MECÂNICA E MOTORES JOÃO CARLOS DE SOUZA MAIA RESISTÊNCIA PASSIVAS(1) 1. INTRODUÇÃO O estudo dos mecanismos que provocam movimentação são compostos basicamente por 2(dois) tipos de forças: as forças motoras que permitem ao corpo o movimento e as forças de resistência a esse movimento. A resistência passiva se caracteriza como sendo uma força ou conjunto de forças que se opõem ao movimento de um corpo. A resistência passiva passa então a ter importância fundamental nos mecanismos que geram trabalho uma vez que é responsável pela dissipação de energia causando assim, redução no rendimento energético das máquinas motoras. Em determinadas situações, a resistência passiva é considerada desprezível porque o seu efeito sobre o movimento dos corpos em contato é muito pequeno. Forças como o ar atmosférico, a rugosidade e a deformabilidade das superfícies de contato são alguns exemplos de resistências ao movimento de um corpo. 2. PRINCIPAIS RESISTÊNCIAS PASSIVAS As principais resistências passivas são: a) Resistência ao escorregamento ou ao deslizamento b) Resistência ao rolamento c) Resistência ao enrolamento e desenrolamento d) Resistência ao meio. _________________________ João Carlos de Souza MAIA – Engenheiro Agrônomo, Doutor em Engenharia Agrícola e ProfessorAdjunto do Departamento de Solos e Engenharia Rural da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso. MECÂNICA E MOTORES JOÃO CARLOS DE SOUZA MAIA a) RESISTÊNCIA AO ESCORREGAMENTO ou DESLIZAMENTO A resistência ao escorregamento ou ao deslizamento é caracterizada como forças contrárias ao movimento que se originam em função da rugosidade das superfícies em contato. Considerando um corpo apoiado sobre uma superfície plana (figura 1) e levando em consideração o princípio geral da dinâmica, esse corpo deveria manter-se em movimento uniforme sem necessidade de fornecer-lhe energia ou força (PROVENZA, 1984). F corpo fa plano Figura 1 – Representação do atrito ao deslizamento Para entrar em movimento, ao corpo deverá ser aplicada uma força de tal forma que vença a resistência ao escorregamento deste corpo sobre a superfície. Essa força é conhecida como força de atrito. Coulomb e Marin citados por PROVENZA(1984) concluíram que: a) A força de atrito é sempre contrária ao movimento. b) A força de atrito só existe se o corpo estiver ou tender a se por em movimento c) O deslocamento de um corpo é mais difícil no início que durante o movimento. A força de atrito é proporcional à força peso do corpo quando atua sobre uma superfície. Assim, pode-se afirmar que: f a N .........................................[1] onde: fa = força de atrito [kgf]; N = força normal [kgf]; - coeficiente de proporcionalidade ou coeficiente de atrito. A força de atrito depende da natureza dos corpos em contato e do grau de acabamento das superfícies em contato e do estado de lubrificação dos mesmos. MECÂNICA E MOTORES JOÃO CARLOS DE SOUZA MAIA A força de atrito independe da velocidade relativa das superfícies em contato sempre que a velocidade não ultrapassar a 4 m/s e da extensão das superfícies em contato desde que a pressão entre elas não for superior a 0,5 Kg/mm2. tg ........................................[2] onde; - ângulo de atrito interno [graus, ...] A força de atrito para dois corpos em repouso varia em função do tempo que eles permaneceram em contato ou seja, a força de atrito no início do movimento é maior que a força de atrito durante o movimento. Por causa disso, o atrito pode se dividir em: a) atrito estático, quando o corpo está parado ou em início de movimento. Quando se fala em atrito de escorregamento como força capaz de dificultar o movimento de um corpo sobre uma superfície, subentende-se que o atrito seja dinâmico. O atrito, de acordo com a superfície de contato ainda pode ser: a) Seco: quando não existe entre as superfícies nenhum outro elemento ou substância. O contato entre as superfícies é direto. Neste caso, o coeficiente de atrito depende dos materiais e do estado das superfícies em contato. b) Fluido: quando entre as superfícies dos corpos em contato, existe um líquido ou fluido. Essa substância passa a preencher os espaços vazios entre as superfícies com a finalidade de diminuir ou eliminar atrito. Dá-se o nome de lubrificação, a esse processo. Neste caso o coeficiente de atrito independe dos materiais e do acabamento das superfícies em contato, passando a depender da viscosidade do lubrificante. c) Semi-fluido: quando entre as superfícies em contato pode existir, em determinado momento a presença de fluido, caracterizando assim um processo misto de lubrificação. O coeficiente de atrito, em superfícies consideradas bem lubrificadas, assume valores na ordem de = 0,05. Em geral para a maioria das forças que compõe as máquinas, o coeficiente de atrito é = 0,1. MECÂNICA E MOTORES JOÃO CARLOS DE SOUZA MAIA O coeficiente de atrito independe da força de reação. Para baixas pressões (até 10 Kg/mm2), não depende de N. Para pressões superiores a 10 Kg/mm2, passa a depender de N. O coeficiente de atrito () pode ser estático ou cinético. Estático é a razão da força limite de atrito pela força normal, quando o corpo está a ponto de iniciar o deslizamento. Cinético é a razão da força de atrito pela força normal, quando o corpo está animado por uma velocidade constante. Força de atrito estático entre dois corpos é a força tangencial que se opõe ao deslizamento de um corpo em relação ao centro. Força limite de atrito, é o valor máximo da força de atrito estático que ocorre quando o corpo tende a se movimentar. Força de atrito cinético é a força tangencial que procura impedir o movimento do corpo. A força de atrito cinético é menor que o atrito estático. O coeficiente de atrito não depende da força normal mas a ela é proporcional. Para pressão até 10 Kg/mm2, o coeficiente u não depende da força normal (N). para pressões acima de 10 Kg/mm2, o coeficiente u passa a depender de N. O coeficiente de atrito dinâmico não depende da velocidade desde que esta não assuma valores muito elevados. O coeficiente de atrito não depende da área das superfícies de contato. O coeficiente de atrito depende dos materiais em contato e do estado de polimento de suas superfícies. b) RESISTÊNCIA AO ROLAMENTO É a resistência que se opõe ao rolamento de um corpo cilíndrico ou esférico sobre uma superfície. É possível que tal resistência provenha de uma depressão causada pela pressão de um corpo sobre o outro que faz mudar de um determinado ponto para uma possível área de contato. O atrito de rolamento, representado na figura 2, suporta uma carga F sobre o eixo e uma força P está aplicada para produzir rolamento. A deformação da roda e da superfície de suporte está representada pela área hachuriada . A distribuição da pressão p sobre a área de contato é similar à indicada e a resultante R dessa distribuição atuará em algum ponto A e passará pelo centro da roda, para haver equilíbrio. A força P, necessária para iniciar e manter o rolamento, pode ser encontrada igualando-se a zero a soma dos momentos de todas as forças, em torno de A. A equação 3 representa essa situação: P a L ....................................................[3] r MECÂNICA E MOTORES JOÃO CARLOS DE SOUZA MAIA sendo r o braço de alavanca de P e fr o coeficiente de atrito ao rolamento que é a relação entre a força resistente e a carga normal, tem-se a seguinte equação: P f r L .................................................[4] P r O r L Figura 1 – Representação das forças envolvidas no movimento de uma roda Podemos afirmar que a resistência de atrito ao rolamento: a) depende da deformabilidade dos dois corpos em contato. Convém usar superfícies duras; b) É proporcional à força normal que atua entre o rolo e a superfície. Convém usar muitos rolos; c) É inversamente proporcional a distância entre o rolo e a superfície. Convém usar rolos de grandes diâmetros. Q O v v O s P s P Figura 2 – Movimento de uma roda, sem deslizamento. MECÂNICA E MOTORES JOÃO CARLOS DE SOUZA MAIA O centro de massa O move-se para frente a uma velocidade constante v. O ponto P, onde a roda e o chão estão em contato, também se move para a frente com velocidade v, de modo que ele está situado sempre debaixo do ponto O. Durante um intervalo de tempo t vê-se os pontos O e P moverem-se para a frente, percorrendo uma distância s, o que corresponde ao arco descrito na segunda roda (P-Q). A equação 5, relaciona o comprimento do arco s com o ângulo de rotação . s R ...............................................[5] onde R é o raio. A velocidade linear v do centro da roda é dada por: O atrito v R ...........................................[6] Se a roda girar com velocidade constante, como mostra a figura 2, não haverá tendência de ocorrer deslizamento no ponto de contato P e, deste modo, nenhuma força de atrito atuará sobre a roda naquele ponto. No entanto, se uma força for aplicada sobre a roda alterando a velocidade v do seu centro de massa ou a velocidade angular em torno do centro, então haverá a tendência de ocorrer deslizamento da roda em P e uma força de atrito agirá sobre a roda no ponto de contato, opondo-se àquela tendência. Até que a roda comece realmente a deslizar, atuará sobre ela uma força de atrito estático fe. Se a roda começar a deslizar, passará a atuar sobre ela uma força de atrito cinético fc. O fe P Mg Figura 3 – Roda desce girando um plano inclinado Na figura 3, a roda desce em um plano inclinado. O peso Mg atua no seu centro de massa. Como a força Mg não possui braço de alavanca em relação ao centro MECÂNICA E MOTORES JOÃO CARLOS DE SOUZA MAIA da roda, ela não pode exercer torque em torno do centro e, deste modo, não pode fazer com que a roda inicie uma rotação. Entretanto, como Mg tende a fazer a roda deslizar sobre o plano inclinado, uma força de atrito atua sobre a roda em P, a parte que está em contato com o plano, opondo-se ao deslizamento. Esta força, que aponta para cima ao longo do plano inclinado, possui um braço de alavanca que é o raio da roda. Deste modo, esta força de atrito produz um torque em torno do centro e faz com que a roda entre em rotação. O P fe Figura 4 – Roda girando cada vez mais rápido Na figura 4, faz-se com que a roda gire cada vez mais rápido à medida que rola sobre uma superfície plana, como ocorre com uma bicicleta ao ser acelerada. O acréscimo no valor de tende a fazer com que a parte inferior da roda deslize para a esquerda. Uma força de atrito, cujo sentido aponta para a direita, atua sobre a roda em P, opondo-se à tendência ao deslizamento. R Mgsen P Mgcos Mg Figura 5 – Principais forças que atuam em um corpo esférico rolando em uma rampa Um corpo esférico, uniforme, de raio R, desce rolando um plano inclinado. As forças que atuam sobre ele são o peso Mg, a força normal N e uma força de atrito fa.