Artigo Economia brasileira: a cegueira e a realidade Judas Tadeu Grassi Mendes Escrevo o presente artigo pensando apenas em apresentar saídas e soluções para o Brasil e não com o objetivo de criticar por criticar o modelo petista de governar, que é, sem dúvida, muito ruim para o país. Há uma cegueira nos governistas, que só veem coisas boas e tudo parece maravilhoso, mas a realidade é outra. Senão vejamos: Os evidentes erros 1. O país vem crescendo muito pouco para o seu potencial: basta lembrar que em 2009 foi negativo em 0,3%, em 2011 foi de 2,7% e no ano passado o vergonhoso 0,9%, simplesmente o último da América Latina. Só não vamos atribuir à crise internacional, como faz o ministro Mantega, pois o problema está aqui dentro, como veremos em seguida. Os estudos mostram que a “Marolinha” reduziu em 41% o crescimento do Brasil. 2. A inflação tem fugido da meta, de modo que em 2011 foi a maior nos últimos sete anos e na média do triênio 2010-2012 está levemente acima de 6%, ou seja, um terço acima da meta (4,5%). Está na hora de o Brasil aprender que a inflação brasileira não é de demanda, mas de oferta, como analisaremos mais adiante. 3. A responsabilidade fiscal está desacreditada e as evidências são: 3.1. Os gastos públicos nos últimos dez anos vêm crescendo muito acima da inflação e, por isso, os impostos foram aumentados em 4% do PIB neste período e como consequência o governo tem sugado a mais das pessoas e das empresas algo como R$ 160 bilhões por ano. 3.2. O problema é que estes gastos são pura “gastança”, isto é, dinheiro jogado praticamente no lixo, senão vejamos: mais de R$ 200 bilhões por ano somente em juros (é a maior concentração de riqueza nas mãos dos bancos na história do Brasil), mais de R$ 200 bilhões por ano com pessoal e quase outros R$ 200 bilhões com a máquina administrativa, com excesso de burocracia e ineficácia. Em outras palavras, são mais de R$ 600 bilhões que torramos por ano em coisas que pouco ajudam o país. 3.3. O Brasil é o único país do mundo em que o governo gasta mais com juros do que investe em educação, em saúde e em infraestrutura, juntos. Simplesmente um crime. Só isso já dá para concluir que algo está errado. 3.4. Como os petistas gostam de fazer comparações com o governo FHC, vou dizer o seguinte: nos oito anos de FHC, a dívida pública aumentou em R$ 700 bilhões e nos oito de Lula aumentou R$ 1,2 trilhão. O governo FHC pagou de juros R$ 600 bilhões 4. 5. 6. 7. e o de Lula mais de R$ 1,2 trilhão. Conclusão: entre o aumento de dívida e pagamento de juros Lula superou FHC em R$ 1,1 trilhão. Nos dez primeiros anos dos governos petistas, estamos torrando por DIA R$ 767 milhões somente em pagamentos de juros e de aumento da dívida pública, ou seja, há algo errado neste modelo, que até os cegos conseguem ver, menos os governistas. 3.5. As manipulações ou manobras contábeis para mascarar as contas do superávit primário, simplesmente uma vergonha, divulgadas nos jornais do mundo inteiro, desacreditando ainda mais o país lá fora, num momento em que tanto precisamos de investimentos estrangeiros para melhorar nossa péssima infraestrutura. 3.6. Não há nenhuma obra do Governo Federal no prazo, sem contar que são superfaturadas, reajustadas em valores. Veja o caso da transposição do Rio São Francisco, que, de um orçamento inicial de R$ 4 bilhões, o governo já gastou mais de R$ 8 bilhões e não foi feita nem metade das obras; 3.7. O BNDES está servindo mais para salvamento de empresas em condições precárias, sem falar que bilhões de reais, a juros subsidiados (TJLP), que estão indo para grandes grupos, numa outra grande concentração da riqueza nacional, além dos bancos, via juros. Como o governo atual faz muita gastança, não sobram recursos para os investimentos públicos. Se de um lado, ele fica com 36,5% do PIB, de outro lado ele investe apenas 1% do PIB, ou seja, pífios centavos. Por isso, a nossa infraestrutura é cara e ineficiente e só alimenta a inflação e a perda de competitividade da indústria brasileira, que tem déficit crônico na balança comercial, ou seja, importamos mais produtos industrializados do que exportamos. Como, então, queremos ser um país desenvolvido com uma indústria deficitária? A Bovespa é a pior bolsa do mundo em 2012 em termos de resultados, com perda de 25% no valor médio das ações, enquanto a média mundial foi altamente positiva. Vejam o que vem acontecendo com as ações da Petrobras, que, além disso, terá déficit na balança comercial de derivados até 2020, mas Lula teria alardeado a autossuficiência no petróleo. O apoio à ditadura cubana, que cerceia a liberdade humana. É por isso que agora entendemos tão bem aonde o Mensalão queria chegar ao comprar o Congresso e fazer mudanças que os perpetuassem no poder, pois esta é a obsessão deles. Negar os avanços do passado, principalmente no governo FHC, que acabou com a inflação galopante e iniciou os programas de inclusão social, que foram depois aperfeiçoados pelos governos seguintes, é um erro inaceitável, pois o Brasil não começou em 2003. Sem o Plano Real, consolidado no governo FHC, jamais a inclusão social, que é o grande feito dos governos petistas, teria acontecido. O que precisamos fazer O Brasil só voltará a crescer de maneira sustentada se atingir o tão sonhado déficit nominal zero, ou seja, se os gastos públicos (incluindo os juros) não ultrapassarem as receitas públicas. Em outras palavras, se o governo couber no PIB brasileiro. Para tanto, é preciso: 1. Fazer a reforma fiscal (trabalhista, previdenciária, tributária, administrativa) de modo que a atual carga tributária, ao longo dos próximos dez anos, cai dos atuais 36,5% do PIB para algo como 25% do PIB, como é a média dos países desenvolvidos; 2. Limitar o aumento da gastança pública apenas aos índices inflacionários, ou seja, aumento real zero nos gastos públicos, pois estes já são absurdamente elevados; 3. Limitando-se a gastança, sobrarão recursos para os investimentos públicos, que de 1% do PIB deverá voltar aos 4% do PIB como já foi no período do milagre brasileiro. 4. Liberar o compulsório, de modo que os bancos fiquem com mais dinheiro, o que forçará necessariamente a queda dos juros, pois é inaceitável que um país com inflação ao redor de 6% tenha juros que superam 200% ao ano. Além disso, reduzir os inúmeros impostos na intermediação financeira. 5. Criar um ambiente favorável e confiável para o setor privado voltar a investir, via marcos regulatórios que criem um conjunto de normas, leis e diretrizes que regulam o funcionamento dos agentes privados na prestação de serviços de utilidade pública, pois o governo é incapaz de fazer sozinho. Enfim, o Brasil só voltará a crescer de maneira sustentada e acima de 5% se os investimentos (públicos e privados) se aproximarem dos 25% do PIB. Esse é o caminho para reduzir o Custo Brasil, aumentar a competividade da economia brasileira, expandir as nossas exportações, combater a inflação (que é de custos, ou seja, ligada à oferta). Afinal, só investimentos garantem crescimento sustentado, vide a China, que investe mais de 40% do PIB. O Brasil nem precisa de tanto: basta 25% do nosso PIB. No curto prazo, o Brasil ainda consegue nadar, mas no longo prazo parece que vamos nos afogar, isto é, mais uma vez perder o bonde da história, principalmente se a China deixar de comprar nossas duas principais commmodities (soja e minério). Aí teremos sérios problemas no nosso balanço de pagamentos. Só o atual governo não quer ver o óbvio. É uma pena e, o pior, prefere ficar criticando o governo FHC, que nos deu a estabilidade econômica e foi ela que garantiu a inclusão social do governo petista, pois a inflação prejudicava mais os mais pobres. Judas Tadeu Grassi Mendes é Ph.D. em Economia pela Ohio State University, autor de oito livros de Economia. Fundador e diretor presidente da Estação Business School (EBS).