AVALIAÇÃO HISTOLÓGICA DO TRATO INTESTINAL DO ASTYANAX BIMACULATUS ALIMENTADO COM RAÇÃO SUPLEMENTADA COM PROBIÓTICO Autores: Klayton MORAES1, Gabriel F. A. JESUS2 Adolfo JATOBÁ3. Identificação autores: 1 – Bolsistas PIBIC/NPq, 3 – Pesquisador da UFSC; 4 – Orientador IFC-Campus Araquari. Introdução O conhecimento em sanidade é um dos aspectos mais importantes na produção de organismos aquáticos, pois, um meio no qual a disseminação de patógenos ocorre com alta velocidade, riscos quanto à morbidade e mortalidade aumentam, e consequentemente ocasionam grandes perdas na piscicultura (MARTINS, 1995; ROMANO, 1995).No Brasil, o crescimento da piscicultura intensiva vem associado ao aumento da incidência de doenças nos sistemas de produção (COSTA, 2003). Entre os agentes causadores de enfermidades, os parasitas têm destaque por serem oportunistas e abrirem portas para micro-organismos oportunistas. Seus surtos de mortalidade estão diretamente relacionados com a não realização de manejos sanitários, assim como, má qualidade de água e erro no manejo alimentar (AUSTIN, 2007). Atualmente, os probióticos são ferramentas utilizadas na prevenção de diversas enfermidades, principalmente de origem bacteriana. Na aquicultura, para fins didáticos, podem ser divididos em três grandes grupos: leveduras, bactérias Gram negativas e Gram positivas. Dentre as bactérias Gram positivas, há o interesse no uso das bactérias ácido-lácticas devido a sua capacidade de inibir o crescimento de bactérias patogênicas pela produção de compostos antibacterianos, como os ácidos orgânicos (FULLER, 1989), sua ação imunoestimulante (VIEIRA et al., 2008), e sua capacidade de produzir enzimas digestivas, como protease e fitase (BOGATYRENKO et al., 2010). Entre os efeitos benéficos observados aos peixes alimentados com dietas probióticas pode se destacar a alteração na microbiota intestinal dos animais, melhoria no sistema hemato-imunológico (CARNEVALI et al, 2006; JATOBA et al.,2008; VIEIRA et al 2008), assim como a alteração na ultraestrutura do trato intestinal dos peixes, como observados em trabalhos anteriores em diferentes espécies como Tilápia do Nilo (MELLO et al.,2013) e com os Surubins híbridos (JESUS, 2014). O objetivo deste trabalho foi avaliar as alterações histológicas, no trato digestório, do lambari do rabo amarelo (A. bimaculatus) alimentados com dieta probiótica (Lactobacillus sp.). Material e Métodos Foi utilizada uma cepa de bactérias ácido-lática presente no cepário do Laboratório de Aquicultura do Instituto Federal Catarinense, campus Araquari. A cepa foi isolada e selecionada de acordo com o projeto intitulado: “Seleção de probióticos para lambari e sua especificidade com os hospedeiros” aprovados em edital 081/2012 PIBI-TI/PIBIC/PIBIC-Af/CNPq/IFC. E 24 juvenis de lambari do rabo amarelo (Astyanax bimaculatus) provenientes do IFC Araquari. As dietas experimentais foram preparadas de acordo com os protocolos estabelecidos por Jatobá et al. (2008; 2011), sendo que as dietas probióticas receberam um inóculo de 10% (meio de cultura mais bactéria), enquanto as dietas controles receberam apenas o meio estéril. Os 24 lambaris foram distribuídos em oito caixas de polietileno (22 L), 3 peixes cada, equipadas com sistema de recirculação de água e filtro biológico. E distribuídos em dois tratamentos (peixes alimentados com dieta suplementada com probiótico e peixes alimentados com dieta sem suplementação), em delineamento inteiramente ao acaso, com quatro repetições. O oxigênio dissolvido e temperatura foram mensurados duas vezes ao dia, e pH semanalmente. Os peixes foram alimentados quatro vezes ao dia com 3% da sua biomassa. Para avaliação histológica, amostras da região anterior do intestino médio dos lambaris, região de maior absorção de nutrientes, foram extirpadas a partir de três peixes por unidade experimental (da Silva et al., 2010). As amostras dos diferentes tratamentos, fragmentos dos trato foram fixados em solução de paraformaldeído 2.5 % em tampão fosfato 0.1 M, pH 7.2, overnight (Schmidt et al., 2009). Após a fixação, as amostras foram lavadas e desidratadas em séries crescentes de etanol. Após a desidratação, as amostras foram infiltradas em historesina (LeicaHistoresin, Heidelberg, Alemanha). Secções com 5 μm de espessura foram corados com H&E, e fotografados com o microscópio Epifluorescent (Olympus BX 41), equipado com o sistema de captura Imagem Q Capture Pro 5.1 Software (Qimaging Corporation, Austin, TX, Estados Unidos da América). Utilizando as imagens, foram mensurados: comprimento, largura e perímetro das vilosidades (μ); número de vilos e número de células caliciformes por vilosidade. Os dados foram submetidos a análise de Bartlett e ao teste “t”, todas as análises com 5% de probabilidade Resultados e discussão Na microscopia óptica, o grupo probiótico mostrou diferenças morfológicas em comprimento, largura e perímetro das vilosidades em comparação com o grupo não suplementado (Tabela 1). Todas as seções intestinais examinados pareciam normais e saudáveis, sem sinais de enterócitos destacados e necrose. O mesmo efeito foi verificado por Gisbert et al. (2013), que suplementou alevinos de truta arco-íris (Oncorhynchusmy beijo) com Bacillus cereus por 93 dias. Estes peixes apresentaram vilosidades maiores do que aqueles alimentados com a dieta controle. A suplementação com probióticos podem melhorar comprimento das vilosidades e/ou perímetro. Uma relação perímetro maior indica maior área de superfície, resultados em relação à absorção de nutrientes podem ser encontrados em outro estudo em que a tilápia (Oreochromis niloticus) foi alimentada com Lactobacillus rhamnosus durante 30 dias (Pirarat et al. 2011). Aumento morfometria intestinal pode estar relacionado com a capacidade das bactérias probióticas de inibir a adesão de bactérias patogênicas com epitélio intestinal, protegendo, desta forma as vilosidades e as superfícies absorventes contra toxinas irritantes produzidos por micro-organismos patogénicos (Ukena et al., 2007) . Tabela 1. Comprimento, largura e perímetro do vilo do Lambari do rabo amarelo (Astyanax bimaculatus) suplementado com Lactobacillus sp. Suplementado (probiótico) e controle (dieta não suplementada). Tratamento Comprimento (mm) Largura (mm) Perímetro (mm) Controle 189,0 ± 6,6 67,6 ± 4,8 418,9 ± 12,4 Probiótico 201,3 ± 3,6* 74,9 ± 2,2* 459,0 ± 26,0* Significância (p) 0,023701 0,038026 0,038026 *Indica diferença significativa entre os tratamentos no teste “t”. Conclusão O probiótico (Lactobacillus sp.) alterou positivamente a microbiota do lambari do rabo amarelo (Astyanax bimaculatus). Referências AUSTIN, Brian; AUSTIN, Dawn A. Bacterial fish pathogens: disease of farmed and wild fish. Springer Science & Business Media, 2007. BOGATYRENKO, E. A.; BUZOLEVA, L. S.; CHI, Z. Potential probiotics of the Far Eastern trepang Apostychopus japonicus producing digestive enzymes. Microbiology, v. 79, n. 2, p. 173-177, 2010. COSTA, Andréa Belém. Caracterização de bactérias do complexo Aeromonas isoladas de peixes de água doce e sua atividade patogênica. 2003. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), 2015. 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