UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE ESTATÍSTICA Medida e Probabilidade Aluno: Daniel Cassimiro Carneiro da Cunha Professor: Andre Toom 1 Resumo Este trabalho contem um resumo dos principais resultados de Medida e Integração necessários para o curso de Medida e Probabilidade. O conceito de medida é apresentado e algumas de suas propriedades são discutidas. Em seguida, é introduzido o conceito de integral de Lebesgue e alguns teoremas importantes são provados. 2 Conteúdo 1 2 Medida 1.1 Conjuntos Nulos . . . . . . . . . . 1.2 Medida Exterior . . . . . . . . . . 1.3 Conjuntos mensuraveis Lebesgue e 1.4 Propriedades básicas da medida de 1.5 Conjuntos de Borel . . . . . . . . . . . . . 4 4 5 7 8 9 Funções Mensuraveis 2.1 A reta estendida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2 Funções mensuráveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3 Propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 11 11 12 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . medida de Lebesgue . Lebesgue . . . . . . . . . . . . . . . . . . Capítulo 1 Medida 1.1 Conjuntos Nulos Definição 1.1.1. Seja I ⊂ R um intervalo limitado, ou seja I = [a, b], I = [a, b), I = (a, b] ou I = (a, b). Definimos o comprimento de I como sendo l(I) = b − a. Temos para um caso particular que l(∅) = l(a, a) = a − a = 0. Da mesma forma, l({a}) = l([a, a]) = a − a = 0, ou seja, conjuntos com apenas um elemento tem comprimento 0. A definição a seguir permite estender a ideia de conjuntos que possuem ’comprimento zero’ a conjuntos mais gerais. Definição 1.1.2. Dizemos que A ⊆ R é um conjunto nulo se para todo ε > 0 podemos encontrar uma sequencia de intervalos {In : n > 1} tal que A⊆ ∞ [ In ∞ X e n=1 l(In ) < ε n=1 Diremos que os (In )n>1 cobrem o conjunto A. Note que pela definição 1.1.2, o conjunto vazio e o conjunto unitário são conjuntos nulos. Ainda, 4 se A é um conjunto finito, então A é um conjunto nulo. Para mostrar isso faremos uso da proposição 1.1.1 abaixo que é uma ferramenta útil para provar se um conjunto é nulo. Proposição 1.1.1. Seja (An )n>1 uma sequencia de conjuntos nulos. Então a união destes conjuntos, A= ∞ [ An n=1 é um conjunto nulo. Usando o resultado acima, mostra-se facilmente que um conjunto finito é um conjunto nulo. O mesmo resultado se aplica a conjuntos contaveis. Temos, por exemplo, que o conjunto Q dos números racionais , e o conjunto Z dos números inteiros são conjuntos nulos. 1.2 Medida Exterior Vamos agora estender a noção de comprimento para uma noção mais geral, que é a de medida exterior. Definição 1.2.1. A medida exterior (de Lebesque) de um conjunto A ⊆ R é dada por m? (A) = inf IA , 5 em que IA = ∞ X l(In ) : In são intervalos, A ⊆ n=1 ∞ [ In . n=1 No caso de IA = ∅, faremos a seguinte convenção de que m? (A) = ∞. Desta forma, como o conjunto IA é limitado inferiormente por 0, o infimo sempre existe. O resultado a seguir apresenta algumas propriedades de m? (A). Teorema 1.2.1. Sejam A ⊆ R e B ⊆ R e t ∈ R. Então valem as seguintes propriedades (i) (Não-Negatividade) m? (A) > 0. (ii) (Monotonicidade) Se A ⊂ B então m? (A) 6 m? (B). (iii) (Sub-aditividade contavel) Para toda sequencia de conjuntos (An )n>1 , ! ∞ ∞ X [ ? m? (An ). m An 6 n=1 n=1 (iv) (Invariancia a translação) m? (A) = m? (A + t). Concluímos a seção mostrando dois resultados importantes. O primeiro diz que a nossa definição de medida exterior é consistente com o conceito de medida nula visto na seção anterior. Teorema 1.2.2. O conjunto A ⊆ R é um conjunto nulo se e somente se m? (A) = 0. 6 1.3 Conjuntos mensuraveis Lebesgue e medida de Lebesgue Definição 1.3.1. Um conjunto E ⊆ R é dito ser mensurável (a Lebesgue) se para todo conjunto A ⊆ R m? (A) = m? (A ∩ E) + m? (A ∩ Ec ). Neste caso, escrevemos E ∈ M. De A = (A ∩ E) ∪ (A ∩ Ec ) segue que m? (A) 6 m? (A ∩ E) + m? (A ∩ Ec ). Daí, para mostrar que E ∈ M, basta verificar a desigualdade m? (A) > m? (A ∩ E) + m? (A ∩ Ec ). Como exemplos de conjuntos mensuráveis citamos os intervalos e os conjuntos nulos. Vamos agora apresentar algumas propriedades de M. Proposição 1.3.1. Temos que (i) R ∈ M, (ii) Se E ∈ M então Ec ∈ M, (iii) Se En ∈ M para n = 1, 2, . . . então S∞ n=1 En ∈ M. Ainda, se En ∈ M, n = 1, 2, . . ., e Ei ∩ Ej = ∅ para i 6= j, então ! ∞ ∞ [ X ? En = m? (En ). m n=1 n=1 7 (1.1) As condições (i)-(iii) implicam que M é uma σ-álgebra. Uma função que toma valores em [0, ∞] definida em uma σ-álgebra é chamada medida, ou seja, se for contavelmente aditiva. Definição 1.3.2. Escrevemos m(E) ao invés de m? para qualquer E em M e chamar m(E) de medida de Lebesgue do conjunto E. 1.4 Propriedades básicas da medida de Lebesgue Já que a médida de Lebesgue é nada mais que a medida exterior restrita a uma classe especial de conjuntos, algumas propriedades da medida exterior são automaticamente herdadas pela medida de Lebesgue, como mostra a proposição a seguir: Proposição 1.4.1. Suponha que A, B ∈ M. (i) Se A ⊂ B então m(A) 6 m(B). (ii) SeA ⊂ B e m(A) é finito então m(B − A) = m(B) − m(A). (iii) m é invariante a translação. O resultado a seguir mostra que uma sequencia monotona de conjuntos mensurais se comporta de maneira esperada com respeito a m. Teorema 1.4.1. Suponha que An ∈ M, para todo n > 1. Então temos que 8 (i) Se An ⊂ An+1 para todo n, então ! [ An = lim m(An ), m n→∞ n (ii) Se An ⊃ An+1 para todo n e m(A1 ) < ∞, então ! \ m An = lim m(An ). n→∞ n (1.2) Como consequencia do teorema temos os seguintes resultados Teorema 1.4.2. A função m satisfaz: (i) m é finitamente aditiva, ou seja, para pares de conjuntos disjuntos (Ai ) temos que m n [ ! Ai = n X m(Ai ) i=1 i=1 para todo n; (ii) m é continua no vazio, ou seja, Se (Bn ) decresce para ∅, então m(Bn ) decresce para 0. 1.5 Conjuntos de Borel A definição de M não permite que verifiquemos facilmente se um particular conjunto pertence a M. Portanto, é útil introduzir uma nova estrutura que permita trabalhar com conjuntos abertos. O resultado a seguir permite construir novas σ-álgebras. 9 Teorema 1.5.1. A intersecção de uma família de σ-álgebras é uma σálgebra. Definição 1.5.1. Ponha B= \ {F : F é uma σ-álgebra contendo todos os intervalos} Dizemos que B é uma σ-álgebra gerada por todos os intervalos e que os elementos de B são conjuntos de Borel. Teorema 1.5.2. Se ao invés de intervalos considerarmos intervalos abertos, então o conjunto B ainda é o mesmo. 10 Capítulo 2 Funções Mensuraveis 2.1 A reta estendida O comprimento de R é ilimitado superiormente, ou seja, infinito. Para lidar com isto nós definos a medida de Lebesgue para conjuntos de medidas finitas e infinitas. Para tratar funções de conjuntos adequadamente, é conviniente permitir que as funções tomem valores infinitos. Assim, definimos a reta extendida como sendo R̄ = R ∪ {−∞, +∞}. Definimos ∞ · ∞ = ∞, a × ∞ = ∞ se a > 0, a × ∞ = −∞ se a < 0, a + ∞ = ∞, para todo a e ∞ × 0 = 0. 2.2 Funções mensuráveis O domínio das funções que iremos considerar será usualmente R. Agora temos a liberdade de definir f exceto por um conjunto nulo. Uma vez mostrado que f e g são iguais em R − E onde E é um conjunto nulo, então f = g para todos os propositos praticos. Para formalizar isso dizemos que f = g q.t.p. 11 Definição 2.2.1. Suponha que E é um conjunto mensurável. Dizemos que a função f : E → R é mensurável Lebesgue se para todo intervalo I ⊂ R f−1 (I) = {x ∈ R : f(x) ∈ I} ∈ M O teorema a seguir dá algumas definições equivalentes de funções mensuráveis. Teorema 2.2.1. As seguintes condições são equivalentes : (i) f é mensurável. (ii) Para todo a, f−1 ((a, ∞)) é mensurável. (iii) Para todo a, f−1 ([a, ∞)) é mensurável. (iv) Para todo a, f−1 (−∞, a)) é mensurável. (v) Para todo a,f−1 (−∞, a]) é mensurável. 2.3 Propriedades A classe de funções mensuráveis é bastante rica, como mostra o Teorema 2.3.1. O conjunto das funções mensuráveis é um espaço vetorial e é fechado sobre a multiplicação. Teorema 2.3.2. Suponhas que F : R×R → R é uma função continua e que f e g são funções mensuráveis. Então h(x) = F(f(x), g(x)) é mensurável. 12 Vamos definir f+ (x) = e f− (x) = se f(x) > 0 se f(x) 6 0 f(x) 0 0 −f(x) se f(x) > 0 se f(x) 6 0 Então temos o seguinte resultado Teorema 2.3.3. (i) f é mensurável se e somente se f+ e f− são mensuráveis. (ii) Se f é mensurável então |f| é mensurável. A reciproca é falsa. Temos ainda que Teorema 2.3.4. Sejam {fn } uma sequencia de funções mensuráveis definidas em E e que tomam valores reais. Então são mensuráveis as seguintes funções: max fn , n6k min fn , n6k sup fn , n∈N , inf fn , n∈N lim sup fn , n→∞ lim inf fn . n→∞ As coisas ficam um pouco mais complicadas quando consideramos conjuntos nulos. Entretanto, quando mudamos uma função apenas num conjunto nulo, não alteramos a sua propriedade de mensurabilidade. Teorema 2.3.5. Se f é mensuravel, g é arbitraria e {x : f(x) = g(x)} é nulo, então g é mensurável. 13 Seja uma sequencia de funções mensuraveis fn tal que fn → f q.t.p. Então f é mensurável. 14