PARECER DE LíNGUA PORTUGUESA - CCV

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
COORDENADORIA DE CONCURSOS – CCV
Evento: Concurso Público para Provimento de Cargo Técnico-Administrativo em Educação
Edital N° 144/2016
PARECER
A Comissão Examinadora da Prova de Língua Portuguesa efetuou a análise do recurso administrativo e
emitiu seu parecer nos termos a seguir.
Questão 01
A questão de número 01 avalia a habilidade de identificação da ideia principal do texto e tem, como
gabarito, a alternativa A: a recuperação de computadores velhos.
Um dos candidatos alega que a alternativa D (o mau desempenho de computadores velhos) também
está correta, já que o texto também “fala” do mau desempenho dos computadores velhos. A Comissão argumenta que, ao solicitar a ideia principal, a questão avalia se o candidato consegue interpretar, não apenas
quais são as ideias tratadas no texto, mas aquela que lhe é tematicamente mais importante e se encontra
intrinsecamente relacionada ao seu propósito.
Outro candidato argumenta que, sendo a recuperação recomendada apenas relativa ao sistema
operacional de computadores velhos, a alternativa A não está correta, mas, sim, a alternativa D, isto é, “ o
mau desempenho de computadores velhos”. A Comissão justifica, mais uma vez, que o texto não foi feito
para tratar do mau desempenho de computadores velhos, mas principalmente para tratar das possibilidades
de recuperação desses computadores, tal como propõe seu título: Ressuscite um computador velho.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial.
Questão 02
A questão de número 02 solicita a identificação da natureza de um texto publicado e tem, como
gabarito, a alternativa E: instrucional.
Um dos candidatos alega que o texto tem, também, uma natureza emotiva (alternativa A), sem
justificar sua interpretação. A Comissão lembra que o texto faz sugestões de procedimentos a serem
adotados para que o leitor “ressuscite um computador”, sendo, por esse motivo, de natureza instrucional,
procedimental.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica a questão.
Questão 05
A questão 05 solicita a interpretação da relação implícita no trecho Você percebe que tem um
calhambeque no colo...(linha 01). A Comissão apresenta a alternativa E, que enuncia a relação de
comparação, como gabarito.
Um dos candidatos alega que a relação implícita que se estabelece é a de tempo, havendo, nesse
caso, uma referência ao tempo em que o computador começa a ficar lento.
A Comissão argumenta, todavia, que o autor não está tratando de “calhambeques”, mas de
“computadores” e, ao designar um computador velho como um “calhambeque (no colo)”, ele estabelece
uma relação comparação (computadores velhos são lentos como calhambeques).
Outro candidato argumenta que a relação implícita é a de tempo, sendo explícita a comparação. A
Comissão esclarece que uma comparação explícita conta com recursos linguísticos próprios (verbos ser,
parecer etc; conectivos: tal como, assim como etc). A expressão referencial utilizada pelo autor tem natureza
metafórica, estando, portanto, implícita a comparação. Além disso, cumpre esclarecer que a noção de
tempo pode estar implicada nos dois conceitos, mas a questão solicita qual é a relação estabelecida no
texto e, nesse caso, é a de comparação.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica a questão.
Questão 09
A questão 09 solicita que o candidato identifique, entre as alternativas dadas, o sentido de
matusalém na expressão seu processador matusalém.
Um dos candidatos alega que, “de acordo com o dicionário Soares Amora da língua portuguesa, a
palavra velho e idoso possuem o mesmo significado”; e que a questão deveria ser anulada, pois haveria
duas alternativas corretas: A: idoso e B: velho. Outro candidato afirma que “a intertextualidade provocada
por ‘Matusalém’, nos lembra (sic) ao fato de Matusalém ter sido um homem bíblico que viveu muito (muita
idade)” e que “o ser velho não é o fator principal da lembrança semântica e intertextual. E sim, de idade”.
A Comissão argumenta que a questão avalia a habilidade de identificação do significado de palavras
recorrendo ao contexto, conforme previsto no Programa de Língua Portuguesa. Não se trata, portanto, do
significado do termo em estado de dicionário, mas do sentido que ele tem no contexto de uso. Também não
se trata da evocação em si mesma acionada por um termo, isto é, do homem bíblico, que se chamava
Matusalém. É na interação entre diferentes fontes de informação (linguística, epistêmica, inferencial,
perceptual, social) que se dá a construção do sentido de uma palavra no contexto. O adjetivo idoso, de fato,
significa velho, mas se destina a indivíduos humanos, que têm bastante idade, e não a objetos. Por essa
razão, ajustando-se ao contexto, o sentido de matusalém, que atribui, no texto, uma propriedade a um
referente não humano, um computador, seu processador matusalém, não é de idoso, mas simplesmente de
velho, como consta na alternativa B, apontada como gabarito.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica a questão.
Questão 10
A questão 10 solicita a interpretação do sentido que a forma verbal deve produz na seguinte frase: A
instalação deve começar automaticamente. (linha 16). Com esse modal dever, o autor caracteriza o início da
instalação automática como algo provável, se adotados os procedimentos sugeridos.
Um dos candidatos alega que a alternativa correta deveria ser a C, isto é, que a instalação
automática é caracterizada como algo garantido. A Comissão argumenta que, se não houvesse a
possibilidade de essa instalação não acontecer, o autor não utilizaria o modal dever com escopo nesse
acontecimento. Além disso, não poderia o autor, nessa condição, oferecer garantia de que a instalação
aconteceria automaticamente, já que esse evento estaria naturalmente condicionado a eventuais fatores a
que ele não terá acesso (algum erro nas operações sugeridas, apagões elétricos etc).
Outro candidato alega que o sentido do verbo modal dever nesse contexto é o de obrigação, sendo
o início da instalação algo apresentado como obrigatório. A Comissão esclarece que, nesse contexto
específico, o verbo dever está relacionado a um acontecer, e não a um fazer regrado por normas de
conduta de agentes humanos.
A Comissão esclarece, por fim, que o verbo DEVER é, de fato, polissêmico e pode indicar valores
deônticos (obrigação) ou epistêmicos (probabilidade). A questão requer do candidato, portanto, a habilidade
de interpretar, com recurso ao contexto em que esse verbo foi empregado, que sentido foi produzido.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica a questão.
Questão 11
A questão 11 avalia a classificação de uma oração adverbial em destaque no período: Se você não
quer aprender Linux, a opção é o Remix OS. (linha 17). A Comissão indica a letra D (Condicional) como
gabarito.
Um candidato alega que “a partícula 'Se’ pode ter vários sentidos dentre eles o Condicional e o
Causal.” E argumenta que, na questão, a conjunção pode ter sentido de Causa e poderia ser trocada pelas
partículas já que, visto que, etc.
A Comissão lembra que, nas gramáticas tradicionais, a classificação das orações segue o critério da
codificação linguística, isto é, leva em conta o uso do conectivo que é peculiar a um tipo de oração. A
conjunção subordinativa condicional se caracteriza tipicamente a oração subordinada adverbial condicional.
Não se pede, na questão, que o candidato infira outra relação semântica além da codificada pela
conjunção subordinativa condicional no contexto. E ressalta que, ao tentar substituir essa conjunção por
locuções conjuntivas adverbiais causais (já que, visto que...), há alterações de sentido, pois a noção de uma
possibilidade (condicional) é substituída pela factualidade (causal): Já que você não quer aprender Linux, a
opção é o Remix OS.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica a questão.
Questão 17
A questão 17 solicita que o candidato assinale a alternativa em que a frase está adequada à norma
gramatical.
O candidato alega que o verbo esquecer admite tanto a forma pronominal, como a forma transitiva,
estando igualmente corretas as alternativas B: Não esqueça de copiar os arquivos de que você precisa e C:
Não se esqueça de copiar os arquivos de que você precisa.
A Comissão lembra que a norma gramatical prescreve os seguintes usos para o verbo esquecer:
como transitivo direto, não pronominal (esquecer algo); ou como transitivo indireto, pronominal (esquecer-se
de algo). Desse modo, a alternativa correta é a C: Não se esqueça de copiar os arquivos de que você
precisa. Embora seja muito frequente na linguagem coloquial, o uso desse verbo com complemento
preposicionado, mas sem o pronome (esquecer de algo) é desviante, segundo a gramática normativa.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica a questão.
Questão 18
A questão 18 solicita que o candidato assinale a alternativa correta quanto ao uso do acento grave,
indicativo de crase.
Um candidato alega que o verbo resistir é transitivo indireto e, portanto, “seguido de palavra
feminina (tantas - substantivo feminino) exige o uso do acento indicativo de crase.” O candidato solicita a
alteração do gabarito, apontando a alternativa B (Os jovens usuários não resistem à tantas novidades no
mundo digital.) como correta.
A Comissão argumenta que o substantivo que é núcleo do complemento do verbo resistir é
novidades, que se encontra no plural e, portanto, há apenas a preposição a, regida pelo verbo, mas não um
artigo definido que, no caso, deveria concordar em número com esse substantivo. Além disso, esclarece
que tantas é um pronome indefinido (e não um substantivo) e lembra uma regra concisa das gramáticas e
manuais de redação: não se usa crase antes de pronomes indefinidos.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica a questão.
Questão 20
A alternativa 20 solicita que o candidato assinale a alternativa em que a disposição sintática das
palavras torna a frase ambígua. O gabarito oficial indica a alternativa C como correta: O jovem aluno
escondeu o computador do irmão.
Dois candidatos alegam que também está ambígua a frase da alternativa E: A empresa fez a
atualização dos dados no computador, já que se pode entender: a) a atualização de dados que estariam no
computador; e b) a atualização de alguns dados feita por meio de um computador.
A Comissão esclarece que, para a segunda interpretação sugerida pelos candidatos, a preposição
em (no computador) não seria adequada para a expressão da noção de meio ou instrumento.
Outro candidato afirma que a ambiguidade reside na alternativa A: O programa exigia do
programador uma senha, mas não apresenta que interpretações seriam possíveis.
Um dos candidatos alega que, na frase da alternativa B: O computador da empresa tem sérios
problemas, também há ambiguidade, porque “não especifica qual é o problema do computador e só informa
que são vários problemas.” A Comissão esclarece que a ambiguidade concerne à propriedade de uma
expressão linguística, em uso, ter mais de um sentido ou interpretação possível. A frase da alternativa B não
apresenta expressão ambígua, mas informação indefinida, indeterminada (vários problemas).
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica a questão.
Fortaleza, 05 de setembro de 2016.
Profa. Maria de Jesus de Sá Correia
Presidente da Coordenadoria de Concursos – CCV
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