Pesquisa e desenvolvimento de radiofármacos de meiavida curta no CDTN Priscilla Brunelli Pujatti e Raquel Gouvêa dos Santos Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear – CDTN INTRODUÇÃO A riqueza da capacidade diagnóstica em Medicina Nuclear reside na diversidade de radiofármacos disponíveis. Radiofármacos são uma combinação de um componente radioativo ligado numa geometria bem definida a uma molécula que é responsável pela biodistribuição [1]. Para alguns agentes, tais como tecnécio e radioiodos, são os átomos em si que possuem as propriedades desejadas para a localização, dispensando assim um componente químico maior. Há um grande esforço em destinar radiofármacos para diagnósticos específicos e várias moléculas podem ser radiomarcadas, tanto as naturais quanto as sintéticas. Este trabalho descreve o desenvolvimento de um radiofármaco derivado de substância natural – uma enzima de um veneno serpente (enzima trombinalike de Lachesis muta muta) com atividade importante sobre a cascata de coagulação sanguínea – radiomarcada com 99mTc e 125I, e compara sua biodistribuição com a de três agentes – derivados de tecnécio e iodo – utilizados corriqueiramente como radiofármacos em Medicina Nuclear. OBJETIVO Implantar um protocolo de controle de qualidade das radiomarcações com tecnécio e iodo, bem como sintetizar um análogo radiomarcado da enzima trombina-like (TLE) com atividade biológica in vitro preservada e rendimento suficiente para permitir a determinação de seu perfil farmacocinético. METODOLOGIA A radiomarcação da TLE com 99m Tc e o controle de qualidade foram conduzidos conforme descrito por Novais et al. (2006) [2]. A radioiodinação da enzima foi realizada conforme descrito por Santos et al. (1999) [3], na presença de lactoperoxidase e H2O2. TLE nativa e radiomarcada com 99mTc e 125I foram então submetidas ao teste de atividade enzimática in vitro, conforme descrito por Erlanger et al. (1961) [4] e as enzimas ativas in vitro, juntamente com os radiofármacos puros de 99mTc, 99mTcO2, 125I, foram avaliadas quanto à biodistribuição após diferentes tempos de injeção (5 min-24h) em camundongos fêmeas da raça Swiss. RESULTADOS E CONCLUSÕES Foram padronizados os controles de qualidade radioquímico e fisiológicos (perfis de biodistribuição) de radiofármacos mais usados na Medicina Nuclear (radioiodo e 99mTc) em modelos animais. Estes protocolos poderão ser implantados na Unidade de Produção e Pesquisa de Radiofármacos do CDTN para avaliação da qualidade de novos radiofármacos que serão produzidos. Nossos resultados também mostraram que TLE pode ser radiomarcada por qualquer um dos radioisótopos testados, porém com maior eficiência pelo iodo-125 (88.5 + 4.5% na radiodinação e 48,20 + 5,4 na marcação com tecnécio-99m). Além disso, a incorporação do radioiodo pela enzima não alterou sua atividade biológica in vitro, fato observado quando esta foi marcada com tecnécio-99m. Portanto, a marcação com 99mTc não gerou um produto de qualidade que pudesse ser utilizado para avaliação farmacocinética e a marcação com iodo demonstrou ser a mais adequada para a molécula em estudo. Os estudos de biodistribuição da enzima radiomarcada demonstraram biotransformação hepática e curto tempo de meia-vida plasmática, propriedades desejáveis a qualquer radiofármaco. Esses estudos também mostraram que uma pequena porção da enzima é capaz de atravessar a barreira hematoencefálica. Existe um interesse especial na ação de enzimas TLE sobre o fibrinigênio em decorrência da possibilidade de seu uso como anticoagulante no tratamento de doenças tromboembólicas [5]. Para atuar sobre componentes sangüíneos é necessário que o fármaco permaneça tempo suficiente no leito vascular. TLE permanece em concentrações detectáveis no sangue por até seis horas, o que pode determinar seu efeito farmacológico anticoagulante e eficácia no tratamento de doenças tromboembólicas. Os estudos de biodistribuição também contribuem para a análise de farmacocinética e biodisponibilidade de um fármaco. Para o desenvolvimento de qualquer fármaco ou radiofármaco a determinação dos parâmetros farmacocinéticos é essencial [6]. Os principais parâmetros farmacocinéticos para cada um dos radiofármacos estudados e para a TLE estão listados na tabela 1. Tabela 1. Parâmetros farmacocinéticos dos radiofármacos estudados Meia-vida plasmática Volume de distribuição 125 54 min 8,96mL 125 46,5 min 18,87mL 99m 38 min 3,63mL 99m 60 min 43,86mL Radiofármaco I-TLE I Tc TcO2 Clearance (mL/min) 0,05 0,14 0,03 0,14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] VÉRTES, A.; NAGY, S.; ZOLTÁN, K. Handbook of nuclear chemistry. Netherlands: Kluwer Academic, 2003. v.4 [2] NOVAIS, C.M.; PUJATTI, P.B.; CASTRO, M.S.A.; SOARES, M.A.; SIMAL, C.; LIMA, M.E.; SANTOS, R.G. (2006). Technetium-99m radiolabeling of crotoxin as a tool for biodistribution studies. Journal of Radioanalytical and Nuclear Chemistry 269(3):591-595 [3] SANTOS, R.G.; DINIZ, C.R.; CORDEIRO, M. N.; LIMA, M.E. (1999). Binding sites and actions of Tx1, a neurotoxin from the venom of the spider Phoneutria nigriventer, in guinea pig ileum. Brazilian Journal of Medical and Biological Research (32):1565-1569. [4] ERLANGER, B.E.; COHEN, W.N. (1961). The preparation and properties of two new chromogenic substrates of trypsin. Archives of Biochemistry and Biophysics 95: 271-278 [5] SILVA, J.A.A.; MURAMOTO, E.; RIBELA, M.T.C.P.; ROGERO, J.R., CAMILLO, M.A.P. (2006). Biodistribution of gyroxin using 125I as radiotracer. Journal of Radioanalytical and Nuclear Chemistry 269(3):579-583 [6] GILMAN, G.A.; HARDMAN, J.G.; LIMBIRD, L.E. As bases farmacológicas da terapêutica. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2006. 11a ed. APOIO FINANCEIRO CNEN/CDTN e CNPq