Importância da aula de campo em Geográfia

ISSN 1677 – 8049
ANO 09 – n. 30
Fevereiro 2011
GEOGRAFIA
PUBLICAÇÕES AVULSAS
Adler Guilherme Viadana
Agostinho Paula Brito Cavalcanti
EXCURSÃO GEOGRÁFICA DIDÁTICA:
INSTRUMENTO DE PRÁTICA E ENSINO EM
GEOGRAFIA
Publicação de textos no formato de pré-impressão do Departamento de Geografia e
História da Universidade Federal do Piauí – UFPI.
GEOGRAFIA Publicações Avulsas, ano 09, n. 30, p. 1-21 (fevereiro 2011)
Reitor da Universidade Federal do Piauí
Luiz de Sousa Santos Júnior
Diretor do Centro de Ciências Humanas e Letras
Pedro Vilarinho Castelo Branco
Chefe do Departamento de Geografia e História
Verônica Maria Pereira Ribeiro
Coordenador do Curso de Licenciatura em Geografia
Manuel Nascimento
Expediente
print version GEOGRAFIA Publicações Avulsas
Ano 09 - n. 30 (fevereiro 2011)
Coordenador e Editor:
Prof. Agostinho Paula Brito Cavalcanti (MSc/DSc)
[email protected] / [email protected],br
Endereço para correspondência:
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
Departamento de Geografia e História
Campus da Ininga, s/n
64.049-550 - Teresina / Piauí
Tel. (86) 3215-5778 / (86) 3215-5777
GEOGRAFIA/Universidade Federal do Piauí, Departamento de Geografia e História,
Coordenação de Geografia, Ano 09, nº 30 (fevereiro 2011).
Teresina: UFPI, 2011.
1.
GEOGRAFIA Publicações Avulsas. I. Universidade Federal do Piauí -
Coordenação de Geografia
ISSN 1677 – 8049
CDD 910
2
GEOGRAFIA Publicações Avulsas, ano 09, n. 30, p. 1-21 (fevereiro 2011)
Conselho Editorial:
Adler Guilherme Viadana (Universidade Estadual Paulista - UNESP/Rio Claro)
Agostinho Paula Brito Cavalcanti (Universidade Federal do Piauí - UFPI)
Alcindo José de Sá (Universidade Federal de Pernambuco - UFPE)
Antônio Carlos de Barros Corrêa (Universidade Federal de Pernambuco - UFPE)
Antônio Cordeiro Feitosa (Universidade Federal do Maranhão - UFMA)
Antonio Fábio Guimarães Vieira (Universidade Federal do Amazonas - UFAM)
Carlos Alexandre Leão Bordalo (Universidade Federal do Pará - UFPA)
Elisabeth Mary de Carvalho Baptista (Universidade Estadual do Piauí - UESPI)
Edgar Aparecido da Costa (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - UFMS/Corumbá)
Enéas Rente Ferreira (Universidade Estadual Paulista - UNESP/Rio Claro)
Espedito Maia Lima (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB)
Fadel David Antonio Tuma Filho (Universidade Estadual Paulista - UNESP/Rio Claro)
Giovanni de Farias Seabra (Universidade Federal da Paraíba - UFPB)
Herbe Xavier (Pontifícia Universidade Católica - PUC/Minas)
Josefa Eliane Santana de Siqueira Pinto (Universidade Federal de Sergipe - UFS)
Joseli Maria Silva (Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG)
José Luís Lopes de Araújo (Universidade Federal do Piauí - UFPI)
Liége de Sousa Moura (Universidade Estadual do Piauí - UESPI)
Lucivânio Jatobá (Universidade Federal de Pernambuco - UFPE)
Maria Teresa de Alencar (Universidade Estadual do Piauí - UESPI)
Norberto Olmiro Horn Filho (Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC)
Paulo Roberto Teixeira de Godoy (Universidade Estadual Paulista - UNESP/Rio Claro)
Paulo Roberto Joia (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - UFMS/Aquidauana)
Ricardo Wagner Ad-Víncula Veado (Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC)
Roberval Felippe Pereira de Lima (Universidade Federal do Rio Grande do Norte- UFRN/Caicó)
Samuel do Carmo Lima (Universidade Federal de Uberlândia - UFU)
Silvana Quintella Cavalcanti Calheiros (Universidade Federal de Alagoas - UFAL)
Simone Cardoso Ribeiro (Universidade Regional do Cariri - URCA/Crato)
Solange Terezinha de Lima Guimarães (Universidade Estadual Paulista - UNESP/Rio Claro)
Vanice Santiago Fragoso Selva (Universidade Federal de Pernambuco - UFPE)
3
GEOGRAFIA Publicações Avulsas, ano 09, n. 30, p. 1-21 (fevereiro 2011)
EXCURSÃO GEOGRÁFICA DIDÁTICA:
INSTRUMENTO DE PRÁTICA E ENSINO
EM GEOGRAFIA
Adler Guilherme Viadana*
Agostinho Paula Brito Cavalcanti **
INTRODUÇÃO
A excursão geográfica didática,
denominação
dada
desenvolvida
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo uma
abordagem metodológica sobre a excursão
geográfica didática, tratando da prática pedagógica,
dentro do planejamento do ensino e pelo contato
com a realidade para a formação do profissional e
professor de Geografia. Os procedimentos
metodológicos seguiram uma seqüência de
encaminhamentos assim constituída: pesquisa
bibliográfica e observações de campo. Os
resultados mostraram que a excursão geográfica
didática é importante instrumento na formação de
professores e acadêmicos, como meio para o
desenvolvimento da percepção sobre o território,
num contexto menos formal que a sala de aula.
Nas conclusões foi enfatizada a importância da
excursão geográfica como recurso didático, pois
oferece potencialidades formativas que devem ser
levadas em consideração no processo de ensino e
aprendizagem e como prática pedagógica
acessível e eficaz.
Palavras-chaves: Geografia, Metodologia,
Pesquisa.
ABSTRACT
The present work has for objective a
methodological
approach
on
the
didactic
geographical trip, treating of the pedagogic practice,
inside of the planning of the teaching and for the
contact with the reality for the professional's
formation and teacher of Geography. The
methodological procedures followed a sequence of
directions constituted like this: researches
bibliographical and field observations. The results
showed that the didactic geographical trip is
important instrument in the teacher’s formation and
academics, as middle for the development of the
perception on the territory, in a context less formal
than the classroom. In the conclusions the
importance of the geographical trip was
emphasized as didactic resource, because offers
formative potentialities that they should be taken
into account in the teaching process and learning
and as accessible and effective pedagogic practice.
Key-words: Geography, Methodology, Research.
* Professor Adjunto (Livre Docente) - Universidade
Estadual
Paulista
(UNESP
Rio
Claro)
[email protected]
** Professor Associado (Pós Doutor) - Universidade
Federal do Piauí (UFPI - Teresina/PI [email protected]
pelo
à
atividade
pesquisador
em
Geografia que se desloca de seu
gabinete de trabalho para a área ou
local de seu interesse (objeto de estudo)
como instrumento para prática e o
ensino,
visa
à
compreensão
e
explicação das diferentes organizações
espaciais, com a finalidade de realizar
observações e levantar informações.
Refere-se
a
um
conjunto
de
atividades práticas orientadas para a
busca
de
um
determinado
conhecimento, realizada de maneira
sistemática
através
da
realidade
empírica e pela utilização de métodos
próprios
e
técnicas
específicas
de
pesquisa e que os resultados obtidos
venham a ser apresentados de forma
peculiar através de relatórios.
Procurando contribuir para seu
revigoramento no âmbito da ciência
geográfica em nosso país, os autores
deste trabalho se propuseram a redigir
este texto, que tem como objetivos
evidenciar a importância da prática de
campo
históricos
didática
através
dos
da
excursão
no
Brasil;
fundamentos
da
geográfica
excursão
geográfica didática como instrumento de
prática e ensino em Geografia e dos
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GEOGRAFIA Publicações Avulsas, ano 09, n. 30, p. 1-21 (fevereiro 2011)
pressupostos teóricos metodológicos da
múltiplas realidades espaciais naturais e
prática de campo.
humanas não fragmentadas de nosso
A importância dessa prática para a
construção do conhecimento geográfico, a
território, mas como uma totalidade em
constante dinamismo.
partir da extração de informações na
Os
trabalhos
pioneiros
dos
elaboração e execução das pesquisas,
naturalistas que passaram pelo Brasil
aliadas às técnicas necessárias para um
principalmente ao longo do século XVIII,
desempenho
denotaram
satisfatório,
devendo-se
padrões
considerar um conjunto de processos,
técnicas
quando da aferição da verdade terrestre, é
realização
considerada de significativa relevância e
eminentemente
viabilizada através do estudo da paisagem,
pesquisas
relacionando
detalhamento
os
aspectos
físicos
e
humanos do espaço.
de
inovadores
investigação,
das
viagens
de
científico,
tinham
um
bastante
influenciando
com
de
a
cunho
onde
as
nível
de
significativo,
sobremaneira
o
Atualmente a excursão geográfica
desenvolvimento de nossa Geografia e
deve ser incentivada e valorizada, devido
sua definição como disciplina que lida
sua inestimável contribuição para a prática
com
didática e pedagógica do ensino e da
espaço (Cavalcanti, 2010).
aprendizagem, utilizando-se a observação
os
Os
fenômenos
estudos
associados
geográficos
ao
na
e experimentação para a coleta de dados
atualidade
e buscando um conhecimento verdadeiro e
evoluindo respaldados pela inserção de
objetivo, através do contato direto com a
métodos e técnicas de representação
realidade observada.
espacial com o advento de novas
abordagens
FUNDAMENTOS
EXCURSÃO
HISTÓRICOS
GEOGRÁFICA
em
nosso
para
país
o
estão
estudo
da
DA
organização do espaço, seja através da
DIDÁTICA
análise geoecológica, da percepção, do
NO BRASIL
A ciência geográfica brasileira através
turismo, da cultura, da economia e da
política; pelo incremento das teorias das
de sua história contemporânea consolida-
redes
se em termos teóricos, metodológicos e
naturais;
práticos na procura de um conhecimento e
técnicas concebidas pelos sistemas
análise as diversas interfaces entre a
geográficos
natureza e a sociedade, havendo a
geoprocessamento,
necessidade de buscar e compreender as
remoto e sistemas de posicionamento
geográficas
através
de
e
dos
das
recursos
inovadoras
informação
(SIG),
sensoriamento
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GEOGRAFIA Publicações Avulsas, ano 09, n. 30, p. 1-21 (fevereiro 2011)
global
(GPS);
pesquisas
ou
ainda
aplicadas
quanto
reportadas
às
1. Preparo preliminar;
ao
2. Preparo psicológico;
planejamento, gestão e monitoramento
3. Organização da excursão;
ambiental, urbano e agrário.
4. Observações dirigidas;
Inserem-se nesse contexto a prática
de
campo
entendido
como
5. Relatório de acadêmicos.
um
Após o preparo e organização da
direcionamento pragmático para o ensino
excursão deve-se processar o estudo
e pesquisa em Geografia, processada
da paisagem, onde os acadêmicos
através das excursões geográficas com
devem saber observar e os professores
fins didáticos.
devem
Como fundamentos históricos deste
recurso metodológico destacam-se alguns
procurar
sistematizar
os
conhecimentos indispensáveis a esse
procedimento.
trabalhos que se tornaram clássicos e
Tendo por propósito a transposição
fundamentais para o desenvolvimento das
dos obstáculos referentes à realidade
excursões geográficas didáticas no âmbito
exposta em campo, sugere em primeiro
da Geografia brasileira.
lugar
Ao discutir o sentido geográfico de
o
estudo
dos
aspectos
relacionados com a Geografia Física,
posição e situação, dando ênfase à
observando
necessidade
da
topografia da região, solos, posição das
do
camadas rochosas, trabalho das águas
da
correntes e vida vegetal e animal. A
paisagem, com o intuito de interpretá-las
seguir reporta-se aos aspectos relativos
de modo correto, Carvalho (1941) publica
à Geografia Humana que denomina de
na Revista Brasileira de Geografia o
estudo das comunidades.
consciência
de
de
desenvolvimento
trabalho
assimilação
“A
espaço
de
e
observação
Excursão
Geográfica”
o
levantamento
da
A partir destas condições pode-se
discorrendo sobre o significado dessas
desenvolver,
excursões, na busca de despertar o
inquérito sistemático, de acordo com a
interesse dos professores e acadêmicos
metodologia composta por quatro itens:
segundo
o
do contato com a natureza, através do
1. Problemas da casa;
processo de aprendizagem, equivalendo
2. Tipos de povoamento;
às atividades teóricas em sala de aula.
3. Horizonte de trabalho;
A
respeito
das
excursões
geográficas, julga serem necessários os
seguintes encaminhamentos:
autor,
um
4. Questão da circulação.
Ao comentar a preocupação com a
realização de excursões geográficas,
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GEOGRAFIA Publicações Avulsas, ano 09, n. 30, p. 1-21 (fevereiro 2011)
pela organização destas com orientação
desenvolvimento
científica e aplicação de métodos e
observação direta.
do
exercício
da
técnicas para trabalhos de campo, Prunes
Ressalta ainda que os resultados
(1943) publica no Boletim Geográfico o
advindos das excursões geográficas
trabalho intitulado “Plano de estudo de
importantes para o país, não deveria
uma excursão geográfica” onde procura
haver preocupação dos custos para
oferecer aos acadêmicos um ensino de
promovê-las
Geografia constituído por uma formação
quando bem ordenada e supervisionada
científica de acordo com os objetivos
pode oferecer a melhor documentação
dessa
sobre a região percorrida.
ciência,
permitindo
um
melhor
e
que
esta
excursão,
conhecimento da terra brasileira e de seus
Em seguida realça o fato de ser
habitantes, através de dados constantes
indispensável fixar de maneira clara e
de
e
precisa os objetivos desses trabalhos,
investigações, divididos em: povoamento e
de acordo com a importância do tema
colonização;
à
geográfico, com objetivos próprios de
natureza e relevo do solo; indústria e
acordo com o modo de se considerar a
comércio do solo; dados referentes à
finalidade
população; indústria e comércio do solo;
sempre se preocupar com a visão
divisão
integrada do espaço.
observações
iniciais,
informes
notas
relacionados
administrativa;
pecuária;
agricultura; habitação rural; meios de
da
Geografia
que
deve
Ressalta o valor da excursão
transporte e comunicação e finanças
geográfica,
públicas.
levantamento dos aspectos físicos e
Dando ênfase ao interesse que as
formas
com
de
a
realização
ocupação
de
humana,
excursões geográficas vêm despertando
essenciais para a estruturação física
entre os geógrafos nos últimos tempos,
das
resultado do ensino da Geografia, Costa
Reportando-se ao ano de 1943, acentua
Pereira (1943) publica também no Boletim
que no Brasil, a era da Geografia de
Geográfico o trabalho que tem por título
campo, que se realiza pela observação
“Reflexões à margem de quatro excursões
direta dos diferentes meios e paisagens,
geográficas”
o
ainda não chegou verdadeiramente à
desenvolvimento geográfico somente pode
análise do quadro físico, humano e
ser conseguido no contato direto com a
econômico, devendo ser estudado e
natureza e questiona a não promoção
compreendido
mais frequente desta prática, com o
futuro próximo.
quando
observa
que
diversas
regiões
brasileiras.
exaustivamente
num
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GEOGRAFIA Publicações Avulsas, ano 09, n. 30, p. 1-21 (fevereiro 2011)
Tendo por finalidade a pesquisa
ser confeccionado um relatório a partir
geográfica original e devendo possuir seus
do qual serão extraídos os resultados,
próprios métodos, pois cabe ao professor
de
ensinar como se trabalha no campo, para
características da região visitada.
chegar à descoberta das relações entre os
fatos
e
as
novas
interpretações
maneira
a
sobressair
às
Ao elaborar um texto sobre a
da
preparação e organização de uma
Geografia, Ruellan (1944) publica “O
excursão geográfica, denominando-a “O
trabalho de campo nas pesquisas originais
Estudo da Paisagem”, Carvalho (1945)
de Geografia Regional” onde relata que a
atenta para o fato de que o verdadeiro
dificuldade de uma excursão geográfica
geógrafo
não deve desencorajar os professores e
paisagem de maneira diferente dos não
acadêmicos e que nesse tipo de excursão
geógrafos,
não é preciso ir ao campo para reencontrar
observar, devendo-se sistematizar os
o que já foi escrito ou dito, porque isto
conhecimentos
pode prejudicar o pesquisador, tirando-lhe
observação, a saber: preparo preliminar;
parte de suas faculdades de observação.
preparo psicológico; organização da
é
aquele
sendo
que
analisa
necessário
indispensáveis
a
saber
à
As excursões podem ser de dois
excursão; observação dirigida (sentido
tipos: a excursão de reconhecimento e a
geográfico de posição e espaço) e
investigação
relatório final.
minuciosa.
Nesse
artigo
dedica-se exclusivamente ao primeiro tipo,
explicando
que
de
imposta é distinguir a Geografia Física
reconhecimento pode variar de alguns dias
(parte condicionadora) da Geografia
a algumas semanas e que se destina a
Humana
revelar
traços
enumerando os principais tópicos que
essenciais da região que se propôs a
devem ser levantados: topografia da
estudar,
os
região; posição das camadas rochosas;
elementos básicos levantados; tipos de
águas correntes; vida vegetativa e vida
equipamentos e materiais utilizados e
animal. Finalmente afirma que fica
procedimentos
do
completa a fisiografia superficial da
reconhecimento e análise das formas do
região estudada, podendo a seguir
relevo; relações entre relevo e estrutura;
empreender
pesquisas
antropogeográfica.
ao
a
excursão
Salienta que a primeira divisão
pesquisador,
devendo-se
os
descrever
adotados,
climatológicas;
além
pesquisas
(parte
a
condicionada),
interpretação
hidrográficas; pesquisas biogeográficas,
pesquisas em Geografia Humana e ainda
5
GEOGRAFIA Publicações Avulsas, ano 09, n. 30, p. 1-21 (fevereiro 2011)
EXCURSÃO
GEOGRÁFICA
DIDÁTICA
procedimentos da leitura da paisagem,
COMO INSTRUMENTO DE PRÁTICA E
realizam-se observações e anotações
ENSINO EM GEOGRAFIA
no
Em Geografia o campo assume uma
diário
(caderneta)
procedendo-se
a
de
campo,
observação
perspectiva ímpar, pois resulta em síntese
participante, com o acompanhamento
a
junto
investida
intrínseca,
porém
não
às
atividades
programadas,
exclusiva, do estudo e das interpretações
registro imediato dos acontecimentos e
do geógrafo. Entretanto o termo é ambíguo
sua conseqüente anotação no diário
e por vezes tomado como contraditório,
(Viadana, 2005)
tanto na sua conceituação, como em
Nestas
duas
modalidades
de
termos de sua investigação para as
atuação do geógrafo fora do gabinete,
verificações geográficas.
deve-se atentar por princípio e, em
A
definição
de
campo
para
o
primeira instância a preocupação com a
geógrafo vai ao encontro da substância
conduta
clássica, da matéria analítica que subsidia
norteadora daquilo que o profissional
os conteúdos geográficos. O termo pode
almeja na prática geográfica no espaço
assumir
e tempo reais.
vários
significados
desde:
paisagem; lugar; área; território até região,
técnica-metodológica
A condução técnica nada mais
etc, sempre se levando em consideração
significa
os objetivos e a ordem escalar utilizada na
empregados tanto para uma leitura
prática cognitiva do mundo exterior.
didática da paisagem com objetivos
Sem
exageros
desmedidos
e
explícitos
os
recursos
de
instrumentais
transferência
de
devaneios se aceita aqui o que já foi
conhecimentos para aprendizes, como a
afirmado de que o campo é o laboratório
obtenção de dados de interesse para a
do geógrafo, implicando em considerar
pesquisa geográfica “in loco”.
dois importantes comportamentos para
esta
prática:
caráter
pode ser oferecido pelo uso do trado,
pedagógico como técnica de ensino da
com sondagens que visam à realização
ciência geográfica e o segundo é exigido
de topo-seqüência na identificação dos
quando
diferentes tipos de solos e sua evolução
do
o
primeiro
levantamento
de
Exemplo cabal deste procedimento
de
dados
informativos, um estudo sistematizado,
considerando
aspectos
na extensão de uma vertente.
fisiográficos,
No que diz respeito ao método,
biológicos e sociais, sobre o setor eleito
este assume de forma categórica a
(lugar; área; território; etc.). Para os
postura ou opção ideológica para a
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GEOGRAFIA Publicações Avulsas, ano 09, n. 30, p. 1-21 (fevereiro 2011)
compreensão
do
espaço
geográfico
visitado; seja no tratamento didático pedagógico
ou
componentes
na
aferição
geográficos
geográfico
se
ƒ A compartimentação do relevo na
escala da topografia regional;
ƒ A dinâmica da estruturação da
estruturam nos lugares excursionados.
Na
observação
significância
da
pela
excursão
produzido,
assentadas em três abordagens:
dos
que
dialeticamente
maior
paisagem;
ƒA
geográfica
fisiologia
da
paisagem
didática, que pode ser admitida como uma
submetida à atuação recente de ordem
aula de campo, com a participação de
climática,
docentes
juntamente
e
acadêmicos
a
ter
nas
observações de “passagem” pelos trajetos
pedológica
com
a
e
morfológica,
inclusão
das
pressões sociais no meio ambiente.
estabelecidos e nos pontos de “parada”
Tal é a diferenciação entre técnica
para melhor detalhamento dos fatos de
e método em Geografia. A primeira
interesse imediato, a concepção de uma
remete
interpretação
(equipamentos) utilizada pelo geógrafo
paisagística
global,
com
sempre
a
instrumentação
esforços para o entendimento de sua
em
evolução
constitui-se exclusivo para as suas
e
dinâmica,
que
passa
campo;
enquanto
o
método
obrigatoriamente pela normatização das
interpretações
causas primeiras em que o conhecimento,
ideológica. Entretanto deve-se admitir
enquanto processo do pensamento é o
que
mundo circundante, cuja materialidade é
complementares,
transferida para a cabeça do ser humano e
construção dos saberes geográficos.
por
ela
interpretada,
contextualização
que
aponta
numa
para
a
dialética.
com
técnica
e
fundamentação
método
sejam
coexistindo
na
A opção pelas explicações da
paisagem como unidade espacial de
análise, integrada aos fatos naturais e
O mesmo pode estar contido, no
sociais da superfície terrestre, pode
sentido metodológico, em relação ao
ocorrer, por exemplo, por verificações
trabalho de campo. De forma abrangente,
da
o geógrafo pesquisador pode assumir as
componentes espacializados no local
propostas sugeridas por Ab’ Sáber (1969),
estudado. Dentre eles pode-se citar:
com total coerência com as atividades
1. A retilinização de um curso de água
adstritas às suas pesquisas, com bases
e suas implicações na distribuição
interpretativas
horizontal
paisagísticas
para
singulares
as
unidades
do
espaço
extensão
e
da
conexão
comunidade
dos
íctia;
degradação da mata ciliar com
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GEOGRAFIA Publicações Avulsas, ano 09, n. 30, p. 1-21 (fevereiro 2011)
danos para a fauna; supressão das
apreensão
lagoas marginais; formação de diques
conteúdo
ou pestanas artificiais; aumento da
determinada área.
velocidade da corrente hídrica, etc;
das
informações
geográfico
a
respeito
de
de
Nesta ação de caráter educacional,
2. A depender do local visitado, por
na forma óbvia os lugares de visitação
exemplo: um fundo de vale, com a
devem ser previamente selecionados
respectiva planície aluvional e seus
pelo professor com a devida preparação
limites entremeados por terraços e
dos acadêmicos participantes. Deve-se
vertentes bandeando todo o sistema
admitir
hidrofluvial observado; o professor com
interdisciplinar
seus
uma
especialistas em diversas áreas da
interpretação sobre a fisiologia ou
ciência geográfica - contribui em muito
ecodinâmica da paisagem, utilizando-
para o enriquecimento da excursão
se da idéia do topo - sequencia, isto é,
geográfica didática, sendo que um dos
os
objetivos é no máximo do possível
alunos
podem
diferentes
níveis
esboçar
altimétricos
e
que
-
a
participação
com
professores
morfológicos que se seguem desde as
fornecer
cimeiras alçadas nas maiores altitudes
conteúdos
locais,
uma “ponte” entre a chamada Geografia
passando
pelas
vertentes,
combros e o talvegue.
uma
visão
integrada
apresentados,
dos
buscando
Física com a Humana.
Temas como morfologia, cobertura
Em tempos atuais, esta prática
vegetacional, tipos de solos, fatos da
educacional deve estimular os debates
ocupação humana e as interações destes
da importância dos saberes ambientais,
componentes na construção do espaço de
e que todo o processo que envolve
vida humana, revelam de imediato a
professores e acadêmicos no âmbito
relação entre o social e o suporte físico.
geográfico é sempre voltado para a
Disto se infere que o espaço geográfico é
análise da qualidade ambiental. Esta
uma criação humana.
deve ser a essência do ensino de
A excursão geográfica didática é uma
Geografia, principalmente no contato
das modalidades de atuação do geógrafo
direto
no
didática
campo,
atividade
reconhecida
pedagógica
como
por
uma
excelência,
podendo ser levada a efeito como aula
propriamente
dita,
onde
o
que
a
excursão
possibilita,
geográfica
durante
a
sua
aplicação.
Viadana (2010) observa que nos
professor
trabalhos de campo levados a efeito,
apresenta aos discentes uma tentativa de
deverão ser plotadas as informações
8
GEOGRAFIA Publicações Avulsas, ano 09, n. 30, p. 1-21 (fevereiro 2011)
sobre
as
diferentes
altitudes
dos
PRESSUPOSTOS
TEÓRICOS
transectos projetados nos documentos
METODOLÓGICOS DA PRÁTICA DE
cartográficos, além dos resultados das
CAMPO: A EXCURSÃO GEOGRÁFICA
tradagens
DIDÁTICA
realizadas,
agrupamentos
devidos
os
diferentes
vegetacionais
registros
com
fotográficos
os
e
as
modalidades de drenagem da superfície.
Por último, após o cumprimento do
Professores,
acadêmicos
pesquisadores
que
trabalham
e
com
Geografia deparam-se frequentemente
com
terminologias
utilizadas
e
itinerário, o professor deve orientar seus
difundidas, quando se referem às aulas
alunos para a elaboração de um relatório
práticas,
sobre o que foi apresentado em campo;
campo; pesquisa de campo; excursão
podendo
geográfica; excursão didática; ida (ou
este
ser
elaborado
individualmente ou em grupo.
quais
sejam:
trabalho
de
saída) ao campo; estudo do meio, etc.
Neste relato os acadêmicos devem
Apesar
dos
termos
serem
organizar todas as informações recebidas
utilizados como sinônimos e parecer
durante
indicar o mesmo sentido, isto não é
a
visita
na
área
estudada,
constando de imagens orbitais, mapas ou
verdade,
cartas,
topográficos,
diferenciação e a especificação do que
descrições
significam essas expressões, evitando-
críticas e analíticas dos fatos observados.
se contradições ou mesmo aplicações
O apoio bibliográfico faz-se necessário,
errôneas.
croquis,
fotografias
perfis
expressivas
e
fazendo-se
necessária
a
bem como o conteúdo desenvolvido pode
Há uma diferença fundamental
reunir informações obtidas por entrevistas
entre uma pesquisa de campo, cujo
com moradores locais.
objetivo é o desenvolvimento de uma
Todo o material produzido pelos
pesquisa por parte do pesquisador, de
acadêmicos tem por finalidade conduzir
um trabalho de campo, cuja finalidade é
um debate amplo e pormenorizado com
uma excursão com acadêmicos, com
relação à excursão geográfica didática,
fins puramente didáticos e pedagógicos,
sob
ou mesmo uma saída ao campo, com
a
coordenação
responsável;
o
qual
do
sem
professor
dúvida
irá
contribuir para a formação do futuro
profissional,
licenciado
Geografia.
seja
ou
na
na
de
fins turísticos ou de recreação.
Na maioria dos casos, quando se
condição
de
reporta à prática de campo, refere-se
bacharel
em
especificamente
geográficas,
onde
às
os
excursões
professores
9
GEOGRAFIA Publicações Avulsas, ano 09, n. 30, p. 1-21 (fevereiro 2011)
dirigem os acadêmicos ao campo para
sua prática propriamente dita, visto que
tomarem contato com a realidade, a fim de
há correspondência com os objetivos
aprimorarem e colocarem em prática os
propostos fazendo com que haja um
ensinamentos teóricos obtidos em sala de
relacionamento
aula.
adequada com o mundo da natureza e
Os geógrafos sempre procuraram
observar
as
paisagens
e
a
sua
de
forma
mais
com o mundo da cultura.
Através
da
prática
de
campo
organização espacial, através da prática
ocorre o contato com a realidade,
de campo. A esse respeito Müller Filho
procurando
(1988) salienta que a fonte ideal para a
complexidade, ou seja, o produto da
obtenção de informações é a própria
interação entre os elementos do quadro
paisagem, por que ela é a realidade à
natural modificado e transformado pela
disposição da capacidade de interpretação
dinâmica
do investigador.
pesquisador toda uma fundamentação
Denomina-se então campo, o local,
área ou região, onde o pesquisador
procura a observação, registro, descrição
compreender
social,
a
sua
exigindo
do
teórica - conceitual para apreender a
totalidade observada.
Radaelli
da
Silva
(2002)
e explicação dos fatos ou fenômenos
acrescenta
geográficos.
técnica, método ou meio, a prática de
Sobre a prática de campo, Silva
que
como
instrumento,
campo vem a ser toda atividade que
(1982) explicita o significado da palavra
proporciona
campo, salientando que em um sentido
conhecimento em ambiente externo,
empírico tradicional o campo confunde-se
através
com o lugar que se percebe e do qual se
experiências
que
pode ter vivência cotidiana sendo parte de
observação,
percepção,
um território, de uma região, de uma área.
registro,
a
da
construção
do
concretização
descrição,
de
promovam
a
contato,
representação,
Existem várias definições sobre o
análise e reflexão crítica de uma dada
significado da prática de campo (excursão
realidade, bem como a elaboração
geográfica didática) como a de Rodrigues
conceitual como parte de um processo
& Otaviano, (2001) quando admitem que
intelectual mais amplo, que é o ensino.
em um enfoque conceitual-pedagógico,
Considerado como um instrumento
considera-se esta atividade em sua forma
didático-pedagógico, um processo, uma
e essência como um método relevante
técnica, ou mesmo um método, a
dentro do planejamento do ensino e/ou em
excursão
geográfica
didática
é
de
10
GEOGRAFIA Publicações Avulsas, ano 09, n. 30, p. 1-21 (fevereiro 2011)
importância fundamental para a Geografia,
O campo representa tanto o local
pois é através dela, que os geógrafos
de onde se extraem as informações
entram em contato com a realidade,
para as elaborações teóricas, como o
construindo o conhecimento geográfico.
local onde tais teorias são testadas.
A excursão geográfica didática é
concebida
como
instrumento
um
na
importante
formação
de
A prática de campo é ao mesmo
tempo, fonte de informações e crítica da
produção científica geográfica, peça
pesquisadores e acadêmicos, pois se
fundamental
para
a
constitui em um meio para desenvolver
construção
de
seus
uma
(Compiani, 1991).
percepção
apreciativa
sobre
o
assimilação
e
conceitos
território, num contexto menos formal que
Deve ser valorizada como recurso
o da sala de aula, e para construir
didático, propiciando aos acadêmicos,
alternativas
um contato direto com a realidade
de
trabalho
que
sejam
relevantes para a prática pedagógica em
observada,
Geografia.
dimensão dos temas tratados em sala
um
obtendo-se
uma
nova
Alguns autores o consideram como
de aula, o que, se bem programado e
verdadeiro
orientado,
desenvolvimento
método
do
para
o
conhecimento
geográfico, bem como para a prática de
ensino.
servirá
finalidades,
estimular
entre
tantas
o
estudo
articulado com as diferentes disciplinas.
Deve-se enfatizar a importância da
Defendendo esse ponto de vista,
prática de campo como recurso didático,
Rodrigues & Otaviano (2001), observam
porque
que a prática de campo abrange o
formativas que devem ser levadas em
significado de método, porque é um
consideração
caminho
aprendizagem como uma das técnicas
ou
organizado
procedimento
racionalmente,
consciente,
com
a
finalidade de tornar o trabalho mais fácil e
produtivo para o alcance de determinada
meta.
oferece
no
potencialidades
processo
ensino-
pedagógicas mais acessíveis e eficazes
ao pesquisador da ciência geográfica.
A prática de campo executada
através da excursão geográfica didática,
Não se pode perder de vista o papel
enfim, como um método eficiente na
do campo como fonte de conhecimento, e
produção da ciência geográfica e na
suas consequências para o ensino como o
prática de ensino, pode proporcionar
local a ser enfatizado no fazer Geografia,
aos acadêmicos a oportunidade de
enquanto prática.
confronto com a realidade com as
11
GEOGRAFIA Publicações Avulsas, ano 09, n. 30, p. 1-21 (fevereiro 2011)
discussões teóricas realizadas em sala de
porém, ser utilizada para fins científicos
aula, possibilitando a atuação conjunta dos
desde que tenha um objetivo formulado
professores/pesquisadores das disciplinas
de
envolvidas e a percepção das interfaces
planejada e submetida à verificação e
existente entre elas.
controle.
Considerado
valorizado
seja
sistematicamente
como
O processo de observação está
o
inserido em um contexto maior que é a
conhecimento
denominada teoria do conhecimento,
geográfico, a pesquisa prática faz com que
sendo a mesma considerada uma das
o processo de observação se revista de
formas de se adquirir conhecimento
real significado para o geógrafo. É através
através da utilização dos sentidos,
da
juntamente com as outras duas que são
importante
e
pesquisa;
instrumento
desenvolvimento
observação
para
do
que
o
pesquisador
investiga o mundo real, na tentativa de
a razão e a intuição.
compreendê-lo e interpretá-lo.
A
produção
O conhecimento adquirido através
geográfica,
na
dos
sentidos
é
denominado
interpretação das realidades espaciais sob
conhecimento empírico e que de acordo
o prisma tradicional, fundamenta-se na
com Oliveira (1988) sua origem vem do
observação, na coleta de dados, em sua
grego
comparação e na verificação do que entre
experiência. É uma doutrina que afirma
eles há de comum, e, detectado o que é
que
comum, baseiam-se padrões e formulam-
conhecimentos é a experiência recebida
se generalizações (Müller Filho, 1988).
e experimentada pelos sentidos.
empeiria,
a
única
que
fonte
significa
de
nossos
Segundo David (2002) a prática de
Utilizando-se da visão o homem
campo e a observação sempre tiveram
observa o mundo exterior, com a mente
destaque
na
fundamental
Geografia
sendo
de
livre de preconceitos, acreditando que
importância
que
se
aquilo que ele vê é a realidade. Através
desenvolva a capacidade de observação
dessa
de campo com o objetivo de treinar os
conhecer a verdade dos fatos, não
sentidos a fim de se verificar em detalhes
questionando
a realidade observada.
sentidos se enganarem ou distorcerem
A observação, segundo Gil (1999),
nada mais é do que o uso dos sentidos
com
vistas
a
adquirir
conhecimentos
necessários para o cotidiano, podendo,
percepção
a
sensorial,
possibilidade
pode
dos
a realidade.
A
observação
considerada
de
sempre
foi
importância
fundamental para o geógrafo, pois é
12
GEOGRAFIA Publicações Avulsas, ano 09, n. 30, p. 1-21 (fevereiro 2011)
através
dela
que
se
observam
as
sendo
necessário
o
aprendizado
paisagens com o intuito de desenvolver o
anterior em sala de aula, através dos
conhecimento
fundamentos
geográfico.
Fazendo-se
teóricos
para
que
os
necessário uma distinção entre o que se
procedimentos sejam corretos no ato da
denomina de observação ou percepções
observação.
cotidianas, passivas ou não intencionais
das observações científicas.
No
primeiro
a
prática
de
campo,
Cavalcanti (2006) acrescenta que esta é
às
destinada à obtenção de dados a
observações do homem comum, no seu
respeito de fenômenos que ocorrem no
dia-a-dia
presente, onde as observações deverão
e
caso
Sobre
que
contemplativas,
reporta-se
são
meramente
sem
maiores
servir
para
o
exame
atento
dos
preocupações com o que está sendo
acontecimentos,
observado. É o caso do deslocamento
diretamente no local de ocorrência,
diário da casa ao local de trabalho, onde
acompanhando os detalhes dos objetos
se observa sempre o mesmo trajeto, mas
de
não
pelas entrevistas, obtendo-se maiores
se
presta
atenção
ao
que
foi
observado.
subsídios
Sobre essa questão, Kaplan (1969)
com
cautela
e
sendo
no
e
costumes
complementadas
aprofundamento
da
análise.
afirma que a observação científica é busca
deliberada,
estudo,
fatos
Nesta fase da pesquisa devem ser
entrevistados
os
habitantes
da(s)
predeterminação, em contraste com a
área(s) pesquisada(s), o que facilitará a
percepção da vida cotidiana, causal e na
compreensão
maioria das vezes, passivas.
desenvolvimento e ainda percorrer as
Já na observação dita científica existe
e
evolução
de
seu
vias de acesso. Todas as observações
uma intenção no ato de observar. Deve-se
e
saber de antemão o que se quer observar,
devidamente transcritas em carta plani-
devendo-se ter um propósito em mente. O
altimétrica
ato de observar é sempre norteado por
caderneta de campo, proporcionando
alguma ideia, problema, ou teoria ou sobre
um
conhecimentos e experiências anteriores.
Paralelamente
Portanto, antes de efetuar qualquer
coletas
de
material
básica
conhecimento
registros
e
devem
anotadas
real
da
devem-se
fotográficos,
que
ser
em
área.
realizar
permite
observação é necessário desenvolver os
preservar detalhes para um estudo mais
conhecimentos teóricos, pois são estes
intenso, em épocas posteriores.
que nortearão no processo de observação,
13
GEOGRAFIA Publicações Avulsas, ano 09, n. 30, p. 1-21 (fevereiro 2011)
Com
o
a
totalidade de modo integrado, sendo
utilizam-se
praticamente inviável perceber tudo ao
aparelhos e instrumentos desenvolvidos
mesmo tempo, observando-se apenas o
para esse fim, existindo uma ampla e
que interessa. Sobre essa questão
variada
para
Fourez (1995) salienta que de maneira
auxílio no ato da observação e de coleta
automática, ocorre uma eliminação do
de
campo de visão de elementos que não
capacidade
intuito
de
gama
de
aumentar
observação
de
dados,
equipamentos
devendo-se
adquirir
conhecimentos sobre os princípios físicos
fazem
e seu manuseio, adquirido através de
observar,
treinamento específico para sua eficiente
pessoal,
operacionalização.
anteriores,
parte
do
que
adquirindo
devido
se
um
às
na
pretende
caráter
experiências
dependência
da
Para o bom êxito da observação são
capacidade, formação profissional e
também necessárias algumas condições
intelectual, prática e dos conhecimentos
para os quais o pesquisador deve estar
adquiridos pelo pesquisador.
atento, evitando enganos ou distorções no
processo
de
observação,
além
da
CONSIDERAÇÕES FINAIS
utilização de instrumentos para satisfazer
o
rigor
científico
e
a
realçando,
evidenciando
acessível,
fatos
ou
objetividade,
ou
tornando
fenômenos
de
A excursão geográfica didática é
de importância fundamental para o
ensino e a pesquisa em Geografia, além
do respaldo de sua tradição histórica no
interesse, que de outro modo poderiam
pensamento
passar despercebidos pelo observador
havendo um período recente onde esse
comum.
procedimento foi tratado de maneira
As
condições
intelectuais
do
observador também devem ser levadas
em
consideração,
para
o
secundária
geográfico
por
brasileiro,
alguns
geógrafos
contemporâneos.
bom
O
intuito
deste
trabalho
foi
desempenho do processo de observação,
contribuir
sendo
embasamento
procurando-se ressaltar a importância
teórico conceitual, pleno domínio de sua
da excursão geográfica didática, através
área de atuação, curiosidade e sagacidade
dos
para poder discernir e interpretar os fatos
prática no Brasil, como instrumento de
significativos.
prática e ensino em Geografia e através
necessário
um
Outro aspecto importante trata da
impossibilidade
de
se
constatar
a
dos
a
esse
fundamentos
empreendimento,
históricos
pressupostos
dessa
teóricos
metodológicos da prática de campo,
14
GEOGRAFIA Publicações Avulsas, ano 09, n. 30, p. 1-21 (fevereiro 2011)
para que os acadêmicos de graduação e
CARVALHO,
pós-graduação
em
Geográfica.
aplicar
mais
com
Geografia
possam
constância
este
procedimento didático. .
de.
Revista
A
Excursão
Brasileira
de
Geografia. Rio de Janeiro: ano III nº 4,
p. 864-873, out./ dez., 1941.
Deve-se enfatizar esta prática como
recurso
D.
didático,
pois
oferece
____________. O Estudo da Paisagem.
Boletim Geográfico. Rio de Janeiro:
potencialidades formativas que devem ser
ano III nº 32, p. 1049-1051, Nov., 1945.
levadas em consideração no processo
CAVALCANTI, A. P. B. Métodos e
ensino-aprendizagem
um
Técnicas da Análise Ambiental (Guia
e
para estudos do meio ambiente).
procedimento
eficaz
ao
e
pedagógico
pesquisador
como
acessível
da
ciência
geográfica.
Como
Teresina, UFPI / CCHL / DGH, 2006.
____________.
um
método
eficiente
na
Fundamentos
históricos da Geografia. Teresina,
produção dessa ciência e na prática de
EDUFPI, 2010.
ensino, a excursão geográfica didática
COMPIANI,
pode proporcionar aos acadêmicos a
atividades de campo no ensino de
oportunidade de confronto com a realidade
Geologia na formação de professores
com as discussões teóricas realizadas em
de Ciências. Caderno IG, UNICAMP,
sala de aula, possibilitando a atuação
Campinas: v. 1, n.2, p.2-25, jun. 1991.
conjunta dos professores e pesquisadores
COSTA PEREIRA, J. V. Reflexões à
das disciplinas envolvidas e a percepção
margem
das interfaces existente entre elas.
geográficas. Boletim Geográfico. Rio
Pode-se enfim afirmar com base nos
M.
A
de
relevância
quatro
das
excursões
de Janeiro: ano I nº 5, p.7 – 14 ago.
dados e informações levadas a efeito
1943.
neste trabalho, que está havendo nos
DAVID, C. Trabalho de campo: limites e
últimos anos, uma maior preocupação,
contribuições
valorização e retomada dessa prática nos
geográfica,
cursos de Geografia em nosso país.
Departamento
para
GEO-UERJ.
de
a
pesquisa
Revista
do
Geografia.
Universidade do Estado do Rio de
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Janeiro, Rio de Janeiro: nº 11, p.19-24,
AB’ SÁBER. A. N. Um conceito de
1º semestre de 2002.
geomorfologia a serviço das pesquisas
FOUREZ,
sobre o quaternário. Geomorfologia (18).
Ciências (Introdução à Filosofia e a
G.
A
Construção
das
São Paulo: IG-USP, 1969.
15
GEOGRAFIA Publicações Avulsas, ano 09, n. 30, p. 1-21 (fevereiro 2011)
Ética da Ciência), São Paulo: Ed. da
Janeiro: ano VI nº 1, p. 35 – 50 jan./mar.
UNESP, 1995.
1944.
GIL, A. C. Método e Técnicas de
SILVA, A. C. Natureza do trabalho de
Pesquisa Social. São Paulo: Ed. Atlas
campo em Geografia Humana e suas
S.A., 1999.
limitações. Revista do Departamento
KAPLAN, A. A Conduta na pesquisa.
de Geografia, São Paulo: USP, nº 1, p.
(Metodologia
99-104, 1982.
para
as
ciências
do
comportamento) São Paulo: Ed. Perder e
VIADANA,
EDUSP, 1969.
geográfica
MÜLLER FILHO, J. L. Consideração para
Triângulo Mineiro). Rio Claro: LPM-
uma compreensão da abordagem clássica
IGCE/UNESP, 2005.
em Geografia. Geografia, Rio Claro: v. 13,
_____________.
n. 215, p. 1-19, abril 1988.
Biogeografia
OLIVEIRA, S. L. Tratado de Metodologia
Comprida – SP). Rio Claro: UNESP,
Científica. Projetos de Pesquisas, IGI,
2010.
A.
G.
didática
Um
A
excursão
(Pontal
estudo
fitofisionômica
do
em
(Ilha
ICC, Monografias, Dissertações e Teses,
São Paulo: Ed. Pioneira, 1988.
PRUNES, L. M. Plano de estudo de uma
excursão geográfica. Boletim geográfico.
Rio de Janeiro: ano I nº 5, p. 63-67, ago.
1943.
RADAELLI DA SILVA, A. M. Trabalho de
Campo:
prática
“andante”
de
fazer
Geografia. Revista do Departamento de
Geografia, Rio de Janeiro: nº 11, p. 61-74,
2002.
RODRIGUES, A. B.; OTAVIANO, C. A.
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em Geografia. Geografia, Londrina: v. 10,
nº 1, p. 35-43, jan/jun. 2001.
RUELLAN, F. O trabalho de campo nas
pesquisas originais de Geografia Regional.
Revista Brasileira de Geografia. Rio de
16
GEOGRAFIA Publicações Avulsas, ano 09, n. 30, p. 1-21 (fevereiro 2011)
elementos informativos necessários a uma
catalogação.
4.
ACEITAÇÃO
DE
TEXTOS
PARA
PUBLICAÇÃO
Serão aceitos para publicação os textos que
PUBLICAÇÕES AVULSAS
obtiverem parecer favorável de dois membros
ISSN 1677-8049
do Conselho Editorial. Em caso de empate
caberá a Coordenação Executiva da Publicação
GEOGRAFIA
a decisão final.
5. DISTRIBUIÇÃO DA PUBLICAÇÃO
1. APRESENTAÇÃO / JUSTIFICATIVA
Serão produzidas, no mínimo 50 (cinqüenta)
O Departamento de Geografia e História (DGH)
tem ao longo dos anos produzido conhecimentos
importantes no campo das Geociências. Diante da
necessidade de divulgar esta produção e contribuir
para a socialização dos conhecimentos elaborados,
provocando
um
intercâmbio
com
as
demais
instituições de ensino superior e institutos de
pesquisa local, regional e nacional, interessados na
produção do saber geográfico, apresenta-se para a
comunidade científica a presente publicação de
textos, no formato de pré-impressão, na área de
Geografia.
GEOGRAFIA
distribuídas pela coordenação de publicações
entre as universidades e institutos de pesquisa.
Será facultada a coordenação da publicação o
direito de veicular os textos publicados no
formato de publicações avulsas através de
meios eletrônicos, especificamente a home
Page da UFPI.
6. PADRONIZAÇÃO DOS TEXTOS PARA
PUBLICAÇÃO
português, acompanhados de uma página com
Publicações
Avulsas
é
uma
publicação do Departamento de Geografia e
História da UFPI, de periodicidade irregular, que
como
10 estarão à disposição dos autores e 40 serão
6.1. Os textos devem ser inéditos redigidos em
2. OBJETIVOS
tem
cópias de cada número da publicação, destas
objetivo
a
divulgação
de
textos
o resumo e abstract em língua inglesa;
6.2. Apresentação do texto:
•
deve obedecer às normas da ABNT em
deverá ser acolhidos textos sob a forma de artigos,
entre outras, de todos os que participam da
vigor;
•
•
centralizado;
Por tratar-se de publicações avulsas as mesmas
não apresentam nenhum tipo de encadernação,
uma
capa
O título do trabalho deve estar em
maiúscula, negrito e em alinhamento
3. FORMATO DA PUBLICAÇÃO
apenas
A digitação deve ser no editor de texto
Word for Windows;
produção do conhecimento nesta área específica.
contendo
no
referências bibliográficas, esta última
sobre temas contemporâneos. Nesse sentido, nela
relatórios de pesquisa, relatos de experiências,
conter
incluindo a página de resumo e as
acadêmica, ou que apresentem uma abordagem
graduação e pós-graduação, resenhas, ensaios,
necessariamente
mínimo 15 e no máximo 25 páginas,
selecionados, com especial interesse como leitura
resumos estendidos de monografias dos cursos de
Deve
padronizada
•
Configuração da página: papel A4;
espaçamento entre linhas: 1,5 cm;
e
17
GEOGRAFIA Publicações Avulsas, ano 09, n. 30, p. 1-21 (fevereiro 2011)
fonte: Arial 12; estilo normal: alinhamento
justificado.
6.3. Página de resumo:
O
resumo
deverá
ser
feito
em
português,
acompanhado de uma versão em inglês;
Deve conter no máximo 15 linhas; espaçamento
entre linhas: simples; fonte: Arial 11; estilo normal;
alinhamento justificado.
6.4. O material para publicação deverá ser
entregue a Coordenação de publicações em versão
digital, compostos em Word for Windows, para o email: [email protected] ou [email protected]
6.5. A revisão gramatical e ortográfica dos textos
será de responsabilidade dos seus autores.
EXPEDIENTE
Print version GEOGRAFIA Publicações Avulsas ISSN 1677-8049
Editado pelo Departamento de Geografia e História
Coordenador e Editor:
Prof. Agostinho Paula Brito Cavalcanti (MSc./ DSc.)
[email protected]
ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA:
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - UFPI
Centro de Ciências Humanas e Letras - CCHL
Departamento de Geografia e História - DGH
Coordenação de Geografia
Campus da Ininga, s/n
64.049-550 - Teresina - Piauí
Fone: (86) 3215-5777 / (86) 3215-5778
18