Informe Agropecuário Uma publicação da EPAMIG v.27 n.233 jul./ago. 2006 Belo Horizonte-MG Sumário Editorial ............................................................................................................................. 3 Entrevista ........................................................................................................................... 4 Importância do milho em Minas Gerais João Carlos Garcia, Marcos Joaquim Mattoso e Jason de Oliveira Duarte ........................ Apresentação Em termos de modernização da agricultura brasileira, a utilização do Sistema Plantio Direto (SPD) é uma realidade inquestionável, com destaque para a cultura do milho, que, por sua versatilidade, adaptase a diferentes sistemas de produção. A cultura do milho é fundamental em programas de rotação de culturas em SPD, por proporcionar grande produção de fitomassa de alta relação carbono/nitrogênio. A sustentabilidade de um sistema de produção não está apoiada apenas em aspectos de conservação e preservação ambiental, mas também em aspectos econômicos e comerciais. Com a opção do plantio direto, os produtores rurais passaram a se preocupar com a manutenção da cobertura do solo, rotação de culturas e recuperação das áreas, principalmente aquelas com pastagens degradadas, onde o milho surge como uma alternativa viável. Todas essas alterações no sistema produtivo contribuem para altos rendimentos obtidos em cultivos racionais da terra, sem degradá-la. A cultura do milho destaca-se ainda no contexto da integração lavoura-pecuária devido às inúmeras aplicações que este cereal tem dentro da propriedade agrícola, quer seja na alimentação animal, na forma de grãos ou de forragem verde ou conservada (rolão, silagem), na alimentação humana ou na geração de receita mediante a comercialização da produção excedente. Para que essa integração seja implantada, deve ser precedida de vários cuidados referentes ao diagnóstico do solo, escolha da cultivar de milho e da forrageira, dentre outros. Esta edição do Informe Agropecuário mostra a importância do milho na cadeia produtiva de suínos e aves, apresentando técnicas de correção e manutenção da fertilidade do solo, manejo de pragas, doenças e plantas daninhas, produção de milho orgânico e na integração lavoura-pecuária associadas às exigências climáticas, que são imprescindíveis para a sustentabilidade da cultura do milho no Sistema Plantio Direto. José Mauro Valente Paes Exigências climáticas do milho em Sistema Plantio Direto Wilson Jesus da Silva, Luiz Marcelo Aguiar Sans, Paulo César Magalhães e Frederico Ozanan Machado Durães ................................................................................. 14 Manejo da fertilidade do solo para a cultura do milho Jeferson Antônio de Souza ................................................................................................ 26 Manejo da cultura do milho em Sistema Plantio Direto José Carlos Cruz, Israel Alexandre Pereira Filho, Ramon Costa Alvarenga, Miguel Marques Gontijo Neto, João Herbert Moreira Viana, Maurílio Fernandes de Oliveira e Derli Prudente Santana ................................................................................. 42 Manejo de plantas daninhas na cultura do milho José Mauro Valente Paes e Roberto Kazuhiko Zito ............................................................. 54 Manejo de pragas da cultura de milho em Sistema Plantio Direto Ivan Cruz e Américo Iorio Ciociola Jr. ................................................................................ 66 Principais doenças da cultura do milho Nicésio Filadelfo Janssen de Almeida Pinto, Maria Amélia dos Santos e Dulândula Silva Miguel Wruck ........................................................................................... 82 Aspectos de produção e mercado do milho Marcos Joaquim Mattoso, João Carlos Garcia, Jason de Oliveira Duarte e José Carlos Cruz ............................................................................................................... 95 Cultura do milho na integração lavoura-pecuária Ramon Costa Alvarenga, Tarcísio Cobucci, João Kluthcouski, Flávio Jesus Wruck, José Carlos Cruz e Miguel Marques Gontijo Neto .............................................................. 106 Produção de milho orgânico no Sistema Plantio Direto Anastácia Fontanétti, João Carlos Cardoso Galvão, Izabel Cristina dos Santos e Glauco Vieira Miranda ....................................................................................................... 127 ISSN 0100-3364 Informe Agropecuário 7 Belo Horizonte v. 27 n. 233 p. 1-136 jul./ago. 2006 © 1977 Informe Agropecuário é uma publicação da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais EPAMIG EPAMIG ISSN 0100-3364 INPI: 006505007 CONSELHO DE DIFUSÃO DE TECNOLOGIA E PUBLICAÇÕES Baldonedo Arthur Napoleão Luiz Carlos Gomes Guerra Manoel Duarte Xavier Álvaro Sevarolli Capute Maria Lélia Rodriguez Simão Artur Fernandes Gonçalves Filho Júlia Salles Tavares Mendes Cristina Barbosa Assis Vânia Lacerda É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização escrita do editor. Todos os direitos são reservados à EPAMIG. Os artigos assinados por pesquisadores não pertencentes ao quadro da EPAMIG são de inteira responsabilidade de seus autores. Os nomes comerciais apresentados nesta revista são citados apenas para conveniência do leitor, não havendo preferências, por parte da EPAMIG, por este ou aquele produto comercial. A citação de termos técnicos seguiu a nomenclatura proposta pelos autores de cada artigo. DEPARTAMENTO DE TRANSFERÊNCIA O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data de E DIFUSÃO DE TECNOLOGIA publicação da edição. Cristina Barbosa Assis Assinatura anual: 6 exemplares DIVISÃO DE PUBLICAÇÕES EDITOR Aquisição de exemplares Vânia Lacerda Setor Comercial de Publicação Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - Cidade Nova COORDENAÇÃO TÉCNICA José Mauro Valente Paes Caixa Postal, 515 - CEP 31170-000 Belo Horizonte - MG Telefax: (31) 3488-6688 E-mail: [email protected] - Site: www.epamig.br REVISÃO LINGÜÍSTICA E GRÁFICA Marlene A. Ribeiro Gomide e Rosely A. R. Battista Pereira CNPJ (MF) 17.138.140/0001-23 - Insc. Est.: 062.150146.0047 NORMALIZAÇÃO Fátima Rocha Gomes e Maria Lúcia de Melo Silveira PRODUÇÃO E ARTE Diagramação/formatação: Rosangela Maria Mota Ennes, Maria Alice Vieira, Fabriciano Chaves Amaral e Letícia Martinez Informe Agropecuário. - v.3, n.25 - (jan. 1977) Horizonte: EPAMIG, 1977 . v.: il. . - Belo Cont. de Informe Agropecuário: conjuntura e estatística. - v.1, n.1 - (abr.1975). ISSN 0100-3364 Capa: Letícia Martinez Foto da capa: Erasmo Pereira PUBLICIDADE Décio Corrêa Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - Cidade Nova Caixa Postal, 515 - CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG Telefone: (31) 3488-8565 [email protected] 1. Agropecuária - Periódico. 2. Agropecuária - Aspecto Econômico. I. EPAMIG. CDD 630.5 O Informe Agropecuário é indexado na AGROBASE, CAB INTERNATIONAL e AGRIS Governo do Estado de Minas Gerais Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento Sistema Estadual de Pesquisa Agropecuária - EPAMIG, UFLA, UFMG, UFV A EPAMIG integra o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, coordenado pela EMBRAPA Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Marco Antonio Rodrigues da Cunha Secretário Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais Conselho de Administração Marco Antonio Rodrigues da Cunha Baldonedo Arthur Napoleão Silvio Crestana Maria Lélia Rodriguez Simão Osmar Aleixo Rodrigues Filho Décio Bruxel Sandra Gesteira Coelho Adauto Ferreira Barcelos Willian Brandt Joanito Campos Júnior Helton Mattana Saturnino Conselho Fiscal Carmo Robilota Zeitune Heli de Oliveira Penido José Clementino dos Santos Evandro de Oliveira Neiva Márcia Dias da Cruz Celso Costa Moreira Presidência Baldonedo Arthur Napoleão Diretoria de Operações Técnicas Manoel Duarte Xavier Diretoria de Administração e Finanças Luiz Carlos Gomes Guerra Gabinete da Presidência Álvaro Sevarolli Capute Assessoria de Comunicação Roseney Maria de Oliveira Assessoria de Desenvolvimento Organizacional Ronara Dias Adorno Assessoria de Informática Renato Damasceno Netto Assessoria Jurídica Paulo Otaviano Bernis Assessoria de Planejamento e Coordenação José Roberto Enoque Assessoria de Relações Institucionais Artur Fernandes Gonçalves Filho Auditoria Interna Carlos Roberto Ditadi Departamento de Transferência e Difusão de Tecnologia Cristina Barbosa Assis Departamento de Pesquisa Maria Lélia Rodriguez Simão Departamento de Negócios Tecnológicos Artur Fernandes Gonçalves Filho Departamento de Prospecção de Demandas Júlia Salles Tavares Mendes Departamento de Recursos Humanos Flávio Luiz Magela Peixoto Departamento de Patrimônio e Administração Geral Marlene do Couto Souza Departamento de Obras e Transportes Luiz Fernando Drummond Alves Departamento de Contabilidade e Finanças Celina Maria dos Santos Instituto de Laticínios Cândido Tostes Gérson Occhi Instituto Técnico de Agropecuária e Cooperativismo Marcello Garcia Campos Centro Tecnológico do Sul de Minas Edson Marques da Silva Centro Tecnológico do Norte de Minas Marco Antonio Viana Leite Centro Tecnológico da Zona da Mata Juliana Cristina Vieccelli de Carvalho Centro Tecnológico do Centro-Oeste Cláudio Egon Facion Centro Tecnológico do Triângulo e Alto Paranaíba Roberto Kazuhiko Zito Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, jul./ago. 2006 Plantio Direto garante sustentabilidade para a cultura do milho A importância econômica do milho baseia-se nas suas diversas formas de utilização, que vai desde a alimentação animal até a indústria de alta tecnologia. Na realidade, o uso do milho em grão como alimentação animal representa a maior parte do consumo desse cereal, cerca de 70% no mundo. Nos Estados Unidos, aproximadamente 50% são destinados a esse fim, enquanto que no Brasil varia de 60% a 80% de ano para ano. Dentro da evolução mundial de produção de milho, o Brasil tem-se destacado como terceiro maior produtor, com 40,8 milhões de toneladas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, com 280 milhões de toneladas, e da China, com 131 milhões de toneladas. O milho é cultivado em praticamente todo o território nacional, sendo que 90% da produção concentra-se nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Em Minas Gerais a cultura do milho está localizada nas regiões Sul e Oeste do Estado, com uma produção de 6,2 milhões de toneladas, em 2005. A cultura do milho tem apresentado grande capacidade de implementar sistemas de produção competitivos e ajustados para condições variadas. Essa característica faz do milho um dos grãos mais cultivados no Brasil e no mundo. A utilização do Sistema Plantio Direto (SPD) na agricultura brasileira é um avanço e a participação da cultura do milho em sistemas de rotação e sucessão de culturas para assegurar a sustentabilidade desse sistema é imprescindível. O SPD requer cuidados em sua implantação, mas depois de estabelecido, traz benefícios econômicos e ambientais. Por tudo isso e pela adaptação em diferentes regiões e níveis tecnológicos, o SPD tem-se sobressaído entre os produtores de milho, do grande ao pequeno agricultor. A demanda do grão para alimentação animal e o grande contingente de pequenos produtores inseridos na produção de milho possibilitaram também a implantação do sistema de integração lavoura-pecuária, que consiste no cultivo em rotação ou consorciação de culturas anuais como milho, sorgo e milheto com espécies forrageiras. Nesta edição do Informe Agropecuário são apresentadas tecnologias para produção do milho em SPD, resultantes de estudos e experimentações, que apontam o caminho para a sustentabilidade e produtividade da cultura do milho no Brasil. Baldonedo Arthur Napoleão Presidente da EPAMIG Milho em Sistema Plantio Direto: evolução na agricultura brasileira O diretor-executivo do Grupo Ma Shou Tao, Jônadan Ma, é formado em Engenharia Agronômica pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), SP, com MBA Executivo em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas, RJ. O Grupo Ma Shou Tao, presente no município de Conquista, MG, desde 1973, é composto por seis fazendas e quatro empresas nas áreas de alimentos, armazéns gerais, comercialização e produção agropecuária. Para a cultura do milho, a Ma Shou Tao tem cerca de 400 a 600 ha dedicados à produção de grãos, que alcança produtividade de 9.500 kg/ha e, para silagem, em torno de 45 t/ha. De acordo com Jônadan Ma, a evolução das culturas do milho e da soja no Oeste do Estado é resultado do investimento maciço na pesquisa, por meio de parcerias com a Embrapa, EPAMIG e outras instituições afins, sempre buscando qualidade, preservação ambiental e valorização do homem do campo. IA - A agricultura brasileira vem pas- sacas por hectare no sistema de rotação com a tecnologia atual produzir-se em sando por momentos difíceis. Qual de culturas, o cenário não é favorável. torno de 100 sacas por hectare. o cenário futuro para a cultura do Já para quem adota alta tecnologia e Vejo então um cenário futuro para o milho? busca produtividade superior a 120 sa- milho de estabilidade na safra de ve- Jônadan Ma – A cultura do milho cas por hectare, o cenário futuro, pelo rão e de crescimento para a safrinha, tem sido muito utilizada em dois sis- menos para a próxima safra, é bastante como tentativa de o produtor rural temas de produção no Brasil Central: positivo, uma vez que o custo de produ- garantir a sua renda, além da cultura na rotação de culturas com a soja e ção desta cultura situa-se em torno de tradicional que é a soja. em sucessão (safrinha) à cultura da 115 sacas por hectare aos preços atuais soja. de R$14,00 por saca. Em relação aos preços, também o cenário é de estabilidade nos mercados O cenário deve ser traçado com base Agora, para quem tem um sistema interno e externo, menos sujeitos a que- no nível tecnológico adotado, diante da que permita adotar a safrinha em suces- das nos preços internacionais, princi- expectativa de produtividade e dos valo- são à soja, o cenário futuro é bastante palmente devido ao uso do milho para res praticados no mercado. Considerando- promissor, já que com baixos custos (na produção de etanol nos EUA, que con- se um nível tecnológico baixo, que per- ordem de 70 a 80 sacas) e com a ocor- sumirá boa parte do excedente mun- mita obter produtividades de até 110 rência de clima adequado, é possível dial. I n f o r m e AI ngfroor pmeec Au gá rroi op e, cBu áe rl ioo , HBoerl oi z Ho on rt iez,o nvt.e2, 7v,. 2n7., 2n3. 32 3, 3j,ujlu. l/.a/ ag goo. . 22 00 00 66 IA - A utilização do Sistema Plantio Di- ser altamente exigente e obrigar o agri- de-cisto é de fundamental importância reto (SPD) na palha é importante cultor a fazer uma adequada mensu- que esta rotação de culturas contemple para a evolução da cultura do mi- ração do que a cultura de cobertura o milho. A rotação é altamente eficaz pa- lho no Brasil? pode estar oferecendo naquela safra. ra reduzir a população de nematóides- Jônadan Ma – Sem dúvida alguma! A cultura do milho foi e continua sendo fundamental para a evolução do SPD e vice-versa. O SPD está permitindo a evolução geral da agricultura no Brasil, passando Resumindo, com o SPD podemos de-cisto, de todas as raças conhecidas. alcançar um solo e um ambiente muito Já para os nematóides-de-galha, mais equilibrados. Isso, de certa forma, existem diferenças na eficácia das culti- irá propiciar maior eficiência das tecno- vares para o controle populacional des- logias adotadas e uma possível redução ses nematóides. dos insumos. dação Triângulo de Pesquisa e Desen- necessariamente pelo milho, ainda mais com o incremento e o desenvolvimento da tecnologia integração lavoura- A EPAMIG, em parceria com a Fun- IA - Qual a importância do milho na ILP? volvimento, realiza um ensaio estadual há vários anos com diversos híbridos pecuária (ILP), por meio do Sistema Jônadan Ma – Diria que a ILP é de nas principais regiões produtoras do Santa Fé, que adota o milho como cul- importância vital e fundamental. É por Estado, que demonstra quais híbridos tura base para implantação da braquiá- meio do milho como cultura base que oferecem maior ou menor capacidade ria em consórcio e sucessão para explo- esta tecnologia está sendo implantada de multiplicação dos nematóides-de- ração da pecuária, tanto de leite como com tanto sucesso. O Sistema Santa Fé, galha, informações estas que devem ser de corte. que adotamos para implantação da ILP, mais exploradas pelos produtores e pe- preconiza que a cultura da Brachiaria las empresas. IA - Com a utilização do SPD na palha brizantha (utilizada em nossos campos é possível reduzir a utilização de de produção) seja implantada junto IA - Qual a sua opinião sobre o plantio insumos na cultura do milho? com a cultura do milho, preservando o de milho utilizando o mesmo potencial de produtividade do milho, espaçamento para o plantio da sem permitir concorrência e mantendo soja? Jônadan Ma – O SPD exige a adoção integrada do manejo de solos e do manejo cultural, associado ao manejo estratégico das culturas. Essa integração de tecnologias, associada ao bom senso do agricultor, permite a redução de insumos na cultura do milho, principalmente em relação ao uso de agroquímicos e fertilizantes. Existem culturas de cobertura de inverno que se bem manejadas, não apenas promovem melhor cobertura do solo, reduzindo o potencial de ocorrência de plantas daninhas, como também reciclam nutrientes como K, N entre outros, que permitem econo- a braquiária suprimida até o momento Jônadan Ma – O incremento na pro- em que a luz solar penetre nas entreli- dutividade do milho tem encontrado nhas. Por ocasião da pré-colheita e logo paralelo com a redução do espaçamen- após a colheita do milho, essa forra- to. Minha opinião é que o produtor geira pode-se desenvolver livremente, rural deve-se adequar a três pontos antes formando assim uma bela pastagem 30 de adotar o mesmo espaçamento para a 40 dias após. Esta técnica pode ser o plantio de soja. O primeiro ponto a facilmente adotada por todos os produ- ser considerado é se ele já adota as prin- tores de milho que buscam um aumento cipais tecnologias como manejo de ferti- na renda por hectare, uma vez que após lidade, manejo de pragas e manejo cul- a cultura do milho é possível explorar tural, além do SPD. O segundo é saber a pecuária por mais 150 a 180 dias na qual o histórico de evolução da produti- mesma área. vidade de milho do produtor e aonde ele quer chegar. E o terceiro é avaliar se mia na utilização de herbicidas e mesmo na adubação. Em relação à adubação, deve-se tomar mais cuidado para redução na utilização do adubo, pelo fato de a cultura IA - A utilização da cultura do milho ele tem estrutura financeira e técnica na rotação de culturas é eficaz para para investir em equipamentos, no caso, o manejo de nematóides? plataforma de milho com espaçamento Jônadan Ma – Para os nematóides- II nn ffoorrmmee A Ag rgorpoepceucáur iáor, i oB ,e l oB eHloor i zHoonrtiez, ovn. t2e7,, nv..22373, , jnu.l 2. /3a4g ,o . s2e0t0. /6o u t . 2 0 0 6 da soja. Vejo esta técnica como uma das proíbe o plantio do milho transgênico mais diversas tecnologias, mas com di- últimas a ser adotada, se os três pontos em solos brasileiros, mas permite a ferencial de terem custo-benefício mais forem perfeitamente atendidos. importação de milho transgênico de acessíveis ao produtor brasileiro. outros países para o uso na fabricação IA - Qual a perspectiva para o milho transgênico no Brasil? Jônadan Ma – Vejo essa questão IA - A EPAMIG desenvolve ensaios de de ração animal. Infelizmente, é um tremendo contrasenso! avaliação de cultivares de milho no estado de Minas Gerais em parceria O mercado internacional, consumi- com a Fundação Triângulo e as dor da proteína animal produzida no empresas privadas e oficiais que são Frustração porque as questões con- Brasil, da qual o País é um dos maiores detentoras de cultivares de milho. ceituais e filosóficas estão acima das exportadores mundiais, não faz res- Qual a importância desse trabalho necessidades tecnológica e econômica trição nenhuma ao milho utilizado para o agricultor mineiro? do agronegócio brasileiro. na ração animal, seja transgênico ou com muita frustração e com bastante apreensão. Apreensão porque a demora e a falta não. Jônadan Ma – Esse trabalho é de grande importância para todos os de vontade na liberação do milho trans- Pelo contrário, estamos perdendo gênico no Brasil estão abrindo portas, competitividades interna e externa, pelo a partir do Sul do País, para híbridos fato de estarmos produzindo um milho contrabandeados da Argentina e Para- não-transgênico com custos muito mais guai, afetando assim a produção legal elevados que o milho transgênico. de sementes, embora a cultura seja alta- Enquanto o milho transgênico BT mente dependente do sistema de me- não recebe qualquer aplicação de inse- lhoramento privado. ticida, o milho convencional recebe du- Não creio que a pirataria estenda-se rante o cultivo pelo menos três a cinco para a região do Brasil Central, devido aplicações. O consumidor deve levar à limitação de adaptação dos híbridos em conta o impacto de agrotóxicos que contrabandeados. Entretanto, pode afe- o milho convencional tem a mais que o tar a condição de segregação do milho milho transgênico. componentes da cadeia produtiva do milho, desde a semente até o consumidor final, mas infelizmente muito pouco explorada e aproveitada pelos componentes técnicos da cadeia, na qual incluímos o produtor rural. Informações como: quais os híbridos mais adaptados e produtivos para cada região; quais os híbridos que suprimem ou multiplicam os nematóidesde-galha que, por sua vez, podem afetar a cultura da soja, dependendo da variedade a ser utilizada; quais as me- produzido legalmente. lhores tecnologias que permitem maior Pelo fato de ser uma cultura de poli- IA - De que forma a pesquisa oficial do nização cruzada, acredito que o milho Brasil tem contribuído para o siste- melhor época de plantio ao longo dos transgênico no Brasil não vá ser libe- ma de produção de milho? anos para cada região; dentre outras, desempenho médio da cultura; qual a rado enquanto a linha ambientalista Jônadan Ma – A contribuição da atestam a importância dessa pesquisa tiver o poder de decisão nos órgãos fe- pesquisa tem ocorrido principalmente para todos os que trabalham e depen- derais. em duas linhas: dem da cultura do milho. Portanto, te- Primeiro no desenvolvimento de tec- mos que motivar empresas, produtores IA - Quais as vantagens para o mercado nologias básicas, tanto nos fatores de e consumidores de milho a incentivar brasileiro com a produção de grãos construção da produtividade como nos iniciativas como estas, que só existem de milho não-transgênicos? de proteção. porque são realizadas por técnicos e Jônadan Ma – Não vejo mais van- E segundo, no desenvolvimento de tagem alguma, uma vez que o governo híbridos e variedades adequadas às pesquisadores que se dedicam ao desenvolvimento do agricultor mineiro. Por Vânia Lacerda I n f o r m e AI ngf roor m p ee cAugárroi po e, c Bu áerl ioo , HBoe rl oi zHo on rt iez ,o nvt .e2, 7v,. 2n7 ., 2n3. 23 3, 3 j, uj lu. l/.a/ aggoo. . 22 00 0066 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 7 Importância do milho em Minas Gerais João Carlos Garcia 1 Marcos Joaquim Mattoso 2 Jason de Oliveira Duarte 3 Resumo - O milho é um dos grãos que dominam o mercado agrícola no mundo, juntamente com o arroz, o trigo e a soja. Representa a maior quantidade produzida, é também o cereal que tem registrado maiores incrementos de produção nos últimos anos e um dos produtos mais tradicionais da agricultura mineira. Em Minas Gerais, observa-se que o crescimento da produção de milho decorre principalmente do aumento do rendimento das lavouras e que esse crescimento não vem ocorrendo de maneira uniforme nas diferentes regiões de planejamento do Estado. Uma avaliação do desenvolvimento da cultura do milho nas regiões de planejamento é apresentada, assim como a visão das perspectivas futuras para esse cereal, em Minas Gerais. Palavras-chave: Zea mays. Economia. Produção. INTRODUÇÃO A domesticação do milho ocorreu no que é hoje território do México, a partir de um ancestral selvagem, o teosinte. A partir daí, esse cereal passou a ser cultivado em todas as Américas, pelos nativos e, após, foi levado para a Europa, África e Ásia. Hoje é cultivado em uma ampla variedade de ambientes e com o uso da mais diversificada tecnologia de produção, o que tem possibilitado essa adaptação. O milho é um dos grãos que dominam o mercado agrícola no mundo, juntamente com o arroz, o trigo e a soja. Esse cereal representa a maior quantidade produzida e também o que tem registrado maiores incrementos de produção nos últimos anos. Isto se deve, principalmente, ao crescimento da produtividade nos países em desenvolvimento. O crescimento da produção é resultado do desenvolvimento do mercado, proporcionado pelas possibilidades do uso do milho, tanto como alimento humano, como alimento animal. Esta característica o torna um produto estratégico para países de alta e de baixa renda. Embora em países mais desenvolvidos o milho seja destinado principalmente à alimentação animal, ainda é um importante componente da alimentação da população de muitos países, principalmente da África e da América Central. Deve-se considerar que, à medida que a renda e a urbanização da população crescem, o consumo de produtos de origem animal aumenta em proporção maior do que a de produtos como o arroz e o trigo. Assim, deve-se esperar a transição gradual de uso do milho na alimentação humana para outras formas de utilização, mesmo em países mais pobres. O milho é um dos produtos mais tradicionais da agricultura mineira. Seu cultivo, desde os tempos da colonização, estabeleceu fortes laços culturais, que envolve- ram desde formas de utilização, até a cristalização de técnicas envolvidas em seu processo de produção. Existia, e até hoje existe em grande número de propriedades mineiras, todo o complexo sistema de produção e consumo de milho, cuja característica principal é ser direcionado para o interior das fazendas. Esse sistema de produção/consumo envolve tanto a alimentação dos moradores da propriedade, como dos animais (seja para trabalho, seja para produção de carne). A crescente urbanização deslocou o consumo para as cidades e criou a necessidade do estabelecimento de novas formas de produção, voltadas para o abastecimento urbano. As cidades foram, no início, abastecidas por eventuais excedentes de produção das fazendas que, gradativamente, foram substituídos pelo produto oriundo de formas especializadas de produção. Isto aconteceu tanto no que diz 1 Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected] 2 Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: mattoso@cnpms. embrapa.br 3 Economista, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: jason@cnpms. embrapa.br Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.7-12, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 8 respeito à transformação industrial do milho, quanto à criação de animais confinados (produção de carne de aves, de suínos, produção de ovos e, mais recentemente, confinamento de bovinos). O desenvolvimento acelerado das atividades de alimentação animal caracterizou definitivamente essas atividades como o destino principal do milho. Essa visão do desenvolvimento do mercado do milho, em conjunto com a constatação de que ainda existe, na agricultura mineira, um misto de produtores que, por suas características individuais, agroecológicas das suas propriedades e mesmo pela localização destas, em relação aos centros de consumo, exerce diferentes graus de inserção no mercado, é necessária para a análise dos sistemas de produção em uso, e de como as mudanças que ocorrem nos diferentes elos da cadeia de produção de milho afetam tanto os produtores como os consumidores. PRODUÇÃO No estado de Minas Gerais, observase que o crescimento da produção é decorrente do aumento do rendimento e não da área plantada, que praticamente estagnou ao redor de 1,3 milhão de hectares nas últimas safras. O aumento da produção, que passou de cerca de 3,6 milhões para 6,3 milhões de toneladas, foi devido ao incremento no rendimento agrícola em cerca de 2.136 kg ha-1, atingindo cerca de 4.600 kg ha-1, no fim do período 1994-2005 (Gráfico 1). Gráfico 1 - Produção (1.000 t) e área colhida (1.000 ha) de milho em Minas Gerais – 1996-2006 FONTE: CONAB (2006). (1) Dados preliminares. QUADRO 1 - Quantidade produzida, área colhida e rendimento de milho - Brasil, Minas Gerais e Regiões de Planejamento de Minas Gerais em 2005 Quantidade produzida Região (t) Brasil A produção de milho em Minas Gerais está concentrada nas regiões situadas no Sul e no Oeste do Estado, como o Sul de Minas, Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste (Quadro 1). As causas dessa concentração estão tanto nas condições agroecológicas (clima, topografia, etc.) mais favoráveis dessas regiões, como também pela proximidade de mercado e pela organização comercial e gerencial das proprie- Crescimento (% a.a.) 2005 (ha) Rendimento Crescimento (% a.a.) Crescimento (kg ha-1) (% a.a.) 2005 34.813.222 2,39 11.452.709 -0,74 3.040 3,09 6.243.873 4,88 1.353.544 -0,84 4.613 5,70 Noroeste 763.857 5,52 140.510 0,99 5.436 4,46 Norte de Minas 244.082 5,55 115.950 -0,87 2.105 6,29 48.685 1,72 23.277 -5,14 2.092 6,77 997.307 4,43 178.416 -0,01 5.590 4,44 1.154.870 5,95 193.325 0,56 5.974 5,35 Central 479.521 1,18 131.841 -3,77 3.637 4,93 Rio Doce 193.736 1,46 67.506 -6,27 2.870 7,58 Centro-Oeste 539.431 7,15 114.204 1,13 4.723 6,01 Sul de Minas 1.517.122 7,04 296.406 1,77 5.118 5,25 305.262 -0,48 92.109 -4,53 3.314 4,08 Minas Gerais Jequitinhonha/Mucuri Distribuição da cultura no Estado 2005 Área Triângulo Alto Paranaíba Mata FONTE: IBGE (2006) e LSPA (1994 a 2005). NOTA: Taxas de crescimento no período 1994-2005. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.7-12, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto dades produtoras, o que induz e facilita a introdução de tecnologias de produção mais competitivas. Essas condições contribuíram para o crescimento inicial da área plantada e, mais recentemente, para o incremento dos rendimentos agrícolas, que se mostram muito diferenciados entre os municípios do Estado (Fig. 1). Por constituírem regiões com tradição agrícola, ou regiões que se beneficiaram dos programas de desenvolvimento dos Cerrados, uma ampla rede de distribuição de insumos foi estabelecida (o que facilita inclusive a assistência técnica oferecida pelas indústrias fabricantes de insumos), de transporte e de estruturas de comercia- 9 lização. A competição entre as diferentes possibilidades de explorações agropecuárias define o padrão tecnológico daquelas que se desenvolverão com maior intensidade, restringindo a área daquelas explorações que não conseguem incorporar um padrão tecnológico competitivo. Isto pode ser verdade, mesmo no que diz respeito ao próprio desenvolvimento agrícola nas regiões. Nesse caso, se o conjunto das possíveis explorações agrícolas revelar poucas delas com grau de competitividade de mercado, o desenvolvimento regional do setor agrícola estará comprometido. Esta situação verifica-se em algumas regiões do leste e norte/nordeste do estado de Minas Gerais. Causas de expansão O crescimento da produção de milho em Minas Gerais não ocorreu de maneira uniforme nas diferentes regiões de planejamento (Quadro 1). No Sul de Minas (a região mais importante no que diz respeito à produção de milho no Estado) e no Centro-Oeste, a produção dobrou no período analisado. As regiões Noroeste, Alto Paranaíba e Norte de Minas apresentaram crescimento superior ao do Estado. A produção colhida no Triângulo cresceu a uma taxa semelhante à de Minas Gerais. Nas outras regiões, a produção está praticamente estagnada. A quantidade de milho colhida na região do Jequitinhonha/Mucuri é Figura 1 - Distribuição do rendimento agrícola das lavouras de milho em municípios de Minas Gerais – média de 2004/2005 FONTE: IBGE (2006). Elaboração: Laboratório de Geoprocessamento da Embrapa Milho e Sorgo. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.7-12, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 10 praticamente inexpressiva diante das outras regiões. As fontes de crescimento da produção variam entre as regiões do Estado. À exceção das regiões Centro-Oeste, Sul de Minas, Noroeste e Alto Paranaíba, que apresentaram crescimento na área plantada, as outras ou estabilizaram ou reduziram a área com milho. Em algumas, como a Central, Rio Doce, Mata e Jequitinhonha/Mucuri a redução da área plantada foi muito expressiva, sendo que dentre estas regiões algumas são tradicionais produtoras de milho. No que diz respeito aos níveis de produtividade obtida e ao seu crescimento, a discrepância entre as regiões é considerável (Fig. 1). As maiores produtividades são verificadas no Triângulo, Alto Paranaíba, Noroeste e no Sul de Minas (acima de 5.000 kg ha-1 no ano de 2005) seguidas pelas obtidas nas regiões Centro-Oeste (ao redor de 4.700 kg ha-1 no ano de 2005), Central, Mata, Rio Doce, Norte de Minas e Jequitinhonha/Mucuri (inferiores a 3.700 kg ha-1 no ano de 2005). As regiões com menor rendimento agrícola da produção de milho foram também as que apresentaram maior redução de área plantada, o que pode indicar a perda de competitividade dos agricultores locais e conseqüente desinteresse pela cultura, em decorrência da menor lucratividade. Outro indicativo dessa possibilidade está em que as mais altas taxas de crescimento da produtividade das lavouras de milho, em Minas Gerais, verificaram-se nas regiões com maior redução de área plantada, o que pode indicar eliminação das lavouras com rendimentos agrícolas muito baixos, isso contribuiria para a elevação da média regional. Mesmo com esse crescimento expressivo, os rendimentos médios nessas regiões permanecem muito baixos. É apresentada a seguir uma visão da situação nas regiões de planejamento de Minas Gerais: Região I (Central) Esta região, devido à maior concentração populacional, constitui no maior mer- cado consumidor de produtos que utilizam o milho como insumo. Existem pólos importantes de produção de aves e suínos para o abastecimento do mercado regional e exportação para outras regiões do Brasil. É o maior pólo regional de produção de aves e o terceiro em produção de suínos, que são abastecidos principalmente por milho transportado de outras regiões do Estado (principalmente Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste). A cultura do milho é realizada, em sua maioria, visando atender ao consumo da propriedade, sendo os pequenos e médios produtores os responsáveis pela maior parte da produção. No contexto estadual, essa região é a sexta maior produtora, sendo o crescimento da produção derivado principalmente do aumento de produtividade das lavouras de milho (cerca de 5% ao ano). Apesar do crescimento, os rendimentos agrícolas obtidos ainda são baixos, superando somente os obtidos em regiões com reduzido nível tecnológico empregado na cultura, como a do Jequitinhonha/Mucuri, Norte de Minas e do Rio Doce. Região II (Mata) Nos últimos anos, esta região vem sofrendo esvaziamento econômico, fruto da estagnação das atividades agrícolas tradicionais. A cultura do milho, hoje concentrada entre pequenos produtores, não se modernizou e sofre a concorrência pela mão-de-obra das atividades urbanas e de outras atividades agrícolas como o café. Nesta região também se localizam importantes pólos de produção de suínos (é o maior pólo de produção em Minas Gerais) e aves (terceiro maior produtor em Minas Gerais), com empresas de maior porte com foco no mercado nacional e atuação no mercado internacional. A região vem sendo abastecida por milho produzido no Oeste do Estado, que chega a um preço inferior e apresenta melhor padrão de qualidade. A área plantada com milho decresceu nos últimos dez anos, a uma taxa de cerca de 4,5% ao ano, e a redução da produção não foi maior, devido ao crescimento dos ren- dimentos agrícolas que, entretanto, ainda são baixos. Região III (Sul de Minas) Esta região, que apresenta fortes vínculos com o estado de São Paulo, tem tido seu perfil econômico alterado pelo processo de industrialização, causado pela descentralização espacial da indústria paulista. A proximidade com os centros consumidores de São Paulo e Rio de Janeiro tem favorecido também o desenvolvimento da pecuária leiteira e da indústria de laticínios. Nessa região localiza-se o principal pólo produtor de ovos do estado de Minas Gerais. Também é a região que mais produz milho no Estado e a que apresenta a maior área plantada, sendo uma das poucas regiões onde a área com milho encontra-se em processo de crescimento. O milho é a principal cultura temporária, sendo a maior parte dos grãos colhidos exportada para os estados do Rio de Janeiro e São Paulo. O consumo local é reduzido, diante da produção disponível. Os rendimentos agrícolas são altos e têm crescido nos últimos anos. Devido à importância da pecuária leiteira, grande parte da área com milho destina-se à produção de silagem. Região IV (Triângulo) A modernização da agricultura, com o aproveitamento do Cerrado, adoção de novas tecnologias, introdução de novas atividades agrícolas, desenvolvimento da agroindústria etc., transformou essa região no mais dinâmico pólo agrícola do Estado. Verifica-se a introdução de novas culturas na região, como a soja, laranja e cana-deaçúcar, o que vem contribuindo para a estabilização da área plantada com milho. O progresso técnico induzido pela pesquisa e o apoio governamental, através dos programas especiais, contribuíram decisivamente para essa situação. No caso do milho, os rendimentos agrícolas, que já eram altos, elevaram-se ainda mais e hoje situam-se entre os maiores do Brasil. Atualmente, a maioria da produção é obtida em plantios com características comerciais, com ele- Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.7-12, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto vado índice de utilização de insumos como fertilizantes e corretivos, mecanização e sementes melhoradas de lançamento mais recente. Junto com a região do Alto Paranaíba constitui o primeiro pólo produtor de suínos e o segundo pólo produtor de aves no estado de Minas Gerais, o que representa um destino interessante para a produção local de milho, que não necessita ser transportada a longa distância até o consumidor. Embora parte do milho seja utilizada na região, parcela considerável desse cereal ainda é exportada para outras regiões do Estado. Região V (Alto Paranaíba) Esta região tem-se caracterizado pelo avanço da agricultura comercial e pelo desenvolvimento das atividades de criação animal com maior nível tecnológico. Esse desenvolvimento tem ocorrido principalmente nos chapadões, onde o milho sofre a concorrência da soja, por espaço, nas áreas de lavouras anuais. Embora influenciada pelo desenvolvimento das regiões vizinhas, a parte da atividade produtiva ainda é representada pela agricultura tradicional. A área plantada com milho tem crescido levemente nos últimos anos e a produção tem-se elevado devido ao aumento dos rendimentos agrícolas (que já se situam em um nível alto). Isso reflete a substituição da agricultura tradicional por uma de caráter mais comercial, mais intensiva no uso de insumos e de mecanização em áreas mais favoráveis. Esta região é exportadora de milho para outras regiões do Estado. Região VI (Centro-Oeste) É a região que apresenta maior taxa de crescimento da produção de milho no estado de Minas Gerais, resultante do aumento da área plantada e também do rendimento das lavouras. Apresenta características semelhantes às do Sul de Minas. Região VII (Noroeste) Esta região apresenta forte contraste tecnológico entre as lavouras de milho 11 estabelecidas no Vão do Paracatu e as situadas nos chapadões. Na porção denominada Vão do Paracatu, as lavouras são de caráter familiar e voltadas para a subsistência, com menor produtividade e reduzido uso de insumos. Nos chapadões, os programas de ocupação do Cerrado induziram o desenvolvimento de agricultura de caráter comercial, com ênfase na cultura da soja e na utilização de níveis mais elevados de insumos agrícolas. As condições de produção de milho na região alteraram-se nessa nova situação, resultando na implantação de sistemas de produção com maior uso de insumos e melhor gerenciamento. Apesar da concorrência com a soja, a área plantada apresentou crescimento nos últimos anos, os rendimentos agrícolas evoluíram a uma taxa anual de crescimento de cerca de 4,4%, os quais se situam entre os mais elevados de Minas Gerais. A produção é praticamente toda destinada à exportação para outras regiões do Estado. Região VIII (Norte) É a região onde se localizam os municípios da região mineira da Sudene. É marcada por fatores climáticos adversos e com economia agrícola centrada na pecuária extensiva e na agricultura de subsistência. A cultura do milho apresenta produtividade reduzida, influenciada por sistemas de produção com baixa utilização de insumos, decorrentes da situação de risco de clima. A área plantada tem-se reduzido e embora a produtividade tenha crescido a uma taxa elevada, os valores obtidos ainda são muito baixos, evoluindo de cerca de 1.000 kg ha-1 para, aproximadamente, 2.000 kg ha-1, entre 1994 e 2005. É um importante pólo de produção de ovos e importador de milho de outras regiões do Estado, principalmente do Noroeste. Região IX (Jequitinhonha/Mucuri) Esta região é considerada a mais pobre do estado de Minas Gerais. A infra-estrutura para educação, saúde, comunicação, eletrificação, transporte, armazenamento, assistência técnica, pesquisa agrícola é extre- Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.7-12, jul./ago. 2006 mamente deficiente. Como decorrência, predominam na região atividades de subsistência nas quais o milho é um componente importante. A produtividade obtida é baixa e instável, variando entre 900 kg ha-1 e 2.000 kg ha-1 no período analisado. A alta taxa de crescimento dos rendimentos, que consta no Quadro 1, reflete mais esse padrão de flutuação climática e os rendimentos obtidos em 2003 e 2004 do que o desenvolvimento tecnológico. Em decorrência, a área plantada com esse cereal está em processo de redução. O milho produzido é consumido na região e, diante da estagnação das atividades comerciais e produtivas do setor agrícola, um esforço muito grande será necessário para provocar qualquer impacto na condução das lavouras. Região X (Rio Doce) A agricultura nesta região tem-se caracterizado por um processo de degradação ambiental que tem inviabilizado a continuação do processo produtivo e conduzido à estagnação do setor. A situação da cultura do milho reflete esse ambiente. A área plantada tende a decrescer e o crescimento da produtividade, embora elevado, tem conduzido a rendimentos agrícolas ainda baixos, com capacidade para resultar em aumento restrito da produção, que é insuficiente para abastecer o mercado local. PERSPECTIVAS O desenvolvimento futuro da produção de milho no estado de Minas Gerais está ligado ao crescimento das atividades de criação de animais confinados no Estado. Esse crescimento servirá de suporte para a absorção do acréscimo de produção e para remunerar os produtores pela utilização de sistemas de produção com maior uso de insumos e pelo melhor gerenciamento das lavouras. Como o milho é um produto que não possibilita, de forma econômica, o transporte para locais muito distantes daqueles da produção (com exceção das situações em que existe logística de transporte favorável), é do maior interesse que Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 12 os consumidores estejam próximos desses locais. Por outro lado, a eliminação de gargalos hoje existentes no setor de transporte ferroviário poderá abrir a possibilidade de exportação de milho produzido nas regiões situadas a oeste do Estado. Devido aos sistemas de comercialização ainda pouco desenvolvidos, melhorias certamente permitirão aos produtores melhor remuneração e, conseqüentemente, incentivo para utilização de sistemas de produção mais competitivos. Mais uma vez, os beneficiários serão os agricultores que já se encontram inseridos em atividades comerciais de produção de milho voltadas para o mercado. Nas regiões, onde se tem verificado menor desenvolvimento da cultura do milho, um esforço maior é necessário, com vistas ao desenvolvimento de rede de comercialização da produção e também de disponibilização de insumos para os agricultores. Esquemas de garantia de compra regional, pelos consumidores de milho, poderão induzir ao desenvolvimento de um conjunto de agricultores comerciais de maior porte, localizados perto dos mercados consumidores, o que seria interessante para os processadores. PESQUISA Existem regiões no Estado onde a oferta de serviços de assistência técnica (pública e privada) tem-se mostrado adequada para suportar o processo de difusão de novos sistemas de produção, assim como é possível aos agricultores encontrar no mercado os insumos que necessita. Nas regiões onde esse sistema não é tão desenvolvido, ações que possibilitem a sua implantação são do maior interesse. Embora essas ações permitam a difusão dos sistemas de produção que já foram testados, ainda existem possibilidades do desenvolvimento e ajuste de tecnologias mais voltadas para as características regionais. O milho tem apresentado grande capacidade de implementar sistemas de produção competitivos e ajustados para con- dições variadas. Os desenvolvimentos tecnológicos futuros vão desde ajustes nos sistemas de produção em uso, até o desenvolvimento de novos arranjos nos sistemas produtivos, que sejam mais adequados às condições ambientais locais (tais como cultivares e mesmo novos tipos de insumos). Sistemas de produção adequados para as regiões mais altas (acima de 700 m) não se têm mostrado tão competitivos nas regiões mais baixas. O mesmo pode ser dito para condições em que déficits hídricos ocorrem com maior freqüência. A elevação constante dos quantitativos obtidos nos rendimentos agrícolas tem gerado a necessidade do desenvolvimento de tecnologias para sistemas de produção de alto desempenho, com a utilização de insumos ainda não comuns nas lavouras de milho e a criação de formas de utilização daqueles tradicionais. Deve-se chamar a atenção para uma série de tecnologias de baixo custo, ou seja, plantio em época adequada, análise de solo, população de plantas, adubação de cobertura, controle eficiente de plantas daninhas e de insetos-praga, que certamente contribuiriam para adequar os ainda baixos rendimentos obtidos por um grande número de agricultores com níveis mais elevados. REFERÊNCIAS CONAB. Milho total (1a e 2a safra) – Brasil: série histórica de área plantada - safras 1976/77 a 2005/06. Brasília, 2006. Disponível em: <http:// www.conab.gov.br/download/ safra/MilhoTotal SerieHist.xls>. Acesso em: 2 maio 2006. IBGE. SIDRA. Tabela 1612 - quantidade produzida, valor de produção, área plantada e área colhida da lavoura temporária. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: <http://www. sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?c=1612 &z=t&o=10>. Acesso em: 2 maio 2006. LSPA. GCEA-MG. Pesquisa mensal de previsão e acompanhamento da safra agrícola de Minas Gerais no ano civil. Belo Horizonte: IBGE. Consultados os anos 1994 a 2005. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.7-12, jul./ago. 2006 14 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto Exigências climáticas do milho em Sistema Plantio Direto Wilson Jesus da Silva 1 Luiz Marcelo Aguiar Sans 2 Paulo César Magalhães 3 Frederico Ozanan Machado Durães 4 Resumo - A produtividade do milho depende do número de grãos potencialmente capazes de se desenvolver, e o enchimento desses grãos, dos fatores ambientais. A intensidade com que a cultura do milho expressa seu potencial genético é determinada por sua interação com o regime de radiação solar, com a temperatura, com o déficit de pressão de vapor, com a velocidade do vento e com as características físico-hídricas do solo. Aparentemente, não existe limite máximo de temperatura para a produção de milho, no entanto, a produtividade tende a diminuir com o aumento dela. As exigências térmicas do milho, da emergência à maturação fisiológica, associadas ao conhecimento da fenologia da cultura, podem definir a época de plantio, evitando as conseqüências dos veranicos, a utilização de insumos, fertilizantes, inseticidas, fungicidas e herbicidas e da colheita dos grãos ou silagem. No plantio direto na palha e com a rotação de culturas é necessário manejar a época de plantio e as densidades das plantas. O consumo total de água pelas plantas de milho varia muito com o nível de manejo e com a disponibilidade de água no solo. A quantidade de água necessária à planta do milho poderá ser estimada utilizando-se dados climáticos. Palavras-chave: Zea mays. Radiação solar. Temperatura. Disponibilidade hídrica. Evapotranspiração. Coeficiente de cultura. Ecofisiologia vegetal. INTRODUÇÃO O milho, mediante seleção de genótipos e com o aprimoramento de métodos de manejo, vem sendo cultivado em regiões compreendidas entre os paralelos 58o N (Canadá e Rússia) e 40o S (Argentina), distribuídas nas mais diversas altitudes, abaixo do nível do mar (região do mar Cáspio) até as regiões com 2.500 m de altitude (região dos Andes Peruano). Independente da tecnologia aplicada, o período e as con- dições climáticas em que a cultura é submetida constituem preponderantes fatores de produção (FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). O Brasil por sua enorme expansão territorial, o que lhe confere a característica de país continental, tem variabilidade ambiental muito grande, principalmente no que se refere às condições térmicas e hídricas. Existe desde região semi-árida como os sertões nordestinos, quente e seca o tempo todo, até região superumida, como a Amazônia, onde há excessos de umidade e temperaturas elevadas durante todo o ano. Além da variabilidade espacial climática do Brasil, defronta-se ainda com a variabilidade temporal, ou seja, grandes variações climáticas dentro do ano ou entre anos. Portanto, como o requerimento de energia e de água pelo milho está condicionado às condições ambientais, a produtividade vai variar entre as diferentes condições Engo Agro, D.Sc., Pesq. EMBRAPA/EPAMIG-CTTP, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: wilson@epamig uberaba.com.br 1 Engo Florestal, D.Sc., Pesq. EMBRAPA-CNPMS, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected] 2 Engo Agro, Ph.D., Pesq. EMBRAPA-CNPMS, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected] 3 Engo Agro, Pós-Doc, Pesq. EMBRAPA-CNPMS, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected] 4 Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006 15 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto edafoclimáticas. Deve-se, também, ressaltar a resposta diferencial da planta, devido as suas características ecofisiológicas e ao manejo que irá receber por influenciarem na eficiência do uso da energia e da água. O milho, por ser gramínea anual, pertencente ao grupo de plantas do tipo C4, possui ampla adaptação climática. Conforme o fotoperíodo, esse cereal é considerado planta neutra ou de dias curtos. No estado de Minas Gerais, a cultura do milho tem apresentado alta expansão, tornando-se importante fonte de divisa. Esta expansão deve-se ao crescimento da área cultivada e, principalmente, ao respaldo dado pela pesquisa no que se refere ao melhoramento genético, controle fitossanitário, manejo de solo e densidade de plantio. Dentre os diversos fatores que afetam a produção agrícola, os elementos meteorológicos destacam-se entre aqueles que podem apresentar variações mais bruscas de ano para ano. Essas variações são fontes geradoras de oscilações na produção agrícola, causando expectativa sobre a produção final de grãos nos setores produtivo, de transporte, comercialização e armazenamento. O emprego de métodos inadequados de mecanização intensiva, como aração e uso de grades pesadas, tem destruído o solo, expondo-o a intensas erosões hídricas, eólica e solar, entre outros. Técnicas eficientes de redução dessas erosões, como plantio direto na palha, evolução no relacionamento com o solo, motivam cada vez mais agricultores, mas ainda são relativamente pouco usadas. Quando há interesse em conhecer qual o comportamento da cultura em relação ao clima, procura-se determinar quais as funções biológicas responsáveis pelo seu crescimento e desenvolvimento, que estão diretamente ligadas com os diferentes elementos meteorológicos. Especificamente, com o objetivo de determinar a influência dos elementos meteorológicos na produção de grãos, torna-se necessário associar os estudos agroclimáticos com as observações fenológicas. O meio ambiente da cultura é complexo e difícil de ser conhecido, devido ao seu dinamismo e variações constantes. Porém, seu importante papel no crescimento, desenvolvimento e produção dos grãos de milho não permite que seja desprezado, quando se quer maximizar a produção. Como em todas as culturas, o rendimento dos grãos de milho está intimamente ligado a fatores do meio, principalmente os meteorológicos. Assim, neste estudo, serão discutidos a ecofisiologia da cultura do milho e a ação da radiação, da temperatura, o uso de água pela planta e, posteriormente, o efeito da limitação ou excesso desses elementos na produção. EFEITOS DA RADIAÇÃO SOLAR E EXIGÊNCIAS TÉRMICAS Radiação solar A avaliação da intensidade da radiação solar sobre os solos tropicais é importante para a agricultura, passando a exigir nova abordagem técnica. A radiação solar pode ser identificada por conceito específico, como erosão solar, capaz de colocá-la em evidência junto a outros fatores condicionantes da produção tropical, como aquela causada pela água ou pelo vento. Não há como realizar agricultura produtiva e sustentada nos trópicos sem levar em conta a erosão solar. Na Europa Central (latitude de 47o a 34o N), a intensidade da radiação solar é de 3.349 a 4.186 MJ m-2. Na Europa Oriental (latitude de 41o 20' a 53o 30' N) é de 3.349 a 5.204 MJ m-2. No Brasil (latitude de 5o N a 34o S) fica entre 5.024 e 6.699 MJ m-2, portanto, 50% mais forte que na Europa Central (BLEY JUNIOR, 1999) A intensidade com que a cultura do milho expressa seu potencial genético é determinada por sua interação com o regime de radiação solar, temperatura do ar, déficit de pressão de vapor, velocidade do vento e características físico-hídricas do solo. Cultivares precoces, principalmente as superprecoces exigem maior densidade de plantio em relação às cultivares normais ou tardias, para expressarem seu máximo ren- Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006 dimento. São plantas de menor altura e menor massa vegetativa. Estas características morfológicas determinam menor sombreamento dentro da cultura, o que permite pequeno espaçamento entre plantas para melhor aproveitamento de luz. Mesmo entre cultivares normais existem diferenças de densidade, conforme a arquitetura da planta. Sempre que a radiação fotossinteticamente ativa interceptada for reduzida e houver disponibilidade hídrica e de nutrientes, observa-se que a densidade deve ser aumentada para atingir o máximo rendimento de grãos. Verifica-se tendência de utilizar cada vez mais espaçamentos reduzidos para aumentar a eficiência na utilização de luz solar, água, nutrientes e obter melhor controle de plantas daninhas, em função do fechamento rápido dos espaços disponíveis e redução do impacto das chuvas e dos raios solares no solo, evitando erosões hídrica e solar. Já existem agricultores usando para o milho o mesmo espaçamento preconizado para a soja (ARGENTA et al., 2001). A escolha adequada do arranjo de plantas é uma das práticas de manejo mais importantes para otimizar o rendimento de grãos de milho, pois afeta diretamente a interceptação da radiação solar, fator determinante da produtividade (ARGENTA et al., 2001). Cabe destacar que a densidade ótima é aquela que apresenta área máxima de interceptação da radiação solar (índice de área foliar máximo), sem provocar autosobreamento. Setter e Flannigan (1986), em experimento onde se utilizou sombreamento artificial durante o crescimento dos grãos, não observaram alterações na taxa de crescimento, mas reduções no tempo de crescimento, resultando em grãos mais leves. A produtividade dos grãos de milho (Y), segundo Andrade (1992), pode ser expressa pela seguinte equação: Y = Ro . Ei . Ec . p, em que “Ro” é a radiação solar incidente; “Ei” é a eficiência da interceptação da radiação solar incidente; “Ec” é a eficiência de conversão da radiação solar interceptada 16 pela biomassa vegetal e “p” é a partição de fotoassimilados de interesse comercial. Acontece que a radiação solar incidente é função da localização geográfica da área de produção (latitude, longitude e altitude), bem como da época de semeadura ao logo do ano. A eficiência da interceptação depende da idade da planta, da arquitetura, do arranjo espacial das plantas e da população empregada, ao passo que a eficiência de conversão, dentre outros fatores, depende principalmente da temperatura. A participação dos fotoassimilados é função do genótipo e das relações de fonte-dreno (FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). No plantio direto na palha e com rotação de culturas, é necessário manejar a época de plantio e as densidades das plantas. Em plantios mais cedo, é possível aumentar a densidade de plantas, devido à maior disponibilidade de radiação solar, em virtude da maior área foliar. Temperatura As variações de temperatura no solo, elemento estreitamente ligado à radiação solar, podem ser atenuadas por práticas culturais agrícolas adequadas. Em estudos realizados em Ponta Grossa (PR), em plantio convencional, a temperatura do solo a 3 cm passou de 23oC, às 8 horas, para 43oC, às 14 horas. No plantio direto na palha, nos mesmos horários, a variação foi de 19oC a 36oC. Os microorganismos do solo não resistem mais que algumas horas a temperaturas acima de 40oC. A morte ou paralisação de suas atividades interrompe o ciclo de transformação dos minerais em nutrientes para as plantas (BLEY JUNIOR, 1999). Temperatura elevada, na faixa de 30oC a 35oC aumenta a velocidade de decomposição da matéria orgânica liberando CO2 na atmosfera. Se os agricultores continuarem no sistema convencional de plantio, a matéria orgânica dos solos tropicais tende a se exaurir, pois não está havendo reposição como nos ambientes intactos. Para manter a atividade biológica nos solos e, com isso, sustentar a produção agrícola em solos Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto tropicais e subtropicais, é essencial repor os estoques de carbono (BLEY JUNIOR, 1999). Leopold (1964) considera a intensidade luminosa como a principal variável que afeta o crescimento e o desenvolvimento das plantas. Para ele, a temperatura tem efeitos muito complexos sobre os vegetais, interagindo com a luz e a água. A temperatura é o aspecto mais expressivo da intensidade da energia calorífica. De acordo com Shaw (1977), as maiores produções de milho ocorrem onde as temperaturas nos meses mais quentes oscilam de 21oC a 27oC. Aparentemente, não existe um limite máximo de temperatura para a produção de milho, no entanto, a produtividade tende a diminuir com o aumento da temperatura. O milho é cultura de clima quente e requer calor e umidade elevados, desde o plantio até o final da floração. Inúmeras evidências experimentais apontam a temperatura como sendo elemento de produção mais importante e decisivo para o desenvolvimento do milho. Em regiões cujo verão apresenta temperatura média diária inferior a 19oC e noites com temperaturas médias abaixo de 12,8oC, não são recomendadas para o cultivo de qualquer cultivar de milho (FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). Temperaturas do solo inferiores a 10oC e superiores a 42oC prejudicam sensivelmente a germinação, ao passo que aquelas entre 25oC e 30oC proporcionam as melhores condições para o desencadeamento dos processos de germinação das sementes e emergência das plântulas. A temperatura durante o período que vai desde a emergência até o aparecimento das flores é muito importante para determinar a época da floração. Noites frias desaceleram o crescimento anterior à floração (BERGER, 1962). Por ocasião dos períodos de florescimento e de maturação, temperaturas médias diárias superiores a 26oC podem promover a aceleração dessas fases, da mesma forma que temperaturas inferiores a 15,5oC podem prontamente retardá-las (BERGER, 1962). O requerimento de temperaturas adequadas torna o período compreendido entre 15 dias antes e 15 dias após o aparecimento da inflorescência masculina extremamente crítico. Daí, a razão pela qual esta fase deva ser criteriosamente planejada, com o intuito de coincidir com o período estacional que apresente temperaturas favoráveis de 25oC a 30oC (FRATTINI, 1975). No período de enchimento dos grãos, a temperatura é o elemento do ambiente que mais afeta o seu rendimento, devido ao efeito dela na taxa de acúmulo de massa seca nos grãos. Quando a acumulação de massa seca nos grãos ocorre com temperaturas em declínio, ou seja, em plantios muito tardios, a taxa de crescimento efetiva é menor. A diminuição progressiva da temperatura após o pendoamento aumenta o período efetivo de crescimento dos grãos, reduzindo sua taxa de crescimento e o seu peso final (MAGALHÃES; JONES, 1990a). O tempo quente não interfere na aceleração do amadurecimento. Com base em dados experimentais, Fancelli e Dourado Neto (2000) relatam que a cada grau de temperatura média diária superior a 21,1oC, nos primeiros 60 dias após a semeadura, pode apressar o florescimento em dois a três dias. A produtividade do milho pode ser reduzida, bem como a composição protéica do grão pode ser alterada, em decorrência das temperaturas acima de 35oC. Tal efeito está relacionado com a diminuição da atividade de redutase do nitrato e, conseqüentemente, interfere no processo de transformação do nitrogênio (FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). Em terrenos áridos, as temperaturas extremamente altas são prejudiciais ao milho. Nessa condição, as plantas são mais sensíveis às altas temperaturas na época da floração. A combinação de altas temperaturas e baixas umidades pode causar morte das folhas e flores, impedindo a polinização. Temperaturas abaixo de 12,8oC reduzem apreciavelmente o rendimento do milho. Temperaturas noturnas maiores que 24oC promovem consumo energético elevado, em função do incremento da respi- Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006 17 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto ração celular, ocasionando menor saldo de fotoassimilados, com conseqüente queda na produtividade. Da mesma maneira, temperaturas acima de 32oC reduzem sensivelmente a germinação do grão de pólen, por ocasião de sua emissão (FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). Segundo Wislie (1962), a temperatura mínima para o crescimento satisfatório do milho é de 10oC, sendo que a ótima varia de 28oC a 35oC e a máxima de, aproximadamente, 45oC. Este autor, ainda, considera que as maiores taxas de crescimento foram alcançadas entre 29oC e 32oC. O conceito de temperatura ótima deve ser revisto com cautela, pois esta temperatura varia com o estádio de desenvolvimento da planta. Por exemplo, a temperatura ótima para a germinação não é a mesma para a floração ou frutificação. Verifica-se que a maioria dos genótipos atuais não se desenvolve em temperaturas inferiores a 10oC, todavia, segundo Berlato e Sutili (1976), a temperatura basal de genótipos tardios é maior do que a dos genótipos precoces. A temperatura quantifica, em valores numéricos, o nível de energia interna, o que possibilita trocas com o sistema e o meio, provocando estímulos, ativando ou desativando funções vitais (OMETO, 1981). Segundo Villa Nova et al. (1972), a quantidade de energia exigida por uma cultura tem sido expressa em graus-dia, ou unidades térmicas de desenvolvimento, ou exigência térmica, ou calórica, ou unidade de calor. A base teórica para essa técnica é que, dos processos envolvidos no desenvolvimento da cultura, todos são sensíveis à temperatura do ar. Cabe enfatizar que a resposta das plantas a essa temperatura obedece a limites inferior e superior e é extensiva ao desenvolvimento total da cultura. Está comprovado que o método satisfatório, para determinar as etapas de desenvolvimento do milho, leva em consideração as exigências calóricas ou térmicas. Admitese que a temperatura base possa variar em função da idade ou da fase fenológica da planta, mas é comum adotar uma úni- ca temperatura base para todo o ciclo da planta por ser mais fácil a sua aplicação (FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). A cultura do milho apresenta as seguintes exigências térmicas em graus-dia, da emergência à maturação fisiológica (BRUNINI et al., 1983; BERLATO et al., 1984; GARCIA, 1993; FANCELLI; DOURADO NETO, 2000): a) híbridos tardios: graus-dia superior a 890; b) híbridos precoce: graus-dia superior a 831 e inferior a 890; c) híbridos superprecoces: graus-dia inferior a 830. As exigências térmicas do milho, da emergência à maturação fisiológica, associadas ao conhecimento da fenologia da cultura, podem definir a época de plantio, evitando as conseqüências dos veranicos, a utilização de insumos, fertilizantes, inseticidas, fungicidas e herbicidas, e a época de colheita dos grãos ou de silagem. EXIGÊNCIAS DE ÁGUA O consumo de água pelo milho é um diferencial nas fases de crescimento e desenvolvimento da planta, sendo função do padrão da demanda sazonal da atmosfera, ou seja, dos fatores físicos que governam a evaporação. Pode-se utilizar o coeficiente cultural (Kc) para verificar esse diferencial uso de água, uma vez que esse coeficiente integra os efeitos das características da cultura no campo. No Gráfico 1, observase que há um padrão geral de consumo de água pelas plantas. Embora os valores máximos de Kc estejam entre 1,2 e 1,4, a literatura mostra valores inferiores a 0,9 (MATZENAUER et al., 1998) e acima de 2 (KEIROZ, 2000). Além da variabilidade genética, as diferentes curvas de Kc podem ser atribuídas aos métodos de estimativa da evapotranspiração de referência (MATZENAUER et al., 1998; PEREIRA et al., 2005) e ao intervalo de tempo em que foi estabelecido o coeficiente. Há divergência de valores dos Kc de região para região, o que torna difícil a recomendação de valores desse coeficiente, para estimar o consumo de água pela cultura do milho. Como sugestão, utilizar os coeficientes estabelecidos pela Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), uma vez que os valores obtidos nas diversas regiões estão relativamente próximos dos encontrados pela FAO. Gráfico 1 - Valores do coeficiente cultural (Kc) para o milho safrinha (SAF) obtido em Minas Gerais - Sete Lagoas (SL), Janaúba (JAN); Mato Grosso do Sul (MS), em Goiás (GO), no Paraná (PR) e em São Paulo (SP), e de critérios da FAO Production Yearbook (1985) Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006 18 O consumo total de água pelo milho varia muito com o nível de manejo e com a disponibilidade de água no solo. Nos trabalhos desenvolvidos por Robins e Domingo (1953), Deanmead e Shaw (1960) e Claassen e Shaw (1970); verificou-se que aproximadamente 50 dias após o plantio há redução de 3% na produção, por dia de estresse. No estádio de florescimento, esse decréscimo pode atingir 13%, com média em torno de 6%-7%. Se o grau de fertilidade for elevado, a redução da produtividade pode cair para 3%-4% por dia. Durante o período de enchimento do grão, a redução média é em torno de 4% ao dia. Nas diversas regiões brasileiras, o milho consome, em média, de 450 a 600 mm de água durante todo o seu ciclo (FEPAGRO, 1996; MATZENAUER et al., 1998; FANCELLI; DOURADO NETO, 2000), exigindo um mínimo de 350 mm, para que a produção não seja significativamente afetada. Em condição de clima quente e seco, o consumo não excede a 3 mm dia-1, quando a planta estiver com menos de 30 cm de altura e, entre o período de florescimento até maturação, pode atingir valores de 5 a 7 mm. Daker (1970 apud FANCELLI; DOURADO NETO, 2000), afirmam que o consumo de água pode ser de até 10 mm dia-1 em climas de intenso calor e baixíssima umidade. O estresse hídrico de dois dias no período de florescimento diminui o rendimento em 20% e de 4 a 8 dias em 50% (RESENDE et al., 2003). No Rio Grande do Sul, Matzenauer et al. (1998) verificaram que, em setembro, outubro e novembro, o milho consumiu 570, 572 e 541 mm de água, respectivamente. Freitas et al. (2004) constataram uma produção de 6 mil kg de milho, com uso de 370 e 436 mm de água em duas épocas na Zona da Mata de Minas Gerais. No Semi-Árido do Nordeste brasileiro, Antonino et al. (2000) obtiveram valores de evapotranspiração da ordem de 507 mm com uma média diária de 4,2 mm dia-1, porém nesse local este valor chega a 7,42 mm dia-1. Foram utilizados 2 m3 de água para cada quilo de massa produzida do milho. Valores similares Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto de uso de água podem resultar em diferentes produtividades, devido à água não ser o único elemento definidor. Pelos resultados de pesquisa, pode-se concluir que o milho expressa elevada potencialidade de produção, quando atinge sua máxima área foliar, com a maior disponibilidade de radiação solar e não tendo déficit hídrico no solo. Daí a importância de se conhecer e quantificar os processos que envolvem a relação planta-clima, principalmente as relações hídricas. Cowan (1965) resumiu no Gráfico 2 a influência da umidade no solo no consumo de água pela planta e ratifica que o consumo de água depende da demanda atmosférica. No Gráfico 2, as quebras de linhas representam a existência de algum grau de estresse e as diferentes linhas representam os diferentes consumos de água com diferentes demandas de água pela atmosfera. Pode-se estimar o uso de água pelo milho a partir de dados climáticos, e levandose em conta duas condições: quando não há déficit hídrico no solo e quando o solo não tem água suficiente para suprir a de- manda da planta. À medida que o solo vai secando, tanto a evaporação da superfície do solo quanto a transpiração da planta decrescem. Essa fase é a que Tanner (1977) denominou “fase de taxa de decréscimo”. Vale a pena ressaltar que a zona radicular não seca uniformemente nem mesmo quando a planta atinge o ponto de murchamento (BORG, 1980). Essa falta de uniformidade da extração de água pela zona radicular torna difícil predizer o quanto de água será extraído para uma cultivar num determinado tipo de solo, sob condição climática específica. Tentaram-se várias relações diretas entre transpiração e depleção de água no solo. Os melhores resultados alcançados encontram-se no Gráfico 3. O que se tem feito é relacionar ET/ETmax com a água disponível numa dada profundidade do solo. Água disponível, como preconizado, não viabiliza a avaliação do efeito da distribuição de raízes na absorção de água, portanto, passou a utilizar água extraível que nada mais é que o teor de água disponível na zona radicular. O Gráfico 3 representa a média dos resultados medidos e Gráfico 2 - Transpiração direta da cultura e potencial de água no solo com três níveis de evapotranspiração potencial FONTE: Cowan (1965). Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006 19 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto encontrados na literatura. Nesse Gráfico 3 podem-se ver duas fases distintas de consumo de água: a) fase de taxa constante: quando o consumo de água pela planta atinge seu máximo, ou seja, é governado pelas condições atmosféricas. Podese calcular a evapotranspiração (ET) a partir da estimativa da evapotranspiração máxima (ETmax): = ET t – em que: é a depleção de água no solo; P e I são precipitação e irrigação, respectivamente; b) fase de taxa de decréscimo (c < < t) Quando as depleções são maiores que o ponto crítico (c), ET/ETmax decresce linearmente, com o aumento de depleção de água. ET/ETmax pode ser expressa na equação: ET/ETmax = 1 – S (c – ) em que: t é a umidade no solo na capacidade de campo. (P + I) t = ETmax t – (P + I) t em que: S é a declividade da curva que na realidade é: S = 1 / ( – c) e é determinada experimentalmente para uma dada cultura e solo. Assim, a ET diária pode ser encontrada por meio da equação: ETmax ET = t exp [ – ETmax / (t – c)] tc Determinação da evapotranspiração de referência (ETo) Água extraível (%) Gráfico 3 - Consumo de água pela cultura do milho em: Latossolo Vermelho Distrófico (LVd), neossolo flúvico (RU), neossolo quartzarênico (RQ), Latossolo Vermelho eutrófico (LVef), chernossolo erbânico (ME) Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006 É vasta a literatura relativa aos métodos de estimar a evapotranspiração de referência (TANNER, 1967; PEREIRA et al., 1997; ALLEN et al., 1998). A American Society of Civil Engineers (Asce) fez um estudo sobre os diversos métodos e concluiu que o da FAO-Penman Monteith deve ser recomendado como standard, por ser aplicável em grande quantidade de locais e climas e em situações 20 que carecem de informações a curto período. Quando o solo apresenta teor de água extraível acima de 30%-40%, a evapotranspiração é dependente unicamente da demanda atmosférica. Quando o teor de água nos solos é inferior a 30%-40% da água extraível, pode-se também determinar o consumo de água pela cultura por meio de equações, em que a variável é a evapotranspiração de referência. ESTÁDIOS DE DESENVOLVIMENTO Estádio VE - germinação e emergência Em condições normais de campo, as sementes de milho plantadas absorvem água, incham e começam a crescer. A radícula é a primeira a se alongar, seguida pelo coleóptilo com plúmula incluída. O estádio VE é atingido pela rápida elongação do mesocótilo, o qual empurra o coleóptilo em crescimento para a superfície do solo. Em condições de temperatura e umidade adequadas, a planta emerge dentro de quatro a cinco dias, porém, em condições de baixa temperatura e pouca umidade, a germinação pode demorar até duas semanas ou mais. Assim que a emergência ocorre e a planta expõe a extremidade do coleóptilo, o mesocótilo pára de crescer. O sistema radicular seminal, que são as raízes oriundas diretamente da semente, tem o seu crescimento nesta fase e a profundidade onde elas se encontram depende da profundidade do plantio. O crescimento dessas raízes, também conhecido como sistema radicular temporário, diminui após o estádio VE e é praticamente não existente no estádio V3. O ponto de crescimento da planta de milho, nesse estádio, está localizado cerca de 2,5 a 4,0 cm abaixo da superfície do solo e encontra-se logo acima do mesocótilo. Essa profundidade, onde se acha o ponto de crescimento, é também a profundidade onde vai originar o sistema radicular definitivo do milho, conhecido como raízes nodais ou fasciculadas. A profundidade do Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto sistema radicular definitivo independe da profundidade de plantio, uma vez que a emergência da planta vai depender do potencial máximo de alongamento de mesocótilo (RITCHIE; HANWAY, 1989). O sistema radicular nodal inicia-se, portanto, no estádio VE, e o alongamento das primeiras raízes inicia-se no estádio V1, indo até o R3, após o qual muito pouco crescimento ocorre (MAGALHÃES et al., 1994). No milho não é constatada a presença de fatores inibitórios ao processo de germinação, visto que, sob condições ótimas de umidade, os grãos podem germinar imediatamente após a maturidade fisiológica, mesmo ainda estando presos à espiga. Em síntese, na germinação ocorre a embebição da semente, com a conseqüente digestão das substâncias de reserva, síntese de enzimas e divisão celular. Estádio V3 - três folhas desenvolvidas O estádio de três folhas completamente desenvolvidas ocorre com, aproximadamente, duas semanas após o plantio. Nesse estádio, o ponto de crescimento ainda se encontra abaixo da superfície do solo e a planta possui pouco caule formado. Pêlos radiculares do sistema radicular nodal estão agora em crescimento e o desenvolvimento das raízes seminais é paralisado (MAGALHÃES et al., 1994). Todas as folhas e espigas que a planta eventualmente irá produzir estão sendo formadas no V3. Pode-se dizer, portanto, que o estabelecimento do número máximo de grãos ou a produção potencial estão sendo definidos nesse estádio. No estádio V5 (cinco folhas completamente desenvolvidas), tanto a iniciação das folhas como das espigas vai estar completa e a iniciação do pendão já pode ser vista microscopicamente na extremidade de formação do caule, logo abaixo da superfície do solo (MAGALHÃES et al., 1994, 1995). O ponto de crescimento, que se encontra abaixo da superfície do solo, é bastante afetado pela temperatura do solo nesses estádios iniciais do crescimento vegetativo. Assim, temperaturas baixas podem aumentar o tempo decorrente entre um estádio e outro, alongando, assim, o ciclo da cultura, podendo aumentar o número total de folhas, atrasar a formação do pendão e diminuir a disponibilidade de nutrientes para a planta. Uma chuva de granizo ou vento nesse estádio vai ter muito pouco ou nenhum efeito na produção final de grãos, uma vez que o ponto de crescimento estará protegido no solo. Disponibilidade de água nesse estádio é fundamental, por outro lado o excesso de umidade ou encharcamento, quando o ponto de crescimento ainda se encontra abaixo da superfície do solo, pode matar a planta em poucos dias (ALDRICH et al., 1982; MAGALHÃES et al., 2003). O controle de plantas daninhas nessa fase é fundamental para reduzir a competição por luz, água e nutrientes. Como o sistema radicular está em pleno desenvolvimento, mostrando considerável porcentagem de pêlos absorventes e ramificações diferenciadas, operações inadequadas de cultivo (profundas ou próximas à planta) poderão afetar a densidade e distribuição de raízes com conseqüente redução na produtividade. Portanto, recomenda-se cautela no cultivo. Estádio V6 - seis folhas desenvolvidas Neste estádio, o ponto de crescimento e o pendão estão acima do nível do solo, o colmo está iniciando o período de alongamento acelerado. O sistema radicular nodal (fasciculado) está em pleno funcionamento e em crescimento. Pode ocorrer o aparecimento de eventuais perfilhos, os quais se encontram diretamente ligados à base genética da cultivar, ao estado nutricional da planta, ao espaçamento adotado, ao ataque de pragas e às alterações bruscas de temperatura (baixa ou alta). No entanto, existem poucas evidências experimentais que demonstram a sua influência negativa na produção (MAGALHÃES et al., 1995, 2002). Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006 21 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto No estádio V8, inicia-se a queda das primeiras folhas e o número de fileiras de grãos é definido. Durante este estádio constata-se a máxima tolerância ao excesso de chuvas. No entanto, encharcamento por períodos maiores que cinco dias poderão acarretar prejuízos consideráveis e irreversíveis. Estresse hídrico nessa fase pode afetar o comprimento de internódios, provavelmente pela inibição da elongação das células em desenvolvimento, concorrendo desse modo para a diminuição da capacidade de armazenagem de açúcares no colmo. O déficit de água também vai resultar em colmos mais finos, plantas de menor porte e menor área foliar (MAGALHÃES et al., 1998). Evidências experimentais demonstram que a distribuição total das folhas expostas nesse período, mediante ocorrência de granizo, geada, ataque severo de pragas e doenças, além de outros agentes, acarretará quedas na produção da ordem de 10% a 25% (FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). Períodos secos aliados à conformação da planta, característica dessa fase (conhecida como fase do cartucho), conferem à cultura do milho elevada suscetibilidade ao ataque da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), o que exige constante vigilância. Do V6 até o estádio V8 deverá ser aplicada a adubação nitogenada em cobertura (RITCHIE; HANWAY, 1989; ALDRICH et al., 1982). Estádio V9 Neste estádio, muitas espigas são facilmente visíveis, se for feita a dissecação da planta. Todo nó da planta tem potencial para produzir uma espiga, exceto os últimos seis a oito nós abaixo do pendão. Assim, a planta de milho teria potencial para produzir várias espigas, porém, apenas uma ou duas (caráter prolífico) espigas conseguem completar o crescimento. Ocorre alta taxa de desenvolvimento de órgãos florais, o pendão inicia rápido desenvolvimento e o caule continua alongando- se. O alongamento do caule ocorre através dos entrenós. Após o estádio V10, o tempo de aparição entre um estádio foliar e outro vai encurtar, geralmente isso ocorre a cada dois ou três dias (MAGALHÃES et al., 1994, 1999). Próximo ao estádio V10, a planta de milho inicia rápido e contínuo crescimento com acumulação de nutrientes e massa seca, que continuarão até os estádios reprodutivos. Há grande demanda no suprimento de água e nutrientes para satisfazer as necessidades da planta (MAGALHÃES; JONES, 1990b). Estádio V12 O número de óvulos (grãos em potencial) em cada espiga, assim como o tamanho da espiga, é definido em V12, quando ocorre perda de duas a quatro folhas basais. Pode-se considerar que nesta fase iniciase o período mais crítico para a produção, o qual estende-se até a polinização. O número de fileiras de grãos na espiga já foi estabelecido, no entanto, a determinação do número de grãos/fileira só será definida cerca de uma semana antes do florescimento, em torno do estádio V17 (MAGALHÃES et al., 1994). Em V12, a planta atinge cerca de 85% a 90% da área foliar, e observa-se o início de desenvolvimento das raízes adventícias (esporões). Estádio V15 Este estádio representa a continuação do período mais importante e crucial para o desenvolvimento da planta, em termos de fixação do rendimento. Desse ponto em diante, o novo estádio foliar ocorre a cada um ou dois dias. Os estilos-estigmas iniciam os seus crescimentos nas espigas (MAGALHÃES et al., 2002). Por volta do estádio V17, as espigas atingem crescimento tal que suas extremidades já são visíveis no caule, assim como a extremidade do pendão já pode também ser observada (MAGALHÃES et al., 1994). Estresse de água, que ocorre no período de duas semanas antes, até duas semanas após o florescimento, vai causar grande Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006 redução na produção de grãos. Porém, a maior redução na produção poderá ocorrer com déficit hídrico na emissão dos estilosestigmas (início de R1). Isso é verdadeiro também para outros tipos de estresse como deficiência de nutrientes, alta temperatura ou granizo. O período de quatro semanas em torno do florescimento é o mais importante para irrigação (MAGALHÃES et al., 2003). Estádio V18 É possível observar que os “cabelos” ou estilos-estigmas dos óvulos basais alongamse primeiro em relação aos “cabelos” dos óvulos da extremidade da espiga. Raízes aéreas, oriundas dos nós acima do solo, estão em crescimento neste estádio. Essas raízes contribuem na absorção de água e nutrientes. Em V18, a planta do milho encontra-se a uma semana do florescimento e o desenvolvimento da espiga continua em ritmo acelerado. Estresse hídrico nesse período pode afetar mais o desenvolvimento do óvulo e espiga que o do pendão. Com esse atraso no desenvolvimento da espiga pode haver problemas na sincronia entre emissão de pólen e recepção pela espiga. Caso o estresse seja severo, ele pode atrasar a emissão do “cabelo” até a liberação do pólen terminar, ou seja, os óvulos que porventura emitir o “cabelo” após a emissão do pólen não serão fertilizados e, por conseguinte, não contribuirão para o rendimento (MAGALHÃES et al., 1994, 1995, 1999, 2002). Pendoamento, VT Este estádio inicia-se quando o último ramo do pendão está completamente visível e os “cabelos” não tenham ainda emergido. A emissão da inflorescência masculina antecede de dois a quatro dias a exposição dos estilos-estigmas, no entanto, 75% das espigas devem apresentar seus estilosestigmas expostos, após o período de 1012 dias posterior ao aparecimento do pendão. O tempo decorrente entre VT e R1 pode 22 variar consideravelmente dependendo do híbrido e das condições ambientais. A perda de sincronismo entre a emissão dos grãos de pólen e a receptividade dos estilosestigmas da espiga concorre para o aumento da porcentagem de espigas sem grãos nas extremidades. Em condições de campo, a liberação do pólen geralmente ocorre nos finais das manhãs e início das noites. Neste estádio, a planta atinge o máximo desenvolvimento e crescimento. Estresse hídrico e temperaturas elevadas (acima de 35oC) podem reduzir drasticamente a produção. Um pendão de tamanho médio chega a ter 2,5 milhões de grãos de pólen, o que equivale dizer que a espiga em condições normais dificilmente deixará de ser polinizada pela falta de pólen, uma vez que o número de óvulos está em torno de 750 a 1.000 (MAGALHÃES et al., 1994, 1999; FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). A planta apresenta alta sensibilidade ao encharcamento nessa fase, o excesso de água pode contribuir inclusive com a inviabilidade dos grãos de pólen. Nos estádios de VT a R1, a planta de milho é mais vulnerável às intempéries da natureza que qualquer outro período, devido ao pendão e a todas as folhas estarem completamente expostas. Remoção de folha neste estádio por certo resultará em perdas na colheita (FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). O período de liberação do pólen estendese por uma a duas semanas. Durante esse tempo, cada “cabelo” individual deve emergir e ser polinizado para resultar em um grão. Estádio R1 - embonecamento e polinização Este estádio inicia-se quando os estilosestigmas estão visíveis, ou seja, para fora das espigas. A polinização ocorre quando o grão de pólen liberado é capturado por um dos estilos-estigmas. O grão de pólen, em contato com o “cabelo”, demora cerca de 24 horas para percorrer o tubo polínico e fertilizar o óvulo, geralmente o período requerido para todos os estilos-estigmas em uma espiga Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto serem polinizados é de dois a três dias. Os “cabelos” da espiga crescem cerca de 2,5 a 4,0 cm por dia e continuam a se alongar até serem fertilizados (MAGALHÃES et al., 1994). O número de óvulos que será fertilizado é determinado nesse estádio. Óvulos não fertilizados evidentemente não produzirão grãos. Estresse ambiental nesta fase, especialmente o hídrico, causa baixa polinização e baixa granação da espiga, uma vez que sob seca tanto os “cabelos” como os grãos de pólen tendem à dissecação. Insetos como a lagarta-da-espiga, que se alimenta dos “cabelos” devem ser combatidos caso haja necessidade. A absorção de potássio (K) nessa fase está completa, enquanto nitrogênio (N) e fósforo (P) continuam sendo absorvidos. A liberação do grão de pólen pode iniciar ao amanhecer, estendendo-se até o meio-dia, no entanto, esse processo raramente exige mais de quatro horas para sua complementação. Ainda sob condições favoráveis, o grão de pólen pode permanecer viável por até 24 horas. Sua longevidade, entretanto, pode ser reduzida quando submetido à baixa umidade e a altas temperaturas (MAGALHÃES et al., 1994). O estabelecimento do contato direto entre o grão de pólen e os pêlos viscosos do estigma estimula a germinação do primeiro, dando origem a uma estrutura denominada tubo polínico, que é responsável pela fecundação do óvulo inserido na espiga. A fertilização ocorre de 12 a 36 horas após a polinização, período esse variável em função de alguns fatores envolvidos no processo, tais como teor de água, temperatura, ponto de contato e comprimento do estilo-estigma (MAGALHÃES et al., 1994; FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). Estádio R2 - grão bolha d’água Os grãos neste estádio apresentam-se brancos na aparência externa e com aspectos de uma bolha d’água. O endosperma, portanto, está com coloração clara, assim como o seu conteúdo, que é basicamente um fluido, cuja composição são açúcares. Embora o embrião esteja ainda desenvolvendo vagarosamente nesse estádio, a radícula, o coleóptilo e a primeira folha embrionária já estão formados. Assim, dentro do embrião em desenvolvimento já se encontra uma planta de milho em miniatura. A espiga está próxima de atingir seu tamanho máximo. Os estilos-estigmas tendo completado sua função no florescimento estão agora escurecidos e começando a secar (MAGALHÃES et al., 1994, 2002). A acumulação de amido está-se iniciando, passando pela fase anterior à sua formação que é a de açúcares, fluido claro presente nos grãos. Esses grãos estão iniciando o período de rápida acumulação de massa seca; esse rápido desenvolvimento continuará até próximo ao estádio R6. N e P continuam sendo absorvidos e a realocação desses nutrientes das partes vegetativas para a espiga tem início nesse estádio. A umidade de 85% nos grãos nessa fase, começa a diminuir gradualmente até a colheita (MAGALHÃES; JONES, 1990ab; MAGALHÃES et al., 1994). Estádio R3 - grão leitoso Esta fase é iniciada normalmente 12 a 15 dias após a polinização. O grão apresentase com aparência amarela e no seu interior contém um fluido de cor leitosa, o qual representa o início da transformação dos açúcares em amido, contribuindo assim para o incremento de massa seca. Tal incremento ocorre, devido à translocação dos fotoassimilados presentes nas folhas e no colmo para a espiga e grãos em formação. A eficiência dessa translocação, além de ser importante para a produção, é extremamente dependente de água (MAGALHÃES; JONES, 1990a; MAGALHÃES et al., 1998). Embora nesse estádio o crescimento do embrião ainda seja considerado lento, ele já pode ser visto, caso haja dissecação. Esse estádio é conhecido como aquele em que ocorre a definição da densidade dos grãos (MAGALHÃES et al., 1994; FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006 23 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto Os grãos nesta fase apresentam rápida acumulação de massa seca, com cerca de 80% de umidade, e as divisões celulares dentro do endosperma apresentam-se essencialmente completas. O crescimento, a partir desse momento, é devido à expansão e enchimento das células do endosperma com amido. O rendimento final depende do número de grãos em desenvolvimento e do tamanho final que eles alcançarão. Um estresse hídrico nesta fase, embora menos crítico que na fase anterior, pode afetar a produção. Com o processo de maturação dos grãos, o potencial de redução na produção final de grãos, devido ao estresse hídrico, vai diminuindo. Embora, nesse período, a planta deva apresentar considerável teor de sólidos solúveis prontamente disponíveis, objetivando a evolução do processo de formação de grãos, a fotossíntese mostra-se imprescindível. Em termos gerais, considera-se como importante caráter condicionador de produção a extensão da área foliar que permanece fisiologicamente ativa após a emergência da espiga. Períodos nublados ou de reduzida intensidade luminosa acarretarão, nessa fase, a redução da fotossíntese e aumento do nível de estresse da planta, implicando na redução da taxa de acúmulo de massa seca do grão e, conseqüentemente, redução na produção final de grãos, além de favorecer a incidência de doenças do colmo (MAGALHÃES et al., 1998, 2002). Ainda nesse estádio, evidencia-se a translocação efetiva de N e P para os grãos em formação (MAGALHÃES; JONES, 1990b; FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). Estádio R4 - grão pastoso Este estádio é alcançado com cerca de 20 a 25 dias após a emissão dos estilosestigmas, os grãos continuam se desenvolvendo rapidamente, acumulando amido. O fluido interno dos grãos passa do estado leitoso para uma consistência pastosa, e as estruturas embriônicas de dentro dos grãos encontram-se totalmente diferenciadas. A deposição de amido é bastante acentuada, caracterizando um período exclusivamente destinado ao ganho de peso por parte do grão. Em condições de campo, tal etapa do desenvolvimento é prontamente reconhecida, pois, quando os grãos presentes são submetidos à pressão imposta pelos dedos, mostram-se relativamente consistentes, embora ainda possam apresentar pequena quantidade de sólidos solúveis, cuja presença em abundância caracteriza o estádio R3 (grão leitoso) (MAGALHÃES et al., 1994). Os grãos encontram-se com cerca de 70% de umidade em R4 e com a metade do peso que eles atingirão na maturidade. A ocorrência de adversidades climáticas, sobretudo falta de água, resultará numa maior porcentagem de grãos leves e pequenos, o que comprometeria definitivamente a produção. Estádio R5 - formação de dente Este período é caracterizado pelo aparecimento de uma concavidade na parte superior do grão, comumente designada “dente”, coincide normalmente com o 36o dia após o princípio da polinização. Nessa etapa, os grãos encontram-se em fase de transição do estado pastoso para o farináceo. A divisão desses estádios é feita pela chamada linha divisória do amido ou linha do leite. Essa linha aparece logo após a formação do dente e, com a maturação, vem avançando em direção à base do grão. Devido à acumulação do amido, acima da linha é duro e abaixo, macio. Nesse estádio, o embrião continua se desenvolvendo, e, além do acentuado acréscimo de volume experimentado pelo endosperma, mediante aumento das células, observa-se também a completa diferenciação da radícula e das folhas embrionárias no interior dos grãos (MAGALHÃES et al., 1994; FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). Alguns genótipos do tipo “duro” não formam dente, o que torna esse estádio, nos referidos materiais, mais difícil de ser notado, podendo estar apenas relacionado com o aumento gradativo da dureza dos grãos. Estresse ambiental nessa fase pode Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006 antecipar o aparecimento da formação da camada preta, indicadora da maturidade fisiológica. A redução na produção estaria relacionada com o peso dos grãos e não com o número de grãos. Os grãos neste estádio apresentam-se com cerca de 55% de umidade (MAGALHÃES et al., 1994). Materiais destinados à silagem devem ser colhidos nesse estádio. O milho colhido nessa fase apresenta as seguintes vantagens: significativo aumento na produção de massa seca por área; decréscimo nas perdas de armazenamento pela diminuição do efluente e aumento significativo no consumo voluntário da silagem produzida (FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). Estádio R6 - maturidade fisiológica Este é o estádio em que todos os grãos na espiga alcançam o máximo de acumulação de massa seca e vigor, ocorre cerca de 50 a 60 dias após a polinização. A linha do amido já avançou até a espiga e a camada preta já está formada. Essa camada preta ocorre progressivamente da ponta da espiga para a base. Nesse estádio, além da paralisação total do acúmulo de massa seca nos grãos, acontece também o início do processo de senescência natural das folhas das plantas, as quais gradativamente começam a perder a sua coloração verde característica (MAGALHÃES et al., 1994; FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). O ponto de maturidade fisiológica caracteriza o momento ideal para a colheita ou ponto de máxima produção, com 30%38% de umidade, podendo variar entre híbridos. No entanto, o grão não está ainda em condições de ser colhido e armazenado com segurança, uma vez que deveria estar com 13% a 15% de umidade, para evitar problemas com a armazenagem. Com cerca de 18% a 25% de umidade, a colheita já pode acontecer, desde que o produto colhido seja submetido a uma secagem artificial antes de ser armazenado. A qualidade dos grãos produzidos pode ser avaliada pela porcentagem de grãos ardidos, que interfere notadamente na des- 24 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto tinação do milho em qualquer segmento da cadeia de consumo. A ocorrência de grãos ardidos está diretamente relacionada com o híbrido de milho e com o nível de empalhamento a que estão submetidas as suas espigas. Ainda, de forma indireta, a presença de pragas, adubações desequilibradas e período chuvoso no final do ciclo, atraso na colheita e incidência de algumas doenças podem influir no incremento do número de grãos ardidos (RITCHIE; HANWAY, 1989; MAGALHÃES et al., 1994). A partir do momento da formação da camada preta, que nada mais é do que a obstrução dos vasos, rompe-se o elo de ligação da planta-mãe e o fruto, passando este a apresentar vida independente. REFERÊNCIAS BRUNINI, O.; ALFONSI, R. R.; PAES DE ALDRICH, S. R.; SCOTT, W. O.; LENG, E. R. CAMARGO, M.B. Efeito dos elementos climá- Modern corn production. 2.ed. Champaign: ticos no desenvolvimento da cultura de milho. In: SIMPÓSIO SOBRE PRODUTIVIDADE DO A & L, 1982. 371p. MILHO, 1983, Londrina. Anais... Londrina: ALLEN, R.G.; PEREIRA, L.S.; RAES, D.; SMITH, M. Crop evapotranspiration: guidelines for computing crop water requirements. Rome: FAO, 1998. 300p. (FAO. Irrigation and Drainage. Paper, 56). O plantio direto constitui-se em um dos mais eficientes sistemas de prevenção e controle das erosões hídrica, eólica e solar, o que seria suficiente para justificar a sua adoção. Além dessa importante vantagem esse sistema proporciona: a) maior conservação de umidade no solo; b) melhor aproveitamento da água disponível pelas plantas; c) menor amplitude térmica no solo, favorecendo a fisiologia e o desenvolvimento do sistema radicular das plantas; d) maior tolerância a períodos de estiagens (veranicos). Uma vez que se conheça o comportamento climático e o balanço hídrico da região, a ecofisiologia da cultura do milho e as necessidades calóricas do genótipo a ser utilizado podem-se determinar a melhor época para o seu plantio. Densidades de plantas acima e abaixo de ótimo têm efeito negativo na eficiência com a qual a cultura converte radiação interceptada em massa seca de grãos. E o aumento no rendimento de grãos resultante de menores espaçamentos deve-se ao maior aproveitamento da radiação solar. CLAASSEN, M.M.; SHAW, R.H. Water deficit effects on corn – II: grain component. Agronomy Journal, Madison, v.62, n.5, p.652-655, Sept./ Oct. 1970. ANDRADE, F.H. Radiación y temperatura determinan los rendimientos maximos de maiz. Buenos Aires: INTA, 1992, 34p. (INTA. COWAN, I.R. Transport of water in the soilplant-atmosphere. Journal Applied Ecology, v.3, p.221-239, 1965. Boletin Técnico, 106). ANTONINO, A. C. D.; SAMPAIO, E. V. S. B.; DALL’OLIO, A.; SALCEDO, I.H. Balanço hídrico em solo com cultivos de subsistência no semi- CONSIDERAÇÕES FINAIS IAPAR/EMBRAPA- CNPMS, 1983. p.21-40. árido do nordeste do Brasil. Revista Brasileira DEANMEAD, O.T.; SHAW, R.H. The effect of soil moisture stress at different stages of growth on the development and yield of corn. 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Além de variedades/cultivares com maior potencial produtivo, têm-se verificado aumentos significativos não só no uso de fertilizantes, mas também na adoção de práticas de manejo que aumentam a eficiência de aproveitamento dos fertilizantes, sobretudo os nitrogenados e potássicos. Práticas como antecipação de nitrogênio e aumento na dose inicial de arranque têm proporcionado altos rendimentos da cultura. Com a opção do Sistema Plantio Direto (SPD), produtores rurais passaram a se preocupar com a construção da fertilidade do solo, por meio da rotação de culturas e recuperação das áreas, principalmente daquelas antes com pastagens degradadas, onde o milho surge como opção viável, e manutenção da cobertura do solo. Todas essas alterações no sistema produtivo contribuem para altos rendimentos obtidos em cultivos racionais da terra, sem degradá-la. Também o uso correto de fertilizantes, além de proporcionar rendimentos mais elevados, tanto pelo incremento na produtividade quanto pela redução dos custos de produção, contribui para a nãocontaminação do solo, dos cursos d’água e do lençol freático. Palavras-chave: Zea mays. Adubação. Calagem. Produtividade. Plantio direto. INTRODUÇÃO A produtividade média mundial de milho tem aumentado de ano para ano, desde a introdução dos híbridos, por volta da década de 30. Os ganhos de produtividade de milho, nos EUA, foram proporcionais ao aumento do uso de fertilizantes minerais nitrogenados, principalmente, de acordo com Cardwell (1982). Também no Brasil, de maneira geral, acréscimos nas produtividades de milho estão associados ao incremento na quantidade de fertilizantes aplicados e na busca por maiores eficiências de utilização. Para as altas produtividades de milho, além de considerar as características climáticas, é imprescindível que se programem manejos corretos do solo e da cultura, pois estes exercem grande importância no processo produtivo. Nesse aspecto, devem ser considerados fatores como: nível de fertilidade do solo, disponibilidade potencial de nutrientes, época, forma e modo de aplicação de fertilizantes, absorção e acúmulo de nutrientes pelo milho e translocação e exportação de nutrientes. Portanto, o rendimento da cultura depende da interação de vários fatores de produção, que, se levados em consideração no planejamento das adubações, sobretudo da nitrogenada, contribuirão para obter altas produtividades. De maneira geral, o incremento no consumo de fertilizantes pode ser apontado como uma das principais razões para o aumento das colheitas nas regiões tropicais e subtropicais. MANEJO DO SOLO PARA ALTAS PRODUTIVIDADES Considerações gerais Os solos do Cerrado, devido à fragilidade do equilíbrio físico-químico requerem manejo adequado da sua fertilidade, sob pena de esgotamento nutricional, baixa sustentabilidade e acelerado processo de desertificação. A evolução da pesquisa nesse tipo de ecossistema tem feito com que o conhecimento do manejo da fertilidade do solo não seja mais o fator limitante de altas produtividades. Pelo contrário, atualmente, depende-se mais da consideração de fatores da planta e do ambiente produtivo como um todo, do que do conhecimento do solo, isoladamente. Como exemplo, pode-se citar 1 Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTTP/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: jeferson@ epamiguberaba.com.br Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto a utilização de estádio fenológico da planta como indicativo para se realizarem práticas de manejo da cultura, como controle de plantas daninhas, adubações de cobertura, necessidade nutricional, etc. Na avaliação da fertilidade do solo para implantação da cultura, deve-se lançar mão de conceitos dinâmicos que proporcionam uma análise que considere o conjunto de fatores disponíveis no solo. No entanto, altas produtividades ainda são metas difíceis de alcançar por muitos, sobretudo, porque os recursos naturais que regularmente resultam em altas produtividades não estão disponíveis para todos. Por esta razão, há, ainda, necessidade de construir ou manejar adequadamente a fertilidade dos solos do Cerrado. Na busca por altas produtividades, os desafios que os produtores enfrentam, segundo Hoeft (2003), podem ser agrupados em cinco categorias, a saber: clima, manejo de nutrientes, produtividade do solo, práticas culturais/potencial genético e manejo de pragas (esses fatores já foram mencionados como recursos naturais reguladores de altas produtividades). Como o clima interfere afetando as altas produtividades? O milho, como todas as culturas, requer fornecimento adequado de água, temperatura diurna e noturna adequadas e radiação solar abundante, para permitir a otimização do potencial produtivo. Para uma produtividade de 10 t ha-1 de grãos, a cultura do milho necessita de 50 a 60 cm de água supridos pela combinação de precipitação e de água armazenada no solo, conforme Hoeft (2003). Segundo Fancelli (2000), no estádio V4, época em que é definido o potencial produtivo do milho (quando ocorre a diferenciação floral), não pode ocorrer disponibilidade de água menor que 2 mm por dia, e temperatura inferior a 12oC por mais de 3 horas (no mínimo 25 kg ha-1 de N). A radiação solar está relacionada diretamente com a taxa de fotossíntese, que diminui quando esta radiação é reduzida. Produtividades elevadas somente são possíveis, se nas plantas estiver inserido 27 o potencial genético. Cultivares, altamente produtivas, desde que adequadamente manejadas, proporcionam altas produtividades. No entanto, práticas culturais minimizam os estresses a que a planta pode ser submetida e proporciona melhor aproveitamento do potencial genético. O manejo de pragas/doenças contribui para reduzir a concorrência do milho com as plantas daninhas, insetos e doenças. A pesquisa tem colocado à disposição do agricultor, técnicas para superar os efeitos adversos dessas pragas/doenças. Dentre estas, podem ser citadas a seleção de variedades (melhoramento de plantas) com resistência a doenças e rotação de culturas. A produtividade do solo é fator de grande importância no processo produtivo. Os solos do Cerrado geralmente são de fertilidade natural baixa, refletida, principalmente, pela alta capacidade de adsorção de fósforo, baixa capacidade de troca catiônica, acidez elevada, baixos níveis de cálcio, magnésio e micronutrientes, em função do material de origem e/ou do alto intemperismo. Com o avanço da agricultura para estas áreas tornou-se imprescindível manejar adequadamente as práticas envolvidas no processo produtivo, sendo estas a única forma de conseguir altas produtividades. Todas as práticas visam à construção da fertilidade do solo, minimizando as limitações impostas pela baixa fertilidade natural. Neste contexto, o plantio direto assume papel de grande importância, e constitui a forma mais eficiente de melhorar o sistema de produção. O manejo de nutrientes é essencial, do ponto de vista ambiental, por minimizar as perdas de nutrientes para o ambiente, e do ponto de vista produtivo, por otimizar a produtividade e reduzir os custos de produção. Estas perdas são significativas na contaminação de águas subsuperficiais pelo nitrogênio lixiviado (acúmulo de nitrato) e pela eutroficação de lagos e reservatórios, crescimento de algas e outras plantas aquáticas superficiais, principalmente pelo arraste de fósforo pelas águas de erosão. A dose, a época e a forma de aplicação Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006 de nutrientes têm efeito favorável tanto na produtividade das culturas, quanto sobre o potencial de contaminação de mananciais e represas. A forma do adubo nitrogenado pode ser fator determinante nas perdas por volatilização, enquanto que, a dose de potássio, aliada à textura do solo, pode controlar suas perdas por lixiviação. O manejo de nutrientes começa com a análise de solo. Esta é a melhor ferramenta para prever aplicações adicionais ou redução de adubações em novos cultivos e, conseqüentemente, evitar contaminações ambientais e proporcionar redução dos custos com fertilizantes. Absorção e acúmulo de nutrientes As exigências nutricionais das plantas de milho são variáveis ao longo do ciclo da cultura, apresentando picos de máxima e de mínima absorção. Torna-se imprescindível conhecer a marcha de absorção dos nutrientes em função do tempo, para prever como e quando serão feitas as adubações. É igualmente importante conhecer o acúmulo de nutrientes na planta para reposição eficiente dos nutrientes retirados em maior quantidade e, dessa forma, manter o equilíbrio nutricional do sistema produtivo. A nutrição mineral das plantas de milho influencia a colheita, devido também ao controle sobre a área foliar nos primeiros estádios de desenvolvimento. Isto porque, segundo mencionado por Fancelli (2000), a planta de milho é considerada uma das mais eficientes na conversão de energia radiante e, conseqüentemente, na produção de biomassa, visto que uma semente que pesa, em média, 260 mg resulta em período próximo a 140 dias, cerca de 0,8 a 1,2 kg de biomassa por planta, e 180 a 250 g de grãos por planta, multiplicando-se, aproximadamente, mil vezes o peso da semente que a originou. Neste aspecto, o índice de área foliar é determinante até da massa de grãos. No florescimento, este índice deve estar entre 4,5 e 6,0 (FANCELLI, 2000). A grande importância do índice de área foliar pode Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 28 ser resumida pelo fato de o milho possuir alto potencial e grande habilidade fisiológica na conversão de carbono mineral em compostos orgânicos, que são translocados dos tecidos fotossinteticamente ativos, que são a fonte, para locais da planta onde serão acumulados, os denominados drenos. O estado nutricional da planta, dentre outros fatores, pode governar a eficiência de conversão, favorecendo ou não o processo da fotossíntese (de nada adiantaria ter plantas com alta eficiência na interceptação da radiação, com boa arquitetura foliar, com bom arranjo espacial e população ideal, se o estado nutricional está desbalanceado). Semelhante à exigência nutricional, o acúmulo de massa seca também é variável ao longo do ciclo da cultura e, para o milho, a absorção máxima de nutrientes por parte da planta ocorre no estádio de 10 a 14 folhas. Tomando-se quantidade de nutriente absorvida por unidade de raiz, por tamanho de sistema radicular (FANCELLI, 2000), verifica-se que, com exatamente quatro folhas é que acontece a maior necessidade em N, para isso, é que, atualmente, se pensa em termos de antecipação do N. Sem esse aumento no plantio ou sua antecipação não seria possível satisfazer essa demanda da planta. O comportamento dos híbridos modernos altamente produtivos em comparação com outros mais antigos tem o acúmulo de massa seca semelhantes, enquanto, ao que tudo indica, o acúmulo de nutrientes parece ter aumentado nos estádios iniciais em híbridos mais produtivos. O reflexo direto desta afirmação é a mudança nas recomendações das quantidades de nitrogênio na adubação de plantio, passando atualmente de 10 a 20 kg ha-1 para 30 a 45 kg ha-1 de N. Pergunta-se então: Por que colocar mais nitrogênio e mais cedo para a planta? Por que se estuda tanto a antecipação do nitrogênio para a cultura do milho? Segundo Fancelli (2000), o nitrogênio é fundamental para o milho em função de garantir a diferenciação floral e de estimular o crescimen- Translocação e exportação de nutrientes to do sistema radicular. Nesta fase inicial da planta (até aproximadamente a 8a folha), a raiz é o “dreno forte” e constitui a maior prioridade da planta para proporcionar taxa máxima de desenvolvimento do sistema radicular para que, no estádio correspondente a 12 folhas, a planta possa apresentar total atividade na absorção de nutrientes. A importância indireta do N no crescimento do sistema radicular pode ser resumida no fato de ele modular a síntese da citocinina e esta ser o estimulante do sistema radicular. Então, a restrição de N no início do desenvolvimento do milho pode limitar o sistema radicular, alterando-o, em termos de tamanho, arquitetura, etc., refletindo, negativamente, nas demais etapas da planta. Considerando-se os nutrientes N, P, K, tem-se, no Quadro 1, a absorção pela raiz em função do estádio fenológico. Para o N, a quantidade é maior proporcionalmente em relação ao número de raiz no estádio 1 (4 folhas), porém, em termos de quantidade de N absorvida na unidade de tempo, a fase mais importante seria 12 a 14 folhas. Portanto, o milho apresenta resposta à aplicação de N até a 12a folha. Para o fósforo, observam-se duas fases importantes: estádio 1 (4 folhas) e logo após o florescimento (estádio 5-6), sendo o P muito importante no estádio de enchimento de grãos. O fósforo, assim como o potássio, é também importante na massa dos grãos. A máxima absorção do K ocorre quando a planta de milho possui entre 12 e 14 folhas. No Quadro 2, são mostrados valores de exportação de nutrientes obtidos por Andrade et al. (1975 ab), em plantas, na fase de máximo acúmulo de massa seca da parte aérea e por Hiroce et al. (1989), cujas amostragens foram feitas após a maturação fisiológica dos grãos. A taxa de translocação do nutriente na planta é variável entre os tecidos e é prérequisito para sua maior ou menor absorção depois do florescimento. Condições de estresse hídrico limita a translocação de carboidratos e nutrientes (VASCONCELOS et al., 1983; SANGOI; ALMEIDA, 1994) e a baixa fertilidade limita a absorção de nutrientes e, no caso do N, pode ser limitante durante o período de enchimento de grãos. Neste caso, é de grande importância a remobilização do N dos tecidos vegetativos. É provável que cerca de um terço do N e metade do P dos grãos, na maturidade, seja proveniente de outras partes da planta (HANWAY, 1962). De acordo com Fernandes et al. (1999), 71%-77% do N, 77%86% do P, 26%-43% do K, 3%-7% do Ca, 47%-69% do Mg, 53%-77% do S e 35%-87% do Zn foram translocados para os grãos. A baixa translocação do cálcio mostrada confirma sua quase imobilidade dentro da planta e, segundo Vasconcelos et al. (1983), no milho, o cálcio apresenta baixa redistribuição de folhas e colmos para a espiga. Segundo Andrade et al. (1975a), QUADRO 1 - Absorção de nutrientes pelas raízes de milho em função do estádio fenológico Estádios fenológicos N -1 P -1 -1 K -1 -1 (kg km de raiz dia ) (kg km de raiz dia ) (kg km de raiz dia-1) 4 folhas 3,12 x 10-4 0,62 x 10-4 0,42 x 10-4 9 folhas 1,77 x 10-4 0,13 x 10-4 0,17 x 10-4 12 a 14 folhas 1,88 x 10-4 0,19 x 10-4 1,50 x 10-4 Pendoamento 0,27 x 10-4 0,08 x 10-4 0,19 x 10-4 0,45 x 10-4 2,20 x 10-4 0,05 x 10-4 Início do enchimento de grãos FONTE: Fancelli (2000). Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 29 QUADRO 2 - Valores absolutos e relativos (grãos por planta toda) de macro e micronutrientes acumulados nos grãos Nutriente Macronutriente (A) Exportação de nutrientes Nos grãos -1 Relativa (B) Exportação de nutrientes Nos grãos -1 Relativa (kg t ) (% do total) (kg t ) (% do total) N 19,5 67 16,4 59 P 3,9 78 4,0 87 K 4,9 14 5,1 29 Ca 0,1 2 0,6 14 Mg 1,7 29 1,7 37 S 1,7 33 1,1 42 Nos grãos Relativa Nos grãos Relativa Micronutriente B -1 -1 (g t ) (% do total) (g t ) (% do total) 2,8 15 3,3 19 Cu _ _ 1,1 15 Zn 21,4 52 28,8 56 FONTE: (A) Andrade et al. (1975ab) e (B) Hiroce et al. (1989). a porção palha mais sabugo, em comparação aos grãos, é relativamente rica em Ca e K e pobre em N, P, Mg e S. Construção da fertilidade do solo O cultivo contínuo de determinada área com a mesma cultura resulta no esgotamento acentuado do solo, com a conseqüente geração de produções insatisfatórias. Dessa forma, é de grande importância um programa de rotação de culturas, alternando o cultivo do milho com leguminosas. Esta prática, inclusive, contribui para redução na adubação nitrogenada do milho cultivado após a soja. Um sistema de plantio que apresenta inúmeras vantagens na construção da fertilidade do solo é o Sistema Plantio Direto (SPD). Dentre os benefícios inerentes à implantação do SPD, podem-se citar: maior conservação da umidade do solo; maior aproveitamento da água disponível pelas plantas; contribui consideravelmente para a manutenção de níveis satisfatórios de matéria orgânica no solo; propicia a ocorrência de menor amplitude térmica no solo, favorecendo a fisiologia e o desenvolvimento do sistema radicular das plantas; contribui para a melhoria da porosidade total do solo; proporciona maior tolerância da planta a períodos de estiagem; etc. Não é possível pensar em construir a fertilidade do solo sem pensar no aumento da matéria orgânica. Este é o componentechave do Sistema e apresenta inúmeros benefícios na ciclagem de nutrientes e no uso deles pelas plantas. Segundo Sá (1993), o aumento de 1 g dm-3 de C resulta em acréscimo de 1,39 cmolc dm-3, na capacidade de troca catiônica (CTC) do solo e que as taxas anuais de ganho na CTC do solo a longo período são: na camada de 0,0-2,5 cm, 1,1 cmolc dm-3; na camada de 2,55 a 5,0 cm, 0,3 cmolc dm-3 e na camada de 5,0 a 10,0 cm, 0,28 cmolc dm-3 de solo (maior CTC promove maior produção de fitomassa que, por conseguinte, promove maior ciclagem de nutrientes). Também, aumento na CTC do solo é sinônimo de aumento de P, devido à redução na adsorção de P, à menor superfície de contato com o íon colóide e à formação de formas orgânicas de P. De acordo com conclusões de Sá Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006 (1993), as frações leves da matéria orgânica do solo influenciam mais a CTC nas camadas até 5 cm de profundidade do que as frações húmicas. Entretanto, os resíduos culturais apresentaram significativa participação nessas frações. O manejo do N está estreitamente relacionado com a biomassa microbiana e as frações leves. O desenvolvimento radicular do milho é a conseqüência do uso de coberturas mortas que produzem sistemas radiculares abundantes aumentando a porosidade e reduzindo a resistência à penetração (Fig. 1). O aumento da fertilidade em solos de carga variável no SPD é resultante da interação do não-revolvimento do solo, associado à manutenção dos resíduos culturais. É, portanto, a base para sistemas de produção de alta produtividade. RECOMENDAÇÃO DE ADUBAÇÃO E CALAGEM Para a cultura do milho, as adubações e correções do solo devem ser feitas com base na análise do solo e, quando possível, complementada pela análise de folhas. Para que os resultados das análises de solo e folhas sejam confiáveis, além da credibilidade do laboratório (10% do erro analítico), é imprescindível fazer boa amostragem. De maneira geral, a recomendação de adubos e corretivos é feita com auxílio de tabelas próprias. Atualmente, segundo Cantarella e Duarte (2004), merecem destaque os progressos nas tabelas de adubação, que passaram a levar em conta a expectativa de produtividade e, indiretamente, a extração e exportação de nutrientes. Esses autores também apontam a expansão do plantio direto como um fator importante para a adoção de tecnologias modernas na cultura do milho, ao mesmo tempo que exige cuidados no manejo da calagem e da adubação, especialmente a nitrogenada, em virtude de potenciais implicações ambientais do excesso de N. Em resumo, com o avanço das técnicas de cultivo e dos aumentos de produtividade da cultura do milho, a recomendação Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto Fotos: Jeferson Antônio de Souza 30 Figura 1 - Área de plantio de milho (SPD) com cobertura de Brachiaria brizantha (braquiarão), vinte dias após dessecação NOTA: Observa-se a abundância de raízes e a eficiência da cobertura do solo. de adubos e corretivos não pode mais ser feita com base em dados de laboratórios e tabelas de adubação. Deve-se substituir o conceito estático de fertilidade de solo, por conceitos dinâmicos, que levam em consideração fatores que interagem alterando a disponibilidade do nutriente em questão. Em outras palavras, para se fazer recomendação não é mais suficiente verificar o nível ditado pela análise de laboratório e ir à tabela. Isto porque, dois solos com a mesma quantidade de P disponível e opostos em relação à capacidade de água disponível, por exemplo, podem ter o mesmo potencial produtivo ou o mesmo conteúdo de P, se for considerado apenas o resultado de laboratório, ou potenciais diferentes, se for considerada a capacidade de armazenamento de água. É importante considerar todos os fatores envolvidos e abolir de vez as cartilhas de recomendação. Amostragem de solo e planta A amostragem de solo é o componente principal de recomendação de adubos e corretivos e interfere diretamente nos resultados analíticos e na interpretação destes, visando à programação das adubações e/ou correções de solos. É o ponto de partida para adubação/correção feita com eficiência. Para a cultura do milho, assim como para outras culturas anuais, a amostragem de solo deve ser feita com base em conhecimentos científicos, adotando-se critérios que façam com que a amostra coletada seja a mais representativa possível das condições de fertilidade da área de implantação da cultura. Nesse aspecto, o número mínimo de amostras deve ser estabelecido de acordo com o procedimento de amostragem a ser adotado: tradicional ou orientada – normalmente a orientada exige maior precisão e, conseqüentemente, maior número de amostras. A amostragem tradicional consiste na coleta de amostras simples, para compor a amostra representativa do talhão supostamente uniforme – os critérios usuais são: topografia e cor do solo ou mapa de rendimento da cultura. A amostragem orientada consiste na coleta de amostras simples, para compor a amostra composta por unidade de área, orientada por coordenadas cartesianas, com o objetivo de fazer o mapa de fertilidade e recomendação de adu- bação. Em agricultura de precisão utilizase o Global Positioning System (GPS), segundo Fancelli e Dourado Neto (2004). No sistema de cultivo convencional, as amostragens são feitas na profundidade de 0-20 cm e, conforme o caso, até 20-40 cm. No SPD, de até sete anos após a implantação, recomenda-se amostrar o solo nas camadas 0-10 cm e 10-20 cm e, até 20-40 cm. A estratificação da camada superficial é indicativo do potencial do solo em fornecer nutrientes de médio a longo prazo. Para ter o resultado na camada 0-20 cm, pois as adubações e correções são calculadas para camadas de 20 cm de solo, misturamse as amostras coletadas de 0-10 cm e de 10-20 cm. Em áreas com mais de sete anos de SPD, portanto, em equilíbrio, pode-se amostrar o solo de 0-20 cm e de 20-40 cm. Em ambos os sistemas de cultivo, convencional ou plantio direto, devem-se adotar estratégias de amostragem que incluem linhas de plantio e entrelinhas. Para isso, as amostras podem ser coletadas com tradagens nas entrelinhas e nas linhas de plantio, colocando-se em um balde a terra coletada e misturando-se em seguida, para homogeneização. Daí será retirada a amos- Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto tra para análise com, aproximadamente, 300 g. Outra maneira de retirar as amostras consiste em abrir a cova na profundidade de 20 cm, tendo de comprimento o espaçamento utilizado para as linhas de plantio, tomando-se a metade do espaçamento para cada lado. Assim, a linha de plantio deverá ficar no centro da cova (Fig. 2). Repetir o procedimento em cerca de 20 pontos. Ao contrário da análise de solo, o objetivo da análise foliar é conhecer o estado nutricional da cultura, o que possibilita o planejamento de cultivos posteriores, uma vez que os resultados da análise foliar somente poderão ser úteis para a próxima safra. Por meio da análise foliar de amostras colhidas na hora certa, conseguem-se boas correlações entre as concentrações de nutrientes nas plantas e as produções obtidas. De posse dos resultados da análise foliar, podem-se calcular doses de fertilizantes, uma vez que há boa correlação entre as concentrações nutricionais da folha analisada, e doses necessárias para obter produtividades almejadas. Contudo, a análise não deve ser melhor que a amostragem, isto é, de nada adianta a análise bem-feita em material colhido sem as devidas recomen- 31 dações. Admite-se que mais de 90% dos erros cometidos na interpretação dos resultados de análise sejam devidos à amostragem e não à análise realizada. É de conhecimento amplo que as concentrações dos nutrientes nas diversas partes da planta são variáveis em função do estádio de desenvolvimento, além de outros fatores. De maneira geral, o início da floração é a época mais indicada para amostragem na maioria das culturas. Para o milho, a recomendação é colher o terço médio da folha abaixo da espiga (folha + 4, a partir do ápice), retirando-se a nervura central, na época da inflorescência feminina (cabelo). Devem-se amostrar pelo menos 30 plantas por talhão ou gleba. Para obter sucesso no cultivo do milho, o agricultor deve lançar mão de resultados de análise do solo, de amostras retiradas antes do início do preparo da área de plantio, combinados com resultados de análise foliar do cultivo anterior. Isto porque, as análises de solo e de planta são complementares e, em conjunto, oferecem informações valiosas para a solução de problemas nutricionais observados no cultivo anterior, além de possibilitar o planejamento da adubação a ser feita. Figura 2 - Esquema para orientar a coleta de amostras de solos em áreas já implantadas FONTE: Comissão .... (1995 apud SOUSA; LOBATO, 2002). NOTA: Também é útil para coletar amostras de solo após a retirada da cultura. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006 Fertilidade atual e fertilidade almejada Muitas vezes a área de cultivo apresenta nível de fertilidade insuficiente para a implantação e manutenção da cultura do milho. Nesse caso, há necessidade de fazer correção das características químicas do solo elevando os níveis atuais de disponibilidade de nutrientes a níveis consideravelmente mais altos, de acordo com as exigências da cultura. Como orientação, adotam-se os valores críticos dos macronutrientes no solo, definindo as faixas ótima e de deficiências, e de micronutrientes no solo, definindo as faixas ótima, de deficiência e fitotoxidez (Fig. 3). Elabora-se, então o fertigrama. Diante dos dados do fertigrama, pode-se visualizar a necessidade de cada nutriente a ser adicionado pelas adubações. Assim, podem-se definir estratégias de manejo a curto e a longo prazos, com o objetivo de alcançar o nível desejado de fertilidade do solo no sistema de produção adotado. Calagem Para a cultura do milho no estado de Minas Gerais, o cálculo da calagem é feito por dois métodos com base em dois conceitos amplamente aceitos por técnicos e Figura 3 - Fertigrama (solo): representação esquemática da fertilidade almejada FONTE: Fancelli e Dourado Neto (2004). NOTA A – Informação de pesquisa e conhecimento empírico acumulado no local de interesse, e da fertilidade atual; B – Resultado da análise química do solo. Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 32 especialistas em fertilidade de solos: método da neutralização da acidez trocável e da elevação dos teores de Ca, Mg e Al trocáveis e método da saturação por bases. A gessagem pode ser uma prática adotada, quando a camada subsuperficial apresentar Ca < 0,4 e/ou Al > 0,5 cmolc dm-3 e/ou m > 30% e/ou relação Ca/t < 60. As quantidades de gesso a aplicar estão relacionadas diretamente com o valor do P remanescente (RIBEIRO et al., 1999). Método da neutralização da acidez trocável e da elevação dos teores de Ca, Mg e Al trocáveis Neste método, são consideradas as características do solo e as exigências das culturas. Com o cálculo da calagem, por este método procura-se corrigir a acidez do solo (para isso leva-se em consideração a suscetibilidade ou tolerância do milho à elevada acidez trocável – valor mt, que é a máxima saturação por Al3+, e a capacidade tampão do solo, valor Y) e elevar a disponibilidade de Ca e Mg de acordo com as exigências da cultura do milho (valor X). Para o milho, mt = 15%, X = 2,0 cmolc dm-3 e Y é obtido de acordo com os dados apresentados no Quadro 3 ou por modelo de regressão cúbico (Y = 4,002 – 0,125901 P-rem + 0,001205 P-rem2 – 0,00000362 P-rem3, R2 = 0,9998). Ambos em função do valor de fósforo remanescente (P-rem). Y é variável em função da capacidade tampão da acidez do solo. Então, a necessidade de calcário (NC) pode ser determinada pela equação: Método da saturação por bases Neste método, considera-se a relação existente entre o pH do solo e a saturação por bases (V%). Devem ser determinados os teores de Ca, Mg e K trocáveis e, em alguns casos, de Na trocável, além da acidez potencial (H + Al) extraível em acetato de cálcio 0,5 mol L-1 a pH 7,0 ou pelo estimado pelo método do pHSMP. O valor da saturação por bases para a cultura do milho é 50%. Então, pode-se determinar a necessidade de calcário por: NC = T (50 – V)/100 Quantidade de calcário A necessidade de calcário calculada por um dos dois métodos citados referese à quantidade de CaCO3 ou calcário, por hectare, com poder relativo de neutralização total (PRNT) de 100% a ser incorporado na camada de 0 a 20 cm de profundidade. No SPD a correção do solo deve ser feita, obrigatoriamente, antes de sua implantação. A quantidade de calcário (QC) é ajustada em função da profundidade de correção. Esta QC pode ser referida como sendo a dose teórica, pois, na prática, a dose de calcário deve ser calculada levando-se em consideração: a porcentagem da superfície do solo a ser coberta com calcário (SC, em %); a profundidade de incorporação do calcário (PI, em cm); o PRNT, em %. Calcula-se a QC através da expressão: QC = NC . (SC/100) . (PI/20) . (100/PRNT) Adubação A recomendação de adubação para a cultura do milho, obrigatoriamente, deve ser NC = Y [Al3+ – (2,0 . t/100)] + [15 – (Ca2+ + Mg2+)] QUADRO 3 - Valores de Y para cálculo da capacidade tampão da acidez do solo em função dos valores de fósforo remanescente (P-rem) P-rem (mg L-1) Y P-rem (mg L-1) Y 0a4 4,0 a 3,5 19 a 30 2,0 a 1,2 4 a 10 3,5 a 2,9 30 a 44 1,2 a 0,5 10 a 19 2,9 a 2,0 44 a 60 0,5 a 0,0 FONTE: Ribeiro et al. (1999). feita com base nos resultados da análise de solo e, sempre que possível, reforçada pela análise foliar, principalmente em se tratando de micronutrientes. Para recomendação de nitrogênio lança-se mão da quantidade absorvida pela cultura em função da produtividade almejada, descontandose a quantidade fornecida pelo solo, por meio da matéria orgânica ou de restos de culturas. Para os demais nutrientes, macro ou micro, deve-se seguir a recomendação contida na 5a aproximação (RIBEIRO et al., 1999). Para interpretação da disponibilidade de fósforo, desde 1999 adotam-se os valores do P remanescente, indispensável nos laboratórios de análise de solo do estado de Minas Gerais. Quando se pensa em recomendação de adubação, dois tópicos são abordados direta ou indiretamente: a) adubação de correção e adubação com manutenção Segundo Sousa e Lobato (2002), a adubação corretiva tem como objetivo transformar o solo de baixa fertilidade em solo fértil. É importante conhecer o nível de fertilidade atual do solo e a fertilidade almejada. Para definir o nível de fertilidade que se quer, é imprescindível conhecer o grau de exigência da cultura. Atualmente, com o avanço do SPD, áreas cultivadas com milho dispensam adubações corretivas, sobretudo naquelas com plantio direto já estabilizado. Para obter melhores resultados com a lavoura é fundamental que se conheçam os fatores mais limitantes de cada área da propriedade, pois isso possibilita a programação de adubação equilibrada, aplicandose, prioritariamente, os nutrientes mais deficientes (adubação de correção) e a dose de manutenção dos nutrientes que estão com teores ótimos no solo (adubação de manutenção). De maneira geral, as adubações corretivas são mais comuns para fósforo e potássio. As principais ferramentas disponíveis para esse fim são: histórico da área, análise de solo e análise de folhas. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 33 b) adubação de plantio e adubação de Quando se pretende cultivar o milho no SPD, a adubação corretiva deve ser feita, obrigatoriamente, antes da implantação, pois este sistema impede o revolvimento do solo. A adubação corretiva gradual pode ser utilizada, quando não se tem capital suficiente para realizar a correção de uma só vez. Consiste em aplicar no sulco de plantio, quantidade de P superior à indicada para manutenção, até atingir, após alguns anos, a disponibilidade de P desejada para cultivo do milho ou do sistema de produção adotado. Independentemente do método de correção do P, estando o solo corrigido com teor classificado como adequado, recomendase apenas a adubação de manutenção. semeadura pode ser colocado em sulcos ou a lanço. Atualmente, recomenda-se colocar no plantio mais N (Quadros 4 e 5). No entanto, tem-se questionado a necessidade de fazer o parcelamento da adubação nitrogenada para a cultura do milho, sobretudo em solos argilosos devido, principalmente, ao maior custo de produção. Hoje não há razão de parcelar o N em condições de sequeiro, porque este está relacionado com a disponibilidade de água (FANCELLI, 2000). Para que o parcelamento possa ser eficiente, a água tem que estar no Sistema. Resultados de pesquisa (FANCELLI, 2000; FANCELLI; DOURADO NETO, 2004) têm mostrado que uma cobertura po- cobertura (parcelamentos) Todo o fósforo a ser fornecido para a cultura do milho deve ser colocado por ocasião do plantio, a não ser quando se tem que fazer adubação fosfatada corretiva. Nesse caso, o fósforo é colocado no solo antes do plantio. Já o nitrogênio e o potássio são fornecidos parte no plantio e parte em cobertura, ou ainda colocados juntos ou não em pré-semeadura. O N em pré-semeadura tem sido usado em recuperação de pastagens através da integração lavoura-pecuária. O potássio colocado junto com o N nas entrelinhas do milho tem como objetivo reduzir os custos. Por outro lado, o potássio sozinho em pré- QUADRO 4 - Adubação mineral para a cultura do milho em função da produtividade esperada de grãos (2) (3) Disponibilidade de P Produtivi- (4) N no dade plantio -1 -1 (t ha ) Disponibilidade de K (1) N em Baixa Média (kg ha ) Boa Baixa Média Dose de P2O5 Dose de K2O (kg ha-1) (kg ha-1) Boa (5) -1 (kg ha ) (6) S cobertura Zn -1 (kg ha ) (kg ha-1) 4a6 30-45 80 60 30 50 40 20 40 30 1-2 6-8 30-45 100 80 50 70 60 40 80 30 1-2 >8 30-45 120 100 70 90 80 60 120 30 1-2 FONTE: Dados básicos: Ribeiro et al. (1999). (1) As doses de N no plantio foram alteradas, conforme sugerido por Fancelli (2000). (2) (3) Utilizar os critérios de interpretação apresentados em Ribeiro et al. (1999). (3) (4) As coberturas devem ser feitas observando-se as recomendações contidas no Quadro 6. (5) Esta quantidade está vinculada à aplicação de fertilizantes concentrados, sem enxofre. (6) Em solos deficientes ou com eficiência verificada no cultivo anterior. QUADRO 5 - Adubação mineral para a cultura do milho em função da produtividade esperada de massa verde para silagem (2) (3) Disponibilidade de P Produtivi- Disponibilidade de K (1) (4) N no dade plantio (t ha-1) (kg ha-1) N em Baixa Média Boa Baixa Média Dose de P2O5 Dose de K2O (kg ha-1) (kg ha-1) Boa cobertura (5) (6) S Zn -1 (kg ha-1) (kg ha ) (kg ha-1) 30-40 30-45 80 60 30 100 80 40 60 30 1-2 40-50 30-45 100 80 50 140 120 80 110 30 1-2 > 50 30-45 120 100 70 180 160 120 160 30 1-2 FONTE: Dados básicos: Ribeiro et al. (1999). (1) As doses de N no plantio foram alteradas, conforme sugerido por Fancelli (2000). (2) (3) Utilizar os critérios de interpretação apresentados em Ribeiro et al. (1999). (3) (4) As coberturas devem ser feitas observando-se as recomendações contidas no Quadro 6. (5) Esta quantidade está vinculada à aplicação de fertilizantes concentrados, sem enxofre. (6) Em solos deficientes ou com eficiência verificada no cultivo anterior. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 34 deria ser feita entre a 4a e a 6a folha (não mais em número de dias, mas em número de folhas) (Quadro 6). Quanto ao número de coberturas, recomendam-se fazer duas, em condições de solos arenosos ou de alta percolação, e três coberturas, apenas em sistema de pivô central. Existem trabalhos desenvolvidos na Embrapa Cerrados com pivô central parcelando-se a adubação nitrogenada em até dez vezes e não se encontrou diferença significativa entre três e dez aplicações de N em cobertura. Inclusive, quanto maior o número de parcelamentos, maior é a chance de perdas por volatilização e imobilização (porque se trabalha sempre com N diluído). Então, em sistemas de irrigação, devem-se fazer, no máximo, três aplicações e, normalmente em termos gerais, recomenda-se apenas uma aplicação. Com relação ao potássio, recomendase que a quantidade no plantio não seja superior a 60 kg ha-1, devido ao efeito salino (FANCELLI, 1998 apud FANCELLI, 2000). No Quadro 7 são mostrados os índices salinos de alguns fertilizantes, com destaque para o cloreto de potássio. QUADRO 7 - Índice salino de fertilizantes N-P2O5-K20 Índice (%) salino Nitrato de amônio 34-00-00 101,7 Sulfato de amônio 21-00-00 69,0 Uréia 45-00-00 72,7 Nitrato de sódio 16-00-00 100,0 Superfosfato simples 00-20-00 7,8 Superfosfato triplo 00-45-00 10,1 MAP 11-55-00 26,9 DAP 18-46-00 29,0 Cloreto de potássio 00-00-60 116,3 Sulfato de potássio 00-00-54 46,1 Nitrato de potássio 14-00-46 73,6 Fertilizante FONTE: Fancelli (2000). NOTA: MAP - fosfato monoamônico; DAP fosfato diamônico. Além da dose, outras estratégias podem contribuir para a adubação potássica eficiente. Isto é importante porque o efeito salino vai interferir na arquitetura da raiz, a exemplo do que é mostrado na Figura 4 para a soja. Caso se tenha o solo corrigido, com K na CTC do solo em nível adequado e CTC com valores também satisfatórios pode-se optar por colocar o K em présemeadura. Essa operação reduz em muito o K na semeadura, o que proporciona germinação mais uniforme das plantas. Nitrogênio É de conhecimento amplo a importância do nitrogênio na cultura do milho de altas produtividades. A literatura tem mostrado resultados com até 200 kg ha-1 de N, para produtividades acima de 10 t ha-1. A resposta das culturas à adubação nitrogenada depende, além do suprimento de nitrogênio do solo, da dose aplicada, das características da planta e das condições de uso anteriores (OLIVEIRA; BALBINO, 1995), ou seja, depende diretamente da forma como a adubação foi realizada, da fonte empregada, das condições climáticas e do histórico da área ou sistema de cultivo. Em condições naturais, o N entra no sistema através da fixação biológica e/ou pela decomposição de resíduos de animais e vegetais. Do N contido no solo, cerca de 90% está na matéria orgânica em forma QUADRO 6 - Adubação de cobertura nitrogenada e de complementação potássica em milho Parcelamento/Tipo Época Condição ou indicação Nitrogênio (considerando o uso de 30 a 45 kg ha-1 de N na semeadura) 1 aplicação 4a a 6a folha Solos argilosos e regiões muito chuvosas 2 aplicações (1a) 4a folha Solos arenosos e condição de alta percolação de N (2a) 7a e 8a folha 3 aplicações (1a) 4a folha Sistemas de irrigação por pivô central (2a) 6a a 8a folha (3a) 10a folha Potássio (considerando o uso de até 60 kg ha-1 de K2O na semeadura) Pré-semeadura 1 a 8 semanas antes da semeadura Solos corrigidos participação do K na CTC > 1,5 e CTC do solo > 4,5 Cobertura A lanço Antes de as plantas emergirem Na superfície em faixas Até a 6a folha Incorporado Até a 8a folha Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 35 Figura 4 - Arquitetura de raiz em função da concentração de sais FONTE: Dados básicos: Teruel (1999 apud FANCELLI, 2000). estável, porém não disponível para as plantas. Este se torna disponível lentamente e em quantidades insuficientes para satisfazer as exigências das plantas de milho em crescimento, apenas cerca de 2%3% do N da matéria orgânica são convertidos para a forma disponível a cada ano (BELOW, 2002). E as plantas de milho requerem N em quantidades relativamente grandes, de 1,5% a 3,5% da massa seca da planta (STANGEL, 1984 apud BELOW, 2002). Como conseqüência, o restante do N tem que ser adicionado através de fertilizantes químicos. De acordo com Fancelli (2000) e Fancelli e Dourado Neto (2004), para o milho, o potencial de produção é definido precocemente, ou seja, por ocasião da emissão da 4a folha (diferenciação floral). O número de ovários e o número de óvulos contidos na espiga são afetados pela disponibilidade de N, além da temperatura, do genótipo, da radiação solar e da densidade de plantas (UHART; ANDRADE, 1995 apud FANCELLI, 2000). Na busca pela maior eficiência da adubação nitrogenada, três questões precisam ser respondidas: quanto, como e quando aplicar o N. As quantidades de N dependem diretamente da produtividade esperada, enquanto que a forma de aplicação está condicionada à fonte e ao sistema de cultivo da cultura. A época de aplicação relaciona-se mais diretamente com a eficiência no aproveitamento do nutriente pela planta. De qualquer forma, a adubação nitrogenada tem que ser planejada em função da produtividade almejada, aproveitandose o máximo possível o investimento com fertilizantes. Quanto de nitrogênio aplicar? A quantidade de N a ser fornecida para a cultura do milho de altas produtividades vai depender do sistema de plantio adotado (convencional ou direto, com ou sem rotação de culturas). No plantio convencional, os métodos indiretos de recomendação são basicamente dois: aplicar de 15 a 20 kg de N por tonelada a ser produzida (YAMADA, 1996), ou considerar a necessidade da cultura para produção de grãos e palhada, o fornecimento de N pelo solo através da matéria orgânica (MO) e Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006 resíduos da cultura e a eficiência de utilização do N (MENGEL, 1996), conforme Figura 5. Atualmente é vantajoso utilizar sistemas de produção planejados por sucessivas safras. Dessa forma, procura-se, através da rotação de culturas com exigências nutricionais diferentes, aproveitar melhor os resíduos de adubações anteriores. No SPD não há revolvimento do solo, com manutenção dos resíduos na superfície. A liberação de nutrientes, pelo processo de mineralização, depende, entre outros fatores, das práticas de manejo e das condições ambientais, da relação carbono/nitrogênio (C/N) dos resíduos. O cultivo do milho, após gramíneas ou leguminosas, apresenta um balanço diferenciado de N no solo, podendo influir no rendimento de grãos. O cultivo após gramíneas (aveia-preta, por exemplo) apresenta menor oferta de N na fase inicial, sobretudo, devido à relação C/N mais elevada, o que causa imobilização temporária de N. Para Sá (1993), a faixa de resposta para produtividades acima de 8.000 kg ha-1 seria de 40 a 120 kg ha-1 de N. O cultivo do milho após leguminosas apresenta maior oferta de N ao sistema, e, por conseqüência, menor resposta à adubação mineral. Nesse caso, Sá (1993) menciona que a faixa de resposta para produtividades superiores a 8.000 kg ha-1 situa-se entre 20 e 60 kg ha-1 de N. Dessa forma, para plantios de milho após soja, a recomendação é reduzir em 30 ou 40 kg de N na adubação nitrogenada de cobertura (RIBEIRO et al., 1999). Como aplicar o nitrogênio? Apesar de inúmeros estudos, ainda restam dúvidas sobre como aplicar o adubo nitrogenado, tanto no plantio convencional como no SPD, principalmente, com relação ao custo da adubação. O aproveitamento de N pela cultura do milho depende, ainda, da eficiência da fonte nitrogenada. Lara Cabezas e Yamada (1999) verificaram que a incorporação da uréia tem custo Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 36 Produção de Fornecimento pelo solo 10.000 kg ha-1 de grãos (1,4% de N) = 140 kg ha-1 de N + 10.000 kg ha-1 de palhada (1,1% de N) = 110 kg ha-1 de N 3% de MO (20 kg de N por 1% de MO) = 60 kg ha-1 de N + 30% de N na palhada (40 kg ha-1 de N) = 33 kg ha-1 de N Total = 250 kg ha-1 de N Total = 93 kg ha-1 de N Eficiência de utilização de N igual a 75% Necessidade de N via adubação (250 - 93) / 0,75 = 209,3 kg ha-1 de N Figura 5 - Necessidade de adubação nitrogenada para a cultura do milho FONTE: Dados básicos: Mengel (1996). NOTA: Para o milho após soja descontar 30-40 kg ha-1 MO - Matéria orgânica. de, aproximadamente, 4,5 vezes maior que sua aplicação na superfície. Entretanto, se para cada quilo de N volatilizado deixa-se de produzir 15 kg de grãos de milho, em média, incorporando-se a uréia teria lucro adicional de 120%, comparativamente com a não-incorporação. Resultados de diferentes anos de pesquisas mostraram perdas superiores a 40%, quando a uréia é aplicada na superfície da palha (LARA CABEZAS et al., 1997a), ou quando se compararam perdas entre aplicação superficial e incorporada (LARA CABEZAS et al., 2000). Em trabalho de Pöttker e Wiethölter (2000), a aplicação de N nas linhas de semeadura de milho, em geral, proporcionou rendimentos de grãos mais elevados que a aplicação a lanço, mas sem diferença significativa entre modos de aplicação. Em outro estudo, Lara Cabezas et al. (1997b) registraram perdas por volatilização acima de 30% e 70% de N aplicado como uréia, respectivamente, em plantio convencional e SPD (aplicação na superfície da palha). Já o nitrato e o sulfato de amônio, nas mesmas condições apresentaram perdas inferiores a 15%, quando aplicado na superfície nos dois sistemas de cultivo. Portanto, dependendo da forma de aplicação, deve-se optar por uma ou outra fonte de N. Quando aplicar o nitrogênio? A aplicação tem sido feita basicamente em três épocas: pré-semeadura, semeadura e cobertura, em uma ou mais épocas combinadas. No geral, recomenda-se fazer uma adubação de plantio, composta de 1/3 da adubação e uma (com 2/3) ou duas coberturas (com 1/3 + 1/3) com o restante da adubação. O N é um nutriente importante no estádio inicial de desenvolvimento da planta. É na segunda semana após a emergência, que é definido o potencial de produção (IOWA STATE UNIVERSITY, 1993 apud FANCELLI, 1997). Dessa forma, há necessidade da disponibilidade de, pelo menos, 30 kg ha-1 de N nesta fase da planta. Além disso, aproximadamente aos 20 dias após a emergência, a absorção de N por unidade de raiz/dia é cerca de sete vezes maior que no pendoamento e 16 vezes maior que no embonecamento (FANCELLI, 1997). Assim, a adubação de arranque é importante para suprir a alta demanda ini- cial exigida pelo sistema radicular incipiente da cultura. Segundo Ritchie et al. (1993 apud YAMADA, 1996), as curvas de absorção mostram que, mesmo nos híbridos de ciclo longo, a fase de maior absorção de N ocorre entre 30 e 60 dias após a emergência. Considerando que o N aplicado ao solo primeiro é retido pelos microrganismos e só depois de liberado (2 a 3 semanas ou mais) é absorvido pelas raízes. Pode haver déficit de N no período de maior necessidade de absorção de N, principalmente, quando se faz cobertura tardia ou se aplica pouco N no plantio. Em um campo de observação da Ciba Sementes, Yamada (1996) menciona aumentos de 2.085 kg ha-1 de grãos (35 sacas) quando a adubação de 15 kg ha-1 de N (plantio) mais 115 (em cobertura) foi alterada para 35 kg ha-1 (plantio) mais 85 (em cobertura). Da mesma forma, Davanso et al. (apud YAMADA; ABDALLA, 2000) observaram que os melhores resultados foram obtidos com aplicação de 40 kg ha-1 de N no plantio e 80 em cobertura no estádio V4 (quatro folhas totalmente abertas), em relação à adubação toda no plantio. No ano anterior, com melhor distribuição Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto de chuvas, estes mesmos autores verificaram não haver diferença significativa entre a adubação toda no plantio comparada com 40 kg ha-1 no plantio + 80 kg ha-1 em cobertura. De acordo com Silva e Buzetti (2000), a melhor época de aplicação da adubação nitrogenada foi metade da dose na semeadura e metade no estádio quatro a seis folhas desenvolvidas. Segundo Broch e Fernandes (2000), a aplicação de sulfato de amônio em cobertura aumentou a produtividade, independentemente, da adubação de plantio. Fórmulas contendo S e Zn aumentaram a produtividade em 24% (com fórmulas sem S e Zn, o aumento foi inferior a 10% em relação à testemunha, sem cobertura nitrogenada). Visando aumentar a disponibilidade de N nos estádios iniciais de desenvolvimento do milho, Basso et al. (1998ab) observaram que, quando 75% do N total recomendado (90 kg ha-1) foram aplicados até a semeadura (60 kg ha-1 27 dias antes da semeadura + 30 kg ha-1 no plantio – os 30 kg ha-1 restantes (25%) foram aplicados em cobertura), obteve-se o maior rendimento de grãos comparativamente ao manejo tradicional (semeadura mais cobertura). Silva et al. (2001) e Fuliaro et al. (2001) relatam que plantas que receberam 100% do N na semeadura tiveram maior produção de grãos. Em sistemas de rotação de milho e soja, Vanzela et al. (2001ab) encontraram maiores produções aplicando-se 90 kg ha-1, independentemente, do esquema de rotação adotado. Fósforo Solos do Cerrado são reconhecidos como possuidores de fertilidade natural baixa, fósforo nativo com teores reduzidos, cálcio, magnésio e micronutrientes baixos, acidez elevada e alta adsorção de fósforo. Ao contrário do nitrogênio e do potássio, que são mais exigidos pela planta de milho na fase inicial, apresentando resposta até a 12a folha, o fósforo tem seu requerimento durante todo o ciclo da cultura (Quadro 1). De acordo com Karlen et al. (1988), a planta de milho continua a absorver P do 37 devem-se considerar, além da questão relacionada com a adsorção do P, fatores que governam diretamente sua disponibilidade para as plantas, como por exemplo, a capacidade de armazenamento de água pelo solo, uma vez que, aqueles com mesmo teor de P disponível pode apresentar maior potencial produtivo em função da restrição ou não de água. Cabe lembrar que o fósforo é absorvido pelas plantas, preferencialmente, na forma iônica [-H2PO-4], e que as raízes absorvem o íon pelo processo de difusão, devido ao gradiente de concentração existente na solução do solo (MENGEL; KIRKBY, 1978). solo até próximo da maturação fisiológica dos grãos sem declínio aparente nos estádios. Além de ser exigido durante todo o ciclo da cultura, o P é o nutriente exportado em maior quantidade relativa, podendo exportar aproximadamente 90% da quantidade absorvida, de acordo com os dados mostrados no Quadro 2. Com o baixo retorno de P ao solo, aliado ao alto poder adsortivo dos solos do Cerrado, este nutriente é sabidamente um dos mais limitantes à cultura do milho. Neste aspecto, a rotação de culturas é altamente benéfica ao cultivo do milho sem degradação do solo. A recomendação para adubação fosfatada no estado de Minas Gerais é feita levando-se em consideração o teor de fósforo remanescente (P-rem), utilizado para determinação de classes de interpretação (Quadro 8). O método oficial para determinação de P disponível é o Mehlich 1. No entanto, ao recomendar fertilizante fosfatado para uma determinada área, Potássio O potássio é o segundo nutriente mais exportado relativamente e quantitativamente pela cultura do milho (cerca de 20 kg t-1 de grãos). O máximo acúmulo de K na planta de milho ocorre mais cedo em relação ao nitrogênio e ao fósforo. Segundo Fancelli (2000), plantas de milho respondem à aplica- QUADRO 8 - Classes de interpretação da disponibilidade de fósforo e potássio de acordo com o valor de fósforo remanescente (P-rem) Classificação (1) P-rem (mg L-1) Muito baixo (2) Baixo Médio Bom Muito bom (3) Fósforo disponível (P) (4) (mg dm-3) 0-4 3,0 3,1 - 4,3 4,4 - 6,0 6,1 - 9,0 > 9,0 4 - 10 4,0 4,1 - 6,0 6,1 - 8,3 8,4 - 12,5 > 12,5 10 - 19 6,0 6,1 - 8,3 8,4 - 11,4 11,5 - 17,5 > 17,5 19 - 30 8,0 8,1 - 11,4 11,5 - 15,8 15,9 - 24,0 > 24,0 30 - 44 11,0 11,1 - 15,8 15,9 - 21,8 21,9 - 33,0 > 33,0 44 - 60 15,0 15,1 - 21,8 21,9 - 30,0 30,1 - 45,0 > 45,0 (3) Potássio disponível (K) (4) (mg dm-3) – 15 16 - 40 (5) 41 - 70 71 - 120 > 120 (1) Concentração de fósforo da solução de equilíbrio após agitar durante 1h a TFSA com solução de CaCl2 10 mmol L-1, contendo 60 mg L-1 de P, na relação 1:10. (2) Nesta classe apresentamse os níveis críticos de acordo com o valor do fósforo remanescente. (3) Método Mehlich-1. (4) mg d m-3 = ppm (m v-1). (5) O limite superior desta classe indica o nível crítico. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 38 ção de K até atingirem 12a ou 14a folha, tendo acúmulo máximo por volta da 4a folha. A utilização de K no milho cultivado em solos do Cerrado aponta resposta até a dose de 300 kg ha-1 de K2O. Entretanto, recomenda-se não aplicar mais que 60 kg ha-1 de uma só vez no sulco de plantio, pois doses maiores podem levar a quedas de produtividade em função da redução na população de plantas pelo efeito salino dos adubos potássicos. Para minimizar o efeito salino, pode-se aplicar parte do fertilizante potássico em pré-semeadura ou fazendose uma ou mais coberturas. Aplicações tardias de potássio tendem a ser pouco eficientes, sobretudo se o fertilizante for aplicado em cobertura superficial e em solos argilosos, nos quais o aprofundamento do nutriente no solo por lixiviação é lento. Por esta razão, a adubação de cobertura deve ser feita quando a planta de milho apresentar no máximo seis folhas. Enxofre e micronutrientes A aplicação de enxofre para a cultura do milho é dependente da fonte de adubos utilizados no plantio ou em cobertura. Formulações com altas concentrações de NPK não contêm S, podendo, nesse caso, levar a deficiências em cultivos subseqüentes. A utilização de fertilizantes como superfosfato simples e sulfato de amônio pode fornecer enxofre suficiente para suprir as exigências da cultura. Para detectar deficiências no solo, recomenda-se amostrar o solo até a profundidade de 40 cm, uma vez que para este nutriente pode haver deficiência temporária. Para os solos do estado de Minas Gerais, a recomendação é aplicar 30 kg ha-1 de S por ocasião do plantio. Áreas submetidas a aplicações de gesso, em doses devidamente calculadas, não exigem aplicação de enxofre para a cultura do milho. A aplicação de micronutrientes tem como objetivo corrigir a deficiência do solo. Quando se pensa em altas produtividades com a cultura do milho cresce a preocupação com adubação e micronutrientes. No caso específico de micronutrientes com aplicação no solo, a correção deve ser feita gradativamente, porque o limite entre deficiência e toxidez é muito estreito. Sabese que o milho tem alta sensibilidade à deficiência de Zn, no entanto, apresenta sensibilidades inferiores ao Cu, Fe e Mn e muito pouca a B e Mo. Com relação ao Mo, temse verificado efeito benéfico da sua adição à cultura do milho. Araújo et al. (1996) mencionam que a aplicação de 90 g ha-1 de molibdênio, aos 15 dias após a emergência do milho, proporcionou acréscimo de 14,3% na produtividade. Estes autores também verificaram redução de nitrato nas folhas, quando o Mo foi aplicado aos 15 dias. Por outro lado, Coelho et al. (1998) não encontraram acréscimo na produtividade no consórcio feijão-milho, com aplicação de Mo (50 g ha-1 via foliar aos 25 dias após emergência). De maneira geral, para o estado de Minas Gerais, recomenda-se adicionar Zn à adubação de plantio à base de 1 a 2 kg ha-1 de Zn. Normalmente, utilizam-se formulações de fertilizantes contendo Zn ou aplicação de sulfato de zinco no solo com histórico de deficiências anteriores. Atualmente, tem sido utilizada adubação foliar com Zn. No cultivo de milho para silagem, recomendam-se quantidades mais elevadas de nutrientes, porque todo o material é cortado e removido do campo antes que a cultura complete seu ciclo. Nessas áreas, a exportação de nutrientes é maior e exige, por conseqüência, maior reposição através de adubações, sobretudo de N e K. Com relação ao K, deve-se ressaltar que as culturas, de maneira geral, apresentam consumo de luxo para esse elemento, o que pode provocar maior absorção de K que, mesmo adicionado em quantidades maiores será retirado do sistema pela cultura. Portanto, no cultivo para silagem recomenda-se planejar a adubação potássica de maneira que a planta fique bem nutrida e ainda haja disponibilidade após a colheita. constantes nestes Quadros para N foram modificados de acordo com sugestões da pesquisa, sendo que as quantidades totais continuam praticamente as mesmas. Houve modificação nas quantidades recomendadas para aplicação no plantio, com a conseqüente redução da cobertura, visando maior quantidade de N mais cedo para o milho e, assim, garantir todo o potencial produtivo da planta. REFERÊNCIAS ANDRADE, A.G. de; HAAG, H.P.; OLIVEIRA, G.D. de; SARRUGE, J.R. Acumulação diferencial de nutrientes por cinco cultivares de milho (Zea mays L.) - I: acumulação de macronutrientes. 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Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 42 Manejo da cultura do milho em Sistema Plantio Direto José Carlos Cruz 1 Israel Alexandre Pereira Filho 2 Ramon Costa Alvarenga 3 Miguel Marques Gontijo Neto 4 João Herbert Moreira Viana 5 Maurílio Fernandes de Oliveira 6 Derli Prudente Santana 7 Resumo - O Sistema Plantio Direto (SPD) consolidou-se como tecnologia conservacionista, largamente aceita entre os agricultores, havendo sistemas adaptados a diferentes regiões e níveis tecnológicos, do grande ao pequeno agricultor que usa tração animal. Para o sucesso do SPD, além do revolvimento mínimo do solo e do controle químico de plantas daninhas, são necessários a implantação de um programa de rotação de culturas e o estabelecimento de cobertura morta sobre a superfície do solo. A rotação que envolve as culturas da soja e do milho merece especial atenção, devido às extensas áreas que essas duas culturas ocupam e ao efeito benéfico em ambas. Para o milho safrinha, em que há sempre a expectativa de ocorrência de déficit hídrico, o SPD é essencial, pois geralmente promove o aumento no teor de água disponível para as plantas e permite o plantio o mais cedo possível, realizado imediatamente após a colheita. Hoje, sistemas de integração lavoura-pecuária, que consistem no cultivo em rotação e/ou consorciação de culturas anuais como milho, sorgo e milheto, com espécies forrageiras, principalmente as braquiárias, representam excelente alternativa, que envolve a cultura do milho em SPD. Palavras-chave: Zea mays. Cultivar. Prática cultural. Rotação. Climatologia. Cultura de cobertura. INTRODUÇÃO Dos cereais cultivados no Brasil, o milho é o mais expressivo, com cerca de 40,8 milhões de toneladas de grãos produzidos, em área de, aproximadamente, 12,55 milhões de hectares (CONAB, 2006), referente a duas safras, normal e safrinha. Por suas características fisiológicas, a cultura do mi- lho tem alto potencial produtivo e já foi obtida produtividade superior a 16 t ha-1, em concursos conduzidos por órgãos de assistência técnica e extensão rural e por empresas produtoras de semente (COELHO et al., 2003). No entanto, o nível médio nacional de produtividade é muito baixo, cerca de 3.250 kg ha-1, demonstrando que os diferentes sistemas de produção de milho deverão ser ainda bastante aprimorados para obter aumento na produtividade e na rentabilidade que a cultura pode proporcionar. Neste artigo, são discutidos aspectos relacionados com a escolha de cultivares, exigências climáticas e cuidados no plantio da cultura do milho, levando em consideração esses diferentes sistemas. 1 Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected] 2 Engo Agro, M.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected] 3 Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected] 4 Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected] 5 Engo Agro, D.Sc.,Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected] 6 Engo Agro, Pós-Doc, Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: maurilio.oliveira@cnpms. embrapa.br 7 Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected] Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto MILHO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO (SPD) Em termos de modernização da agricultura brasileira, a utilização do Sistema Plantio Direto (SPD) é uma realidade inquestionável e a participação da cultura do milho em sistemas de rotação e sucessão (safrinha) de culturas para assegurar a sustentabilidade de SPD é fundamental. A área plantada nesse sistema tem aumentado rapidamente, no Brasil, nos últimos anos. Estima-se que, hoje, o SPD cubra mais de 25 milhões de hectares, ou seja, cerca de 50% da área com culturas anuais no País. O SPD consolidou-se como tecnologia conservacionista, largamente aceita entre os agricultores, havendo sistemas adaptados a diferentes regiões e aos diferentes níveis tecnológicos, do grande ao pequeno agricultor que usa a tração animal. Requer cuidados na implantação, mas, depois de estabelecido, seus benefícios estendem-se não apenas ao solo e, conseqüentemente, ao rendimento das culturas e à competitividade dos sistemas agropecuários, mas também devido à drástica redução da erosão, reduz o potencial de contaminação do meio ambiente e dá ao agricultor maior garantia de renda, pois a estabilidade da produção é ampliada, em comparação aos métodos tradicionais de manejo de solo. Por seus efeitos benéficos sobre os atributos físicos, químicos e biológicos do solo, pode-se afirmar que o plantio direto é uma ferramenta essencial para alcançar a sustentabilidade dos sistemas agropecuários (CRUZ et al., 2001). A cultura do milho tem a vantagem de deixar grande quantidade de restos culturais que, uma vez bem manejados, podem contribuir para reduzir a erosão e melhorar o solo. Dessa forma, sua inclusão em esquema de rotação é fundamental. A sustentabilidade do sistema de produção não está apoiada apenas em aspectos de conservação e preservação ambiental, mas também nos aspectos econômicos e comerciais. 43 ROTAÇÃO DE CULTURA A rotação que envolve as culturas da soja e do milho merece especial atenção, devido às extensas áreas que essas duas culturas ocupam e ao efeito benéfico em ambas (Quadro 1). Nessa rotação, como se observa no Quadro 1, o milho plantado após a soja produziu cerca de 9% a mais e a soja plantada após o milho produziu 5% e 15% a mais, quando comparados com os plantios contínuos. Existem experimentos que demonstram os efeitos benéficos do milho, ao se estender até ao segundo ano da soja plantada após a rotação (Quadro 2). Nesse exemplo, a soja produziu 20,3% a mais no primeiro ano após o milho e 10,5% no segundo. Essa diferença foi atribuída, além da menor incidência de pragas e doenças, à maior quantidade de nutrientes deixados pela palha do milho, principalmente o potássio, do qual a soja é exigente. Na escolha da rotação de culturas, especial atenção deve ser dada às exigências nutricionais das espécies escolhidas e à sua capacidade de extrair nutrientes do solo, ao que a soja e o milho se complementam satisfatoriamente. Na implantação e na condução de um sistema eficiente de plantio direto, é indispensável que o esquema de rotação de culturas promova, na superfície do solo, a manutenção permanente de palhada, que nunca deverá ser inferior a 2,0 t ha-1 de massa seca. Como segurança, recomendase que sejam adotados sistemas de rotação que produzam, em média, 6,0 t ha-1 ano-1 ou mais de massa seca. Nesse caso, a soja contribui com muito pouco, raramente ultrapassando 2,5 t ha-1 de massa seca (RUEDELL, 1998). Por outro lado, a cultura do milho, de ampla adaptação a diferentes condições, tem ainda a vantagem de deixar grande quantidade de restos culturais, que, bem manejados, podem contribuir para reduzir a erosão e melhorar o solo (FIORIN; CAMPOS,1998). No Sul do Brasil, devido às condições climáticas mais favoráveis, há maiores opções de rotação de culturas, que envolvem tanto as culturas de verão como as de QUADRO 1 - Efeito da rotação soja milho sobre o rendimento destas culturas Rendimento (kg ha-1) Rotação (A) (B) 9.680 (100%) 6.160 (100%) 10.520 (109%) 6.732 (109%) Soja após soja 3.258 (100%) 2.183 (100%) Soja após milho 3.425 (105%) 2.517 (115%) Milho após milho Milho após soja FONTE: Dados básicos: (A) Cruz (1982) e (B) Muzilli (1981) (apud DERPSCH, 1986). QUADRO 2 - Rendimento de grãos de soja, em kg ha-1, no primeiro e segundo ano após milho, comparado ao rendimento da soja sem rotação, conduzidos em Sistema Plantio Direto (SPD) Ano Tratamento Média 1987/ 1988 1988/ 1989 1989/ 1990 1990/ 1991 1991/ 1992 1992/ 1993 1993/ 1994 1o ano após milho 1.838 3.366 3.980 1.883 4.456 4.691 2.746 3.280 2o ano após milho 1.499 3.234 3.730 1.716 4.340 3.979 2.589 3.012 Sem milho 1.440 3.180 3.724 1.136 3.663 3.565 2.378 2.727 FONTE: Dados básicos: Ruedell (1995). Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 44 inverno. No Brasil Central, as condições climáticas, com quase total ausência de chuvas entre os meses de maio e agosto, dificultam a existência de cultivos de inverno, exceto em algumas áreas com microclima adequado ou com agricultura irrigada. Essa situação dificulta ou deixa poucas opções para o estabelecimento de culturas comerciais ou mesmo culturas de cobertura, isto é, culturas cuja finalidade principal é aumentar o aporte de restos culturais sobre a superfície do solo, exigindo que estas tenham características peculiares, como rápido desenvolvimento inicial e maior tolerância à seca. CULTURA DE COBERTURA No início do SPD, é importante priorizar a cobertura e o perfil de fertilidade do solo, principalmente se as áreas apresentarem certo grau de degradação. Durante o seu crescimento e desenvolvimento, as espécies de cobertura contribuem efetivamente para a proteção do solo, bem como para a manutenção de seus resíduos vegetais (palhada) na superfície do solo. A cobertura vegetal (viva ou morta) representa a essência do SPD, pois tem efeito na interceptação das gotas de chuva, evitando o impacto direto sobre a superfície do solo, reduzindo tanto a desagregação das partículas, que é a fase inicial do processo erosivo, quanto a velocidade de escorrimento das enxurradas, melhora ou mantém a capacidade de infiltração de água, diminuindo o efeito da desagregação do solo e evitando o selamento superficial, provocado pela obstrução dos poros com partículas finas desagregadas. Além disso, protege o solo da radiação solar, diminui a variação térmica do solo, reduzindo a evaporação de água e favorecendo o desenvolvimento de microrganismos, e ainda ajuda no controle de plantas daninhas (ROSOLEM et al., 2003). Das espécies utilizadas como cultura de cobertura, algumas merecem destaque, por seus benefícios físico-químicos ao solo, entre elas a aveia-preta, a ervilhacapeluda e o nabo-forrageiro, como plantas antecessoras de inverno (ROS; AITA, 1996; AMADO et al., 2000). Utilizando essas espécies e o consórcio entre elas antecedendo ao cultivo do milho em SPD, Martins e Rosa Junior (2005) concluíram que o uso da cultura antecessora não influenciou a produtividade do milho, que a aveia-preta foi mais eficiente em manter o solo coberto por maior tempo e aumentou o grau de floculação do solo. As culturas de milho e da aveia integradas e de forma planejada, no sistema de rotação, proporcionam alto potencial de produção de fitomassa, com elevada relação carbono/nitrogênio (C/N), garantindo a manutenção de cobertura do solo, dentro da quantidade mínima preconizada e por maior tempo de permanência na superfície. Diversos artigos relatam o efeito de culturas de cobertura sobre a produtividade e a resposta à adubação nitrogenada, na cultura do milho (BASSO; CERETTA, 2000; GONÇALVES et al., 2000; SOUZA et al., 2003; CERETA et al., 2002; VARGAS et al., 2005; LARA CABEZAS et al., 2004). O uso generalizado do SPD e de culturas de cobertura, no Sul do País, criou a necessidade de recomendar adubação nitrogenada para a cultura do milho adaptada a esse novo cenário (AMADO et al., 2002). No Brasil Central, as condições climáticas, com quase total ausência de chuvas entre os meses de maio e agosto, dificultam os cultivos de inverno, exceto em algumas áreas com microclima adequado ou com agricultura irrigada. Essa situação dificulta ou deixa poucas opções para o estabelecimento de culturas comerciais ou mesmo culturas de cobertura, isto é, culturas cuja finalidade principal é aumentar o aporte de restos culturais sobre a superfície do solo, exigindo que estas tenham características peculiares, como rápido desenvolvimento inicial e maior tolerância à seca. Bertin et al. (2005) relatam que o plantio direto não deve ser visto como receita universal, mas como um sistema que exige adaptações locais. Em regiões de clima tropical, temperatura e umidade elevadas favorecem a rápida decomposição dos resíduos vegetais, dificultando a formação de camada adequada de cobertura morta. Além do aumento na velocidade de decomposição do material vegetal, provocada pelas altas temperaturas, as culturas anuais não produzem quantidade suficiente de fitomassa, e são rapidamente metabolizadas pelos microrganismos do solo. Sem cobertura, o solo se adensa mais facilmente, retém menor quantidade de água, atinge facilmente altas temperaturas e fica mais suscetível à erosão, comprometendo o sistema. Portanto, na seleção de espécies destinadas à cobertura do solo em SPD, deve-se levar em consideração a quantidade e a qualidade dos resíduos vegetais, bem como sua capacidade de reciclagem de nutrientes, com impacto direto nos atributos químicos, físicos e biológicos do solo e na resposta das culturas subseqüentes em SPD (LIMA et al., 2005). Trabalhando com várias opções de rotação de culturas de verão (safra normal) e de safrinha, na região de Rio Verde, GO, Ferreira (1998) constatou que as maiores produtividades de milho ocorrem sobre as palhadas de algodão, girassol, guandu e nabo-forrageiro, enquanto que, para a cultura da soja, as melhores respostas foram sobre as palhadas de milho, aveia, sorgo e milheto. Hoje, sistemas de integração lavourapecuária, os quais envolvem culturas e forrageiras, principalmente as braquiárias, apresentam essas condições e representam excelente alternativa, que envolve a cultura do milho no SPD. Um exemplo é o Sistema Santa Fé. Neste Sistema, quando as condições climáticas permitem, cultivam-se seqüencialmente uma a duas culturas solteiras por ano e uma última, a safrinha, que consiste de consórcio de uma cultura com uma gramínea forrageira. A exploração agrícola, nessas condições, caracteriza-se por um cultivo solteiro no início da estação chuvosa, seja soja, milho, ou arroz, e um cultivo de safrinha de milho ou sorgo associado a uma forrageira, comumente a Brachiaria brizantha (OLIVEIRA et al., 2001). Geralmente, utilizam- Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto se como cultura de safrinha o milho, o sorgo ou o milheto, também em SPD. Como resultado, têm-se, a partir do segundo ano ou mais de cultivo, solos agricultáveis corrigidos, com altos níveis de fertilidade e fisicamente estruturados. Essas áreas, inicialmente de fertilidade comprometida, passam a apresentar altos teores de matéria orgânica, baixos níveis de acidez e elevada infiltração de água no solo, em relação às áreas onde ainda se utilizam práticas de cultivo tradicionais (OLIVEIRA et al., 2001). Outro enfoque do Sistema Santa Fé é sua implantação anual, em regiões onde as condições climáticas não permitem a safrinha, consistindo no cultivo consorciado de culturas anuais como milho, sorgo e milheto, com espécies forrageiras, principalmente as braquiárias, em áreas agrícolas, em solos parcial ou devidamente corrigidos. As práticas que compõem o Sistema minimizam a competição precoce da forrageira, evitando redução do rendimento das culturas anuais, o que permite, após a colheita destas, a produção forrageira abundante e de alta qualidade para a alimentação animal, além de palhada em quantidade e qualidade para a realização do plantio direto na safra seguinte (COBUCCI et al., 2001). MILHO SAFRINHA X SISTEMA PLANTIO DIRETO (SPD) A implantação do milho safrinha, no final do período chuvoso, deixa o agricultor na expectativa de ocorrência de déficit hídrico durante o ciclo da cultura. Assim, toda estratégia de manejo do solo deve levar em consideração maior quantidade de água disponível para as plantas. Nesse caso, sempre que possível, deve-se optar pelo SPD, pois oferece maior rapidez nas operações, principalmente no plantio realizado simultaneamente à colheita, permitindo o plantio mais cedo. Além disso, o SPD, com adequada cobertura da superfície do solo, permitirá o aumento da infiltração da água no solo e a redução da evaporação, com conseqüente aumento no teor de água disponível para as plantas. 45 Em algumas áreas de plantio direto, já se constatou aumento do teor de matéria orgânica do solo, afetando a curva de retenção de umidade e aumentando ainda mais o teor de umidade para as plantas. Embora exista grande diversidade de preparo de áreas para o cultivo do milho na segunda safra, predomina o emprego do Plantio Direto Permanente (PDP) ou Temporário (PDT), visando antecipar a implantação do milho safrinha. No PDT, realiza-se a semeadura direta do milho safrinha e o preparo convencional para a soja. Nesse caso, no verão, tem sido freqüente o preparo com grades. Em áreas com grande infestação de plantas daninhas, no momento da colheita da soja, e quando o agricultor não dispõe de máquina para semeadura direta, utiliza-se o preparo com grades no outonoinverno. Uma desvantagem da grade aradora é que provoca grande pulverização do solo. Além disso, o uso da grade continuamente no verão e na safrinha, por anos sucessivos, pode provocar a formação do “pé-de-grade”, uma camada compactada logo abaixo da profundidade de corte da grade, a 10-15 cm. Essa camada reduz a infiltração de água no solo, o que, por sua vez, irá favorecer maior escorrimento superficial e, conseqüentemente, a erosão do solo e a redução da produtividade do milho safrinha (DE MARIA; DUARTE, 1997; DE MARIA et al., 1999) (Quadro 3). CONDIÇÕES CLIMÁTICAS O período de crescimento e desenvolvimento do milho é limitado pela água, temperatura e radiação solar ou luminosidade. A cultura do milho necessita que os índices dos fatores climáticos, especialmente a temperatura, precipitação e fotoperíodo, atinjam níveis considerados ótimos, para que o seu potencial genético de produção se expresse ao máximo. Temperatura A temperatura possui relação complexa com o desempenho da cultura, uma vez que a condição ótima varia com os diferentes estádios de crescimento e desenvolvimento da planta. A temperatura da planta é basicamente a mesma do ambiente que a envolve. Devido a esse sincronismo, flutuações periódicas influenciam nos processos metabólicos que ocorrem no interior da planta. Nos momentos em que a temperatura é mais elevada, o processo metabólico é mais acelerado e, nos períodos mais frios, o metabolismo tende a diminuir. Essa oscilação metabólica ocorre dentro dos limites extremos tolerados pela planta de milho, compreendido entre 10oC e 30oC. Abaixo de 10oC, por períodos longos, o crescimento da planta é quase nulo e, sob temperaturas acima de 30oC, também por períodos longos, durante a noite, o rendimento de grãos decresce, em razão do consumo dos pro- QUADRO 3 - Rendimento de grãos da soja e do milho safrinha, em Latossolo Roxo, em Tarumã, SP, no ano agrícola 1995/1996, após dez anos de implantação de sistemas de manejo do solo Rendimento de grão Manejo do solo Safra de soja Safrinha de milho kg ha-1 % kg ha-1 % Grade aradora/Grade aradora 2.579 78 4.678 77 Escarificador + Grade niveladora/Grade niveladora 3.130 94 5.404 89 Escarificador + Grade niveladora/Semeadura na palha 3.144 95 5.682 94 Sistema Plantio Direto 3.310 100 6.046 100 FONTE: De Maria et al. (1999). Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 46 dutos metabólicos elaborados durante o dia. Temperaturas noturnas elevadas, por longos períodos, causam diminuição do rendimento de grãos e provocam senescência precoce das folhas (APRAKU et al., 1983) A temperatura ideal para o desenvolvimento do milho, da emergência à floração, está compreendida entre 24oC e 30oC. Comparando-se temperaturas médias diurnas de 25oC, 21oC e 18oC, verificou-se que o milho obteve maior produção de matéria seca e maior rendimento de grãos na temperatura de 21oC (WILSON et al., 1973). A queda do rendimento sob temperaturas elevadas deve-se ao curto período de enchimento de grãos, em virtude da diminuição do ciclo da planta (APRAKU et al., 1983). A planta de milho precisa acumular quantidades distintas de energia ou simplesmente unidades calóricas necessárias a cada etapa de crescimento e desenvolvimento. A unidade calórica é obtida através da soma térmica necessária para cada etapa do ciclo da planta, desde o plantio até o florescimento masculino. O somatório térmico é calculado através das temperaturas máximas e mínimas diárias, sendo 30oC e 10oC, respectivamente, as temperaturas referenciais para o cálculo. Com relação ao ciclo, as cultivares são classificadas em normais ou tardias, semiprecoces, precoces e superprecoces. Segundo Fancelli e Dourado Neto (2000), as cultivares normais apresentam exigências térmicas correspondentes a 890-1.200 graus-dia, as precoces, de 831 a 890 e as superprecoces, de 780 a 830 graus-dia. Essas exigências calóricas referem-se ao intervalo das fases fenológicas compreendidas entre a emergência e o início da polinização. Dos materiais existentes hoje no mercado, 25,25% são classificados como hiperprecoces e superprecoces. As cultivares classificadas como precoces representam 65% e as cultivares semiprecoces e normais representam 14,75% das opções de mercado, respectivamente (CRUZ; PEREIRA FILHO, 2005). Umidade do solo O milho é muito exigente em água. Entretanto, pode ser cultivado em regiões onde as precipitações vão de 250 mm até 5.000 mm anuais, sendo que a quantidade de água consumida pela planta, durante seu ciclo, está em torno de 600 mm (CRUZ et al., 1993). O consumo de água pela planta, nos estádios iniciais de crescimento, num clima quente e seco, raramente excede 2,5 mm dia-1. Durante o período compreendido entre o espigamento e a maturação, o consumo pode-se elevar para 5 a 7,5 mm diários. Mas se a temperatura estiver muito elevada e a umidade do ar muito baixa, o consumo de água poderá chegar até 10 mm dia-1 (AVELAR, 1986; MARINATO, 1980; MATZENAUER et al. , 1981). A ocorrência de déficit hídrico na cultura do milho pode ocasionar danos em todas as fases. Na fase do crescimento vegetativo, devido ao menor elongamento celular e à redução da massa vegetativa, há diminuição na taxa fotossintética. Após o déficit hídrico, a produção de grãos é afetada diretamente, pois a menor massa vegetativa possui menor capacidade fotossintética. Na fase do florescimento, a ocorrência de dessecação dos estilosestigmas (aumento do grau de protandria), aborto dos sacos embrionários, distúrbios na meiose, aborto das espiguetas e morte dos grãos de pólen resultarão em redução no rendimento (VALOIS, 1982). Déficit hídrico na fase de enchimento de grãos afetará o metabolismo da planta e o fechamento de estômatos, reduzindo a taxa fotossintética e, conseqüentemente, a produção de fotoassimilados e sua translocação para os grãos. Fotoperíodo Entre os componentes climáticos que afetam a produtividade do milho, está o fotoperíodo, representado pelo número de horas de luz solar, o qual é um fator climático de variação sazonal, mas que não apresenta muita variação de ano para ano. O milho é considerado planta de dias curtos, embora algumas cultivares tenham pouca ou nenhuma sensibilidade às variações do fotoperíodo. O aumento do fotoperíodo faz com que a duração da etapa vegetativa aumente e proporcione também incremento no número de folhas emergidas durante a diferenciação do pendão e do número total de folhas produzidas pela planta. Nas condições brasileiras, o efeito do fotoperíodo na produtividade do milho é praticamente insignificante. Radiação solar A radiação solar é um dos parâmetros de extrema importância para a planta de milho, sem a qual o processo fotossintético é inibido e a planta é impedida de expressar o seu máximo potencial produtivo. Grande parte da matéria seca do milho, cerca de 90%, provém da fixação de CO2 pelo processo fotossintético. O milho é uma planta do grupo C4, altamente eficiente na utilização da luz. Uma redução de 30% a 40% da intensidade luminosa, por períodos longos, atrasa a maturação dos grãos ou pode ocasionar até mesmo queda na produção. Em pesquisa para avaliar a produção de sementes, verificou-se que o milho semeado em outubro teve redução na produtividade e no rendimento de sementes beneficiadas, quando comparado com a semeadura em março, que apresentou 60% a mais na produtividade e maiores valores no rendimento de beneficiamento nas peneiras 24, 22 e 20 e menores na peneira 18 e no resíduo final. Essa diferença foi atribuída ao fato de o período de enchimento de grãos do milho semeado em outubro ter ocorrido no mês de janeiro, quando se constatou longo período com alta nebulosidade, com grande freqüência de período chuvoso durante o dia, ou seja, com redução na radiação fotossinteticamente ativa, necessária para implementar o processo fotossintético. CULTIVAR Sem dúvida alguma, o primeiro passo na produção do milho é a escolha da semente. O potencial produtivo do milho é o Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto somatório do potencial genético da semente (47,75%) e das condições ambientais e manejo cultural (52,25%) (DUVICK,1992). Conseqüentemente, a escolha correta da semente pode ser a razão do sucesso ou insucesso da lavoura. Existem, no mercado brasileiro, mais de 230 tipos de cultivares de milho e a escolha, com base no gosto pessoal, disponibilidade e preço, pode não ser a melhor. Dessa forma, pode-se afirmar que existem cultivares adaptadas a qualquer região do País e a qualquer sistema de produção, sendo provavelmente o insumo moderno de uso mais generalizado na cultura do milho. A escolha de cada cultivar deve atender a necessidades específicas. Para isso, o produtor deve fazer uma avaliação completa das informações geradas pela pesquisa, assistência técnica, empresas produtoras de sementes, experiências regionais e pelo comportamento de safras passadas. De acordo com o grau de melhoramento genético, encontram-se, hoje, no mercado, variedades, híbridos duplos, triplos e simples, mas os triplos e simples podem ser modificados ou não. As sementes das variedades melhoradas são de menor custo e, com os devidos cuidados na multiplicação, podem ser reutilizadas por alguns anos, sem diminuição substancial da produtividade. São, ainda, de grande utilidade em regiões onde, devido às condições econômico-sociais e de baixa tecnologia, a utilização de milho híbrido torna-se inviável. Os híbridos só têm alto vigor e produtividade na primeira geração (F1). É necessária a aquisição de sementes híbridas todos os anos. Se os grãos colhidos forem semeados, o que corresponde a segunda geração (F2), haverá redução, dependendo do tipo do híbrido, de 15% a 40% na produtividade, perda de vigor e grande variação entre plantas. Os híbridos simples são potencialmente mais produtivos que os de outros tipos, apresentando maior uniformidade de plantas e espigas. São também os mais caros. Os híbridos triplos também são bastante uniformes e seu potencial produtivo é intermediário entre os híbridos simples e du- 47 plos. O mesmo ocorre com o preço de suas sementes. Os híbridos duplos são pouco mais variáveis em características da planta e da espiga que os simples e triplos. O custo da semente dos duplos é mais baixo que o preço da semente dos simples e triplos. Considerando que esses diferentes tipos de cultivares apresentam grande variação tanto no custo da semente como no seu potencial produtivo, é óbvio que a escolha da cultivar deve levar em conta o sistema de produção que o agricultor usará. De nada adianta usar semente de alto potencial produtivo e de maior custo, se o manejo e as condições da lavoura não permitirem que a semente expresse o seu potencial genético. Na safra de 2005/2006, foram comercializadas 237 cultivares de milho, sendo que 29 foram lançadas, substituindo 22 que deixaram de ser comercializadas, demonstrando a dinâmica dos programas de melhoramento e a importância do uso de semente no aumento da produtividade. Existem, no mercado, variedades e híbridos. Verifica-se crescente aumento no número de híbridos simples, modificados ou não (Quadro 4). Os híbridos simples e triplos, modificados ou não, representam hoje cerca de 65,3% das opções para os produtores, mostrando tendência na agricultura brasileira e maior necessidade de aprimorar os sistemas de produção utilizados para melhor explorar o potencial genético dessas sementes (CRUZ; PEREIRA FILHO, 2005). As cultivares classificadas como precoces representam 64,55% das opções de mercado. Normalmente, as novas cultivares disponibilizadas no mercado apresentam elevado potencial genético, além de outras vantagens relativas a aspectos fitossanitários, físicos e fisiológicos, capazes de proporcionar altas produtividades. Para isso, informações, como o comportamento das cultivares em relação às principais doenças, tipo de híbrido, ciclo, região de adaptação, cor e textura de grãos, época e densidade de plantio recomendada, entre outras, são fornecidas, para que os agricultores possam explorar ao máximo o potencial genético dessas cultivares. Praticamente, para toda cultivar comercial são apresentadas informações, pela empresa responsável pelas sementes, sobre o comportamento da cultivar em relação às principais doenças. Com essas informações, os agricultores poderão optar pelo plantio de cultivares mais resistentes às principais doenças que ocorrem em sua região. ÉPOCA DE SEMEADURA O período de crescimento e desenvolvimento é afetado pela umidade do solo, temperatura, radiação solar e fotoperíodo. A época de plantio é função desses fatores, cujos limites extremos são variáveis em cada região agroclimática (MUNDSTOCK, 1995). A época de semeadura mais adequada é aquela que faz coincidir o período de floração com os dias mais longos do ano e a etapa de enchimento de grãos com QUADRO 4 - Distribuição porcentual do número de cultivares de milho disponíveis no mercado nas últimas safras Tipo de cultivar 2002/2003 2003/2004 2004/2005 2005/2006 Híbridos simples 34,8 35,7 37,6 40,0 Híbridos triplos 31,3 29,7 28,4 25,3 Híbridos duplos 20,5 22,4 22,7 22,3 Variedades 13,4 12,2 11,3 12,4 Total de cultivares 207 233 230 237 Eliminadas/Novas 13 / 25 9 / 35 35 / 32 22 / 29 Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 48 o período de temperaturas mais elevadas e alta disponibilidade de radiação solar. Isto, considerando satisfeitas as necessidades de água pela planta. Gomes (1991) verificou que as épocas em que obteve rendimento de grãos maiores e mais estáveis foram aquelas em que os estádios de desenvolvimento de quatro folhas totalmente desenvolvidas e a floração ocorrem sob boas condições de água no solo. Nas condições tropicais, devido à menor variação da temperatura e do comprimento do dia, a distribuição de chuvas é que geralmente determina a melhor época de semeadura. No Sul do Brasil, o milho geralmente é plantado de agosto a setembro e, à medida que se caminha para os Estados do CentroOeste e Sudeste, a época de semeadura varia de outubro a novembro. Resultados de pesquisa mostram que atraso na época de plantio, além dos meses de setembro e outubro, resultam em redução no ciclo da cultura e no rendimento de grãos. Segundo Oliveira (1990), a época de semeadura afeta várias características da planta, ocorrendo decréscimo mais acentuado no número de espigas por planta (prolificidade) e no rendimento de grãos. Este autor relata ainda que resultados da literatura mostram que o atraso na semeadura pode resultar em perdas que podem ser superiores a 60 kg ha-1 dia-1. Essa tendência pode ser revertida se não houver déficit hídrico e ocorrer a redução na temperatura do ar, nos meses de fevereiro e março. Por ser plantado no final da época recomendada, o milho safrinha tem sua produtividade bastante afetada pelo regime de chuvas e por fortes limitações de radiação solar e temperatura, na fase final de seu ciclo. Além disso, como o milho safrinha é plantado após uma cultura de verão, a sua data de plantio depende da época do plantio dessa cultura e de seu ciclo. Assim, o planejamento do milho safrinha começa com a cultura do verão, visando liberar a área o mais cedo possível. Quanto mais tarde for o plantio, menor será o potencial e maior o risco de perdas por seca e/ou geadas (ALFONSI; CAMARGO, 1998; OLIVEIRA et al., 1998; QUIESSI et al. ,1999; BRUNINI et al., 1998; DUARTE et al., 2000). Hoje, com os avanços nos trabalhos na área de climatologia, o Brasil já tem um Zoneamento Agrícola, elaborado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que fornece informações sobre as épocas de plantio de milho tanto na safra como na safrinha, com menores riscos, para quase todo o País. Nas regiões onde não ocorrem geadas, o plantio do milho poderá ser feito o ano todo, mas o agricultor deverá levar em consideração as alterações no ciclo da cultura, que afetarão a época de colheita e, conseqüentemente, o calendário agrícola, podendo afetar a época de plantio de culturas subseqüentes, como mostrado no Quadro 5. Além disso, o potencial produtivo pode variar de acordo com as condições climáticas resultantes da época de plantio. Experimento com milho irrigado, realizado no Rio Grande do Sul, mostrou que os rendimentos de grãos foram, em média, 15% e 48% inferiores na semeadura de agosto e dezembro, respectivamente, em relação à de outubro. Essas diferenças foram atribuídas a alterações na quantidade de radiação solar disponível, em decorrência da época de plantio. No plantio em dezembro, a alta porcentagem de plantas estéreis pode também ter contribuído para o baixo rendimento de grãos (SILVA et al.,1999) . PROFUNDIDADE DE SEMEADURA A profundidade de semeadura está condicionada aos fatores temperatura do solo, umidade e tipo de solo. A semente deve ser colocada numa profundidade que possibilite bom contato com a umidade do solo. Entretanto, a maior ou menor profundidade de semeadura vai depender do tipo de solo. Em solos mais pesados, com drenagem deficiente ou com fatores que dificultam o alongamento do mesocótilo, atrapalhando a emergência de plântulas, as sementes devem ser colocadas entre 3 e 5 cm de profundidade. Em solos mais leves ou arenosos, as sementes podem ser colocadas numa profundidade entre 5 e 7 cm, para se beneficiarem do maior teor de umidade do solo. QUADRO 5 - Variação do ciclo de cultivares de milho em função da época de plantio, para a produção de milho verde Época de semeadura Normal Precoce Superprecoce 05 de fevereiro 124 117 108 05 de março 134 129 127 06 de abril 145 140 138 05 de maio 139 138 137 08 de junho 138 133 131 09 de junho 146 134 125 12 de agosto 124 119 118 08 de setembro 125 118 115 07 de outubro 115 112 106 08 de novembro 116 112 107 09 de dezembro 115 115 112 FONTE: SANS et al. (apud CRUZ et al., 1993). Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto No SPD, onde há sempre acúmulo de resíduos na superfície do solo, especialmente em regiões mais frias, a cobertura morta retarda a emergência, reduz o estande e, em alguns casos pode até causar queda no rendimento de grãos da lavoura, dependendo da profundidade em que a semente foi colocada. O Quadro 6 mostra o efeito da profundidade de semeadura sobre a emergência, o vigor e a duração do período de emergência na cultura do milho. Contrário à crença popular, a profundidade de semeadura tem influência mínima na profundidade do sistema radicular definitivo, que se estabelece logo abaixo da superfície do solo. DENSIDADE DE PLANTIO A densidade de plantio ou estande, definida como o número de plantas por unidade de área, tem papel importante no rendimento de uma lavoura de milho, uma vez que pequenas variações na densidade têm grande influência no rendimento final da cultura. O milho é a gramínea mais sensível à variação na densidade de plantas. Para cada sistema de produção, existe a população que maximiza o rendimento de grãos. A população ideal para maximizar o rendimento de grãos de milho varia de 30 mil a 90 mil plantas ha-1, dependendo da disponibilidade hídrica, da fertilidade do solo, do ciclo 49 da cultivar, da época de semeadura e do espaçamento entrelinhas (SANGOI, 2001). Vários pesquisadores consideram o próprio genótipo como principal determinante da densidade de plantas (SILVA et al.,1999). O aumento da densidade de plantas até determinado limite é a técnica usada com finalidade de elevar o rendimento de grãos da cultura do milho. Porém, o número ideal de plantas por hectare é variável, uma vez que a planta de milho altera o rendimento de grãos de acordo com o grau de competição intra-específica proporcionado pelas diferentes densidades de planta (SILVA et al.,1999). O rendimento do milho aumenta com a elevação da densidade de plantio, até atingir uma densidade ótima, que é determinada pela cultivar e por condições externas, tais como edafoclimáticas do local e do manejo da lavoura. A partir da densidade ótima, quando o rendimento é máximo, aumento na densidade resultará em decréscimo progressivo na produtividade da lavoura. A densidade ótima é, portanto, variável para cada situação e, basicamente, depende de três condições: cultivar, disponibilidade hídrica e do nível de fertilidade de solo. Qualquer alteração nesses fatores, direta ou indiretamente, afetará a densidade ótima de plantio. Além do rendimento de grãos, o aumento da densidade de plantio também afeta outras características da planta. Dentre essas características, merecem destaque a QUADRO 6 - Porcentagem de emergência, vigor e duração do período de germinação de sementes de milho, em diferentes profundidades Profundidade Emergência (cm) (%) 2,5 100,0 3,0 8,0 5,0 97,5 3,0 10,0 7,5 97,5 3,0 12,0 10,0 80,0 2,5 15,0 12,5 32,5 0,7 18,0 (1) Vigor Duração média (dia) FONTE: Dados básicos: Fagundes (1975 apud BRESOLIN, 1993). (1) Vigor aos 22 dias após semeadura. Notas: 3 para o máximo vigor e zero para o mínimo vigor. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006 redução no número de espigas por planta (índice de espigas) e o tamanho delas. Também o diâmetro do colmo é reduzido e há maior suscetibilidade ao acamamento e ao quebramento. Além disso, é reconhecido que pode haver aumento na ocorrência de doenças, especialmente as podridõesde-colmo, com o aumento na densidade de plantio. Esses aspectos podem determinar o aumento de perdas na colheita, principalmente quando esta é mecanizada. Por estas razões, não se recomendam densidades maiores, que embora em condições experimentais apresentam maiores rendimentos, não são aconselhadas em lavouras colhidas mecanicamente. A densidade de plantio, dentre as técnicas de manejo cultural, é um dos parâmetros mais importantes. Geralmente, a causa das quedas nos rendimentos de milho é o baixo número de plantas por área. Entretanto, para que haja aumento da produtividade, é necessário que vários outros fatores, como o nível de fertilidade do solo, o nível de umidade e as cultivares estejam em consonância com o número de plantas por área. Em termos genéricos, verifica-se que cultivares precoces (ciclo mais curto) exigem maior densidade de plantio em relação a cultivares tardias para expressarem seu máximo rendimento. A razão dessa diferença é que cultivares mais precoces, geralmente, possuem plantas de menor altura e menor massa vegetativa. Essas características morfológicas determinam menor sombreamento dentro da cultura, o que possibilita, com isso, menor espaçamento entre plantas, para melhor aproveitamento de luz. Mesmo dentre os grupos de cultivares (precoces ou tardios), há diferenças quanto à densidade ótima de plantio. Uma análise de mais de 237 cultivares de milho comercializadas na safra 2005/2006 mostra que as variedades são indicadas para plantios com densidades que variam de 40 mil a 50 mil plantas por hectare, o que é coerente com o menor nível de tecnologia dos sistemas de produção empregados pelos agricultores que usam esse tipo de culti- Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 50 var. As faixas de densidades mais freqüentemente recomendadas para os híbridos duplos variam de 45 a 55 mil plantas por ha, havendo casos de recomendação até de 65 mil plantas por ha. Para os híbridos triplos e simples, é freqüente a densidade de 50 mil a 60 mil plantas por ha, havendo casos de recomendação de até 80 mil plantas por ha. Deve ser ressaltado, entretanto, que apenas 23 cultivares são recomendadas com densidades de plantio igual ou maior do que 70 mil plantas por hectare. A maioria das empresas já está recomendando densidades de plantio em função da região, da altitude e da época de plantio. Além disso, já existem empresas que recomendam a densidade em função do espaçamento, o que representa uma evolução. Dados de pesquisa mostram vantagens do espaçamento reduzido (45 a 50 cm entre fileiras), comparado ao espaçamento convencional (80 a 90 cm), especialmente quando se utilizam densidades de plantio mais elevadas (CRUZ; PEREIRA FILHO, 2005). O surgimento de cultivares de milho de ciclo mais curto, estatura reduzida, menor número de folhas, sendo estas mais eretas, aumentou o potencial de resposta da cultura à densidade de planta (ALMEIDA et al., 2000). O aumento e o arranjo da população de plantas podem contribuir para a correta exploração do ambiente e do genótipo, com conseqüências no aumento do rendimento de grãos (AMARAL FILHO et al., 2002). O arranjo de plantas basicamente pode ser manipulado através de alterações na densidade de plantas e no espaçamento entre fileiras. A interceptação da radiação fotossinteticamente ativa pelo dossel exerce grande influência sobre o rendimento de grãos da cultura do milho, quando outros fatores ambientais são favoráveis. Uma forma de aumentar a interceptação de radiação e, conseqüentemente, o rendimento de grãos, é através da escolha adequada do arranjo de plantas (SILVA et al., 2002). Teoricamente, o melhor arranjo de plantas de milho é aquele que proporciona distribuição mais uniforme de plantas por área, possibilitando melhor utilização de luz, água e nutrientes (ARGENTA et al., 2001; SANGOI, 2001). Atualmente, a redução no espaçamento entrelinhas e o aumento da densidade de plantio são duas realidades na cultura de milho. No mercado brasileiro, inclusive, existem plataformas adaptáveis às colhedoras que realizam a colheita em espaçamentos de até 0,45 m. Com relação à disponibilidade hídrica e de nutrientes, observa-se que a densidade deve ser aumentada sempre que esses fatores forem otimizados, para que seja atingido o máximo rendimento de grãos. Em situações de áreas irrigadas ou quando não há restrições hídricas é aconselhável usar o limite superior da faixa da densidade recomendada. Um fator importante, quando se usa alta densidade de plantio, é assegurar que a cultivar utilizada apresente grande resistência ao acamamento e ao quebramento. De forma análoga ao suprimento hídrico, quanto maior for a disponibilidade de nutrientes para as plantas, seja pela fertilidade natural do solo seja pela adubação, maior será a densidade para se alcançar o máximo rendimento. As interações mais freqüentes entre o nível de fertilidade e a densidade de semeadura se dão, principalmente, com a adubação nitrogenada (XIMENES ,1991). ESPAÇAMENTO ENTRE FILEIRAS É muito variado o espaçamento entre fileiras de milho nas lavouras, embora seja nítida a tendência de sua redução. Entre as vantagens potenciais da utilização de espaçamentos mais estreitos, podem ser citados: a) o aumento do rendimento de grãos, em função de distribuição mais eqüidistante de plantas na área, faz aumentar a eficiência de utilização de luz solar, água e nutrientes (PASZIEWICZ, 1996; FLÉNET et al., 1996); b) melhor controle de plantas daninhas, devido ao fechamento mais rápido dos espaços disponíveis, o que diminui, dessa forma, a duração do período crítico das plantas daninhas (SWOBODA, 1996); c) redução da erosão, em conseqüência do efeito da cobertura antecipada da superfície do solo (PENDLETON, 1965); d) melhor qualidade de plantio, através da menor velocidade de rotação dos sistemas de distribuição de sementes e maximização da utilização de plantadoras. Diferentes culturas, como, por exemplo, milho e soja, poderão ser plantadas com o mesmo espaçamento, permitindo maior praticidade e ganho de tempo (TECNOLOGIAS..., 2003). Tem sido também mencionado que os espaçamentos reduzidos permitem melhor distribuição da palhada de milho sobre a superfície do solo, após a colheita, favorecendo o SPD. Diversos trabalhos têm mostrado tendência de maiores produções de grãos em espaçamentos mais estreitos (45 e 50 cm), principalmente com os híbridos atuais, que são de porte mais baixo e arquitetura mais ereta (PAIVA, 1992; MEDEIROS; SILVA, 1975; PEREIRA FILHO et al., 1993). Sangoi et al. (1998) encontraram aumento no rendimento de grãos de milho com redução no espaçamento entre fileiras de até 50 cm. Essa redução no espaçamento resultou também em maior peso de grãos por espiga. Esse comportamento deve-se aos milhos atuais terem características de porte mais baixo, melhor arquitetura foliar e menor massa vegetal, o que permite cultivos mais adensados em espaçamentos mais fechados. Devido a essas características, esses materiais exercem menores índices de sombreamento e captam melhor a luz solar. Avaliando diferentes cultivares de milho, espaçamento e densidade de plantio, Cruz et al. (2004) verificaram que o rendi- Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto mento de grãos cresceu com o aumento da densidade de plantio, em ambos os espaçamentos (reduzido e normal), demonstrando que poderia aumentar ainda mais a produtividade, com aumento na densidade de plantio. Entretanto, no espaçamento de 0,50 m entre fileiras, a produtividade apresentou maior ampliação, quando se passou de 40 mil plantas ha-1 para 77.500 plantas ha-1, do que no espaçamento de 0,80 m, indicando que a redução de espaçamento é mais vantajosa, quando se utilizam maiores densidades de plantio, mais uma vez concordando com a observação de Hoeft (2003) de que o benefício das linhas mais estreitas aumenta à medida que cresce a população de plantas. Quando se pensa em diminuir o espaçamento entrelinhas e/ou aumentar a densidade de plantas por área, a escolha do híbrido deve ser criteriosa. Geralmente, os híbridos ou as variedades de porte alto e ciclo longo produzem bastante massa e quase sempre não proporcionam bom arranjo das plantas dentro da lavoura e, por essa razão, já no início do crescimento é prejudicada a captação da luz. Os híbridos de menor porte, mais precoces desenvolvem pouca massa vegetal, com menor quantidade de auto-sombreamento, o que proporciona maior penetração da luz solar. Estas plantas permitem cultivo em menores espaçamentos e maiores densidades (MUNDSTOCK, 1978). Uma das dificuldades para o uso de espaçamentos mais estreitos eram as colheitadeiras, que, muitas vezes, não se adaptavam a esta situação. No entanto, hoje, com a evolução do parque de máquinas agrícolas, esse problema já não existe. CONSIDERAÇÕES FINAIS A cultura do milho, por sua versatilidade, adapta-se a diferentes sistemas de produção. Devido à grande produção de fitomassa de alta relação C/N, a cultura é fundamental em programas de rotação de culturas em SPD. Embora apresente alto 51 potencial de produção, comprovado nos concursos de produtividade e por agricultores que utilizam alto nível tecnológico, o rendimento de milho, no Brasil, ainda é muito baixo. Levando em consideração a qualidade e o potencial da semente de milho disponível, com predominância dos híbridos simples, verifica-se que é fundamental o aperfeiçoamento dos sistemas de produção para que esses materiais possam expressar ao máximo seu potencial genético, alcançando altas produtividades em sistemas de produção sustentáveis. DE MILHO E SORGO, 24., 2002, Florianópolis. [Resumos expandidos...] Meio ambiente e a nova agenda para o agronegócio de milho e sorgo. Sete Lagoas: Associação Brasileira de Milho e Sorgo/ Embrapa Milho e Sorgo, 2002. 1 CD-ROM. APRAKU, B.; HUNTER, R.B.; TOLLENAAR, M. Effect of temperature during grain filling on whole plant and grain yield in maize (Zea mays L.). Canadian Journal Plant Science, Ottawa, v.63, n.2, p.357-363, 1983. ARGENTA, G.; SILVA, P.R.F. da; SANGOI, L. Arranjo de plantas em milho: análise do estado- REFERÊNCIAS ALFONSI, R.R.; CAMARGO, M.B.P. de. Esti- da-arte. 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Dependendo do nível de infestação e das espécies, podem dificultar a operação de colheita e comprometer a qualidade do grão. O controle de plantas daninhas no Sistema Plantio Direto (SPD), que já foi causa principal da desistência de produtores em continuar no sistema, hoje possui enfoque prático, notadamente diferenciado do que vem acontecendo e, também, das ferramentas que estão sendo colocadas à disposição dos técnicos e produtores para melhor gerenciamento da questão. O manejo de plantas daninhas envolve vários métodos de controle, que devem ser utilizados de acordo com os fatores ligados à cultura (espécie, cultivar, espaçamento, densidade e profundidade de plantio), à comunidade infestante (espécie, densidade e distribuição), ao ambiente (solo, clima e tratos culturais) e ao período de controle ou convivência. Com a utilização do manejo integrado de plantas daninhas, devidamente orientado, é possível minimizar a utilização de herbicidas e, em alguns casos, pode-se buscar a sua exclusão no SPD na palha. Esta situação permitirá reduzir os impactos negativos causados pelo uso dos herbicidas nos meios físico, biótico e antrópico. Palavras-chave: Zea mays. Plantio direto. Manejo integrado. Controle integrado. Controle químico. Herbicida. Espécie nociva. Alelopatia. INTRODUÇÃO As plantas daninhas constituem grande problema para a cultura do milho. Conforme a espécie, a densidade e a distribuição da invasora na lavoura, as perdas são significativas. A invasora prejudica a cultura, competindo com esta por luz solar, água e nutrientes, podendo, a depender do nível de infestação e da espécie, dificultar a operação de colheita e comprometer a qualidade do grão. O controle de plantas daninhas consiste na adoção de certas práticas que resultam na redução da infestação, mas não neces- sariamente na sua completa eliminação. Resultados de pesquisa mostram que o período crítico de competição das plantas daninhas com o milho, em condições normais, ocorre entre 20 e 60 dias após a emergência da cultura. A competição é tolerável após este período, por não afetar o rendimento do milho. O manejo de plantas daninhas envolve vários métodos de controle, que devem ser utilizados de acordo com os fatores ligados à cultura (espécie, cultivar, espaçamento, densidade e profundidade de plantio), à comunidade infestante (espécie, densidade e distribuição), ao ambiente (solo, clima e tratos culturais) e ao período de controle ou convivência. O controle de plantas daninhas no Sistema Plantio Direto (SPD), que já foi causa principal da desistência de produtores em continuar no sistema, hoje possui enfoque prático, notadamente diferenciado do que já esta acontecendo e, também, das ferramentas que estão sendo colocadas à disposição dos técnicos e produtores para melhor gerenciamento da questão (ADEGAS, 1997). Pode-se dizer que o SPD na palha só evoluiu, significativamente, no Cerrado a 1 Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTTP/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: jpaes@epamig uberaba.com.br 2 Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTTP, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: [email protected] Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto partir do momento em que se conseguiu dominar de modo satisfatório o manejo das plantas daninhas, permitindo a adoção de sistemas de controle que fossem eficientes e de baixo custo (SCALÉA, 1998). Esta evolução foi conseqüência, principalmente, do aprimoramento das técnicas de controle dessas invasoras. Muitos agricultores cometem o erro de atribuir somente a um método a incumbência de controlar as plantas daninhas. O bom manejo deve congregar todos os possíveis métodos de controle (manejo integrado de plantas daninhas), compondo estratégia tecnicamente eficiente e economicamente viável, para manter a sustentabilidade do SPD na palha. A associação de métodos de controle deve ser utilizada sempre que possível, porém é conveniente que a estratégia de controle (melhor método, no momento oportuno) esteja adaptada às condições locais de infra-estrutura, como disponibilidade de mão-de-obra, implementos e análise de custos. Os vários métodos de controle atualmente disponíveis são apresentados a seguir. CONTROLE PREVENTIVO Consiste no uso de práticas que visam prevenir a introdução, o estabelecimento e/ou, a disseminação de determinadas espécies em áreas ainda não infestadas. A legislação nacional estabelece a relação das espécies nocivas e seus respectivos limites máximos específicos de tolerância, para sementes de espécies daninhas toleradas e determina as proibidas. Isto evita que contaminem novas áreas utilizando sementes com impurezas. Nos Quadros 1 e 2, encontram-se a relação das sementes nocivas toleradas e proibidas para o comércio de sementes fiscalizadas de grandes culturas. Além do uso de sementes livres de propágulos de plantas daninhas, outros cuidados são necessários, como uso de estrume, palha ou compostos isentos de propágulos de plantas daninhas proibidas, limpeza completa dos equipamentos agrícolas antes 55 QUADRO 1 - Sementes nocivas proibidas para o comércio de sementes de grandes culturas Limite máximo Nome científico Nome comum por amostra analisada Cuscuta spp. Cuscuta cipó-chumbo, fios-de-ovos 0 Cyperus rotundus Tiririca-verdadeira 0 Echium plantagineum Borrago 0 Eragrostis plana Capim-annoni 0 Euphorbia heterophylla Leiteira, amendoim-bravo 0 Oryza sativa Arroz-preto 0 Rumex acetosella Linguinha-de-vaca 0 Sorghum halepense Capim-maçambará, sorgo-de-alepo 0 Vigna unguiculata Feijão-miúdo 0 FONTE: Brasil (1986). de entrar na lavoura ou em talhões, onde existem espécies-problema e controle de plantas daninhas próximas a canais de irrigação e margens de carreadores. CONTROLE CULTURAL O controle cultural consiste em aproveitar as próprias características do milho e das plantas daninhas, de modo que a cultura leve vantagem sobre as invasoras. A rotação de culturas, além de muitas outras utilidades, é praticada como meio de prevenir o surgimento de altas populações de certas espécies de plantas daninhas mais adaptáveis à determinada cultura. A monocultura por vários anos e a aplicação dos mesmos herbicidas, ano após ano, no mesmo solo favorecem o estabelecimento de certas espécies daninhas tolerantes que aumentam sua interferência sobre a cultura, refletindo negativamente na produção, na qualidade dos produtos e nos lucros. A escolha do tipo de cultura a ser incluída em uma rotação, quando o controle de plantas daninhas é o principal objetivo, deve recair sobre plantas cujas características sejam bem contrastantes com o milho. Para que a cultura do milho tenha vantagem competitiva em relação às plantas daninhas, é importante que se tenha adequado espaçamento. Em termos práticos, Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006 o bom espaçamento é aquele que permite cobertura do solo, quando a cultura atinge seu pleno desenvolvimento vegetativo, devendo ser diferenciado para os diferentes híbridos e variedades e condições edafoclimáticas. É comum o uso de 0,75 m entrelinhas e 4 a 6 sementes por metro para a maioria dos híbridos e variedades. A variação do espaçamento entrelinhas ou da densidade de plantas na linha pode contribuir para a redução da interferência de plantas daninhas sobre a cultura. A redução do espaçamento entrelinhas geralmente proporciona vantagem competitiva à maioria das culturas sobre as plantas daninhas sensíveis ao sombreamento. CONTROLE QUÍMICO O manejo químico é um método de controle de plantas daninhas eficiente desde que usado adequadamente, de forma integrada com outros métodos. Pode ser usado em toda a área cultivada, entretanto, antes de sua utilização deve-se proceder a levantamento criterioso das espécies infestantes, do local, tanto quanto possível, sua densidade (número de plantas por m2), bem como sua distribuição. Somente, com base nessas informações, torna-se possível partir para a escolha correta dos princípios ativos e das doses a serem recomendadas, com maior eficiência. Ao se usar este esque- 56 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto QUADRO 2 - Sementes nocivas toleradas para o comércio de sementes de grandes culturas ma de controle, propicia-se redução das plantas daninhas ao longo dos anos agrícolas, dos custos de controle e, em alguns casos, até a redução da área a ser tratada com herbicidas (BIANCHI, 1997). As alterações das importâncias relativas das espécies, com a predominância de plantas pouco comuns no sistema convencional, constituem outro tipo de impacto que se evidencia atualmente. Entretanto, esses impactos são resultantes de integração dos fatores acima comentados e da aplicação de herbicidas, especialmente os de manejo. O uso do manejo químico das plantas daninhas, pela aplicação de herbicidas, foi o que possibilitou a eliminação do preparo do solo, conduzindo a mudança do sistema convencional de cultivo para a implementação do SPD na palha. O plantio direto, em comparação com o tempo de agricultura convencional, é uma prática relativamente recente. As reduções iniciais da diversidade e densidade das plantas daninhas foram os primeiros sinais do impacto deste sistema de cultivo sobre a dinâmica das comunidades infestantes. Da ação conjunta do não-revolvimento do solo e da cobertura morta que, em condições de bom controle de plantas daninhas, há tendência de desenvolver menor população de infestantes nos campos submetidos ao SPD do que ao sistema convencional, como observado por Almeida (1985b), em ensaios conduzidos em duas localidades do Paraná (Quadro 3). Com o aprimoramento do manejo de plantas daninhas e com a evolução dos próprios herbicidas, pode-se dizer que o SPD na palha não é poluente, contribui para a redução de utilização de insumos modernos e reduz o risco de contaminação do meio ambiente. É preciso desmistificar a crença de que o SPD na palha aumenta o uso de herbicidas (SILVA, 1997). Com a utilização do manejo integrado de plantas daninhas, devidamente orientado, é possível minimizar a utilização de herbicidas com redução de doses e, em alguns casos, pode-se buscar a sua exclu- Nome científico Limite máximo por amostra analisada Nome comum Acanthospermum hispidium Carrapicho-de-carneiro 10 Aeschynomene rudis Angiquinho 10 Amaranthus spp. Caruru-gigante, bredo, caruru-de-espinho 15 Anthemis cotula Macela-fétida – Avena fatua e A. barbara Aveia-silvestre, aveia-selvagem Bidens pilosa Picão-preto 5 Borreria alta Língua-de-vaca 10 Brachiaria plantaginea Capim-marmelada, papuã 10 Sinapis arvensis Mostarda-silvestre, mostarda-selvagem 10 Cassia tora e C. occidentalis Fedegoso 10 Cenchrus echinatus Capim-carrapicho, timbete 10 Chechrus echinatus Erva-formigueira, ançarinha – Cirsium vulgares Cardo 30 Croto glandulosus Gervão-branco 10 Cyperus esculentus Tiririca-amarela _ Cyperus sesquiflorus Capim-santo, capim-de-um-só-botão – Cyperus spp. Tiririca-do-brejo, tiririca-falsa 5 Digitaria insularis Capim-amargoso – Diodia teres Poaia-do-campo, diodia – E. colonum Capim-arroz, colônia 10 Echium plantagineum Borrago – Euphorbia hetophylla Leiteira, amendoim-bravo – Hiptis suaveolens Mata-pasto, fazendeiro – Ipomoea aristolchiaefolia Corda-de-viola, corriola, campainha – Ipomoea purpurea Corda-de-viola, corriola, campainha – Oryza sativa Arroz-vermelho 8 Pennisetum setosum Capim-oferecido, capim-custódio 15 Polygonum convolvulus Cipó-de-veado 10 Polygonum spp. Erva-pessegueira, enredadeira, erva-de-bicho 10 Rapistrum rugosum Mostarda-comum 20 Raphanus raphanistrum Nabiça 5 Rumex acetosella Linguinha-de-vaca – R. obtusifolius Língua-de-vaca 10 Sida spp. Guanxuma, guanxuma-branca, malva-preta 10 Sylybum marianum Cardo-branco – Solanum spp. Maria-pretinha, jóia, fumo-bravo 15 Xantium americanum Carrapichão 15 10 Brassica campestris e Echinocloa crusgalli e Rumex crispus e Xantim spp. FONTE: Brasil (1986). – – Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 57 QUADRO 3 - Número de plantas daninhas por m2 em SPD e convencional, na sucessão soja trigo e milho trigo determinado após a colheita do trigo – média de três anos Londrina Carambeí Sistema Soja Milho Soja Milho Plantio convencional 49 73 45 81 Plantio direto 33 47 17 09 são no SPD na palha. Esta situação permitirá reduzir os impactos negativos causados pelo uso dos herbicidas nos meios físico, biótico e antrópico. A expectativa dos agricultores experientes do Brasil, do Paraguai e da Argentina é que, pelo uso sistemático da adubação verde e da rotação de culturas, assim como o uso correto dos produtos químicos, se consiga reduzir a quantidade de herbicidas no SPD na palha em, aproximadamente, 80% da quantidade utilizada no sistema convencional (DERPSCH, 1997). Além disso, essa redução de herbicidas possibilitará a implementação de uma agricultura econômica, social e ecologicamente sustentável. O método mais utilizado para controlar as invasoras é o químico, isto é, o uso de herbicidas. Suas vantagens são a economia de mão-de-obra e a rapidez na aplicação. Para que a aplicação dos herbicidas seja segura, eficiente e econômica, exigemse técnicas refinadas. O reconhecimento prévio das invasoras predominantes é condição básica para a escolha adequada do produto (Quadros 4 e 5), que resultará no controle mais eficiente das invasoras. A eficiência dos herbicidas aumenta, quando aplicados em condições favoráveis. É fundamental que se conheçam as especificações do produto antes de sua utilização e que se regule corretamente o equipamento de pulverização, quando for o caso, para evitar riscos de toxicidade ao homem e à cultura. Os herbicidas são classificados quanto à época de aplicação, em pré-plantio, préemergentes e pós-emergentes. No Qua- dro 6, encontram-se alguns produtos indicados para a cultura do milho. Os herbicidas para o controle das plantas daninhas devem ser registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Em algumas situações as Secretarias Estaduais de Agricultura podem proibir o uso de determinado produto. Ao se pensar em controle químico em milho, alguns itens devem ser considerados: a) a seletividade do herbicida para a cultura; b) a eficiência no controle das principais espécies na área cultivada; c) o efeito residual dos herbicidas para as culturas que serão implantadas em sucessão ao milho. Dada a existência de legislação rigorosa quanto à responsabilidade no uso de defensivos, torna-se necessário que as recomendações sejam feitas por engenheiro agrônomo ou técnico devidamente credenciado que possa emitir receita específica para cada caso. EFEITOS ALELOPÁTICOS O processo de decomposição da cobertura morta na superfície libera gradativamente vários compostos orgânicos denominados aleloquímicos, muitos deles interferindo diretamente na germinação e emergência de plantas daninhas (ALMEIDA, 1985a). O processo de germinação das plantas daninhas, quando está intimamente ligado a esses fatores, reduz substancialmente no SPD com grande quantidade de cobertura de palha. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006 O uso da cobertura de palha é o exemplo mais antigo de manejo econômico de plantas daninhas. A presença dessa palha é fundamental para o sucesso do plantio direto, além dos importantes efeitos na conservação e manutenção da umidade do solo e em causar, também, supressão das plantas daninhas. Existem numerosas evidências de que os aleloquímicos podem alterar a absorção de íons pelas plantas. Sem dúvida, este fenômeno encontra-se associado ao colapso de outras funções, como a respiração e a permeabilidade das membranas celulares. Os aleloquímicos podem atuar como reguladores de crescimento vegetal, como inibidores de fotossíntese, desreguladores da respiração e da permeabilidade das membranas, inibidores da síntese protéica e da atividade enzimática (PUTNAN, 1985). Para que os produtos secundários liberados pelas coberturas mortas em plantio direto tenham ação sobre as infestantes, é necessário que esses atinjam no solo a concentração mínima a que elas são suscetíveis. Esta concentração é função da quantidade de aleloquímicos contidos na palha e da velocidade com que são lixiviados para o terreno. Para reduzir infestações, os aleloquímicos devem ser liberados gradativamente, para que seus efeitos se façam sentir até que as culturas atinjam desenvolvimento suficiente para competir, com vantagem, com as infestantes que venham surgir. A decomposição do material vegetal é um dos fatores que influenciam neste aspecto, sendo que a maioria dos cereais tem decomposição lenta e, conseqüentemente, ação alelopática longa, enquanto as dicotiledôneas têm decomposição rápida e, ação alelopática alta no início, porém, de curta duração (ALMEIDA, 1988). A alelopatia pode ser analisada sob dois enfoques diferentes. Ela pode ser preocupação pelas conseqüências negativas sobre o desenvolvimento da cultura ou ser usada como forma de controle de plantas daninhas que competem com o homem na produção de alimentos (GASSEN; GASSEN, 1996). Estrelinha Botão-de-cachorro Erva-de-touro Apaga-fogo Trapoeraba Carrapichinho Picão-preto Picão-preto Corda-de-viola Leiteira Alfinete-da-terra Beldroega Carrapicho-de-carneiro Carrapicho-bravo Caruru-rasteiro Cipó-de-veado Campainha Guanxuma Língua-de-vaca Nabiça Fazendeiro Poaia-branca Balãozinho Falsa-serralha Cordão-de-frade Rubim Fedegoso Mata-pasto Pega-pega Anileira Malva-branca Malva-guaxima Guanxuma Guaxima Guanxuma-dourada Malva-preta Agriãozinho Hortelã-do-brejo Erva-quente Joá-de-capote Maria-pretinha Mentrasto Esparguta Nome comum Sulfosate S-metolachlor Simazine Sethoxydim Paraquat Nicosulfuron Linuron Isoxaflutole Glyphosate Diuron + Paraquat Dimethenamid 2,4-D Cyanazine Carfentrazone Bentazon Atrazine + S-metolachlor Atrazine + Simazine Atrazine + Isoxaflutole Atrazine Ammonium-glufosinate Ametryn Alachlor + Atrazine Alachlor Acetochlor • A A M • • • T T A • • S • • • A A P • • - • • S • • - - • - - - • - - S - - - - - S - • S - • • S M • - - - - - - A S S • • - - - • A A - 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FONTE: Lorenzi (2000). Ageratum conizoides Stellaria media Melampodium divaricatum Melampodium perfoliatum Tridax procumbens Alternanthera tenella Commelina benghalensis Acanthospermum australe Bidens pilosa Bidens subalternans Ipomoea grandifolia Euphorbia heterophylla Silene galica Portulaca oleraceae Acanthospermum hispidum Xanthium cavalinesii Amaranthus deflexus Polygonum convolvulus Ipomoea nil Sida rhombifolia Rumex obtusifolius Raphanus raphanistrum Galinsoga parviflora Richardia brasiliensis Cardiospermum halicacabum Emilia sonchifolia Lenotis nepetifolia Leonurus sibiricus Senna obtusifolia Senna occidentalis Desmodium tortuosum Indigofera hirsuta Sida cordifolia Sida glaziovii Sida santaremnensis Sida spinosa Sida urens Sidastrum micranthum Heteranthera limosa Heteranthera reniformis Spermacoce latifolia Nicandra physaloides Solanum americanum Nome científico Pendimethalin QUADRO 4 - Comportamento de plantas daninhas de folhas largas em função da aplicação de herbicidas em pré-emergência, pós-emergência inicial e pós-emergência tardia para a cultura do milho 58 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006 Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006 Capim-angola Capim-marmelada Capim-carrapicho Grama-seda Capim-colchão Capim-pé-de-galinha Azevém Capim-arroz Capim-quicuio Capim-argentino Tiririca Capim-colonião Capim-oferecido Capim-favorito Brachiaria mutica Brachiaria plantaginea Cenchrus echinattus Cynodon dactylon Digitaria horizontalis Eleusine indica Lolium multiflorum Echinocloa colonum Pennisetum clandestinum Sorghum halepense Cyperus rotundus Panicum maximum Pennisetum setosum Rhynchelytrum repens Acetochlor Alachlor f p i Alachlor + Atrazine f p i Ametrine f p i Ammonium-glufosinate f p i Atrazine f p i Atrazine + Isoxaflutole f p i Atrazine + Simazine f p i Atrazine + S-metolachlor f p i Bentazon f p i Carfentrazone f p i Cyanazine f p i 2,4-D f p i Dimethenamid f p i Diuron + Paraquat f p i Glyphosate f p i Isoxaflutole f p i Linuron f p i Nicosulfuron f p i Paraquat f p i Pendimethalin f p i f p i Simazine f p i S-metolachlor f p i f p i Sulfosate f p i f A • • M • • S - • S S - • - - S M - - - - S - • S M • • T T • - - - P T T T T A • • - A A • A A - - - - P T • - - • A A S • • • A A S • • S • • • A A A • • - • • S • • S S • M S M • - - S S P - - - M M • S S • • T T • - - P P T P T T M • • S A A • A A - - - T - - • A M • A A S • • • S M P • • S • • • A A S • • S • • S • • S P • M M M • A A P P P S - - M P • S P • • T T • - - P P T P T T S • • M A S • A A - - - P P T • - - • A A S • • • S M M • • S • • • A A S • • P • • P • • P T • P P T • M M P P P - - - P P • - - • • P P • - - P T T P S S P • • P S M • S A - - - P T T • M - • S S P • • • T T P • • - • • • S S P • • S • • P • • M P • M M P • - - P P P - - - P P • S P • • T T • - - P P T M T T S • • M S S • A A - - - P P T • - - • S S S • • • S M P • • S • • • A A S • • P • • P • • P - • - - - • M P P T T - - - - - • M - • • T T • - - P T T T T T P • • P S M • A A - - - - - - • - - • - - P • • • S M P • • - • • • A A P • • A • • S • • S P • M S S • - - M P P - - - S P • A A • • T T • - - P P T P T T A • • P A A • A A S - - P P T • - - • S S M • • • A S M • • A • • • A A M • • A • • S • • S M • S M P • - - M M P - - - M M • A P • • T T • - - M P T P T T S • • M A A • A A - - - M P T • S P • A S S • • • A S M • • S • • • A A A • • A • • A • • A S • A S M • A A S P P S - - A P • A P • • T T • - - P P T M T T S • • S A S • A A A - - M P T • S S • A A A • • • A A S • • A • • • A A A • • A • • A • • A P • S S S • A A M P P A A - S P • A P • • T T • - - M P T M T T S • • A A A • A A S - - P P T • S S • A A A • • • A S S • • A • • • A A A • • P • • T • • T T • P P T • - - P T T - - - P T • P T • • P T • - - P T T P T T P • • P M M • S S - - - P T T • S S • M M P • • • P P P • • P • • • S S P • • A • • S • • S P • M S M • - - P P T S - - M P • S P • • T T • - - P P T P T T A • • M A A • A A M - - P T T • S M • A A S • • • A A P • • A • • • A S A • • M • • M • • S M • A S M • A A M M M S A - S M • S M • • T T • - - M M P M T T S • • S A A • A A S - - P T T • A A • A A S • • • A S M • • S • • • A A A • • M • • P • • - - • M M M • - - P P T - - - P P • P P • • T T • - - P T T P T T - • • P S S • A A - - - - - - • - - • A A - • • • S S S • • P • • • A - M • • S • • M • • M M • M S M • A A P M P - - - M P • M P • • T T • - - P P T M T T S • • M A A • A S M A - - - - • S - • A S A • • • A S M • • S • • • A A A • • p i Trifluraline recomendável; p - Pré-emergência; i - Pós-emergência inicial (plantas daninhas com 2 a 4 folhas); f - Pós-emergência tardia (plantas daninhas com 4 a 8 folhas). NOTA: A - Altamente suscetível (acima de 95% de controle); S - Suscetível (de 85% a 95% de controle); M - Medianamente suscetível (de 50% a 85% de controle); P - Pouco suscetível (menos de 50% de controle); T - Tolerante (0% de controle); • - Não- FONTE: Lorenzi (2000). Capim-braquiária Nome comum Brachiaria decumbens Nome científico Sethoxydim QUADRO 5- Comportamento de plantas daninhas de folhas estreitas em função da aplicação de herbicidas em pré-emergência, pós-emergência inicial e pós-emergência tardia para a cultura do milho Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 59 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 60 QUADRO 6 - Alternativas para o controle químico(1) de plantas daninhas na cultura do milho (continua) (3) Dose comercial Nome comum (2) Nome comercial -1 Formulação e concentração Registrante Kadett Monsanto EC 840 g L Acetochlor Kadett CE Monsanto EC 840 g L Acetochlor Surpass Dow AgroSciences EC 768 g L -1 -1 -1 Alachlor Alaclor Nortox Nortox EC 480 g L Alachlor Laço CE Monsanto EC 480 g L Alachlor + Atrazine Agimix Milenia SC (260 + 260) g L Alachlor + Atrazine Alazine 500 SC -1 Agricur Alachlor + Atrazine Boxer Alachlor + Atrazine Alaclor + Atrazine SC Nortox Nortox SC (250 + 250) g L Monsanto SC (300 + 180) g L SC (240 + 250) g L Ametryne Ametrina Agripec Agripec SC 500 g L Gesapax 500 Cyba Geigy Syngenta SC 500 g L Ametryne Gesapax GrDa Syngenta WG 785 g kg Amicarbazone Dinamic Bayer WG 700 g kg Amônio-Glufosinato Finale Bayer SL 200 g L Atrazine Atrazine Atanor 50 SC Atanor SC 500 g L Atrazine Atranex 500 SC Agricur SC 500 g L Atrazine Atrazina Nortox 500 SC Nortox SC 500 g L Atrazine Atrazinax 500 Bayer SC 500 g L -1 -1 -1 -1 -1 -1 Milenia SC 500 g L Gesaprim 500 Ciba-Geigy Syngenta SC 500 g L Atrazine Gesaprim GrDa Syngenta WG 880 g kg -1 -1 Milenia SC 500 g L -1 -1 Atrazine Proof Syngenta SC 500 g L Atrazine Siptran 500 SC Sipcam SC 500 g L Atrazine Siptran 800 PM Sipcam PM 800 g L Atrazine Trac 50 SC Atanor SC 500 g L Atrazine + Bentazon Laddok Basf SC (200 + 200) g L Guardsman -1 -1 Coyote Atrazine + Dimethenamid -1 -1 Atrazine Herbitrin 500 BR -1 -1 Atrazine Atrazine -1 -1 Ametryne -1 -1 -1 -1 -1 Basf SE (320 + 280) g L -1 Atrazine + Isoxaflutole Alliance WG Bayer WG (830 + 34) g kg Atrazine + Nicosulfuron Sanson AZ Ishihara WG (500 + 20) g kg Atrazine + Óleo Vegetal Posmil Milenia SC (400 + 300) g L -1 Atrazine + Óleo Vegetal Primóleo Syngenta SC (400 + 300) g L Atrazine + Simazine Actiomex 500 SC Action SC (250 + 250) g L Atrazine + Simazine Atrasimex 500 SC Agricur SC (250 + 250) g L Atrazine + Simazine Atrazine + Simazine Atrazine + Simazine Atrazine + Simazine Controller 500 SC Extrazin SC Herbimix SC Primatop SC Dow AgroSciences Sipcam Milenia Syngenta Classificação (4) PréPósToxiemergência emergência cológica -1 Acetochlor -1 (L ha ou kg ha ) SC (250 + 250) g L SC (250 + 250) g L SC (250 + 250) g L SC (250 + 250) g L -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 (5) Ambiental 3,0 a 4,0 – II II 3,0 a 4,0 – I I 2,6 a 5,2 – I I 5,0 a 7,0 – II II 5,0 a 7,0 – I III 6a8 6a8 II II 7a8 – III II 7a9 – I II 6a7 – I II 3,0 a 4,0 3,0 a 4,0 III II – 3,0 a 4,0 IV II – 2 a 2,5 IV II 0,4 – II II – 1,5 III III 4a6 4a6 III III 4a5 – III II 3 a 6,5 3 a 6,5 III II 3 a 6,5 – III (6) 5a6 5a 6 II II 4a5 4a 5 IV II 2,5 a 3,5 2,5 a 3,5 III II 4a8 _ III (6) 4a5 4a5 IV II 4a5 4a5 III III 3a4 3a4 III III 4a6 4a6 III III – 2,4 a 3,0 I II 4,0 a 5,0 – I II 1,5 a 2,0 – IV II – 1,75 a 2,0 IV II – 5a7 IV II – 5a6 IV II 3,5 a 7,0 3,5 a 7,0 IV II 4,0 a 6,0 – III II 3,5 a 6,0 – IV II 3,6 a 6,8 – IV (6) 6,0 a 7,0 6,0 a 7,0 IV III 6a8 6a8 III II Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 61 (continuação) (3) Dose comercial Nome comum Atrazine + Simazine (2) Nome comercial Triamex 500 SC Registrante Bayer SC (250 + 250) g L Atrazine + S-Metolachloro Primagram Gold Syngenta SC (370 + 230) g L Atrazine + S-Metolachloro Primaiz Gold Syngenta SC (370 + 230) g L Atrazine + S-Metolachloro Primestra Gold Syngenta SC (370 + 290) g L Bentazon Banir Sipcam SL 480 g L Bentazon Basagran 480 Basf SL 480 g L Bentazon Basagran 600 Basf SL 600 g L Carfentrazone-ethyl Aurora 400 CE FMC EC 400 g L Cianazine Bladex 500 Basf SC 500 g L -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 2,4-D 806 Nufarm Nufarm SL 806 g L 2,4-D Amina 72 Atanor SL 698 g L 2,4-D Aminamar Agro Química Maringá SL 806 g L -1 -1 -1 2,4-D Aminol 806 Milenia SL 806 g L 2,4-D Capri Milenia SL 868 g L 2,4-D Deferon Milenia EC 502 g L 2,4-D DMA 806 BR Dow AgroSciences SL 806 g L 2,4-D Herbi D-480 Milenia SL 480 g L 2,4-D Navajo Nufarm WG 970 g kg -1 -1 -1 -1 -1 -1 2,4-D Tento 867 CS Dow AgroSciences SL 867 g L 2,4-D U 46 D-Fluid 2,4-D Nufarm SL 806 g L Dimethenamid Zeta 900 Basf EC 900 g L Classificação (4) PréPósToxiemergência emergência cológica -1 2,4-D -1 (L ha ou kg ha ) -1 2,4-D Diuron + Paraquat -1 Formulação e concentração -1 -1 -1 Gramocil Syngenta SC (100 + 200) g L Iodossulfuron-methyl Equip Plus Bayer WG (300 + 20) g kg Glyphosate Agrisato 480 CS Alkagro SL 480 g L (5) Ambiental 3,5 a 6,0 3,5 a 6,0 III III 3,25 a 4,5 3,5 a 4,5 I II 3,25 a 4,5 3,5 a 4,5 I II 3,25 a 4,5 3,25 a 4,5 II II – 1,5 a 2,5 (6) (6) – 1,5 III III – 1,2 a 1,6 III III – 25 a 31,2 II II 3 a 4,5 – III I – 0,5 a 1,5 I III – 1,0 a 1,5 I III – 1,5 I III – 0,5 a 1,5 I I – 1 a 1,25 I II 0,6 a 0,9 0,6 a 0,9 III II – 1,5 I III 3,0 a 4,5 3,0 a 4,5 I (6) – 0,4 a 1,7 I III – 2 I II – 1,5 I III 1,25 – I II – 2a3 II II – 120 a 150 III III 1,0 a 6,0 1,0 a 6,0 IV II – 1,0 a 2,0 II III – 1 a 6,0 IV III 2,0 a 5,0 2,0 a 5,0 III III – 1,0 a 3,0 III III – 0,5 a 2,5 IV III – 1,0 a 6,0 IV III 1,0 a 5,0 – II III – 1a2 III III – 1,0 a 3,0 III III – 1,0 a 6,0 IV III – 1,0 a 6,0 IV III – 0,5 a 5 IV III Foramsulfuron + Glyphosate Glyphosate Glyphosate Glyphosate Glyphosate Glyphosate Glyphosate Glyphosate Glyphosate Glyphosate Glyphosate Glyphosate Glifos Glyphosate 480 Agripec Glyphosate Alkagro Glyphosate Atanor Glyphosate Nortox WG Glyphosate Nortox Glyphosate Nufarm Gliphogan 480 Glister Gliz 480 CS Gliz BR Polaris Cheminova Agripec Alkagro Atanor Nortox Nortox Nufarm Agricur Sinon Dow AgroSciences Dow AgroSciences Du Pont Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006 -1 -1 SL 480 g L SL 480 g L SL 480 g L -1 -1 -1 SL 480 g L WG 720 g kg SL 480 g L SL 480 g L SL 480 g L SL 480 g L SL 480 g L SL 480 g L SL 480 g L -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 62 (conclusão) (3) Dose comercial (2) Nome comum Nome comercial Registrante Radar Monsanto SL 480 g L Glyphosate Roundup Original Monsanto SL 480 g L Glyphosate Roundup Transorb Monsanto SL 648 g L Glyphosate Roundup WG Monsanto WG 720 g kg Glyphosate Rustler Monsanto SL 480 g L Glyphosate Trop Milenia SL 480 g L Zapp Qi Syngenta -1 -1 -1 -1 Onduty Basf WG (525 + 175) g kg Isoxaflutole Alliance SC Bayer SC 20 g L Isoxaflutole Provence 750 WG Bayer WG 750 g kg Linuron Afalon SC Bayer SC 450 g L Linuron Linurex Agricur 500 PM Agricur PM 500 g kg -1 -1 -1 -1 -1 Mesotrione Callisto Syngenta SC 480 g L Nicosulfuron Nisshin Ishihara WG 750 g kg Nicosulfuron Sanson 40 SC Ishihara SC 40 g L -1 -1 -1 Nicosulfuron Nicosulfuron Nortox S.A. Nortox SC 40 g L Nicosulfuron Nipppon 40 SC Agripec SC 40 g kg Paraquat Gramoxone 200 Syngenta SL 200 g L Pendimethalin Herbadox 500 CE Basf EC 500 g L Sethoxydim Poast Plus Basf DC 120 g L Sethoxydim Poast Basf DC 184 g L Simazine Herbazin 500 BR Milenia SC 500 g L Simazine Sipazina 800 PM Sipcam PM 800 g kg S-Metolachloro Dual Gold Syngenta EC 960 g L -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 Sulfosate Touchdown Syngenta SL 480 g L Terbutilazine Gardoprim Syngenta SC 500 g L Trifluralin Novolate Milenia EC 600 g L Trifluralin Premerlin 600 CE Milenia EC 600 g L Trifluralin Trifluralina Nortox Gold Nortox EC 450 g L -1 -1 -1 -1 -1 (5) Ambiental 0,5 a 5 III – 0,5 a 6 IV III – 1,0 a 4,5 III III – 0,5 a 3,5 IV III – 0,5 a 5,0 III III – 1,0 a 6,0 IV III – 0,7 a 4,2 III III – -1 SL 620 g L Classificação (4) PréPósToxiemergência emergência cológica -1 Imazapic + Imazapyr -1 (L ha ou kg ha ) -1 Glyphosate Glyphosate-sal de potássio -1 Formulação e concentração III – 100 III II 2,5 a 4,0 – III II 80 – III II 1,6 a 3,3 – III (6) 1,5 a 3 – III (6) – 0,3 a 0,4 III III – 70 a 80 IV III – 1,25 a 1,5 IV II – 1,25 a 1,5 III III – 1,3 a 1,5 III III – 1,5 a 3 II II 2,0 a 3,5 – II – 1,5 a 2,0 III III – 1,0 a 1,25 II III 4a5 – III III (6) 2a5 – III (6) 1,25 a 1,75 – I II – 1,0 a 6,0 IV III 4,0 a 7,0 – IV II 0,9 a 4,0 – I II 3,0 a 4,0 – II II – 1,2 a 5 II II FONTE: Agrofit (2006). NOTA: Aplicar herbicida PRÉ com solo em boas condições de umidade. Não aplicar herbicidas PÓS durante períodos de seca, em que as plantas estejam em déficit hídrico. (1) Antes de emitir recomendação e/ou receituário agronômico, consultar relação de defensivos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), e cadastrados na Secretária de Agricultura do Estado (onde houver legislação pertinente). (2) A escolha do produto deve ser feita de acordo com a situação. É importante conhecer as especificações dos produtos escolhidos. (3) A escolha da dose depende da espécie e do tamanho das plantas daninhas para os herbicidas de pós-emergência e da textura do solo para os de pré-emergência. Para solos arenosos e de baixo teor de matéria orgânica, utilizar doses menores. As doses maiores são utilizadas em solos pesados e com alto teor de matéria orgânica. (4) Classificação toxicológica: I - Extremamente tóxico; II - Altamente tóxico; III - Medianamente tóxico; IV - Pouco tóxico. (5) Classificação ambiental: I - Altamente perigoso; II - Muito perigoso; III - Perigoso; IV - Pouco perigoso. (6) Em adequação a Lei no 7.802/89. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto Alguns especialistas levantam a hipótese de que o azevém e a aveia produzem substâncias prejudiciais à cultura do milho, recomendando a semeadura um mês após a dessecação. Em condições de campo, a Avena strigosa (aveia-preta) tem demonstrado grande potencialidade no controle de plantas daninhas sob SPD na palha, com maior versatilidade por apresentar grande produção de massa seca. O Lolium multiflorum (azevém) também vem sendo utilizado por proporcionar boa cobertura do solo e controlar eficientemente Digitaria horizontalis (capim-milhã), Brachiaria plantaginea (capim-marmelada), e, particularmente, a Sida sp. (guanxuma) (ROMAN; VELLOSO, 1993). A atividade dos aleloquímicos no solo é normalmente transitória, uma vez que são sujeitos à absorção pelos colóides do solo e, degradação, inativação e transformação pelos microrganismos. A caracterização do efeito alelopático é tarefa de grande complexidade, devido ao alto número de variáveis envolvidas no processo. O controle dessas variáveis no delineamento experimental, o domínio de técnicas agrícolas e da biologia de plantas daninhas são tarefas que exigem a condução de trabalhos científicos para tentar elucidar a complexidade destes efeitos e suas interações com o ambiente. OPERAÇÃO DE MANEJO OU DESSECAÇÃO A dessecação é a secagem das plantas, acelerada quimicamente, resultando na morte de todas as partes delas. O principal aspecto fisiológico da dessecação parece ser a injúria das membranas das células, o suficiente para permitir a rápida perda da água. O grau de injúria varia com o ingrediente ativo utilizado, bem como o estádio fisiológico das plantas. O uso de dessecantes que provoca o desfolhamento 63 ou a dessecação das plantas é uma idéia recente, que não tem mais do que aproximadamente 40 anos, segundo Osborne (1968). A pesquisa em dessecantes ganhou destaque a partir dos anos 60 e o maior número de trabalhos concentra-se na década de 70. As culturas mais pesquisadas foram algodão, batata, sorgo e a soja. Os trabalhos desenvolvidos procuram resolver principalmente: produtos e doses a serem usados e épocas de aplicação. A aplicação de manejo também denominada de dessecação é realizada com herbicidas pós-emergentes não-seletivos, objetivando controlar toda a vegetação existente na área antes da semeadura das culturas, a qual pode ser constituída de plantas daninhas ou culturas semeadas para produção de massa. Normalmente, a operação de dessecação é concentrada num período curto, sendo importante que o produtor disponha de equipamentos suficientes. Atualmente, são disponíveis no mercado vários princípios ativos recomendados para essa operação (glifosato, sulfosato, paraquat), os quais podem variar de região para região, de fazenda para fazenda e mesmo dentro destas. Há, portanto, necessidade de bom monitoramento da área para aumentar a eficiência, diminuindo, assim, desperdício e custos. A tecnologia de aplicação atual tem evidenciado a possibilidade de redução do volume de calda na aplicação de herbicidas de manejo, permitindo que uma maior área seja tratada em menor tempo, facilitando a programação da pulverização nos momentos mais oportunos do dia. RESISTÊNCIA Tem sido constatada a resistência de certas plantas daninhas como Brachiaria plantaginea e Digitaria ciliaris a herbicidas inibidores da ACCase, Bidens pilosa, Bidens subalternans e Euphorbia hetero- Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006 phylla, a herbicidas inibidores da enzima ALS. No entanto, é comum confundir falta de controle com resistência. A maioria dos casos de seleção e de resistência pode ser esperada quando se utiliza o mesmo herbicida ou herbicidas com o mesmo mecanismo de ação, consecutivamente. Erros na dose e na aplicação são as causas da maioria dos casos de falta de controle. Prevenir a disseminação e a seleção de espécies resistentes são estratégias fundamentais para evitar esse tipo de problema. A utilização e a rotação de produtos com diferentes mecanismos de ação e a adoção do manejo integrado (rotação de culturas, uso de vários métodos de controle, etc.) fazem parte do conjunto de indicações para eficiente controle das invasoras. É interessante manter o histórico de cada área da propriedade para identificar a evolução da população de determinadas espécies. Normalmente, não se identificam os biótipos resistentes já no primeiro ano de sua ocorrência, ou seja, quando se percebe a falta de controle de uma espécie que tradicionalmente era controlada por certo herbicida, já se decorreram vários anos da seleção do biótipo resistente (VIDAL, 1997). MANUSEIO DE HERBICIDAS E DESCARTE DE EMBALAGENS Devem-se utilizar somente herbicidas devidamente registrados no MAPA e cadastrados na Secretaria de Agricultura dos Estados que adotam este procedimento para uso na cultura do milho e para a espécie de planta daninha que se deseja controlar. O número do registro consta no rótulo do produto. O equipamento de proteção individual (EPI) apropriado é necessário em todas as etapas de manuseio de agrotóxicos (abastecimento do pulverizador, aplicação e lavagem de equipamentos e embalagens), a fim de evitar possíveis intoxicações. Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 64 Não se deve fazer mistura em tanque de dois herbicidas, ou de herbicida (s) com outro agrotóxico. Tal procedimento é proibido por lei (BRASIL, 2002b). Somente é permitida a utilização de misturas formuladas. Em aplicação de herbicidas em condições de pós-emergência, deve-se respeitar o período de carência do produto (entre a data de aplicação e a colheita do milho). O rótulo e a bula do produto devem ser lidos com atenção e seguidas todas as orientações e cuidados com o descarte das embalagens, que devem ser devolvidas vazias (após a tríplice lavagem das que contêm produtos líquidos), no prazo de um ano após a compra do produto, ao posto de recebimento indicado na nota fiscal de compra, conforme legislação do MAPA (BRASIL, 2000, 2002a). REFERÊNCIAS ADEGAS, F.S. Manejo integrado de plantas daninhas. Revista Plantio Direto, Passo Fundo, n.40, p.17-21, 1997. produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, do Brasil, Brasília, 26 jul. 2002b. Seção 1, p.53. o armazenamento, a comercialização, a propa- Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br>. ganda comercial, a utilização, a importação, a Acesso em: 3 jul. 2006. exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências. Diário BIANCHI, M.A. Manejo integrado de plantas daninhas no Rio Grande do Sul. Revista Plantio Direto, Passo Fundo, n.41, p.53-57, 1997. Edição Oficial [da] República Federativa do Brasil, Especial. Brasília, 8 jan. 2002a. Seção 1, p.1. Disponível DERPSCH, R. Agricultura sustentável. In: SA- em: <http://www.agricultura.gov.br>. Acesso em: TURNINO, H.S.; LANDERS, J.N. (Ed.). O meio 11 maio 2006. ambiente e o plantio direto. Goiânia: APDC, _______. Lei no 9.974, de 6 de junho de 2000. 1997. cap 2, p.29-48. Altera a Lei no 7.802, de 11 de julho de 1989, que GASSEN, D.N.; GASSEN, F.R. Plantio direto o dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a caminho do futuro. 2.ed. Passo Fundo: Aldeia produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, Sul, 1996. 207p. o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus com- LORENZI, H. (Coord.). Manual de identificação e controle de plantas daninhas: plantio direto e convencional. 5.ed. Nova Odessa: Plantarum, 2000. 339p. ponentes e afins, e dá outras providências. Diário OSBORNE, J.D. Defoliation and defoliants. Oficial [da] República Federativa do Brasil, Nature, n.219, p.514-567, 1968. Brasília, 7 jun. 2000. Seção 1, p.1. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br>. Acesso em: PUTNAM, A.R. Weed allelopathy. In: DUKE, 11 maio 2006. S.O. (Ed.). Weed physiology: reproduction and ecophysiology. Boca Raton: CRC Press, 1985. AGROFIT. Brasília, 2006. Disponível em: <http:// extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_ _______. Ministério da Agricultura. Portaria no p.131-155. 443, de 11 de novembro de 1986. Aprova e torna válida a relação das espécies “nocivas” e seus ROMAN, E.S.; VELLOSO, J.A.R. Controle cul- respectivos limites máximos específicos, anexos tural, coberturas mortas e alelopatia em sistemas ALMEIDA, F.S. A alelopatia e as plantas. Lon- a esta Portaria, estipulados em número de semen- conservacionistas. In: EMBRAPA. Centro Nacio- drina: IAPAR, 1988. 60p. tes por amostra analisada e dimensionada, de nal de Pesquisa de Trigo. Plantio direto no acordo com as regras para análise de sementes em Brasil. Passo Fundo, 1993. p.77-84. agrofit_cons>. Acesso em: 19 jun. 2006. ___________. Influência da cobertura morta do plantio direto na biologia do solo. In: ATUALIZAÇÃO em plantio direto. Campinas: Fundação Cargill, 1985a. p.103-144. vigor, para produção, transporte e comércio de sementes nacionais e importadas de orelícolas, forrageiras e de grandes culturas. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, ___________. Influência da cobertura morta do 11 nov. 1986. Disponível em: <http://www.agri plantio direto na biologia do solo. In: SIMPÓSIO cultura.gov.br>. Acesso em: 11 maio 2006. SOBRE POTENCIAL AGRÍCOLA DOS CERRADOS, 1., 1985, Goiânia. Trabalhos apresentados... Campinas: Fundação Cargill/Goiânia: EMGOPA, 1985b. p.109-149. SCALÉA, M. Manejo e controle de plantas daninhas em plantio direto no Cerrado. Revista Plantio Direto, Passo Fundo, n.45, p.49-51, 1998. Especial Cerrado. SILVA, J.B. da. Plantio direto: redução dos riscos ambientais com herbicidas. In: SATURNINO, H.S.; _______. Ministério da Agricultura, Pecuária e LANDERS, J.N. (Ed.). O meio ambiente e o Abastecimento. Instrução Normativa, nº 46, de plantio direto. Goiânia: APDC, 1997. cap. 6, 24 de julho de 2002. Determina às empresas p.83-88. titulares de registros de agrotóxicos a retirada das indicações de misturas em tanque dos rótulos e VIDAL, R.A. Herbicidas: mecanismo de ação e 2002. Regulamenta a Lei n 7.802, de 11/07/1989, bulas de seus agrotóxicos, no prazo de 30 (trinta) resistência de plantas. Porto Alegre: Palotti, 1997. que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a dias. Diário Oficial [da] República Federativa 165p. BRASIL. Decreto no 4.074, de 4 de janeiro de o Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006 SELETIVIDADE DE ACCENT® SOBRE 10 DIFERENTES HÍBRIDOS DE MILHO Daniel Donato Hernandez Representante Pesquisa e Desenvolvimento – DuPont do Brasil S/A ([email protected]) Com o objetivo de determinar o grau de seletividade do herbicida Accent® (nicosulfuron NicoDry 75%WG) sobre os diferentes híbridos de milho, um ensaio foi conduzido na Estação Experimental da Pionner Sementes em Itumbiara/GO, entre os meses de janeiro e abril de 2006. Foram escolhidos 10 diferentes híbridos de milho, todos utilizados em larga escala na região centro-sul do país, ao que se segue: 30P70, 30F80, 30F90, 30K75, 30K64, 30K73, 30F35, DKB390, DAS2B710 E MAXIMUS. Foram aplicadas duas doses do herbicida Accent® (21 e 42 g.p.c/ha) em mistura com atrazina a 4,0 L.p.c/ha e Assist (0,3% v/v), com uma vazão igual a 200 L/ha, obtida por meio de um aplicador pressurizado com barra de 4 bicos e pontas tipo XR110.02. Além disso, foi realizado um tratamento testemunha com as plantas de milho mantidas no limpo através de capina manual. Por ocasião da aplicação, as plantas de milho encontravam-se no estádio V4. Durante o período experimental, a precipitação foi de 451 mm. Avaliações visuais foram realizadas aos 7, 14, 21 e 28 dias após a aplicação do herbicida com o objetivo de se verificar possíveis sintomas de fitointoxicação às plantas de milho. Independentemente da época de avaliação, do híbrido observado e dose do herbicida Accent® utilizado, não foram observados quaisquer sintomas nas plantas de milho que pudessem ser interpretados como fitointoxicação e, conseqüentemente, injúrias às plantas. Por ocasião da colheita, as produtividades dos 10 híbridos de milho foram analisadas, não sendo observado, no entanto, reduções das mesmas devido à aplicação do herbicida Accent®. Portanto, conclui-se que, para os 10 híbridos de milho estudados, a aplicação de Accent® nas doses de 21 e 42 g.p.c./ha no estádio V4 da cultura, não provocou sintomas perceptíveis de fitointoxicação na cultura, não reduzindo, assim, suas produtividades. Dessa maneira, para essa modalidade de aplicação e doses, o herbicida Accent® mostrou-se altamente seletivo à cultura do milho, apresentrando-se como uma excelente opção para o manejo e controle de plantas daninhas para esta cultura. DuPont Accent®: Produto em fase de registro. Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 66 Manejo de pragas da cultura de milho em Sistema Plantio Direto Ivan Cruz 1 Américo Iorio Ciociola Jr. 2 Resumo - Com a globalização, pode-se esperar profunda mudança no que se refere ao controle de pragas na produção agrícola. Para que haja competitividade é necessário o aumento da produção sem onerar seus custos. O controle de pragas, muitos anos dependente quase que exclusivamente do uso de produtos químicos, que não encontravam resistência por parte da sociedade, deve, nesse milênio, sofrer modificações significativas. Atualmente, a preocupação com os efeitos adversos dos produtos químicos é muito maior. Do ponto de vista da sociedade leiga, a palavra de ordem é qualidade de vida. No passado, havia grande diversificação em relação ao número de empresas produtoras de defensivos. Hoje muitas dessas empresas têm investido na área de biotecnologia e já dispõem de plantas transgênicas. Apesar das inúmeras controvérsias sobre o uso dessa nova tecnologia, pode-se esperar grande avanço e até mesmo modificações nos atuais modelos de MIP empregados, além do aumento nas pesquisas com controle alternativo, especialmente com inimigos naturais, que deverão ser parte importante nos sistemas de manejo de pragas no futuro. Palavras-chave: Zea mays. Controle alternativo. Controle biológico. MIP. INTRODUÇÃO Com a chegada da globalização, podese esperar profunda mudança no que se refere ao controle de pragas na produção agrícola brasileira. Para que haja competitividade é necessário o aumento dessa produção, sem onerar seus custos. Em outras palavras, será necessário o aumento da produtividade, porém, o componente “qualidade”, não só do produto colhido, mas também do ecossistema de produção, será fundamental nas competições internacionais, para a aquisição de bens alimentícios, tanto para alimentação direta quanto indireta, especialmente no caso de milho, muito utilizado nas rações de suínos e aves. O controle de pragas, muitos anos dependente quase que exclusivamente do uso de produtos químicos, que não encontravam resistência por parte da sociedade, deve, nesse milênio, sofrer modificações significativas. No passado, os inseticidas, considerados eficazes, de ação rápida e de custo relativamente baixo, foram utilizados sem parcimônia, mesmo nos casos em que determinada espécie de inseto nem mesmo demandava medidas de controle (DENT, 1991). Com os atributos dos inseticidas químicos e sem medidas alternativas competitivas, por muitos anos, as empresas produtoras de tais insumos não preocuparam-se com a melhoria qualitativa de seus produtos. O lema era a diversidade de ação sobre as espécies de insetos, mesmo sendo estas pragas, insetos benéficos ou agentes de controle biológico. Com o passar do tempo, os exemplos negativos com o uso inadequado dos produtos químicos fizeram com que a sociedade começasse a despertar, especialmente depois do livro “Primavera Silenciosa” de Carson (1962). Daí em diante, muitos outros exemplos começaram a ser documentados, inclusive aqueles que afetariam diretamente a eficiência dos produtos químicos. Vários casos de resistência aos inseticidas foram relatados (BROWN, 1971; BROWN; PAL, 1971; GEORGHIOU; LAGUNES-TEJEDA, 1 Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected] 2 Engo Agro, D.Sc.,Pesq. EPAMIG-CTTP/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: ciociolajr@epamig uberaba.com.br Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 1991). Segundo Metcalf (1980) e Metcalf e Luckmann (1994), a resistência genética adquirida pelos insetos em relação aos inseticidas continua sendo a barreira mais importante para o sucesso no uso desses químicos em programas de manejo. Atualmente, a preocupação com os efeitos adversos dos produtos químicos é muito maior. Do ponto de vista da sociedade leiga, a palavra de ordem é qualidade de vida. Ou seja, a sociedade demanda cada vez mais produtos e ambientes de melhor qualidade, significando desta feita produtos sem resíduos tóxicos. Do ponto de vista científico, a preocupação também é a mesma, porém, devem-se acrescentar, ainda, os efeitos colaterais dos inseticidas sobre os agentes de controle biológico, que provavelmente exerciam papel fundamental no controle de determinadas pragas antes de ser eliminadas ou reduzidas drasticamente pelo mau uso dos produtos químicos. Portanto, sem dúvida, nos próximos anos o sistema de controle de pragas no mundo deve mudar. Na verdade, em alguns países já se pratica há algum tempo, o que se chama manejo integrado de pragas (MIP), que reúne e usa, de maneira inteligente, os métodos de controle que propiciam maior sustentabilidade ao sistema agrícola (PIMENTEL, 1981abc; DENT, 1991; METCALF; LUCKMAN, 1994). Mesmo naqueles países onde já se tem implantado o manejo integrado de pragas têm-se discutido as tendências mundiais de compra ou fusão das grandes empresas produtoras de insumos, bem como o avanço na área de biotecnologia, com a produção de milho geneticamente modificado, pela introdução de toxinas da bactéria Bacillus thuringiensis (CAROZZI; KOZIEL, 1997). Esses fatos, com certeza, levarão à mudança nas estratégias de manejo atualmente utilizadas. No passado, havia grande diversificação em relação ao número de empresas produtoras de defensivos. Hoje muitas dessas empresas têm investido na área de biotecnologia e já dispõem de plantas transgênicas. Apesar das inúmeras controvérsias sobre o uso dessa nova tec- 67 nologia, pode-se esperar grande avanço e até mesmo modificações nos atuais modelos de MIP empregados. É de se esperar aumento nas pesquisas com controle alternativo, especialmente com inimigos naturais, que deverão ser parte importante nos sistemas de manejo de pragas no futuro. DESCRIÇÃO, BIOLOGIA, IMPORTÂNCIA E CONTROLE DAS PRAGAS No Brasil e em muitos outros países a implementação de programas de manejo de pragas ainda não é realidade em função da carência de informações básicas sobre a dinâmica populacional das pragas. A pretensão é colocar à disposição do leitor informações que auxiliem no reconhecimento das diferentes pragas que atacam a cultura de milho e na tomada de decisão sobre o seu controle. Existem, no Brasil, revisões bibliográficas que permitem, de maneira razoável, a síntese da bioecologia das principais pragas que afetam a cultura de milho, bem como a maneira de efetuar seu manejo. Entre as mais importantes, podem ser incluídos os trabalhos de Santos et al. (1982), Cruz (1992ab, 1993, 1994, 1995ab, 1996, 1997ab, 1999, 2004), Cruz e Santos (1984), Cruz e Turpin (1982, 1983), Cruz et al. (1983, 1987, 1990, 1993, 1995c, 1996, 1997b, 1999b, 2001), Cruz; Waquil (2001), Waquil et al. (1992), Gassen (1996) e Silva (1998). Pragas da semente e/ou raízes Existem diversos insetos apontados na literatura como pragas subterrâneas que se alimentam de diferentes hospedeiros, incluindo o milho, como os cupins (diversas espécies distribuídas nos gêneros, bicho-bolo ou coró (Phyllophaga, Cyclocephala, Diloboderus), larva-arame (Conoderus e outros gêneros), percevejocastanho, (Scaptocoris castanea), larvaalfinete (Diabrotica speciosa) e, provavelmente, outras vaquinhas. De modo geral, a identificação dessas pragas se faz inicial- Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006 mente através dos sintomas de danos ou de falhas existentes na plantação. Essas falhas podem ser decorrentes da falta de plantio da semente, ou ocasionadas pelas pragas citadas. Algumas delas, quando não matam a planta pela destruição da semente, ocasionam seu enfraquecimento, o que causa sua morte posteriormente, por não ter condições de competir com as demais plantas da cultura ou com as plantas daninhas. Cavando-se o solo próximo às falhas, no início da germinação, deve-se encontrar a semente e/ou a praga. Percevejo-castanho Scaptocoris castanea Perty, 1830 (Hemiptera, Heteroptera, Cydnidae) Conhecido popularmente como percevejocastanho, Scaptocoris castanea, nos últimos três anos vem causando prejuízos em diversas espécies vegetais de importância econômica no Brasil, com destaque para as culturas de soja, milho, algodão e pastagens (SILOTO; RAGA, 1998). Os estudos sobre a espécie são escassos no Brasil. O gênero Scaptocoris está distribuído desde os Estados Unidos até a Argentina (FROESCHNER; CHAPMAN, 1963; BREWER, 1972). No Brasil, sua distribuição é generalizada, embora com registros de ataque mais na Região CentroSul do Brasil (ANDRADE; PUZZI, 1953; PUZZ; ANDRADE, 1957; BRISOLLA et al., 1985; RAMIRO et al., 1989; COSTA; FORTI, 1993; BECKER, 1996; BERTI FILHO et al., 1996; SOUZA FILHO et al., 1997; CORRÊAFERREIRA et al., 1999). Segundo Raga et al. (2000), nas culturas de soja, milho e algodão do estado de São Paulo, S. castanea tem sido observado com maior freqüência e intensidade, em ataques às plantas no sentido da linha de plantio, nem sempre formando reboleiras típicas. O percevejo-castanho na fase adulta tem de 7 a 9 mm de comprimento e de 4 a 5 mm de largura. As pernas anteriores são destinadas à escavação e as posteriores possuem fortes cerdas e espinhos. As formas jovens são de coloração marrom-clara. Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto Durante a noite, podem voar para outras localidades. Os ovos são postos no solo. O percevejo-castanho é facilmente reconhecível, no momento da abertura dos sulcos, pelo cheiro desagradável que exala. Nas épocas mais secas, aprofunda-se no solo à procura de regiões mais úmidas, retornando à superfície durante as chuvas. Segundo Raga et al. (2000), as plantas atacadas têm suas raízes sugadas por ninfas e adultos e tornam-se raquíticas. O desenvolvimento reduzido e posterior morte da planta podem ser confundidos com deficiência nutricional, que é facilmente diferenciada, quando as plantas são arrancadas do solo, pois exala-se um odor típico, oriundo das glândulas odoríferas do inseto. Larva-alfinete Diabrotica speciosa Germar, 1824 (Coleoptera, Chrysomelidae) Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Os adultos de D. speciosa são muito conhecidos, especialmente pela coloração verde-amarela (Fig. 1), recebendo às vezes a denominação nacional ou patriota. São pequenos besouros com coloração geral verde, sobressaindo nas asas três manchas amarelas. São insetos pequenos e ágeis, com cerca de 6 mm de comprimento. Tanto o macho quanto a fêmea alimentam-se das folhas de diferentes culturas e, no milho, seus danos às vezes são confundidos com os ocasionados por larvas de lepidópteros, especialmente da lagarta-do-cartucho, quando raspam as folhas. Os ovos são colocados no solo próximo à planta hospedeira. A larva (Fig. 2) é cilíndrica e, quan- Figura 1 - Adulto de Diabrotica speciosa Arquivo Embrapa Milho e Sorgo 68 Figura 2 - Larva de Diabrotica speciosa do completamente desenvolvida, atinge o tamanho máximo de 10 a 12 mm, com cerca de 1 mm de diâmetro. É de coloração geral esbranquiçada, sobressaindo a cabeça e o ápice do abdome, que são de coloração preta. Alimenta-se da região da raiz e pode atingir o ponto de crescimento, matando as plantas recém-germinadas. Com o desenvolvimento da planta e também das larvas, é comum o ataque ser verificado nas raízes adventícias, prejudicando o desenvolvimento normal da planta. Em ataques intensos é comum o desenvolvimento de raízes nos nós da planta. A planta desenvolvese de maneira irregular, apresentando-se recurvada. O ciclo biológico total do inseto dura cerca de 53 dias, sendo de 13, 23 e 17 dias os períodos de incubação, larval e pupal, respectivamente. O inseto é uma praga polífaga que afeta diversas culturas no Brasil. Os adultos atacam as folhas de hortaliças de modo geral, feijoeiro, soja, girassol, algodoeiro, etc. (ZUCCHI et al., 1993). As larvas atacam a parte subterrânea, incluindo sementes em germinação, nódulos de leguminosas, raízes de milho e tubérculo de batata, provocando muitas vezes danos severos (LOURENÇÃO et al., 1982). Em milho, nos últimos anos, com o incremento da área de safrinha, as larvas vêm causando consideráveis danos ao sistema radicular dessa gramínea, especialmente em sistemas de plantio direto (GASSEN, 1996; MARQUES et al., 1999). No entanto, ainda não se tem resultados de campo, quantificando o impacto de diferentes populações do inseto sobre os rendimentos da cultura de milho. Segundo Marques et al. (1999), existe relação positiva e significativa entre a densidade de larvas de D. speciosa no sistema radicular de milho e o dano na raiz e redução do peso seco da parte aérea da planta. Para estes autores, a densidade de larvas capaz de causar danos ao milho, no estádio em que ocorreu a infestação (sete dias após a emergência), está aquém de 40 larvas por planta. Porém, como os resultados não foram obtidos em campo e sim em vasos contendo vermiculita como substrato, o que pode não traduzir a realidade, especialmente em relação à sobrevivência das larvas, estes autores sugerem que novas pesquisas devam ser realizadas no campo, para se conhecer o real nível de dano econômico dessa praga na cultura do milho. Bicho-bolo ou coró Phyllophaga spp.; Cyclocephala spp. e Diloboderus abderus Sturm, 1826 (Coleoptera, Scarabaeidae) As larvas dos insetos conhecidos como bicho-bolo ou corós (Phyllophaga spp.; Cyclocephala spp. e Diloboderus abderus) Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto são semelhantes quanto ao aspecto geral, com o corpo de coloração brancoamarelada e em forma de C; a cabeça é de cor marrom; possuem três pares de pernas. A ponta do abdome é brilhante e transparente e o conteúdo interno do corpo pode ser visualizado através da pele. Dentro de um mesmo estádio de desenvolvimento, as larvas de cada espécie podem ser separadas pelo tamanho e pela disposição dos pêlos e espinhos na região ventral do último segmento abdominal (SALVADORI, 1997). Nas espécies do gênero Phyllophaga existem duas fileiras paralelas de espinhos no centro daquele segmento; em Cyclocephala existe distribuição uniforme das setas no último segmento abdominal da larva; a cabeça das larvas de D. abderus é de coloração marromavermelhada, mais escura do que a cabeça das outras duas espécies, que é marromamarelada. Os adultos são mais facilmente separados, especialmente no tamanho e na cor. D. abderus são os de maior tamanho (cerca de 25 mm), apresentando coloração pardo-escura, e os machos apresentam “chifre”. Os besouros de Phyllophaga sp. são de tamanho intermediário (20 mm) em relação às outras duas espécies e apresentam coloração marrom-avermelhadabrilhante. Os besouros de Cyclocephala são os de menor tamanho (cerca de 15 mm) e apresentam coloração marrom-amarelada. Esses insetos podem ter ciclo de vida de dois a quatro anos, embora seja mais comum o ciclo de três anos. Normalmente, colocam os ovos em gramíneas nativas. As larvas recém-nascidas iniciam sua alimentação próximo à superfície do solo. As plantas de milho podem ser severamente danificadas ou enfezadas pela alimentação das larvas nas raízes. Em infestações pesadas, a planta pode morrer. Em infestações mais leves, pode ocorrer o tombamento das plantas, em função do enfraquecimento do sistema radicular. Os danos geralmente são localizados em reboleiras. Pequenas áreas podem ser totalmente destruídas, enquanto outras permanecem intactas. Essa variação reflete a preferência 69 dos adultos por oviposição em certos tipos de solo. Mesmo pequenas variações na textura do solo aparentemente podem afetar a preferência pela oviposição. À semelhança de outros insetos de solo, as espécies de bicho-bolo, no Brasil, são pouco conhecidas e estudadas em relação à sua taxonomia e bioecologia, o que dificulta o estabelecimento de seus níveis de dano na cultura de milho. Alvarado (1980, 1983, 1989) relatou que na Argentina o efeito de larvas de D. abderus é evidente na fase inicial de milho, quando as densidades são superiores a quatro larvas/m2. No Brasil, Silva e Costa (2002) concluíram que o nível de controle para milho seria de apenas 0,5 larvas/m2. Larva-arame Agriotes; Conoderus e Melanotus (Coleoptera, Elateridae) Segundo Thomas (1940), os insetos denominados larva-arame são considerados pragas de grande importância para muitas plantas cultivadas em vários países do mundo. Lima (1953) mencionou a importância das espécies do gênero Agriotes e Conoderus, ao danificar raízes e a base do caule de plantas, principalmente gramíneas. Algumas espécies do gênero Melanotus também são citadas como pragas de milho (QUATE; THOMPSON, 1967; RILEY et al., 1974; RILEY; KEASTER, 1979). Keaster et al. (1975) salientaram as dificuldades existentes para estabelecer os níveis de danos e construir tabelas de vida para as espécies de larva-arame, devido à falta de informações tanto sobre preferência por hospedeiros, como sobre os efeitos de fatores ambientais sobre o crescimento e desenvolvimento de suas populações. A biologia dessa praga varia de acordo com a espécie. Não existem no Brasil estudos básicos sobre tais espécies. Segundo Keaster et al. (1975), uma das razões para isso está relacionada com a complexidade de espécies, dificuldade de coletar grande número de larvas e ciclo biológico muito longo. As informações encontradas no Brasil são na maioria genéricas. Os adultos Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006 desses insetos variam de seis a 19 mm de comprimento, possuem coloração marrom ou mesmo mais escura e têm forma alongada, afunilando nas extremidades. Depositam seus ovos no solo, entre as raízes de gramíneas. As larvas alimentam-se das raízes de milho e de outras gramíneas. As recém-nascidas são de coloração esbranquiçada. Quando completamente desenvolvidas adquirem coloração marromamarelada e o corpo torna-se bastante esclerotinizado. O período larval varia de dois a cinco anos. Findo esse período, a larva forma uma célula no solo e transformase numa pupa tenra e de coloração branca, permanecendo nesse estádio por curto período, findo os quais emergem os adultos. Li et al. (1976) descrevem o ciclo biológico de C. vespertinus, uma praga importante na cultura do milho na Região Nordeste dos Estados Unidos da América. Os ovos dessa espécie (brancos e esféricos) são depositados no solo, em massas, sendo que cada massa pode conter entre 20 e 40 ovos, medindo cada um cerca de 0,5 mm. Durante seu ciclo a fêmea pode depositar entre 200 e 1.400 ovos. A larva de coloração marrom é alongada, com corpo rígido, medindo entre 18 e 22 mm, quando completamente desenvolvida. Apresenta o abdome com muitos segmentos e com reentrância no final do último segmento. O estádio larval dura entre três e sete anos. A transformação no estádio de pupa ocorre no próprio solo. A pupa é de coloração que varia de branca a marrom-brilhante e mede entre 12 e 15 cm de comprimento. Controle das pragas subterrâneas Em função da escassez de informações sobre a bioecologia dessas pragas, as recomendações de controle muitas vezes são de caráter geral. Uma delas baseia-se na rotação de culturas que, de maneira geral, influencia o grau de incidência de uma ou outra espécie de pragas subterrâneas na cultura do milho, de acordo com o tipo de cultivo utilizado na rotação, com a seqüência de rotação e com o tempo que se tenha cultivado a mesma espécie vegetal antes Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 70 de mudar para outra (LIMA, 1992). Segundo Gray e Steffey (1993), o potencial de dano de uma praga subterrânea é baixo na cultura do milho, quando este é semeado após a soja, não necessitando, portanto, de medidas químicas de controle. Porém, quando o milho é semeado após milho ou após pastagem, problemas maiores podem ocorrer, especialmente em relação ao bichobolo, larva-arame e larva-alfinete. Segundo Lima (1992) a eliminação de hospedeiros intermediários, principalmente na ante-safra, é outra medida que contribui para diminuir a população de pragas subterrâneas, aliviando a pressão de infestações que ocorreriam no próximo cultivo. O atraso na semeadura de milho tem sido relacionado com a diminuição da população de D. abderus (ALVARADO, 1980; MOREY; ALZUGARAY, 1982; SILVA et al., 1996). Medidas químicas de controle ainda têm-se constituído na prática mais extensamente empregada para o controle de pragas subterrâneas (LIMA, 1992). Isso se deve, sem dúvida, à facilidade de aplicação. De modo geral, o controle baseia-se em aplicações preventivas, uma vez que o controle curativo, mesmo que possível, nem sempre leva a resultados satisfatórios, considerando que ao notar os sintomas, parte do prejuízo já está feita (LIMA, 1992). Uma dessas medidas é com base no tratamento da semente com inseticidas sistêmicos. Esse método dá proteção à semente e/ou plântula contra a maioria das pragas subterrâneas, seja pelo efeito direto do produto em contato com a praga, o que causa sua morte, seja pelo efeito de repelência, não deixando que a praga ocasione danos na fase mais crítica da cultura. Dessa maneira, tem-se maior número de plantas por unidade de área do que se teria, se não fosse efetuado nenhum tipo de controle. Segundo Radford e Allsopp (1987), o tratamento de sementes requer menos quantidade de ingrediente ativo do que as aplicações no sulco de plantio, seja através de pulverizações ou de produtos granulados. Como conseqüência, o custo do controle é menor. Segundo Viana e Marochi (2002), o controle químico tem sido o método mais utilizado em programas de manejo das várias espécies de Diabrotica. No entanto, para D. speciosa, a espécie que ataca o milho no Brasil, os trabalhos são escassos, impossibilitando recomendação eficiente de inseticidas ou método de aplicação. Os estudos relatados em outros países indicam a persistência (seis a dez semanas para conferir proteção à planta durante o período mais suscetível) dos inseticidas como fator importante no controle de Diabrotica (LEVINE; OLOUMI-SADEGHI, 1991). No entanto, resultados inconsistentes têm sido relatados em vários trabalhos visando o controle da praga (APPLE et al., 1977; SUTTER et al., 1989, 1990; DAVIS; COLLEMAN, 1997). Para o controle de S. castanea em milho safrinha, Raga et al. (1997) trabalhando com inseticidas via tratamento de semente ou aplicados sobre o solo, destacaram apenas o inseticida clorpirifós como eficiente, quando pulverizado no sulco de plantio. Em outro trabalho na mesma cultura, em avaliação realizada aos 55 dias após a semeadura, encontraram maior eficiência na redução populacional do inseto, empregando os inseticidas (g i.a. ha-1) terbufós (2.000 e 3.000 g i.a. ha-1), fipronil (80 g i.a. ha-1) e endosulfan (525 e 1.050 g i.a. ha-1), estimando níveis médios de mortalidade de 97,9%; 95,8%; 76,3%e 64,6%, respectivamente (RAGA et al., 1998). Siloto et al. (2000) observaram que aos 38 dias após a aplicação, os inseticidas terbufós, clorpirifós e endosulfan foram os inseticidas mais eficientes na redução da população do percevejocastanho em milho safrinha. Para controlar o bicho-bolo (D. abderus), Silva (1996), estudando diferentes inseticidas de tratamento de sementes, concluiu, com base no número de larvas vivas, população de plantas e produtividade de grãos, que os melhores produtos foram thiodicarb (700 g 100 kg-1 de sementes), carbossulfan (500 g 100kg-1), e furathiocarb (640 g 100 kg-1). Morrill (1984), em estudos que visaram o controle de larva-arame, relatou a eficiên- cia dos produtos carbossulfan e lindane utilizados via tratamento de sementes na redução do número de plantas mortas por espécies de larva-arame na cultura do trigo. Pragas do colmo Lagarta-rosca Agrotis ipsilon Hufnagel, 1766 (Lepidoptera, Noctuidae) O nome científico dessa espécie reflete a marca verificada na asa anterior da mariposa que lembra a letra grega ípsilon. A espécie é uma praga de ocorrência mundial que ataca folhas, colmos e raízes de muitas espécies vegetais cultivadas incluindo uva, algodão, fumo, soja, batata, tomate, feijão, repolho, couve-flor, morango e milho. As posturas são feitas na parte aérea da planta. Após o primeiro instar, as lagartas dirigem-se para o solo, onde permanecem protegidas durante o dia, só saindo ao anoitecer para se alimentarem. A lagarta desse inseto alimenta-se da haste da planta, provocando o seccionamento desta, que pode ser total, quando as plantas estão com a altura de até 20 cm, pois ainda são muito tenras e finas, e parcial, após esse período. Apesar desse sintoma de dano ser característico da lagarta-rosca, ele não é exclusivo, pois pode ser provocado também pela lagarta-do-cartucho. Portanto, deve-se identificar corretamente a espécie que está ocasionando o dano. A separação das espécies, através dos adultos, é muito fácil, em função das grandes diferenças morfológicas. No entanto, às vezes, não é tão fácil a separação das lagartas. Uma das características que pode ser utilizada para a separação mais rápida é através das suturas da cabeça, onde se tem desenhado na parte frontal de S. frugiperda um Y invertido, enquanto que na lagarta de A. ipsilon o que observa é um V invertido. As lagartas de A. ipsilon, quando completamente desenvolvidas, medem cerca de 40 mm, são robustas, cilíndricas, lisas e apresentam coloração variável, predominando a cor cinza-escura. As lagartas quando tocadas enrolam-se tomando o aspecto de uma rosca. A duração do ciclo Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto Controle das pragas de colmo a) tratamento de sementes: o tratamento de sementes é eficaz para o controle da lagarta-rosca, porém somente para os ataques em plântulas; b) controle biológico: existem laboratórios de produção de moscas e vespas, que são liberadas na área, e em função da capacidade inerente de busca de cada espécie liberada, procuram e controlam eficientemente a praga. Com o aumento da incidência na cultura do milho, tal tecnologia biológica pode ser facilmente adaptável. Atualmente, pela facilidade de produção e baixo custo, o parasitóide de ovos do gênero Trichogramma tem sido indicado para o controle biológico de várias pragas de importância econômica em sistemas florestais e agrícolas (PARRA et al., 2002). Pragas da parte aérea (fase vegetativa) Mastigadores Lagarta-do-cartucho Spodoptera frugiperda Smith, 1797 (Lepidoptera, Noctuidae) A lagarta-do-cartucho é a principal praga da cultura do milho por sua ocorrência generalizada e por atacar todos os estádios de desenvolvimento da planta. A redução nos rendimentos de grãos, devido ao ataque dessa praga, varia de 17,7% a 55,6% de acordo com o estádio de desenvolvimento e dos genótipos de milho (CRUZ; TURPIN, 1982, 1983; WILLIAMS; DAVIS, 1990; WILLINK et al., 1991; CRUZ et al., 1996, 1999a). Aspectos sobre a sua bioecologia foram revisados por Cruz (1995a). A mariposa coloca seus ovos agrupados formando massa, que pode conter mais de 300 ovos. O período de incubação varia de acordo com a temperatura, mas nos meses de verão, é em torno de três dias. As larvas recém-eclodidas iniciam sua alimentação pelas partes mais tenras das folhas, deixando sintoma de dano característico, pois se alimentam apenas da parte verde, sem, no entanto ocasionar furos nas folhas, ou seja, raspam a folha, deixando apenas a epiderme membranosa. As plantas que estão sendo atacadas são, portanto, facilmente reconhecidas pelas inúmeras pontuações transparentes. Quando a lagarta passa para o segundo instar ela começa a furar as folhas, indo em direção ao cartucho da planta, local onde permanece até próximo ao estádio de pupa. Durante o período larval, em torno de 18 a 20 dias, a lagarta consome grande quantidade de área foliar (Fig. 3), geralmente alimentando-se das folhas mais tenras. A lagarta pode também penetrar no colmo, através do cartucho, fazendo galerias descendentes, até danificar o ponto de crescimento, ocasionando o sintoma denominado coração morto. Outro dano provocado pela lagarta-do-cartucho é através do seccionamento na base do colmo que pode ser parcial ou total, neste caso, com a morte da planta. O ponto de inserção da espiga pode ser também atacado, com perda total da produção da planta atacada, devido à não-formação de grãos ou pela queda da espiga com grãos ainda em formação. São também comuns os danos diretamente no grão em formação dentro da espiga, ocasionando danos diretos pela alimentação ou indiretos por facilitar a penetração de microrganismos, tais como fungos e bac- Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006 Arquivo Embrapa Milho e Sorgo larval varia entre 20 e 25 dias, à temperatura de 25oC ± 3oC (HARRIS et al., 1962; SANTOS; NAKANO, 1982). A lagarta transforma-se em pupa no próprio solo. A pupa apresenta o tegumento bem esclerotizado, marrom, com segmentação bem evidente. A duração do estádio pupal varia entre 11 e 15 dias, à temperatura de 25oC ± 3oC (HARRIS et al., 1962; ELSAYED; NAGUIB, 1964; SANTOS; NAKANO, 1982). A mariposa é geralmente de coloração marrom-escura, com áreas claras no primeiro par de asas, coloração clara com os bordos escuros, no segundo par, medindo cerca de 40 mm de envergadura. Santos e Nakano (1982) relataram que o número médio de ovos obtidos por fêmea de A. ipsilon foi 1.263, em experimento de laboratório. 71 Figura 3 - Danos causados pela lagartado-cartucho, Spodoptera frugiperda térias. Nesse caso, a perda em qualidade do grão e conseqüentemente da própria silagem é reduzida. A lagarta completamente desenvolvida sai da planta e dirige-se ao solo penetrando por alguns centímetros, onde constrói uma célula, transformando-se em seguida em pré-pupa, com duração de cerca de um dia, findo o qual se transforma em pupa. O período pupal dura cerca de onze dias. Controle de pragas que atacam a fase vegetativa do milho A lagarta-do-cartucho é sem dúvida a praga de maior preocupação em termos de manejo, em virtude de sua ocorrência em praticamente todas as fases de desenvolvimento da planta. Em função disso, diferentes estratégias de manejo precisam ser adotadas. Ataque no início do desenvolvimento da cultura de milho acarretará redução do número de plantas na área, pois a plântula fatalmente será morta pela praga. Em fun- Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 72 ção da pequena área foliar da planta, muitas vezes o controle via pulverização convencional não é eficiente, pois o produto não fica retido na folha, diminuindo seu período residual. A medida de controle, com base no uso de inseticidas sistêmicos via tratamento de sementes, tem sido uma alternativa viável. Em plantas mais desenvolvidas, ou seja, a partir do estádio de oito folhas, muitas vezes a eficiência esperada do controle da praga não é alcançada, não pela ineficiência do produto utilizado, mas sim, devido ao método de aplicação. Por exemplo, em estádios mais avançados de desenvolvimento da planta a eficiência da aplicação via trator pode cair, significativamente, devido ao tombamento das plantas pela própria barra de pulverização, fazendo com que o produto não atinja o centro do cartucho da planta onde se encontra a praga (Quadro 1). Um indicativo para determinar a época de controlar a lagarta-do-cartucho – Nível de Controle (NC) ou porcentagem de plantas atacadas, acima dos quais se recomenda o controle – na cultura de milho destinado à produção de grãos, é mostrado no Quadro 2. O valor calculado de porcentagem de plantas atacadas, quando comparado com o valor real da infestação observada no campo, serve de base para tomar decisões sobre o controle da praga. Um valor médio encontrado no campo, semelhante ou superior ao valor determinado pelo Quadro 2, leva à decisão de controlar a praga. O valor no Quadro 2 é estabelecido em função da fórmula, que leva em consideração o custo do controle, o dano médio que a praga ocasiona (média de 20%) e o valor a ser protegido (valor monetário do milho). Assume-se que quanto maior for o valor a ser protegido, menor será a tolerância à praga. O NC calculado é então comparado ao valor real da porcentagem de plantas atacadas, obtido no campo, após amostragem realizada em cinco pontos/ha (100 plantas consecutivas por ponto). Exemplificando, para um rendimento esperado de 6 toneladas de grãos de mi- QUADRO 1 - Comparação entre aplicação via trator ou pulverizador costal de inseticidas em milho em diferentes estádios de desenvolvimento, para o controle de Spodoptera frugiperda Mortalidade larval (%) Estádio de desenvolvimento da planta Dose Produto (g i.a. ha-1) Aplicação no dia da pulverização (número de folhas abertas) Clorpirifós 288,0 Metomil 112,5 Fenpropatrin 30,0 4-6 6-8 8-10 10-12 Costal 89 94 99 79 Trator 84 84 65 25 Costal 88 83 96 76 Trator 85 95 69 50 Costal 89 80 94 53 Trator 82 86 70 20 NOTA: i.a. - Ingrediente ativo. QUADRO 2 - Valor estimado da incidência da lagarta-do-cartucho na cultura de milho (%) acima do qual se devem utilizar medidas de controle (1) Nível de controle (NC) (% de plantas atacadas) Custo Rendimentos estimados do controle (t ha-1) (R$) 3 4 5 6 7 8 7 11,7 8,7 7,0 5,8 5,0 4,4 8 13,3 10,0 8,0 6,7 5,7 5,0 9 15,0 11,2 9,0 7,5 6,4 5,6 10 16,7 12,5 10,0 8,3 7,1 6,2 11 18,3 13,7 11,0 9,2 7,9 6,9 (1) NC calculado pela fórmula: 100 x Custo do Controle em R$ ha-1 (R$ 0,20 x kg ha-1 x preço do milho, em R$ kg-1, em que o valor fixo de R$ 0,20 é o dano médio que a praga ocasiona ao milho (20%); assumindo um valor de R$ 0,10 (kg de milho). lho por hectare e um custo de controle de R$ 10,00, o ponto de decisão sobre a necessidade de controle da lagarta-do-cartucho seria para infestação igual ou superior a 8,3%. Devido às características de ataque da lagarta-militar na cultura de milho, geralmente em surtos, a aplicação de inseticidas químicos deve ser imediata e dirigida para todas as partes da planta. Quando o ataque da praga ocorre em plantas, cujo estádio de desenvolvimento impede a entrada de equipamentos como o trator, pode-se fazer uso da pulverização via água de irrigação ou através de avião. Considerando que a ocorrência inicial da praga pode ser nas plantas daninhas dentro ou fora da cultura do milho, muitas vezes, o controle desses focos resulta em maior eficiência e em menor custo, por ser aplicação localizada. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto Sugadores Cigarrinha-do-milho Dalbulus maidis Delong & Wolcott, 1923 (Homoptera, Cicadellidae). Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Dalbulus maidis (Fig. 4) é a cigarrinha mais importante da cultura do milho na América Latina (NAULT, 1990). Essa espécie no Brasil ainda é de importância relativamente pequena pelos danos diretos ocasionados através da sucção de seiva. No entanto, por ser transmissora eficaz de doenças, tem recebido muita atenção dos pesquisadores, pois a alta incidência das doenças transmitidas pode limitar a produção do milho. A fêmea mede cerca de 5 mm e seus ovos são alongados, incrustados na nervura principal, geralmente no interior do cartucho. Tanto as ninfas como os adultos são sugadores de seiva. No processo de alimentação em planta doente e, posteriormente, em uma sadia ocorre a transmissão da doença, que pode ocasionar perdas elevadas nos rendimentos. Entre as principais doenças transmitidas pela cigarrinha, estão os enfezamentos, que são doenças sistêmicas associadas à presença, no floema das plantas, de microrganismos procariontes, pertencentes à classe Mollicutes (espiroplasma e fitoplasma) (FERNANDES; OLIVEIRA, 2000). Os enfezamentos reduzem significativamente a quantidade absorvida de nutrien- Figura 4 - Adulto da cigarrinha-do-milho, Dalbulus maidis 73 tes pelas plantas de milho, com conseqüente redução na produção, sendo esse efeito influenciado pela suscetibilidade da cultivar, época de infecção das plantas e temperatura ambiente. O espiroplasma e o fitoplasma são transmitidos de forma persistente pela cigarrinha. Esse insetovetor, assim como os patógenos que transmitem, multiplica-se apenas em milho (Zea mays L.) e em espécies relacionadas, que são raras no Brasil (FERNANDES; OLIVEIRA, 2000). Assim, a presença contínua de plantas de milho no campo oriundas da germinação de sementes de milho remanescentes da cultura anterior ou por plantios sucessivos dessa cultura, pode permitir a sobrevivência dos patógenos e da cigarrinha. atacada na fase de formação de grãos, as espigas deformam-se e não há o desenvolvimento dos grãos ou estes tornam-se ressecados (CLOWER, 1957; PARISI; DAGOBERTO, 1979). Quando o grão é atacado no estádio leitoso ou pastoso, apresenta-se completamente destruído ou manchado na maturidade (PARISI; DAGOBERTO, 1979). Outras conseqüências advindas do ataque na espiga, ou nos grãos em formação, incluem a perda na qualidade (diminuição nos teores de óleo, proteína etc.), na estética do produto in natura, industrializado e redução na germinação da semente (DAGOBERTO et al., 1980). Controle de insetos sugadores que Percevejo-barriga-verde Dichelops spp. e Percevejo-verde Nezara viridula Linnaeu, 1758 (Hemiptera, Pentatomidae) Em anos recentes e em algumas regiões do País, tem-se verificado a ocorrência dos percevejos Dichelops e Nezara especialmente em plantas jovens de milho. Os gêneros são facilmente separados, pois o Nezara é totalmente verde e de maior dimensão, enquanto que o Dichelops apresenta o dorso marrom. Tais insetos geralmente migram da cultura da soja para se alimentarem de plântulas de milho, podendo causar redução do número de plantas por unidade de área. Quando o ataque ocorre em plantas mais desenvolvidas e estas não morrem, é comum o aparecimento de perfilhos improdutivos. Além disso, a planta atacada apresenta crescimento retardado. Geralmente, tem-se verificado apenas a presença de adultos que atacam a planta. No entanto, quando a fêmea coloca seus ovos na plântula, as formas jovens também se alimentam e danificam a planta. Segundo Clower (1957), plantas de milho entre 25 e 30 cm, quando atacadas por N. viridula, mostram graus distintos de danos, que variam desde leve murchamento das folhas centrais até a morte da planta. Quando a planta é Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006 atacam a fase vegetativa do milho Para a cigarrinha D. maidis, considerando que os danos são mais significativos em relação às doenças transmitidas e que basta uma picada do inseto para que ocorra a transmissão, a eficiência do controle do vetor não tem sido suficiente para evitar os danos ocasionados pelas doenças. Deve-se, portanto, lançar mão de outras táticas de manejo. Evitar o plantio de cultivares muito suscetíveis, selecionando-as de acordo com as características indicadas em Cruz et al. (2001). O tratamento de sementes tem sido a alternativa viável para o controle dos percevejos. Martins e Weber (1998) estudaram a eficiência e praticabilidade agronômica do imidacloprid (Gaucho 700 PM, nas doses de 140 e 210 g i.a. ha-1 por 100 kg de sementes), comparando-o com a pulverização convencional com methamidophós (Tamaron BR, a 240 g ha-1, aplicado de um a 14 dias após a semeadura). A eficiência do tratamento de sementes no controle do inseto foi superior a 87%, em avaliações realizadas aos 20 e 30 dias após a emergência da planta. O tratamento da semente propicia controle relativamente bom, porém com residual muito pequeno. Dependendo da população da praga (dois percevejos por metro de sulco) haverá necessidade de utilização de FUTURO DO MIP EM MILHO O objetivo principal do Programa do MIP continuará sendo a manipulação de maneira inteligente do ambiente de uma praga-chave, para reduzir permanentemente sua posição de equilíbrio, de tal modo que ela caia para um patamar abaixo do nível de dano econômico. Essa redução duradoura deverá ser conseguida usando táticas (de maneira isolada ou em combinação), tais como a liberação intencional e o estabelecimento de inimigos naturais nas áreas onde eles não se encontram (através do controle biológico clássico), uso de inseticidas microbianos, utilização de variedades de milho resistentes às pragas (seja através da resistência genética tradicional, seja através do uso de plantas geneticamente modificadas – plantas transgênicas) e manejo ambiental (CRUZ, 2002). Em programas de manejo, a meta será sempre evitar que pragas-chave conhecidas atinjam populações que ultrapassem seus níveis de danos. As medidas corretivas deverão ser usadas somente quando as pragas (sejam elas, pragas-chave, secundárias ou migratórias, recentemente surgidas na área) estiverem fora do controle e as perdas que justifiquem as ações de controle sejam aparentes. Alguma tática de manejo ainda muito incipiente na cultura do milho no Brasil com certeza receberá atenção especial nesse novo milênio: controle biológico com predadores e parasitóides; controle microbiano, uso seletivo de produtos químicos e plantas geneticamente modificadas. Controle biológico com predadores e parasitóides Essa tática de controle contra as pragas do milho, embora não tenha sido ainda amplamente utilizada, deve aumentar de a) aplicações de alimentos suplementaimportância nos próximos anos, especialres para atrair, fixar, reter e sustentar mente quando composta com outros méos inimigos naturais na área, quando a todos de controle, em função das melhorias presa natural está em baixa população nas técnicas de produção dos inimigos ou quando substâncias nutritivas, tais naturais, do conhecimento da época mais como pólen, são deficientes para a apropriada de liberação; a busca de novas manutenção dos inimigos naturais; espécies ou raças mais efetivas também deve contribuir de maneira substancial pab) fornecimento ou manejo de abrigos ra o aumento da eficiência desse método utilizados pelos inimigos naturais, tais de controle (CRUZ, 2002). como margens, faixas ou matas natiEm diversos países existem progravas próximas da lavoura, que também mas de controle biológico através de servem de abrigo para pássaros inseTrichogramma (Fig. 5), um inimigo natural tívoros; muito importante na manutenção de baic) manejo de plantas daninhas que serxas populações de lagartas de H. zea nas vem como refúgios para as populaespigas de milho. Além da eficiência desções dos inimigos naturais; te parasitóide no campo, sua criação em escala pode ser facilmente conseguida em d) uso seletivo de inseticidas para evitar a eliminação dos inimigos naturais. laboratório (CRUZ et al., 1999a), abrindo espaço para uso no controle de outras pragas. Vários outros inimigos naturais têm sido considerados promissores para uso em programas de manejo de pragas, especialmente em relação às espécies de Lepidoptera (CRUZ, 1994, 1995b; CRUZ et al., 1995ab; 1997a; CRUZ e OLIVEIRA, 1997; REIS et al., 1988; REZENDE et al., 1994, 1995; FIGUEIREDO et al., 2002). Apesar de todos esses avanços, ainda será necessária a determinação, com maior precisão, do real valor das liberações maciças desses inimigos naturais Figura 5 - Trichogramma sp., parasitando ovos da no campo. Controle cultural para lagarta-do-cartucho conservar e aumentar os inimigos naturais existentes na área deve ser melhorado no futuro. Novas tecnologias estão sendo desenvolvidas para viabilizar a criação massal da tesourinha Doru luteipes (Dermaptera: Forficulidae) (Fig. 6), em laboratório, e posterior liberação no campo. Técnicas especiais para aumentar a eficiência de inimigos naturais devem ser consideradas em qualquer estratégia de manejo: Figura 6 - Adultos da tesourinha, Doru luteipes Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006 Arquivo Embrapa Milho e Sorgo medidas complementares, através da pulverização. Nesse caso, o inseticida deve ser direcionado especialmente para atingir o colmo da planta, onde normalmente encontra-se o inseto. Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 74 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto O uso de suplementos alimentares para aumentar a eficiência dos inimigos naturais tem sido empregado principalmente para alguns insetos predadores, como pulverizações com substâncias açucaradas em plantas próximas ou na própria cultura. Controle biológico com entomopatógenos Entre os agentes causais de doenças infecciosas em pragas, os fungos ocupam lugar de destaque, sendo os primeiros agentes de infecção de natureza microbiana identificados em insetos (ALVES; MORAES, 1979). Entre os fungos entomopatogênicos mais conhecidos e estudados estão os gêneros Entomophthora, Cordyceps, Aschersonia, Metarrhyzium, Beauveria e Nomuraea. Os fungos caracteristicamente penetram no hospedeiro através do tegumento, ao contrário de bactérias e vírus, os quais só entram via canal alimentar. Recentemente foi demonstrado que certos fungos patogênicos tais como B. bassiana, N. rileyi e P. fumosoroseus alteram a função dos hemócitos durante seu desenvolvimento in vivo (HUNG; BOUCIAS, 1992; LOPES-LASTRA; BOUCIAS, 1994), reduzindo o número de hemócitos do hospedeiro, inibindo dessa maneira a formação de um sistema efetivo de encapsulação multicelular contra o corpo estranho. A eficiência dos fungos depende de vários fatores abióticos. Um desses fatores é a umidade relativa do ambiente, que pode controlar o desenvolvimento do processo infectivo dos fungos, tais como Beauveria, Metarhizium, Nomuraea e Paecilomyces. Segundo Ignoffo et al. (1976) e Gaugler e Boush (1978, 1979), os inseticidas microbianos são inativados pela exposição aos raios solares. A fotoinativação tem sido considerada como o fator ambiental mais importante especialmente no que diz respeito à luz ultravioleta de maior interesse biológico, por ser a faixa onde maiores danos são verificados (EDGINGTON et al., 2000). Produtos comerciais à base de fungos já existem (JARONSKI, 1997). Segundo 75 esse autor, a escolha de fungos como candidatos a agentes de controle biológico cai dentro de sete espécies dentro dos Deuteromicetos (fungo imperfeito): B. bassiana, B. brongniartti, Hirsutella, Verticillim lecanii, M. anisopliae N. rileyi e Aschersonia aleyrodis. Algumas dessas espécies são conhecidas há mais de 100 anos (por exemplo, B. bassiana e M. anisopliae). Somente para B. bassiana existem mais de 700 trabalhos publicados, desde 1970 (JARONSKI, 1997). Os agentes de controle biológico à base de vírus são, na maioria, do grupo Baculovírus, devido à especificidade, à alta virulência ao hospedeiro e à maior segurança proporcionada a vertebrados (TANADA; REINER, 1962; IGNOFFO et al., 1965; ALLEN et al., 1966; WHITLOCK, 1977; BURGHES et al., 1980; MOSCARDI, 1986). Para a lagarta-do-cartucho do milho, têm-se estudado dois tipos de Baculovírus, ou seja, o vírus de granulose e o vírus de poliedrose nuclear. No entanto, esse último tem sido apontado como de maior potencial de uso contra lagartas de Spodoptera spp. (YOUNG; HAMM, 1966; GARCIA, 1979; GARDNER; FUXA, 1980; HAMM; HARE 1982; FUXA, 1982; GARDNER et al., 1984; MOSCARDI; KASTELIC, 1985; VALICENTE et al., 1989; VALICENTE; CRUZ, 1991; JONES et al., 1994; HAMM; CARPENTER, 1997). O vírus de poliedrose nuclear de Spodoptera frugiperda (VPNSF) é específico, isto é, só tem ação sobre a lagartado-cartucho. A larva é a fase mais suscetível à sua infecção. Em condições naturais, a praga é infectada mais comumente por via oral ao ingerir o alimento (folhas de milho) contaminado; no entanto é possível também a infecção através dos ovos, dos orifícios de respiração do corpo (espiráculos), ou mesmo através de insetos parasitóides contendo vírus. Uma vez ingerido, os corpos de inclusão poliédrica, encontrando condições alcalinas existentes no mesêntero são dissolvidos liberando os vírions. O vírus começa a se multiplicar nos núcleos das células dos tecidos, Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006 espalhando-se por todo o corpo do inseto (tecido adiposo, epidérmico, matriz traqueal e mesmo glândulas salivares, tubo de Malphighi e células sangüíneas) e provocando sua morte, geralmente de seis a oito dias após a ingestão. Uma lagarta infectada pelo vírus de poliedrose nuclear ingere apenas 7% do alimento normalmente ingerido por lagarta sadia (VALICENTE; CRUZ, 1991). Entre as bactérias, o Bacillus thuringiensis (Bt) é um dos agentes do controle de pragas mais promissores. Quando a praga alimenta-se do hospedeiro, contendo os esporos de Bt, seu aparelho digestivo fica paralisado e ocorre diminuição na ingestão de alimentos, embora a lagarta ainda permaneça viva por vários dias. Como bioinseticida, o Bt vem sendo usado há décadas (FEITELSON et al., 1992) e está registrado, sem limitação de uso, para controle de várias espécies de Lepidoptera. A limitação para sua maior participação no mercado deve-se ao alto custo de produção e à instabilidade dos resultados obtidos no campo (VAECK et al., 1987). Mesmo com a eficiência Bt efetivo no controle de várias pragas do milho, conforme seu registro de uso, a eficiência das estirpes hoje comercializadas sobre a lagarta-docartucho é baixa (WAQUIL et al., 1982). Toxinas de Bt têm sido as precursoras das plantas transgênicas de milho e de outras culturas para o controle de diferentes pragas de importância econômica. Uso de inseticidas seletivos Apesar do avanço nos métodos alternativos de controle dentro dos programas de MIP, o uso de produtos químicos convencionais ainda será necessário contra muitas pragas para as quais alternativas ainda não estão disponíveis, ou seja, ainda não foram desenvolvidas ou não estão implementadas. É provável que o controle químico ainda persista por longo período como um dos mais potentes métodos de controle de pragas. No entanto, seu uso contínuo não será mais permitido. Além do aumento da conscientização sobre os pro- Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 76 blemas ambientais e o perigo para a saúde, seu uso contínuo irá sempre gerar outras conseqüências, sendo do ponto de vista do MIP, entre as mais importantes, o aumento significativo no nível de resistência da praga. Uso de armadilhas contendo feromônio sexual A disponibilidade comercial do feromônio de Spodoptera frugiperda tem favorecido a tomada de decisão sobre a necessidade de controle dessa praga. Tem também propiciado o avanço principalmente na utilização do controle biológico através de parasitóides de ovos, como é o caso de Trichogramma spp. e Telenomus remus. Os trabalhos desenvolvidos pela Embrapa Milho e Sorgo indicam a utilização de uma armadilha do tipo Ferocon 1C por hectare. Essa armadilha, contendo o feromônio sexual de S. frugiperda deve ser colocada no centro da área, logo após a emergência da plântula. As vespinhas Trichogramma ou Telenomus serão liberadas na densidade de 100 mil adultas por hectare, quando forem capturadas em média três mariposas por armadilha. Caso a opção seja por inseticida químico, a escolha deve ser por produto seletivo, aplicado 10 dias após a detecção das três mariposas por armadilha por hectare, seguindo as condições apontadas no Quadro 2. _______. 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As causas do aumento da incidência dessas doenças são a monocultura do milho, as alterações climáticas e o manejo cultural adotado, fazendo com que os patógenos (fungos, bactérias, nematóides, vírus, molicuttes) permaneçam por mais tempo na área de cultivo. O manejo de doenças do milho exige o empenho do produtor, que resultará numa maior ou menor eficiência do controle. Estão disponíveis no mercado, híbridos que apresentam diferentes graus de resistência para diferentes doenças, mas não para todas. Para algumas doenças foliares, causadas por fungos, há trabalhos comprovando a viabilidade e a eficiência do controle químico, podendo assim fazer parte do sistema de manejo da cultura. Palavras-chave: Zea mays. Doença. Manejo. Nematóide. A incidência e a severidade de doenças na cultura do milho têm aumentado muito nos últimos anos, devido, principalmente, a mudanças climáticas globais, a mudanças no sistema de cultivo (plantio direto, milho irrigado), da época de plantio (primeira época – safra de verão e segunda época – safrinha), de plantios consecutivos (milho no campo o ano todo), da expansão da área cultivada para a região CentroOeste e, não raro, à ausência da rotação de culturas (substituída pela sucessão de culturas). Essas mudanças têm contribuído acentuadamente para a multiplicação e preservação de inóculos de diversos patógenos (fungos, bactérias, nematóides, vírus, molicuttes), bem como submetido a cultura do milho a condições edafoclimáticas favoráveis ao desenvolvimento de determinadas doenças. No Brasil, atualmente, são muitas as doenças da cultura do milho. Destacam-se a mancha-branca (etiologia indefinida); as ferrugens causadas por Puccinia sorghi (ferrugem-comum), Puccinia polysora (ferrugem-polissora) e Phyzopella zeae (ferrugem-branca ou tropical); a queimade-turcicum (Exserohilum turcicum); a cercosporiose (Cercospora zeae-maydis e Cercospora sorghi f. sp. maydis); a manchafoliar por Stenocarpella macrospora (Diplodia macrospora); a antracnose-foliar (Colletotrichum graminicola); o enfezamento-pálido e o enfezamento-vermelho, entre outras. mo saprófita. Portanto, a rotação de cultura, o manejo adequado da matéria orgânica e o bom preparo do solo reduzem sensivelmente o seu potencial de inóculo. Por outro lado, o desbalanço de nutrientes no solo predispõe as plantas ao ataque deste patógeno (Fig. 1). Excesso de nitrogênio associado à deficiência de potássio torna as plantas mais suscetíveis à doença. DOENÇAS FOLIARES Arquivo Embrapa Milho e Sorgo INTRODUÇÃO Mancha por turcicum Exserohilum turcicum (= Helminthosporium turcicum) É um fungo invasor do solo e não consegue sobreviver co- Figura 1 - Mancha por turcicum (Exserohilum turcicum) 1 Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected] 2 Enga Agra, D.Sc., Profa UFU, Caixa Postal 593, CEP 38400-902 Uberlândia-MG. Correio eletrônico: [email protected] 3 Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTTP, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: [email protected] Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 83 Mancha-branca Ferrugem-branca ou tropical Etiologia indefinida Physopella zeae Arquivo Embrapa Milho e Sorgo A medida de controle mais recomendada para a mancha-branca é a utilização de cultivares resistentes. Materiais comerciais de milho têm apresentado alta variabilidade no grau de resistência a esta doença (Fig. 2). A alteração na época de plantio deve coincidir com a fase de suscetibilidade do hospedeiro e ausência do patógeno. Em algumas regiões de ocorrência desta doença, sua severidade tem sido maior nos meses de dezembro a maio, não ocorrendo normalmente nos meses de julho a outubro. Figura 3 - Ferrugem-comum (Puccinia sorghi) A ferrugem-branca (Fig. 5) é de ocorrência mais recente no Brasil. Nos últimos anos, disseminou-se de forma que se tornou comum em muitas regiões do País. É favorecida por ambientes úmidos e por temperaturas moderadas a altas. Portanto, por amplitude maior de temperatura que aquela mais favorável à ferrugem-polissora, apresentando grande capacidade de adaptação em diferentes ambientes. Em geral, apresenta maior severidade em locais de baixa altitude e, principalmente, em plantios tardios. Por ser parasita obrigatório e apresentar ciclos completos, as principais medidas de controle para as três ferrugens citadas são a utilização de cultivares resistentes, a eliminação de plantas hospedeiras e o controle químico. Ferrugem-polissora Puccinia polysora Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Arquivo Embrapa Milho e Sorgo A ferrugem-polissora (Fig. 4) é favorecida por temperaturas em torno de 27oC, umidade relativa alta e altitudes inferiores a 900 m. Altitudes superiores a 1.200 m são desfavoráveis à doença. Figura 2 - Mancha-branca Ferrugem-comum Figura 5 - Ferrugem-branca ou tropical (Physopella zeae) A ferrugem-comum do milho (Fig. 3) é favorecida por temperaturas entre 16oC e 23oC, alta umidade relativa e altitudes superiores a 900 m. Por ser parasita obrigatório e apresentar ciclo completo, as principais medidas de controle são a utilização de cultivares resistentes, a eliminação de plantas hospedeiras alternativas e o controle químico. Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Puccinia sorghi Figura 4 - Ferrugem-polissora (Puccinia polysora) Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006 Cercosporiose Cercospora zeae-maydis e C. sorghi f. sp. maydis A cercosporiose (mancha-cinza-dafolha) (Fig. 6) pode causar perdas superiores a 80% na produção de grãos de milho. A severidade da cercosporiose é favore- Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 84 bo foliar (Fig. 7) e na nervura central da folha, sendo favorecida por períodos de alta temperatura e de alta umidade relativa. Como medidas de controle, recomenda-se a utilização de sementes sadias, de cultivares resistentes e de rotação de culturas. Arquivo Embrapa Milho e Sorgo cida pela ocorrência de vários dias nublados, com alta umidade relativa, presença de orvalho e cerração por longos períodos. O fungo sobrevive em restos de cultura de milho e a disseminação de seus esporos ocorre pelo vento e por respingos de água de chuva ou irrigação. Por isso, um fator de grande importância na severidade da doença é a presença, na superfície do solo, de restos de cultura infectados, os quais se constituem em fonte primária de inóculo. A medida de controle mais eficiente é a utilização de cultivares resistentes, eliminação dos restos de cultura e a rotação de culturas. Figura 6 - Cercosporiose (Cercospora zeae-maydis e C. sorghi f. sp. maydis) Antracnose-foliar Colletotrichum graminicola A antracnose-foliar está aumentando em incidência e severidade nas lavouras das principais regiões produtoras de milho, notadamente nos estados de GO, MT, MS, MG, SP, PR e SC. Esta doença tem sido favorecida no SPD, bem como em áreas onde não se pratica a rotação de cultura. A antracnose pode estar presente no lim- Figura 7 - Antracnose-foliar (Colletotrichum graminicola) Mancha por Queima-bacteriana Pseudomonas alboprecipitans A turgidez da folha do milho favorece a ocorrência desta doença, cujos sintomas caracterizam-se pela presença de lesões necróticas, tipicamente alongadas e estreitas (Fig. 9). Excesso de água (chuva ou irrigação) predispõe as plantas de milho ao ataque desta doença. Stenocarpella macrospora Este fungo causa manchas necróticas grandes nas folhas do milho (Fig. 8), que podem ser confundidas com aquelas produzidas por Exserohilum turcium. Contudo, uma característica sintomatológica importante é que na mancha por S. macrospora é facilmente observado um pequeno círculo, visível contra a luz, o qual corresponde ao ponto de infecção do patógeno. Este patógeno sobrevive em resto de cultura de milho infectado, atingindo nova cultura via liberação dos seus esporos pela ação do vento e da água de chuva. Para o controle desta doença recomendam-se a utilização de cultivares resistentes, a eliminação dos restos de cultura contaminados e a rotação de cultura. Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Figura 8 - Mancha por Stenocarpella macrospora Figura 9 - Queima-bacteriana (Pseudomonas alboprecipitans) Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 85 Enfezamento-pálido Enfezamento-vermelho Espiroplasma Fitoplasma O enfezamento-vermelho (Fig. 11), à semelhança do enfezamento-pálido, pode ser seriamente limitante à produção do milho. Esta doença, também, é transmitida por cigarrinhas, principalmente Dalbulus maidis. No Brasil, tem sido observado que, em Figura 10 - Enfezamento-pálido (espiroplasma) Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Esta doença é transmitida pela cigarrinha (Dalbulus maidis). Seus efeitos podem resultar em drástica limitação da produção, particularmente quando as plantas de milho são infectadas nas fases iniciais de desenvolvimento (Fig. 10). Em geral, as plantas apresentam encurtamento de internódios, formação de espigas pequenas e o enchimento de grãos pode ser seriamente prejudicado. As espigas apresentam grãos frouxos, pequenos, descoloridos ou manchados. Dependendo da cultivar, as plantas secam e morrem ou tombam antes da maturidade, provavelmente devido ao enfraquecimento causado pela doença. Em regiões onde o milho é cultivado em plantios sucessivos, as cigarrinhas migram de campos doentes que atingiram a maturidade para campos com plantas jovens, levando com elas o agente da doença. O método mais eficiente para controle do enfezamentopálido do milho é a utilização de cultivares resistentes. geral, as plantas afetadas não apresentam acentuada redução do crescimento, embora o tamanho das espigas e o enchimento de grãos sejam seriamente prejudicados. As medidas de controle para o enfezamento-vermelho incluem, principalmente, o uso de cultivares resistentes. Figura 11 - Enfezamento-vermelho (fitoplasma) Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 86 DOENÇAS DO COLMO plantas vivas e tornarem-se parasitas. Nesse caso, a eficiência da rotação de cultura é questionável. Por outro lado, o manejo adequado da matéria orgânica e o bom preparo do solo permitirão sensível redução no potencial de inóculo. Culturas de milho corretamente adubadas, a fim de evitar desequilíbrios nutricionais, são mais resistentes. A medida mais econômica e eficiente é a utilização de cultivares resistentes. Podridão-do-colmo Stenocarpella (Diplodia): S. maydis ou S. macrospora Arquivo Embrapa Milho e Sorgo A podridão-do-colmo é uma doença favorecida por temperaturas entre 28oC e 30oC e umidade relativa alta, quando estas condições ocorrem duas a três semanas após a polinização (Fig. 12). O fungo, na forma de picnídios e/ou micélio dormente, sobrevive no solo, em restos de cultura e em sementes. Por serem fungos invasores do solo, a rotação de cultura, o manejo adequado da matéria orgânica e o bom preparo de solo reduzem, sensivelmente, o potencial de inóculo no solo. A medida de controle mais econômica e eficiente é a utilização de cultivares resistentes. Figura 14 - Podridão-do-colmo (Pythium sp.) Antracnose-do-colmo Podridão-do-colmo Fusarium verticillioides e F. subglutinans São fungos (Fig. 13) habitantes do solo. Apresentam elevado número de hospedeiros, vivem a maior parte de seu ciclo de vida como saprófitos, podendo infectar A antracnose-do-colmo (Fig. 15) tornase mais visível após o florescimento das plantas de milho, e, conseqüentemente, Figura 13 - Podridão-do-colmo (Fusarium verticillioides e F. subglutinans) Podridão-do-colmo Pythium O principal causador é o fungo Pythium aphanidermatum (Fig. 14), habitante natural do solo e que se diferencia dos demais patógenos de colmo por atacar plantas ainda jovens e vigorosas, antes do florescimento. Em condições de alta umidade do solo e alta temperatura, a podridão ocorre no primeiro entrenó acima do solo. A principal medida de controle é o manejo adequado da água de irrigação. Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Figura 12 - Podridão-do-colmo (Stenocarpella maydis ou S. macrospora) Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Colletotrichum graminicola Figura 15 - Antracnose-do-colmo (Colletotrichum graminicola) Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 87 Podridão-mole-do-colmo a ocorrência da podridão-do-cartucho por E. chrysanthemi. Os sintomas típicos desta doença caracterizam-se pela murcha e seca das folhas do cartucho da planta, decorrentes de podridão aquosa na base desse cartucho (Fig. 18). As folhas do cartucho desprendem-se facilmente e exalam odor desagradável. O controle desta doença do milho, em plantios irrigados, pode ser efetivamente conseguido através do adequado manejo da irrigação. Erwinia carotovora pv. zeae Como o nível de umidade do solo afeta, simultaneamente, a suscetibilidade do milho e a virulência do patógeno, a manutenção de altos níveis de umidade no solo é favorável a patógenos dependentes de água para a sua disseminação, como é o caso da bactéria Erwinia carotovora pv. zeae, que causa a podridão-mole-do-colmo (Fig. 17). As plantas atacadas apresentam apodrecimento aquoso na base do colmo e morrem rapidamente. Esta doença pode ocorrer, também, em locais de temperatura e umidade do ar relativamente altas. Podridão-preta-do-colmo Macrophomina phaseolina Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Este fungo se desenvolve melhor em condições de solo seco e quente, causando a podridão-preta-do-colmo do milho (Fig. 16). Esta doença é facilmente prevenida em cultivos irrigados com a umidade do solo mantida próxima da capacidade de campo. A incidência desta doença aumenta em condições de altas temperaturas e seca por ocasião do florescimento do milho. Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Figura 17 - Podridão-mole-do-colmo (Erwinia carotovora pv. zeae) Figura 16 - Podridão-preta-do-colmo (Macrophomina phaseolina) Podridão-do-cartucho Erwinia chrysanthemi Em geral, as bactérias necessitam de água livre e altas temperaturas para sua multiplicação e disseminação. Assim, a alta umidade proporcionada pelo excesso de água de irrigação ou chuva, principalmente, pelo acúmulo de água no cartucho da planta, associada a altas temperaturas, favorece Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006 Arquivo Embrapa Milho e Sorgo esta é a fase mais apropriada para o seu diagnóstico. A antracnose-do-colmo pode causar a morte prematura da planta, proporcionando o seu tombamento. Esta doença tem sido favorecida no SPD, bem como em áreas onde não se pratica a rotação de cultura. Como medida de controle recomendase a utilização de sementes sadias, cultivares resistentes e rotação de culturas. Figura 18 - Podridão-do-cartucho (Erwinia chrysanthemi) DOENÇAS DA ESPIGA Carvão-da-espiga Ustilago maydis Doença muito comum e de fácil identificação. Ocorre na lavoura normalmente em baixa freqüência (plantas isoladas). O desenvolvimento do carvão-da-espiga (Fig. 19) é favorecido por temperatura alta (26-34oC), baixa umidade do solo e em plantas de milho com deficiência nutricional. A infecção da espiga resulta na substituição dos grãos ou das sementes pelas estruturas do fungo, com evidente formação de galhas. Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 88 Podridão-rosada-da-espiga Fusarium verticillioides ou Podridão-vermelha-daponta-da-espiga F. subglutinans Gibberella zeae Esta podridão de espiga é conhecida, também, pelo nome de podridão-deGibberella. É mais comum em regiões de clima ameno e de alta umidade relativa. A ocorrência de chuvas após a polinização propicia a ocorrência desta podridão de espiga. A doença inicia-se com massa cotonosa avermelhada na ponta da espiga (Fig. 22) e pode progredir para sua base. A palha pode ser colonizada pelo fungo e tornar-se colada na espiga. Ocasionalmente, esta podridão pode-se iniciar na base e progredir para a ponta da espiga, confundindo o sintoma com aquele causado por Fusarium verticillioides ou F. subglutinans. Chuvas freqüentes no final do desenvolvimento da cultura, principalmente em lavoura com cultivar com espigas que não se dobram para baixo após a maturidade fisiológica dos grãos, aumentam a incidência desta podridão de espiga (grãos ardidos). Este fungo sobrevive nas sementes na forma de micélio dormente. A forma assexual de Gibberella zeae é denominada F. graminearum. Arquivo Embrapa Milho e Sorgo A infecção dos grãos pode-se iniciar pelo topo ou por qualquer outra parte da espiga (Fig. 21), mas sempre associada a alguma injúria no grão (grãos ardidos). A medida mais econômica e eficiente é a utilização de cultivares resistentes. Figura 19 - Carvão-da-espiga (Ustilago maydis) Podridão-branca-da-espiga Stenocarpella maydis Figura 20 - Podridão-branca-da-espiga (Stenocarpella maydis ou S. macrospora) Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Figura 21 - Podridão-rosada-da-espiga (Fusarium verticillioides ou F. subglutinans) Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Esta podridão é causada pelo mesmo agente etiológico da podridão-do-colmo. Espigas infectadas apresentam grãos de cor marrom, denominados grãos ardidos; de baixo peso e com crescimento micelial branco entre as fileiras de grãos (Fig. 20). Espigas mal empalhadas, com palhas frouxas e que não se dobram para baixo após a maturidade fisiológica dos grãos são mais suscetíveis. Alta precipitação ou irrigações freqüentes na época da maturidade dos grãos favorecem o aparecimento desta doença. A medida de controle mais econômica e eficiente é a utilização de cultivares resistentes. Arquivo Embrapa Milho e Sorgo ou S. macrospora Figura 22 - Podridão-vermelha-da-pontada-espiga (Gibberella zeae) Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto Os grãos ardidos em milho são o reflexo das podridões de espigas, causadas pelos fungos presentes no campo, isto é, na fase de pré-colheita. São considerados grãos ardidos todos aqueles que possuem pelo menos ¼ de sua superfície com descolorações, cuja matiz pode variar de marromclaro a roxo (Fig. 23) ou vermelho-claro a vermelho-intenso (Fig. 24). Esses fungos podem ser divididos em dois grupos: aqueles que apenas produzem grãos ardidos e aqueles chamados toxigênicos, que, além de propiciar a produção de grãos ardidos 89 são exímios biossintetizadores de toxinas, denominadas micotoxinas. Como padrão de qualidade tem-se, em algumas agroindústrias, a tolerância máxima de 6% para grãos ardidos, em lotes comerciais de milho. Quando ocorrem fortes chuvas após o estádio da maturidade fisiológica dos grãos e também há a postergação na colheita do milho, normalmente a incidência de grãos ardidos supera este limite de tolerância máxima, cujos valores têm atingido freqüentemente 10% a 20%, em algumas cultivares. As principais micotoxinas que têm sido relatadas contaminando o milho na fase de pré-colheita são as aflatoxinas (Aspergillus flavus e A. parasiticus), as ocratoxinas (A. ochraceus) e as toxinas de Fusarium: zearalenona (produzida por F. graminearum e F. roseum), deoxinivalenol - DON ou vomitoxina (F. graminearum e F. verticillioides), toxina T-2 (F. sporotrichioides) e as fumonisinas (F. verticillioides, F. subglutinans e F. proliferatum). Assim, as perdas qualitativas por grãos ardidos são motivos de desvalorização do produto e ameaça à saúde humana e à dos rebanhos. Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Figura 23 - Grãos ardidos (Stenocarpella maydis) Figura 24 - Grãos ardidos (Fusarium verticillioides) Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006 As sementes de milho estão sujeitas a danos por fungos no campo de produção de sementes, durante o período de armazenamento e pelos fungos presentes no solo da semeadura. A semente pode ser infestada ou infectada por fungo. Na infestação, o fungo localiza-se externamente na superfície dela, enquanto que na infecção o fungo aloja-se nos tecidos internos da semente: endosperma e embrião. Os fungos que sobrevivem no solo na forma de estruturas de resistência (clamidosporos, esclerócios e oósporos) ou aqueles que infectam as sementes podem causar o apodrecimento delas (Fig. 25), Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Arquivo Embrapa Milho e Sorgo DOENÇAS DAS SEMENTES, RAÍZES E PLÂNTULAS Figura 25 - Podridão-de-sementes (Pythium aphanidermatum) Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 90 ção de lesão mole, a qual pode apresentar coloração preta, branco-parda ou brancorosada, indicando o ataque de Pythium spp., Diplodia maydis ou Fusarium spp., respectivamente. No solo, os fungos encontram condições ideais para atacar as sementes de milho, principalmente, quando a semeadura é realizada em condições subótimas, isto é, em solo frio, mal drenado, compactado e Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Arquivo Embrapa Milho e Sorgo morte de plântulas em pré ou pós-emergência (Fig. 26 e 27), e podridões radiculares em plântulas (Fig. 28 e 29). Na morte das plântulas, o fungo ataca a região do mesocótilo, próximo ao nível do solo, com forma- Figura 26 - Plântulas atacadas por Sclerotium rolfsii Figura 27 - Plântulas atacadas por Pythium aphanidermatum Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Arquivo Embrapa Milho e Sorgo Figura 28 - Podridão-das-raízes (Pythium aphanidermatum) Figura 29 - Podridão-das-raízes (Rhizoctonia solani) Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto com baixo nível de oxigênio; condição em que há impedimento da germinação, ou a velocidade de emergência é reduzida, propiciando maior exposição ao ataque dos fungos. Temperatura do solo entre 10oC a 12oC impede a germinação das sementes de milho, porém não cessa o desenvolvimento de fungos do solo causadores de apodrecimento de sementes. O potencial de inóculo do fungo no solo é fator importantíssimo na germinação das sementes e atua na intensidade de resposta da semente ao tratamento com fungicida. Em solo muito infectado, mesmo que as sementes tenham alto vigor, a melhor decisão é tratá-las com fungicidas. Também, para as regiões mais frias ou para plantios de inverno, devem-se utilizar lotes com alto vigor, associados ao tratamento das sementes com fungicidas. NEMATÓIDES DO MILHO Muitas espécies de fitonematóides já foram associadas ao milho em diferentes partes do mundo. No Brasil, as espécies mais importantes são Pratylenchus brachyurus, P. zeae, Helicotylenchus spp. Steiner, Criconemella spp. De Grises and Loof, Meloidogyne spp. Goeldi e Xiphinema spp. Cobb. Rotylenchulus reniformis também já foi associada como parasito de raízes de milho. A constatação da ocorrência de nematóides na cultura, principalmente Meloidogyne incognita e M. javanica, que causam danos em lavouras de milho, tem sido freqüente em alguns Estados brasileiros (CARNEIRO et al., 1990; LORDELLO et al., 1986ab). Em muitas regiões brasileiras, o cultivo do milho apresenta-se como única opção agrícola em programas de rotação de culturas principalmente em função da sua adaptabilidade às diversas condições edafoclimáticas. Além disso, em áreas produtoras de soja com Heterodera glycines, o milho é a cultura mais utilizada nos planos de rotação por tratar-se de planta não-hospedeira a essa espécie (MANZOTTE et al., 2002). Por outro lado, estas duas culturas po- 91 dem ser parasitadas por Meloidogyne e Pratylenchus. Meloidogyne: nematóide-de-galhas A ocorrência de Meloidogyne parasitando milho e causando prejuízos foi relatada por Lordello et al. (1986b) e tratava-se de Meloidogyne incognita raça 3. Atualmente, Meloidogyne incognita e M. javanica são as espécies mais comuns em lavouras de milho no Brasil. Sob condições experimentais 2 mil juvenis de 2o estádio de Meloidogyne/kg de solo reduz o crescimento e a produção do milho. As espécies de Meloidogyne são bastante polífagas, ou seja, apresentam ampla gama de hospedeiros. Desse modo, há comprometimento da utilização de rotação de culturas, pois existe escassez de opções de plantas não-hospedeiras. Entre os hospedeiros, incluem-se as plantas infestantes como beldroega, caruru, capim-marmelada e maria-pretinha, que são ótimas hospedeiras para Meloidogyne incognita e M. javanica. O descuido de não evitá-las tanto na safra como na entressafra pode resultar no fracasso da tentativa de reduzir o nível populacional do nematóide. Sintomas O sistema radicular apresenta pequenas galhas. No entanto, as galhas podem estar totalmente ausentes e, por isso, muitas vezes o milho é considerado, erroneamente, como mau hospedeiro ou até mesmo imune. Sintomas observados na parte aérea do milho que refletem o parasitismo nas raízes, compreendem nanismo, clorose foliar, murcha durante os dias quentes e essas plantas doentes formam as reboleiras de tamanho variável. Pratylenchus: nematóide-das-lesõesradiculares No Brasil, o nematóide-das-lesões posiciona-se como o segundo grupo mais importante de fitonematóides à agricultura, Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006 ficando em primeiro os causadores de galhas do gênero Meloidogyne. No entanto, apresenta um número de trabalhos realizados no Brasil ainda inferior ao necessário (FERRAZ, 1999). O gênero Pratylenchus engloba, aproximadamente, mais de 60 espécies descritas (TIHOHOD, 2000). A distribuição geográfica do nematóide-das-lesões é ampla, parasitando várias cultivares de grande interesse como soja, milho, algodão, fumo, trigo, alfafa, maçã, pêssego e citros (GOODEY et al., 1965). Além disso, apresenta grande número de plantas infestantes como hospedeiros, que possibilitam a sobrevivência na entressafra e interferem na eficácia de programas de rotação de culturas, quando não são eliminadas (MANUEL et al., 1980). Entre as plantas infestantes que se destacam pela alta multiplicação, relacionam-se para Pratylenchus brachyurus: carrapichinho (Alternanthera ficoidea), capimcarrapicho (Cenchrus echinatus), capimmarmelada (Brachiaria plantaginea), maria-pretinha (Solanum nigrum), capimcolchão (Digitaria sanguinalis), braquiárias (Brachiaria spp.), tiririca (Cyperus spp.) e grama-batatais (Paspalum notatum). Enquanto que para Pratylenchus zeae, capim-colonião (Panicum maximum), capimcarrapicho, sapé (Imperata brasiliensis) e tiririca são ótimas hospedeiras. Os nematóides-das-lesões são encontrados em quase todos os cultivos de milho e são freqüentemente associados com o crescimento reduzido da cultura. Pratylenchus brachyurus, P. zeae e P. penetrans são as espécies mais encontradas em regiões tropicais e subtropicais. Esses nematóides são tipicamente migradores e endoparasitas de órgãos subterrâneos, não obstante possam ser encontrados associados a órgãos aéreos, como em estacas da planta ornamental Coleus, causando lesões a cerca de 5 cm acima do nível do solo (THORNE, 1961), ou em ramos de aveia e cevada (MERZHEEVSKAYA, 1951). Os nematóides-das-lesões têm quatro estádios juvenis e o adulto. Os ovos po- Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 92 dem ser depositados no interior das raízes ou no solo. Embora sejam comumente mais encontrados no interior dos tecidos vegetais parasitados. A célula-ovo passa pela embriogênese, resultando no primeiro estádio juvenil (J1). Ocorre a primeira troca de cutícula no interior do ovo, resultando no segundo estádio (J2). Esse juvenil eclode e inicia sua alimentação ao penetrar na raiz da planta. Os juvenis, a partir de J2, sofrem três ecdises antes de tornarem-se adultos. O segundo, terceiro e quarto estádios juvenis e os adultos (fêmeas) são infectivos e penetram nas raízes, movimentando através ou entre as células do córtex, enquanto se alimentam do conteúdo celular (NICKLE, 1984). A reprodução em Pratylenchus pode ser realizada por anfimixia, partenogênese meiótica ou partenogênese mitótica, sendo aparentemente equivalentes os números de espécies anfimíticas e partenogenéticas (ROMAM; TRIANTAPHYLLOU, 1969; LUC, 1987). Os machos de P. brachyurus são extremamente raros, visto que as fêmeas reproduzemse por partenogênese mitótica. O período necessário para completar uma geração varia conforme a temperatura. Em baixas temperaturas, o ciclo de vida é retardado em milho, quando comparado com o desenvolvimento em temperaturas mais altas (TIHOHOD, 2000). Uma geração completase em quatro a oito semanas, em média, e o desenvolvimento é parcial ou totalmente no interior dos tecidos vegetais, particularmente nos sistemas radiculares das plantas hospedeiras. Assim, várias gerações podem ocorrer durante o ciclo vegetativo das culturas (JENKINS; TAYLOR, 1967). A temperatura juntamente com a espécie vegetal afeta efetivamente o desenvolvimento e a reprodução do Pratylenchus (OLOWE; CORBETT, 1976; ZIRAKPARVAR et al., 1980). Freqüentemente a temperatura ótima para desenvolvimento do nematóide está correlacionada com a temperatura ótima requerida para um bom crescimento da planta (OLOWE; CORBETT, 1976). A temperatura de 20oC é considerada ótima para o bom desenvolvimento de raízes e é simultaneamente ótima para penetração máxima na raiz e desenvolvimento do P. brachyurus (DICKERSON et al., 1964). Nas espécies de clima tropical, como P. brachyurus, o ciclo completa-se em 28 dias a 30oC - 35oC e a mais alta taxa de reprodução foi observada a 29oC - 30ºC (LINDSEY; CAIRNS, 1971; OLOWE; CORBETT, 1976). Embora para muitas espécies de Pratylenchus não se tenham dados sobre a influência de características físicas do solo, sabe-se que a textura dele está ligada ao desenvolvimento do nematóide. Em P. zeae, verificou-se que a movimentação horizontal foi bem maior em solo arenoso do que em solo argiloso, quase não havendo migração na ausência de raízes (ENDO, 1959). Sintomas O gênero Pratylenchus, segundo Tihohod (2000), causa nas raízes ferimentos, onde outros organismos patogênicos como bactérias e fungos, tornam-se oportunistas e penetram. Essa interação ocasiona a formação de lesões que resultam na destruição dos tecidos da raiz. Os sistemas radiculares parasitados mostram-se reduzidos, pouco volumosos e rasos. Os juvenis e/ou adultos entram nas raízes e penetram através ou entre as células do córtex, alimentando-se do conteúdo celular, enquanto migram pelos tecidos. O parênquima cortical fica bastante desorganizado, devido à destruição de numerosas células durante a movimentação dos espécimes (ação mecânica). Também, durante a alimentação, observa-se injeção de secreções esofagianas no interior das células (ação tóxica), as quais se degeneram e acabam morrendo pouco tempo depois da retirada do nematóide. Com isso, ocorre severa proliferação de raízes laterais em milho (OGIGA; ESTEY, 1975; ZIRAKPARVAR et al., 1980). As radicelas infestadas por Pratylenchus freqüentemente sofrem invasão por fungos e/ou bacté- rias do solo, resultando no aparecimento de muitas lesões necróticas típicas, de coloração escura. P. zeae causa interrupção mecânica das células e necrose, e resulta na formação de cavidades no tecido cortical (OLOWE; CORBETT, 1976; OLOWE, 1977). Ao contrário, P. brachyurus causa mais necrose do que danos mecânicos. Ocasionalmente, é observada uma delicada hipertrofia da célula. A presença de pequenas lesões na superfície da raiz planta pode ser observada com freqüência. A alteração das células é o resultado da reação às toxinas produzidas pelo nematóide (BROOKS; PERRY, 1967). As reboleiras são características nas pratilencoses de cultivos de milho, consistindo de conjunto de plantas que apresenta sintomas reflexos na parte aérea em função do parasitismo que acontece nas raízes. As plantas tornam-se pequenas (nanismo), com ramos finos e folhas cloróticas amarelecidas. A murcha pode ocorrer durante a estação seca e, com ataque severo, pode acontecer a desfolha. Espigas pequenas e mal granadas podem também ser observadas. Manejo de áreas contaminadas por nematóides O milho é uma das culturas mais recomendadas para a prática de rotação em áreas infestadas com Meloidogyne javanica (Treub, 1885) Chitwood 1949, pela existência de muitos genótipos que não permitem a multiplicação do nematóide. No entanto, para P. brachyurus, P. zeae Graham 1951 e M. incognita já não há essa pronta disponibilidade. O conhecimento do fator de reprodução (FR) das espécies de nematóides em genótipos de milho é importante. O FR é calculado pela razão entre a população final do nematóide (colheita) e a população inicial do nematóide (semeadura), e expressa se o genótipo é bom ou mau hospedeiro. Os híbridos e cultivares de milho utilizados em plantios comerciais devem apresentar FR menor que 1, se possível igual a zero ou Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto próximo de zero, ou seja, maus hospedeiros. Deve haver pressão por parte dos agricultores, para que as empresas de sementes de milho forneçam as informações de FR. Há uma variação de hospedabilidade dos vários genótipos testados e como esses materiais apresentam diferenciação de uso regional, são muitos no mercado, e as informações são escassas e nem sempre atualizadas. Brito e Antônio (1989), trabalhando com diversos genótipos de milho, observaram que dos materiais testados, a maioria comportou-se como resistente ao nematóide M. javanica. Em outro trabalho, Manzotte (2002) constataram que, dos 56 materiais, 24 mostraram-se resistentes a M. javanica. Por outro lado, Felli e Monteiro (1987), Manzotte (2002) e Medeiros et al. (2001) avaliaram genótipos de milho quanto à reação de M. incognita e M. javanica, e observaram suscetibilidade em todos os materiais estudados. Embora a resistência do milho a M. javanica já tenha sido relatada, as reações de cultivares utilizadas no Nordeste e das linhagens selecionadas nos programas de melhoramento dirigidos àquela região não são conhecidas. Um dos principais fatores responsáveis por essa falta de informação é que o parasitismo do nematóide-dasgalhas em milho nem sempre induz à formação de genótipos efetivamente resistentes (MEDEIROS et al., 2001). Carbofuran é o ingrediente ativo dos nematicidas recomendados para a cultura do milho no controle de Pratylenchus zeae (ANDREI, 1999, 2003). Acréscimos de 33% a 128% na produção podem ser obtidos após a aplicação de nematicidas. Entre as alternativas, o uso da rotação de cultura com plantas do gênero Crotalaria é uma eficiente medida de controle. Considerando-se que no Brasil poucas pesquisas têm sido feitas sobre a utilização de Crotalaria no controle de espécies de Pratylenchus, estudos mostram que a maioria das espécies de Crotalaria apresentam acentuada resistência a P. brachyurus e P. zeae (SILVA et al., 1989). 93 A utilização de genótipos resistentes seria a medida mais eficiente e econômica de controle desses nematóides. Porém, pouco se sabe sobre a resistência de espécies vegetais ao nematóide-das-lesões. Segundo Ferraz (1999), quanto ao controle de P. brachyurus e P. zeae nas culturas da cana-de-açúcar, do café e do milho, há um número expressivo de trabalhos desenvolvidos no País. Contudo, muitos foram divulgados na forma de resumos e de publicações de difícil acesso. Outro problema levantado foi que as estratégias avaliadas visam o controle não só do Pratylenchus, mas primariamente das espécies de Meloidogyne. Outras medidas, como o alqueive que consiste em arações sucessivas, arranquio e eliminação de restos culturais, também são importantes no controle desses nematóides (TIHOHOD, 2000). Entretanto, devese recorrer também a medidas de prevenção para impedir ou limitar a contaminação de áreas não infestadas, principalmente com relação ao trânsito de máquinas e implementos agrícolas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE NEMATOLOGIA,14., 1990, Londrina. Resumos... Londrina: Sociedade Brasileira de Nematologia, 1990. p.4. DICKERSON, O.J.; DARLING, H.M.; GRIFFIN, C.D. Pathogenicity and population trends of Pratylenchus penetrans on potato and corn. Phytopathology, Worcester, v.54, n.3, p.317322, Mar. 1964. ENDO, B.Y. Responses of root-lesion nematodes, Pratylenchus brachyurus and P. zeae, to various plants and soil types. Phytopathology, Baltimore, v.49, p.417-421, July 1959. FELLI, L.F.S.; MONTEIRO, A. R. Hospedabilidade de variedades de milho, Zea mays, a Meloidogyne incognita raça 1. 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Coeficiente técnico. INTRODUÇÃO O desenvolvimento da produção e do mercado do milho deve ser analisado, preferencialmente, sob a ótica das cadeias produtivas ou dos sistemas agroindustriais (SAG). O milho é insumo para produção de centenas de produtos, porém na cadeia produtiva de suínos e aves são consumidos, aproximadamente, 70% do milho produzido no mundo e entre 70% e 80% do milho produzido no Brasil. Assim, para melhor abordagem do que está ocorrendo no mercado do milho torna-se importante, além da análise de dados relativos ao produto milho per si, também uma visão, ainda que superficial, dos panoramas mundial e nacional da produção e consumo das carnes de suíno e de frango e de como o Brasil se posiciona neste contexto, para que seja possível o melhor entendimento das possibilidades futuras do milho no Brasil. PANORAMA INTERNACIONAL Produção de milho Os maiores produtores mundiais de milho são os Estados Unidos, China e Brasil, que, em 2005, produziram: 280,2; 131,1; e 35,9 milhões de toneladas, respectivamente (Quadro 1). De uma produção total, no ano de 2005 de, aproximadamente, 708 milhões de toneladas (USDA, 2006), cerca de 75 milhões são comercializados internacionalmente (em torno de 10% da produção total, em 2005, com expectativa de 11,5%, em 2006). Isto indica que o milho destina-se, principalmente, ao consumo interno. Deve-se ressaltar que, dado seu baixo preço de mer- cado, os custos de transporte afetam muito a remuneração da produção obtida em regiões distantes dos pontos de consumo, reduzindo o interesse no deslocamento da produção a maiores distâncias, ou em condições que a logística de transporte é desfavorável. O mercado mundial de milho é abastecido basicamente por três países, os Estados Unidos (46 milhões de toneladas de exportações, em 2005), a Argentina (14 milhões de toneladas, em 2005) e a África do Sul (2,3 milhões de toneladas, em 2005). A principal vantagem desses países é ter logística favorável, que pode ser decorrente da excelente estrutura de transporte (caso dos EUA), proximidade dos portos (caso da Argentina) ou dos compradores (caso da África do Sul). O Brasil, eventual- Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: mattoso@cnpms. embrapa.br 1 Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected] 2 Economista, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: jason@cnpms. embrapa.br 3 Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: zecarlos@cnpms. embrapa.br 4 Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006 96 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto QUADRO 1 - Principais países produtores de milho – 2001-2005 tir do milho, nos Estados Unidos, o que pode incrementar o consumo interno desse cereal e reduzir as quantidades disponíveis para exportação, no país que é responsável por mais de 50% da quantidade comercializada internacionalmente. Produção (1.000 t) País Ano 2001 2002 2003 2004 2005 Estados Unidos 241.485 228.805 256.905 299.917 280.228 China 114.254 121.497 115.998 130.434 131.145 Brasil 41.955 35.933 48.327 41.806 34.860 México 20.134 19.299 19.652 22.000 20.500 Argentina 15.365 15.000 15.040 15.000 19.500 Índia 13.160 10.300 14.720 14.000 14.500 França 16.408 16.440 11.991 16.391 13.226 Indonésia 9.347 9.654 10.886 11.225 12.014 África do Sul 7.772 10.076 9.705 9.965 11.996 10.554 10.554 8.702 11.375 10.622 Itália FONTE: FAO (2006). mente, participa desse mercado, porém, a instabilidade cambial e a deficiência da estrutura de transporte até aos portos tem prejudicado o País na busca de presença mais constante no comércio internacional de milho. Os principais consumidores são o Japão (16,5 milhões de toneladas, em 2005), Coréia do Sul (8,5 milhões de toneladas, em 2005), México (6,0 milhões de toneladas, em 2005) e Egito (5,2 milhões de toneladas, em 2005). Outros importadores relevantes são os países do Sudeste da Ásia (2,9 milhões de toneladas, em 2005) e a Comunidade Européia (2,5 milhões de toneladas, em 2005). Nesses dois últimos casos, além das importações ocorre grande montante de trocas entre os países que compõem cada um desses blocos. Um fato importante a destacar é que a China vem gradativamente diminuindo seus estoques (formados em grande parte como política derivada da Guerra Fria), por meio de agressiva política de exportação. Como a produção chinesa não tem sido suficiente para atender à demanda crescente, a China deverá, em primeira fase reduzir as exportações e, em segunda fase, passar de exportadora a importadora líquida de milho, em curto período. Essa situação abrirá mercado de cerca de 8 ou 9 milhões de toneladas adquiridas anualmente por países asiáticos que tradicionalmente compravam da China. Para finalizar, está ocorrendo processo de incremento de produção de etanol a par- Suínos e aves As principais utilizações do milho no mundo são as atividades de criação de aves e suínos. Existem previsões de que a demanda mundial de carnes continue crescendo e estimativas apontam consumo superior a 110 milhões de toneladas de carne suína e quase 70 milhões de toneladas de carne de frango, até o ano de 2015. A China é o país que mais produz e consome carne suína: aproximadamente 50 milhões de toneladas. O segundo lugar é ocupado pelos Estados Unidos, com cerca de 9,5 milhões de toneladas. O Brasil é o quinto produtor mundial (Quadro 2). O consumo per capita registrado no Brasil, de 12 kg ha-1 ano-1, ainda é baixo, quando comparado com o observado na China, Estados Unidos e União Européia, que é de 30, 28 e 42 kg ha-1 ano-1, respectivamente. O crescimento verificado na China, nos QUADRO 2 - Principais países produtores de carne suína – 2001-2005 Produção (1.000 t) País China Estados Unidos Ano 2001 2002 2003 2004 2005 42.982 44.358 46.233 48.118 50.095 8.691 8.929 9.056 9.312 9.402 Alemanha 4.074 4.110 4.239 4.323 4.505 Espanha 2.989 3.070 3.190 3.176 3.310 Brasil 2.637 2.798 3.059 3.110 3.110 França 2.315 2.346 2.339 2.293 2.257 Vietnã 1.515 1.654 1.795 2.012 2.100 Canadá 1.731 1.858 1.882 1.936 1.960 Polônia 1.849 2.023 2.209 1.956 1.923 Dinamarca 1.716 1.759 1.762 1.810 1.800 92.082 95.249 98.473 100.484 102.523 Total mundial FONTE: FAO (2006). Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006 97 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto últimos anos, é impressionante, pois foi incorporada à produção quantidade quase equivalente ao total de carne suína produzida nos Estados Unidos. Com certeza esse crescimento está exercendo forte pressão sobre a quantidade demandada de milho para alimentação do rebanho suíno. O custo de produção de carne suína na China (US$ 1,32 kg-1 vivo) é mais que o dobro do verificado no Brasil (US$ 0,62 kg-1 vivo) e maior que os observados na União Européia (US$ 1,10 kg-1 vivo) e Estados Unidos (US$0,77 kg-1 vivo) (ROPPA, 2005). Além disso, o número de animais por km2, que é de 50,6 na China; 36,8 na União Européia e 10,2 nos Estados Unidos, é substancialmente maior que os 4,5 animais por km2 no Brasil. A alta densidade populacional de suínos traz sérias implicações ambientais, derivadas dos efeitos nocivos causados pela disposição dos dejetos dos animais no meio ambiente, e já afeta as decisões sobre a localização de novos empreendimentos voltados para a criação de suínos. Deve-se registrar que, mesmo no Brasil, estas considerações crescem de importância e têm direcionado a produção para áreas com menor concentração de animais e menor impacto ambiental da disposição dos resíduos, localizadas principalmente na região Centro-Oeste. Com relação à produção de carne de frango, os Estados Unidos, com aproximadamente 16 milhões de toneladas, são os maiores produtores mundiais, seguidos pela China e Brasil (Quadro 3). A produção mundial é crescente, porém o crescimento distribui-se de maneira mais uniforme entre os principais produtores. PANORAMA NACIONAL Produção de milho A produção de milho no Brasil tem-se caracterizado pela divisão da produção em duas épocas de plantio (Quadro 4). Os plantios de verão, ou primeira safra, são realizados na época tradicional, durante o período chuvoso, que varia entre fins de agosto, na Região Sul, até os meses de outubro/ novembro, no Sudeste e Centro-Oeste (no QUADRO 3 - Principais países produtores de carne de aves – 2001-2005 Produção (1.000 t) País Estados Unidos Ano 2001 2002 2003 2004 2005 14.267 14.701 14.924 15.514 16.026 China 9.070 9.275 9.660 9.895 10.149 Brasil 6.208 7.050 7.760 8.668 8.668 México 1.928 2.076 2.116 2.225 2.225 Índia 1.250 1.400 1.600 1.650 1.900 Espanha 1.009 1.191 1.185 1.268 1.320 Reino Unido 1.263 1.272 1.295 1.288 1.309 900 1.083 1.118 1.191 1.245 1.216 1.229 1.239 1.242 1.240 862 938 1.030 1.152 1.130 61.523 64.262 65.874 68.322 69.892 Indonésia Japão Federação Russa Total mundial FONTE: FAO (2006). QUADRO 4 - Produção brasileira de milho Ano Safra 2001 2002 2003 2004 2005 Produção (1.000 t) Total 42.290 35.267 47.411 42.192 39.040 1a safra 35.833 29.086 34.614 31.617 29.319 2a safra 6.457 6.181 12.797 10.574 9.721 12.973 12.298 13.226 12.822 12.297 1 safra 10.546 9.413 9.664 9.465 9.195 2a safra 2.426 2.885 3.563 3.357 3.102 Área plantada (1.000 ha) Total a Rendimento (kg ha-1) Total 3.260 2.868 3.585 3.291 3.175 a 3.398 3.090 3.582 3.340 3.189 a 2.661 2.142 3.592 3.150 3.134 1 safra 2 safra FONTE: CONAB (2006). Nordeste esse período ocorre no início do ano). Mais recentemente, tem aumentado a produção obtida na chamada safrinha, ou segunda safra. A safrinha refere-se ao milho de sequeiro, plantado extemporaneamente, em fevereiro ou março, quase sempre depois da soja precoce, com predomínio Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006 na Região Centro-Oeste e nos estados do Paraná e São Paulo. Verifica-se decréscimo na área plantada no período da primeira safra, decorrente da concorrência com a soja, o que tem sido parcialmente compensado pelo aumento dos plantios na safrinha. Embora realizados em condição desfavo- 98 rável de clima, esses plantios vêm sendo conduzidos dentro de sistemas de produção, gradativamente adaptados a estas condições, o que tem contribuído para elevar os rendimentos das lavouras. A baixa produtividade média de milho no Brasil (3.175 kg ha-1) não reflete o bom nível tecnológico já alcançado por boa parte dos produtores voltados para lavouras comerciais, uma vez que as médias são obtidas nas mais diferentes regiões, em lavouras com diferentes sistemas de cultivos e finalidades. O milho é cultivado em praticamente todo o território, sendo que 90% da produção concentra-se nas Regiões Sul (43%), Sudeste (25%) e Centro-Oeste (22%). A participação dessas regiões em área plantada e produção vem-se alterando ao longo dos anos. A evolução da produção de milho 1a safra e 2a safra, nas principais regiões produtoras e respectivos Estados, é mostrada nos Quadros 5 e 6. Nota-se que a produção obtida na primeira safra (com exceção do ano da safra 2004/2005, afetada por problemas climáticos) manteve-se relativamente estável, em que pese a redução da área plantada (e mesmo o deslocamento das melhores áreas e dos agricultores comerciais para a cultura da soja). Esse equilíbrio foi conseguido pelo incremento da produtividade agrícola nos principais Estados produtores, nos quais, a produtividade média na safra de verão (1a safra) já é superior a 4.500 kg ha-1. A produtividade na safrinha (2a safra), embora menor que a da safra normal, tem mostrado tendência de crescimento, demonstrando a maior difusão de tecnologias de produção nessa época de plantio, apesar das restrições climáticas. Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto QUADRO 5 - Produção de milho 1a safra. Centro-Sul, Brasil (1.000 t) Ano Região 2000/2001 2001/2002 2002/2003 2003/2004 2004/2005 5.733 3.884 4.088 3.852 3.308 MT 891 680 772 678 532 MS 1.204 638 681 539 441 GO 3.517 2.435 2.483 2.476 2.165 DF 120 131 153 159 169 7.687 8.165 8.865 9.515 9.466 4.153 4.657 5.208 5.903 6.068 ES 129 138 145 125 119 RJ 28 27 22 24 26 SP 3.376 3.344 3.490 3.463 3.251 19.630 14.391 17.658 14.363 10.926 PR 9.446 7.380 8.140 7.523 6.537 SC 3.947 3.106 4.235 3.340 2.818 RS 6.237 3.906 5.283 3.500 1.571 Centro-Sul 33.049 26.441 30.611 27.730 23.701 Brasil 35.833 29.086 34.614 31.617 27.272 2003/2004 2004/2005 Centro-Oeste Sudeste MG Sul FONTE: CONAB (2006). QUADRO 6 - Produção de milho na 2a safra – Brasil (1.000 t) Ano Região 2000/2001 2002/2003 Nordeste 121 265 254 219 219 BA 121 265 254 219 219 Centro-Oeste 2.502 3.204 5.843 5.503 4.603 MT 953 1.519 2.456 2.768 2.938 MS 970 708 2.359 1.814 998 GO 563 959 1.002 896 636 DF 16 17 27 24 30 905 729 1.183 1.134 836 MG 75 131 120 98 104 SP 831 598 1.063 1.036 732 2.929 1.983 5.517 3.669 1.806 2.929 1.983 5.517 3.669 1.806 Centro-Sul 6.336 5.916 12.543 10.306 7.246 Brasil 6.457 6.181 12.797 10.574 7.704 Sudeste Suínos e aves Diferente do que acontece no mundo, onde a carne suína é a mais consumida, no Brasil consome-se a de frango, seguida das carnes bovina e suína. O Quadro 7 mostra a evolução da produção de carnes no Brasil (os dados diferem daqueles dos Quadros 2 e 3, devido à diferença de fontes). 2001/2002 Sul PR FONTE: CONAB (2006). Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006 99 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto QUADRO 7 - Evolução da produção de carnes no Brasil (1.000 t) Ano Ave Suíno Bovino 1997 3.891,2 1.010,4 3.334,9 1998 4.196,0 1.119,1 3.397,9 1999 4.681,3 1.237,8 3.806,7 2000 5.082,0 1.348,5 3.899,8 2001 5.566,7 1.588,1 4.330,3 2002 6.068,9 1.881,1 4.699,6 2003 6.226,4 1.917,5 4.977,2 2004 7.060,0 1.867,6 5.922,3 FONTE: IBGE (2006). No que se refere à carne de frango, este é o segmento do setor de proteínas animais que mais cresce no País, e é impulsionado pelas exportações. Do total produzido em 2004, cerca de 71% destinaram-se ao mercado interno e 29% foram exportados. O Brasil é o maior exportador mundial de carne de frango e exportou, em 2004, para 136 diferentes países e os maiores importadores de frango brasileiro foram: Oriente Médio, Ásia e União Européia. Mais recentemente, verifica-se forte incremento das exportações de carnes bovinas. A evolução das exportações brasileiras de carnes está no Quadro 8. As exportações de bovinos e aves foram as que mais cresceram. Para atender à crescente demanda por ração animal, estima-se que serão consumidas 42 milhões de toneladas de milho, em 2005, representando acréscimo de 8% em relação ao ano anterior (Quadro 9). Para 2015, estima-se que para atender, primordialmente, ao segmento de ração animal, a produção brasileira de milho terá que ser de, aproximadamente, 55 milhões de toneladas. Outro aspecto relevante que deve ser destacado é a localização das unidades industriais de suínos e aves. A Região Sul ainda concentra a maioria da produção e vem apresentando crescimento dessa atividade. Mais recentemente, a produção de suínos e de frangos na Região CentroOeste vem mostrando forte expansão, vinculada à crescente produção de soja e milho nessa região. Essa tendência é plenamente justificável em razão do peso que representa o milho e a soja no custo final da ração, tanto para aves, quanto para suínos. Além disso, o custo de transporte, especialmente no Brasil, onde são precárias as condições de infra-estrutura, onera muito o preço do milho, quando transportado a longas distâncias, refletindo na elevação do custo da ração. Assim, há tendência de consumir o milho o mais próximo possível das áreas de produção. MERCADO DO MILHO O milho caracteriza-se por destinar-se tanto para o consumo humano como para a alimentação de animais. Em ambos os casos, algum tipo de transformação, industrial ou na própria fazenda, pode ser necessário. O resumo de possíveis utilizações QUADRO 8 - Evolução das exportações brasileiras de carnes (toneladas) Ano Tipo 2000 2001 2002 2003 2004 Carne suína in natura 116.006 247.369 449.202 458.031 470.969 Carne peru in natura 42.487 67.952 89.151 110.446 134.338 9.349 16.599 24.963 37.730 45.177 Carne frango in natura 906.746 1.249.288 1.599.924 1.922.046 2.424.513 Carne bovina industrializada 132.242 132.636 160.480 180.406 231.696 Carne bovina in natura 188.657 368.286 430.272 620.118 925.071 Carne frango industrializada FONTE: MDIC-SECEX (2006). Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006 QUADRO 9 - Consumo de milho por segmento (milhões de t) Ano Carne Variação 2005/2004 (%) 2004 2005 13,70 14,60 7 Ovo 2,20 2,30 5 Suíno 7,60 8,40 11 Bovino 1,05 1,21 15 Outros 1,45 1,49 3 Ração 26,00 28,00 8 Frango FONTE: Sindirações (2006). do milho pode ser encontrado no Quadro 10. Nas seções seguintes, as principais transformações necessárias para os consumos animal e humano serão exploradas. Consumo humano Mesmo para o consumo humano, o milho necessita de alguma transformação. À exceção, quando os grãos estão em estado leitoso, ou “verde”. Os grãos secos não podem ser consumidos diretamente pelo ser humano. O milho pode ser industrializado através dos processos de moagem úmida e seca. Este último é o mais utilizado no Brasil. Desse processo resultam subprodutos como a farinha de milho, o fubá, a quirera, farelos, óleo e farinha integral desengordurada, envolvendo escalas menores de produção e menor investimento industrial. O processamento industrial do milho rende, em média, 5% do seu peso na forma de óleo. Através do processo de moagem úmida, o principal subproduto obtido é o amido, cujo nome do produto foi praticamente substituído pela designação comercial de Maizena. Em Minas Gerais, bem como no Brasil, a moagem seca é o processo mais utilizado. Devido à pequena necessidade de maquinaria e também à simplicidade desta, as indústrias processadoras de milho por esse processo estão espalhadas pelo Estado, sendo geralmente de pequeno porte e qua- 100 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto QUADRO 10 - Múltiplos usos do milho (planta, espiga e grão) no Brasil se que totalmente dedicadas ao processamento para consumo local. A tendência recente está na concentração destes produtos em indústrias de maior porte, que têm sido instaladas em Minas Gerais. Como a maioria dessas indústrias é de pequena dimensão e voltada para o abastecimento local, a proximidade do mercado é mais importante do que a localização das fontes de produção de milho. Além dos produtos derivados da moagem seca, vários produtos industriais foram acrescentados dentre os destinados ao consumo humano. Os de maior importância são o amido, derivado da moagem úmida, e o óleo de milho. Devido à complexidade de seu processamento e à necessidade de capital envolvido, estes produtos são oriundos de empresas de grande porte. Em Minas Gerais, a produção de óleo está concentrada na região do Triângulo, onde se encontra instalado o maior parque agroindustrial, processador de milho e soja do Estado e um dos mais modernos do País. A produção de derivados mais nobres, como a glicose e o amido, ocorre na região do Triângulo (Uberlândia). Mais recentemente, tem aumentado a produção do milho especificamente destinado ao enlatamento. Esta indústria tem evoluído em termos de qualidade, pois mais recentemente, com a disponibilidade de novos materiais adaptados ao País, passouse a processar o milho do tipo doce. Existe um movimento para transferência dessa indústria, anteriormente localizada, principalmente, no extremo sul do Brasil, para as regiões do Triângulo e do Alto Paranaíba, onde, com as novas cultivares, é possível a produção durante todo o ano, aproveitando a infra-estrutura de irrigação existente. Destinação Uso animal direto Forma/Produto final Silagem; rolão; grão (inteiro/desintegrado) para ave, suíno e bovino. Uso humano direto de preparo caseiro Espiga assada ou cozida; pamonha; curau; pipoca; pão; bolo; broa; cuscuz; polenta; angu; sopa; farofa. Indústria de rações Ração para ave (corte e postura); outras aves; suíno; bovino (corte e leite); outros mamíferos. Indústria de alimentos (produtos finais) Amido; fubá; farinha comum; farinha pré-cozida; flocada; canjica; óleo; creme; pipoca; glicose; dextrose. Intermediários Canjica; sêmola; semolina; moído; granulado; farelo de germe. Xarope de glucose Bala dura; bala mastigável; goma de mascar; doce em pasta; salsicha; salame; mortadela; hambúrguer; outras carnes processadas; fruta cristalizada; compotas; biscoito; xarope; sorvete; para polimento de arroz. Xarope de glucose com alto teor de maltose Cerveja. Corantes caramelo Refrigerante; cerveja; bebida alcoólica; molho. Maltodextrinas Aroma e essência; sopa desidratada; pó para sorvete; complexo vitamínico; produto achocolatado. Amidos alimentícios Biscoito; melhorador de farinha; pão; pó para pudim; fermento em pó; macarrão; produto farmacêutico; bala de goma. Amidos industriais Para papel; papelão ondulado; adesivo; fita gomada; briquete de carvão; engomagem de tecido; beneficiamento de minério. Dextrinas Adesivo; tubo e tubete; barrica de fibra; lixa; abrasivo; saco de papel; multifolhado; estampagem de tecido; cartonagem; beneficiamento de minérios. Consumo animal Pré-gelatinizados Fundição de peças de metal. Adesivos Rotulagem de garrafa e de lata; saco; tubo e tubete; fechamento de caixa de papelão; colagem de papel; madeira e tecido. Ingredientes protéicos FONTE: Jornal Agroceres (1994). Rações para bovino; suíno; ave e cão. Neste ponto, a cadeia produtiva do milho passa a se inserir na cadeia produtiva do leite, dos ovos e da carne bovina, suína e de aves, sendo esse o canal por onde os estímulos do mercado são transmitidos aos agricultores. Mudanças nessas cadeias passam a ser de vital importância como Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006 101 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto incentivadoras do processo produtivo do milho. Três grandes derivações ocorrem neste item: a) a produção de silagem, para alimentação de vacas em produção de leite e, mais recentemente, de gado confinado para engorda no período de inverno; b) a industrialização do grão de milho em ração; c) o emprego do grão em mistura com concentrados protéicos para a alimentação de suínos e de aves. A atividade de produção de milho para silagem tem sofrido forte influência, tanto na necessidade de modernização do setor de pecuária leiteira de Minas Gerais, como no incremento das atividades de confinamento bovino que ocorreram nos últimos anos. No caso da industrialização do grão de milho em ração, o processo de transformação resulta no fornecimento de rações prontas, principalmente utilizadas na criação de animais de estimação, como cães, gatos, etc. Na criação de suínos, devido à quantidade relativamente grande de milho necessária, este normalmente é adquirido em grão, ou parcialmente produzido pelos criadores para mistura com concentrados na propriedade rural. Todas essas três derivações têm-se desenvolvido consideravelmente em Minas Gerais, com a criação de pólos regionais de consumo de milho, que não necessariamente estão próximos aos locais de produção (caso da avicultura na região de Pará de Minas e de suinocultura em Ponte Nova). Ao contrário da industrialização de milho para o consumo humano, este setor apresenta grande dinamismo, com incremento do número de indústrias processadoras. Processamento na fazenda Uma parcela importante do milho produzido no Estado destina-se ao consumo ou transformações em produtos para utili- zação na própria fazenda. O milho destinado ao consumo humano – principalmente na forma de fubá, farinha ou canjica – tem menor quantitativo, diante do destinado à alimentação de pequenos animais, geralmente aves e suínos. Embora esse estádio da cadeia do milho possa gerar eventualmente algum excedente para comercialização fora da propriedade agrícola, sua importância no que diz respeito ao abastecimento urbano é hoje muito reduzida. O aumento na eficiência dos sistemas alternativos de produção de aves e suínos, as próprias características dos produtos demandados pelos consumidores urbanos e as quantidades necessárias para atingir escalas mínimas que compensem o transporte para as regiões consumidoras reduziu, e muito, sua capacidade de competição. Sua importância hoje é muito maior na subsistência dessas populações rurais do que como fator de geração de renda capaz de promover melhorias substanciais em seu padrão de vida. O desafio que se defronta neste elo da cadeia seria a transformação da capacidade desses agricultores em se integrarem em cadeias de processamento de milho mais modernas e competitivas, sem o que sua situação de marginalidade diante do processo de desenvolvimento do País não será modificada. CUSTO DE PRODUÇÃO Sistema de produção de milho Há grande diversidade nas condições de cultivo do milho no Brasil. Observa-se desde a agricultura tipicamente de subsistência, sem utilização de insumos modernos (produção voltada para consumo na propriedade e eventual excedente comercializado), até lavouras que utilizam o mais alto nível tecnológico, alcançando produtividades equivalentes às obtidas em países de agricultura mais avançada. Independente da região, os seguintes sistemas de produção de milho são bastante evidentes. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006 Produtor comercial de grãos Normalmente produzem milho e soja em rotação, podendo também envolver outras culturas. São especializados na produção de grãos e têm por objetivo comercializar a produção. Plantam lavouras maiores. Utilizam a melhor tecnologia disponível, predominando o sistema plantio direto (SPD). São os grandes responsáveis pelo abastecimento do mercado. Produtor de grãos e pecuária Neste caso, o agricultor usa nível médio de tecnologia, por lhe parecer o mais adequado, em termos de custo de produção. É comum o plantio de milho, para renovação de pastagens. A região, muitas vezes, não produz soja e o milho é a principal cultura. As lavouras são de tamanho médio a pequeno. A capacidade gerencial não é tão boa e muitas vezes as operações agrícolas não são realizadas no momento oportuno, com o insumo adequado ou na quantidade adequada. A qualidade das máquinas e dos equipamentos agrícolas pode também comprometer o rendimento do milho. Recentemente, estão implementando a recuperação de pastagens degradadas, que atingem, praticamente, 50 milhões de hectares. À medida que avance o programa de recuperação, deverá haver aumento na oferta de milho, uma vez que o sistema de integração lavoura-pecuária, utilizando milho, tem-se mostrado o mais apropriado para esse fim. Pequeno produtor É aquele produtor de subsistência, em que a maior parte da produção é consumida na propriedade. O nível tecnológico é baixo, inclusive envolvendo o uso de semente não melhorada. O tamanho da lavoura é pequeno. Essa produção tem perdido importância, no que se refere ao abastecimento do mercado. Produção de milho safrinha Este tipo de exploração ocupa hoje cerca de três milhões de hectares de milho 102 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto plantados principalmente nos estados PR, SP, MT, MS e GO. O milho é semeado extemporaneamente, após a soja precoce. O rendimento e o nível tecnológico dependem muito da época de plantio. Nos plantios mais cedo, o sistema de produção é, às vezes, igual ao utilizado na safra normal. Nos plantios tardios, o agricultor reduz o nível tecnológico em função do maior risco da cultura, devido, principalmente, às condições climáticas (frio excessivo, geada e deficiência hídrica). A redução do nível tecnológico refere-se, basicamente, à semente utilizada e redução nas quantidades de adubos e defensivos aplicados. Essa oferta tem sido importante para a regularização do mercado. Coeficiente técnico Dos sistemas de produção identificados, o que mais prontamente assimila às tecnologias disponíveis na busca de competitividade diz respeito ao “produtor comercial de grãos”. Para esse sistema, temse observado grande homogeneização do padrão tecnológico empregado pelos produtores na condução das lavouras de milho, variando pouco entre as principais regiões produtoras. Evidentemente não existe padrão tec- nológico único que atenda a todos os sistemas de produção utilizados e que se adapte a todas as situações inerentes a cada lavoura. Entretanto, especificamente com relação aos produtores enquadrados no sistema citado, é possível, com razoável precisão, identificar um padrão tecnológico que se apresenta como o mais adequado para essas lavouras. Os coeficientes técnicos foram elaborados para as três situações predominantes nas lavouras comerciais, quais sejam: safra normal, usando SPD (Quadro 11): safra normal, usando plantio convencional (Quadro 12); safrinha (Quadro 13). QUADRO 11 - Coeficientes técnicos de produção para 1 ha de milho (plantio direto: produtividade 7.000 kg ha-1) Descrição Especificação (continua) Unidade Quantidade utilizada t 0,7 t 0,4 Preparo do solo Calcário – Gesso – Distribuição do calcário Trator 85 hp + calcariador Dessecação – herbicida Glifosato Distribuição de herbicida Trator 85 hp + pulverizador Barra 2000 L Mão-de-obra – distribuição de herbicida h/m L – 0,125 3 h/m 0,3 d/H 0,25 Plantio Semente Híbrido simples ou triplo saco de 20 kg 1 Tratamento de semente Fungicida – L 0,02 Inseticida – L 0,4 Adubação 8-28-16 + FTE Plantio – adubação mecânica Trator 120 hp + plantadeira/adubadeira com 12 linhas h/m 0,8 Transporte interno para plantio Trator 85 hp + carreta 8 t h/m 0,3 kg 300 Trato cultural Adubação de cobertura Uréia kg Aplicação de adubação de cobertura Trator 85 hp + distribuidor de adubo com 5 linhas 200 h/m 0,6 Herbicida – pós-emergência Herbicida 1 – L 2,5 Herbicida 2 – L 0,8 h/m 0,3 Aplicação de herbicida Trator 85 hp + pulverizador Barra 2000 L (1X) Controle de praga Inseticida 1 Piretróide L 0,3 Inseticida 2 Fisiológico L 0,6 Espalhante adesivo Óleo mineral L 1 Aplicação de inseticida Trator 85 hp + pulverizador Barra 2000 L (2X) h/m 0,6 Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006 103 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto (conclusão) Descrição Especificação Unidade Quantidade utilizada kg 0,6 Trato cultural Controle de formiga Formicida Isca Colheita Colheita mecânica Colheitadeira plataforma 4m h/m 0,85 Transporte interno Trator 85 hp + carreta 8 t h/m 0,3 NOTA: h/m – Hora/máquina; d/H – Dia/homem; FTE – Fritted trace elements. QUADRO 12 - Coeficientes técnicos de produção para 1 ha de milho (plantio convencional: produtividade 7.000 kg ha-1) Descrição Especificação Preparo do solo Calcário Gesso Distribuição do calcário Gradagem aradora Gradagem niveladora – – – Trator 120 hp + grade pesada Trator 120 hp + grade niveladora Plantio Semente Fungicida Inseticida Distribuição de inseticida manual Adubação Plantio – adubação mecânica Transporte interno para plantio Híbrido simples ou triplo – – – 8-28-16 + FTE-CAMPO Trator 120 hp + plantadeira/adubadeira 12 linhas Trator 85 hp + carreta 8 t Trato cultural Adubação de cobertura Aplicação de adubação de cobertura Aplicação de herbicida – máquina 0,7 0,4 0,125 1,6 0,4 1 0,02 0,4 0,05 300 0,8 0,3 – kg h/m 200 0,6 – – L L 2,5 0,8 h/m 0,3 d/H 0,16 Trator 85 hp + pulverizador Barra 2000 L Mão-de-obra – aplicação de herbicida t t h/m h/m h/m Quantidade utilizada saco de 20 kg L L d/H kg h/m h/m Uréia Herbicida – pós-emergência Herbicida 1 Herbicida 2 Unidade – Inseticida Inseticida 1 Inseticida 2 Piretróide Fisiológico L L 0,3 0,6 Espalhante adesivo Óleo mineral L 1 Aplicação de inseticida Trator 85 hp + pulverizador Barra 2000 L (2X) Mão-de-obra – aplicação de inseticida Controle de formiga Formicida – Isca h/m 0,6 d/H 0,32 kg 0,6 Colheita Colheita mecânica Colheitadeira plataforma 4m h/m 0,85 Transporte interno Trator 85 hp + carreta 8 t h/m 0,3 NOTA: h/m – Hora/máquina; d/H – Dia/homem; FTE – fritted trace elements. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006 104 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto QUADRO 13 - Coeficientes técnicos de produção para um 1 ha de milho (safrinha: produtividade 3.000 kg ha-1) Descrição Especificação Unidade Quantidade utilizada Preparo do solo Dessecação – herbicida Herbicida 1 Glifosato L 1,5 Herbicida 2 2,4-D L 0,5 h/m 0,15 d/H 0,25 Distribuição de herbicida Trator 85 hp + pulverizador Barra 2000 L Mão-de-obra – distribuição de herbicida – Plantio Semente Híbrido duplo ou triplo saco de 20 kg Adubo 4-20-20 Plantio – adubação Trator 120 hp + plantadeira/adubadeira com 12 linhas h/m 0,8 Transporte interno para plantio Trator 85 hp + carreta 8 t h/m 0,3 kg 1 200 Trato cultural Adubação de cobertura Uréia kg Aplicação da adubação – Inseticida Aplicação de inseticida – Trator 85 hp + pulverizador Barra 2000 L (2X) Mão-de-obra – aplicação de inseticida – 60 h/m 0,5 L 0,6 h/m 0,3 d/H 0,32 Colheita Colheita mecânica Colheitadeira plataforma 4m h/m 0,6 Transporte interno Trator 85 hp + carreta 8 t h/m 0,3 NOTA: h/m – Hora/máquina; d/H – Dia/homem. CONSIDERAÇÕES FINAIS Uma vez que a produção mundial de suínos e aves, principais consumidores de milho, continuará crescendo, a questão que se coloca é a indagação sobre quais regiões reúnem as condições mais favoráveis para suportar esse crescimento. Certamente haverá grande peso para favorecer regiões produtoras de milho que disponham de boa logística de transporte para atender a consumidores situados em distância razoável. Esse atendimento regional é da maior importância para a sustentabilidade da atividade produtiva, pois provê escoamento seguro para a produção. Outro fator importante é a disponibilidade de um sistema de armazenamento eficiente, que possibilite aos agricultores realizar a comercialização da produção de forma mais lucrativa ao longo do ano. A disponibilidade do sistema de comercialização eficiente também é parte desse complexo de aspectos que aumenta a competitividade dos produtores de milho de determinada região. Para finalizar, embora o atendimento a consumidores localizados a distâncias mais curtas seja vital, o estabelecimento do canal de comércio exterior é interessante, tendo em vista que este fornecerá um piso de flutuação dos preços mais estável do que os normalmente verificados nos preços internos. Janeiro, 2006. Disponível em: <http://www.sidra. ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?c=1612&z= t&o=10>. Acesso em: 2 maio 2006. JORNAL AGROCERES. São Paulo: AGROCERES, n. 219, jan. 1994. MDIC. SECEX. Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior – ALICE. Brasília. Disponível em: <http://aliceweb. desenvolvimento. gov.br/default.asp>. Acesso em: 2 maio 2006. ROPPA, L. Competition from South American REFERÊNCIAS pork production. In: ADVANCES IN PORK CONAB. Milho total (1 e 2 safra) - Brasil: PRODUCTION, 16., 2005. p.16-42. Disponível série histórica de área plantada - safras 1976/77 a em: <http://www.banffpork.ca/proc/2005pdf/ 2005/06. Brasília, 2006. Disponível em: <http:// PFri-RoppaL.pdf>. Acesso em: 2 maio 2006. www.conab.gov.br/download/safra/MilhoTotal SINDIRAÇÕES. Perfil: demanda de macro- SerieHist.xls>. Acesso em: 2 maio 2006. ingredientes. Disponível em: <http://www. FAO. Statistical databases: Faostat-agriculture. sindiracoes.org.br/asp/sindi_interna.asp?ir= Rome. Disponível em: <http://www.org.br>. Aces- sindi_perfil.asp>. Acesso em: 2 maio 2006. a a so em: 2 maio 2006. USDA. World agricultural supply and demand IBGE. SIDRA. Tabela 1612 - Quantidade pro- estimates. Washington, 2006. Disponível em: duzida, valor de produção, área plantada e <http://www.usda.gov./oce/commodity/wasde>. área colhida da lavoura temporária. Rio de Acesso em: 2 maio 2006. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 106 Cultura do milho na integração lavoura-pecuária Ramon Costa Alvarenga 1 Tarcísio Cobucci 2 João Kluthcouski 3 Flávio Jesus Wruck 4 José Carlos Cruz 5 Miguel Marques Gontijo Neto 6 Resumo - A cultura do milho (Zea mays) destaca-se no contexto da integração lavourapecuária (ILP), devido às inúmeras aplicações que este cereal tem na propriedade agrícola, quer seja na alimentação animal, quer seja na alimentação humana ou na geração de receita, mediante a comercialização da produção excedente. Outro ponto importante são as vantagens comparativas do milho em relação a outros cereais ou fibras, no que diz respeito ao seu consórcio com capim. Uma dessas vantagens é a competitividade no consórcio, visto que o porte alto das plantas de milho, depois de estabelecidas, exerce grande pressão sobre as demais espécies que crescem no mesmo local. A altura de inserção da espiga permite que a colheita seja realizada sem maiores problemas, pois a regulagem mais alta da plataforma diminui os riscos de embuchamento. Somando-se a isso, com a disponibilidade de herbicidas graminicidas pós-emergentes, seletivos ao milho, é possível obter resultados excelentes com o consórcio milho + forrageira. A cultura do milho ainda possibilita trabalhar com diferentes espaçamentos. No consórcio com forrageiras, a redução de espaçamento tem a vantagem de desenvolver um pasto mais bem formado. A decisão pelo espaçamento do consórcio a ser estabelecido deve também levar em conta a disponibilidade das máquinas, tanto para o plantio quanto para a colheita. Palavras-chave: Zea mays. Produção integrada. Consorciação de cultura. Forrageira. Sistema Barreirão. Sistema Santa Fé. Pastagem consorciada. Produção de forragem. Herbicida. INTRODUÇÃO A integração lavoura-pecuária é a diversificação, rotação, consorciação e/ou sucessão das atividades agrícolas e pecuárias dentro da propriedade rural, de forma harmônica, constituindo um mesmo siste- ma, de tal maneira que há benefícios para ambas (Fig. 1). Como uma das principais vantagens, possibilita que o solo seja explorado economicamente durante todo o ano ou, pelo menos, na maior parte dele, favorecendo o aumento na oferta de grãos, de fibras, de lã, de carne, de leite e de agroenergia a custos mais baixos, devido ao sinergismo que se cria entre a lavoura e a pastagem. Sistemas de integração lavourapecuária (ILP), compostos por tecnologias sustentáveis e competitivas foram e ainda 1 Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected] 2 Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico: cobucci@ cnpaf.embrapa.br 3 Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico: joaok@ cnpaf.embrapa.br 4 Engo Agro, M.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico: [email protected] 5 Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas- MG. Correio eletrônico: [email protected] 6 Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas- MG. Correio eletrônico: [email protected] Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 107 Ramon Costa Alvarenga lho + forrageira. Aliás, essa prática é bastante antiga. Por outro lado, é raro aquele que faz implantação de pastagens em áreas agrícolas. Existem para essas duas situações, propostas para inserir as propriedades em ILP de tal forma que elas passem a ser mais sustentáveis e competitivas. As tecnologias disponíveis são o Sistema Barreirão e o Sistema Santa Fé. Esses sistemas são perfeitamente ajustados a qualquer tamanho de propriedade, desde as pequenas com alguns hectares e que usam a mão-de-obra familiar, até aquelas empresariais com alto nível tecnológico. Figura 1 - Consórcio milho braquiária estão sendo desenvolvidos e/ou ajustados às diferentes condições edafoclimáticas do País. Isso tem possibilitado a sustentabilidade do empreendimento agrícola, com redução de custos, distribuição de renda e redução do êxodo rural, em decorrência da maior oferta de empregos no campo. Entre os principais benefícios da ILP destacam-se: a) para o produtor, há aumento da produtividade e do lucro da atividade, com maior estabilidade de renda, devido à produção diversificada; b) com a rotação de cultura, há a redução dos custos e da vulnerabilidade aos efeitos do clima e do mercado; c) com a lavoura, há melhoria da fertilidade do solo, o que permite ganhos em produtividade e maior oferta de pasto, forragem e grãos, para alimentação animal na estação seca. A adubação de manutenção da nova pastagem deve manter um novo patamar de produtividade. Por sua vez, a pastagem favorece a melhoria da qualidade física e biológica do solo, a redução de pragas e doenças, aumenta a matéria orgânica do solo e ajuda no controle da erosão, devido à cobertura e à proteção que proporciona. A lavoura cultivada na seqüência é beneficiada com a melhoria da qualidade do solo. Durante as etapas de conversão da propriedade, ou parte dela, para ILP o proprietário deverá ir se qualificando, pois o gerenciamento torna-se mais complexo. As maiores dificuldades para adoção de ILP, por parte do pecuarista, é seu parque de máquinas geralmente limitado. Por sua vez, o agricultor demandará investimentos consideráveis em cercas e animais. Em razão disso, acordos de parcerias e arrendamentos de terra têm sido uma saída para aqueles que não dispõem de capital para fazer estes investimentos ou não estão dispostos a utilizar linhas convencionais ou especiais de crédito para ILP, que estão sendo implementadas. MILHO CONSORCIADO COM FORRAGEIRAS Na prática, depara-se com as mais variadas situações em que o produtor tenta reduzir os custos de recuperação ou reforma de seus pastos, fazendo plantio de mi- Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006 Sistema Barreirão Este sistema foi desenvolvido na década de 80 pela Embrapa Arroz e Feijão. Com ele foi possível recuperar ou reformar imensas áreas com pastagens degradadas, especialmente no Brasil Central (Fig. 2). Ainda hoje, ele é usado com essa finalidade servindo como preparação para implantação da ILP no Sistema Santa Fé. Para que o Sistema Barreirão seja implantado, ele deve ser precedido de vários cuidados referentes ao diagnóstico da gleba, escolha da cultivar de milho e da forrageira, dentre outros. Primeiramente, deve-se fazer a avaliação do perfil do solo da gleba, ocasião em que se constatam as condições do solo, quanto à presença de camada compactada ou adensada e espessura do horizonte superficial, etc. Nessa etapa, podem ser decididas quais profundidades de amostragem para caracterização física e química do solo. Com base nos resultados das análises, deve-se fazer a correção da acidez do solo, seguindo a orientação de um técnico. É importante que a aplicação do corretivo seja feita pelo menos 60 dias antes do plantio e que ainda haja umidade suficiente no solo, para que o calcário reaja. O milho é uma espécie exigente em fertilidade do solo e necessita de pH, Ca, Mg, saturação por alumínio e saturação por bases, sendo mínimos em torno de 6,0; 2,2; 0,8 menor que 20% e 50%-55%, respectivamente. Esses níveis são, também, os mínimos necessários para implantar o Siste- Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto Ramon Costa Alvarenga 108 Figura 2 - Sistema Barreirão ma Plantio Direto (SPD). Dentre esses parâmetros, a saturação por bases pode ser considerada a mais importante característica química do solo para a produção do milho (FAGERIA, 2001). Além disso, a cultura do milho é mais adaptada a solos anteriormente cultivados, principalmente com soja. Como cultura de primeiro ano, em solos recém-corrigidos ou após pastagem degradada, dificilmente são obtidos rendimentos de grãos superiores a 6 t ha-1. Assim, o agricultor pode optar pelo cultivo de variedade e não de híbrido, cujas sementes são, via de regra, quatro a cinco vezes mais onerosas. Existem no mercado variedades de milho, com ampla adaptação e potencial produtivo entre 6 t e 7 t ha-1. Outro fator relevante é que o ciclo do milho é regulado pela soma calórica, exigindo que se tenha o adequado cuidado na escolha da cultivar em relação à altitude e à latitude. Baixas latitude (menor que 12o) e altitude (menor que 400 m), comuns nos Cerrados requerem, geralmente, cultivares com soma calórica mais alta, em torno de 800 grausdia, até a floração. Mesmo assim, nessas condições, as produtividades máximas possíveis giram em torno de 6 a 7 t ha-1. Caso se opte pela adubação corretiva, recomenda-se apenas fósforo e potássio. Na adubação de base, contudo, os demais macro e micronutrientes podem ser ministrados simultaneamente à semeadura do milho. Para cada tonelada de grãos são requeridos cerca de 24 kg de N, 3 kg de P, 23 kg de K, 5 kg de Ca, 4 kg de Mg, 46 g de Zn, 8 g de Cu, 65 g de Mn, 274 g de Fe e 18 g de B (FAGERIA, 2001). Conforme Coelho et al. (2003), a extração de enxofre pela planta de milho varia de 15 kg a 30 kg ha-1, para produções de grãos em torno de 5 t a 7 t ha-1. Com a ILP, o milho é preferido na recuperação de pastagens degradadas, em consórcio com forrageiras tropicais, pelo Sistema Barreirão (OLIVEIRA et al., 1996), ou em áreas de lavoura, com solos adequadamente corrigidos, pelo Sistema Santa Fé (KLUTHCOUSKI et al., 2000). A principal característica do Sistema Barreirão é a aração profunda com arado de aivecas. A razão para usar esse implemento é fazer os condicionamentos físico e químico do solo, rompendo camadas compactadas ou adensadas; inverter a camada de solo revolvida para que haja incorporação profunda de corretivos; incorporar em profundidade o banco de sementes de plantas daninhas, para que estas não germinem ou tenham a emergência retardada, competindo menos com o milho; incorporar o sistema radicular de capins, acelerando a sua mineralização para minimizar a concorrência com o milho pelo nitrogênio, etc. Na seqüência, são tomados os cuidados com a conservação do solo. Como o condicionamento químico não é imediato, ou seja, demanda tempo de reação dos corretivos e fertilizantes, é esperado melhor desempenho das lavouras de milho nos cultivos subseqüentes, por ser esta cultura exigente em condicionamento químico do solo. Para obter bom desempenho da cultura em áreas com pastagem degradada, onde predominam solos ácidos e de baixa fertilidade, são necessários a correção mínima de acidez e o suprimento de bases, como nutrientes. A calagem, nesse caso, pode ser feita antes do período chuvoso que antecede a semeadura (agosto/setembro), no final do período chuvoso (março/abril) ou dois ou mais anos antes da implantação da cultura. Essa última opção é que irá possibilitar a melhor reação do corretivo, como atestam os dados expostos no Quadro 1. Na primeira opção, devido ao curto período de reação no solo, o calcário deve ser bem homogeneizado no solo. Para tanto, o melhor método consiste em aplicar 60%-70% do calcário, incorporá-lo superficialmente com grade aradora, arar profundamente (35-40 cm), aplicar o restante 30%-40% do corretivo, nivelar/destorroar e semear o milho e a forrageira. Nas demais opções, o calcário pode ser espalhado superficialmente para ser apenas incorporado, imediatamente antes da semeadura do consórcio. No Sistema Barreirão, a determinação da necessidade de calagem para o milho obedece à mesma metodologia e aos critérios utilizados para os cultivos solteiros. Entretanto, deve-se considerar que para solos com alto teor de areia e baixa matéria orgânica, o método de saturação por bases geralmente subestima a quantidade de calcário a ser aplicada. Em geral, isto ocorre Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 109 QUADRO 1 - Algumas características químicas do solo antes e dois anos após a aplicação superficial de calcário, em Brejinho de Nazaré, TO1 Época Profundidade pH da (cm) água Ca Mg Al mmolc dm Antes (2) Após 2 anos CTC V Argila -3 Silte Areia % 0-10 4,7 1,0 0,4 0,1 3,82 42,4 19 5 76 10-20 3,7 0,5 0,3 0,4 4,83 18,9 21 5 74 0-10 5,5 12,0 7,0 0 4,25 48,2 – – – 10-20 5,0 10,0 4,0 0 3,07 24,7 – – – NOTA: Dados não publicados, coletados por Georgette Andrea Kluthcouski, técnica da Agropecuária Santa Angelina, em julho de 2002. CTC – Capacidade de troca catiônica; V – Saturação por bases. -1 (1) A gleba foi calcariada alguns anos antes de ser recalcariada. (2) Refere-se à aplicação de 2 t ha de corretivo. com todos os métodos vigentes. Assim, é necessário considerar a cultura a ser implantada, o histórico da área e a experiência local, quanto à resposta das culturas aos corretivos de acidez do solo. Não deve haver diferença na quantidade de corretivo a ser aplicada em relação ao tempo que antecede a implantação da cultura. Para a cultura do milho, a calagem é necessária, quando o solo apresentar concentração de Ca2+ + Mg2+ inferior a 3,0 cmolc dm-3 de solo, na razão aproximada de 3-4:1. Um exemplo disso é mostrado no Quadro 2, observando-se que, mesmo com a incorporação do corretivo pouco antes da semeadura do milho, houve efeito significativo na produtividade de grãos de milho e na produção da forrageira. Por outro lado, a reação do corretivo no solo, no que se refere a alguns parâmetros físico-químicos, é relativamente rápida, como pode ser comprovado pelos dados apresentados no Quadro 3, onde todas as características avaliadas foram substancialmente alteradas pela calagem em 50 dias. Esse fato foi observado também na Agropecuária Santa Angelina, em Brejinho de Nazaré, TO, em solo recém-desmatado, isto é, que nunca recebeu corretivos de acidez do solo (Quadro 4). Nota-se que a reação do solo foi plenamente alterada em 90 dias e essa alteração foi mais proeminente em solos que continham maior teor de areia. QUADRO 2 - Efeito de métodos de incorporação de calcário sobre a produtividade de massa verde da planta e produtividade de grãos do milho híbrido BR 201, e de massa verde da forrageira B. brizantha, em área anteriormente sob pastagem degradada, na Fazenda Barreirão, em Piracanjuba, GO Milho (1) Calcário -1 (t ha ) B. brizantha Método de incorporação Estande Massa verde -2 0 – -1 Produtividade -1 Massa verde -1 (plantas m ) (g planta ) (kg ha ) (t ha ) 6,5 a 1.767 b 1.993 b 17,2 c 3 Grade aradora 6,8 a 2.700 a 3.467 a 25,7 ab 3 Arado 6,8 a 2.900 a 3.014 a 28,3 a 3 Grade niveladora 6,6 a 3.073 a 3.360 a 22,0 bc 10,2 8,7 CV (%) – 10,8 14,8 FONTE: Oliveira et al. (1996). NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade. CV – Coeficiente de variação. (1) Quantidade de calcário aplicada um mês antes da semeadura. Considerando: Latossolo Vermelho-Amarelo; pH 5,8; Ca2+ + Mg2+ = 2,0 cmolc-3; teores de P, K, Cu, Zn, Fe e Mn de 0,8 mg, 137,0 mg, 2,1 mg, 0,6 mg, 154,0 mg e 50,0 mg dm-3, respectivamente; matéria orgânica = 20 g kg-1. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 110 QUADRO 3 - Efeito de diferentes doses de calcário em algumas características de um Latossolo Vermelho no período de 50 dias após a aplicação Calcário pH/H2O -1 Ca Mg Al S CTC V m (t ha ) (1/1,25) 0 4,8 1,7 1,4 0,3 3,5 12,4 40,0 2,5 1 5,4 4,2 3,0 0,1 7,6 14,6 52,0 0,7 2 5,6 4,1 2,3 0,0 6,8 13,0 52,0 0,0 Média 5,3 3,4 2,3 0,2 6,0 13,3 48,0 1,1 cmolc dm -3 cmolc kg -1 % FONTE: Dados básicos: Oliveira et al. (2000). NOTA: CTC – Capacidade de troca catiônica; V – Saturação por bases; m – Saturação por alumínio. QUADRO 4 - Algumas características químicas do solo, antes e seis meses após a aplicação de calcário1, Agropecuária Santa Angelina, Fazenda Tocantins, Brejinho de Nazaré, TO ProfunÉpoca didade (cm) pH da Ca água Mg Al mmolc dm CTC V Argila -3 Silte Areia % Gleba 1 Antes da aplicação do calcário Após 6 meses da aplicação 0-10 3,7 0,3 0,2 0,6 5,0 11,4 12 5 83 10-20 3,7 0,2 0,1 0,5 4,2 8,4 11 5 84 0-10 6,0 1,2 0,6 0,0 3,1 58,5 – – – 10-20 4,4 0,5 0,3 0,3 2,4 34,3 – – – 0-10 3,9 0,3 0,1 0,4 4,6 10,4 10 4 86 10-20 3,9 0,2 0,1 0,4 3,5 10,1 11 5 84 0-10 5,7 1,5 0,6 0,0 3,6 60,8 – – – 10-20 4,1 0,6 0,2 0,4 2,8 29,5 – – – 0-10 3,8 0,3 0,2 0,4 4,7 12,0 37 9 54 10-20 3,9 0,2 0,1 0,3 3,9 9,1 34 9 57 Gleba 2 Antes da aplicação do calcário Após 6 meses da aplicação Gleba 8 Antes da aplicação do calcário Após 6 meses da aplicação 0-10 5,7 1,2 0,5 0,0 3,8 46,7 – – – 10-20 4,4 0,5 0,3 0,2 2,8 29,2 – – – 0-10 3,9 0,3 0,2 0,3 5,3 10,6 32 9 59 10-20 4,0 0,2 0,1 0,4 4,0 8,8 35 10 55 0-10 5,6 1,2 0,5 0,0 3,6 47,8 – – – 10-20 4,5 0,4 0,2 0,2 2,6 23,8 – – – Gleba 9 Antes da aplicação do calcário Após 6 meses da aplicação NOTA: Dados não publicados, coletados por Georgette Andrea Kluthcouski, técnica da Agropecuária Santa Angelina, em julho de 2002. V – Saturação por bases. (1) Foram aplicadas 5 t ha -1 -1 de calcário dolomítico e 400 kg ha de superfosfato simples. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 111 Também em solos sob pastagens degradadas, onde predominam solos ácidos e pouco férteis, a aplicação de calcário dois a três meses antes da semeadura do milho resultou em produtividade média de grãos de 3,75 t ha-1, chegando ao máximo de 7,4 t ha-1. As mais altas produtividades referem-se, muito provavelmente, a solos anteriormente corrigidos ou naturalmente férteis (Quadro 5). Assim, para atingir médias superiores a 6 t ha-1, é fundamental que a calagem seja feita com antecedência mínima de um ano ou um ciclo de chuvas. Existem vários relatos de que o processo mais econômico de correção da acidez das camadas superficiais e subsuperficiais do solo é a utilização de uma parte de gesso (sulfato de cálcio) em mistura com calcário. O gesso contém, aproximadamente, 23% de cálcio e 19% de magnésio. Assim, se forem aplicados 500 kg ha-1 de gesso, por exemplo, só com este insumo estariam sendo aplicados 115 kg ha-1 de Ca e 95 kg ha-1 de S, quantidades essas teoricamente suficientes para a obtenção de mais de 6 t ha-1 de milho. Os sulfatos carreiam alguns cátionsbase através dos horizontes, corrigindo a acidez e favorecendo o crescimento radicular das plantas. No Sistema Barreirão, as doses extremas de qualquer um dos corretivos, aplicadas entre dois e três meses antes da semeadura do milho, tenderam a resultar em menores produtividades do milho, cultivar BR 201, e da forrageira B. brizantha (Quadro 6), não havendo, contudo, diferenças significativas entre as proporções testadas. No entanto, melhores rendimentos foram obtidos para as misturas com as QUADRO 5 - Produtividade média de grãos e taxas de retorno diretas obtidas nas unidades demonstrativas do Sistema Barreirão, implantadas em duas safras agrícolas em solos sob pastagem degradada e em diferentes municípios e Estados brasileiros (1) Safra agrícola Total de municípios Estados abrangidos 1992/1993 3 1993/1994 1993/1994 Cultura anual Produtividade -1 (2) Taxa de consorciada (t ha ) retorno direta GO Milho 4,1 1,06 16 GO/MS/MG/SP/MT Milho 3,4 0,80 1 GO Sorgo 3,0 0,94 FONTE: Dados básicos: Yokoyama et al. (1998). (1) Gramínea: Brachiaria brizantha. (2) Retorno por unidade monetária aplicada. QUADRO 6 - Efeito da mistura de gesso com calcário no estande, na produtividade de grãos do milho híbrido BR 201, na produtividade de massa verde da forrageira B. brizantha e nos teores de cálcio no perfil do solo, Fazenda Barreirão, Piracanjuba, GO Cálcio Milho -3 (cmolc dm ) Massa verde (1) Mistura calcário:gesso Produtividade Estande -2 (plantas m ) (2) Profundidade da forrageira -1 (t ha ) (cm) -1 (kg ha ) 30 60 90 100:0 4,9 a 3.797 a 16,8 2,0 1,5 1,3 80:20 6,1 a 3.550 a 12,8 2,7 1,7 1,2 60:40 4,9 a 4.300 a 15,2 2,3 1,2 1,4 40:60 4,9 a 4.217 a 15,4 2,2 1,7 1,4 20:80 6,3 a 4.093 a 13,9 1,8 2,3 1,3 0:100 6,1 a 3.493 a 13,2 1,8 2,3 1,3 Testemunha 6,1 a 1.490 b 14,3 1,9 1,5 1,3 (3) FONTE: Oliveira et al. (1996). NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade. (1) Latossolo Amarelo; pH 5,7; Ca2+ + Mg2+ = 0,7 cmolc dm-3; teores de P, K, Cu, Zn, Fe e Mn de 0,7; 86,0; 0,3; 2,3; 154,0 e 44,0 mg dm-3, respectivamente; matéria orgânica = 19 g kg-1. (2) Correspondente a 3,0 t ha-1. (3) Correspondente a 5,76 t ha-1. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 112 relações calcário: gesso de 60% e 40% e 40% e 60%. A distribuição do cálcio no perfil do solo, a partir da profundidade de 60 cm, foi crescente, à medida que a mistura continha mais gesso. Na recuperação de pastagens degradadas, tal qual no Sistema Barreirão, o tempo de reação do corretivo no solo é, em geral, insuficiente, não obedecendo ao período mínimo de 90 dias, em condições de solo úmido, entre a aplicação e a semeadura da cultura ou da forrageira. Considerando-se que o principal fator determinante da velocidade de reação do corretivo é o tamanho de suas partículas, o calcário filler, ou finamente moído, pode produzir melhor resultado que o calcário convencional. Na cultura do milho, embora o teste estatístico não tenha detectado diferenças, houve acréscimo superior a 1,0 t ha-1 de grãos com a utilização do filler e diferenças significativas na produção de massa verde da forrageira B. brizantha (Quadro 7). No Sistema Barreirão, os procedimentos de plantio do milho são os tradicionais. No plantio simultâneo, dependendo da espécie da forrageira, suas sementes são mistu- radas ou não ao adubo do milho. É importante cuidar para que essa mistura seja feita no dia do plantio e regulada a profundidade de deposição do adubo + sementes para maior profundidade, a fim de que não ultrapasse o limite e que haja emergência das plântulas, o que varia conforme a espécie. Geralmente, sementes de braquiária podem ser semeadas até 8 cm e de panicum até 3 cm. As sementes do milho geralmente são semeadas a 3 cm de profundidade no solo. É desejável estabelecer uma ou duas linhas adicionais de forrageira nas entrelinhas do milho para melhor formação da pastagem, o que vai depender do espaçamento e do equipamento de plantio disponível. Existe hoje tendência de redução do espaçamento entrelinhas na cultura do milho, principalmente com os híbridos atuais, que são de porte mais baixo e arquitetura mais ereta. Sangoi et al. (1998) encontraram aumento no rendimento de grãos de milho com redução do espaçamento entre fileiras até 50 cm. Esta redução no espaçamento resultou também em maior massa de grãos por espiga. Esse comportamento QUADRO 7 - Efeito comparativo da calagem tradicional com a microcalagem no estande, no número de espigas, na produtividade de grãos de milho e massa verde de B. brizantha, em solo sob pastagem degradada, Fazenda Barreirão, Piracanjuba, GO Milho Massa verde (1) Calcário -2 (planta m ) -1 3 t ha de calcário a lanço -1 3 t ha de filler a lanço -1 0,3 t ha de filler na linha -1 0,6 t ha de filler a lanço CV (%) Espiga Estande Produtividade -1 o (n espiga m ) -1 (kg ha ) da forrageira -1 (t ha ) 5,7 a 4,9 a 2.283 a 34,4 b 5,8 a 5,3 a 3.348 a 44,6 ab 5,6 a 5,4 a 3.360 a 50,8 a 5,7 a 5,4 a 3.084 a 38,6 ab 11,2 12,7 8,3 15,6 FONTE: Oliveira et al. (1996). NOTA: Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade. CV - Coeficiente de variação. (1) Latossolo Vermelho-Amarelo; pH 5,7; Ca2+ + Mg2+ = 2,6 cmolc dm-3; teores de P, K, Cu, Zn, Fe e Mn de 1,1 mg, 89,0 mg, 2,6 mg, 0,6 mg, 363,0 mg e 33,0 mg dm-3, respectivamente; matéria orgânica = 15 g kg-1. deve-se aos milhos atuais terem características de porte mais baixo, melhor arquitetura foliar e menor massa vegetal que permitem cultivos mais adensados em espaçamentos mais fechados. Quanto à qualidade da silagem, Paiva (1992) verificou maior rendimento de proteína bruta na massa seca da forragem, no espaçamento de 0,50 m, comparando com espaçamentos maiores. Esse plantio em menores espaçamentos, além de possibilitar melhor e mais rápida cobertura do solo, evita a formação de touceiras muito grandes de capim, o que poderá afetar negativamente a qualidade do próximo plantio. Outra possibilidade é o plantio defasado da forrageira em 15 a 30 dias depois da emergência do milho: planta-se o milho solteiro e, quando ele já estiver estabelecido, faz-se o semeio da forrageira. Em muitos casos, agropecuaristas têm adotado essa tecnologia somente para recuperar ou reformar pastagens. O programa de adubação de manutenção e de pastejo controlado tem permitido a utilização da nova pastagem por período indeterminado, com alta produtividade. Caso essa programação não seja executada, a nova pastagem degradar-se-á em alguns anos, sendo necessário recuperá-la novamente. É regra em ILP que a pastagem não se degrade. Se isto estiver acontecendo mostra que há deficiência no planejamento da ILP adotada e que medidas corretivas são necessárias. Recomendações a) devido à cultura do milho não ser plenamente adaptada a cultivos de abertura de área ou sob área com pastagem degradada, o potencial de rendimento, no primeiro ano, dificilmente ultrapassa 5 t ha-1; b) para a obtenção de altas produtividades de milho, acima de 6 t ha-1, é recomendável a aplicação dos corretivos de acidez do solo pelo menos um ciclo de chuvas antes da semeadura; c) em áreas recém-desbravadas ou sob pastagem degradada, a opção por Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto variedade resulta em economia da ordem de quatro a cinco vezes na aquisição de sementes. Sistema Santa Fé dade agrícola mais competitiva e sustentável. Além disso, esse sistema está viabilizando o plantio direto em várias regiões, devido à geração de palhada em quantidade adequada. Somam-se a isso alguns benefícios agregados à palhada de braquiária, no que diz respeito ao seu efeito supressor de plantas daninhas e de fungos de solo. Fisiologia das espécies em consórcio As espécies forrageiras comumente utilizadas são de metabolismo C4 de elevadas taxas de crescimento em altas irradiâncias. Por isso, redução do crescimento das forrageiras deve ser considerada, para que o consórcio tenha êxito, com produtividades de grãos equivalentes ao sistema solteiro. Estratégias como retardar a emergência da forrageira, uso de doses reduzidas de herbicidas e populações adequadas das espécies em consórcio são fundamentais para que as áreas foliares das culturas sobreponham-se às das forrageiras ao longo do ciclo. De acordo com Portes et al. (2000), no Sistema Barreirão, dispondo as sementes das forrageiras a, aproximadamente, 10 cm Ramon Costa Alvarenga O Sistema Santa Fé fundamenta-se na produção consorciada de culturas de grãos, especialmente o milho, sorgo, milheto com forrageiras tropicais, principalmente as do gênero Brachiaria e Panicum, tanto no SPD quanto no convencional, em áreas de lavoura, com solo parcial ou devidamente corrigido (Fig. 3). Nesse sistema, a cultura do milho apresenta grande performance de desenvolvimento inicial e exerce com isso alta competição sobre as forrageiras, evitando, assim, redução significativa na produtividade de grãos. Os principais objetivos do Sistema Santa Fé são a produção forrageira para a entressafra e palhada em quantidade e qualidade para o SPD. Esse sistema apresenta grande vantagem, pois não altera o cronograma de atividades do produtor e não exige equipamentos especiais para sua implantação. Através dele, é possível aumentar o rendimento da cultura de milho e das pastagens e, com isso, baixar os custos de produção, tornando a proprie- 113 Figura 3 - Sistema Santa Fé Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006 de profundidade, retarda em até 13 dias a sua emergência, conseguindo-se ampla vantagem do índice de área foliar (IAF) da cultura sobre o da forrageira. No Sistema Santa Fé, o consórcio é conduzido em solo de média a alta fertilidade e espera-se maior competição da forrageira com a cultura. Por esta razão, além da semeadura mais profunda da forrageira, em alguns casos pode haver a necessidade do uso de herbicidas para conter seu crescimento. Portela (2003) estudou o consórcio milho com braquiária e com mombaça. Verificou que mesmo com ou sem a aplicação do herbicida para reduzir o crescimento das forrageiras, a Taxa Assimilatória Líquida (TAL) do milho foi maior que a das forrageiras em grande parte do ciclo da cultura (Gráficos 1 e 2). A TAL indica a eficiência fotossintética e devido ao maior crescimento do milho e conseqüente sombreamento que este exerce nas forrageiras, resultou em maior Taxa de Crescimento da Cultura (TCC) do milho, superando ao das forrageiras, tornando o consórcio dessas espécies muito seguro (Gráficos 3 e 4). A aplicação de herbicida para redução do TCC da braquiária (Gráfico 3B) somente é necessária em situações em que o milho não tem bom desenvolvimento inicial, em casos de baixa fertilidade do solo e/ou outros fatores, tais como: estiagem prolongada no período inicial da lavoura, forte ataque de lagartado-cartucho, etc. Vários são os trabalhos realizados com o consórcio milho e forrageiras como citados no Quadro 8. Na média de todos os ensaios a presença da forrageira reduziu a produtividade em 5%, contudo verificase que vários foram os casos de diferenças não-significativas entre o milho solteiro e o consorciado. Vale ressaltar que os diferentes resultados estão associados à combinação de vários fatores, como a população da forrageira, época de sua implantação, arranjos de plantio, presença de plantas daninhas, aplicação de herbicidas, fertilidade do solo e condições hídricas. Nos tratamentos em que foram aplicados os herbicidas para reduzir o crescimento da forra- Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 114 A B Gráfico 1 - Taxa Assimilatória Líquida (TAL) de milho solteiro, milho consorciado e braquiária em função de dias após a emergência (DAE) na ausência (A) e presença (B) de herbicidas FONTE: Portela (2003). A B Gráfico 2 - Taxa Assimilatória Líquida (TAL) de milho solteiro, milho consorciado e mombaça em função de dias após a emergência (DAE) na ausência (A) e presença (B) de herbicidas FONTE: Portela (2003). geira, as produções foram semelhantes às do milho solteiro, indicando que este procedimento pode eliminar as perdas no consórcio. Manejo de herbicidas e efeito no milho e na produção de forragem No consórcio milho e forrageiras, geralmente as aplicações de herbicidas em préemergência afetam o estabelecimento das forrageiras, mesmo naqueles manejos onde o plantio destas é feito junto com a cobertura nitrogenada (20 dias pós-emergência do milho). Dessa forma, são usados os herbicidas aplicados em pós-emergência das plantas daninhas e do milho. Dentre esses herbicidas destacam-se o herbicida atrazina e alguns do grupo químico das sulfonilúreas, como o nicosulfuron, foramsulfuron e iodosulfuron methyl sodium (ZAGONEL, 2002 apud JAKELAITIS et al., 2005a). O atrazine pertence ao grupo químico das triazinas e controla espécies daninhas dicotiledôneas e algumas gramíneas anuais. No consórcio, esse herbicida é aplicado nas doses de 1.000 a 1.500 g i.a. ha-1, em pósemergência, e nessas doses somente apresentam controle sobre as dicotiledôneas. As sulfonilúreas são usadas em pósemergência, com enfoque no controle de gramíneas e algumas espécies dicotiledôneas. Já o foramsulfuron atua principalmente sobre gramíneas, e o iodosulfuron methyl sodium sobre espécies de folhas largas, estando, assim disponível no mer- Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 115 A B Gráfico 3 - Taxa de Crescimento da Cultura (TCC) de milho solteiro, milho consorciado e braquiária em função de dias após a emergência (DAE) na ausência (A) e presença (B) de herbicidas FONTE: Portela (2003). A B Gráfico 4 - Taxa de Crescimento da Cultura (TCC) de milho solteiro, milho consorciado e mombaça em função de dias após a emergência (DAE) na ausência (A) e presença (B) de herbicidas FONTE: Portela (2003). cado como mistura pronta para a cultura do milho (FRANCO, 2002 apud JAKELAITIS et al., 2005b). No Quadro 9 são apresentados trabalhos realizados para calibração de doses de herbicidas no consórcio milho e braquiária. Verifica-se que em alguns ensaios houve a interferência significativa do consórcio sobre o rendimento de grãos e nestes as subdoses de herbicidas eliminaram a competição exercida pela braquiária no milho. O período crítico de competição (PCC) das plantas daninhas e/ou forrageiras no milho ocorre entre os estádios V5 (cinco folhas totalmente expandidas) e V8 ou entre 20 e 40 dias pós-emergência (BLANCO et al., 1976; RAMOS; PITELLI, 1994; HANIZ et al., 1996; DUARTE, 2000). Dessa forma, a aplicação de herbicidas pós-emergentes deve ser feita entre V4 e V5. O herbicida atrazine (atrazina) é usado na dose de 1.500 g i.a. ha-1 (3 L p.c. ha-1), para o controle de plantas daninhas dicotiledôneas. O nico- Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006 sulfuron (Sanson) é recomendado nas doses de 4 a 8 g i.a. ha-1 (0,1 a 0,2 L p.c. ha-1). A dose maior é recomendada quando a forrageira e/ou plantas daninhas estão em estádios mais avançados (mais de três perfilhos). Para o consórcio do milho e panicuns (tanzânia, mombaça e outros) a dose de nicosulfuron não deve ultrapassar a 6 g i.a. ha-1 (0,15 L p.c. ha-1), devido à sensibilidade dessas espécies aos herbicidas. Para o herbicida foramsulfuron + iodosulfuron (Equipe-Plus) recomenda-se dose Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 116 QUADRO 8 - Produtividade de grãos de milho no sistema solteiro, consorciado com braquiária, com e sem herbicida em diferentes locais e anos Milho solteiro Local Ano Cultivar Milho + Braquiária (sem herbicida) Milho + Braquiária (com herbicida) CV (%) Fonte Produtividade -1 (kg ha ) Piracicaba-SP 2003 FORT 9.270 a 9.690 a – 1,60 Piracicaba-SP 2003 CATI AL 34 7.130 a 5.190 b – 11,10 Coimbra-MG 2002 AGN 3180 5.910 a 5.270 b 5.860 a 5,98 Jakelaitis et al. (2005 a) Coimbra-MG 2002 AG 122 6.881 a 5.319 b 6.732 a 9,20 Jakelaitis et al. (2005b) Jaboticabal-SP 2002 9.800 a 9.700 a – 3,77 Bernardes (2003) Ilha Solteira- SP 2002 AG 8080 8.300 a 7.200 b – 8,07 Pantano (2003) Santo Antônio de Goiás-GO 2002 BR 3150 9.388 a 8.415 a 9.121 a 3,12 Portela (2003) Coimbra-MG 2001 AG 6690 4.500 a 4.250 a 4.267 a – Jakelaitis et al. (2004) Santo Antônio de Goiás-GO 2001 BR 201 5.945 a 5.252 a 5.844 a 8,20 Kluthcouski e Aidar (2003) Brasília-DF 2000 30T75 7.444 a 8.788 a – 9,50 Kluthcouski e Aidar (2003) Novo São Joaquim- MT 2000 AG 1051 3.960 a 3.012 a – 19,80 Kluthcouski e Aidar (2003) Novo São Joaquim- MT 2000 AG 9010 5.456 a 5.877 a – 3,30 Kluthcouski e Aidar (2003) Novo São Joaquim- MT 2000 BR 201 3.825 a 3.880 a – 6,00 Kluthcouski e Aidar (2003) Montividiu-GO 2000 Tork 5.882 a 5.447 a – 5,50 Kluthcouski e Aidar (2003) Santa Helena de Goiás-GO 2000 BR 201 8.865 a 8.779 a – 5,00 Kluthcouski e Aidar (2003) Santa Helena de Goiás-GO 2000 BR 205 9.256 a 8.352 a – 10,70 Kluthcouski e Aidar (2003) Santa Helena de Goiás-GO 2000 BR 206 9.170 a 8.570 b – 6,60 Kluthcouski e Aidar (2003) Santa Helena de Goiás-GO 2000 AG 105 4.088 a 4.102 a – 10,40 Kluthcouski e Aidar (2003) Campo Novo do Parecis-MT 1999 A 2662 5.857 a 4.840 b – 3,60 Kluthcouski e Aidar (2003) Luis Eduardo Magalhães-BA 1999 Dina 766 7.823 a 8.507 a – 4,90 Kluthcouski e Aidar (2003) Luziânia-GO 1999 C 333B 5.023 a 4.859 b 5.298 a 13,70 Kluthcouski e Aidar (2003) Santa Helena de Goiás-GO 1999 BR 201 7.686 a 7.600 a 6.854 a 9,60 Kluthcouski e Aidar (2003) Santa Helena de Goiás-GO 1999 BR 201 7.999 a 8.164 a – 11,50 Kluthcouski e Aidar (2003) Santa Helena de Goiás-GO 1998 BR 201 7.735 a 8.236 a – 7,60 Kluthcouski e Aidar (2003) 6.966 (100) 6.637 (95) – – Média – _ – Tsumanuma (2004) Severino et al. (2005) – NOTA: Médias seguidas pela mesma letra na linha, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade. CV – Coeficiente de variação. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006 -1 Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006 Dose -1 13,3 – – – – 6.854 a 6.603 a – 7.365 a – – 7.600 a 8,2 – – – – – – – 6.099 a – – 5.252 b 5.945 a 1999 1999 7.686 a (cultivar C 333B) (cultivar BR 201) Santa Helena de Goiás-GO (A) de Goiás-GO Santa Helena (A) 11,1 – – – – 5.361 5.298 a – 5.438 a – – 4.859 a 5.023 a 1999 (cultivar C 333B) Luziânia-GO (A) Coimbra-MG (B) – – – – – – 4.502 a 4.569 a – – 4.560 a 4.440 a 4.950 a 2001 5,9 6.402 a 6.723 a – 6.732 a – 6.610 a 6.180 a – 6.167 a 6.533 a 5.319 b 6.881 a 2002 (cultivar AG 6690) (cultivar AGN 3180) Coimbra-MG (B) (kg ha ) -1 Produtividade NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade. CV - Coeficiente de variação; i.a. - Ingrediente ativo; p.c. - Produto comercial. 0,15 0,1 0,075 0,05 0,45 0,3 0,2 0,15 0,1 0,05 0 – (L p.c. ha ) FONTE: (A) Kuthcouski e Aidar (2003) e (B) Jakelaitis et al. (2004). CV (%) 45 + 3 + 1.500 Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine 18 + 1.500 Nicosulfuron + atrazine 30 + 2 + 1.500 12 + 1.500 Nicosulfuron + atrazine Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine 8 + 1.500 Nicosulfuron + atrazine 22,5 + 1,5 + 1.500 6 + 1.500 Nicosulfuron + atrazine Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine 4 + 1.500 Nicosulfuron + atrazine 15 + 1 + 1.500 2 + 1.500 Nicosulfuron + atrazine Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine 0 + 1.500 – (g i.a. ha ) Dose Nicosulfuron + atrazine Milho solteiro Herbicida QUADRO 9 - Produtividade de grãos de milho consorciado com B. brizantha, em função de diferentes herbicidas e doses 7,8 – – 7.545 a 7.480 a – 7.435 a 7.270 a 7.378 a – – 6.250 b 7.480 a 2004 (cultivar BR 3051) Goiás-GO Santo Antônio de Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 117 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 118 de 15 + 1 g i.a. ha-1 (0,5 L p.c. ha-1). Nessas doses recomendadas dos herbicidas citados, há uma redução do crescimento da forrageira e também das plantas daninhas em torno de 40% a 50%, suficientes para a redução da competição com o milho no PCC (Quadro 10). O efeito da aplicação de herbicida na produção de forragem foi estudado por alguns autores (Quadro 11). Os dados não são conclusivos, pois no trabalho de Freitas et al. (2005), a aplicação de herbicida favoreceu a produção de forragem de B. brizantha, tanto na colheita da forragem do milho, como 60 dias após esse período. Nesse trabalho, o resultado pode ser explicado pelo fato de o herbicida controlar a planta daninha B. plantaginea, diminuindo, portanto, a competição com a B. brizantha. Já no trabalho de Jakelaitis et al. (2005a), a aplicação dos herbicidas afetou negativamente a produção de B. brizantha, na colheita do milho, como também 50 dias póscolheita e 40 dias após o primeiro pastejo. O mesmo aconteceu no trabalho de Kluthcouski et al. (2003). Portela (2003), estudando mombaça e braquiária verificou que, apesar de haver redução da produção da forrageira na colheita do milho com a aplicação de herbicida, aos 50 dias após a colheita não se verificou efeito negativo. Concluise que a recuperação da toxicidade da for- rageira, devido aos herbicidas, depende de vários fatores, como as condições hídricas, a fertilidade do solo, e do próprio nível de fitotoxicidade da forrageira após a aplicação dos herbicidas. Portanto, recomenda-se não aplicar doses acima das recomendadas. Arranjos espaciais da forrageira e efeito no milho e na produção de forragem Trabalhos realizados mostram que os diferentes arranjos testados não afetaram o rendimento do milho (Quadro 12). Entretanto os arranjos afetam de forma significativa a produção de forragem (Quadro 13), ou seja, ficou evidente que o plantio de duas linhas da forrageira na entrelinha do milho proporcionam maior produção de forragem, ou seja, quanto maior for a distribuição em linha da forrageira, maior será a produção (menor tempo de formação do pasto). Épocas de introdução das forrageiras e efeitos no milho e na produção de forragem De acordo com os trabalhos citados no Quadro 14, verifica-se que não há diferenças de produtividade do milho entre o plantio simultâneo da forrageira com o milho e o plantio em pós-emergência. Como discutido anteriormente, o milho apresenta maior taxa de crescimento no início do desenvolvimento em comparação com a forrageira, o que garante o sucesso do plantio simultâneo das duas espécies. Ao contrário do milho, a produção da forrageira é extremamente afetada pela época de implantação (Quadro 15). Verifica-se, nos trabalhos realizados, que a produção da forrageira diminui significativamente, à medida que atrasa a introdução desta no consórcio. O milho, por ser uma planta muito competitiva, afeta negativamente a forrageira, quando esta é implantada em pós-emergência do milho. Diante desses dados, recomenda-se o plantio simultâneo da forrageira com o milho, pois o rendimento deste não é afetado (desde que sejam seguidas as recomendações de uso de herbicidas, arranjos e densidade de plantio) e a produção da forrageira após colheita do granífero atinge seu máximo potencial. Densidade de plantio da forrageira e efeito no milho e na produção de forragem Nos trabalhos, não se verificaram respostas da densidade de plantio das forrageiras na produção de milho e de forragem (Quadros 16 e 17). Recomenda-se, portanto, uma densidade de 3,0 kg ha-1 de sementes puras e viáveis para a implantação do consórcio. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006 Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006 0,15 0,1 0,075 0,05 0,45 0,3 0,2 0,15 0,1 0,05 0 – Controle – 90 80 – 53 – 91 73 – 43 20 0 100 – 91 76 – 70 – 83 80 – 50 30 0 100 – 10 2 – 0 – 0 0 – 0 0 0 0 28 DAA 28 DAA 28 DAA 2002 (%) -1 kg ha 5,9 6.402 a 6.723 a – 6.732 a – 6.610 a 6.180 a – 6.167 a 6.533 a 5.319 b 6.881 a – – – 55 50 – 65 60 42 – – 0 100 28 DAA (%) milho (%) Controle B. brizantha Toxicidade (%) B. brizantha D. horizonthalis Controle – – – 0 0 – 0 0 0 – – 0 0 2004 28 DAA (%) milho Toxicidade -1 7,8 – – 7.545 a 7.480 a – 7.435 a 7.270 a 7.378 a – – 6.250 b 7.480 a kg ha (cultivar BR 3051) (cultivar AGN 3180) NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade. CV – Coeficiente de variação; DAA – Dias após a aplicação dos herbicidas; i.a. - Ingrediente ativo; p.c. - Produto comercial. FONTE: (A) Jakelaitis et al. (2005a). CV (%) 45 + 3 + 1.500 Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine 18 + 1.500 Nicosulfuron + atrazine 30 + 2 + 1.500 12 + 1.500 Nicosulfuron + atrazine Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine 8 + 1.500 Nicosulfuron + atrazine 22,5 + 1,5 + 1.500 6 + 1.500 Nicosulfuron + atrazine Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine 4 + 1.500 Nicosulfuron + atrazine 15 + 1 + 1.500 2 + 1.500 Nicosulfuron + atrazine Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine 0 + 1.500 – -1 (L p.c. ha ) (g i.a. ha ) -1 Dose Dose Nicosulfuron + atrazine Milho solteiro Herbicida Santo Antônio de Goiás-GO Coimbra-MG (A) QUADRO 10 - Porcentagem de controle de B. brizantha e Digitaria horizonthalis e rendimento de grãos de milho consorciado com B. brizantha, em função de diferentes herbicidas e doses Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 119 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 120 QUADRO 11 - Produtividade de massa seca de forragem e de grãos de milho, em função da aplicação de herbicidas (A) Coimbra-MG Herbicida (2002 - cultivar AGN 2012) Dose -1 (g i.a. ha ) B. brizantha B. plantaginea B. brizantha Rendimento de 30 DAA 30 DAA colheita forragem de milho -1 -1 (kg ha ) Milho solteiro -1 (kg ha ) B. brizantha 60 DAC -1 (kg ha ) -1 (t ha ) (kg ha ) – – – – 55 a – Nicosulfuron + atrazine 0 + 1.500 342 a 3.657 a 138 b 40 b 2.249 b Nicosulfuron + atrazine 8 + 1.500 250 b 849 b 733 a 55 a 4.482 a sd 5,9 sd B. brizantha CV (%) sd sd (B) Coimbra-MG Herbicida (2002 - cultivar AGN 3180) Dose -1 (g i.a. ha ) B. brizantha B. brizantha B. brizantha B. brizantha 30 DAA colheita colheita 50 DAC -1 -1 (kg ha ) Milho solteiro -1 (kg ha ) 40 DAP -1 (kg ha ) -1 (kg ha ) (kg ha ) – – – 6.888 a – – Nicosulf uron + atrazine 0 + 1.500 – 5.347 a 5.319 b 7.767 a 3.685 a Nicosulfuron + atrazine 8 + 1.500 – 2.367 b 6.180 a 3.717 b 2.487 b – – 24,42 5,98 26,47 20,03 B. brizantha CV (%) (C) Santo Antônio de Goiás-GO Herbicida (2001 - cultivar BR 201) Dose -1 (g i.a. ha ) B. brizantha B. brizantha B. brizantha B. brizantha 30 DAA colheita colheita 45 DAC -1 -1 (kg ha ) Milho solteiro -1 (kg ha ) (kg ha ) 35 DAP -1 -1 (kg ha ) (kg ha ) – – – 5.945 a – – Nicosulfuron + atrazine 0 + 1.500 – 1.060 a 5.252 a 4.300 a 4.060 a Nicosulfuron + atrazine 8 + 1.500 – 1.162 a 5.844 a 3.740 a 2.920 b – – 13,5 8,20 20,78 33,20 CV (%) (D) Santo Antônio de Goiás-GO Herbicida (2001 - cultivar BR 3150) Dose -1 (g i.a. ha ) B. brizantha Rendimento 40 DAA de milho -1 Milho solteiro – -1 B. brizantha 50 DAC -1 (kg ha ) (kg ha ) (kg ha ) – 8.425 a – Nicosulfuron + atrazine 0 + 1.500 400 a 8.012 a 6.130 a Nicosulfuron + atrazine 8 + 1.500 230 b 8.039 a 5.780 a – 54,78 10,0 34,30 CV (%) (D) Santo Antônio de Goiás-GO Herbicida (2002 - cultivar AGN 3180) Dose -1 (g i.a. ha ) P. maximum Rendimento 40 DAA de milho -1 Milho solteiro – -1 P. maximum 50 DAC -1 (kg ha ) (kg ha ) (kg ha ) – 7.375 a – Nicosulfuron + atrazine 0 + 1.500 280 a 6.877 a 9.600 a Nicosulfuron + atrazine 8 + 1.500 150 b 7.708 a 11.100 a – 26,62 9,40 49,3 CV (%) FONTE: (A) Freitas et al. (2005), (B) Jakelaitis et al. (2005a), (C) Kuthcouski e Aidar (2003) e (D) Portela (2003) . NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade. DAA – Dias após aplicação dos herbicidas; DAC – Dias após colheita; DAP – Dias após primeiro pastejo; CV – Coeficiente de variação; i.a. - Ingrediente ativo; p.c. - Produto comercial Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 121 QUADRO 12 - Produtividade de grãos de milho consorciado com B. brizantha, em função de diferentes arranjos espaciais Produtividade -1 (kg ha ) Arranjos espaciais (A) Coimbra-MG (B) (C) Ilha Solteira-SP Coimbra-MG (cultivar AG 122) (cultivar AG 8080) Plantio simultâneo com uma linha na entrelinha 5.570 a – – Plantio simultâneo com duas linhas na entrelinha 5.030 a – 55.330 Plantio simultâneo a lanço 5.770 a 6.928 a 49.790 Plantio simultâneo na linha do milho 5.550 a 7.503 a – Plantio 30 DAE do milho, uma linha na entrelinha – 7.677 a 51.920 Plantio 30 DAE do milho a lanço – 8.147 a – 5.910 a 7.995 a 55.920 CV (%) 9,20 8,07 – Espaçamento do milho entre fileiras (m) 1,00 0,45 1,00 3,0 6,4 3,8 Sim Não Sim Milho solteiro -1 Densidade de plantio de B. brizantha (kg ha de sementes puras viáveis) Uso de subdose de herbicida (cultivar AGN 2012) FONTE: (A) Jakelaitis et al. (2005b), (B) Pantano (2003) e (C) Freitas et al. (2005). NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade. CV – Coeficiente de variação; DAE – Dias após emergência. QUADRO 13 - Produtividade de massa seca de B. brizantha, consorciada com milho em função de diferentes arranjos espaciais Produtividade -1 (t ha ) Arranjos espaciais (A) Coimbra-MG (cultivar AG 122) (B) Ilha Solteira-SP (C) Coimbra-MG (cultivar AG 8080) (cultivar AGN 2012) Colheita 25 DAC Colheita 60 DAC Plantio simultâneo com uma linha na entrelinha 1,15 c – – – Plantio simultâneo com duas linhas na entrelinha 2,66 b – 0,73 4,48 Plantio simultâneo a lanço 0,45 c 1,69 a 0,13 0,76 Plantio simultâneo na linha do milho 0,71 c 2,13 a – – Plantio 30 DAE do milho, uma linha na entrelinha – 1,45 a 0,05 0,05 Plantio 30 DAE do milho a lanço – 1,48 a – – Braquiária solteira 7,63 a – 2,83 14,94 CV (%) 16,14 34,47 – – 1,00 0,45 1,0 1,0 Densidade de plantio da B. brizantha (kg ha de sementes puras viáveis) 3,0 6,4 3,8 3,8 Uso de subdose de herbicida Sim Não Sim Sim Espaçamento do milho entre fileiras (m) -1 FONTE: (A) Jakelaitis et al. (2005b), (B) Pantano (2003) e (C) Freitas et al. (2005). NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade. CV – Coeficiente de variação; DAC – Dias após colheita; DAE – Dias após emergência. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006 Piracicaba-SP 9.260 a Plantio em pós-emergência do milho – V4 Não Não 3,0 entrelinha 3,0 Uma linha na entrelinha 0,9 B. brizantha 7,36 _ _ 9.500 a 9.700 a 9.270 a Uma linha na 0,9 B. decumbens 7,36 _ Piracicaba-SP (cultivar Fort) (A) Piracicaba-SP Não 3,0 entrelinha Uma linha na 0,9 B. ruziziensis 7,36 _ _ 9.450 a 9.333 a 9.270 a (cultivar Fort) (A) Jaboticabal-SP Não 6,4 entrelinha Duas linhas na 0,9 B. decumbens 3,77 9.595 a 9.595 a _ _ 9.723 a (cultivar Exceler) (B) CV – Coeficiente de variação. NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade. FONTE: (A) Tsumanuma (2004), (B) Bernardes (2003), (C) Pantano (2003) e (D) Freitas et al. (2005). Uso de subdose de herbicida (kg ha de sementes puras viáveis) -1 Densidade de plantio da forrageira Arranjo Espaçamento do milho entre fileiras (m) Forrageira CV (%) (sete folhas desenvolvidas) Plantio em pós-emergência do milho – V7 (cinco folhas desenvolvidas) Plantio em pós-emergência do milho – V5 _ 9.690 a Plantio simultâneo (quatro folhas desenvolvidas) 9.270 a (cultivar Fort) (A) Milho solteiro Época de introdução da forrageira (kg ha ) -1 Produtividade QUADRO 14 - Produtividade de grãos de milho consorciado com B. brizantha, em função de diferentes épocas de introdução da forrageira Ilha Solteira-SP Não 3,17 entrelinha Uma linha na 0,45 B. brizantha 7,09 _ _ 7.677 a 7.503 a 7.995 a (cultivar AG 8080) (C) Coimbra-MG Sim 3,8 A lanço 1,0 B. brizantha _ _ 51.920 a _ 49.790 a 55.130 a (cultivar 2012) (D) 122 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006 Piracicaba-SP Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006 20,0 – 20,0 – – 2,10 b 3,17 a – 60 DAC Não Não 3,0 entrelinha 3,0 Uma linha na entrelinha – B. brizantha 17,7 – – 0,35 b 1,56 a – Colheita Uma linha na – B. decumbens 17,7 – – 3,16 a 3,93 a – 60 DAC Piracicaba-SP (cultivar Fort) (A) Piracicaba-SP 20,0 – – 1,85 b 2,22 a – 60 DAC Jaboticabal-SP DAC – Dias após colheita; CV – Coeficiente de variação. (C) Ilha Solteira-SP Não 6,4 entrelinha Duas linhas na – B. decumbens 7,75 2,88 b 4,51 a – – – Colheita Não 3,17 entrelinha Uma linha na 0,45 B. brizantha 29,84 – – 1,45 a 2,13 a – Colheita (cultivar Exceler) (cultivar AG 8080) (B) NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade. Não 3,0 entrelinha Uma linha na – B. ruziziensis 17,7 – – 0,33 b 1,06 a – Colheita (cultivar Fort) (A) FONTE: (A) Tsumanuma (2004), (B) Bernardes (2003), (C) Pantano (2003) e (D) Freitas et al. (2005). Uso de subdose de herbicida (kg ha de sementes puras viáveis) -1 Densidade de plantio da forrageira Arranjo Espaçamento do Milho entre fileiras (m) Forrageira CV (%) (sete folhas desenvolvidas) Plantio em pós-emergência do milho – V7 (cino folhas desenvolvidas) Plantio em pós-emergência do milho – V5 – 0,37 b Plantio em pós-emergência do milho – V4 (quatro folhas desenvolvidas) 1,31 a – Colheita (cultivar Fort) (A) Plantio simultâneo Milho solteiro Época de introdução da forrageira (t ha ) -1 Produtividade QUADRO 15 - Produtividade de massa seca de forragens consorciada com milho, em função de diferentes épocas de introdução da forrageira Coimbra-MG – – – – 0,05 b – 0,76 a – 60 DAC Sim 3,8 A lanço 1,0 B. brizantha 0,05 a – 0,13 a – Colheita (cultivar 2012) (D) Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 123 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 124 QUADRO 16 - Produtividade de grãos de milho consorciado com forrageiras, em função de diferentes densidades de semeio da forrageira Produtividade -1 (kg ha ) Densidade de semeio (A) (B) Jaboticabal-SP (cultivar Exceler) Milho solteiro Santo Antônio de Goiás-GO (cultivar BRS 3051) 9.270 a 8.425 a 7.812 a 7.373 a 8.103 a – 7.959 a 7.772 a 7.077 a 7.028 a 9.561 a 8.012 a 8.039 a 6.877 a 7.708 a – 7.898 a 7.551 a 7.195 a 7.521 a 9.629 a – – – – 3,77 9,4 9,4 10,0 10,0 B. decumbens B. brizantha B. brizantha P. maximum P. maximum 0,9 0,90 0,90 0,90 0,90 Época de plantio Pós-emergência (V5) Plantio simultâneo Plantio simultâneo Plantio simultâneo Plantio simultâneo Arranjo Duas linhas na entrelinha Uma linha na entrelinha e outra no milho Não Não -1 1,6 kg ha sementes puras e viáveis -1 3,2 kg ha sementes puras e viáveis -1 4,8 kg ha sementes puras e viáveis -1 6,4 kg ha sementes puras e viáveis CV (%) Forrageira Espaçamento do milho entre fileiras (m) Uso de subdose de herbicida Uma linha na Uma linha na Uma linha na entrelinha e entrelinha e entrelinha e outra no milho outra no milho outra no milho Sim Não Sim FONTE: (A) Bernardes (2003) e (B) Portela (2003). NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade. CV – Coeficiente de variação; V5 – Milho com cinco folhas desenvolvidas. QUADRO 17 - Produtividade de massa seca de forragens consorciada com milho, em função de diferentes densidades de semeio da forrageira Produtividade -1 (t ha ) Densidade de semeio (A) (B) Jaboticabal-SP Santo Antônio de Goiás-GO (cultivar Exceler) (cultivar BRS 3051) Colheita 50 DAC 50 DAC 50 DAC 50 DAC – – – – – sementes puras e viáveis – 5,67 a 5,21 a 10,7 a 11,2 a sementes puras e viáveis 4,48 a 6,13 a 5,78 a 9,6 a 11,0 a sementes puras e viáveis – 6,00 a 5,19 a 11,8 a 14,7 a sementes puras e viáveis 4,55 a – – – – 7,75 34,3 34,3 49,3 49,3 B. decumbens B. brizantha B. brizantha P. maximum P. maximum 0,9 0,90 0,90 0,90 0,90 Época de plantio Pós-emergência (V5) Plantio simultâneo Plantio simultâneo Plantio simultâneo Plantio simultâneo Arranjo Duas linhas na entrelinha Uma linha na entrelinha e outra no milho Uma linha na entrelinha e outra no milho Uma linha na entrelinha e outra no milho Uma linha na entrelinha e outra no milho Não Não Sim Não Sim Milho solteiro -1 1,6 kg ha -1 3,2 kg ha -1 4,8 kg ha -1 6,4 kg ha CV (%) Forrageira Espaçamento do milho entre fileiras (m) Uso de subdose de herbicida FONTE: (A) Bernardes (2003) e (B) Portela (2003). NOTA: Médias seguidas pela mesma letra na mesma coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade. DAC – Dias após colheita; CV – Coeficiente de variação; V5 – Milho com cinco folhas desenvolvidas. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto Interação das forrageiras e plantas daninhas no consórcio milho + forrageira Segundo Severino et al. (2005), o manejo de plantas daninhas na cultura do milho pode ser otimizado com a adoção de espécies de plantas forrageiras que convivam e desenvolvam-se nas entrelinhas da cultura. Além de auxiliar na supressão da comunidade infestante, as forrageiras aceleram a formação da pastagem que será destinada ao consumo animal. Esse sistema de cultivo pode ser, particularmente, interessante para pequenas áreas, como, por exemplo, as de agricultura familiar. No Quadro 18, verifica-se que, quando o milho se desenvolvia na presença de plantas daninhas (corda-de-viola, carururoxo e capim-colchão), houve significativa redução da produtividade. Em média a testemunha capinada produziu 7,0 t ha-1 e 125 a testemunha mantida com as diferentes plantas daninhas produziu apenas 2,0 t ha-1. Entretanto, quando se utilizou do consórcio com as forrageiras B. decumbens, B. brizantha e P. maximum, com a presença das gramíneas forrageiras, ficou evidente a supressão da infestação de plantas daninhas, uma vez que os rendimento obtidos com a consorciação foram significativamente maiores que os da testemunha (milho solteiro sem capina). COLHEITA DO MILHO A partir do início do secamento das folhas do milho vai haver maior penetração de luz e a forrageira voltará a crescer em maior velocidade. Então, a colheita não deve sofrer atraso, pois a forrageira poderá crescer muito e causar transtornos (embuchamento) na colheita mecânica e operacional na manual. Caso se decida por antecipação da colheita, deve estar disponível o secador de grãos. Depois da colheita, dependendo da condição do pasto, deve-se fazer um pastejo rápido de formação, para estimular o perfilhamento da forrageira, ou o pasto deve ser vedado. No primeiro caso, em seguida à saída dos animais, a área deve ser vedada por período suficiente para rebrota e crescimento até a fase do pastejo definitivo, que vai depender das condições do clima. Caso o milho seja colhido para ensilagem, a área é vedada em seguida até a época do primeiro pastejo definitivo. A altura do pastejo deve seguir as recomendações para a espécie forrageira plantada, bem como a carga animal. Depois de um ciclo de pastejo que pode ser somente na entressafra ou de alguns anos e, ao final do período de seca, a pastagem é vedada e, no início das chuvas, dessecada, dando início a novo ciclo de cultura solteira em rotação ou em consórcio. QUADRO 18 - Produtividade de grãos de milho consorciado com forrageiras, em função de diferentes plantas daninhas Produtividade -1 (kg ha ) Cultivar CATI AL 34 Planta daninha Milho solteiro com capina Milho solteiro sem capina Consórcio com B. brizantha Consórcio com B. decumbens Consórcio com P. maximum Corda-de-viola 7.130 Aa 1.980 Ad 4.000 Ac 4.040 Ac 5.190 Ab Caruru-roxo 7.010 Aa 2.350 Ad 4.080 Ac 4.100 Ac 5.170 Ab Capim-colchão 7.040 Aa 2.310 Ad 4.070 Ac 4.180 Ac 5.180 Ab 11,1 11,1 11,1 11,1 11,1 0,9 0,9 0,9 0,9 0,9 Simultâneo Simultâneo Simultâneo Simultâneo Simultâneo 3,0 3,0 3,0 3,0 3,0 Duas linhas na entrelinha Duas linhas na entrelinha Duas linhas na entrelinha Duas linhas na entrelinha Duas linhas na entrelinha Não Não Não Não Não CV (%) Espaçamento do milho entre fileiras (m) Época de plantio Densidade de plantio da forrageira -1 (kg ha de sementes puras viáveis) Arranjo Uso de subdose de herbicida FONTE: Severino et al. (2005). NOTA: Médias seguidas pela mesma letra maiúscula, na coluna, e minúscula, na linha, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade. CV – Coeficiente de variação. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 126 REFERÊNCIAS J.L.; VIANA, R.G. Efeitos de herbicidas no con- consorciação com milho em diferentes espa- BERNARDES, L.F. Semeadura de capim sórcio de milho com Brachiaria brizantha. Planta çamentos na integração agricultura-pecuária braquiária em pós-emergência da cultura Daninha, Viçosa, MG, v.23, n.1, p.69-78, jan./ em plantio direto. 2003. 60f. Dissertação (Mes- do milho para obtenção de cobertura morta mar. 2005a. trado em Agronomia/Sistema de Produção) – Fa- em sistema de plantio direto. 2003. 42f. Dis- ______; SILVA, A.F.; SILVA, A.A.; FERREIRA, sertação (Mestrado em Agronomia) – Faculdade L.R.; FREITAS, F.C.L.; VIVIAN, R. 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Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 127 Produção de milho orgânico no Sistema Plantio Direto Anastácia Fontanétti 1 João Carlos Cardoso Galvão 2 Izabel Cristina dos Santos 3 Glauco Vieira Miranda 4 Resumo - O Sistema Plantio Direto (SPD) é um dos principais desafios da agricultura orgânica na atualidade e sua consolidação passa necessariamente pela adaptação e geração de conhecimentos tecnológicos que possibilitem a manutenção e o incremento da fertilidade do solo, o manejo de pragas, doenças e plantas invasoras, a estabilização da produção e a melhoria do padrão comercial dos produtos. Os resultados de pesquisa sobre a produção de milho orgânico no SPD indicam entre os principais entraves técnicos o manejo das plantas daninhas e a disponibilização dos nutrientes dos adubos orgânicos em sincronia com a demanda nutricional das plantas de milho. Palavras-chave: Zea mays. Agricultura orgânica. Agricultura alternativa. Planta de cobertura. Planta daninha. Planta invasora. INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, têm sido observadas mudanças no padrão de consumo e de alimentação. Novos valores, sociais e ambientais, antes não relevantes, são agregados aos produtos, o que influencia a escolha dos consumidores. A crescente demanda por alimentos mais saudáveis, de melhor qualidade, com elevado valor nutricional e produzidos em sistemas menos agressivos ao ambiente, gerou a necessidade de repensar o modelo de produção. Os modelos reducionistas de produção agrícola conseguiram, em curto prazo, aumentar a produtividade e conferir maior competitividade no mercado globalizado. Porém, os impactos gerados causaram degradação do solo, contaminação da água e perda da biodiversidade, dificultando a ma- nutenção dos índices produtivos e comprometendo o sistema de produção. Esses fatos contribuíram para o surgimento de novo paradigma, o da sustentabilidade, o qual preconiza o uso equilibrado do solo e da água, a maximização das contribuições biológicas e o incremento da biodiversidade. A adoção desse paradigma difundiu amplamente as correntes de agricultura ecológica, entre elas a agricultura orgânica. O crescimento de vendas de produtos orgânicos no mundo está em torno de 7% a 9% ao ano e os maiores mercados estão situados na Europa e nos EUA; a área destinada à produção orgânica certificada no mundo ocupa cerca de 26,5 milhões de hectares e o Brasil está na 5a posição mundial (WILLER; YUSSEF, 2005). O Brasil pos- sui cerca de 203 mil hectares com culturas orgânicas e 600 mil hectares com pastagens orgânicas (ORMOND et al., 2002). No entanto, o País deve subir para a 2a posição, devido à recente certificação de 5,7 milhões de hectares de áreas de extrativismo sustentável de castanha, açaí, pupunha, látex e outros produtos, oriundos principalmente da região Amazônica (AGRICULTURA..., 2006). As normas de produção, certificação e comercialização dos produtos orgânicos no Brasil começaram a ser regulamentadas por meio da Instrução Normativa no 7, de 17 de maio de 1999 (BRASIL, 1999) e, posteriormente, pela Lei no 10.831 de 23 de dezembro de 2003 (BRASIL, 2003). Em 11 de junho de 2004, foi publicada a Instrução Normativa no 16, que estabelece os procedimentos 1 Enga Agra, Doutoranda, UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correiro eletrônico: [email protected] 2 Engo Agro, D.Sc., Prof. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correiro eletrônico: [email protected] 3 Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTZM/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correiro eletrônico: [email protected] 4 Engo Agro, D.Sc., Prof. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: [email protected] Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 128 a serem adotados para registro e renovação de registro de matérias-primas e produtos de origem animal e vegetal orgânicos junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2004). Algumas alterações nas exigências ainda podem ser feitas pelas certificadoras, principalmente para atender ao mercado internacional, de acordo com as diretrizes da International Federation of Organic Agriculture Movements (Ifoam). Entre as culturas produzidas no sistema orgânico, no Brasil, destacam-se a soja, o açúcar e o café, destinados à exportação, e as olerícolas, destinadas principalmente ao mercado interno (DAROLT, 2002). No entanto, outros setores, como de produção de cereais, carnes, leite e seus derivados deverão ser incrementados, devido à inserção de suas cadeias produtivas no mercado orgânico. Nesse contexto, a produção de milho orgânico assume grande relevância, pois é intensamente utilizado na alimentação animal. É fundamental para a consolidação das cadeias produtivas de carnes e leites orgânicos. O preço dos grãos de milho e de soja orgânicos é cerca de 40% a 100% mais elevado que o dos grãos produzidos convencionalmente. Quase toda a produção orgânica é exportada, diminuindo a oferta do produto no mercado interno, o que tem dificultado o avanço da produção de carnes orgânicas no Brasil, principalmente de aves. Na formulação das rações orgânicas para animais, a legislação permite a utilização de apenas 20% de componentes não produzidos de acordo com as diretrizes orgânicas. Assim, devido à baixa oferta e ao elevado preço dos componentes de origem orgânica, o quilo da ração orgânica é, aproximadamente, 70% mais caro que o da ração convencional (DEMATTÊ FILHO et al., 2005), o que pode dificultar a permanência do produtor no setor de avicultura orgânica. É difícil quantificar a área com produção orgânica de milho no Brasil; as informações estatísticas nesse setor são em geral espe- culativas, fornecidas pelas certificadoras e entidades ligadas à extensão rural. Existem, aproximadamente, 25 certificadoras atuando no Brasil. No Instituto de Biodinâmica e de Desenvolvimento Rural (IBD, 2006), por exemplo, há, atualmente, cerca de 50 projetos de certificação de milho orgânico. Além disso, muitos agricultores produzem milho em sistemas ecológicos sem certificação. De acordo com dados da Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RS), somente no estado do Rio Grande do Sul, 795 hectares eram cultivados com milho orgânico em 2001, com produtividade média de 4,0 t ha-1, cerca de 300 kg a mais que a média nacional de milho produzido convencionalmente (PRODUTORES..., 2003). O fato é que a produção de milho orgânico no Brasil deve aumentar, mas ainda encontrará várias barreiras técnicas que dificultarão sua consolidação. Entre elas está o incremento e a manutenção da fertilidade do solo e o manejo das plantas invasoras. Uma das contradições da produção orgânica de grãos é o sistema de preparo de solo, que geralmente é feito com aração e gradagem, o que não está totalmente de acordo com os princípios da agricultura orgânica. Portanto, enquanto no sistema convencional as áreas de plantio direto vêm aumentando, no sistema orgânico os produtores continuam a revolver o solo. Sem dúvida, a prática do plantio direto seguindo os preceitos da agricultura orgânica seria o ideal em termos de sustentabilidade, mas adaptar o plantio direto tradicional às normas da produção orgânica não tem sido tarefa fácil para os pesquisadores, extensionistas e produtores. As diferenças entre os cultivos tradicional e orgânico em SPD não se restringem apenas ao que é ou não é permitido pela legislação, mas também às diferenças de abordagem. A produção orgânica tem o enfoque holístico; a fertilidade do solo deve ser alcançada e mantida com a aplicação de resíduos orgânicos vegetais e animais, utilizando o mínimo possível de insumos externos à propriedade. A produtividade no sistema orgânico é conseqüência da ciclagem de nutrientes e do equilíbrio alcançado. Um produto não recebe o selo orgânico com base apenas no resultado final, mas em função de todo o seu processo produtivo. ESCOLHA DAS ESPÉCIES PARA FORMAÇÃO DA COBERTURA MORTA Diferentemente do SPD tradicional, o orgânico, por não utilizar os herbicidas dessecantes, depende da formação de uma boa cobertura morta ou palha para sua implantação, não apenas com o intuito de manter o solo protegido, mas principalmente para evitar futuros problemas com as plantas daninhas. Recomenda-se também que, na fase inicial de implantação do SPD, se evite a utilização de áreas que se encontram em pousio (com vegetação espontânea) ou áreas com os restos da cultura antecessora junto com as plantas daninhas de final de ciclo, pois nesses casos o manejo das invasoras no cultivo posterior fica difícil, visto que a competição com a cultura no início do ciclo será muito maior. Na escolha das plantas de cobertura, devem-se privilegiar as que apresentem rápido crescimento inicial, boa capacidade de recobrimento do solo e elevada produção de biomassa. Várias pesquisas realizadas no sistema tradicional em SPD têm indicado que plantas de inverno como a aveia-preta (Avena strigosa) e o trigo (Triticum aestivum) são boas opções para reduzir a densidade das plantas daninhas e sua interferência nas safras posteriores. Na cultura da soja, o incremento dos níveis de palha de aveia-preta sobre o solo reduziu de forma exponencial a infestação de capim-marmelada (Brachiaria plantaginea); na ausência do controle químico, as maiores produtividades da soja foram obtidas quando a aveia-preta produziu acima de 6 t ha-¹, possivelmente de- Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto desse nutriente pelo milho, além de permitir maior proteção do solo e controle das plantas daninhas, requisitos essenciais para a produção orgânica de milho em SPD. Em experimentos realizados durante nove anos na Região Sul do País foi constatado que a utilização do consórcio de aveiapreta com ervilhaca (Vicia sativa) proporcionou produção de massa seca igual à do cultivo isolado de aveia e acúmulo de nitrogênio equivalente ao da ervilhaca, porém com relação C/N de 23,7, enquanto no cultivo exclusivo da aveia e da ervilhaca essa foi de 46,8 e 14,7 respectivamente, demonstrando que no consórcio o processo de mineralização e imobilização permaneceu próximo ao equilíbrio (AMADO et al., 2000). Estes autores destacaram ainda que o acúmulo de nitrogênio na biomassa do milho cultivado em sucessão ao consórcio foi igual ao obtido no cultivo do milho em sucessão à ervilhaca em cultivo solteiro. MANEJO DAS PLANTAS DE COBERTURA E PLANTIO O manejo das plantas de cobertura no sistema orgânico, como mencionado ante- riormente, não utiliza os herbicidas dessecantes do sistema convencional; as plantas são roçadas ou tombadas na fase de formação de grãos (quando cultivadas exclusivamente para cobertura do solo), ou após a colheita (quando se aproveita o resto cultural), utilizando roçadeiras motorizadas, rolo-faca, entre outros equipamentos. No SPD orgânico de milho implantado na Estação Experimental de Coimbra-MG da UFV, o manejo da aveia-preta é realizado na fase de formação de grãos (início do mês de outubro) com ceifadeira motorizada (Fig. 1 e 2); a palha fica exposta ao sol durante aproximadamente cinco dias e, em seguida, o plantio do milho é realizado com a semeadora/adubadora de plantio direto (MELO, 2004) (Fig. 3). Deve-se evitar a utilização de semeadoras que promovam maior abertura lateral do sulco de plantio, pois nesse caso ocorre maior exposição das sementes das plantas daninhas, o que favorece sua emergência na linha. No sistema orgânico essas plantas só podem ser controladas com o repasse manual com enxada, o que onera os custos de produção. Anastácia Fontanétti vido à redução da infestação de capimmarmelada (THEISEN et al., 2000). Resultados de experimentos realizados nos Estados Unidos revelaram que 5 e 7 t ha-1 de massa seca de resíduos de trigo sobre o solo reduzem a biomassa das plantas daninhas em 21% e 73%, respectivamente (WICKS et al., 1994). Na Estação Experimental de CoimbraMG, pertencente a Universidade Federal de Viçosa (UFV), a aveia-preta produziu 4,0 t ha-1 de massa seca no primeiro ano de adoção do SPD de milho orgânico (MELO, 2004). Na mesma área experimental, no terceiro ano de plantio direto orgânico, obteve-se produção média de 7,0 t ha-1 de massa seca de aveia-preta. Porém, para atingir essa produtividade numa região de inverno seco como da Zona da Mata mineira é necessário utilizar irrigação e realizar o plantio até julho, em baixa temperatura. Embora a aveia-preta tolere temperaturas mais elevadas em relação a outras espécies de inverno, quando o plantio é realizado a partir de agosto há queda na produção de massa seca. Uma alternativa para a formação da cobertura morta na produção orgânica é a utilização do consórcio entre gramíneas e leguminosas. Enquanto as gramíneas apresentam alta relação carbono/nitrogênio (C/N), baixa taxa de decomposição e, por isso, maior permanência da palha sobre o solo, as leguminosas apresentam baixa relação C/N e rápida taxa de decomposição; assim, parte do nitrogênio pode ser liberado nas primeiras semanas após o manejo. No entanto, o aproveitamento desse nutriente pela cultura em sucessão dependerá do sincronismo entre a decomposição da palha e a demanda da cultura. Se a cultura em sucessão não absorver esse nutriente, grande parte pode ser perdida por volatilização ou lixiviação. O consórcio de gramíneas com leguminosas, portanto, pode contribuir para liberação gradual do nitrogênio, impedindo sua imobilização inicial, geralmente observada, quando se utiliza cobertura formada exclusivamente por gramínea, e pode favorecer o aproveitamento 129 Figura 1 - Corte da aveia-preta com ceifadeira motorizada Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto Anastácia Fontanétti João Carlos Cardoso Galvão 130 Figura 2 - Detalhe da ceifadeira motorizada Figura 3 - Plantio do milho com semeadora/adubadora de plantio direto ESCOLHA DA CULTIVAR DE MILHO A escolha da cultivar de milho para o sistema orgânico deve levar em consideração, principalmente, a adaptação às condições edafoclimáticas da região, a tolerância a pragas e doenças e a eficiência quanto à absorção de nutrientes de fontes menos solúveis. Em geral, as variedades têm sido preferidas em relação aos híbridos, pois possuem maior variabilidade genética. No entanto, nada impede a utilização de cultivares híbridas, desde que sejam recomendadas visando à região e à época de plantio e adquiridas por preços compatíveis com os custos de produção. A produção de espigas de milho verde de dez cultivares comerciais, em sistema orgânico, foi avaliada por Santos et al. (2005); eles verificaram que os híbridos AG4051 e D270 apresentaram os melhores desempenhos, com produção de 10,5 e 7,4 t ha-1 de espigas despalhadas, respectivamente; entre as variedades, as cultivares AL25 e UFVM100 apresentaram as maiores produções de espigas: 8,0 e 7,1 t ha-1 respectivamente. No entanto, Melo (2004) não encontrou diferenças entre a variedade UFVM100 e o híbrido AG1051 para as principais características agronômicas de milho verde, produzido no SPD orgânico. Tendo em vista a seleção de genitores de milho para o sistema de produção orgânico, Oliveira (2005) verificou que o híbrido AG1051 e a variedade AL25 foram os mais indicados como genitores nesse ambiente. ADUBAÇÃO A adubação nos cultivos orgânicos baseia-se no aporte de matéria orgânica ao solo por meio de resíduos de origem animal ou vegetal, como esterco, composto orgânico, vermicomposto, biofertilizante e adubos verdes (BRASIL, 1999). Ainda de acordo com Brasil (1999), fertilizantes minerais naturais pouco solúveis como fosfato natural, termofosfato, sulfato de potássio, sulfato de magnésio e micronutrientes podem ser utilizados; porém, algumas certificadoras restringem seu uso. O composto orgânico é um dos adubos mais usados na agricultura orgânica, mas sua utilização implica na realização de compostagem e requer meio de transporte e aplicação desse insumo, o que eleva os custos de produção. Outra dificuldade levantada em relação ao uso do composto para produção de milho orgânico é relacionada com o volume a ser aplicado para que se obtenha elevada produtividade de grãos. Em função dessas dificuldades apresentam-se a seguir resultados de pesquisas sobre o uso de composto orgânico na cultura do milho. Uso de composto orgânico na adubação do milho orgânico: experiência da UFV A Estação Experimental de Coimbra- MG da UFV mantém desde 1984, experimento permanente, no qual são testadas as hipóteses de que o composto orgânico aplicado continuamente na cultura do milho modifica os teores de nutrientes, influencia as características físicas do solo e aumenta o rendimento de grãos de milho (GALVÃO, 1995; MAIA; CANTARUTTI, 2004). Anualmente, são aplicados 40 m³ ha-1 ano-1 de composto orgânico, o que, dependendo da densidade, atinge entre 10 e 15 t de massa seca ha-1 ano-1, e dois níveis de adubação mineral, 250 e 500 kg ha-1 da fórmula 4-14-8 no plantio e mais 100 e 200 kg ha-1 de sulfato de amônio em cobertura, respectivamente. É mantida também uma testemunha sem adubação. Inicialmente, o preparo do solo para o SPD do milho era realizado com uma aração e duas gradagens e o composto aplicado no sulco de plantio (Fig. 4). O composto é obtido por meio da compostagem de esterco bovino e resíduos de cultivos, como a palha de feijão e trigo, colmo de milho picado, casca de café e capim seco. Os teores médios de nutrientes presentes no composto orgânico são: 0,7 dag kg-1 de P; 2,8 dag kg-1 de K; 1,0 dag kg-1 de Ca; 0,4 dag kg-1 de Mg e 3,2 dag kg-1 de N to- Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto João Carlos Cardoso Galvão 131 Figura 4 - Aplicação do composto orgânico no sulco de plantio, forma utilizada no cultivo orgânico convencional na UFV tal, com pequena variação de um ano para o outro. A primeira avaliação foi realizada sete anos após o início do experimento. Os resultados evidenciaram que o composto elevou os teores de fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca) e magnésio (Mg) e manteve o pH do solo em níveis satisfatórios, sendo que o incremento nos teores de P foi de aproximadamente quatro vezes em relação à testemunha (sem adubação) e o de K, 2,4 vezes maior (GALVÃO, 1995). Verificou-se que os teores foliares de nitrogênio (3,00 dag kg -1), fósforo (0,24 dag kg-1) e potássio (1,94 dag kg-1), no milho adubado com composto orgânico, foram considerados adequados para a cultura, com produtividade média de grãos de milho de 5 t ha-1. Maia e Cantarutti (2004) observaram, 14 anos após o início do experimento, na mesma área experimental aumento dos teores de C total e C lábil no solo e, conseqüentemente, aumento médio de 41% da capacidade de troca catiônica (CTC) total nas parcelas que receberam o composto orgânico, com tendência de diminuição da CTC nas parcelas que receberam adubação mineral. Verificaram também aumento de 44% de N-total na camada de 0 -10 cm do solo nas parcelas que receberam composto orgâ- nico, enquanto a aplicação da adubação mineral durante os 14 anos pouco alterou o teor de N-total do solo. No tratamento com adubação orgânica cerca de 3,1% do N-total estava na forma lábil, ou seja, mineralizável, contra 2,8% no tratamento mineral. O Gráfico 1 ilustra os resultados obtidos ao longo de vários anos por Galvão (1995), Silva et al. (1998), Bastos (1999) e Maia (1999). Verifica-se que a produtividade do milho obtida na parcela testemunha, ou seja, sem adubação por 14 anos, está em acentuada queda, influenciada pelo esgotamento de nutrientes do solo. Por sua vez, o nível 1 de adubação mineral (250 kg ha-1 de 4-14-8 mais 100 kg de sulfato de amônio ha-1 ano-1) também tendeu a reduzir o rendimento dos grãos de milho durante os anos de experimentação. No nível 2 de adubação mineral (500 kg ha-1 de 4-14-8 mais 200 kg de sulfato de amônio ha-1 ano-1), a produtividade manteve-se estável, com o potencial produtivo em torno de 6,5 t ha-1. Com uso de composto orgânico a tendência da produtividade do milho foi sempre ascendente, atingindo patamar em torno de 8,0 t ha-1. Esses resultados permitiram a estes autores concluir que a aplicação de 40 m³ ha-1 ano-1 de composto orgânico diretamente no sulco de plantio, garante a manutenção da fertilidade do solo e da produção do milho orgânico. Gráfico 1 - Produtividade da cultura do milho em função de vários anos de cultivo submetido a diferentes adubações FONTE: Dados básicos: Maia (1999). Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto Em 2003, na mesma área experimental, foi adotado o SPD para produção orgânica de milho com apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). A partir desse ano o composto orgânico (40 m³ ha-1 ano-1 ) passou a ser aplicado em cobertura, ao lado da linha de plantio, após a emergência do milho (Fig. 5). A primeira avaliação da produção de milho no SPD foi realizada por Melo (2004), que verificou produção de espigas de milho verde sem palha de 7,2 t ha-1 . Este autor ressalta que o SPD orgânico proporcionou resultados equivalentes ao do SPD convencional, com altos valores nos componentes de produção de milho verde. Porém, no segundo ano de plantio direto na mesma área experimental, verificouse tendência de redução do rendimento de grãos do milho. De acordo com o Gráfico 2, no cultivo convencional (aração e gradagem), a aplicação do composto orgânico proporcionou aumento da produtividade de grãos de milho ao longo de vários anos; no entanto, a partir do segundo ano de SPD, a produtividade foi reduzida no cultivo orgânico em SPD e teve incremento no SPD tradicional (fertilização mineral e uso de herbicidas). A redução na produtividade está, provavelmente, relacionada com o fato de que as plantas de milho não estão absorvendo os nutrientes disponibilizados pelo composto orgânico aplicado em cobertura, e também ao aumento da população de plantas daninhas na área, a partir do segundo ano de plantio direto orgânico, o que aumenta a competição entre a cultura e as plantas invasoras pelos fatores de produção. MANEJO DAS PLANTAS DANINHAS O manejo das plantas daninhas no cultivo orgânico em SPD é, sem dúvida, o principal entrave técnico na atualidade e um dos principais motivos da recusa do SPD pelos produtores orgânicos. João Carlos Cardoso Galvão 132 Figura 5 - Aplicação do composto orgânico em cobertura ao lado da linha de plantio do milho, forma utilizada no Sistema Plantio Direto orgânico na UFV Gráfico 2 - Produtividade de milho em sistema convencional e em SPD, em função de adubação mineral e orgânica ao longo de vários anos - Estação Experimental de Coimbra-MG da UFV, 2005 Nos sistemas de produção orgânicos descritos na literatura, o manejo das plantas daninhas tem recebido pouca atenção, o que se justifica, até certo ponto, em sistemas estáveis, de longo prazo, nos quais as práticas de manejo possibilitam o convívio entre as culturas e as plantas daninhas dentro de um limiar de dano econômico aceitável. Além disso, no sistema orgânico é desejável, sempre que possível, a convi- vência com as plantas daninhas, porque podem ser importantes fontes de alimento alternativo e abrigo para inimigos naturais de vários insetos-pragas (ALTIERI et al., 1996). No entanto, não se pode ignorar o fato de que as plantas daninhas competem com as culturas, principalmente, em áreas de conversão ao sistema orgânico, acarretando perdas na produtividade. Na cultura do milho em sistema convencional, por Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto densidade de seis plantas por metro na mesma linha do milho (Fig. 6), ele não afeta a produção da cultura, contribui no aporte de nutrientes ao solo e reduz a ressemeadura de final de ciclo das plantas daninhas. O manejo das plantas daninhas durante o ciclo da cultura é feito na maior parte das vezes, com o uso de roçadeiras nas entrelinhas e/ou de capina manual com enxada nas linhas e entrelinhas de plantio. No experimento da Estação Experimental de CoimbraMG da UFV, o manejo das plantas daninhas no cultivo orgânico em SPD é realizado com ceifadeira motorizada nos estádios de quatro e oito folhas do milho completamente desenvolvidas (Fig. 7 e 8). Em estudo realizado na Estação Experimental do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), em Ponta Grossa (PR), foi avaliada a demanda de mão-de-obra e o efeito dos métodos de controle das plantas daninhas (uma capina, duas roçadas, dessecante mais uma roçada e herbicida), sobre o rendimento de grãos de milho em SPD. Verificou-se que a capina é altamente demandadora de mãode-obra e demonstrou tendência de redu- Anastácia Fontanétti exemplo, a interferência das plantas daninhas pode reduzir o rendimento de grãos em até 87%, principalmente quando ocorre nos estádios iniciais de desenvolvimento da cultura, devido à competição por água, luz e nutrientes (KOZLOWSKI, 2002). O não-revolvimento do solo, a utilização da palha como cobertura morta e a rotação de culturas, entre outras práticas do SPD, interferem no comportamento evolutivo da flora infestante e contribuem para o seu controle. O simples fato de não movimentar o solo diminui a germinação de espécies dependentes da luz para o processo germinativo como, por exemplo, picãopreto (Bidens pilosa), botão-de-ouro (Galinsoga parviflora) e beldroega (Portulaca oleraceae) (BLANCO; BLANCO, 1991), e reduz em até 94% as manifestações epígeas de tiririca (Cyperus rotundus), pois não ocorre a divisão de tubérculos e a quebra da dominância apical provocada pelos implementos agrícolas utilizados para a movimentação do solo (JAKELAITIS et al., 2003). A rotação de culturas e a cobertura morta podem modificar ainda a dinâmica do banco de sementes e, por conseqüência, da comunidade de plantas daninhas por proporcionar diferentes modelos de competição, distúrbios do solo e ação alelopática (BUHLER et al., 1997). Porém, essas mudanças são observadas em longo prazo. No início da adoção do SPD sem o uso de herbicidas, algumas estratégias são importantes e devem ser seguidas para a manutenção da produtividade: utilizar plantas de cobertura com alta produção de biomassa, evitar a reinfestação de final de ciclo e períodos de pousio entre as culturas. Uma alternativa para diminuir a infestação de final de ciclo é consorciar a cultura com adubos verdes de bom recobrimento do solo, que podem ser semeados simultaneamente às culturas ou algum tempo depois. A consorciação do milho com o feijão-deporco (Canavalia ensiformis) tem-se revelado promissora para o SPD orgânico. Nas condições da Zona da Mata mineira, quando o feijão-de-porco é semeado na 133 Figura 6 - Consórcio de milho com feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) no Sistema Plantio Direto orgânico Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto Anastácia Fontanétti 134 Anastácia Fontanétti Figura 7 - Roçada das plantas daninhas em parcela de Sistema Plantio Direto orgânico, em primeiro plano, e ao fundo parcelas do Sistema Plantio Direto tradicional com aplicação de herbicidas Figura 8 - Detalhe da roçada das plantas daninhas na entrelinha do milho orgânico em Sistema Plantio Direto ção no rendimento do milho. É indicada apenas para áreas com baixa densidade de plantas daninhas. Já o uso de duas roçadas, apresentou nível intermediário de mãode-obra e não prejudicou o rendimento de grãos de milho (DAROLT; SKORA NETO, 2002). Porém, para algumas espécies de plantas daninhas, principalmente as que apresentam rebrota, a utilização exclusiva da roçagem, pode dificultar o manejo (MELO, 2004). Este mesmo autor verificou maior produção de biomassa total de plantas daninhas no SPD orgânico em comparação ao SPD tradicional com utilização de herbicidas, devido, principalmente, à alta capacidade de rebrota de algumas espécies de plantas daninhas como Bidens pilosa. Esses dados corroboram com os mencionados por Chiovato et al. (2006a), os quais avaliaram em casa de vegetação os métodos de controle mecânico de B. pilosa e suas interferências nos componentes de produção do milho orgânico. Estes autores verificaram que a roçada e o tratamento sem controle foram os que mais interferiram na produção de massa seca das folhas do milho, reduzindo em 27,12% a produção em relação à capina. Concluíram que a roçada não proporcionou controle eficiente de B. pilosa no cultivo do milho orgânico. A eficiência da roçada no manejo das plantas daninhas também depende da densidade de infestação. Para a espécie Brachiaria plantaginea, a roçada e a capina proporcionaram o mesmo acúmulo de massa seca total de plantas de milho que conviveram com duas plantas de B. plantaginea por vaso com 18L de substrato (solo + composto orgânico). Porém, nas maiores densidades (quatro e seis plantas), o tratamento com roçada foi semelhante ao sem controle, demonstrando que a roçada é eficiente no controle de B. plantaginea apenas, quando essa se encontra em baixa densidade populacional (CHIOVATO et al., 2006b). MANEJO DE PRAGAS E DOENÇAS Nesse caso, novamente os enfoques entre os SPD tradicional e orgânico são distintos. No manejo orgânico, deve-se privilegiar a prevenção, utilizando, para isso, sementes de boa qualidade, cultivares tolerantes/resistentes a pragas e a doenças consideradas de risco na região, aumento da diversidade de espécies (cultivos intercalares, rotação de culturas, áreas de refúgio, etc.); limpeza de implementos agrícolas; alteração da época e densidade de plantio, Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto quando possível. Também recomendam-se os métodos curativos e/ou de manutenção dos níveis de infestação abaixo dos de danos econômicos, por meio da utilização de biofertilizantes, caldas, extratos botânicos, preparados homeopáticos, armadilhas luminosas, controle biológico, feromônios, entre outros. CONSIDERAÇÕES FINAIS A produção de milho orgânico no SPD não se encontra definida, mesmo porque na produção orgânica não existem pacotes tecnológicos; a unidade de produção deve ser analisada individualmente e a tecnologia adaptada à sua realidade. De modo geral, o manejo das plantas daninhas e a disponibilidade de nutrientes dos adubos orgânicos em sincronia com a época de maior demanda da cultura são os principais entraves da produção orgânica de milho em SPD. 135 Os resultados de pesquisa indicam que o uso da roçada tende a favorecer espécies que apresentam elevada capacidade de rebrota, o que tem contribuído para o aumento dessas espécies na área, dificultando o manejo e onerando os custos de produção. Fica, assim, evidente que outras estratégias de manejo devem ser estudadas com o intuito de diminuir a competição das plantas daninhas com o milho, principalmente no início do ciclo. 1996, Kopenhagen. Proceedings... Fundamentals of organic agriculture. 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