Ciclo de Vida dos Ecossistemas de Software e Suas

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Ciclo de Vida dos Ecossistemas de Software e Suas Estratégias
Amora Cristina Albuquerque Taveira
Centro de Informática – Universidade Federal de Pernambuco,
50740-560 Recife-PE, Brasil
[email protected]
Resumo: O já difundido conceito de ecossistemas biológicos está
servindo como base para o entendimento das complexas relações
existentes entre determinadas empresas que trabalham em conjunto
para desenvolvimento de um mesmo produto, em especial o software,
ou prestação de serviço. Tendo em vista as possíveis analogias que
podem surgir entre os seres vivos, empresas e, mais especificamente,
empresas de software, iniciaram-se os conceitos de Ecossistemas de
Negócios e Ecossistemas de Software (SECO’s). Estes conceitos, além
de buscarem a compreensão das relações existentes entre as empresas
(que são consideradas os organismos no mundo dos negócios), ajudam
a entender o que pode levar este conjunto de organizações ao sucesso
ou ao fracasso. Este artigo objetiva integrar esses conceitos, apresentar
um modelo que descreve o ciclo de vida dos ecossistemas de software,
e analisar as características envolvidas em cada estágio evolutivo deste
ciclo para que, a partir desses conhecimentos, sejam analisadas
estratégias de sobrevivência e prosperidade para SECO’s.
Abstract: The well known concept of biological ecosystem is serving
as a basis for understanding the complex relationships between certain
companies that work together to develop a same product, especially
software, or service delivery. Having in view possible analogies that
may arise between organisms, companies and, more specifically,
software companies, concepts of Ecosystems and Business Software
Ecosystems (SECO’s) emerged. These concepts, in addition to seeking
an understanding of the relationship between companies (which are
considered the organisms in the business world), help to understand
what may lead this set of organizations to success or failure. This
article aims to integrate these concepts, present a model that describes
the life cycle of a software ecosystem, and analyze the characteristics
involved in each evolutionary stage of this cycle. From this knowledge,
strategies for survival and prosperity will be analyzed.
1. Introdução
Os projetos de software, em sua maioria, são dependentes de
outros projetos, sendo então raramente desenvolvidos de forma
autônoma. Fornecedores de software já não funcionam como
unidades independentes que podem fornecer produtos separados.
Estes se tornaram dependentes de outros fornecedores no que se
refere a componentes de software e infra-estruturas, tais como
sistemas operacionais, bibliotecas, lojas de componentes e
plataformas. Devido à rápida mudança de tecnologia, estes
fornecedores recorrem à integração virtual através de alianças para
estabelecer redes de influência e interoperabilidade. Estas redes são
chamadas Ecossistemas de Software (SECO’s) [1], um conceito que
se tornou vital para explicar a vida e a morte de fornecedores de
software e suas tecnologias.
O recente conceito de Ecossistema de Software foi criado
tendo como base o já consolidado conceito de Ecossistema de
Negócios que, por sua vez, é baseado em estudos sobre Ecossistemas
Biológicos. SECO’s referem-se à forma como as empresas interagem
para criar e entregar os produtos, de forma que cada parceiro, dentro
de uma rede interligada de empresas, tem um papel e desempenho
individual que influencia a saúde do ecossistema como um todo [9].
Embora sejam recentes, estudos sobre SECO’s vêm se mostrando
bastante úteis dentro do contexto de software, visto que projetos de
software são considerados sofisticados e complexos.
Este artigo objetiva integrar os conceitos existentes sobre
Ecossistemas de Software, suas características herdadas da biologia e
administração, e a importância desses ecossistemas no cenário atual
da tecnologia. Será apresentado, também, um modelo baseado em [9]
que descreve o ciclo de vida de um ecossistema, e as características
envolvidas em cada estágio evolutivo para que, a partir desses
conhecimentos, sejam analisadas estratégias de sobrevivência e
prosperidade para SECO’s.
2. Ecossistema de Software (SECO)
Como afirmado em [8], para que um software seja lançado no
mercado, existem diversas atividades envolvidas tanto a nível técnico,
como comercial. Após ser finalizado, um software dificilmente não
necessita de personalizações, integrações ou suporte. [3] cita que para
diversas companhias, o desenvolvimento de software em larga escala é
complicado, caro, lento e imprevisível. Ainda segundo [3], quatro
décadas de pesquisa em engenharia de software tem resultado numa
ampla gama de técnicas para gerenciar a complexidade do
desenvolvimento de sistemas de software, porém o crescimento cada
vez maior dos sistemas de software mais modernos leva à necessidade
de novas abordagens para gerenciar esta complexidade. Devido a isso,
os softwares raramente são vistos como unidades independentes. Com
essa interdependência entre os softwares e à rápida evolução
tecnológica, seus fornecedores recorrem a uma integração virtual,
através de alianças, para estabelecer redes de influência e
interoperabilidade. Essas redes são chamadas de Ecossistemas de
Software [1].
[2] define Ecossistemas de Software como consistindo de uma
plataforma de software, um conjunto de desenvolvedores internos e
externos, e uma comunidade especialista no domínio em serviços para a
comunidade de usuários, que compõe soluções relevantes para as suas
necessidades. Ou seja, o campo de abordagem é bem mais amplo que
no escopo de linha de produção intra-organizacional, visto que, no
ecossistema, desenvolvedores externos, extensões de fornecedores, e
outras contribuições externas fazem parte do desenvolvimento do
software. Sendo assim, Ecossistemas de Software criam dependências
que antes não existiam entre os componentes e as organizações
associadas [3]. Há, ainda, outras definições para SECO’s, entre elas, [2]
os cita como uma rede informal de unidades (legalmente
independentes), que influenciam umas as outras de forma positiva
quando se trata de sucesso econômico e outros benefícios; ou ainda
como um conjunto de atores funcionando juntos como uma unidade e
interagindo com um mercado compartilhado para softwares e serviços.
Essas relações são freqüentemente sustentadas por um mercado ou por
uma única plataforma tecnológica e operam através da troca de
informações, recursos e artefatos.
Existem diversos benefícios de se fazer parte de um SECO,
entre eles podemos citar o compartilhamento de custos de inovação,
redução de custos, aumento do número e satisfação dos clientes e o
retorno de investimento [8].
As principais características dos SECO’s estão fundamentadas
na biologia, com os já estabelecidos conceitos de Ecossistemas
Biológicos. A partir deles, Moore (1993) introduziu o conceito de
Ecossistema de Negócios, afirmando que este é um conjunto de
organizações a qual fazem parte diversas indústrias, e que trabalham
cooperativamente e competitivamente em termos de produção, serviço
ao cliente e inovação. Neste ecossistema, companhias co-evoluem em
suas capacidades em volta de alguma inovação. Elas trabalham
cooperativamente e competitivamente para suportar novos produtos,
satisfazer as necessidades dos clientes e, eventualmente, incorporar
outras inovações [4].
Ecossistemas de Negócios e de Software, assim como na
biologia, gradualmente se movem de uma coleção aleatória de
elementos para uma comunidade mais estruturada [4]. Eles condensam
o capital, os interesses do cliente, e o talento gerado por uma inovação,
com o mesmo sucesso que as espécies o fazem a partir dos recursos
naturais da luz solar, água e nutrientes do solo.
Como nos
Ecossistemas Biológicos, eles se desenvolvem através de autoorganização, emergência e co-evolução, que ajudam a adquirir a
capacidade de adaptação. Além disso, estão presentes também a
competição e a cooperação agindo simultaneamente. Da mesma forma
que um indivíduo de uma determinada espécie em um Ecossistema
Biológico, cada membro de um Ecossistema de Software ou Negócios,
em última análise, compartilha o destino de sua rede como um todo,
independentemente da sua força aparente [4]. Outra característica
herdada é o fato desses ecossistemas estarem localizados num ambiente
onde diversos aspectos podem trazer impacto na adaptação dos
mesmos, e estes também podem impactar esses aspectos. São exemplos
deles: política, sociedade, cultura e aspectos jurídicos.
3. Ciclo de vida do SECO e Suas Características
Moore em [4] propõe que um Ecossistema de Negócios é
caracterizado por quatro fases, são elas:




Nascimento (Birth): Identificação das necessidades dos
clientes, e proposição de uma solução ou serviço que
melhor atenda a essas necessidades;
Expansão (Expansion): Esforço para atingir novos
clientes, tentando alcançar a máxima cobertura de mercado;
Liderança (Leadership): Disputas internas pela liderança
do ecossistema, que normalmente ocorrem após o mesmo
se mostrar lucrativo;
Auto-renovação (Self-renew): Busca constante por
inovação, por sobrevivência, e pelo aumento da capacidade
para se adaptar a mudanças.
De acordo com [9], esse modelo também pode ser utilizado
como base para descrever os estágios evolutivos do Ecossistema de
Software e as características envolvidas em cada um deles.
[10] detalha a fase de Nascimento como um caminho
dependente, e um processo caótico, o que significa que uma pequena
diferença nos valores iniciais, pode acarretar em grandes diferenças nos
resultados. A formação de um ecossistema é afetada por certos
atrativos, que são os componentes não-vivos da área onde o
ecossistema ocorre. [4] afirma, ainda, que assim como na biologia,
Ecossistemas de Negócios gradualmente se movem de uma coleção
aleatória de elementos para uma comunidade mais estruturada.
Podemos ver isso acontecer também em Ecossitemas de Software: eles
condensam o capital, os interesses do cliente, e o talento gerado por
uma inovação, com o mesmo sucesso que as espécies o fazem a partir
dos recursos naturais da luz solar, água e nutrientes do solo.
A fase de Expansão é caracterizada pela luta constante em
adquirir a maior cobertura possível do mercado. Isto pode ser alcançado
através de novas ofertas de produto, e/ou intensificação das ofertas
existentes num trabalho junto a fornecedores e parceiros [4]. Nesta
fase, o potencial de crescimento do ecossistema é testado [10]. É
necessário, então, criar um conceito que gere valor a um grande número
de clientes. Durante a fase de expansão, as empresas estabelecidas
podem exercer um enorme poder de marketing e vendas, e também na
gestão de produção e distribuição em larga escala, para literalmente
esmagar menores ecossistemas nesse processo [4].
Ao alcançar a fase de Liderança, o ecossistema já se mostra
lucrativo e estável. Neste estágio há uma forte disputa interna pelo
controle do ecossistema, podendo inclusive alguns participantes
incorporarem atividades realizadas por outros. Para se defender da
concorrência e de uma possível perda de poder, os participantes devem
fortalecer as suas alianças e o seu poder de barganha. Para isso, eles
devem contribuir ativamente para a saúde do ecossistema, além de
prover soluções inovadoras que diferem das dos demais participantes
[9].
O próximo estágio a ser alcançado pelo ecossistema é o de
Auto-renovação. Ao chegar nesse estágio, o líder do ecossistema já está
estabelecido, e as disputas internas já têm sido encerradas. Esta fase é
motivada pelo constante surgimento de novos ecossistemas
concorrentes. Se estratégias de crescimento não forem adotadas nessa
etapa, o ecossistema poderá ser “esmagado” pela concorrência,
causando a sua morte. Portanto, acompanhar as novas tendências que
podem “esmagar” o ecossistema, e manter o equilíbrio com as
mudanças pela incorporação de inovações é fundamental para a
sobrevivência do ecossistema nesta fase. O conceito fundamental desse
estágio é trabalhar a inovação para trazer ao ecossistema novas idéias
[4]. É necessário, também, que o ecossistema seja robusto o suficiente
para resistir a choques externos.
4. Estratégias Aplicadas nos Estágios do Ciclo de Vida do
SECO
[9] deixa claro que é possível que as empresas de software
obtenham vantagens competitivas através de conceitos de ecossistemas
que são herdados da administração que, por sua vez, faz uso de
conceitos já estabelecidos da biologia. Esses conceitos, e suas relações
com cada estágio do ciclo de vida do ecossistema são:

Emergência: Pode ser definido como ações que são
tomadas por uma determinada organização, e podem levar a
riscos e conseqüências imprevisíveis que impactam todo o
ecossistema. Este conceito, assim como os outros, está
presente em todos os estágios do ciclo de vida de um
ecossistema. Porém, é durante a fase de liderança que a
emergência é mais intensa, devido ao aumento de disputas
internas, que leva a conseqüências inesperadas. A
emergência ainda continua intensa na fase de autorenovação, já que novas mudanças e inovações devem estar
presentes e, junto com elas, o risco de adaptação a essas
novas mudanças;

Competição: É uma relação desarmônica, na qual os
indivíduos concorrem pelos mesmos fatores. A competição
é fortemente observada em todo o ciclo de vida do
ecossistema, com exceção da etapa de nascimento, onde o
mesmo está se iniciando e não é tão perceptível a
oportunidade de mercado existente. A competição se
diferencia entre interna e externa. Na fase de liderança,
destaca-se a forte disputa interna entre os participantes,
enquanto que consideráveis disputas externas são
observadas nos estágios de expansão e auto-renovação,
podendo até mesmo levar a morte do ecossistema;

Mutualismo: Relação harmônica e obrigatória, na qual
ambos os indivíduos são beneficiados e não sobrevivem
sem ela. O mutualismo é menos observado no estágio de
liderança devido às disputas internas. Este conceito é
essencial durante toda a existência do ecossistema, já que
cada participante compartilha o seu destino com todos os
outros participantes da rede, e o seu sucesso é determinado
pelo sucesso do ecossistema como um todo;

Produtividade: [5] diz que produtividade é a mais
importante medida da saúde de um ecossistema. No que se
refere a negócios e software, é a habilidade de transformar
tecnologias e outras matérias primas em novos produtos e
com um baixo custo. Segundo [9], a produtividade pode ser
essencial no estágio de liderança, por ser uma forma de
poder de barganha, já que se um participante é bastante
produtivo, o mesmo continuará em evidência, sendo
reconhecido como um parceiro de valor, e estando
habilitado a influenciar outros participantes no ecossistema;

Criação de Nicho: Em [8], se um ecossistema não está apto
a criar oportunidades para novas companhias, incentivando
a diversidade e contribuindo para a inovação, ele sofrerá
diversas dificuldades. Criação de Nicho está relacionada à
habilidade de absorver choques externos e ao potencial de
produzir inovação. É a capacidade de aumentar a
diversidade através da criação de novas funções ou nichos
[5]. Esta característica é bastante importante nas fases de
nascimento e expansão, nas quais novas companhias se
juntarão ao ecossistema se oportunidades lucrativas forem
percebidas. Ela é essencial também no estágio de autorenovação, quando os participantes devem se sentir
motivados a permanecerem no ecossistema, e
eventualmente não se juntarem a um SECO concorrente;

Robustez: Capacidade do ecossistema de sobreviver a
interrupções, tais como mudanças imprevistas de
tecnologia, ou resistir a influências externas. Esta
característica é essencial no estágio de auto-renovação,
quando as disputas externas irão alcançar seu auge, e a
resistência do ecossistema a essas pressões irá determinar a
prosperidade ou morte do ecossistema.
Enquanto os conceitos acima abordados são enfatizados em
determinados estágios do ciclo de vida do ecossistema, algumas
características são inerentes a todas essas fases do ciclo de vida. Entre
elas, podemos citar: auto-organização, co-evolução, e cooperação.
Auto-organização tem relação com o controle descentralizado
de um conjunto de organizações inter-relacionadas. Ou seja, uma
companhia tem autonomia para tomar decisões, sem a existência de um
controle externo [8]. A co-evolução está relacionada às mudanças
sofridas pelas organizações, e à influência que cada organização possui
no crescimento e “destino” de outras. E por fim, a cooperação é vista
no ecossistema na forma de mutualismo, e é considerada obrigatória
pra o êxito global [9].
5. Conclusão e Trabalhos futuros
Este artigo apresenta os conceitos presentes na literatura sobre
Ecossistemas de Software, junto com o seu ciclo de vida proposto por
[9], e as características observadas em cada fase deste ciclo. É
observado que alguns conceitos estão fortemente ligados a um
determinado estágio, enquanto que outros são inerentes às quatro fases
do ciclo de vida de um ecossistema. Como os conceitos de Ecossistema
de Negócios e de Software são baseados nos Ecossistemas Biológicos,
é possível fazer analogias entre eles para aprofundar os conhecimentos
existentes, e traçar estratégias que possam auxiliar no desenvolvimento
e evolução no contexto de negócios e de software; compreendendo
riscos, e oportunidades de crescimento e diversidade. Foi analisado
que, assim como na biologia, os participantes do ecossistema lutam por
recursos e por isso sofrem com fortes disputas, internas ou externas,
quem podem levar à morte do ecossistema. Por outro lado, para que o
ecossistema prospere e seja lucrativo, é essencial a existência de
cooperação (mutualismo), já que os participantes compartilham de um
mesmo destino, ou seja, o sucesso ou fracasso de um determinado
participante poderá levar ao sucesso ou fracasso do ecossistema como
um todo.
Futuros trabalhos devem incluir um maior aprofundamento,
especialmente nos conceitos de biologia e de negócios para alcançar
um maior entendimento sobre o Ecossistema de Software, que é um
conceito mais recente e, por isso, ainda está em formação. Além disso,
é necessária também a existência de casos de estudos para que se tenha
um melhor conhecimento sobre as estratégias mais efetivas que podem
ser estabelecidas dentro dos ecossistemas, e que os levem a prosperar.
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