ACERVO DOCUMENTAL DAS INTERVENÇÕES NO PALÁCIO GUSTAVO CAPANEMA: a contribuição do Projeto de Recuperação e Preservação do Palácio da Cultura MARTINELLI, FRANCESCA DALMAGRO Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Departamento de Articulação e Fomento. Coordenação-Geral de Pesquisa e Documentação – Arquivo Central do IPHAN/Seção RJ. Mestrado em Preservação do Patrimônio Cultural Rua da Imprensa, 16/812 – Castelo, Rio de Janeiro/RJ. CEP 20030-002 [email protected] RESUMO Em seus 70 anos de existência, o hoje denominado Palácio Gustavo Capanema, edifício construído entre 1937 e 1945 para abrigar o Ministério da Educação e Saúde, passou por diversas intervenções. Tombado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - SPHAN em 1948, foram constantes as medidas de conservação e restauro que viabilizaram a continuidade desse exemplar tido como marco da arquitetura moderna. A essas ações somam-se algumas reformas que visaram a adaptação edifício às mudanças organizacionais do ministério ao longo dos anos. Por se tratar de um bem tombado, os registros dessas intervenções foram guardados no Arquivo Central do IPHAN no Rio de Janeiro - ACI/RJ, arquivados em uma série intitulada Obras. No entanto, parte desses registros – que corresponde aos últimos projetos – chegou ao ACI/RJ somente em 2009. Entre eles está o Projeto de Recuperação e Preservação do Palácio da Cultura - PRPPC, que funcionou entre os anos de 1981 e 1992 e destaca-se por seu acervo não só volumoso, mas rico em informações que ainda hoje servem de subsídio para as intervenções no edifício. Buscando documentar seus processos e preencher lacunas sobre a história do bem, o PRPPC produziu e reuniu milhares de documentos relativos a ele, entre textos, iconografias e desenhos técnicos. A transferência desse acervo ao ACI/RJ está demandando por um trabalho de levantamento e compreensão desses registros, visando sua integração ao arquivo histórico da Instituição, que já contém documentos relativos ao bem desde a sua construção. O presente trabalho compreende uma das etapas necessárias à integração desses documentos: a contextualização da sua produção e o desvelamento de sua organicidade através da compreensão das ações do projeto. A recuperação da memória do PRPPC é parte da pesquisa que está sendo realizada no âmbito do Mestrado Profissional em Preservação do Patrimônio Cultural do IPHAN, a qual tem por objetivo analisar como os documentos relativos às intervenções realizadas no Palácio Gustavo Capanema bem foram produzidos, utilizados e tratados e em que medida a memória das transformações arquitetônicas pode ser entendida a partir deles. Palavras-chave: Palácio Gustavo Capanema; Acervo de Projetos; Arquitetura Moderna; Pesquisa Histórica em Restauro; Patrimônio. Acervo documental das intervenções no Palácio Gustavo Capanema: a contribuição do Projeto de Recuperação e Preservação do Palácio da Cultura Em 03 de outubro de 1945 ocorria a cerimônia de inauguração do Edifício Sede do Ministério da Educação e Saúde – MES, idealizado pelo então Ministro Gustavo Capanema e implantado em uma das quadras da Esplanada do Castelo no Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Nessa data, entretanto, encerrava-se uma saga projetual que iniciara em meados de 1935, com a realização de um concurso de anteprojetos cujo vencedor foi o arquiteto Archimedes Memória, com um edifício de traços neoclássicos que aludia ao estilo marajoara. (CAVALCANTI, 1995). O resultado não agradou Capanema, que após recomendações convidou Lucio Costa a elaborar um novo projeto, sendo que este forma uma equipe com os arquitetos Oscar Niemeyer Soares Filho, Jorge Machado Moreira, Carlos Leão, Affonso Eduardo Reidy e Ernani Mendes de Vasconcellos. Após a conclusão de um primeiro estudo, já com feições modernas, a equipe solicita a consultoria de Le Corbusier, que vem ao Brasil em 1936 e propõe um segundo projeto, sugerindo que a implantação se dê em terreno próximo, na praia de Santa Luzia. Frente à impossibilidade de mudança de terreno, o arquiteto franco-suíço realiza, antes de partir e a contragosto, um rápido esboço para a Esplanada do Castelo. A solução não agrada aos arquitetos, que elaboram um quarto projeto, finalmente aprovado por Capanema em fevereiro de 1937. Essa trajetória, com muitos outros pormenores, encontra-se explorada por diversos autores e estudiosos desse episódio da arquitetura moderna (COMAS, 1987). A construção, iniciada em maio do mesmo ano, ainda contemplaria modificações solicitadas pelo Ministro e que se estenderiam até às vésperas da inauguração. As mais significativas foram a elevação do pé-direito do primeiro andar, o acréscimo de três pavimentos na torre – ambas em 1937 – e a ampliação do corpo do salão de exposições realizada entre os anos de 1944 e 1945, avançando o prédio sobre a Rua Pedro Lessa e modificando o desenho do quarteirão (LISSOVSKY; SÁ, 1996). Ainda em outubro de 1945, com a queda do Estado Novo, Gustavo Capanema deixa a pasta do Ministério. Além de idealizador do projeto, o Ministro fora um dos “guardiões” do edifício, ocupado pelas funções ministeriais desde abril de 1944, antes mesmo da conclusão da obra. Pode-se perceber esse zelo em algumas ordens dadas por Capanema a Bittencourt de Sá, então Diretor-geral do Departamento de Administração do MES: “Verifico que as pontas de cigarro estão arruinando o piso de linóleo do nosso edifício. Urge tomar 4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro providências.”1 Em outra solicitação, preocupa-se com a aparência das fachadas: “Peço-lhe que recomende o Serviço de Administração da Sede que não permita a colocação de embrulhos, pacotes, etc., nas faces de vidro do lado sul do edifício. O aspecto exterior é mal.”2 Em março de 1948, o edifício é tombado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN, sendo inscrito no Livro do Tombo de Belas Artes. O tombamento foi justificado “pelo fato de tratar-se da primeira edificação monumental, destinada a séde de serviços públicos, planejada e executada no mundo, em estrita obediência aos princípios da moderna arquitetura”3. Ocorrido o tombamento do bem, qualquer intervenção posterior deveria passar pela aprovação do SPHAN, em obediência ao disposto nos artigos 17 e 18 do Decreto-Lei n. 25 de 1937 (BRASIL, 1937). Os documentos dessas intervenções – aprovadas/executadas ou não – foram guardados pelo órgão do patrimônio em seu arquivo institucional (hoje Arquivo Central do IPHAN, Seção Rio de Janeiro – ACI/RJ), em uma série intitulada Obras. Cabe aqui elucidar que esse arquivo localiza-se no oitavo andar do edifício em questão, que sediou durante muitos anos o órgão do patrimônio e que abriga até hoje departamentos ligados à sede do IPHAN em Brasília. Apesar das mudanças ministeriais e da transferência da capital, o edifício sempre manteve seu uso com funções do Ministério, a saber: Ministério da Educação e Saúde até 1953; Ministério da Educação e Cultura de 1953 a 1985 (em 1960 passa a denominar-se Palácio da Cultura) e Ministério da Cultura a partir de 1985, ano em que o prédio recebe o título de Palácio Gustavo Capanema. Acervo documental das intervenções Os primeiros registros de adaptações no edifício que constam na série Obras datam de abril de 1948, portanto logo após o tombamento. Os documentos seguiram-se acumulando ano a ano, de forma quase ininterrupta, correspondendo desde aos grandes projetos de restauro ou modificações a pequenas ações de conservação. Os últimos registros que constam nessa série datam de 1992, período em que esse tipo de documentação deixava de ser recolhida ao arquivo da sede, ficando – como permanece atualmente – sob a guarda das regionais. Parte dos documentos relativos a intervenções no edifício, no entanto, havia sido mantido no Setor Técnico da Administração do Palácio Gustavo Capanema, eventualmente ligada ao 1 Trecho de bilhete enviado em 31 out. 1944. In: LISSOVSKY; SÁ, 1996, p. 192. Trecho de bilhete enviado em 8 dez. 1944. In: Ibidem, p. 192. 3 Trecho do documento “Proposta de tombamento: Edifício-séde do Ministério da Educação”, de 3 mar. 1948, por Alcides Rocha Miranda – Chefe da S.A./SPHAN. Fonte: ACI/RJ – Série Processos de Tombamento – n. 375-T48. 2 4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro IPHAN e responsável por diversas dessas ações. Recentemente, no ano de 2009, esse acervo de projetos foi transferido para o ACI/RJ, demandando por um atual trabalho de levantamento e compreensão para sua posterior integração à série Obras. O acervo transferido corresponde especificamente a dois grandes projetos: o Projeto de Recuperação e Preservação do Palácio da Cultura – PRPPC, que operou entre os anos de 1981 a 1992 e o Projeto de Restauração e Revitalização do Palácio Gustavo Capanema (RIBEIRO, 1999), executado através de captação de recursos pela Sociedade de Amigos do Palácio Gustavo Capanema – SAPGC entre os anos de 1994 a 2001 (SEGRE, 2013). Como se pode perceber, o período do primeiro projeto, o PRPPC, coincide com parte do período de documentos já contidos na série Obras do ACI/RJ, ou seja, até 1992. Ocorre que no ACI/RJ constavam apenas os documentos mais relevantes, enquanto o acervo recebido abrange uma gama imensa de registros, contendo estudos, desenhos, relatórios, fichas técnicas, negativos e fotografias das obras, entre outros. Referente ao segundo projeto (1994-2001), não havia nenhum registro no ACI/RJ até a chegada desse acervo em 2009. De todos os projetos de intervenções elaborados para o edifício, o PRPPC foi, notadamente, o que apresentou uma maior preocupação em documentar seus processos e, mais do que isso, documentar o próprio bem. Nessa etapa do trabalho, está sendo realizado um levantamento detalhado do acervo do PRPPC, com o intuito de compreendê-lo em sua organicidade e contextualizar a sua produção. Apresentaremos aqui alguns resultados dessa experiência. O Projeto de Recuperação e Preservação do Palácio da Cultura O PRPPC nasce em 1981, a partir da portaria de número 545 instituída pelo então Ministro da Educação e Cultura, Rubem Ludwig, a qual determina a criação de um Grupo Executivo incumbido de realizar, no prazo de 90 dias, estudos com vistas à restauração do Palácio da Cultura. Segundo registros do Projeto, o edifício apresentava-se em péssimas condições físicas, o que acarretava em problemas que iam desde a precariedade das instalações até a descaracterização da imagem pela qual fora tombado (um dos cinco pontos da doutrina de Le Corbusier, o terraço-jardim do último pavimento, havia sido suprimido em uma das impermeabilizações realizadas nos anos anteriores). Os trabalhos foram presididos por Aloísio Sérgio Magalhães, na condição de Secretário da Cultura, sendo os demais membros o Subsecretário do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Irapoan Cavalcanti de Lyra, o Delegado do MEC no Rio de Janeiro, Pery Porto, e o Diretor-Geral do Departamento de Administração do MEC, Rubens José de Castro Albuquerque. Findo o prazo dos estudos iniciais, é formada uma Comissão Permanente para acompanhamento do projeto, que é presidida por Pery Porto. O projeto contava com a 4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro participação do engenheiro Augusto Guimarães Filho como coordenador e do arquiteto Sergio Porto como chefe do núcleo de arquitetura, ambos servidores da SPHAN/PróMemória. Augusto Guimarães Filho havia sido o braço direito de Lucio Costa na implantação do Plano Piloto de Brasília, no final da década de 50. Na ocasião, coordenava o Departamento de Urbanismo da Novacap, cujo escritório funcionou no Rio de Janeiro, na sobreloja do próprio edifício do Ministério. Na época, o arquiteto Sergio Porto fazia parte de sua equipe, que realizava os projetos executivos e o cálculo das coordenadas para implantação da nova capital (LANCHA; VIDESOTT, 2010). Figura 1 – Da direita para a esquerda: Oscar Niemeyer, Lucio Costa e outros na Divisão de Urbanismo da Novacap, situada na sobreloja do Ministério. Autor não identificado, 1957. Fonte: Acervo Casa de Lucio Costa. Disponível em: <http://www.jobim.org/acervo/handle/2010.0/22106>. Acesso em: 02 nov. 2015. Passadas algumas décadas, foi então lhes conferida a recuperação do edifício do Ministério. Em 1986, logo após a separação entre o Ministério da Educação e o Ministério da Cultura, Lucio Costa envia carta ao Ministro Celso Furtado alertando para que se evitassem modificações no bem, devido a ocupação por novos órgãos, e solicitando que Augusto 4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro Guimarães Filho e Sergio Porto seguissem a cargo da sua preservação, reforçando a confiança neles depositada (COSTA, 1997, p. 142). Trabalharam também no PRPPC, em períodos distintos, as arquitetas Cláudia Maria Gomes da Silva, Cláudia Maria Girão Barroso e Cláudia Suely Rodrigues de Carvalho, além de estagiários das áreas de arquitetura, secretariado e letras. Lucio Costa, apesar de não compor formalmente a Comissão do PRPPC, foi consultado em todas as decisões importantes de projeto, desde a escolha do tom de azul das paredes até adaptações decorrentes da mudança de uso dos espaços. Através dos registros, podemos perceber a postura conservadora com que atuava, preconizando o mínimo de modificações no edifício. No início dos trabalhos, chegaram a ser consultados os outros autores do projeto original: Oscar Niemeyer, Carlos Leão, Jorge Moreira e Ernani Vasconcellos (Affonso Eduardo Reidy já havia falecido). Todos se propuseram a colaborar com os estudos, no entanto, seus nomes não aparecem no decorrer das atividades. Roberto Burle Marx, autor dos jardins, prestou assistência nas obras de restauração dos canteiros e manutenção das espécies. A preocupação com os registros documentais é uma premissa que aparece ainda no início dos trabalhos do PRPPC: Como bem cultural tombado, há uma terceira necessidade a ser contemplada, que mesmo não constando da designação do Projeto, tem igual peso nas suas atividades: a documentação. [...] As atividades do Projeto são abrangentes e procuram não negligenciar nenhuma das vertentes em que se desenvolvem qualquer trabalho de restauração tecnicamente bem conduzido, a saber: 4 restauração, manutenção e documentação. O Projeto, além dos documentos que produziu, coletou centenas de registros anteriores à década de 80, tanto relativos à construção do edifício quanto a intervenções realizadas pelos antigos Serviço de Obras do MES e Serviço de Engenharia do MEC. Uma das primeiras ações foi a realização de um convênio com o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas – CPDOC/FGV, para pesquisa de documentos que esclarecessem a história da construção do edifício, até então pouco conhecidos. A pesquisa resultou anos mais tarde na publicação do livro “Colunas da Educação” (LISSOVSKY; SÁ, 1996), que transcreve as fontes primárias que nortearam esse episódio nas décadas de 30 e 40. 4 Documento 315.S.057, de 30 abr. 1982, ref. ao estudo “E.016-Artigo para publicação”, por Augusto Guimarães Filho, fl. 1. Fonte: ACI/RJ – Acervo PRPPC. 4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro Figura 2 – Capa do livro “Colunas da Educação". Fonte: LISSOVSKY; SÁ, 1996. Nesse contexto, outra significativa contribuição para a preservação da memória do bem realizada pelo Projeto foi o resgate de dois importantes conjuntos documentais a ele relativos. O primeiro trata-se do processo de número 6870/35, intitulado Organização do Projeto para o Edifício do Ministério da Educação, que estava sob a guarda do MEC e contém documentos que vão desde o concurso realizado em 1935, passando pelas quatro propostas modernas e chegando até meados das obras, em 1942. A partir desse ano, a responsabilidade pela execução das obras é transferida do Serviço de Obras do MES para o Departamento Administrativo do Serviço Público – DASP (órgão subordinado diretamente à Presidência da República, extinto em 1986). Nos registros do PRPPC, há solicitações junto ao DASP de Brasília para a busca de documentos relativos ao restante da construção (até 1945), no entanto sem sucesso. O segundo processo resgatado foi o de licenciamento das obras junto à Prefeitura do Distrito Federal, de número 956/37, que se encontrava no Arquivo Morto da Secretaria Municipal de Obras Públicas do Rio de Janeiro e foi requisitado pelo arquiteto Sergio Porto no ano de 1982. Nele, além do pedido de licenciamento, constam notas de modificações com relação ao projeto originalmente encaminhado e registros das fiscalizações realizadas na obra até 1938, ano em que o processo é encerrado. Ambos os processos passaram então a compor o acervo do PRPPC e foram enviados ao ACI/RJ ainda em 1991, pouco antes do fim do Projeto. O primeiro foi objeto de restauro e está disponível para pesquisa desde então. O segundo, no entanto, permaneceu durante 4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro todos esses anos em um armário sem qualquer menção ao que se referia, sendo encontrado recentemente por um servidor do arquivo e identificado através do trabalho que vem sendo realizado com o acervo do PRPPC. Seu precário estado de conservação já era mencionado nos relatórios do PRPPC desde que foi retirado do Arquivo Morto da Prefeitura, necessitando ainda hoje de restauro para que seja posto em condições de acesso e manuseio. Figura 3 – Folha de rosto do Processo n. 956/37 de Licenciamento das obras do edifício do Ministério da Educação e Saúde junto à Prefeitura do Distrito Federal. Fonte: ACI/RJ. Organização documental Todos os documentos produzidos ou recolhidos pelo PRPPC (exceto os processos históricos mencionados) receberam o código 315 – número de inscrição do bem no Livro do Tombo – sucedido pelas letras indicativas do assunto e número sequencial do documento. No acervo estão identificados os seguintes códigos: - 315.E.xxx – Estudos: o Projeto organizou 73 estudos, relativos aos mais diversos assuntos (ex.: E.010 - azulejaria; E.018 – área tombada; E.056 – recuperação de estrutura, etc.). Os documentos emitidos (plantas, relatórios, cartas, etc.) indicam o estudo ao qual se referem. 4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro - 315.S.xxx – Secretaria: refere-se a todos os documentos textuais emitidos pelo Projeto, tais como cartas, ofícios, memorandos, comunicados internos, cadernos técnicos e relatórios, em um total de 1.266 documentos. - 315.D.xxx – Desenhos Executados: refere-se aos desenhos elaborados pela equipe do PRPPC, compreendendo a diversos tipos de projeto (arquitetura, urbanismo, paisagismo, azulejaria, instalações, mobiliário, estruturas, etc.), totalizando 303 plantas. - 315.DT.xxx – Desenhos de Terceiros: desenhos elaborados por empresas terceirizadas para o PRPPC, como o projeto de restauração dos jardins feito pelo escritório Burle Marx & Cia, entre outros, em um total de 33 plantas. - 315.RD.xxx – Desenhos Recolhidos: desenhos coletados pelo Projeto, elaborados entre as décadas de 40 a 80, em sua maioria procedentes dos antigos Serviço de Obras do MES e Serviço de Engenharia do MEC, que realizavam a manutenção do edifício. Total: 330 plantas. - 315.F.xxx – Fotografias Executadas: realizadas durante o Projeto, em um total de 812 fotos, contendo as folhas de contato e quase todos os negativos. Figura 4 – Folha de contato de fotografia executada pelo PRPPC relativa a restauração de um dos painéis de azulejos de Portinari. Fonte: ACI/RJ – Acervo PRPPC. - 315.RF.xxx – Fotografias Recolhidas: recolhidas ou recebidas durante o Projeto. De um total de 1.056 fotos, a maior parte – cerca de 700 – compõem os álbuns de fotografias da construção do edifício, doados em 1982 por Leonidas de Oliveira Filho, que havia sido Chefe do Serviço de Administração da Sede entre as décadas de 40 e 50. - 315.FD.xxx – Folhas de Detalhe: detalhes de elementos do edifício, em um total de 38 desenhos em papel A4. 4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro Figura 5 – Exemplo de folha de detalhe de esquadrias da fachada sul. Fonte: ACI/RJ – Acervo PRPPC. - 315.FT.xxx – Fichas Técnicas: fichas com inventário / levantamento individual dos elementos do edifício, tais como azulejos, obras de arte, jardins, mobiliário, luminárias, etc., totalizando 291 fichas. - 315.RB.xxx – Referências Bibliográficas: cópias de trechos de livros e revistas que fazem menção ao edifício, em um total de 302 registros. - 315.RJ.xxx – Jornais: clipping de reportagens que fazem menção ao edifício, em um total de 222 registros. - 315.RP.xxx – Peças Recolhidas: azulejos e outros elementos recolhidos para estudo. Consta no acervo apenas o livro de registro, sem as peças. - 315.RG.xxx – Geral: Cópias de documentos do Arquivo Gustavo Capanema/CPDOC/FGV, referentes à construção do edifício, totalizando 28 documentos. Com a extinção da Fundação Nacional Pró-Memória em 1990, o Projeto foi tendo um fim gradativo, encerrando suas atividades no ano de 1992, após o desligamento de Augusto Guimarães Filho. Dificuldades da várias ordens – especialmente orçamentárias, dado o 4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro período de alta inflação – impediram que grande parte das obras previstas pelo PRPPC fossem levadas a cabo. O Projeto de Restauração e Revitalização ocorrido posteriormente, através de captação de verbas pela SAPGC (1994-2001), incorporou o acervo do PRPPC e executou as grandes obras previstas. Sendo assim, o legado do PRPPC foi de fato o vasto acervo documental produzido frente à inexistência até então de registros mais precisos sobre o bem que possibilitassem encarar o desafio de lidar com sua a conservação. Consultas ao acervo e trabalhos em andamento Atualmente, o edifício passa por um novo processo de restauro através do PAC Cidades Históricas e sob a coordenação da Superintendência Estadual do IPHAN no Rio de Janeiro – SE/RJ. A obra, iniciada em 2012, já está em sua segunda etapa, que contempla a recuperação das fachadas. Nesse processo, o acervo de projetos das intervenções anteriores tem instrumentalizado pesquisas e solucionado algumas questões que não se satisfazem com prospecções. Um dos casos que podem exemplificar essa utilização foi a pesquisa de cor para a realização do restauro dos brises-soleil da fachada norte. Devido à retirada completa das camadas de tinta no restauro anterior, não foi possível revelar através de prospecções o tom de azul que deveria ser utilizado na pintura. Iniciou-se uma exaustiva busca por documentos que indicassem alguma referência da cor. Figura 6 – Estruturas dos brises-soleil com testes de cores. Foto: Francesca Martinelli, 2015. Achou-se então, dentro de um dos estudos do PRPPC – E.012, relativo às fachadas – , uma cartela com indicação da referida cor. A especificação do código pelo sistema de cores Munsell viabilizou a reprodução do tom exato. 4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro Figura 7 – Mostruário de tintas com a indicação a lápis da cor “AZUL CEU" como “Azul L. Costa”, com rubrica de Sergio Porto em 06 fev. 1987. Fonte: ACI/RJ – Acervo PRPPC. Macedo (2008) explora o “tríplice papel” dos documentos nos processos de conservação e restauro em função do tempo: a documentação histórica pretérita informa e autentica os valores do bem tombado; a documentação cadastral é instrumento analítico-cognitivo do restaurador; e a documentação dos processos de conservação e restauro garante a autenticidade histórica futura (MACEDO, 2008, p.13). Como colocado pelo autor, os documentos relativos a um processo de intervenção são de grande utilidade para os próximos restauros ou conservações que se fizerem em um patrimônio edificado. Entretanto, a maneira como esses registros são tratados ao longo do tempo pode provocar a desarticulação ou perda de informações devido à falta de conservação dos suportes ou a possíveis dissociações – plantas e fotografias retiradas de processos, por exemplo5. Sendo assim, uma grande quantidade de documentos pode não fornecer resultado satisfatório a uma pesquisa histórica, caso as informações estejam desconexas. Ao propor uma reflexão sobre a reconstrução da memória das cidades a partir de documentos, Pimenta aborda essa problemática: Não se trata somente de tornar acessível uma nova quantidade de dados até então dispersos ou ignorados. Trata-se de torná-los compreensíveis, ou seja, que sejam tratados para que se tornem efetivamente fontes de pesquisa, ou de elucidação de trajetórias concretas, [...]. Se a velocidade de inserção de informações é cada vez maior, ela estimula, por outro lado, o desaparecimento dos processos explicativos, que poderiam permitir que a história em geral e as histórias em particular pudessem se tornar inteligíveis. Sem considerar as falsificações possíveis, mas restringindo a análise somente a informações confiáveis, mesmo assim, os dados aparecem, muitas vezes, de forma isolada, fragmentada, sem o estabelecimento de conexões. (PIMENTA, 2013, p. 8-9). 5 Sobre a problemática da dissociação documental no ACI/RJ, ver SOUZA, 2014. 4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro Dessa forma, juntamente ao trabalho de incorporação do novo acervo de projetos àquele já existente no ACI/RJ, está sendo realizada a pesquisa no âmbito do Mestrado Profissional em Preservação do Patrimônio Cultural do IPHAN que visa entender em que medida as intervenções realizadas no Palácio Gustavo Capanema podem ser compreendidas a partir dos registros deixados pelos projetos, analisando como esses documentos foram produzidos, utilizados e tratados ao longo do tempo. Referências Bibliográficas COSTA, Lucio. Registro de uma vivência. 2. ed. São Paulo: Empresa das Artes, 1997. COMAS, Carlos Eduardo Dias. Protótipo e monumento, um ministério, o ministério. Projeto, São Paulo, n. 102, p. 137-149, ago. 1987. CAVALCANTI, Lauro. As preocupações do belo. Rio de Janeiro: Taurus Editora, 1995. 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Rio de Janeiro: Mestrado Profissional em Preservação do Patrimônio Cultural/IPHAN, 2014. 4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro