Argentina, Itália, Cuba, Brasil, Colômbia e Grécia
apresentam os maiores coeficientes de mortalidade por
câncer de laringe no mundo5. No Brasil, o CL representa
aproximadamente 25% de todas as neoplasias de
1)Especialista. Médico
2)Especialista em Otorrinolaringologia e Otologia. Médico Otorrinolaingologista.
3)Doutorado em Enfermagem. Chefe Departamento de Enfermagem Básica da Escola de Enfermagem da UFMG.
4)Especialista Otorrinolaringologista e Cirurgião de Cabeça e Pescoço. Médico Otorrinolaringologista e Cirurgião de Cabeça e Pescoço.
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Belo Horizonte / MG – Brasil.
Correspondência: Fabricio de Andrade Galli - Rua Teixeira Soares 580, Ap. 208 - Bairro Santa Tereza - Belo Horizonte / MG – Brasil - CEP: 31015-095 - Telefone: (+55 31) 99347-0009.
Artigo recebido em 11/07/2016; aceito para publicação em 23/09/2016; publicado online em 15/10/2016.
Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há.
48 R�������������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.45, nº 2, p. 48-52, Abril / Maio / Junho 2016
Perfil epidemiológico da mortalidade por câncer de laringe em Minas Gerais.
cabeça e pescoço e 2% de todos os tumores malignos6.
Além disso, é um dos principais tumores das vias aéreas
superiores7.
O CL é mais frequente no sexo masculino, com maior
incidência na quinta e sexta décadas de vida. Para os
homens, no Brasil a taxa de mortalidade por CL é de 4,6
por 100.000, e entre as mulheres, a taxa de mortalidade
é de 0,4 por 100.000, sendo registrado 3.500 óbitos
anualmente por esta neoplasia5,7,8.
No estado da Paraíba, ocorreu aumento na taxa de
mortalidade por CL de 0,42 por 100.000 em 1996 para
1,48 por 100.000 habitantes em 20078. No município de
São Paulo foi registrada uma taxa de mortalidade por
CL de 7,4/100.000 habitantes9. Já em Minas Gerais,
entre os anos de 2001 e 2005 a taxa de mortalidade por
CL para homens foi de 3,66/100.000 habitantes e entre
as mulheres foi de 0,53/100.000 habitantes, conforme
publicação do Atlas de Mortalidade por Câncer de
Minas Gerais.
Dentre os fatores de risco para CL, destacamse o tabagismo e etilismo como os principais fatores
etiológicos6. Sabe-se que o risco de desenvolver esta
doença é 14,3 vezes maior nos pacientes tabagistas
do que naqueles que não fazem uso de tabaco8. O
tabagismo é considerado grande problema de saúde
pública, de acordo com a organização mundial de saúde,
pois sabe-se o fumo por longa data, aumenta o risco de
morte em 20 a 30 vezes10.
Estudos epidemiológicos sobre mortalidade por
câncer são de grande importância, uma vez que
permitem avaliar real situação da sociedade, assim
como analisar e implementar estratégias e ações
em saúde de forma a causar impacto na redução da
mortalidade pela patologia. Desta maneira, este estudo
tem como objetivo estudar a evolução da ocorrência
de mortes por câncer de laringe no Estado de Minas
Gerais no sexênio 2005-2010 assim como traçar o
perfil epidemiológico da mortalidade por CL no período
estudado.
METODOLOGIA
Trata-se de estudo descritivo, de corte transversal, no
qual considerou óbitos por câncer de laringe no período
de 2005 a 2010 em Minas Gerais. Esse Estado está
situado na região sudeste do país, apresenta território
de 586.520,368 Km2, densidade demográfica de 33,41
habitantes/Km2, população de 19.597.330 habitantes,
sendo 9.641.877 homens e 9.955.453 mulheres, possui
853 municípios e é dividido em 13 macrorregiões de
saúde, a saber: Centro, Centro Sul, Jequitinhonha, Leste,
Leste do Sul, Sul, Oeste, Nordeste, Sudeste, Noroeste,
Norte, Triângulo do Sul e Triângulo do Norte.
A população do estudo constituiu-se dos óbitos de
residentes em Minas Gerais no período de 2005 a 2010,
sendo a causa básica do óbito Neoplasia de laringe,
classificado por meio da décima revisão da Classificação
Internacional de Doenças (CID 10) Código C32.
Galli et al.
A coleta de dados ocorreu a partir das informações
disponíveis no Sistema de Informação sobre Mortalidade
(SIM), integrante do Sistema de informação do Ministério
da Saúde DATASUS, banco de dados do Sistema
Único de Saúde (SUS). Os dados populacionais foram
obtidos por meio do censo de 2000 e de projeções
intercensitárias de 2005 a 2010 da população residente
em Minas gerais pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Para seleção das variáveis estudadas
foram consideradas a disponibilidade e a compleitude
das mesmas no banco de dados do SIM, tais como:
faixa etária, situação conjugal, sexo, escolaridade, local
de ocorrência assim como as macrorregiões sanitárias.
Os dados foram estratificados de acordo com o sexo e
as faixas etárias em intervalos decenais iniciando em 20
a 29 aos até 80 anos ou mais de idade.
As taxas de mortalidade bruta foram calculadas
de acordo com o gênero, faixa etária, raça/cor e
macrorregião de saúde, dividindo-se o número de
óbitos pela população do meio do ano multiplicando-se
o resultado por 100.000. Para este calculo utilizou-se o
programa Excel 7.0.
A análise dos dados ocorreu por meio da
estatística descritiva, apresentando-se os resultados
em tabelas e gráficos que mostram frequência
absoluta, números e taxas de mortalidade. Para os
cálculos utilizou-se o software Excel versão 2010 e o
programa estatístico SPSS.
RESULTADOS
Ocorreram 2.086 óbitos por CL em Minas Gerais entre
os anos 2005 e 2010 e uma taxa bruta de mortalidade de
2,32 por 100.000 habitantes. Entre os homens ocorreram
1.834 óbitos, e entre as mulheres 252 óbitos. O que
correspondem a uma taxa de 3,45 óbitos por 100.000
homens e 0,46 óbitos para cada 100.000 mulheres.
De acordo com o Gráfico 1, pode-se observar a
evolução da mortalidade por câncer de laringe em
Minas Gerais ao longo do período do estudo. As taxas
de mortalidade apresentadas demonstram que não
ocorreram variações significativas entre 2005 e 2010. Os dados permitem verificar que houve uma
ascendência no número de mortes do ano 2005 para o
ano de 2006 e em seguida uma queda no ano de 2007,
seguida de uma rápida ascensão de 2007 para 2009.
Pode-se observar ainda no Gráfico 1, que as menores
taxas de mortalidade por CL ocorreram nos anos de 2005
e 2007 (1,85/100.000) e a maior taxa de mortalidade em
2009 (2,10 por 100.000 habitantes).
O Gráfico 2 representa a análise considerando-se
a variável sexo. Demonstra-se assim, que a intensidade
das taxas de mortalidade por câncer de laringe no sexo
masculino é significativamente maior no do que no sexo
feminino, representado respectivamente no ano de 2010,
por 3,37/100.000 e 0,46/100.000. Porém, pode-se verificar
que não há uma tendência linear na proporção de mortes
entre nenhum dos sexos: (p: 0,608); (H: 2,262).
Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.45, nº 2, p. 48-52, Abril / Maio / Junho 2016 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 49
Perfil epidemiológico da mortalidade por câncer de laringe em Minas Gerais.
Galli et al.
Gráfico 1. Taxa de mortalidade (2005 - 2010) para Câncer de Laringe.
Minas Gerais, Brasil. - Fonte: Dados da pesquisa.
Gráfico 2. Proporção de óbitos (2005 - 2010) para Câncer de Laringe
distribuído de acordo com o sexo. Minas Gerais, Brasil. - Fonte: Dados
da pesquisa.
Gráfico 3. Proporção de óbitos (2005-2010) para Câncer de Laringe
distribuído de acordo com a escolaridade. Minas Gerais, Brasil. - Fonte:
Dados da pesquisa
Gráfico 4. Taxa média de mortalidade (2005 - 2010) para Câncer de
Laringe distribuído de acordo com a faixa etária. Minas Gerais, Brasil.
- Fonte: Dados da pesquisa
A análise do Gráfico 3 evidencia a descrição dos
dados referentes à variável escolaridade, no qual
pode-se verificar que os registros classificados como
ignorados corresponderam a maior proporção dos óbitos
por câncer de laringe (41,3%). Ao desconsiderarmos
os registros ignorados, observa-se que os grupos sem
nenhum grau de escolaridade (10,1%), de 1 a 3 anos
de escolaridade (21,5%) e 4 a 7 anos de escolaridade
(18,5%) corresponderam as maiores proporções de
óbitos por câncer de laringe ao longo dos anos do
estudo.
Analisando os dados das taxas de mortalidade
referentes às faixas etárias, observa-se que a mortalidade
por câncer de laringe em Minas Gerais entre os anos
2005 e 2010 foi mais frequente na faixa etária 80 anos ou
mais, com taxa média de mortalidade de 17,43/100.000
habitantes ao longo dos anos estudados. Verificou-se
aumento nas taxas de mortalidade por câncer de laringe
a partir da faixa etária de 40 a 49 anos (Gráfico 4).
Dos 2086 óbitos por câncer de laringe ocorridos em
Minas Gerais do ano 2005 a 2010, 48,32% ocorreram em
indivíduos casados, seguidos dos solteiros com 22,68%
e viúvos (14,04%), separados correspondendo a 8,05%
e 6,72% dos registros como ignorados. Em relação ao
local de ocorrência dos óbitos, 72,34% ocorreram em
unidade hospitalar, seguidos de 19,42% em domicílio e
6,1% dos óbitos ocorridos em outro estabelecimento de
saúde. Os registros ignorados corresponderam a apenas
dois casos, ou seja, 0,09% dos óbitos.
Em relação a variável raça/cor, identificou-se maior
proporção de câncer de laringe entre os indivíduos
negros apresentando taxa média de mortalidade de
2,32/100.000, seguidos pelos indivíduos brancos com
taxa média de mortalidade de 1,75/100.000 habitantes e
para os indivíduos pardos foram encontrados as menores
taxas de mortalidade no período estudado, apresentando
taxa média de mortalidade de 1,43/100.000 habitantes.
Não foram encontradas variações significativas na
mortalidade ao longo dos anos estudados em relação à
raça/cor.
Ao analisar a mortalidade de acordo com as
macrorregiões de saúde de Minas gerais, nota-se uma
homogeneidade, com poucas variações nas taxas de
mortalidade. Além disso, observou-se que não ocorreram
variações significativas nas taxas de mortalidade por
CL ao longo dos anos do estudo. As maiores taxas de
mortalidade ocorreram nas macrorregiões Centro sul que
corresponde aos municípios (Barbacena, São João Del
Rei, Congonhas / Conselheiro Lafaiete), oeste (Divinópolis,
Pará de Minas, Itaúna, Formiga, Bom Despacho e Campo
Belo) e sudeste (Juiz de Fora, Bicas, Muriaé, Santos
Dumont, Cataguases, Ubá e Além Paraíba), apresentando
taxas médias de mortalidade maior do que 2,0/100.000
habitantes. A menor taxa de mortalidade foi encontrada
50 R�������������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.45, nº 2, p. 48-52, Abril / Maio / Junho 2016
Perfil epidemiológico da mortalidade por câncer de laringe em Minas Gerais.
Galli et al.
Tabela 1. Taxa de mortalidade média por câncer de
laringe por 100.000 habitantes, de acordo com as
macrorregiões de saúde do Estado de Minas Gerais,
Brasil, no período de 2005 a 2010.
Verificou-se que no ano de 2000, as maiores prevalências
relacionadas ao tabaco no mundo foram encontradas
nos homens, mesmo notando-se diminuição entre os
gêneros nos países em desenvolvimento (37% entre
homens e 21% entre mulheres). Os danos causados
Macrorregião de Saúde
TM
pelo tabaco são inúmeros, destacam-se as doenças
1,8
Centro
cardiovasculares, neoplasias e doenças do sistema
2,58
Centro Sul
respiratório. O fumo é responsável por 21% de todas as
0,57
Jequitinhonha
mortes por câncer no mundo, chegando próximo de 30%
1,6
Leste
dos óbitos nos países desenvolvidos e 20% em países
1,76
Leste do Sul
em desenvolvimento12.
Observou-se na mortalidade por câncer de laringe
1,77
Sul
em Minas Gerais que esta apresentou maior frequência
2,07
Oeste
no pacientes com baixa escolaridade, o que pode ser
1,04
Nordeste
atribuído ao menor grau de conhecimento sobre as
2,58
Sudeste
formas de prevenção, como a relação entre tabaco,
1,4
Noroeste
alcoolismo e o desenvolvimento do câncer. Além disso,
1,18
Norte
sabe-se que o tabagismo é mais prevalente naqueles
1,4
Triângulo do Sul
indivíduos que apresentam menor nível educacional8.
1,75
Triângulo do Norte
O comportamento das taxas de mortalidade
por câncer de laringe, segundos os grupos etários
Fonte: Dados da pesquisa.
relacionados às faixas do estudo, apontou um aumento
significativo dessas taxas a partir do grupo etário 40na macrorregião de Jequitinhonha, correspondendo a 49 anos, atingindo maior taxa de mortalidade naqueles
com 80 anos ou mais. É importante ressaltar, que
0,57/100.000 habitantes (Tabela 1).
a concentração da maior proporção de óbitos nas
faixas etárias mais avançadas é esperada, pois com o
DISCUSSÃO
processo de transição epidemiológica há aumento na
No presente estudo não foram observados diferenças mortalidade por doenças e agravos não transmissíveis,
significativas nas taxas de mortalidade por câncer de como por exemplo, o câncer de laringe. Assim, com o
laringe nos anos estudados. Em Pernambuco entre os aumento do número de idosos e da expectativa de
anos 2000 e 2004, observou-se o mesmo que em Minas vida, as doenças como as neoplasias tornam-se mais
Gerais, não ocorrendo aumento significativo nas taxas frequentes13. Lembrando-se também, que a sustentação
de mortalidade por CL11. Por outro lado, na Paraíba da mortalidade em faixas etárias mais elevadas, deve-se
verificou aumento significativo no padrão de mortalidade ao fato do uso do tabaco nas décadas passadas10.
Encontrou-se maior frequência de óbitos por CL
por esta neoplasia8.
As maiores taxas de mortalidade foram encontradas em indivíduos negros. Entretanto, um estudo feito por
no sexo masculino, no entanto não há uma tendência Bezerra e Vilela em 2009 no Estado de Pernambuco
linear na proporção de óbitos entre os sexos, o que sobre mortalidade por câncer de laringe no estado de
é e evidenciado por estabilidade na evolução da Pernambuco, entre os anos 2000 e 2004, observou-se
mortalidade em ambos os sexos nos anos estudados. maior mortalidade nos pacientes pardos11.
Com relação à situação conjugal, as maiores taxas de
Ocorreu um discreto aumento na proporção de óbitos
mortalidade
foram identificadas nos pacientes casados.
entre as mulheres do ano de 2005 a 2010, o que pode
Não
foram
observadas alterações significativas nas
ser explicado devido ao fato que nas últimas décadas
proporções
ao
longo dos anos estudados, sendo que os
as mulheres apresentaram maior exposição ao tabaco,
casados
mantiveram
as maiores proporções em todos
reflexo das mudanças no estilo de vida e padrão
8
os
anos.
Tal
fato
pode
ser atribuído, a qualidade de vida
comportamental .
desses
pacientes,
como
menor uso de tabaco e álcool.
A porcentagem entre os pacientes que fumam e
A maioria dos óbitos ocorreram em unidades
que possuem carcinoma de laringe é de 97%, sendo o
tabaco associado diretamente à mortalidade por câncer hospitalares, tal fato pode ser atribuído as complicações
e necessidades de internações em hospitais de alta
de laringe5.
No Brasil a maior prevalência de tabagismo é complexidade, inerentes a gravidade dos pacientes e as
encontrada entre os homens, porém em algumas complicações do câncer.
Em relação às macrorregiões de saúde, Centro sul,
regiões do sul e sudeste do país a prevalência do fumo
entre as mulheres, aproxima-se da identificada nos oeste e sudeste foram registrados as maiores proporções
homens. Espera-se que no ano de 2030 o uso do tabaco de óbitos por CL, e a macrorregião de Jequitinhonha
deverá ser a maior causa isolada de morte, estimando- a menor proporção de óbitos por esta neoplasia. As
se aproximadamente 10 milhões de morte por ano10. demais regiões apresentaram maior homogeneidade em
Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.45, nº 2, p. 48-52, Abril / Maio / Junho 2016 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 51
Perfil epidemiológico da mortalidade por câncer de laringe em Minas Gerais.
relação às taxas de mortalidade por CL. As regiões que
apresentaram maior taxa de mortalidade por CL estão
localizadas próximas a capital do estado ou mesmo
possuem centros oncológicos como o município de Juiz
de Fora localizado na macrorregião Sudeste e o município
de Divinópolis localizado na macrorregião oeste. Portanto,
supõe-se que nestas regiões as notificações dos casos
de óbitos por CL podem ser de melhor qualidade, uma
vez que os pacientes possivelmente internados em
hospitais especializados quando atestado o óbito. A
macrorregião centro onde se localiza os municípios
de Belo Horizonte, Curvelo, Sete Lagoas, Vespasiano,
Contagem, Betim e outros municípios apresentaram taxa
de mortalidade de 1,8/100.000, tais municípios possuem
acesso mais fácil aos serviços de saúde, assim como
centros especializados em câncer, por isso talvez tenha
maior número de notificações por CL.
Já as regiões mais distantes, como Jequitinhonha
no qual foi identificada a menor taxa de mortalidade,
não possuem serviços especializados em oncologia
nas suas proximidades, sendo assim muitas vezes o
óbito declarado por outra causa, sem mesmo ter feito o
diagnóstico de câncer de laringe para estes pacientes.
A partir dos dados identificados nesta pesquisa,
ressalta-se a importância dos estudos epidemiológicos,
uma vez que permitem conhecer o perfil da mortalidade
por câncer em determinada região e com isso, podem
contribuir para implementação de políticas e viabilizar
ações de saúde. Além disso, é importante salientar, que
mesmo os estudos com base em dados secundários
apresentando baixa qualidade na notificação dos
óbitos em determinadas regiões, tais dados são oficiais
e provenientes do Ministério da Saúde por meio do
DATASUS. Assim, mesmo contendo subnotificações
deve-se utilizar esses dados na implementação
de políticas de saúde. Além da importância da
conscientização dos profissionais para preenchimento
adequado dos atestados de óbitos e outros formulários
de notificações para fins de estudos científicos como
elaboração de artigos, assim como fornecer dados para
que o governo viabilize ações que possam melhorar a
atenção à saúde em seus diferentes níveis, assim como
melhoria da assistência prestada e na qualidade de vida
dos pacientes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo teve como objetivo estudar a evolução
da ocorrência de mortes por câncer de laringe no Estado
de Minas Gerais no sexênio 2005-2010 assim como
traçar o perfil epidemiológico da mortalidade por CL no
período estudado.
A avaliação dos óbitos por CL permitiu identificar
que a maior taxa de mortalidade ocorreu no ano de
2009 (2,1/100.000) o gênero que apresentou maior
mortalidade foi o sexo masculino, raça negra, nas faixas
Galli et al.
etárias mais elevadas, casados, nas escolaridades mais
baixas, no âmbito hospitalar e que residiam nas regiões
Centro sul, oeste e Sudeste.
Acrescentamos que toda essa perda humana
representa problemas emocionais imensuráveis, além
dos altos custos para os serviços de saúde da rede
privada e pública no Brasil.
Em muitas situações, esses óbitos ocorridos pelo
acesso tardio à assistência à saúde, necessário se
faz que os profissionais responsáveis invistam em
novos desafios como o uso de tecnologias adequadas
específicas na prevenção de câncer e principalmente na
orientação sistematizada à população bem como envidar
esforços para melhorar a qualidade dos registros vitais,
incluindo as causas de morte.
Ressalta-se ainda a importância de qualificar e
humanizar a assistência priorizando além-questões
biológicas também as psico sócio culturais.
REFERÊNCIAS
1. Cavalini LT, Cruz PS, Silva GM, Silva IF. Perfil da Assistência em um
Hospital Universitário: Informações do Registro Hospitalar de Câncer,
2000-2009. Revista Brasileira de Cancerologia 2012; 58(2): 153-61.
2. Brito LF, Silva LS, Fernandes DD, Pires RA et al. Perfil Nutricional
de Pacientes com Câncer Assistidos pela Casa de Acolhimento ao
Paciente Oncológico do Sudoeste da Bahia Rev Bras de Cancerol.
2012; 58(2): 163-71.
3. Fonseca AJ, Ferreira LP, Dalla-Benetta AC, Roldan CN et al.
Epidemiologia e impacto econômico do câncer de colo de útero no
Estado de Roraima: a perspectiva do SUS. Rev Bras Ginecol Obstet
2010; 32 (8):386-92.
4. Oliveira JC, Curado MP, Martins E, Moreira MAR. Incidência,
mortalidade e tendência do câncer de cavidade oral e orofaringe em
Goiânia de 1988 a 2003 Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço. 2007; 36
(2): 70 – 4.
5. Paré CA, Paré KE, Sanabria BVR, Tagle JF. Cancer de Laringe:
Revision. Rev. de Posgrado de la VIa Cátedra de Medicina. 2009;
(192): 17-22.
6. Pinto JA, Wambier H, Sonego TB, Batista FC et al. Lesões prémalignas da laringe: revisão de literatura. Rev. Bras. Cir. Cabeça
Pescoço. 2012; 41(1): 42-7.
7. Carvalho GB, Mannarini L, Kowalski LP. Neoplasia localmente
avançada de laringe na era da preservação de órgão: qual a melhor
estratégia terapêutica? Onco& 2011 abril/maio. Encontrado em: URL:
http://revistaonco.com.br/wp-content/uploads/2011/04/p28-35-cabecapescoco_Onco.pdf
8. Macena FCS, Godim ACSB, Oliveira LS, Bernardes IC et al.
Mortalidade por câncer de laringe no Estado da Paraíba nos anos de
1996 a 2007. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço. 2011; 40 (1): 12-6.
9. Brasil OC, Manrique D. O câncer de laringe é mais frequente do que
se imagina. Einstein. 2004; 2(3): 222-4.
10. Malta DC, Moura LM, Souza MFM, Curado MP et al. Tendência
da mortalidade do câncer de pulmão, traquéia e brônquios no Brasil,
1980-2003. J Bras Pneumol 2007; 33: 536-43. 11. Pernambuco LA, Mirella Bezerra M, Vilela R. Estudo da mortalidade
por câncer de laringe no estado de Pernambuco - 2000-2004. Braz J.
of Oto. 2009; 75(2): 222-7.
12. Oliveira AF, Valente JG, Leite IC. Aspectos da mortalidade atribuível
ao tabaco: revisão sistemática. Rev. Saúde Pública. 2008; 42 (2): 33545.
13. Scharamm JMA, Oliveira AF, Leite IC, Valente JG et al.. Transição
Epidemiológica e o estudo de carga de doença no Brasil. Ciência &
Saúde Col. 2004; 9(4): 897-908. 52 R�������������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.45, nº 2, p. 48-52, Abril / Maio / Junho 2016
Download