Actas do XII Colóquio Ibérico de Geografia 6 a 9 de Outubro 2010, Porto: Faculdade de Letras (Universidade do Porto) ISBN 978-972-99436-5-2 (APG); 978-972-8932-92-3 (UP-FL) Cristiana Martinha, FLUP/CEGOT ~ [email protected] Serão os Manuais Escolares de Geografia suficientemente competentes para desenvolverem as competências geográficas nos nossos alunos? – um estudo centrado em manuais escolares de Geografia de 3.º ciclo do Ensino Básico Ensino da Geografia e Processo de Bolonha 1. Introdução É nosso objectivo apresentar alguns dos dados e conclusões a que chegamos com a nossa análise a manuais escolares de Geografia – 3.º ciclo do Ensino Básico português com o objectivo de conhecer a forma como metodologias de ensino mais activas e orientadas para o desenvolvimento de competências estão por estes a ser implementadas. De acordo com investigações recentes (De Ketele & Roegiers, 2004 e Peyser, Gérard & Roegiers, 2006) os manuais escolares, ao contrário do que frequentemente se considera, podem ser um elemento de efectiva aplicação prática da Pedagogia por Competências e de integração de adquiridos e não um “obstáculo” à sua aplicação como por vezes é considerado, pois tal como referem Peyser, Gérard & Roegiers “the traditional textbook image is just about the opposite of the integration concept”. É exactamente neste contexto que De Ketele & Roegiers referem-se à necessidade de constituição e manuais integradores que têm etapas específicas de construção e que visam promover o desenvolvimento de competências nos alunos para que se destinam. Uma pesquisa nesta linha de investigação está presentemente a ser desenvolvida pelo projecto “Manuais, e-manuais e actividades do alunos” para várias disciplinas escolares, entre as quais se inclui a Geografia. 2 Serão os Manuais Escolares de Geografia suficientemente competentes para desenvolverem as competências geográficas nos nossos alunos? – um estudo centrado em manuais escolares de Geografia de 3.º ciclo do Ensino Básico Deste modo, com a aplicação em Portugal de um currículo “por competências” definido pelo DL n.º 6/2001, pelo Currículo Nacional do Ensino Básico (2001) e pelas Orientações Curriculares da Geografia – 3.º ciclo (2001), para o caso da Geografia, importa reflectir neste momento sobre a sua concretização ao nível dos manuais escolares de Geografia de 3.º ciclo. Deste modo, com o objectivo de alargar o objecto de análise e as conclusões a que o projecto já referido chegou, elegemos para a nossa análise um conjunto de 18 manuais escolares de Geografia – 3.º ciclo procurando contemplar aqueles que foram publicados como colecção completa (de 7.º, 8.º e 9.º anos) e adoptáveis no ano lectivo 2009/2010. Seguidamente procedemos à sua análise utilizando uma base de dados especificamente construída para o efeito (em FileMaker) onde utilizamos a mesmas categorias de análise do projecto referido. Após o registo da nossa análise às actividades dos manuais na base de dados (onde analisamos em cada projecto pedagógico – o manual escolar em si; o caderno de actividades e, nalguns casos, o auxiliar prático) procedemos à sua análise estatística e de conteúdo. Entre as várias conclusões a que chegamos com a nossa análise destacamos as seguintes em particular: - o número de actividades que cada manual escolar (manual escolar + caderno de actividades + auxiliar) possui varia muito de manual escolar para manual escolar, havendo casos em que os valores num manual são cerca do dobro do de outro, o que demonstra diferentes abordagens que os autores têm à questão do uso de actividades nos manuais escolares; - em termos gerais, dominam nos manuais escolares portugueses de Geografia – 3.º ciclo, actividades muito simples, que exigem pouco cognitivamente dos alunos e que são pouco “desafiantes” para os alunos. As actividades mais exigentes que apelam à resolução de problemas, trabalho em projecto, debate e pesquisa têm um peso nos manuais escolares que oscila entre os 1% e os 8%, consoante o manual escolar. - apesar da tendência geral explicitada no ponto anterior, através da nossa análise conseguimos identificar os manuais escolares (ou colecções de manuais escolares) mais e menos “equilibrados” no que à distribuição dos diferentes tipos de questões diz respeito e, consequentemente, aqueles que se adaptam mais e menos à aplicação da Pedagogia por Competências no âmbito do Ensino da Geografia, entendendo-se que a presença nos manuais de actividades mais activas e mais exigentes cognitivamente, torna esse manual mais propício/facilitador do desenvolvimento de competências geográficas. Como corolário desta investigação, apresentaremos uma reflexão em torno da adequação dos manuais escolares de Geografia aos princípios da Pedagogia por Competências, baseada nas nossas conclusões e notas auxiliares que fomos coligindo ao longo do processo de análise de todos os manuais escolares seleccionados para investigação (ex.: o facto de quase todos estes manuais escolares possuírem revisão científica mas poucos possuírem revisão pedagógica). Nesta reflexão/conclusão iremos ainda explicitar como pretendemos dar continuidade a esta investigação, nomeadamente através de resultados de inquéritos de opinião a professores de Geografia sobre os manuais escolares de Geografia, e especificamente, sobre a sua adequação aos princípios da Pedagogia por Competências. Esperamos com a apresentação desta investigação reavivar a discussão, no âmbito da Didáctica da Geografia, em torno da aplicação prática da Pedagogia por Competências ao Ensino da Geografia e em torno da concepção e uso dos manuais escolares de Geografia no processo de ensino-aprendizagem. XII Colóquio Ibérico de Geografia Cristiana Martinha 3 2. A aplicação da Pedagogia por Competências pelos manuais escolares No âmbito da investigação sobre manuais escolares, existem várias linhas de pesquisa pelas quais podemos realizar investigação neste domínio. Aquele que actualmente recebe mais atenção por parte dos investigadores relaciona-se com a sua dimensão de “metodologia de ensino”, ou seja, a análise sobre a concordância (ou não) das orientações pedagógicas que presidiram à construção dos manuais escolares e a realidade que efectivamente esses manuais escolares veiculam. Importa aqui destacarmos as palavras de Roegiers & De Ketele que defendem que a “problemática da introdução de uma pedagogia da integração nos manuais escolares se apresenta de uma forma diferente de como era colocada para os currículos, para as práticas de classe ou para as práticas de avaliação das aquisições” (ROEGIERS e DE KETELE, 2004:169), indicando as etapas para a constituição de um manual integrador, que segundo estes autores são (ROEGIERS e DE KETELE, 2004:170): definição de algumas competências; inserção de algumas actividades de integração; eliminação dos conteúdos supérfluos; inserção de actividades específicas às competências e reestruturação completa do manual escolar. Neste domínio, em Portugal assume grande importância o projecto “Manuais, e-manuais e actividades do aluno” da Universidade Lusófona e do CEIEF. Aliás, a própria existência de investigação organizada em grupo nesta área mostra claramente a importância que a comunidade científica, os professores e a sociedade atribuem a esta problemática. Profundamente relacionada com esta questão da promoção do uso de metodologias “mais activas” pelos manuais escolares, surgem alguns estudos que visam entender de que forma os manuais escolares se adequam a uma ABRP - Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas (que, do ponto de vista teórico, se relaciona amplamente com a Pedagogia por Competências), tal como o de Laurinda Leite, Cíntia Costa e Esmeralda Esteves num estudo intitulado de "Os manuais escolares e a aprendizagem baseada na resolução de problemas: um estudo centrado em manuais escolares de Ciências Físico-Químicas do ensino básico" (LEITE, COSTA e ESTEVES, 2008). Neste âmbito podemos destacar também os nomes de Peyser, Gerard e Roegiers (2006) que defendem que "a major tend in current pedagogic thinking and in its corresponding implementing practices, is based on the fundamental concepts of integration and competence”. Isto, configura então como um dos pontos-chave para a compreensão da nossa pesquisa – perceber como é que um recurso pedagógico (o principal como é o manual escolar) pode ser um elemento de promoção/introdução de uma determinada corrente pedagógica no processo de ensino-aprendizagem. 3. A (In)Competência dos manuais escolares de Geografia Após esta breve contextualização, iremos de seguida apresentar, justificar e discutir os parâmetros/categorias de análise que utilizaremos na nossa análise de manuais escolares de Geografia, numa tentativa de percebermos a natureza metodológica que lhes está subjacente. Aqui, importa esclarecer que optamos por analisar manuais escolares de Geografia actualmente em uso no 3.º ciclo do Ensino Básico e seus respectivos “Cadernos de Actividades” por os considerarmos essenciais numa análise da “metodologia de ensino” implícita num dado XII Colóquio Ibérico de Geografia 4 Serão os Manuais Escolares de Geografia suficientemente competentes para desenvolverem as competências geográficas nos nossos alunos? – um estudo centrado em manuais escolares de Geografia de 3.º ciclo do Ensino Básico manual e porque actualmente estes últimos praticamente são parte integrante do manual com a introdução da ideia de “projecto pedagógico”, no que à construção de manuais escolares diz respeito, defende. Como categorias de análise decidimos utilizar aquelas definidas pelo projecto “Manuais, e-manuais e actividades do aluno”, na medida em que vão ao encontro dos nossos objectivos de pesquisa. Contudo, decidimos introduzir duas alterações na nossa análise: enquanto o projecto supracitado analisava o 1.º, 2.º e 5.º manual escolar mais adoptado de cada disciplina (no 7.º e 10.º anos de escolaridade), optamos por escolher os manuais não pelo critério de “venda” e de “ano de escolaridade”, mas sim os que no contexto do 3.º ciclo do Ensino Básico apresentam uma sequência completa de “colecção” (ou seja, cujo título está actualmente à venda para o 7.º, 8.º e 9.º anos), sendo este facto sinal do sucesso na adopção pelas escolas da colecção e dado que permite aceder também a uma diversidade editorial/autoral considerável. Este diferente critério de escolha dos manuais escolares a analisar permitir-nos-á completar resultados do projecto obtidos para o caso da Geografia. Quanto aos manuais escolares em análise, é importante sublinhar que os autores destes manuais e demais dados identificativos destes estão identificados na base de dados de análise. De sublinhar que os manuais escolares analisados de 7.º ano datam de 2006; os de 8.º ano datam de 2007 e os de 9.º ano datam de 2008 e que todos eles incluem pelo menos um “caderno de actividades” para os alunos e eventualmente um “auxiliar” que também analisamos. Importa ainda referir que a maioria apresenta revisores/consultores científicos, mas apenas em três projectos encontramos referência a revisão pedagógica (quadro 1). XII Colóquio Ibérico de Geografia Quadro 1 – Manuais Escolares de Geografia (3.º ciclo) analisados e respectiva revisão pedagógica e científica Sigla Título Autor(es) Revisor(es) Científico(s) Revisor(es) Pedagógico(s) MA7 Faces da Terra 7 Isabel Ribeiro; Madalena Eduarda Carrapa Costa; M.ª Não apresenta Não apresenta MA8 Faces da Terra 8 Isabel Ribeiro; Madalena Eduarda Carrapa Costa; M.ª Departamento de Geografia da FLUP Não apresenta MA9 Faces da Terra 9 Isabel Ribeiro; Madalena Eduarda Carrapa Costa; M.ª Departamento de Geografia da FLUP Não apresenta MB7 Espaço Geo 7 Fernando Santos; Francisco Lopes Prof.ª Doutora M. Elisa Preto Gomes; Dr. António Manuel Pires; Associação Insular de Geografia Prof.ª Doutora M. Elisa Preto Gomes; Dr. António Manuel Pires; Associação Insular de Geografia MB8 Espaço Geo 8 * Fernando Santos; Francisco Lopes Prof. Dr. António Pires; Prof. Dr. Francisco Diniz Não apresenta MB9 Espaço Geo 9 Fernando Santos; Francisco Lopes; [José Silva Lobo - "auxiliar de estudo"] Prof. Dr. António Pires; Prof. Dr. Francisco Diniz Não apresenta MC7 Geografia - 7.º ano - Tema 1 e Tema 2 Cristina Domingos; Jorge Lemos; Telma Canavilhas Não apresenta Não apresenta MC8 Geografia - 8.º Ano - Tema 3 e Tema 4 Cristina Domingos; Jorge Lemos; Telma Canavilhas Dulce Pimentel (Departamento de Geografia da FCSH da UNL) para a volume do tema "População e Povoamento" e José Afonso Teixeira (Departamento de Geografia da FCSH da UNL) para o volume do tema "Actividades Económicas". Não apresenta 6 Serão os Manuais Escolares de Geografia suficientemente competentes para desenvolverem as competências geográficas nos nossos alunos? – um estudo centrado em manuais escolares de Geografia de 3.º ciclo do Ensino Básico MC9 Geografia - 9.º Ano - Temas 5/6 Cristina Domingos; Jorge Lemos; Telma Canavilhas José Manuel Lúcio (Departamento Geografia da FCSH da UNL) MD7 Fazer Geografia 7 Ana Gomes; Anabela Boto Maria José Soares Gomes Não apresenta MD8 Fazer Geografia 8 Ana Gomes; Anabela Boto Paula Alexandra Malta - no manual surge como "Docente da Universidade de Aveiro" e no caderno de actividades como da "Universidade do Porto". Não apresenta MD9 Fazer Geografia 9 Ana Gomes; Anabela Boto Paula Alexandra Malta Universidade de Aveiro) Não apresenta ME7 À Descoberta - Tema A e Tema B M.ª João Matos; Raul Castelão M.ª Catarina Ramos Herculano Cachinho ME8 À Descoberta 8 - Tema C e Tema D Maria João Matos; Raul Castelão; [Magda Garcia - do Dicionário Ilustrado] Herculano Pinto Cachinho; Jorge Macaísta Malheiros Herculano Pinto Cachinho ME9 À Descoberta - Tema E e Tema F M.ª João Matos; Raul Castelão Herculano Pinto Cachinho Herculano Pinto Cachinho MF7 Viagens 7 - A Terra: Estudos Representações / O Meio Natural Arinda Rodrigues; João Coelho Prof. Doutor Sérgio Claudino Prof. Doutor Sérgio Claudino MF8 Viagens 8 Arinda Rodrigues; João Coelho José Manuel Simões Não apresenta MF9 Viagens 9 Arinda Rodrigues; João Coelho José Manuel Simões Não apresenta e (Docente de da Não apresenta Nota: As designações, descrições e instituições dos revisores constam neste quadro da mesma forma que estão presentes nos manuais escolares analisados. XII Colóquio Ibérico de Geografia As categorias de análise que adoptamos do projecto “Manuais, e-manuais e actividades do aluno” são as seguintes: Quadro 2 – Categorias de análise dos manuais escolares do projecto “Manuais, E-manuais e Actividades dos Alunos” e seus descritores (in DUARTE, CLAUDINO, SILVA, SANTO e CARVALHO, 2008:10-11). Categorias de Análise dos Manuais Escolares Descritores 1. Actividades de Memorização e/ou Transposição Indicar Enumerar Copiar Distinguir Listar Localizar Sublinhar Transcrever 2. Exploração e Produção de Documentos Descrever Caracterizar Identificar Exemplificar Comparar Classificar Interpretar imagens Contar Relatar Comentar Explicar Explicitar Corrigir Alargar Resumir Reconstituir Sintetizar Transformar Debater Avaliar Dinamizar/Participar em projectos Pesquisar (interpretação de frases, gráficos, esquemas e resolução de problemas com base num modelo apresentado) 3. Actividades de Reformulação (definição de conceitos, resumos, sínteses, paráfrases, outras) 4. Situações Problemáticas/Actividades Experimentais/Projectos/Produção de Conhecimentos tabelas, esquemas, A aquisição, organização e tratamento da informação foi registada inicialmente numa base de dados construída para o efeito em FileMaker (figura 1), onde definimos uma parte inicial para identificação do manual e seguidamente fizemos o descritivo de todos os descritores de análise já referidos, bem como calculamos as percentagens de actividades de cada tipo de questões, além de indicar um breve comentário sobre as mesmas e indicação de exemplos. 8 Serão os Manuais Escolares de Geografia suficientemente competentes para desenvolverem as competências geográficas nos nossos alunos? – um estudo centrado em manuais escolares de Geografia de 3.º ciclo do Ensino Básico Figura 1 – Printscreen’s da base de dados de análise dos manuais escolares No entanto, tivemos que introduzir na nossa análise alguns descritores não contemplados pelo projecto que nos serviu de base à construção desta base de dados de análise. A introdução desses novos descritores justificou-se pelas necessidades levantadas na prática de análise dos manuais escolares, bem como pela nossa preocupação de sermos o mais rigorosos possíveis nesta análise. Acreditamos que com a inclusão destes novos descritores a nossa análise ganhou em rigor. XII Colóquio Ibérico de Geografia Cristiana Martinha 9 4. As actividades dos manuais escolares em estudo Concluída a análise dos manuais, verificamos que a distribuição das actividades dos manuais escolares analisados pela tipologia de análise adoptada é a seguinte (gráfico 1 e 2): Gráfico 1 – Distribuição do tipo de actividades dos manuais escolares analisados, em percentagem A c tividades de tipo 1 50 40 MA 7 MA 8 MA 9 MB 7 MB 8 MB 9 MC 7 MC 8 MC 9 MD7 MD8 MD9 ME 7 ME 8 ME 9 MF 7 MF 8 MF 9 30 20 10 A c tividades de tipo 4 0 A c tividades de tipo 2 A c tividades de tipo 3 Gráfico 2 – Distribuição do tipo de actividades nas colecções dos manuais escolares analisados, em percentagem A c tividades de tipo 1 50 MA 40 MB 30 20 MC 10 A c tividades de tipo 4 0 A c tividades de tipo 2 MD ME MF A c tividades de tipo 3 XII Colóquio Ibérico de Geografia 10 Serão os Manuais Escolares de Geografia suficientemente competentes para desenvolverem as competências geográficas nos nossos alunos? – um estudo centrado em manuais escolares de Geografia de 3.º ciclo do Ensino Básico Observando os gráficos concluimos que, em termos genéricos, os tipos de actividades mais presentes nos manuais escolares analisados são as de tipo 1 e 2 (as mais simples cognitivamente). As actividades mais complexas e que mais contribuem para desenvolver competências nos alunos (as actividades de tipo 4) apresentam valores muito baixos, oscilando entre os 1% no MA7 e MA8 e os 8% no MB7 e no MB8. Analisando por colecção (gráficos 3, 4, 5, 6, 7 e 8) conclui-se que as colecções que têm uma distribuição das actividades mais equilibrada são as colecções MB e MF, pois têm maior proporção de actividades de tipo 3 e 4. A colecção menos equilibrada é a MA, onde as actividades de tipo 1 e 2 (as mais simples) têm uma grande proporção e as de tipo 3 e 4 possuem valores muito baixos. Contudo, importa reflectir que o MA é a colecção mais adoptada pelos professores/escolas. Estarão as nossas escolas/professores a “nivelar por baixo” o ensino da Geografia? Estarão eles realmente preocupados em desenvolver competências nos alunos optando pelos manuais escolares mais simples e básicos e menos exigentes para os alunos do ponto de vista cognitivo? Gráfico 3 – Distribuição das actividades na colecção MA Gráfico 5 – Distribuição das actividades na colecção MC Gráfico 4 – Distribuição das actividades na colecção MB Gráfico 6 – Distribuição das actividades na colecção MD XII Colóquio Ibérico de Geografia Cristiana Martinha Gráfico 7 – Distribuição das actividades na colecção ME 11 Gráfico 8 – Distribuição das actividades na colecção MF Podemos ainda concluir que nas actividades de tipo 1 os valores mais altos pertencem ao manual MB9 e ME7 e o valor mais baixo ao MF8 (gráfico 9). Nas actividades de tipo 2 os valores mais altos pertencem ao manual MF8 e o mais baixo ao MB8 (gráfico 10). Nas actividades de tipo 3 os valores mais altos pertencem ao manual MB8 e o mais baixo ao MA7 (gráfico 11). Finalmente, no que diz respeito às actividades de tipo 4 os valores mais altos pertencem aos manuais MB7 e MB8 e os mais baixos ao MA7 e MA8 (gráfico 12). Gráfico 9 – Distribuição das actividades de tipo 1, pelos manuais analisados Gráfico 10 – Distribuição das actividades de tipo 2, pelos manuais analisados XII Colóquio Ibérico de Geografia 12 Serão os Manuais Escolares de Geografia suficientemente competentes para desenvolverem as competências geográficas nos nossos alunos? – um estudo centrado em manuais escolares de Geografia de 3.º ciclo do Ensino Básico Gráfico 11 – Distribuição das actividades de tipo 3, pelos manuais analisados Gráfico 12 – Distribuição das actividades de tipo 4, pelos manuais analisados Contudo, importa ter em atenção, ao analisarmos estes dados, que estamos a comparar manuais escolares bastante diferentes entre si no que diz respeito ao número de actividades que apresentam aos alunos. Este aspecto, a nosso ver, deve também ser levado em conta nesta análise num contexto de comparação entre manuais escolares. Assim sendo, apresentamos também aqui os gráficos com os valores da quantidade de actividades que cada manual escolar, ou colecção apresenta (gráficos 13 e 14) e distribuídas por elementos do projecto pedagógico (gráfico 15) e por ano de escolaridade (gráficos 16, 17 e 18). Gráfico 13 – N.º total de actividades nos manuais escolares analisados XII Colóquio Ibérico de Geografia Cristiana Martinha 13 Gráfico 14 – N.º médio de actividades de cada colecção de manuais escolares analisados Gráfico 15 – Distribuição das actividades nas colecções de manuais escolares analisadas, pelos diferentes elementos do projecto pedagógico Gráfico 16 – N.º de actividades dos manuais escolares analisados de 7.º ano XII Colóquio Ibérico de Geografia 14 Serão os Manuais Escolares de Geografia suficientemente competentes para desenvolverem as competências geográficas nos nossos alunos? – um estudo centrado em manuais escolares de Geografia de 3.º ciclo do Ensino Básico Gráfico 17 – N.º de actividades dos manuais escolares analisados de 8.º ano Gráfico 18 – N.º de actividades dos manuais escolares analisados de 9.º ano 5. Uma possível aproximação à Pedagogia por Competências? – ilações e reflexões possíveis Desta análise aos manuais escolares seleccionados concluímos que existe uma variedade de situações no que diz respeito à sua distribuição pelos diferentes tipos de actividades. De um modo geral, pudemos concluir que os manuais mais equilibrados são o MB e o MF e o mais simples e menos exigente é o MA, que é o manual escolar mais adoptado para este ciclo de estudos. Esta análise complementa o estudo já elaborado pelo projecto “Manuais, e-manuais e actividades do alunos”, afinando-lhe instrumentos de análise, através da inclusão de novos descritores de análise e apresentando novas conclusões que merecem ser reequacionadas e reflectidas. Sem dúvida, concordamos com a conclusão geral desse projecto de que os manuais escolares portugueses de Geografia são muito “básicos” e orientam-se pouco para o XII Colóquio Ibérico de Geografia Cristiana Martinha 15 desenvolvimento de competências nos alunos. Contudo, a nossa investigação permitiu concluir que os manuais escolares diferem substancialmente entre si e que, apesar desta tendência geral, há manuais escolares que oferecem ao aluno um conjunto de actividades mais diversificadas e cognitivamente mais desafiantes do que outros. Além disso, o número de actividade que um manual escolar oferece ao alunos difere muito consoante a colecção a que pertence. Importa também atentar no facto de no contexto actual de certificação de manuais escolares pelo Ministério da Educação, estes aspectos/conclusões a que chegamos deverão ser levados em linha de conta. Maria Helena Esteves refere que “considerando a reorganização curricular de que foi alvo a Geografia no Ensino Básico, as editoras de manuais escolares sentiram necessidade de repensar os manuais de apoio à disciplina. E, tal como aconteceu aos conteúdos programáticos no Currículo Nacional, os manuais "emagreceram" em termos de conteúdos e procurou-se investir em sugestões de actividades, no sentido de tornar a disciplina mais ligada a metodologias de carácter activo" (ESTEVES, 2006:209). Contudo, verificou-se com a presente análise que esse “investimento” nas actividades nos manuais escolares não foi, regra geral, acompanhado pelo crescimento da apresentação de questões desafiantes para os alunos. É precisamente este “nivelamento por baixo” nas actividades dos manuais escolares de Geografia que fazem com que acreditemos que eles ainda são pouco competentes para ajudaram no desenvolvimento de competências geográficas nos nossos alunos. Bibliografia Claudino S (2010) Manuais Escolares de Geografia: o esvaziamento dos propósitos pedagógicos-didácticos dos programas? in DUARTE, José (org.) – Manuais Escolares e dinâmica da aprendizagem: podem os manuais contribuir para a transformação da escola?. Lisboa, Edições Universitárias Lusófonas, p. 69-102. Claudino S (2009) Os manuais e as actividades de aprendizagem dos alunos. Discursos didácticos e propostas de Geografia e outras disciplinas. Colóquio Geografia aos Sábados - II edição. Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Duarte J, Claudino S, Silva C, Santo E, Carvalho L (2008) Podem os manuais escolares contribuir para a melhoria da escola?. Lisboa, UID-OPECE da Universidade Lusófona de Lisboa. [Documento de trabalho preliminar]. Duarte J, Claudino S, Silva C, Santo E, Carvalho L (2009) Podem os manuais escolares contribuir para a melhoria da escola? in ANTÓNIO, Ana, ESTRELA, Elsa, GALEGO, Carla, TEODORO, António (org.) – Educando o Cidadão Global.Globalização, Educação e Novos Modos de Governação. Lisboa, Edições Universitárias Lusófonas, p. 578-598. Esteves M (2006) Ensinar a "Cidade" no Ensino Básico. Finisterra, XLI, 81, p. 205-213. Gérard F, Roegiers X (1998) Conceber e Avaliar Manuais Escolares. Porto, Porto Editora. Leite L, Costa C, Esteves E (2008) Os manuais escolares e a aprendizagem baseada na resolução de problemas: um estudo centrado em manuais escolares de Ciências Físico- XII Colóquio Ibérico de Geografia 16 Serão os Manuais Escolares de Geografia suficientemente competentes para desenvolverem as competências geográficas nos nossos alunos? – um estudo centrado em manuais escolares de Geografia de 3.º ciclo do Ensino Básico Químicas do ensino básico. Actas do XXI Congreso de ENCIGA (Cd-Rom). Carballiño, IES Manuel Chamoso Lamas. Martinha C (2010) Investigación sobre profesores de Geografía (en prácticas): una reflexión metodológica y una hipótesis para la reflexión y el desarrollo de las prácticas de la enseñanza en la Enseñanza de la Ciencias Sociales in ÁVILA RUIZ, Rosa, RIVERO GRACIA, M.ª Pilar, DOMÍNGUEZ SANZ (coords.) - Metodología de investigación en Didáctica de las Ciencias Sociales. Zaragoza, Institución «Fernando El Católico», p. 485-493. Martinha C (2009) Manuais Escolares de Geografia e Pedagogia por Competências - a Formação Inicial de Professores de Geografia como elemento de reflexão crítica. Colóquio Geografia aos Sábados - II edição. Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Martinha C (2010) Os Manuais Escolares e o Desenvolvimento de Competências nos Alunos – um desafio de investigação. 2.º Colóquio Internacional Manuais Escolares e Dinâmica da Aprendizagem. Manuais Escolares nos Discursos e Práticas. Lisboa, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, no prelo. Morgado J (2004) Manuais Escolares – Contributo para uma análise. Porto, Porto Editora. Peyser A, Gerard F, Roegiers X (2006) Implementing a pedagogy of integration: some thoughts based on a Textbook Elaboration Experience in Vietnam. Planning and Changing, vol. 37, n.º 1&2, p. 37-55. Roegiers X, De Ketele J-M (2004) Uma Pedagogia da Integração – Competências e aquisições no ensino. São Paulo, Artmed Editora. Santo E (2006) Os manuais escolares, a construção de saberes e a autonomia do aluno. Auscultação a alunos e professores. Revista Lusófona de Educação, 8, 103-115. Soares T (2008) O currículo de Geografia do Terceiro Ciclo e suas implicações no desenvolvimento de competências de cidadania pelos alunos. Dissertação de Mestrado em Educação - Área de Especialização em Formação Pessoal e Social. Lisboa, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Souto González X (2002) Los manuales escolares y su influencia en la instrucción escolar. Biblio 3W, Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales. Barcelona, Universidad de Barcelona, Vol. VII, nº 414. XII Colóquio Ibérico de Geografia