MÉTODOS DE RASTREAMENTO PARA DETECÇÃO DO CÂNCER MAMA E A IMPORTÂNCIA DA APLICABILIDADE DA AVALIAÇÃO CITOLÓGICA NO DIAGNÓSTICO* Methods of tracking for detection of breast cancer and the importance of the applicability of cytological diagnosis Daniele Machado¹; Alessandra Melise Golke²; Ritiéle P. Coelho1; Patrícia M. Olievira2, Angélica Aparecida da Costa Güllich²; Bruna Cocco Pilar²; Deise Jaqueline Ströher²; Vanusa Manfredini² RESUMO O câncer de mama é a neoplasia mais frequente no mundo e o mais comum entre mulheres, caracterizado por etiopatogênese multifatorial e complexa, não há um método de prevenção, desta forma deve-se dar ênfase a detecção precoce. Os programas de rastreamento e detecção apoiam-se na tríade: autoexame das mamas, exame clínico das mamas e mamografia. A citologia é considerada um importante instrumento de diagnóstico em doenças mamárias pela sua simplicidade e precisão. O objetivo desse estudo foi abordar os métodos de diagnóstico disponíveis para o rastreamento do câncer de mama e ressaltar a importância da citologia mamária. Os principais meios de detecção precoce em mulheres assintomáticas consistem na tríade, porém pode-se utilizar ultrassonografia, ressonância magnética, biópsia cirúrgica, punção aspirativa por agulha fina e punção por agulha grossa. Em nódulos palpáveis podem-se realizar biópsias que permitem sua caracterização, contribuindo para diminuição de tratamentos radicais e cirurgias desnecessárias. Após o tratamento, pode-se acompanhar o aparecimento de recidivas através da dosagem dos marcadores tumorais. O exame citológico não possui contraindicação, é o meio mais rápido e de menor custo para se atingir o diagnóstico. Tais recursos ajudarão na detecção e evolução, contribuindo para a qualidade de vida e diminuição da taxa de mortalidade. Palavras-chaves: Câncer de mama. Métodos de Detecção. Rastreamento. Citologia Mamária. *Laboratório de Hematologia Clínica e Citologia Clínica, Universidade Federal do Pampa, Campus Uruguaiana-RS. ¹Farmacêutica. ²Programa de Pós-Graduação em Bioquímica, Universidade Federal do Pampa, Campus Uruguaiana-RS. ABSTRACT Breast cancer is the most common cancer worldwide and the most common among women, characterized by complex and multifactorial disease, there is a method of prevention, this way should be emphasized early detection. Screening programs and detection rely on the triad: breast self-examination, clinical breast examination and mammography. Cytology is considered an important diagnostic tool in breast diseases due to its simplicity and precision. The aim of this study was to address the diagnostic methods available for screening breast cancer and highlight the importance of breast cytology. The main means of early detection in asymptomatic women consist of the triad, but you can use ultrasonography, magnetic resonance, surgical biopsy, needle aspiration and fine needle puncture thick. In palpable nodules can be performed biopsies that allow their characterization, contributing to reduction of radical treatments and unnecessary surgeries. After treatment, can accompany the onset of relapses by measuring tumor markers. The cytological examination has no contraindications, is the fastest and lowest cost to reach the diagnosis. These resources will help in the detection and evolution, contributing to quality of life and decreased mortality. Keywords : Breast cancer . Detection Methods . Tracking . Breast Cytology . 1 INTRODUÇÃO O câncer de mama é a neoplasia mais frequente no mundo e a mais comum entre as mulheres. Conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), a estimativa para 2012 eram de 52.680 novos casos no Brasil, com um risco estimado de 52 casos a cada 100 mil mulheres. No estado do Rio Grande do Sul, o câncer de mama é o mais incidente entre as mulheres, com taxas de incidência de 81 por 100 mil mulheres.(1,2) A taxa de mortalidade vem aumentando devido a vários fatores, que incluem o melhor registro das causas de morte, aprimoramento no processo de diagnóstico, envelhecimento da população e diagnóstico tardio da doença (3,4). Devido à falta de métodos para sua prevenção, atualmente vem sendo dada atenção especial para a detecção precoce, na qual é possível identificar o câncer no seu órgão de origem, antes que ocorra a invasão de tecidos adjacentes e órgãos à distância, objetivando atingir maior sobrevida (4,5). Os programas de rastreamento e detecção precoce do câncer de mama, em sua maioria apóiam-se na tríade constituída pelo auto-exame das mamas, exame clínico das mamas e mamografia (6,7). Ainda pode-se utilizar ultra-sonografia, ressonância magnética, biópsia cirúrgica, punção aspirativa por agulha fina (PAAF) e punção por agulha grossa (PAAG) ou core biopsy para análise detalhada das lesões (5). O auto-exame é um método de detecção precoce realizado pela própria mulher, através do qual pode-se detectar alterações nas características mamárias. O exame clínico das mamas tem o mesmo objetivo, com o diferencial de ser realizado por profissional habilitado que auxilia a mulher a verificar as alterações encontradas durante o auto-exame (4,5). A mamografia é um dos métodos mais importantes para o diagnóstico das alterações da mama e quando associada ao exame físico constitui a modalidade padrão para o rastreamento dessa patologia. Já a ultra-sonografia não é um método recomendado isoladamente para o rastreamento, sendo reconhecida como importante método complementar da mamografia, trazendo benefícios para a orientação de biópsias. Estes métodos em conjunto permitem a visualização dos nódulos e a sua aspiração para a realização de biópsias, através das quais é possível realizar análise citológica e, assim, confirmar a benignidade ou malignidade da lesão (8,9). A análise citológica representa um importante instrumento de rastreamento em doenças mamárias devido à sua simplicidade e precisão, tendo elevada sensibilidade (70% a 90%). No entanto, os achados citológicos devem sempre ser correlacionados com a clínica e com os achados de imagem (10). Outra forma de rastreamento do câncer de mama é a dosagem dos marcadores tumorais, utilizados principalmente para acompanhamento do processo terapêutico e verificação de ocorrência de recidivas em mulheres que apresentaram tumores malignos (11). Dessa forma, os métodos apresentados permitem a detecção e o rastreamento de nódulos nas mamas, com identificação e caracterização das lesões, objetivando o tratamento precoce e, consequentemente, proporcionando melhor qualidade de vida às pacientes acometidas por esta neoplasia. Assim, o objetivo desse artigo foi abordar, através de uma revisão narrativa, os métodos disponíveis de diagnóstico e rastreamento do câncer de mama e, sobretudo, mostrar a importância da aplicabilidade da avaliação citolgica na identificação de lesões benignas e/ ou malignas. 2 CICLO CELULAR E CÂNCER As células normais de todo organismo possuem um ciclo de proliferação celular rigorosamente controlado para que as células se agrupem e formem os tecidos, os quais são constituintes dos órgãos, que formam os sistemas, com o objetivo da manutenção da vida. O ciclo celular é composto por fases de crescimento, síntese de DNA e divisão. A transferência de uma fase para a outra é controlada por sinais químicos específicos e respostas precisas a estes sinais. Quando estes sinais são percebidos incorretamente ou se a célula não está preparada para responder, a mesma pode se transformar em uma célula cancerígena (12), a qual apresenta o ácido desoxirribonucléico (DNA) danificado. Desta forma, a neoplasia surge de uma alteração genética, onde uma única célula sofreu mutação, multiplicou-se por mitoses e, a partir desta, originou células descendentes, que foram acumulando outras mutações até darem origem a uma célula cancerosa. A presença desses tumores se caracteriza pela proliferação celular anormal, cuja denominação correta é neoplasia (13). Em alguns casos, a predisposição a desenvolver câncer é herdada geneticamente, mas em sua maioria, o desenvolvimento de câncer decorre do acúmulo de mutações espontâneas nos tecidos somáticos, devido à ação de carcinógenos, como mutagênicos químicos, radiação ionizante, luz ultra-violeta e vírus (12,14). Os protoncogenes são genes celulares normais que atuam no controle positivo, estimulando o crescimento e a diferenciação celular. Se estes forem expostos aos agentes carcinogênicos físicos, químicos ou biológicos, sofrem mutações espontâneas transformando-se em oncogenes. A ativação desses protoncogenes ocorre por meio de translocações cromossômicas, amplificações gênicas ou mutações de ponto, sendo que alterações em um único alelo são suficientes para transformá-los em oncogenes, levando a uma proliferação celular anormal e resultando na formação do tumor (15,16). Esses tumores podem ser malignos ou benignos, sendo que só os primeiros recebem a denominação de câncer, devido à característica de sofrerem divisões e com isso invadirem outros tecidos do corpo, causando metástase. Nos tumores benignos, as células permanecem localizadas no local de sua origem, não ocorrendo o processo de metástase (13). Os genes supressores tumorais atuam como “freios” da proliferação celular. Existem aproximadamente 30 genes supressores tumorais identificados que codificam proteínas reguladoras dos checkpoints celulares e inibem a progressão do ciclo celular, caso o DNA seja danificado. Uma vez que estes genes controlam negativamente a proliferação e a sobrevivência celulares, mutações que levam a perda das funções por eles reguladas podem contribuir para o desenvolvimento de um tumor. No entanto, as mutações que inativam os genes supressores de tumor são recessivas, sendo expressas somente quando ambos os alelos são mutados (16). 3 CÂNCER DE MAMA O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais freqüente no mundo e o primeiro entre as mulheres, sendo que as taxas de incidência dobraram nos últimos trinta anos (17). No Brasil, as taxas de mortalidade por câncer de mama continuam elevadas, muito provavelmente porque a doença ainda é diagnosticada em estágios avançados (1,2). Em relação aos fatores relacionados ao câncer de mama, a idade elevada, geralmente após os 50 anos, é o fator mais importante e, na maioria dos casos, é o único encontrado. A incidência aumenta com a idade, principalmente próxima a perimenopausa e diminui no período pós menopausa (4). A densidade mamária também tem relação com o câncer de mama, sendo que mulheres que apresentam alta densidade do tecido mamário, indicando maior proporção entre o tecido epitelial e conjuntivo, estão sob maior risco de desenvolver a doença do que aquelas com uma maior proporção de tecido adiposo (18,19). Em relação aos fatores genéticos, o desenvolvimento de câncer hereditário de mama está relacionado a três genes supressores tumorais: o Gene do Câncer de Mama tipo 1 (BRCA 1), o Gene do Câncer de Mama tipo 2 (BRCA 2) e o TP53, sendo que a freqüência de mutação neste último não é muito comum no câncer de mama (12,20). No entanto, apesar das mutações nesses genes estarem relacionadas ao desenvolvimento de neoplasia mamária, as mesmas estão presentes em uma pequena parcela da população, o que limita a importância prática desses dados (4). Outros fatores como antecedente pessoal de hiperplasia atípica ou carcinoma lobular in situ, menarca precoce, menopausa tardia, câncer de ovário, nuliparidade, primeira gestação após os 30 anos, terapia de reposição hormonal, uso prolongado de anticoncepcionais orais, exposição a altas doses de radiação ionizante e obesidade na pós-menopausa estão associados a uma predisposição ao desenvolvimento de câncer de mama (4,21,22,23). Alguns fatores como sedentarismo, ingestão de álcool e gorduras, história de abortos, não-amamentação, tabagismo e exposição a toxinas ambientais estão sendo estudados em relação à correlação com o câncer de mama (21,22). A utilização de antitranspirantes e de implantes de próteses mamárias de silicone, além de exposição a campos magnéticos e trauma mamário são fatores que até o presente momento não são associados ao câncer de mama (22). Portanto, o câncer de mama é uma doença que se caracteriza por ter etiopatogênese multifatorial e complexa, não havendo um método de prevenção (6,24), sendo que a melhor forma de evitar sua progressão é através do diagnóstico precoce (25). 3.1 Meios de detecção e rastreamento A detecção precoce do câncer de mama contribui para o aumento das opções terapêuticas, probabilidade de sucesso do tratamento, bem como o aumento da sobrevida das pacientes (25). Os principais meios de detecção incluem o autoexame das mamas (AEM), o exame clínico das mamas (ECM) e a mamografia, podendo-se ainda utilizar ultrassonografia e ressonância magnética. A confirmação de benignidade ou malignidade é feita através de exame cito-histológico realizado por meio de biópsias. O acompanhamento do tratamento é feito através da dosagem de marcadores tumorais (1,2). 3.1.1 Tríade de rastreamento e detecção Como mencionado anteriormente, a maioria dos programas de rastreamento e detecção precoce do câncer de mama apoiam-se na tríade constituída pelo AEM, ECM e mamografia. No AEM, as mulheres devem conhecer o seu corpo e reconhecer as alterações que podem surgir na mama (4). Segundo Gonçalves e Dias (26), a mulher pode detectar pequenas mudanças nas propriedades físicas da mama, o que leva a descobrir nódulos com 1 cm de diâmetro, diminuindo a probabilidade de metástases. Deste modo, apesar do AEM ainda constituir uma das etapas de rastreamento do câncer mamário e de ser um procedimento de baixa complexidade e sem custo operacional (24), o INCA não estimula seu uso como método isolado de detecção precoce do câncer de mama, pois evidências científicas sugerem que o AEM não é eficiente para a detecção precoce e não contribui para a redução da mortalidade por câncer de mama. Além disso, traz consequências negativas, como aumento do número de biópsias de lesões benignas, falsa sensação de segurança nos exames falsamente negativos e impacto psicológico negativo nos exames falsamente positivos. Portanto, o exame das mamas feito pela própria mulher não substitui o exame físico realizado por profissional de saúde qualificado para essa atividade (1,2). O ECM é realizado por um profissional de saúde habilitado, de forma sistematizada, o qual consiste nas fases de inspeção, palpação e registro dos achados, devendo ser realizado anualmente, especialmente em mulheres com 40 anos ou mais. As mulheres a partir dos 35 anos de idade devem realizar o ECM, principalmente as que apresentam risco elevado de pré-disposição ao desenvolvimento de câncer de mama (5,27). Na etapa de inspeção, são observadas a cor do tecido mamário, erupções cutâneas ou descamação, evidência de pele em “casca de laranja”, além de proeminências venosas, massas visíveis, retrações ou pequenas depressões. Na palpação são examinados os linfonodos das cadeias axilares, supra e infraclaviculares, devendo ser observado o número de linfonodos palpados, bem como seu tamanho, consistência e mobilidade. Após o exame em toda a mama, o mamilo deve ser espremido delicadamente, para verificar se existe alguma secreção. Ao fim do exame, deve ser relatada a presença de alterações, como nódulos, adensamentos, secreções mamilares ou areolares, entre outras (8). A variação da sensibilidade depende do tamanho do tumor, sendo que apresenta cerca de 88% de sensibilidade para lesões maiores que 1 cm, mas somente 34% a 55% em tumores menores que 1 cm. A especificidade deste método varia de 89% a 96% (4). A mamografia é o método de escolha para o rastreamento populacional do câncer de mama em mulheres assintomáticas, sendo indicada para pacientes com mais de 40 anos, com realização anual. Este método consiste na primeira técnica de imagem indicada para avaliar a maioria das alterações clínicas mamárias, podendo diagnosticar distintas alterações não palpáveis, principalmente para identificar alterações sugestivas de malignidade (8,22,25,27). A mamografia é realizada em aparelho de raios X apropriado, chamado mamógrafo, no qual são feitas, através de compressão, duas incidências de cada mama, uma crânio-caudal e outra médio-lateral oblíqua. Os sinais radiológicos visualizados por esta técnica são principalmente os nódulos, as microcalcificações e as densidades assimétricas focais ou difusas, além de distorções parenquimatosas, dilatação ductal, espessamento cutâneo, retração da pele e/ou complexo aréolo-papilar e linfonodopatia axilar (25,28). Para a geração do laudo mamográfico deve-se seguir a proposta do Breast Imaging Reporting and Data System (BI-RADS®), publicado pelo Colégio Americano de Radiologia (EUA) e traduzida pelo Colégio Brasileiro de Radiologia, o qual padroniza o laudo mamográfico e sugere as condutas clínicas como demonstrado na Tabela 1 (27). A mamografia apresenta algumas limitações na detecção do câncer, como, por exemplo, a densidade radiológica da mama. Portanto, nestes casos, necessita-se de métodos de imagem suplementares como a ultra-sonografia e a ressonância magnética para auxiliar no rastreamento e avaliação de mamas densas. Algumas das principais indicações da ultra-sonografia são para diferenciação e caracterização de nódulos sólidos e cistos identificados pela mamografia ou pelo exame clínico, avaliação de pacientes jovens, gestantes ou lactantes com alterações mamárias, além de pesquisa de abscessos e avaliação de nódulos palpáveis em mamas radiologicamente densas (3,7,8,25). Já a ressonância magnética é utilizada como método adjunto da mamografia e da ultra-sonografia na detecção, caracterização e planejamento terapêutico do câncer de mama, bem como na caracterização da extensão local do câncer e da presença de doença residual em pacientes de alto risco (25,27). Os nódulos redondos, ovais ou lobulados com menos de três lobulações com margens circunscritas, orientação paralela e ausência acentuada de hipoecogenicidade, sombra acústica posterior, calcificações e alterações no tecido adjacente, independente da ecotextura e da presença da pseudo-cápsula, apresentam sensibilidade e valor preditivo negativo para câncer. Já os nódulos que apresentam margem não-circunscrita, forma irregular, ecogenicidade complexa, sombra acústica posterior, orientação nãoparalela, halo ecogênico e alterações nos tecidos adjacentes são características de nódulos mamários sugestivos de malignidade. Diante destas observações, deve-se avaliar de forma mais criteriosa a ultra-sonografia e, com a identificação de qualquer modificação característica de malignidade, é recomendada a realização de biópsia (9,29). 3.1.2 Marcadores tumorais Os marcadores biológicos são componentes celulares, estruturais e bioquímicos que estão presentes em células normais e/ou tumorais. Em células tumorais, são definidos como alterações celulares e moleculares associadas à transformação maligna. Tais marcadores podem ser úteis no manejo clínico dos pacientes, auxiliando no diagnóstico, estadiamento, avaliação da resposta terapêutica, detecção de recidivas e avaliação do prognóstico (30,31). O aumento dos mesmos em níveis séricos pode indicar falha no esquema terapêutico, no entanto, a diminuição destes não exclui metástases. Desta forma, não devem ser utilizados como método individualizado, mas sim em conjunto com métodos de imagem, história do paciente e exames físicos (31). Dentre os principais marcadores tumorais estão o Antígeno do Câncer 15.3 (CA 15.3), Antígeno do Câncer 27.29 (CA 27.29), Antígeno Carcinoembrionário (CEA), Antígeno Mucóide associado ao Carcinoma (MCA) e C-erbB-2. O CA 15.3 é uma glicoproteína produzida pelas células epiteliais glandulares, representa o marcador para o câncer de mama, cuja sensibilidade varia de acordo com a massa tumoral e estadiamento clínico, sendo de 88 a 96% na doença com metástase. O valor de referência considerado normal é 25 U/mL, sendo útil no diagnóstico de recidivas, precedendo os sinais clínicos em até 13 meses. É recomendado para monitoramento de pacientes com doença metastática em conjunto com imagem, história e exame físico. Quando ocorre seu aumento durante o tratamento, pode indicar falha terapêutica. Devido à baixa especificidade e sensibilidade, não é recomendado para diagnóstico (11). O CA 27.29 é semelhante ao CA 15.3, devido ao fato de não possuir sensibilidade e especificidade suficientes para ser utilizado como um teste diagnóstico, é usado para identificação de recidivas do câncer de mama. Para este fim, possui sensibilidade de 58% e especificidade de 98%, com um valor de referência de até 38U/mL. É indicado para seguimento de pacientes com neoplasia mamária, permitindo a detecção de recidivas e, com isso, permite que ocorram decisões terapêuticas, pois este marcador apresenta boa correspondência com o curso da doença, sendo que geralmente há um paralelo entre a concentração sérica do marcador e a atividade da doença (11). O CEA é produzido pelas células da mucosa gastrointestinal, pertence à família das imunoglobulinas. Tem o valor de referência de 3,5 ng/mL em não fumantes e 7ng/mL em fumantes. Apresenta-se elevado em diversas doenças malignas, especialmente de linhagem epitelial. Encontra-se em níveis elevados em 25 a 50% dos tumores gástricos e de mama. Não é recomendado para triagem, diagnóstico, estadiamento ou avaliação da sobrevida em pacientes com câncer de mama devido à falta de estudos relevantes, podendo somente auxiliar no monitoramento de pacientes com doença metastática em conjunto com outros dados clínicos (11). A combinação de CA 15.3 e CEA é útil no monitoramento da progressão do câncer mamário durante o período que se segue após a primeira linha de quimioterapia, funcionando como alerta para a interrupção de um tratamento ineficaz, evitando assim efeitos colaterais desnecessários (11). O MCA é uma glicocoproteína utilizada com a finalidade de monitoramento do carcinoma mamário. Seu valor de referência é 11U/mL. Apresenta especificidade de 87% e sensibilidade inferior ao CA 15.3, sendo de 60% nos casos de doença metastática (11). Na literatura, vários são os nomes adotados para este marcador: c-erbB-2, cerbB2, C-erbB-2, HER-2, HER-2/neu, ERBB2, erbB2, neu/c-erbB-2, oncogene neu, proteína neu, neu. Neste trabalho será adotado o “C-erbB-2”. Este marcador é um oncogene, pertence à família de receptores de membrana cujo domínio extracelular pode ser identificado, dosado em cultura ou liberado na circulação (32). Sendo que, quando apresenta expressão aumentada é um indicador de prognóstico ruim. Pode ser detectado antes do diagnóstico clínico, apresentando-se elevado precocemente no processo de carcinogênese. Está amplificado e hiperexpresso em 20% a 40% dos carcinomas primários de mama, sendo que quando a expressão está aumentada, observa-se benefício com a utilização de altas doses de quimioterapia (33). Os marcadores tumorais representam um exame complementar para o acompanhamento do aparecimento de recidivas em pacientes com doença metastática, contribuindo para a modificação terapêutica, considerando que quando os níveis apresentam-se elevados no início e ocorre uma diminuição com a intervenção terapêutica, corresponde a uma resposta favorável, caso contrário, são necessários ajustes no esquema terapêutico. 3.1 Exame citológico O câncer de mama apresenta evolução subclínica longa, muitas vezes não é detectado pelo auto-exame e pelo exame clínico das mamas. Nesta fase, a mamografia tem papel fundamental na detecção de nódulos, que através de métodos de imagem adjuvantes procura-se visualizar a morfologia da massa tumoral para determinação de malignidade ou benignidade. Apesar de esses métodos apresentarem características complementares, muitas vezes a morfologia de tumores palpáveis não fica evidente. Nestes casos as biópsias são os exames determinantes, através dos quais obtêm informações referentes às células presentes, sendo possível verificar a evolução da doença. (24) Os métodos descritos são de grande importância na detecção do câncer de mama, e na presença de alguma alteração em qualquer método de imagem deve-se realizar a caracterização para estabelecer se ela representa uma alteração benigna ou uma lesão maligna, sendo a probabilidade de malignidade de uma alteração determinada principalmente pela avaliação de suas características morfológicas e evolutivas (redução, estabilidade ou crescimento ao longo do tempo) (25). As alterações funcionais benignas da mama são condições clínicas caracterizadas por dor e/ou nodularidade mamária que aparece no começo do menacme, inicia-se ou intensifica-se no período pré-menstrual e tende a desaparecer com a menopausa (8). 3.1.1 Diagnóstico Nas lesões não palpáveis, deve-se seguir a proposta do Breast Imaging Reporting and Data® System (BI-RADS®), que recomenda a realização de dois controles radiológicos com intervalo semestral, seguidos de dois controles com intervalo anual para os casos Categoria 3. Nas Categorias 4 e 5 indica-se o estudo histopatológico, que pode ser realizado por meio de PAAG, mamotomia ou biópsia cirúrgica para caracterização das alterações mamárias (27). Lesão de nódulo palpável na mama ou no rastreamento mamográfico devem ser investigadas, salientando-se que até 80% dos tumores mamários palpáveis são alterações benignas, sendo que o conhecimento mais detalhado evitará procedimentos invasivos em excesso ou falha no diagnóstico de eventual lesão maligna (8). Nas lesões palpáveis com imagem negativa (mamografia e ultra-sonografia), deve-se prosseguir a investigação com punção aspirativa com agulha fina (PAAF), punção aspirativa com agulha grossa (PAAG) ou biópsia cirúrgica (27). O primeiro diagnóstico diferencial que deve ser realizado em caso de nódulo palpável é a investigação do pseudo-nódulo mamário, pois mulheres no menacme, na segunda fase do ciclo, frequentemente se queixam e apresentam nódulos palpáveis que aparecem devido ao estímulo sinérgico do estradiol e da progesterona que provoca a proliferação do epitélio e do estroma produzindo nodularidade e dor na fase prémenstrual. Com o final da fase lútea, ocorre a regressão do epitélio lobular e do estroma intralobular, bem como a melhora da sintomatologia com o início do ciclo menstrual (8). Quando se detecta nodularidades isoladas que persistem após dois ou três ciclos menstruais, deve-se considerar como primeira opção, a PAAF, por ser um método de fácil execução, apresentar desconforto mínimo e baixo custo. Em caso de cisto mamário, este procedimento será diagnóstico e terapêutico. Os cistos ocorrem mais comumente na faixa etária de 35 a 50 anos com uma incidência de 7 a 10% da população feminina e, apresentam como característica nódulos de aparecimento rápido, de contornos regulares, móveis e dolorosos. Podem ser uni ou bilaterais, com consistência amolecida ou líquida. Na sua gênese são considerados alguns fatores, como menarca precoce, menopausa tardia, nuliparidade, oligoparidade ou primiparidade tardia e amamentação curta ou ausente (8). Outro achado mamográfico pode ser o fibroadenoma, que é comum em mulheres com menos de 35 anos, assintomático em 25% dos casos e com múltiplas lesões em 13 a 20%. Os esteróides sexuais são apontados como agentes promotores, bem como fatores parácrinos entre o epitélio e o estroma são importantes no controle de seu crescimento, que em geral é auto-limitado, não ultrapassando 3 a 4 cm de diâmetro. Seu diagnóstico pode ser realizado clinicamente, já que se caracteriza como um tumor único ou múltiplo, móvel, bem delimitado, não fixa ao tecido adjacente, lobulado, de crescimento lento, com maior ocorrência no quadrante súpero-lateral. A frequência de transformação para malignidade é baixa, ocorrendo entre 0,1 a 0,3% dos casos, na faixa etária dos 40 aos 45 anos, ou seja, 15 a 20 anos após a ocorrência do fibroadenoma, sendo que o tipo histológico geralmente envolvido é o lobular. Também pode ser diagnosticado através da ultra-sonografia, na qual se visualiza uma imagem nodular circunscrita, ovalada, hipoecóide, com margens bem definidas e com maior eixo paralelo a pele. Pode ocorrer a formação de reforço posterior e sombras laterais, que são características de benignidade, classificadas como BI-RADS®3 (8). Nas faixas etárias mais elevadas, na qual pode-se realizar a mamografia, a imagem nodular apresenta-se circunscrita, ovalada, de média densidade e eventualmente com calcificações grosseiras, que recebe classificação BI-RADS®2 (8). A punção aspirativa com agulha torna-se importante, pois é o método específico para o diagnóstico do fibroadenoma. No esfregaço, observa-se grupos celulares epiteliais em dedo de luva, formando agrupamentos arborescentes e numerosos núcleos desnudos, muitas células ductais coesas em monocamadas e fragmentos de células estromais (8). 3.1.2 Citologia Mamária Os achados citológicos devem ser correlacionados com a clínica e com os achados de imagem, visto que é importante a análise cautelosa do laudo do exame citológico em correlação com achados clínicos-radiológicos, pelo fato que podem ocorrer falsos-positivos (erro de interpretação), e por isso a mastectomia não deve ser realizada só pela análise citológica. Individualmente, a acurácia do exame citológico fica ente 90-99%, da mamografia 85-90% e o exame clínico fica entre 70-90%, e os três testes juntos podem demonstrar até 99% de acurácia. (34) Neste exame, podemos verificar a diferença entre lesões que favorecem a benignidade bem como que favorecem malignidade. Lesão benignas possuem células organizadas em retalhos, núcleo uniforme, membranas nucleares lisas, nucléolos inconspícuos, células bipolares e coesão celular. A célula maligna, por sua vez, tem células dispersas e pleomorfismo nuclear, com membrana nuclear irregular e espessa, nucléolos evidentes, fundo necrótico e sem coesão celular. (34) O exame consiste em colocar o material em três lâminas, após punção, seguido, imediatamente, da fixação. Dentre os achados citológicos laboratoriais podemos citar lesões císticas ou sólido-císticas benignas, ectasia ductal, doença fibrocística, lesões inflamatórias com necrose, papilomas, lesões sólidas benignas, entre outras. A determinação histológica é importante para a determinação do tratamento, que pode ser cirúrgico ou quimioterápico, dependendo das características apresentadas pelo tumor. Desta forma, vários sistemas que utilizam agulhas foram desenvolvidos para análise do núcleo (35). 3.1.2.1 Punção aspirativa por agulha fina (PAAF) A PAAF é um procedimento ambulatorial, de baixo custo, de fácil execução, raramente apresenta complicações, econômica e dispensa o uso de anestesia (36,37,38). É um método que fornece material para exame da morfologia celular da lesão, permitindo o diagnóstico citológico de uma série de lesões benignas e malignas, baseado nas alterações de celularidade, coesão celular, características do núcleo e da distribuição da cromatina (27,39), sendo uma ferramenta rápida, confiável e econômica para o diagnóstico de lesões mamárias com um alto grau de sensibilidade e especificidade, que contribui para a redução de biópsia excisional em casos de resultado benigno (8,23,40). É um método que pode ser utilizado em lesões pequenas, difícies de aspirar através da Punção aspirativa com agulha grossa (PAAG), permitindo a amostragem de toda a lesão, a qual deve ser incisada com a agulha várias vezes para obter material suficiente para a análise citológica. Apresenta sensibilidade variando de 82% a 97,5% e especificidade de 99%. Através dos resultados por esta técnica é possível diminuir o estado de ansiedade das pacientes, além da realização de procedimentos cirúrgicos desnecessários (8,23). Não é possível a diferenciação entre tumores invasivos e não-invasivos, impossibilidando a identificação do grau do tumor de forma confiável, tornando este método limitado e sendo necessário um estudo complementar como, por exemplo, dos receptores hormonais, o qual pode ser obtido por PAAG (8). 3.1.2.2 Punção aspirativa com agulha grossa (PAAG) A PAAG ou core biopsy é também um procedimento ambulatorial, minimamente invasivo, realizado sob anestesia local, que deixa cicatrizes discretas e produz poucas complicações ou intercorrências, representadas por edemas no local da punção (41,42). Essa técnica não é indicada a pacientes com próteses mamárias, em casos de coagulopatias ou em lesões muito pequenas, próximas a musculatura peitoral ou muito superficiais (43). É utilizada para retirar pequenos cilindros de material de áreas contendo tecidos anormais. Normalmente o médico utiliza guias para direcionar a agulha no interior da mama, enquanto vai realizando a palpação da mama a procura de nodulações e áreas diferenciadas, sendo que para a coleta do material são utilizadas agulha de calibre 14. Neste método, é possível obter fragmentos que podem representar amostra significativa da lesão mamária e, se a alteração for benigna, a cirurgia pode ser evitada, visto que a PAAG apresenta diagnóstico confiável (43,44). Este procedimento apresenta melhor sensibilidade e especificidade em relação a PAAF, fornecendo material para diagnóstico histopatológico, permitindo inclusive a dosagem de receptores hormonais (27,45). Conforme Zanetti e Silva (44), dependendo do tamanho e/ou a localização do nódulo mamário, a PAAG pode ser realizada de diversas maneiras. Em caso de nódulos pequenos ou muito profundos, o que dificulta a palpação, a PAAG pode ser guiada por ultrassom, estereotáxica e biópsia assistida a vácuo (ou mamotomia). Mulheres que através dos achados de imagem são classificadas como BIRADS®4 são as que mais necessitam desse método, pois se pode evitar a biópsia convencional em lesões benignas, bem como aumentar o número de lesões que deverão ser submetidas a cirurgia. Como limitação deste método, pode-se considerar o volume de material coletado, que deve ser adequado para análise anatomopatológica (41). 3.1.2.3 Biópsia cirúrgica convencional (BCC) A biópsia excisional é realizada principalmente em lesões não palpáveis, a qual deve ser precedida de marcação que pode ser guiada por raios X ou ultra-sonografia. Também é realizada em casos de recidivas locais e quando o conteúdo do aspirado for sanguinolento ou quando persistir a massa palpável ou densidade mamográfica após a remoção de todo o líquido (27,46). As biópsias, como a PAAF e a PAAG, são métodos simples e confiáveis, que identificam tanto lesões malignas quanto benignas, sendo importante esta diferenciação antes de pré-operatório; dependendo da observação das características morfológicas e celulares dos nódulos, realiza-se a classificação da lesão e a partir desta informação pode-se determinar um esquema terapêutico adequado para o tratamento da lesão, contribuindo para a redução da realização de cirurgias e métodos agressivos desnecessários, permitindo um aumento da sobrevida das pacientes acometidas por essa neoplasia. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O câncer de mama é uma doença que apresenta etiologia complexa, podendo ser originada de vários fatores desde genéticos como ambientais. Devido a este fato, ainda não há disponível um método de prevenção, mas sugere-se que a sua detecção em fases iniciais contribui para a eficácia do tratamento. A citologia é considerada um importante instrumento de diagnóstico em doenças mamárias pela sua simplicidade e precisão. O exame citológico das mamas, apesar de poder causar sangramento quando é realizada punção, não possui contra-indicação e é o meio mais rápido e de menor custo para se atingir o diagnóstico. REFERÊNCIAS 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. – Estimativas 2010: incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer. Rio de Janeiro, 2009. 98 p. 2. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Coordenação Geral de Ações Estratégicas. Coordenação de Prevenção e Vigilância. – Estimativa 2012: incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, Coordenação Geral de Ações Estratégicas, Coordenação de Prevenção e Vigilância. Rio de Janeiro, 2011. 118 p. 3. PEREGRINO, A. A. F.; VIANNA, C. M. M.; CAETANO, R.; MOSEGUI, G. B. G.; ALMEIDA, C. E. V.; & MACHADO; S. C. 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