Informe Agropecuário nº233 - Cultivo do milho no Sistema

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Informe Agropecuário
Uma publicação da EPAMIG
v.27
n.233
jul./ago.
2006
Belo Horizonte-MG
Sumário
Editorial .............................................................................................................................
3
Entrevista ...........................................................................................................................
4
Importância do milho em Minas Gerais
João Carlos Garcia, Marcos Joaquim Mattoso e Jason de Oliveira Duarte ........................
Apresentação
Em termos de modernização da agricultura
brasileira, a utilização do Sistema Plantio Direto (SPD)
é uma realidade inquestionável, com destaque para
a cultura do milho, que, por sua versatilidade, adaptase a diferentes sistemas de produção. A cultura do
milho é fundamental em programas de rotação de
culturas em SPD, por proporcionar grande produção de fitomassa de alta relação carbono/nitrogênio.
A sustentabilidade de um sistema de produção não
está apoiada apenas em aspectos de conservação e
preservação ambiental, mas também em aspectos
econômicos e comerciais.
Com a opção do plantio direto, os produtores
rurais passaram a se preocupar com a manutenção
da cobertura do solo, rotação de culturas e recuperação das áreas, principalmente aquelas com pastagens
degradadas, onde o milho surge como uma alternativa
viável. Todas essas alterações no sistema produtivo
contribuem para altos rendimentos obtidos em cultivos racionais da terra, sem degradá-la.
A cultura do milho destaca-se ainda no contexto
da integração lavoura-pecuária devido às inúmeras
aplicações que este cereal tem dentro da propriedade
agrícola, quer seja na alimentação animal, na forma
de grãos ou de forragem verde ou conservada (rolão,
silagem), na alimentação humana ou na geração de
receita mediante a comercialização da produção
excedente. Para que essa integração seja implantada,
deve ser precedida de vários cuidados referentes ao
diagnóstico do solo, escolha da cultivar de milho e
da forrageira, dentre outros.
Esta edição do Informe Agropecuário mostra a
importância do milho na cadeia produtiva de suínos
e aves, apresentando técnicas de correção e manutenção da fertilidade do solo, manejo de pragas,
doenças e plantas daninhas, produção de milho orgânico e na integração lavoura-pecuária associadas às
exigências climáticas, que são imprescindíveis para
a sustentabilidade da cultura do milho no Sistema
Plantio Direto.
José Mauro Valente Paes
Exigências climáticas do milho em Sistema Plantio Direto
Wilson Jesus da Silva, Luiz Marcelo Aguiar Sans, Paulo César Magalhães e
Frederico Ozanan Machado Durães ................................................................................. 14
Manejo da fertilidade do solo para a cultura do milho
Jeferson Antônio de Souza ................................................................................................ 26
Manejo da cultura do milho em Sistema Plantio Direto
José Carlos Cruz, Israel Alexandre Pereira Filho, Ramon Costa Alvarenga,
Miguel Marques Gontijo Neto, João Herbert Moreira Viana, Maurílio Fernandes
de Oliveira e Derli Prudente Santana ................................................................................. 42
Manejo de plantas daninhas na cultura do milho
José Mauro Valente Paes e Roberto Kazuhiko Zito ............................................................. 54
Manejo de pragas da cultura de milho em Sistema Plantio Direto
Ivan Cruz e Américo Iorio Ciociola Jr. ................................................................................ 66
Principais doenças da cultura do milho
Nicésio Filadelfo Janssen de Almeida Pinto, Maria Amélia dos Santos e
Dulândula Silva Miguel Wruck ........................................................................................... 82
Aspectos de produção e mercado do milho
Marcos Joaquim Mattoso, João Carlos Garcia, Jason de Oliveira Duarte e
José Carlos Cruz ............................................................................................................... 95
Cultura do milho na integração lavoura-pecuária
Ramon Costa Alvarenga, Tarcísio Cobucci, João Kluthcouski, Flávio Jesus Wruck,
José Carlos Cruz e Miguel Marques Gontijo Neto .............................................................. 106
Produção de milho orgânico no Sistema Plantio Direto
Anastácia Fontanétti, João Carlos Cardoso Galvão, Izabel Cristina dos Santos e
Glauco Vieira Miranda ....................................................................................................... 127
ISSN 0100-3364
Informe Agropecuário
7
Belo Horizonte
v. 27
n. 233
p. 1-136
jul./ago.
2006
© 1977
Informe Agropecuário é uma publicação da
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Roberto Kazuhiko Zito
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, jul./ago. 2006
Plantio Direto
garante sustentabilidade
para a cultura do milho
A importância econômica do milho baseia-se nas suas
diversas formas de utilização, que vai desde a alimentação animal
até a indústria de alta tecnologia. Na realidade, o uso do milho em
grão como alimentação animal representa a maior parte do
consumo desse cereal, cerca de 70% no mundo. Nos Estados
Unidos, aproximadamente 50% são destinados a esse fim, enquanto
que no Brasil varia de 60% a 80% de ano para ano.
Dentro da evolução mundial de produção de milho, o Brasil
tem-se destacado como terceiro maior produtor, com 40,8 milhões
de toneladas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, com 280
milhões de toneladas, e da China, com 131 milhões de toneladas.
O milho é cultivado em praticamente todo o território nacional, sendo que 90% da produção concentra-se nas Regiões Sul,
Sudeste e Centro-Oeste. Em Minas Gerais a cultura do milho está
localizada nas regiões Sul e Oeste do Estado, com uma produção
de 6,2 milhões de toneladas, em 2005.
A cultura do milho tem apresentado grande capacidade de
implementar sistemas de produção competitivos e ajustados para
condições variadas. Essa característica faz do milho um dos grãos
mais cultivados no Brasil e no mundo. A utilização do Sistema Plantio
Direto (SPD) na agricultura brasileira é um avanço e a participação
da cultura do milho em sistemas de rotação e sucessão de culturas
para assegurar a sustentabilidade desse sistema é imprescindível.
O SPD requer cuidados em sua implantação, mas depois de estabelecido, traz benefícios econômicos e ambientais.
Por tudo isso e pela adaptação em diferentes regiões e níveis
tecnológicos, o SPD tem-se sobressaído entre os produtores de
milho, do grande ao pequeno agricultor. A demanda do grão para
alimentação animal e o grande contingente de pequenos produtores
inseridos na produção de milho possibilitaram também a implantação do sistema de integração lavoura-pecuária, que consiste no
cultivo em rotação ou consorciação de culturas anuais como milho,
sorgo e milheto com espécies forrageiras.
Nesta edição do Informe Agropecuário são apresentadas
tecnologias para produção do milho em SPD, resultantes de estudos
e experimentações, que apontam o caminho para a sustentabilidade
e produtividade da cultura do milho no Brasil.
Baldonedo Arthur Napoleão
Presidente da EPAMIG
Milho em Sistema Plantio Direto:
evolução na agricultura brasileira
O diretor-executivo do Grupo Ma Shou Tao, Jônadan
Ma, é formado em Engenharia Agronômica pela Escola
Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), SP, com
MBA Executivo em Gestão Empresarial pela Fundação
Getúlio Vargas, RJ.
O Grupo Ma Shou Tao, presente no município de
Conquista, MG, desde 1973, é composto por seis fazendas
e quatro empresas nas áreas de alimentos, armazéns gerais,
comercialização e produção agropecuária.
Para a cultura do milho, a Ma Shou Tao tem cerca de
400 a 600 ha dedicados à produção de grãos, que alcança
produtividade de 9.500 kg/ha e, para silagem, em torno
de 45 t/ha.
De acordo com Jônadan Ma, a evolução das culturas do milho e da soja no Oeste do Estado é resultado do
investimento maciço na pesquisa, por meio de parcerias
com a Embrapa, EPAMIG e outras instituições afins, sempre
buscando qualidade, preservação ambiental e valorização
do homem do campo.
IA - A agricultura brasileira vem pas-
sacas por hectare no sistema de rotação
com a tecnologia atual produzir-se em
sando por momentos difíceis. Qual
de culturas, o cenário não é favorável.
torno de 100 sacas por hectare.
o cenário futuro para a cultura do
Já para quem adota alta tecnologia e
Vejo então um cenário futuro para o
milho?
busca produtividade superior a 120 sa-
milho de estabilidade na safra de ve-
Jônadan Ma – A cultura do milho
cas por hectare, o cenário futuro, pelo
rão e de crescimento para a safrinha,
tem sido muito utilizada em dois sis-
menos para a próxima safra, é bastante
como tentativa de o produtor rural
temas de produção no Brasil Central:
positivo, uma vez que o custo de produ-
garantir a sua renda, além da cultura
na rotação de culturas com a soja e
ção desta cultura situa-se em torno de
tradicional que é a soja.
em sucessão (safrinha) à cultura da
115 sacas por hectare aos preços atuais
soja.
de R$14,00 por saca.
Em relação aos preços, também o
cenário é de estabilidade nos mercados
O cenário deve ser traçado com base
Agora, para quem tem um sistema
interno e externo, menos sujeitos a que-
no nível tecnológico adotado, diante da
que permita adotar a safrinha em suces-
das nos preços internacionais, princi-
expectativa de produtividade e dos valo-
são à soja, o cenário futuro é bastante
palmente devido ao uso do milho para
res praticados no mercado. Considerando-
promissor, já que com baixos custos (na
produção de etanol nos EUA, que con-
se um nível tecnológico baixo, que per-
ordem de 70 a 80 sacas) e com a ocor-
sumirá boa parte do excedente mun-
mita obter produtividades de até 110
rência de clima adequado, é possível
dial.
I n f o r m e AI ngfroor pmeec Au gá rroi op e, cBu áe rl ioo , HBoerl oi z Ho on rt iez,o nvt.e2, 7v,. 2n7., 2n3. 32 3, 3j,ujlu. l/.a/ ag goo. . 22 00 00 66
IA - A utilização do Sistema Plantio Di-
ser altamente exigente e obrigar o agri-
de-cisto é de fundamental importância
reto (SPD) na palha é importante
cultor a fazer uma adequada mensu-
que esta rotação de culturas contemple
para a evolução da cultura do mi-
ração do que a cultura de cobertura
o milho. A rotação é altamente eficaz pa-
lho no Brasil?
pode estar oferecendo naquela safra.
ra reduzir a população de nematóides-
Jônadan Ma – Sem dúvida alguma!
A cultura do milho foi e continua sendo fundamental para a evolução do SPD
e vice-versa.
O SPD está permitindo a evolução
geral da agricultura no Brasil, passando
Resumindo, com o SPD podemos
de-cisto, de todas as raças conhecidas.
alcançar um solo e um ambiente muito
Já para os nematóides-de-galha,
mais equilibrados. Isso, de certa forma,
existem diferenças na eficácia das culti-
irá propiciar maior eficiência das tecno-
vares para o controle populacional des-
logias adotadas e uma possível redução
ses nematóides.
dos insumos.
dação Triângulo de Pesquisa e Desen-
necessariamente pelo milho, ainda mais
com o incremento e o desenvolvimento da tecnologia integração lavoura-
A EPAMIG, em parceria com a Fun-
IA - Qual a importância do milho na
ILP?
volvimento, realiza um ensaio estadual
há vários anos com diversos híbridos
pecuária (ILP), por meio do Sistema
Jônadan Ma – Diria que a ILP é de
nas principais regiões produtoras do
Santa Fé, que adota o milho como cul-
importância vital e fundamental. É por
Estado, que demonstra quais híbridos
tura base para implantação da braquiá-
meio do milho como cultura base que
oferecem maior ou menor capacidade
ria em consórcio e sucessão para explo-
esta tecnologia está sendo implantada
de multiplicação dos nematóides-de-
ração da pecuária, tanto de leite como
com tanto sucesso. O Sistema Santa Fé,
galha, informações estas que devem ser
de corte.
que adotamos para implantação da ILP,
mais exploradas pelos produtores e pe-
preconiza que a cultura da Brachiaria
las empresas.
IA - Com a utilização do SPD na palha
brizantha (utilizada em nossos campos
é possível reduzir a utilização de
de produção) seja implantada junto
IA - Qual a sua opinião sobre o plantio
insumos na cultura do milho?
com a cultura do milho, preservando o
de milho utilizando o mesmo
potencial de produtividade do milho,
espaçamento para o plantio da
sem permitir concorrência e mantendo
soja?
Jônadan Ma – O SPD exige a adoção integrada do manejo de solos e do
manejo cultural, associado ao manejo
estratégico das culturas. Essa integração
de tecnologias, associada ao bom senso do agricultor, permite a redução de
insumos na cultura do milho, principalmente em relação ao uso de agroquímicos e fertilizantes. Existem culturas de
cobertura de inverno que se bem manejadas, não apenas promovem melhor
cobertura do solo, reduzindo o potencial de ocorrência de plantas daninhas,
como também reciclam nutrientes como
K, N entre outros, que permitem econo-
a braquiária suprimida até o momento
Jônadan Ma – O incremento na pro-
em que a luz solar penetre nas entreli-
dutividade do milho tem encontrado
nhas. Por ocasião da pré-colheita e logo
paralelo com a redução do espaçamen-
após a colheita do milho, essa forra-
to. Minha opinião é que o produtor
geira pode-se desenvolver livremente,
rural deve-se adequar a três pontos antes
formando assim uma bela pastagem 30
de adotar o mesmo espaçamento para
a 40 dias após. Esta técnica pode ser
o plantio de soja. O primeiro ponto a
facilmente adotada por todos os produ-
ser considerado é se ele já adota as prin-
tores de milho que buscam um aumento
cipais tecnologias como manejo de ferti-
na renda por hectare, uma vez que após
lidade, manejo de pragas e manejo cul-
a cultura do milho é possível explorar
tural, além do SPD. O segundo é saber
a pecuária por mais 150 a 180 dias na
qual o histórico de evolução da produti-
mesma área.
vidade de milho do produtor e aonde
ele quer chegar. E o terceiro é avaliar se
mia na utilização de herbicidas e mesmo
na adubação.
Em relação à adubação, deve-se tomar mais cuidado para redução na utilização do adubo, pelo fato de a cultura
IA - A utilização da cultura do milho
ele tem estrutura financeira e técnica
na rotação de culturas é eficaz para
para investir em equipamentos, no caso,
o manejo de nematóides?
plataforma de milho com espaçamento
Jônadan Ma – Para os nematóides-
II nn ffoorrmmee A Ag rgorpoepceucáur iáor, i oB ,e l oB eHloor i zHoonrtiez, ovn. t2e7,, nv..22373, , jnu.l 2. /3a4g ,o . s2e0t0. /6o u t . 2 0 0 6
da soja.
Vejo esta técnica como uma das
proíbe o plantio do milho transgênico
mais diversas tecnologias, mas com di-
últimas a ser adotada, se os três pontos
em solos brasileiros, mas permite a
ferencial de terem custo-benefício mais
forem perfeitamente atendidos.
importação de milho transgênico de
acessíveis ao produtor brasileiro.
outros países para o uso na fabricação
IA - Qual a perspectiva para o milho
transgênico no Brasil?
Jônadan Ma – Vejo essa questão
IA - A EPAMIG desenvolve ensaios de
de ração animal.
Infelizmente, é um tremendo contrasenso!
avaliação de cultivares de milho no
estado de Minas Gerais em parceria
O mercado internacional, consumi-
com a Fundação Triângulo e as
dor da proteína animal produzida no
empresas privadas e oficiais que são
Frustração porque as questões con-
Brasil, da qual o País é um dos maiores
detentoras de cultivares de milho.
ceituais e filosóficas estão acima das
exportadores mundiais, não faz res-
Qual a importância desse trabalho
necessidades tecnológica e econômica
trição nenhuma ao milho utilizado
para o agricultor mineiro?
do agronegócio brasileiro.
na ração animal, seja transgênico ou
com muita frustração e com bastante
apreensão.
Apreensão porque a demora e a falta
não.
Jônadan Ma – Esse trabalho é de
grande importância para todos os
de vontade na liberação do milho trans-
Pelo contrário, estamos perdendo
gênico no Brasil estão abrindo portas,
competitividades interna e externa, pelo
a partir do Sul do País, para híbridos
fato de estarmos produzindo um milho
contrabandeados da Argentina e Para-
não-transgênico com custos muito mais
guai, afetando assim a produção legal
elevados que o milho transgênico.
de sementes, embora a cultura seja alta-
Enquanto o milho transgênico BT
mente dependente do sistema de me-
não recebe qualquer aplicação de inse-
lhoramento privado.
ticida, o milho convencional recebe du-
Não creio que a pirataria estenda-se
rante o cultivo pelo menos três a cinco
para a região do Brasil Central, devido
aplicações. O consumidor deve levar
à limitação de adaptação dos híbridos
em conta o impacto de agrotóxicos que
contrabandeados. Entretanto, pode afe-
o milho convencional tem a mais que o
tar a condição de segregação do milho
milho transgênico.
componentes da cadeia produtiva do
milho, desde a semente até o consumidor final, mas infelizmente muito pouco explorada e aproveitada pelos componentes técnicos da cadeia, na qual
incluímos o produtor rural.
Informações como: quais os híbridos mais adaptados e produtivos para
cada região; quais os híbridos que suprimem ou multiplicam os nematóidesde-galha que, por sua vez, podem afetar a cultura da soja, dependendo da
variedade a ser utilizada; quais as me-
produzido legalmente.
lhores tecnologias que permitem maior
Pelo fato de ser uma cultura de poli-
IA - De que forma a pesquisa oficial do
nização cruzada, acredito que o milho
Brasil tem contribuído para o siste-
melhor época de plantio ao longo dos
transgênico no Brasil não vá ser libe-
ma de produção de milho?
anos para cada região; dentre outras,
desempenho médio da cultura; qual a
rado enquanto a linha ambientalista
Jônadan Ma – A contribuição da
atestam a importância dessa pesquisa
tiver o poder de decisão nos órgãos fe-
pesquisa tem ocorrido principalmente
para todos os que trabalham e depen-
derais.
em duas linhas:
dem da cultura do milho. Portanto, te-
Primeiro no desenvolvimento de tec-
mos que motivar empresas, produtores
IA - Quais as vantagens para o mercado
nologias básicas, tanto nos fatores de
e consumidores de milho a incentivar
brasileiro com a produção de grãos
construção da produtividade como nos
iniciativas como estas, que só existem
de milho não-transgênicos?
de proteção.
porque são realizadas por técnicos e
Jônadan Ma – Não vejo mais van-
E segundo, no desenvolvimento de
tagem alguma, uma vez que o governo
híbridos e variedades adequadas às
pesquisadores que se dedicam ao desenvolvimento do agricultor mineiro.
Por Vânia Lacerda
I n f o r m e AI ngf roor m
p ee cAugárroi po e, c Bu áerl ioo , HBoe rl oi zHo on rt iez ,o nvt .e2, 7v,. 2n7 ., 2n3. 23 3, 3 j, uj lu. l/.a/ aggoo. . 22 00 0066
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
7
Importância do milho em Minas Gerais
João Carlos Garcia 1
Marcos Joaquim Mattoso 2
Jason de Oliveira Duarte 3
Resumo - O milho é um dos grãos que dominam o mercado agrícola no mundo, juntamente
com o arroz, o trigo e a soja. Representa a maior quantidade produzida, é também o
cereal que tem registrado maiores incrementos de produção nos últimos anos e um dos
produtos mais tradicionais da agricultura mineira. Em Minas Gerais, observa-se que o
crescimento da produção de milho decorre principalmente do aumento do rendimento
das lavouras e que esse crescimento não vem ocorrendo de maneira uniforme nas
diferentes regiões de planejamento do Estado. Uma avaliação do desenvolvimento da
cultura do milho nas regiões de planejamento é apresentada, assim como a visão das
perspectivas futuras para esse cereal, em Minas Gerais.
Palavras-chave: Zea mays. Economia. Produção.
INTRODUÇÃO
A domesticação do milho ocorreu no
que é hoje território do México, a partir de
um ancestral selvagem, o teosinte. A partir daí, esse cereal passou a ser cultivado
em todas as Américas, pelos nativos e,
após, foi levado para a Europa, África e
Ásia. Hoje é cultivado em uma ampla variedade de ambientes e com o uso da mais
diversificada tecnologia de produção, o que
tem possibilitado essa adaptação.
O milho é um dos grãos que dominam o
mercado agrícola no mundo, juntamente
com o arroz, o trigo e a soja. Esse cereal representa a maior quantidade produzida e
também o que tem registrado maiores incrementos de produção nos últimos anos. Isto
se deve, principalmente, ao crescimento da
produtividade nos países em desenvolvimento. O crescimento da produção é resultado do desenvolvimento do mercado,
proporcionado pelas possibilidades do uso
do milho, tanto como alimento humano, como alimento animal. Esta característica o
torna um produto estratégico para países
de alta e de baixa renda. Embora em países
mais desenvolvidos o milho seja destinado
principalmente à alimentação animal, ainda
é um importante componente da alimentação da população de muitos países, principalmente da África e da América Central.
Deve-se considerar que, à medida que a
renda e a urbanização da população crescem, o consumo de produtos de origem animal aumenta em proporção maior do que a
de produtos como o arroz e o trigo. Assim,
deve-se esperar a transição gradual de uso
do milho na alimentação humana para outras
formas de utilização, mesmo em países mais
pobres.
O milho é um dos produtos mais tradicionais da agricultura mineira. Seu cultivo,
desde os tempos da colonização, estabeleceu fortes laços culturais, que envolve-
ram desde formas de utilização, até a cristalização de técnicas envolvidas em seu
processo de produção. Existia, e até hoje
existe em grande número de propriedades
mineiras, todo o complexo sistema de produção e consumo de milho, cuja característica principal é ser direcionado para o
interior das fazendas. Esse sistema de produção/consumo envolve tanto a alimentação dos moradores da propriedade, como
dos animais (seja para trabalho, seja para
produção de carne).
A crescente urbanização deslocou o
consumo para as cidades e criou a necessidade do estabelecimento de novas formas de produção, voltadas para o abastecimento urbano. As cidades foram, no
início, abastecidas por eventuais excedentes de produção das fazendas que, gradativamente, foram substituídos pelo produto oriundo de formas especializadas de
produção. Isto aconteceu tanto no que diz
1
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected]
2
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: mattoso@cnpms.
embrapa.br
3
Economista, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: jason@cnpms.
embrapa.br
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.7-12, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
8
respeito à transformação industrial do milho, quanto à criação de animais confinados (produção de carne de aves, de suínos,
produção de ovos e, mais recentemente,
confinamento de bovinos). O desenvolvimento acelerado das atividades de alimentação animal caracterizou definitivamente
essas atividades como o destino principal
do milho.
Essa visão do desenvolvimento do mercado do milho, em conjunto com a constatação de que ainda existe, na agricultura
mineira, um misto de produtores que, por
suas características individuais, agroecológicas das suas propriedades e mesmo
pela localização destas, em relação aos centros de consumo, exerce diferentes graus
de inserção no mercado, é necessária para
a análise dos sistemas de produção em uso,
e de como as mudanças que ocorrem nos
diferentes elos da cadeia de produção de
milho afetam tanto os produtores como os
consumidores.
PRODUÇÃO
No estado de Minas Gerais, observase que o crescimento da produção é decorrente do aumento do rendimento e não
da área plantada, que praticamente estagnou ao redor de 1,3 milhão de hectares
nas últimas safras. O aumento da produção, que passou de cerca de 3,6 milhões
para 6,3 milhões de toneladas, foi devido
ao incremento no rendimento agrícola em
cerca de 2.136 kg ha-1, atingindo cerca de
4.600 kg ha-1, no fim do período 1994-2005
(Gráfico 1).
Gráfico 1 - Produção (1.000 t) e área colhida (1.000 ha) de milho em Minas Gerais –
1996-2006
FONTE: CONAB (2006).
(1) Dados preliminares.
QUADRO 1 - Quantidade produzida, área colhida e rendimento de milho - Brasil, Minas Gerais e
Regiões de Planejamento de Minas Gerais em 2005
Quantidade
produzida
Região
(t)
Brasil
A produção de milho em Minas Gerais
está concentrada nas regiões situadas no
Sul e no Oeste do Estado, como o Sul de
Minas, Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste (Quadro 1). As causas dessa concentração estão tanto nas condições agroecológicas (clima, topografia, etc.) mais
favoráveis dessas regiões, como também
pela proximidade de mercado e pela organização comercial e gerencial das proprie-
Crescimento
(% a.a.)
2005
(ha)
Rendimento
Crescimento
(% a.a.)
Crescimento
(kg ha-1)
(% a.a.)
2005
34.813.222
2,39
11.452.709
-0,74
3.040
3,09
6.243.873
4,88
1.353.544
-0,84
4.613
5,70
Noroeste
763.857
5,52
140.510
0,99
5.436
4,46
Norte de Minas
244.082
5,55
115.950
-0,87
2.105
6,29
48.685
1,72
23.277
-5,14
2.092
6,77
997.307
4,43
178.416
-0,01
5.590
4,44
1.154.870
5,95
193.325
0,56
5.974
5,35
Central
479.521
1,18
131.841
-3,77
3.637
4,93
Rio Doce
193.736
1,46
67.506
-6,27
2.870
7,58
Centro-Oeste
539.431
7,15
114.204
1,13
4.723
6,01
Sul de Minas
1.517.122
7,04
296.406
1,77
5.118
5,25
305.262
-0,48
92.109
-4,53
3.314
4,08
Minas Gerais
Jequitinhonha/Mucuri
Distribuição da cultura
no Estado
2005
Área
Triângulo
Alto Paranaíba
Mata
FONTE: IBGE (2006) e LSPA (1994 a 2005).
NOTA: Taxas de crescimento no período 1994-2005.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.7-12, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
dades produtoras, o que induz e facilita a
introdução de tecnologias de produção
mais competitivas. Essas condições contribuíram para o crescimento inicial da área
plantada e, mais recentemente, para o incremento dos rendimentos agrícolas, que se
mostram muito diferenciados entre os municípios do Estado (Fig. 1).
Por constituírem regiões com tradição
agrícola, ou regiões que se beneficiaram
dos programas de desenvolvimento dos
Cerrados, uma ampla rede de distribuição
de insumos foi estabelecida (o que facilita inclusive a assistência técnica oferecida
pelas indústrias fabricantes de insumos),
de transporte e de estruturas de comercia-
9
lização. A competição entre as diferentes
possibilidades de explorações agropecuárias define o padrão tecnológico daquelas
que se desenvolverão com maior intensidade, restringindo a área daquelas explorações que não conseguem incorporar um
padrão tecnológico competitivo. Isto pode
ser verdade, mesmo no que diz respeito ao
próprio desenvolvimento agrícola nas regiões. Nesse caso, se o conjunto das possíveis explorações agrícolas revelar poucas
delas com grau de competitividade de mercado, o desenvolvimento regional do setor
agrícola estará comprometido. Esta situação verifica-se em algumas regiões do leste
e norte/nordeste do estado de Minas Gerais.
Causas de expansão
O crescimento da produção de milho
em Minas Gerais não ocorreu de maneira
uniforme nas diferentes regiões de planejamento (Quadro 1). No Sul de Minas
(a região mais importante no que diz respeito à produção de milho no Estado) e no
Centro-Oeste, a produção dobrou no período analisado. As regiões Noroeste, Alto
Paranaíba e Norte de Minas apresentaram
crescimento superior ao do Estado. A produção colhida no Triângulo cresceu a uma
taxa semelhante à de Minas Gerais. Nas
outras regiões, a produção está praticamente estagnada. A quantidade de milho colhida na região do Jequitinhonha/Mucuri é
Figura 1 - Distribuição do rendimento agrícola das lavouras de milho em municípios de Minas Gerais – média de 2004/2005
FONTE: IBGE (2006).
Elaboração: Laboratório de Geoprocessamento da Embrapa Milho e Sorgo.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.7-12, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
10
praticamente inexpressiva diante das outras
regiões.
As fontes de crescimento da produção
variam entre as regiões do Estado. À exceção das regiões Centro-Oeste, Sul de Minas, Noroeste e Alto Paranaíba, que apresentaram crescimento na área plantada, as
outras ou estabilizaram ou reduziram a área
com milho. Em algumas, como a Central,
Rio Doce, Mata e Jequitinhonha/Mucuri a
redução da área plantada foi muito expressiva, sendo que dentre estas regiões algumas são tradicionais produtoras de milho.
No que diz respeito aos níveis de produtividade obtida e ao seu crescimento, a
discrepância entre as regiões é considerável (Fig. 1). As maiores produtividades
são verificadas no Triângulo, Alto Paranaíba, Noroeste e no Sul de Minas (acima
de 5.000 kg ha-1 no ano de 2005) seguidas
pelas obtidas nas regiões Centro-Oeste
(ao redor de 4.700 kg ha-1 no ano de 2005),
Central, Mata, Rio Doce, Norte de Minas e Jequitinhonha/Mucuri (inferiores a
3.700 kg ha-1 no ano de 2005). As regiões
com menor rendimento agrícola da produção de milho foram também as que apresentaram maior redução de área plantada,
o que pode indicar a perda de competitividade dos agricultores locais e conseqüente
desinteresse pela cultura, em decorrência
da menor lucratividade. Outro indicativo
dessa possibilidade está em que as mais
altas taxas de crescimento da produtividade das lavouras de milho, em Minas Gerais,
verificaram-se nas regiões com maior redução de área plantada, o que pode indicar
eliminação das lavouras com rendimentos
agrícolas muito baixos, isso contribuiria
para a elevação da média regional. Mesmo
com esse crescimento expressivo, os rendimentos médios nessas regiões permanecem
muito baixos.
É apresentada a seguir uma visão da
situação nas regiões de planejamento de
Minas Gerais:
Região I (Central)
Esta região, devido à maior concentração populacional, constitui no maior mer-
cado consumidor de produtos que utilizam o milho como insumo. Existem pólos
importantes de produção de aves e suínos
para o abastecimento do mercado regional
e exportação para outras regiões do Brasil.
É o maior pólo regional de produção de
aves e o terceiro em produção de suínos,
que são abastecidos principalmente por
milho transportado de outras regiões do
Estado (principalmente Triângulo, Alto
Paranaíba e Noroeste). A cultura do milho
é realizada, em sua maioria, visando atender ao consumo da propriedade, sendo
os pequenos e médios produtores os responsáveis pela maior parte da produção.
No contexto estadual, essa região é a sexta
maior produtora, sendo o crescimento da
produção derivado principalmente do
aumento de produtividade das lavouras de
milho (cerca de 5% ao ano). Apesar do crescimento, os rendimentos agrícolas obtidos
ainda são baixos, superando somente os
obtidos em regiões com reduzido nível tecnológico empregado na cultura, como a do
Jequitinhonha/Mucuri, Norte de Minas e
do Rio Doce.
Região II (Mata)
Nos últimos anos, esta região vem sofrendo esvaziamento econômico, fruto da
estagnação das atividades agrícolas tradicionais. A cultura do milho, hoje concentrada entre pequenos produtores, não se
modernizou e sofre a concorrência pela
mão-de-obra das atividades urbanas e de
outras atividades agrícolas como o café.
Nesta região também se localizam importantes pólos de produção de suínos (é o
maior pólo de produção em Minas Gerais)
e aves (terceiro maior produtor em Minas
Gerais), com empresas de maior porte com
foco no mercado nacional e atuação no
mercado internacional. A região vem sendo
abastecida por milho produzido no Oeste
do Estado, que chega a um preço inferior
e apresenta melhor padrão de qualidade.
A área plantada com milho decresceu nos
últimos dez anos, a uma taxa de cerca de
4,5% ao ano, e a redução da produção não
foi maior, devido ao crescimento dos ren-
dimentos agrícolas que, entretanto, ainda
são baixos.
Região III (Sul de Minas)
Esta região, que apresenta fortes vínculos com o estado de São Paulo, tem tido
seu perfil econômico alterado pelo processo de industrialização, causado pela descentralização espacial da indústria paulista.
A proximidade com os centros consumidores de São Paulo e Rio de Janeiro tem
favorecido também o desenvolvimento da
pecuária leiteira e da indústria de laticínios.
Nessa região localiza-se o principal pólo
produtor de ovos do estado de Minas Gerais. Também é a região que mais produz
milho no Estado e a que apresenta a maior
área plantada, sendo uma das poucas regiões onde a área com milho encontra-se
em processo de crescimento. O milho é a
principal cultura temporária, sendo a maior
parte dos grãos colhidos exportada para
os estados do Rio de Janeiro e São Paulo.
O consumo local é reduzido, diante da produção disponível. Os rendimentos agrícolas são altos e têm crescido nos últimos
anos. Devido à importância da pecuária
leiteira, grande parte da área com milho
destina-se à produção de silagem.
Região IV (Triângulo)
A modernização da agricultura, com o
aproveitamento do Cerrado, adoção de novas tecnologias, introdução de novas atividades agrícolas, desenvolvimento da agroindústria etc., transformou essa região no
mais dinâmico pólo agrícola do Estado.
Verifica-se a introdução de novas culturas
na região, como a soja, laranja e cana-deaçúcar, o que vem contribuindo para a estabilização da área plantada com milho. O progresso técnico induzido pela pesquisa e o
apoio governamental, através dos programas especiais, contribuíram decisivamente
para essa situação. No caso do milho, os
rendimentos agrícolas, que já eram altos,
elevaram-se ainda mais e hoje situam-se
entre os maiores do Brasil. Atualmente, a
maioria da produção é obtida em plantios
com características comerciais, com ele-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.7-12, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
vado índice de utilização de insumos como
fertilizantes e corretivos, mecanização e
sementes melhoradas de lançamento mais
recente. Junto com a região do Alto Paranaíba constitui o primeiro pólo produtor
de suínos e o segundo pólo produtor de
aves no estado de Minas Gerais, o que representa um destino interessante para a
produção local de milho, que não necessita
ser transportada a longa distância até o
consumidor. Embora parte do milho seja
utilizada na região, parcela considerável
desse cereal ainda é exportada para outras
regiões do Estado.
Região V (Alto Paranaíba)
Esta região tem-se caracterizado pelo
avanço da agricultura comercial e pelo desenvolvimento das atividades de criação
animal com maior nível tecnológico. Esse
desenvolvimento tem ocorrido principalmente nos chapadões, onde o milho sofre
a concorrência da soja, por espaço, nas
áreas de lavouras anuais. Embora influenciada pelo desenvolvimento das regiões
vizinhas, a parte da atividade produtiva
ainda é representada pela agricultura tradicional. A área plantada com milho tem
crescido levemente nos últimos anos e a
produção tem-se elevado devido ao aumento dos rendimentos agrícolas (que já se
situam em um nível alto). Isso reflete a substituição da agricultura tradicional por uma
de caráter mais comercial, mais intensiva
no uso de insumos e de mecanização em
áreas mais favoráveis. Esta região é exportadora de milho para outras regiões do
Estado.
Região VI (Centro-Oeste)
É a região que apresenta maior taxa de
crescimento da produção de milho no estado de Minas Gerais, resultante do aumento
da área plantada e também do rendimento
das lavouras. Apresenta características
semelhantes às do Sul de Minas.
Região VII (Noroeste)
Esta região apresenta forte contraste tecnológico entre as lavouras de milho
11
estabelecidas no Vão do Paracatu e as situadas nos chapadões. Na porção denominada Vão do Paracatu, as lavouras são
de caráter familiar e voltadas para a subsistência, com menor produtividade e reduzido uso de insumos. Nos chapadões, os
programas de ocupação do Cerrado induziram o desenvolvimento de agricultura de
caráter comercial, com ênfase na cultura da
soja e na utilização de níveis mais elevados
de insumos agrícolas. As condições de
produção de milho na região alteraram-se
nessa nova situação, resultando na implantação de sistemas de produção com maior
uso de insumos e melhor gerenciamento.
Apesar da concorrência com a soja, a área
plantada apresentou crescimento nos últimos anos, os rendimentos agrícolas evoluíram a uma taxa anual de crescimento de
cerca de 4,4%, os quais se situam entre os
mais elevados de Minas Gerais. A produção
é praticamente toda destinada à exportação
para outras regiões do Estado.
Região VIII (Norte)
É a região onde se localizam os municípios da região mineira da Sudene. É marcada por fatores climáticos adversos e com
economia agrícola centrada na pecuária
extensiva e na agricultura de subsistência.
A cultura do milho apresenta produtividade reduzida, influenciada por sistemas de
produção com baixa utilização de insumos,
decorrentes da situação de risco de clima.
A área plantada tem-se reduzido e embora
a produtividade tenha crescido a uma taxa
elevada, os valores obtidos ainda são muito
baixos, evoluindo de cerca de 1.000 kg ha-1
para, aproximadamente, 2.000 kg ha-1, entre
1994 e 2005. É um importante pólo de produção de ovos e importador de milho de
outras regiões do Estado, principalmente
do Noroeste.
Região IX (Jequitinhonha/Mucuri)
Esta região é considerada a mais pobre
do estado de Minas Gerais. A infra-estrutura
para educação, saúde, comunicação, eletrificação, transporte, armazenamento, assistência técnica, pesquisa agrícola é extre-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.7-12, jul./ago. 2006
mamente deficiente. Como decorrência, predominam na região atividades de subsistência nas quais o milho é um componente importante. A produtividade obtida é
baixa e instável, variando entre 900 kg ha-1
e 2.000 kg ha-1 no período analisado. A alta
taxa de crescimento dos rendimentos, que
consta no Quadro 1, reflete mais esse padrão de flutuação climática e os rendimentos obtidos em 2003 e 2004 do que o desenvolvimento tecnológico. Em decorrência, a
área plantada com esse cereal está em processo de redução. O milho produzido é
consumido na região e, diante da estagnação das atividades comerciais e produtivas
do setor agrícola, um esforço muito grande
será necessário para provocar qualquer
impacto na condução das lavouras.
Região X (Rio Doce)
A agricultura nesta região tem-se caracterizado por um processo de degradação
ambiental que tem inviabilizado a continuação do processo produtivo e conduzido à estagnação do setor. A situação
da cultura do milho reflete esse ambiente.
A área plantada tende a decrescer e o crescimento da produtividade, embora elevado,
tem conduzido a rendimentos agrícolas
ainda baixos, com capacidade para resultar em aumento restrito da produção, que
é insuficiente para abastecer o mercado local.
PERSPECTIVAS
O desenvolvimento futuro da produção
de milho no estado de Minas Gerais está
ligado ao crescimento das atividades de
criação de animais confinados no Estado.
Esse crescimento servirá de suporte para a
absorção do acréscimo de produção e para remunerar os produtores pela utilização
de sistemas de produção com maior uso
de insumos e pelo melhor gerenciamento
das lavouras. Como o milho é um produto
que não possibilita, de forma econômica, o
transporte para locais muito distantes daqueles da produção (com exceção das situações em que existe logística de transporte favorável), é do maior interesse que
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
12
os consumidores estejam próximos desses
locais. Por outro lado, a eliminação de gargalos hoje existentes no setor de transporte
ferroviário poderá abrir a possibilidade de
exportação de milho produzido nas regiões
situadas a oeste do Estado.
Devido aos sistemas de comercialização
ainda pouco desenvolvidos, melhorias certamente permitirão aos produtores melhor
remuneração e, conseqüentemente, incentivo para utilização de sistemas de produção mais competitivos. Mais uma vez, os
beneficiários serão os agricultores que já
se encontram inseridos em atividades comerciais de produção de milho voltadas
para o mercado.
Nas regiões, onde se tem verificado menor desenvolvimento da cultura do milho,
um esforço maior é necessário, com vistas
ao desenvolvimento de rede de comercialização da produção e também de disponibilização de insumos para os agricultores.
Esquemas de garantia de compra regional,
pelos consumidores de milho, poderão
induzir ao desenvolvimento de um conjunto de agricultores comerciais de maior
porte, localizados perto dos mercados consumidores, o que seria interessante para
os processadores.
PESQUISA
Existem regiões no Estado onde a oferta
de serviços de assistência técnica (pública
e privada) tem-se mostrado adequada para
suportar o processo de difusão de novos
sistemas de produção, assim como é possível aos agricultores encontrar no mercado os insumos que necessita. Nas regiões
onde esse sistema não é tão desenvolvido,
ações que possibilitem a sua implantação
são do maior interesse. Embora essas ações
permitam a difusão dos sistemas de produção que já foram testados, ainda existem
possibilidades do desenvolvimento e ajuste de tecnologias mais voltadas para as
características regionais.
O milho tem apresentado grande capacidade de implementar sistemas de produção competitivos e ajustados para con-
dições variadas. Os desenvolvimentos
tecnológicos futuros vão desde ajustes
nos sistemas de produção em uso, até o
desenvolvimento de novos arranjos nos
sistemas produtivos, que sejam mais adequados às condições ambientais locais (tais
como cultivares e mesmo novos tipos de
insumos). Sistemas de produção adequados para as regiões mais altas (acima de
700 m) não se têm mostrado tão competitivos nas regiões mais baixas. O mesmo pode ser dito para condições em que déficits
hídricos ocorrem com maior freqüência.
A elevação constante dos quantitativos obtidos nos rendimentos agrícolas tem
gerado a necessidade do desenvolvimento
de tecnologias para sistemas de produção
de alto desempenho, com a utilização de
insumos ainda não comuns nas lavouras
de milho e a criação de formas de utilização
daqueles tradicionais.
Deve-se chamar a atenção para uma
série de tecnologias de baixo custo, ou
seja, plantio em época adequada, análise
de solo, população de plantas, adubação
de cobertura, controle eficiente de plantas
daninhas e de insetos-praga, que certamente contribuiriam para adequar os ainda
baixos rendimentos obtidos por um grande
número de agricultores com níveis mais
elevados.
REFERÊNCIAS
CONAB. Milho total (1a e 2a safra) – Brasil:
série histórica de área plantada - safras 1976/77 a
2005/06. Brasília, 2006. Disponível em: <http://
www.conab.gov.br/download/ safra/MilhoTotal
SerieHist.xls>. Acesso em: 2 maio 2006.
IBGE. SIDRA. Tabela 1612 - quantidade produzida, valor de produção, área plantada e
área colhida da lavoura temporária. Rio de
Janeiro, 2006. Disponível em: <http://www.
sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?c=1612
&z=t&o=10>. Acesso em: 2 maio 2006.
LSPA. GCEA-MG. Pesquisa mensal de previsão e acompanhamento da safra agrícola
de Minas Gerais no ano civil. Belo Horizonte:
IBGE. Consultados os anos 1994 a 2005.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.7-12, jul./ago. 2006
14
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
Exigências climáticas do milho
em Sistema Plantio Direto
Wilson Jesus da Silva 1
Luiz Marcelo Aguiar Sans 2
Paulo César Magalhães 3
Frederico Ozanan Machado Durães 4
Resumo - A produtividade do milho depende do número de grãos potencialmente capazes de se desenvolver, e o enchimento desses grãos, dos fatores ambientais. A intensidade
com que a cultura do milho expressa seu potencial genético é determinada por sua
interação com o regime de radiação solar, com a temperatura, com o déficit de pressão
de vapor, com a velocidade do vento e com as características físico-hídricas do solo.
Aparentemente, não existe limite máximo de temperatura para a produção de milho,
no entanto, a produtividade tende a diminuir com o aumento dela. As exigências térmicas do milho, da emergência à maturação fisiológica, associadas ao conhecimento da
fenologia da cultura, podem definir a época de plantio, evitando as conseqüências dos
veranicos, a utilização de insumos, fertilizantes, inseticidas, fungicidas e herbicidas e
da colheita dos grãos ou silagem. No plantio direto na palha e com a rotação de culturas
é necessário manejar a época de plantio e as densidades das plantas. O consumo total de
água pelas plantas de milho varia muito com o nível de manejo e com a disponibilidade
de água no solo. A quantidade de água necessária à planta do milho poderá ser estimada
utilizando-se dados climáticos.
Palavras-chave: Zea mays. Radiação solar. Temperatura. Disponibilidade hídrica. Evapotranspiração. Coeficiente de cultura. Ecofisiologia vegetal.
INTRODUÇÃO
O milho, mediante seleção de genótipos e com o aprimoramento de métodos de
manejo, vem sendo cultivado em regiões
compreendidas entre os paralelos 58o N
(Canadá e Rússia) e 40o S (Argentina), distribuídas nas mais diversas altitudes, abaixo do nível do mar (região do mar Cáspio)
até as regiões com 2.500 m de altitude (região dos Andes Peruano). Independente
da tecnologia aplicada, o período e as con-
dições climáticas em que a cultura é submetida constituem preponderantes fatores de produção (FANCELLI; DOURADO
NETO, 2000).
O Brasil por sua enorme expansão territorial, o que lhe confere a característica de
país continental, tem variabilidade ambiental muito grande, principalmente no que se
refere às condições térmicas e hídricas.
Existe desde região semi-árida como os sertões nordestinos, quente e seca o tempo
todo, até região superumida, como a Amazônia, onde há excessos de umidade e
temperaturas elevadas durante todo o ano.
Além da variabilidade espacial climática
do Brasil, defronta-se ainda com a variabilidade temporal, ou seja, grandes variações
climáticas dentro do ano ou entre anos.
Portanto, como o requerimento de energia
e de água pelo milho está condicionado
às condições ambientais, a produtividade vai variar entre as diferentes condições
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EMBRAPA/EPAMIG-CTTP, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: wilson@epamig
uberaba.com.br
1
Engo Florestal, D.Sc., Pesq. EMBRAPA-CNPMS, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected]
2
Engo Agro, Ph.D., Pesq. EMBRAPA-CNPMS, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected]
3
Engo Agro, Pós-Doc, Pesq. EMBRAPA-CNPMS, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected]
4
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006
15
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
edafoclimáticas. Deve-se, também, ressaltar a resposta diferencial da planta, devido
as suas características ecofisiológicas e ao
manejo que irá receber por influenciarem
na eficiência do uso da energia e da água.
O milho, por ser gramínea anual, pertencente ao grupo de plantas do tipo C4,
possui ampla adaptação climática. Conforme o fotoperíodo, esse cereal é considerado planta neutra ou de dias curtos.
No estado de Minas Gerais, a cultura
do milho tem apresentado alta expansão,
tornando-se importante fonte de divisa.
Esta expansão deve-se ao crescimento da
área cultivada e, principalmente, ao respaldo dado pela pesquisa no que se refere ao
melhoramento genético, controle fitossanitário, manejo de solo e densidade de plantio. Dentre os diversos fatores que afetam
a produção agrícola, os elementos meteorológicos destacam-se entre aqueles que
podem apresentar variações mais bruscas
de ano para ano. Essas variações são fontes geradoras de oscilações na produção
agrícola, causando expectativa sobre a
produção final de grãos nos setores produtivo, de transporte, comercialização e
armazenamento.
O emprego de métodos inadequados
de mecanização intensiva, como aração e
uso de grades pesadas, tem destruído o
solo, expondo-o a intensas erosões hídricas, eólica e solar, entre outros. Técnicas
eficientes de redução dessas erosões, como
plantio direto na palha, evolução no relacionamento com o solo, motivam cada vez
mais agricultores, mas ainda são relativamente pouco usadas.
Quando há interesse em conhecer qual
o comportamento da cultura em relação
ao clima, procura-se determinar quais as
funções biológicas responsáveis pelo seu
crescimento e desenvolvimento, que estão
diretamente ligadas com os diferentes elementos meteorológicos. Especificamente,
com o objetivo de determinar a influência
dos elementos meteorológicos na produção de grãos, torna-se necessário associar
os estudos agroclimáticos com as observações fenológicas.
O meio ambiente da cultura é complexo
e difícil de ser conhecido, devido ao seu
dinamismo e variações constantes. Porém,
seu importante papel no crescimento, desenvolvimento e produção dos grãos de
milho não permite que seja desprezado,
quando se quer maximizar a produção. Como em todas as culturas, o rendimento dos
grãos de milho está intimamente ligado a
fatores do meio, principalmente os meteorológicos. Assim, neste estudo, serão discutidos a ecofisiologia da cultura do milho
e a ação da radiação, da temperatura, o uso
de água pela planta e, posteriormente, o
efeito da limitação ou excesso desses elementos na produção.
EFEITOS DA RADIAÇÃO SOLAR
E EXIGÊNCIAS TÉRMICAS
Radiação solar
A avaliação da intensidade da radiação
solar sobre os solos tropicais é importante
para a agricultura, passando a exigir nova
abordagem técnica. A radiação solar pode
ser identificada por conceito específico,
como erosão solar, capaz de colocá-la em
evidência junto a outros fatores condicionantes da produção tropical, como aquela
causada pela água ou pelo vento. Não há
como realizar agricultura produtiva e sustentada nos trópicos sem levar em conta a
erosão solar. Na Europa Central (latitude
de 47o a 34o N), a intensidade da radiação
solar é de 3.349 a 4.186 MJ m-2. Na Europa
Oriental (latitude de 41o 20' a 53o 30' N) é de
3.349 a 5.204 MJ m-2. No Brasil (latitude de
5o N a 34o S) fica entre 5.024 e 6.699 MJ m-2,
portanto, 50% mais forte que na Europa
Central (BLEY JUNIOR, 1999)
A intensidade com que a cultura do milho expressa seu potencial genético é determinada por sua interação com o regime
de radiação solar, temperatura do ar, déficit
de pressão de vapor, velocidade do vento
e características físico-hídricas do solo.
Cultivares precoces, principalmente as
superprecoces exigem maior densidade de
plantio em relação às cultivares normais ou
tardias, para expressarem seu máximo ren-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006
dimento. São plantas de menor altura e
menor massa vegetativa. Estas características morfológicas determinam menor
sombreamento dentro da cultura, o que permite pequeno espaçamento entre plantas
para melhor aproveitamento de luz. Mesmo
entre cultivares normais existem diferenças
de densidade, conforme a arquitetura da
planta. Sempre que a radiação fotossinteticamente ativa interceptada for reduzida e
houver disponibilidade hídrica e de nutrientes, observa-se que a densidade deve
ser aumentada para atingir o máximo rendimento de grãos. Verifica-se tendência de
utilizar cada vez mais espaçamentos reduzidos para aumentar a eficiência na utilização de luz solar, água, nutrientes e obter
melhor controle de plantas daninhas, em
função do fechamento rápido dos espaços
disponíveis e redução do impacto das chuvas e dos raios solares no solo, evitando
erosões hídrica e solar. Já existem agricultores usando para o milho o mesmo espaçamento preconizado para a soja (ARGENTA
et al., 2001).
A escolha adequada do arranjo de
plantas é uma das práticas de manejo mais
importantes para otimizar o rendimento de
grãos de milho, pois afeta diretamente a
interceptação da radiação solar, fator determinante da produtividade (ARGENTA et
al., 2001). Cabe destacar que a densidade
ótima é aquela que apresenta área máxima
de interceptação da radiação solar (índice
de área foliar máximo), sem provocar autosobreamento. Setter e Flannigan (1986), em
experimento onde se utilizou sombreamento
artificial durante o crescimento dos grãos,
não observaram alterações na taxa de crescimento, mas reduções no tempo de crescimento, resultando em grãos mais leves.
A produtividade dos grãos de milho (Y),
segundo Andrade (1992), pode ser expressa pela seguinte equação:
Y = Ro . Ei . Ec . p,
em que “Ro” é a radiação solar incidente;
“Ei” é a eficiência da interceptação da radiação solar incidente; “Ec” é a eficiência de
conversão da radiação solar interceptada
16
pela biomassa vegetal e “p” é a partição de
fotoassimilados de interesse comercial.
Acontece que a radiação solar incidente é
função da localização geográfica da área
de produção (latitude, longitude e altitude), bem como da época de semeadura ao
logo do ano. A eficiência da interceptação
depende da idade da planta, da arquitetura, do arranjo espacial das plantas e da
população empregada, ao passo que a
eficiência de conversão, dentre outros
fatores, depende principalmente da temperatura. A participação dos fotoassimilados é função do genótipo e das relações
de fonte-dreno (FANCELLI; DOURADO
NETO, 2000).
No plantio direto na palha e com rotação de culturas, é necessário manejar a época de plantio e as densidades das plantas.
Em plantios mais cedo, é possível aumentar a densidade de plantas, devido à maior
disponibilidade de radiação solar, em virtude da maior área foliar.
Temperatura
As variações de temperatura no solo,
elemento estreitamente ligado à radiação
solar, podem ser atenuadas por práticas culturais agrícolas adequadas. Em estudos
realizados em Ponta Grossa (PR), em plantio convencional, a temperatura do solo a
3 cm passou de 23oC, às 8 horas, para 43oC,
às 14 horas. No plantio direto na palha, nos
mesmos horários, a variação foi de 19oC a
36oC. Os microorganismos do solo não resistem mais que algumas horas a temperaturas acima de 40oC. A morte ou paralisação de suas atividades interrompe o ciclo
de transformação dos minerais em nutrientes para as plantas (BLEY JUNIOR, 1999).
Temperatura elevada, na faixa de 30oC a
35oC aumenta a velocidade de decomposição da matéria orgânica liberando CO2 na
atmosfera. Se os agricultores continuarem
no sistema convencional de plantio, a matéria orgânica dos solos tropicais tende a se
exaurir, pois não está havendo reposição
como nos ambientes intactos. Para manter
a atividade biológica nos solos e, com isso,
sustentar a produção agrícola em solos
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
tropicais e subtropicais, é essencial repor
os estoques de carbono (BLEY JUNIOR,
1999).
Leopold (1964) considera a intensidade
luminosa como a principal variável que
afeta o crescimento e o desenvolvimento
das plantas. Para ele, a temperatura tem
efeitos muito complexos sobre os vegetais,
interagindo com a luz e a água. A temperatura é o aspecto mais expressivo da intensidade da energia calorífica. De acordo com
Shaw (1977), as maiores produções de milho ocorrem onde as temperaturas nos meses mais quentes oscilam de 21oC a 27oC.
Aparentemente, não existe um limite máximo de temperatura para a produção de milho, no entanto, a produtividade tende a
diminuir com o aumento da temperatura.
O milho é cultura de clima quente e requer calor e umidade elevados, desde o
plantio até o final da floração. Inúmeras evidências experimentais apontam a temperatura como sendo elemento de produção
mais importante e decisivo para o desenvolvimento do milho. Em regiões cujo verão
apresenta temperatura média diária inferior
a 19oC e noites com temperaturas médias
abaixo de 12,8oC, não são recomendadas
para o cultivo de qualquer cultivar de milho
(FANCELLI; DOURADO NETO, 2000).
Temperaturas do solo inferiores a 10oC
e superiores a 42oC prejudicam sensivelmente a germinação, ao passo que aquelas
entre 25oC e 30oC proporcionam as melhores condições para o desencadeamento
dos processos de germinação das sementes e emergência das plântulas. A temperatura durante o período que vai desde a
emergência até o aparecimento das flores é
muito importante para determinar a época
da floração. Noites frias desaceleram o
crescimento anterior à floração (BERGER,
1962).
Por ocasião dos períodos de florescimento e de maturação, temperaturas médias
diárias superiores a 26oC podem promover
a aceleração dessas fases, da mesma forma
que temperaturas inferiores a 15,5oC podem
prontamente retardá-las (BERGER, 1962).
O requerimento de temperaturas adequadas
torna o período compreendido entre 15 dias
antes e 15 dias após o aparecimento da
inflorescência masculina extremamente
crítico. Daí, a razão pela qual esta fase deva
ser criteriosamente planejada, com o intuito
de coincidir com o período estacional que
apresente temperaturas favoráveis de 25oC
a 30oC (FRATTINI, 1975).
No período de enchimento dos grãos,
a temperatura é o elemento do ambiente
que mais afeta o seu rendimento, devido
ao efeito dela na taxa de acúmulo de massa
seca nos grãos. Quando a acumulação de
massa seca nos grãos ocorre com temperaturas em declínio, ou seja, em plantios
muito tardios, a taxa de crescimento efetiva
é menor. A diminuição progressiva da temperatura após o pendoamento aumenta o
período efetivo de crescimento dos grãos,
reduzindo sua taxa de crescimento e o seu
peso final (MAGALHÃES; JONES, 1990a).
O tempo quente não interfere na aceleração do amadurecimento. Com base em dados experimentais, Fancelli e Dourado Neto
(2000) relatam que a cada grau de temperatura média diária superior a 21,1oC, nos
primeiros 60 dias após a semeadura, pode
apressar o florescimento em dois a três dias.
A produtividade do milho pode ser reduzida, bem como a composição protéica do
grão pode ser alterada, em decorrência das
temperaturas acima de 35oC. Tal efeito está
relacionado com a diminuição da atividade
de redutase do nitrato e, conseqüentemente, interfere no processo de transformação
do nitrogênio (FANCELLI; DOURADO
NETO, 2000).
Em terrenos áridos, as temperaturas
extremamente altas são prejudiciais ao milho. Nessa condição, as plantas são mais
sensíveis às altas temperaturas na época
da floração. A combinação de altas temperaturas e baixas umidades pode causar
morte das folhas e flores, impedindo a polinização. Temperaturas abaixo de 12,8oC
reduzem apreciavelmente o rendimento do
milho.
Temperaturas noturnas maiores que
24oC promovem consumo energético elevado, em função do incremento da respi-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006
17
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
ração celular, ocasionando menor saldo de
fotoassimilados, com conseqüente queda
na produtividade. Da mesma maneira, temperaturas acima de 32oC reduzem sensivelmente a germinação do grão de pólen,
por ocasião de sua emissão (FANCELLI;
DOURADO NETO, 2000).
Segundo Wislie (1962), a temperatura
mínima para o crescimento satisfatório do
milho é de 10oC, sendo que a ótima varia de
28oC a 35oC e a máxima de, aproximadamente, 45oC. Este autor, ainda, considera que as
maiores taxas de crescimento foram alcançadas entre 29oC e 32oC. O conceito de temperatura ótima deve ser revisto com cautela,
pois esta temperatura varia com o estádio
de desenvolvimento da planta. Por exemplo, a temperatura ótima para a germinação
não é a mesma para a floração ou frutificação. Verifica-se que a maioria dos genótipos
atuais não se desenvolve em temperaturas
inferiores a 10oC, todavia, segundo Berlato
e Sutili (1976), a temperatura basal de genótipos tardios é maior do que a dos genótipos
precoces.
A temperatura quantifica, em valores
numéricos, o nível de energia interna, o que
possibilita trocas com o sistema e o meio,
provocando estímulos, ativando ou desativando funções vitais (OMETO, 1981).
Segundo Villa Nova et al. (1972), a quantidade de energia exigida por uma cultura
tem sido expressa em graus-dia, ou unidades térmicas de desenvolvimento, ou exigência térmica, ou calórica, ou unidade de
calor. A base teórica para essa técnica é
que, dos processos envolvidos no desenvolvimento da cultura, todos são sensíveis
à temperatura do ar. Cabe enfatizar que a
resposta das plantas a essa temperatura
obedece a limites inferior e superior e é
extensiva ao desenvolvimento total da cultura.
Está comprovado que o método satisfatório, para determinar as etapas de desenvolvimento do milho, leva em consideração
as exigências calóricas ou térmicas. Admitese que a temperatura base possa variar
em função da idade ou da fase fenológica
da planta, mas é comum adotar uma úni-
ca temperatura base para todo o ciclo da
planta por ser mais fácil a sua aplicação
(FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). A
cultura do milho apresenta as seguintes
exigências térmicas em graus-dia, da emergência à maturação fisiológica (BRUNINI
et al., 1983; BERLATO et al., 1984; GARCIA, 1993; FANCELLI; DOURADO NETO,
2000):
a) híbridos tardios: graus-dia superior
a 890;
b) híbridos precoce: graus-dia superior
a 831 e inferior a 890;
c) híbridos superprecoces: graus-dia
inferior a 830.
As exigências térmicas do milho, da
emergência à maturação fisiológica, associadas ao conhecimento da fenologia da
cultura, podem definir a época de plantio,
evitando as conseqüências dos veranicos,
a utilização de insumos, fertilizantes, inseticidas, fungicidas e herbicidas, e a época
de colheita dos grãos ou de silagem.
EXIGÊNCIAS DE ÁGUA
O consumo de água pelo milho é um
diferencial nas fases de crescimento e desenvolvimento da planta, sendo função do
padrão da demanda sazonal da atmosfera,
ou seja, dos fatores físicos que governam
a evaporação. Pode-se utilizar o coeficiente
cultural (Kc) para verificar esse diferencial
uso de água, uma vez que esse coeficiente integra os efeitos das características da
cultura no campo. No Gráfico 1, observase que há um padrão geral de consumo de
água pelas plantas. Embora os valores
máximos de Kc estejam entre 1,2 e 1,4, a
literatura mostra valores inferiores a 0,9
(MATZENAUER et al., 1998) e acima de 2
(KEIROZ, 2000). Além da variabilidade
genética, as diferentes curvas de Kc podem ser atribuídas aos métodos de estimativa da evapotranspiração de referência
(MATZENAUER et al., 1998; PEREIRA et
al., 2005) e ao intervalo de tempo em que
foi estabelecido o coeficiente.
Há divergência de valores dos Kc de
região para região, o que torna difícil a recomendação de valores desse coeficiente,
para estimar o consumo de água pela cultura
do milho. Como sugestão, utilizar os
coeficientes estabelecidos pela Food and
Agriculture Organization of the United
Nations (FAO), uma vez que os valores
obtidos nas diversas regiões estão relativamente próximos dos encontrados pela
FAO.
Gráfico 1 - Valores do coeficiente cultural (Kc) para o milho safrinha (SAF) obtido em
Minas Gerais - Sete Lagoas (SL), Janaúba (JAN); Mato Grosso do Sul (MS),
em Goiás (GO), no Paraná (PR) e em São Paulo (SP), e de critérios da FAO
Production Yearbook (1985)
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006
18
O consumo total de água pelo milho
varia muito com o nível de manejo e com
a disponibilidade de água no solo. Nos
trabalhos desenvolvidos por Robins e
Domingo (1953), Deanmead e Shaw (1960)
e Claassen e Shaw (1970); verificou-se que
aproximadamente 50 dias após o plantio
há redução de 3% na produção, por dia de
estresse. No estádio de florescimento, esse
decréscimo pode atingir 13%, com média
em torno de 6%-7%. Se o grau de fertilidade for elevado, a redução da produtividade pode cair para 3%-4% por dia. Durante
o período de enchimento do grão, a redução média é em torno de 4% ao dia.
Nas diversas regiões brasileiras, o milho
consome, em média, de 450 a 600 mm de água
durante todo o seu ciclo (FEPAGRO, 1996;
MATZENAUER et al., 1998; FANCELLI;
DOURADO NETO, 2000), exigindo um mínimo de 350 mm, para que a produção não
seja significativamente afetada. Em condição de clima quente e seco, o consumo
não excede a 3 mm dia-1, quando a planta
estiver com menos de 30 cm de altura e,
entre o período de florescimento até maturação, pode atingir valores de 5 a 7 mm.
Daker (1970 apud FANCELLI; DOURADO
NETO, 2000), afirmam que o consumo de
água pode ser de até 10 mm dia-1 em climas de intenso calor e baixíssima umidade.
O estresse hídrico de dois dias no período
de florescimento diminui o rendimento em
20% e de 4 a 8 dias em 50% (RESENDE et
al., 2003).
No Rio Grande do Sul, Matzenauer et
al. (1998) verificaram que, em setembro,
outubro e novembro, o milho consumiu
570, 572 e 541 mm de água, respectivamente.
Freitas et al. (2004) constataram uma produção de 6 mil kg de milho, com uso de 370
e 436 mm de água em duas épocas na Zona
da Mata de Minas Gerais. No Semi-Árido
do Nordeste brasileiro, Antonino et al.
(2000) obtiveram valores de evapotranspiração da ordem de 507 mm com uma média
diária de 4,2 mm dia-1, porém nesse local
este valor chega a 7,42 mm dia-1. Foram
utilizados 2 m3 de água para cada quilo de
massa produzida do milho. Valores similares
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
de uso de água podem resultar em diferentes produtividades, devido à água não
ser o único elemento definidor.
Pelos resultados de pesquisa, pode-se
concluir que o milho expressa elevada
potencialidade de produção, quando atinge sua máxima área foliar, com a maior disponibilidade de radiação solar e não tendo
déficit hídrico no solo. Daí a importância
de se conhecer e quantificar os processos
que envolvem a relação planta-clima, principalmente as relações hídricas. Cowan
(1965) resumiu no Gráfico 2 a influência da
umidade no solo no consumo de água pela
planta e ratifica que o consumo de água
depende da demanda atmosférica. No Gráfico 2, as quebras de linhas representam a
existência de algum grau de estresse e as
diferentes linhas representam os diferentes consumos de água com diferentes demandas de água pela atmosfera.
Pode-se estimar o uso de água pelo milho a partir de dados climáticos, e levandose em conta duas condições: quando não
há déficit hídrico no solo e quando o solo
não tem água suficiente para suprir a de-
manda da planta. À medida que o solo vai
secando, tanto a evaporação da superfície
do solo quanto a transpiração da planta
decrescem. Essa fase é a que Tanner (1977)
denominou “fase de taxa de decréscimo”.
Vale a pena ressaltar que a zona radicular
não seca uniformemente nem mesmo quando a planta atinge o ponto de murchamento
(BORG, 1980). Essa falta de uniformidade
da extração de água pela zona radicular torna difícil predizer o quanto de água será
extraído para uma cultivar num determinado tipo de solo, sob condição climática
específica. Tentaram-se várias relações diretas entre transpiração e depleção de água
no solo. Os melhores resultados alcançados encontram-se no Gráfico 3. O que se
tem feito é relacionar ET/ETmax com a água
disponível numa dada profundidade do
solo. Água disponível, como preconizado,
não viabiliza a avaliação do efeito da distribuição de raízes na absorção de água, portanto, passou a utilizar água extraível que
nada mais é que o teor de água disponível na zona radicular. O Gráfico 3 representa a média dos resultados medidos e
Gráfico 2 - Transpiração direta da cultura e potencial de água no solo com três níveis
de evapotranspiração potencial
FONTE: Cowan (1965).
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006
19
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
encontrados na literatura. Nesse Gráfico 3
podem-se ver duas fases distintas de consumo de água:
a) fase de taxa constante: quando o
consumo de água pela planta atinge
seu máximo, ou seja, é governado
pelas condições atmosféricas. Podese calcular a evapotranspiração (ET)
a partir da estimativa da evapotranspiração máxima (ETmax):
 = ET t
–
em que:
 é a depleção de água no solo;
P e I são precipitação e irrigação, respectivamente;
b) fase de taxa de decréscimo
(c <  < t)
Quando as depleções são maiores
que o ponto crítico (c), ET/ETmax
decresce linearmente, com o aumento
de depleção de água.
ET/ETmax pode ser expressa na
equação:
ET/ETmax = 1 – S (c –  )
em que:
t é a umidade no solo na capacidade
de campo.
(P + I) t = ETmax t

– (P + I) t
em que:
S é a declividade da curva que na realidade é: S = 1 / ( – c) e é determinada experimentalmente para uma
dada cultura e solo.
Assim, a ET diária pode ser encontrada por meio da equação:
ETmax
ET =
t
exp [ –  ETmax / (t – c)]
tc
Determinação da
evapotranspiração de
referência (ETo)
Água extraível (%)
Gráfico 3 - Consumo de água pela cultura do milho em: Latossolo Vermelho Distrófico
(LVd), neossolo flúvico (RU), neossolo quartzarênico (RQ), Latossolo Vermelho
eutrófico (LVef), chernossolo erbânico (ME)
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006
É vasta a literatura relativa aos métodos
de estimar a evapotranspiração de referência (TANNER, 1967; PEREIRA et al., 1997;
ALLEN et al., 1998).
A American Society of Civil Engineers
(Asce) fez um estudo sobre os diversos
métodos e concluiu que o da FAO-Penman
Monteith deve ser recomendado como
standard, por ser aplicável em grande quantidade de locais e climas e em situações
20
que carecem de informações a curto período.
Quando o solo apresenta teor de água
extraível acima de 30%-40%, a evapotranspiração é dependente unicamente da demanda atmosférica. Quando o teor de água
nos solos é inferior a 30%-40% da água
extraível, pode-se também determinar o
consumo de água pela cultura por meio de
equações, em que a variável é a evapotranspiração de referência.
ESTÁDIOS DE DESENVOLVIMENTO
Estádio VE - germinação
e emergência
Em condições normais de campo, as
sementes de milho plantadas absorvem
água, incham e começam a crescer. A radícula é a primeira a se alongar, seguida pelo
coleóptilo com plúmula incluída. O estádio VE é atingido pela rápida elongação do
mesocótilo, o qual empurra o coleóptilo
em crescimento para a superfície do solo.
Em condições de temperatura e umidade
adequadas, a planta emerge dentro de quatro a cinco dias, porém, em condições de
baixa temperatura e pouca umidade, a germinação pode demorar até duas semanas
ou mais. Assim que a emergência ocorre e
a planta expõe a extremidade do coleóptilo,
o mesocótilo pára de crescer.
O sistema radicular seminal, que são as
raízes oriundas diretamente da semente, tem
o seu crescimento nesta fase e a profundidade onde elas se encontram depende
da profundidade do plantio. O crescimento
dessas raízes, também conhecido como
sistema radicular temporário, diminui após
o estádio VE e é praticamente não existente
no estádio V3.
O ponto de crescimento da planta de
milho, nesse estádio, está localizado cerca
de 2,5 a 4,0 cm abaixo da superfície do solo
e encontra-se logo acima do mesocótilo.
Essa profundidade, onde se acha o ponto
de crescimento, é também a profundidade
onde vai originar o sistema radicular definitivo do milho, conhecido como raízes
nodais ou fasciculadas. A profundidade do
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
sistema radicular definitivo independe da
profundidade de plantio, uma vez que a
emergência da planta vai depender do potencial máximo de alongamento de mesocótilo (RITCHIE; HANWAY, 1989).
O sistema radicular nodal inicia-se,
portanto, no estádio VE, e o alongamento
das primeiras raízes inicia-se no estádio
V1, indo até o R3, após o qual muito pouco
crescimento ocorre (MAGALHÃES et al.,
1994).
No milho não é constatada a presença
de fatores inibitórios ao processo de germinação, visto que, sob condições ótimas de
umidade, os grãos podem germinar imediatamente após a maturidade fisiológica,
mesmo ainda estando presos à espiga.
Em síntese, na germinação ocorre a embebição da semente, com a conseqüente
digestão das substâncias de reserva, síntese de enzimas e divisão celular.
Estádio V3 - três folhas
desenvolvidas
O estádio de três folhas completamente
desenvolvidas ocorre com, aproximadamente, duas semanas após o plantio. Nesse estádio, o ponto de crescimento ainda
se encontra abaixo da superfície do solo e
a planta possui pouco caule formado.
Pêlos radiculares do sistema radicular
nodal estão agora em crescimento e o desenvolvimento das raízes seminais é paralisado (MAGALHÃES et al., 1994).
Todas as folhas e espigas que a planta
eventualmente irá produzir estão sendo
formadas no V3. Pode-se dizer, portanto,
que o estabelecimento do número máximo
de grãos ou a produção potencial estão
sendo definidos nesse estádio. No estádio
V5 (cinco folhas completamente desenvolvidas), tanto a iniciação das folhas como
das espigas vai estar completa e a iniciação
do pendão já pode ser vista microscopicamente na extremidade de formação do
caule, logo abaixo da superfície do solo
(MAGALHÃES et al., 1994, 1995).
O ponto de crescimento, que se encontra abaixo da superfície do solo, é bastante
afetado pela temperatura do solo nesses
estádios iniciais do crescimento vegetativo. Assim, temperaturas baixas podem
aumentar o tempo decorrente entre um
estádio e outro, alongando, assim, o ciclo
da cultura, podendo aumentar o número
total de folhas, atrasar a formação do pendão e diminuir a disponibilidade de nutrientes para a planta. Uma chuva de granizo ou
vento nesse estádio vai ter muito pouco
ou nenhum efeito na produção final de
grãos, uma vez que o ponto de crescimento
estará protegido no solo. Disponibilidade de água nesse estádio é fundamental,
por outro lado o excesso de umidade ou
encharcamento, quando o ponto de crescimento ainda se encontra abaixo da superfície do solo, pode matar a planta em poucos
dias (ALDRICH et al., 1982; MAGALHÃES
et al., 2003).
O controle de plantas daninhas nessa
fase é fundamental para reduzir a competição por luz, água e nutrientes. Como o
sistema radicular está em pleno desenvolvimento, mostrando considerável porcentagem de pêlos absorventes e ramificações
diferenciadas, operações inadequadas de
cultivo (profundas ou próximas à planta)
poderão afetar a densidade e distribuição
de raízes com conseqüente redução na produtividade. Portanto, recomenda-se cautela
no cultivo.
Estádio V6 - seis folhas
desenvolvidas
Neste estádio, o ponto de crescimento
e o pendão estão acima do nível do solo, o
colmo está iniciando o período de alongamento acelerado. O sistema radicular nodal
(fasciculado) está em pleno funcionamento e em crescimento.
Pode ocorrer o aparecimento de eventuais perfilhos, os quais se encontram diretamente ligados à base genética da cultivar, ao estado nutricional da planta, ao
espaçamento adotado, ao ataque de pragas e às alterações bruscas de temperatura
(baixa ou alta). No entanto, existem poucas evidências experimentais que demonstram a sua influência negativa na produção
(MAGALHÃES et al., 1995, 2002).
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006
21
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
No estádio V8, inicia-se a queda das
primeiras folhas e o número de fileiras
de grãos é definido. Durante este estádio
constata-se a máxima tolerância ao excesso
de chuvas. No entanto, encharcamento por
períodos maiores que cinco dias poderão
acarretar prejuízos consideráveis e irreversíveis.
Estresse hídrico nessa fase pode afetar
o comprimento de internódios, provavelmente pela inibição da elongação das células em desenvolvimento, concorrendo desse modo para a diminuição da capacidade
de armazenagem de açúcares no colmo.
O déficit de água também vai resultar em
colmos mais finos, plantas de menor porte
e menor área foliar (MAGALHÃES et al.,
1998).
Evidências experimentais demonstram
que a distribuição total das folhas expostas nesse período, mediante ocorrência de
granizo, geada, ataque severo de pragas e
doenças, além de outros agentes, acarretará quedas na produção da ordem de
10% a 25% (FANCELLI; DOURADO
NETO, 2000).
Períodos secos aliados à conformação
da planta, característica dessa fase (conhecida como fase do cartucho), conferem
à cultura do milho elevada suscetibilidade ao ataque da lagarta-do-cartucho
(Spodoptera frugiperda), o que exige constante vigilância. Do V6 até o estádio V8
deverá ser aplicada a adubação nitogenada
em cobertura (RITCHIE; HANWAY, 1989;
ALDRICH et al., 1982).
Estádio V9
Neste estádio, muitas espigas são facilmente visíveis, se for feita a dissecação
da planta. Todo nó da planta tem potencial
para produzir uma espiga, exceto os últimos
seis a oito nós abaixo do pendão. Assim, a
planta de milho teria potencial para produzir
várias espigas, porém, apenas uma ou duas
(caráter prolífico) espigas conseguem completar o crescimento.
Ocorre alta taxa de desenvolvimento de
órgãos florais, o pendão inicia rápido desenvolvimento e o caule continua alongando-
se. O alongamento do caule ocorre através
dos entrenós. Após o estádio V10, o tempo
de aparição entre um estádio foliar e outro
vai encurtar, geralmente isso ocorre a cada
dois ou três dias (MAGALHÃES et al.,
1994, 1999).
Próximo ao estádio V10, a planta de milho
inicia rápido e contínuo crescimento com
acumulação de nutrientes e massa seca, que
continuarão até os estádios reprodutivos.
Há grande demanda no suprimento de água
e nutrientes para satisfazer as necessidades
da planta (MAGALHÃES; JONES, 1990b).
Estádio V12
O número de óvulos (grãos em potencial) em cada espiga, assim como o tamanho
da espiga, é definido em V12, quando ocorre perda de duas a quatro folhas basais.
Pode-se considerar que nesta fase iniciase o período mais crítico para a produção,
o qual estende-se até a polinização.
O número de fileiras de grãos na espiga
já foi estabelecido, no entanto, a determinação do número de grãos/fileira só será definida cerca de uma semana antes
do florescimento, em torno do estádio V17
(MAGALHÃES et al., 1994).
Em V12, a planta atinge cerca de 85% a
90% da área foliar, e observa-se o início de
desenvolvimento das raízes adventícias
(esporões).
Estádio V15
Este estádio representa a continuação
do período mais importante e crucial para
o desenvolvimento da planta, em termos
de fixação do rendimento. Desse ponto em
diante, o novo estádio foliar ocorre a cada um ou dois dias. Os estilos-estigmas
iniciam os seus crescimentos nas espigas
(MAGALHÃES et al., 2002).
Por volta do estádio V17, as espigas
atingem crescimento tal que suas extremidades já são visíveis no caule, assim como
a extremidade do pendão já pode também
ser observada (MAGALHÃES et al., 1994).
Estresse de água, que ocorre no período
de duas semanas antes, até duas semanas
após o florescimento, vai causar grande
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006
redução na produção de grãos. Porém, a
maior redução na produção poderá ocorrer
com déficit hídrico na emissão dos estilosestigmas (início de R1). Isso é verdadeiro
também para outros tipos de estresse como
deficiência de nutrientes, alta temperatura
ou granizo. O período de quatro semanas
em torno do florescimento é o mais importante para irrigação (MAGALHÃES et al.,
2003).
Estádio V18
É possível observar que os “cabelos” ou
estilos-estigmas dos óvulos basais alongamse primeiro em relação aos “cabelos” dos
óvulos da extremidade da espiga. Raízes
aéreas, oriundas dos nós acima do solo,
estão em crescimento neste estádio. Essas
raízes contribuem na absorção de água e
nutrientes.
Em V18, a planta do milho encontra-se
a uma semana do florescimento e o desenvolvimento da espiga continua em ritmo
acelerado.
Estresse hídrico nesse período pode
afetar mais o desenvolvimento do óvulo e
espiga que o do pendão. Com esse atraso
no desenvolvimento da espiga pode haver problemas na sincronia entre emissão
de pólen e recepção pela espiga. Caso o
estresse seja severo, ele pode atrasar a
emissão do “cabelo” até a liberação do pólen terminar, ou seja, os óvulos que porventura emitir o “cabelo” após a emissão
do pólen não serão fertilizados e, por conseguinte, não contribuirão para o rendimento (MAGALHÃES et al., 1994, 1995,
1999, 2002).
Pendoamento, VT
Este estádio inicia-se quando o último
ramo do pendão está completamente visível
e os “cabelos” não tenham ainda emergido. A emissão da inflorescência masculina
antecede de dois a quatro dias a exposição
dos estilos-estigmas, no entanto, 75% das
espigas devem apresentar seus estilosestigmas expostos, após o período de 1012 dias posterior ao aparecimento do pendão. O tempo decorrente entre VT e R1 pode
22
variar consideravelmente dependendo do
híbrido e das condições ambientais. A perda de sincronismo entre a emissão dos
grãos de pólen e a receptividade dos estilosestigmas da espiga concorre para o aumento da porcentagem de espigas sem grãos
nas extremidades. Em condições de campo,
a liberação do pólen geralmente ocorre nos
finais das manhãs e início das noites. Neste estádio, a planta atinge o máximo desenvolvimento e crescimento. Estresse hídrico
e temperaturas elevadas (acima de 35oC)
podem reduzir drasticamente a produção. Um pendão de tamanho médio chega
a ter 2,5 milhões de grãos de pólen, o que
equivale dizer que a espiga em condições
normais dificilmente deixará de ser polinizada pela falta de pólen, uma vez que o
número de óvulos está em torno de 750 a
1.000 (MAGALHÃES et al., 1994, 1999;
FANCELLI; DOURADO NETO, 2000).
A planta apresenta alta sensibilidade
ao encharcamento nessa fase, o excesso
de água pode contribuir inclusive com a
inviabilidade dos grãos de pólen.
Nos estádios de VT a R1, a planta de
milho é mais vulnerável às intempéries da
natureza que qualquer outro período, devido ao pendão e a todas as folhas estarem
completamente expostas. Remoção de folha neste estádio por certo resultará em perdas na colheita (FANCELLI; DOURADO
NETO, 2000).
O período de liberação do pólen estendese por uma a duas semanas. Durante esse
tempo, cada “cabelo” individual deve emergir
e ser polinizado para resultar em um grão.
Estádio R1 - embonecamento
e polinização
Este estádio inicia-se quando os estilosestigmas estão visíveis, ou seja, para fora
das espigas. A polinização ocorre quando
o grão de pólen liberado é capturado por
um dos estilos-estigmas.
O grão de pólen, em contato com o
“cabelo”, demora cerca de 24 horas para
percorrer o tubo polínico e fertilizar o óvulo, geralmente o período requerido para
todos os estilos-estigmas em uma espiga
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
serem polinizados é de dois a três dias.
Os “cabelos” da espiga crescem cerca de
2,5 a 4,0 cm por dia e continuam a se alongar até serem fertilizados (MAGALHÃES
et al., 1994).
O número de óvulos que será fertilizado é determinado nesse estádio. Óvulos
não fertilizados evidentemente não produzirão grãos.
Estresse ambiental nesta fase, especialmente o hídrico, causa baixa polinização
e baixa granação da espiga, uma vez que
sob seca tanto os “cabelos” como os grãos
de pólen tendem à dissecação. Insetos como a lagarta-da-espiga, que se alimenta dos
“cabelos” devem ser combatidos caso haja
necessidade. A absorção de potássio (K)
nessa fase está completa, enquanto nitrogênio (N) e fósforo (P) continuam sendo
absorvidos.
A liberação do grão de pólen pode iniciar ao amanhecer, estendendo-se até o
meio-dia, no entanto, esse processo raramente exige mais de quatro horas para sua
complementação. Ainda sob condições favoráveis, o grão de pólen pode permanecer
viável por até 24 horas. Sua longevidade,
entretanto, pode ser reduzida quando submetido à baixa umidade e a altas temperaturas (MAGALHÃES et al., 1994).
O estabelecimento do contato direto
entre o grão de pólen e os pêlos viscosos
do estigma estimula a germinação do primeiro, dando origem a uma estrutura denominada tubo polínico, que é responsável pela
fecundação do óvulo inserido na espiga.
A fertilização ocorre de 12 a 36 horas após
a polinização, período esse variável em
função de alguns fatores envolvidos no
processo, tais como teor de água, temperatura, ponto de contato e comprimento do
estilo-estigma (MAGALHÃES et al., 1994;
FANCELLI; DOURADO NETO, 2000).
Estádio R2 - grão bolha d’água
Os grãos neste estádio apresentam-se
brancos na aparência externa e com aspectos de uma bolha d’água. O endosperma,
portanto, está com coloração clara, assim
como o seu conteúdo, que é basicamente
um fluido, cuja composição são açúcares.
Embora o embrião esteja ainda desenvolvendo vagarosamente nesse estádio, a
radícula, o coleóptilo e a primeira folha
embrionária já estão formados. Assim, dentro do embrião em desenvolvimento já se
encontra uma planta de milho em miniatura.
A espiga está próxima de atingir seu tamanho máximo.
Os estilos-estigmas tendo completado sua função no florescimento estão
agora escurecidos e começando a secar
(MAGALHÃES et al., 1994, 2002).
A acumulação de amido está-se iniciando, passando pela fase anterior à sua
formação que é a de açúcares, fluido claro
presente nos grãos. Esses grãos estão iniciando o período de rápida acumulação de
massa seca; esse rápido desenvolvimento
continuará até próximo ao estádio R6. N e P
continuam sendo absorvidos e a realocação desses nutrientes das partes vegetativas para a espiga tem início nesse estádio.
A umidade de 85% nos grãos nessa fase,
começa a diminuir gradualmente até a
colheita (MAGALHÃES; JONES, 1990ab;
MAGALHÃES et al., 1994).
Estádio R3 - grão leitoso
Esta fase é iniciada normalmente 12 a
15 dias após a polinização. O grão apresentase com aparência amarela e no seu interior
contém um fluido de cor leitosa, o qual
representa o início da transformação dos
açúcares em amido, contribuindo assim
para o incremento de massa seca. Tal incremento ocorre, devido à translocação dos
fotoassimilados presentes nas folhas e no
colmo para a espiga e grãos em formação.
A eficiência dessa translocação, além de
ser importante para a produção, é extremamente dependente de água (MAGALHÃES;
JONES, 1990a; MAGALHÃES et al., 1998).
Embora nesse estádio o crescimento do
embrião ainda seja considerado lento, ele
já pode ser visto, caso haja dissecação. Esse
estádio é conhecido como aquele em que
ocorre a definição da densidade dos grãos
(MAGALHÃES et al., 1994; FANCELLI;
DOURADO NETO, 2000).
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006
23
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
Os grãos nesta fase apresentam rápida acumulação de massa seca, com cerca
de 80% de umidade, e as divisões celulares dentro do endosperma apresentam-se
essencialmente completas. O crescimento,
a partir desse momento, é devido à expansão e enchimento das células do endosperma com amido.
O rendimento final depende do número
de grãos em desenvolvimento e do tamanho final que eles alcançarão. Um estresse
hídrico nesta fase, embora menos crítico
que na fase anterior, pode afetar a produção. Com o processo de maturação dos
grãos, o potencial de redução na produção
final de grãos, devido ao estresse hídrico,
vai diminuindo. Embora, nesse período, a
planta deva apresentar considerável teor
de sólidos solúveis prontamente disponíveis, objetivando a evolução do processo de formação de grãos, a fotossíntese
mostra-se imprescindível. Em termos gerais, considera-se como importante caráter
condicionador de produção a extensão da
área foliar que permanece fisiologicamente
ativa após a emergência da espiga. Períodos nublados ou de reduzida intensidade
luminosa acarretarão, nessa fase, a redução da fotossíntese e aumento do nível de
estresse da planta, implicando na redução da taxa de acúmulo de massa seca do
grão e, conseqüentemente, redução na
produção final de grãos, além de favorecer a incidência de doenças do colmo
(MAGALHÃES et al., 1998, 2002).
Ainda nesse estádio, evidencia-se a
translocação efetiva de N e P para os grãos
em formação (MAGALHÃES; JONES, 1990b;
FANCELLI; DOURADO NETO, 2000).
Estádio R4 - grão pastoso
Este estádio é alcançado com cerca de
20 a 25 dias após a emissão dos estilosestigmas, os grãos continuam se desenvolvendo rapidamente, acumulando amido.
O fluido interno dos grãos passa do estado leitoso para uma consistência pastosa,
e as estruturas embriônicas de dentro dos
grãos encontram-se totalmente diferenciadas. A deposição de amido é bastante
acentuada, caracterizando um período
exclusivamente destinado ao ganho de
peso por parte do grão. Em condições de
campo, tal etapa do desenvolvimento é
prontamente reconhecida, pois, quando os
grãos presentes são submetidos à pressão
imposta pelos dedos, mostram-se relativamente consistentes, embora ainda possam
apresentar pequena quantidade de sólidos solúveis, cuja presença em abundância caracteriza o estádio R3 (grão leitoso)
(MAGALHÃES et al., 1994).
Os grãos encontram-se com cerca de
70% de umidade em R4 e com a metade
do peso que eles atingirão na maturidade.
A ocorrência de adversidades climáticas,
sobretudo falta de água, resultará numa
maior porcentagem de grãos leves e pequenos, o que comprometeria definitivamente a produção.
Estádio R5 - formação de dente
Este período é caracterizado pelo aparecimento de uma concavidade na parte
superior do grão, comumente designada
“dente”, coincide normalmente com o 36o
dia após o princípio da polinização.
Nessa etapa, os grãos encontram-se em
fase de transição do estado pastoso para o
farináceo. A divisão desses estádios é feita
pela chamada linha divisória do amido ou
linha do leite. Essa linha aparece logo após
a formação do dente e, com a maturação,
vem avançando em direção à base do grão.
Devido à acumulação do amido, acima da
linha é duro e abaixo, macio. Nesse estádio,
o embrião continua se desenvolvendo, e,
além do acentuado acréscimo de volume
experimentado pelo endosperma, mediante
aumento das células, observa-se também a
completa diferenciação da radícula e das
folhas embrionárias no interior dos grãos
(MAGALHÃES et al., 1994; FANCELLI;
DOURADO NETO, 2000).
Alguns genótipos do tipo “duro” não
formam dente, o que torna esse estádio, nos
referidos materiais, mais difícil de ser notado, podendo estar apenas relacionado com
o aumento gradativo da dureza dos grãos.
Estresse ambiental nessa fase pode
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006
antecipar o aparecimento da formação da
camada preta, indicadora da maturidade
fisiológica. A redução na produção estaria
relacionada com o peso dos grãos e não
com o número de grãos. Os grãos neste
estádio apresentam-se com cerca de 55%
de umidade (MAGALHÃES et al., 1994).
Materiais destinados à silagem devem
ser colhidos nesse estádio. O milho colhido
nessa fase apresenta as seguintes vantagens: significativo aumento na produção de massa seca por área; decréscimo
nas perdas de armazenamento pela diminuição do efluente e aumento significativo no
consumo voluntário da silagem produzida
(FANCELLI; DOURADO NETO, 2000).
Estádio R6 - maturidade
fisiológica
Este é o estádio em que todos os grãos
na espiga alcançam o máximo de acumulação de massa seca e vigor, ocorre cerca de
50 a 60 dias após a polinização. A linha do
amido já avançou até a espiga e a camada
preta já está formada. Essa camada preta
ocorre progressivamente da ponta da
espiga para a base. Nesse estádio, além da
paralisação total do acúmulo de massa seca
nos grãos, acontece também o início do
processo de senescência natural das folhas das plantas, as quais gradativamente
começam a perder a sua coloração verde
característica (MAGALHÃES et al., 1994;
FANCELLI; DOURADO NETO, 2000).
O ponto de maturidade fisiológica caracteriza o momento ideal para a colheita
ou ponto de máxima produção, com 30%38% de umidade, podendo variar entre
híbridos. No entanto, o grão não está ainda
em condições de ser colhido e armazenado
com segurança, uma vez que deveria estar
com 13% a 15% de umidade, para evitar
problemas com a armazenagem. Com cerca de 18% a 25% de umidade, a colheita já
pode acontecer, desde que o produto colhido seja submetido a uma secagem artificial
antes de ser armazenado.
A qualidade dos grãos produzidos pode ser avaliada pela porcentagem de grãos
ardidos, que interfere notadamente na des-
24
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
tinação do milho em qualquer segmento da
cadeia de consumo. A ocorrência de grãos
ardidos está diretamente relacionada com
o híbrido de milho e com o nível de empalhamento a que estão submetidas as suas
espigas. Ainda, de forma indireta, a presença de pragas, adubações desequilibradas
e período chuvoso no final do ciclo, atraso
na colheita e incidência de algumas doenças podem influir no incremento do número
de grãos ardidos (RITCHIE; HANWAY,
1989; MAGALHÃES et al., 1994).
A partir do momento da formação da
camada preta, que nada mais é do que a
obstrução dos vasos, rompe-se o elo de
ligação da planta-mãe e o fruto, passando
este a apresentar vida independente.
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O plantio direto constitui-se em um dos
mais eficientes sistemas de prevenção e
controle das erosões hídrica, eólica e solar, o que seria suficiente para justificar a
sua adoção. Além dessa importante vantagem esse sistema proporciona:
a) maior conservação de umidade no
solo;
b) melhor aproveitamento da água disponível pelas plantas;
c) menor amplitude térmica no solo, favorecendo a fisiologia e o desenvolvimento do sistema radicular das
plantas;
d) maior tolerância a períodos de estiagens (veranicos).
Uma vez que se conheça o comportamento climático e o balanço hídrico da
região, a ecofisiologia da cultura do milho
e as necessidades calóricas do genótipo a
ser utilizado podem-se determinar a melhor
época para o seu plantio.
Densidades de plantas acima e abaixo
de ótimo têm efeito negativo na eficiência com a qual a cultura converte radiação interceptada em massa seca de grãos.
E o aumento no rendimento de grãos resultante de menores espaçamentos deve-se
ao maior aproveitamento da radiação solar.
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Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
26
Manejo da fertilidade do solo
para a cultura do milho
Jeferson Antônio de Souza 1
Resumo - A cultura do milho tem apresentado evolução crescente, em termos de
produtividade, nos últimos anos. Além de variedades/cultivares com maior potencial
produtivo, têm-se verificado aumentos significativos não só no uso de fertilizantes,
mas também na adoção de práticas de manejo que aumentam a eficiência de aproveitamento dos fertilizantes, sobretudo os nitrogenados e potássicos. Práticas como
antecipação de nitrogênio e aumento na dose inicial de arranque têm proporcionado
altos rendimentos da cultura. Com a opção do Sistema Plantio Direto (SPD), produtores
rurais passaram a se preocupar com a construção da fertilidade do solo, por meio da
rotação de culturas e recuperação das áreas, principalmente daquelas antes com pastagens
degradadas, onde o milho surge como opção viável, e manutenção da cobertura do
solo. Todas essas alterações no sistema produtivo contribuem para altos rendimentos
obtidos em cultivos racionais da terra, sem degradá-la. Também o uso correto de
fertilizantes, além de proporcionar rendimentos mais elevados, tanto pelo incremento
na produtividade quanto pela redução dos custos de produção, contribui para a nãocontaminação do solo, dos cursos d’água e do lençol freático.
Palavras-chave: Zea mays. Adubação. Calagem. Produtividade. Plantio direto.
INTRODUÇÃO
A produtividade média mundial de milho tem aumentado de ano para ano, desde
a introdução dos híbridos, por volta da
década de 30. Os ganhos de produtividade
de milho, nos EUA, foram proporcionais
ao aumento do uso de fertilizantes minerais
nitrogenados, principalmente, de acordo
com Cardwell (1982). Também no Brasil, de
maneira geral, acréscimos nas produtividades de milho estão associados ao incremento na quantidade de fertilizantes aplicados e na busca por maiores eficiências
de utilização.
Para as altas produtividades de milho,
além de considerar as características climáticas, é imprescindível que se programem
manejos corretos do solo e da cultura, pois
estes exercem grande importância no processo produtivo. Nesse aspecto, devem ser
considerados fatores como: nível de fertilidade do solo, disponibilidade potencial
de nutrientes, época, forma e modo de aplicação de fertilizantes, absorção e acúmulo
de nutrientes pelo milho e translocação e
exportação de nutrientes.
Portanto, o rendimento da cultura depende da interação de vários fatores de
produção, que, se levados em consideração
no planejamento das adubações, sobretudo da nitrogenada, contribuirão para obter
altas produtividades.
De maneira geral, o incremento no consumo de fertilizantes pode ser apontado
como uma das principais razões para o
aumento das colheitas nas regiões tropicais
e subtropicais.
MANEJO DO SOLO
PARA ALTAS PRODUTIVIDADES
Considerações gerais
Os solos do Cerrado, devido à fragilidade do equilíbrio físico-químico requerem
manejo adequado da sua fertilidade, sob
pena de esgotamento nutricional, baixa
sustentabilidade e acelerado processo de
desertificação.
A evolução da pesquisa nesse tipo de
ecossistema tem feito com que o conhecimento do manejo da fertilidade do solo não
seja mais o fator limitante de altas produtividades. Pelo contrário, atualmente,
depende-se mais da consideração de fatores da planta e do ambiente produtivo como
um todo, do que do conhecimento do solo,
isoladamente. Como exemplo, pode-se citar
1
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTTP/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: jeferson@
epamiguberaba.com.br
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
a utilização de estádio fenológico da planta
como indicativo para se realizarem práticas
de manejo da cultura, como controle de
plantas daninhas, adubações de cobertura,
necessidade nutricional, etc.
Na avaliação da fertilidade do solo para
implantação da cultura, deve-se lançar mão
de conceitos dinâmicos que proporcionam
uma análise que considere o conjunto de
fatores disponíveis no solo. No entanto,
altas produtividades ainda são metas difíceis de alcançar por muitos, sobretudo,
porque os recursos naturais que regularmente resultam em altas produtividades
não estão disponíveis para todos. Por esta
razão, há, ainda, necessidade de construir
ou manejar adequadamente a fertilidade dos
solos do Cerrado.
Na busca por altas produtividades, os
desafios que os produtores enfrentam, segundo Hoeft (2003), podem ser agrupados
em cinco categorias, a saber: clima, manejo
de nutrientes, produtividade do solo, práticas culturais/potencial genético e manejo
de pragas (esses fatores já foram mencionados como recursos naturais reguladores
de altas produtividades).
Como o clima interfere afetando as altas
produtividades? O milho, como todas as
culturas, requer fornecimento adequado de
água, temperatura diurna e noturna adequadas e radiação solar abundante, para
permitir a otimização do potencial produtivo. Para uma produtividade de 10 t ha-1
de grãos, a cultura do milho necessita de
50 a 60 cm de água supridos pela combinação de precipitação e de água armazenada
no solo, conforme Hoeft (2003). Segundo
Fancelli (2000), no estádio V4, época em
que é definido o potencial produtivo do
milho (quando ocorre a diferenciação floral), não pode ocorrer disponibilidade de
água menor que 2 mm por dia, e temperatura inferior a 12oC por mais de 3 horas (no
mínimo 25 kg ha-1 de N). A radiação solar
está relacionada diretamente com a taxa de
fotossíntese, que diminui quando esta radiação é reduzida.
Produtividades elevadas somente são
possíveis, se nas plantas estiver inserido
27
o potencial genético. Cultivares, altamente produtivas, desde que adequadamente
manejadas, proporcionam altas produtividades. No entanto, práticas culturais
minimizam os estresses a que a planta pode
ser submetida e proporciona melhor aproveitamento do potencial genético.
O manejo de pragas/doenças contribui
para reduzir a concorrência do milho com
as plantas daninhas, insetos e doenças.
A pesquisa tem colocado à disposição do
agricultor, técnicas para superar os efeitos
adversos dessas pragas/doenças. Dentre
estas, podem ser citadas a seleção de variedades (melhoramento de plantas) com
resistência a doenças e rotação de culturas.
A produtividade do solo é fator de grande importância no processo produtivo.
Os solos do Cerrado geralmente são de fertilidade natural baixa, refletida, principalmente, pela alta capacidade de adsorção
de fósforo, baixa capacidade de troca catiônica, acidez elevada, baixos níveis de cálcio,
magnésio e micronutrientes, em função do
material de origem e/ou do alto intemperismo. Com o avanço da agricultura para
estas áreas tornou-se imprescindível manejar adequadamente as práticas envolvidas
no processo produtivo, sendo estas a única forma de conseguir altas produtividades. Todas as práticas visam à construção
da fertilidade do solo, minimizando as limitações impostas pela baixa fertilidade natural. Neste contexto, o plantio direto assume
papel de grande importância, e constitui a
forma mais eficiente de melhorar o sistema
de produção.
O manejo de nutrientes é essencial, do
ponto de vista ambiental, por minimizar as
perdas de nutrientes para o ambiente, e do
ponto de vista produtivo, por otimizar a
produtividade e reduzir os custos de produção. Estas perdas são significativas na
contaminação de águas subsuperficiais
pelo nitrogênio lixiviado (acúmulo de nitrato) e pela eutroficação de lagos e reservatórios, crescimento de algas e outras plantas aquáticas superficiais, principalmente
pelo arraste de fósforo pelas águas de erosão. A dose, a época e a forma de aplicação
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006
de nutrientes têm efeito favorável tanto na
produtividade das culturas, quanto sobre
o potencial de contaminação de mananciais
e represas. A forma do adubo nitrogenado pode ser fator determinante nas perdas
por volatilização, enquanto que, a dose de
potássio, aliada à textura do solo, pode
controlar suas perdas por lixiviação.
O manejo de nutrientes começa com a
análise de solo. Esta é a melhor ferramenta
para prever aplicações adicionais ou redução de adubações em novos cultivos e,
conseqüentemente, evitar contaminações
ambientais e proporcionar redução dos custos com fertilizantes.
Absorção e acúmulo
de nutrientes
As exigências nutricionais das plantas
de milho são variáveis ao longo do ciclo da
cultura, apresentando picos de máxima e
de mínima absorção. Torna-se imprescindível conhecer a marcha de absorção dos
nutrientes em função do tempo, para prever como e quando serão feitas as adubações. É igualmente importante conhecer o
acúmulo de nutrientes na planta para reposição eficiente dos nutrientes retirados em
maior quantidade e, dessa forma, manter o
equilíbrio nutricional do sistema produtivo.
A nutrição mineral das plantas de milho
influencia a colheita, devido também ao
controle sobre a área foliar nos primeiros
estádios de desenvolvimento. Isto porque,
segundo mencionado por Fancelli (2000),
a planta de milho é considerada uma das
mais eficientes na conversão de energia radiante e, conseqüentemente, na produção
de biomassa, visto que uma semente que
pesa, em média, 260 mg resulta em período
próximo a 140 dias, cerca de 0,8 a 1,2 kg de
biomassa por planta, e 180 a 250 g de grãos
por planta, multiplicando-se, aproximadamente, mil vezes o peso da semente que a
originou. Neste aspecto, o índice de área
foliar é determinante até da massa de grãos.
No florescimento, este índice deve estar
entre 4,5 e 6,0 (FANCELLI, 2000). A grande
importância do índice de área foliar pode
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
28
ser resumida pelo fato de o milho possuir
alto potencial e grande habilidade fisiológica na conversão de carbono mineral em
compostos orgânicos, que são translocados dos tecidos fotossinteticamente ativos, que são a fonte, para locais da planta
onde serão acumulados, os denominados
drenos. O estado nutricional da planta,
dentre outros fatores, pode governar a eficiência de conversão, favorecendo ou
não o processo da fotossíntese (de nada
adiantaria ter plantas com alta eficiência na
interceptação da radiação, com boa arquitetura foliar, com bom arranjo espacial e
população ideal, se o estado nutricional
está desbalanceado).
Semelhante à exigência nutricional, o
acúmulo de massa seca também é variável
ao longo do ciclo da cultura e, para o milho,
a absorção máxima de nutrientes por parte
da planta ocorre no estádio de 10 a 14 folhas. Tomando-se quantidade de nutriente
absorvida por unidade de raiz, por tamanho
de sistema radicular (FANCELLI, 2000),
verifica-se que, com exatamente quatro
folhas é que acontece a maior necessidade
em N, para isso, é que, atualmente, se pensa
em termos de antecipação do N. Sem esse
aumento no plantio ou sua antecipação não
seria possível satisfazer essa demanda da
planta.
O comportamento dos híbridos modernos altamente produtivos em comparação
com outros mais antigos tem o acúmulo de
massa seca semelhantes, enquanto, ao que
tudo indica, o acúmulo de nutrientes parece ter aumentado nos estádios iniciais em
híbridos mais produtivos. O reflexo direto
desta afirmação é a mudança nas recomendações das quantidades de nitrogênio na
adubação de plantio, passando atualmente
de 10 a 20 kg ha-1 para 30 a 45 kg ha-1 de N.
Pergunta-se então: Por que colocar mais
nitrogênio e mais cedo para a planta? Por
que se estuda tanto a antecipação do nitrogênio para a cultura do milho? Segundo
Fancelli (2000), o nitrogênio é fundamental
para o milho em função de garantir a diferenciação floral e de estimular o crescimen-
Translocação e exportação
de nutrientes
to do sistema radicular. Nesta fase inicial
da planta (até aproximadamente a 8a folha),
a raiz é o “dreno forte” e constitui a maior
prioridade da planta para proporcionar taxa
máxima de desenvolvimento do sistema
radicular para que, no estádio correspondente a 12 folhas, a planta possa apresentar
total atividade na absorção de nutrientes.
A importância indireta do N no crescimento do sistema radicular pode ser resumida no fato de ele modular a síntese da citocinina e esta ser o estimulante do sistema
radicular. Então, a restrição de N no início
do desenvolvimento do milho pode limitar
o sistema radicular, alterando-o, em termos de tamanho, arquitetura, etc., refletindo, negativamente, nas demais etapas da
planta.
Considerando-se os nutrientes N, P, K,
tem-se, no Quadro 1, a absorção pela raiz
em função do estádio fenológico. Para o N,
a quantidade é maior proporcionalmente
em relação ao número de raiz no estádio 1
(4 folhas), porém, em termos de quantidade
de N absorvida na unidade de tempo, a fase
mais importante seria 12 a 14 folhas. Portanto, o milho apresenta resposta à aplicação de N até a 12a folha. Para o fósforo,
observam-se duas fases importantes: estádio 1 (4 folhas) e logo após o florescimento
(estádio 5-6), sendo o P muito importante
no estádio de enchimento de grãos. O fósforo, assim como o potássio, é também
importante na massa dos grãos. A máxima
absorção do K ocorre quando a planta de
milho possui entre 12 e 14 folhas.
No Quadro 2, são mostrados valores
de exportação de nutrientes obtidos por
Andrade et al. (1975 ab), em plantas, na
fase de máximo acúmulo de massa seca da
parte aérea e por Hiroce et al. (1989), cujas
amostragens foram feitas após a maturação
fisiológica dos grãos.
A taxa de translocação do nutriente na
planta é variável entre os tecidos e é prérequisito para sua maior ou menor absorção depois do florescimento. Condições de
estresse hídrico limita a translocação de
carboidratos e nutrientes (VASCONCELOS
et al., 1983; SANGOI; ALMEIDA, 1994) e a
baixa fertilidade limita a absorção de nutrientes e, no caso do N, pode ser limitante
durante o período de enchimento de grãos.
Neste caso, é de grande importância a remobilização do N dos tecidos vegetativos.
É provável que cerca de um terço do N
e metade do P dos grãos, na maturidade,
seja proveniente de outras partes da planta (HANWAY, 1962). De acordo com
Fernandes et al. (1999), 71%-77% do N, 77%86% do P, 26%-43% do K, 3%-7% do Ca,
47%-69% do Mg, 53%-77% do S e
35%-87% do Zn foram translocados para
os grãos. A baixa translocação do cálcio
mostrada confirma sua quase imobilidade
dentro da planta e, segundo Vasconcelos
et al. (1983), no milho, o cálcio apresenta
baixa redistribuição de folhas e colmos para
a espiga. Segundo Andrade et al. (1975a),
QUADRO 1 - Absorção de nutrientes pelas raízes de milho em função do estádio fenológico
Estádios fenológicos
N
-1
P
-1
-1
K
-1
-1
(kg km de raiz dia ) (kg km de raiz dia ) (kg km de raiz dia-1)
4 folhas
3,12 x 10-4
0,62 x 10-4
0,42 x 10-4
9 folhas
1,77 x 10-4
0,13 x 10-4
0,17 x 10-4
12 a 14 folhas
1,88 x 10-4
0,19 x 10-4
1,50 x 10-4
Pendoamento
0,27 x 10-4
0,08 x 10-4
0,19 x 10-4
0,45 x 10-4
2,20 x 10-4
0,05 x 10-4
Início do enchimento
de grãos
FONTE: Fancelli (2000).
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Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
29
QUADRO 2 - Valores absolutos e relativos (grãos por planta toda) de macro e micronutrientes
acumulados nos grãos
Nutriente
Macronutriente
(A)
Exportação de nutrientes
Nos grãos
-1
Relativa
(B)
Exportação de nutrientes
Nos grãos
-1
Relativa
(kg t )
(% do total)
(kg t )
(% do total)
N
19,5
67
16,4
59
P
3,9
78
4,0
87
K
4,9
14
5,1
29
Ca
0,1
2
0,6
14
Mg
1,7
29
1,7
37
S
1,7
33
1,1
42
Nos grãos
Relativa
Nos grãos
Relativa
Micronutriente
B
-1
-1
(g t )
(% do total)
(g t )
(% do total)
2,8
15
3,3
19
Cu
_
_
1,1
15
Zn
21,4
52
28,8
56
FONTE: (A) Andrade et al. (1975ab) e (B) Hiroce et al. (1989).
a porção palha mais sabugo, em comparação aos grãos, é relativamente rica em Ca e
K e pobre em N, P, Mg e S.
Construção da fertilidade
do solo
O cultivo contínuo de determinada área
com a mesma cultura resulta no esgotamento acentuado do solo, com a conseqüente geração de produções insatisfatórias. Dessa forma, é de grande importância
um programa de rotação de culturas, alternando o cultivo do milho com leguminosas. Esta prática, inclusive, contribui para
redução na adubação nitrogenada do milho
cultivado após a soja.
Um sistema de plantio que apresenta
inúmeras vantagens na construção da fertilidade do solo é o Sistema Plantio Direto (SPD). Dentre os benefícios inerentes à
implantação do SPD, podem-se citar: maior
conservação da umidade do solo; maior
aproveitamento da água disponível pelas
plantas; contribui consideravelmente para a manutenção de níveis satisfatórios de
matéria orgânica no solo; propicia a ocorrência de menor amplitude térmica no solo,
favorecendo a fisiologia e o desenvolvimento do sistema radicular das plantas;
contribui para a melhoria da porosidade
total do solo; proporciona maior tolerância
da planta a períodos de estiagem; etc.
Não é possível pensar em construir a
fertilidade do solo sem pensar no aumento
da matéria orgânica. Este é o componentechave do Sistema e apresenta inúmeros
benefícios na ciclagem de nutrientes e
no uso deles pelas plantas. Segundo Sá
(1993), o aumento de 1 g dm-3 de C resulta
em acréscimo de 1,39 cmolc dm-3, na capacidade de troca catiônica (CTC) do solo e
que as taxas anuais de ganho na CTC do
solo a longo período são: na camada de
0,0-2,5 cm, 1,1 cmolc dm-3; na camada de
2,55 a 5,0 cm, 0,3 cmolc dm-3 e na camada de
5,0 a 10,0 cm, 0,28 cmolc dm-3 de solo (maior
CTC promove maior produção de fitomassa que, por conseguinte, promove maior
ciclagem de nutrientes). Também, aumento na CTC do solo é sinônimo de aumento
de P, devido à redução na adsorção de P,
à menor superfície de contato com o íon
colóide e à formação de formas orgânicas
de P. De acordo com conclusões de Sá
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006
(1993), as frações leves da matéria orgânica do solo influenciam mais a CTC nas
camadas até 5 cm de profundidade do que
as frações húmicas. Entretanto, os resíduos
culturais apresentaram significativa participação nessas frações. O manejo do N está
estreitamente relacionado com a biomassa
microbiana e as frações leves.
O desenvolvimento radicular do milho
é a conseqüência do uso de coberturas
mortas que produzem sistemas radiculares
abundantes aumentando a porosidade e reduzindo a resistência à penetração (Fig. 1).
O aumento da fertilidade em solos de
carga variável no SPD é resultante da interação do não-revolvimento do solo, associado à manutenção dos resíduos culturais.
É, portanto, a base para sistemas de produção de alta produtividade.
RECOMENDAÇÃO DE
ADUBAÇÃO E CALAGEM
Para a cultura do milho, as adubações
e correções do solo devem ser feitas com
base na análise do solo e, quando possível,
complementada pela análise de folhas. Para
que os resultados das análises de solo e
folhas sejam confiáveis, além da credibilidade do laboratório (10% do erro analítico), é imprescindível fazer boa amostragem.
De maneira geral, a recomendação de
adubos e corretivos é feita com auxílio de
tabelas próprias. Atualmente, segundo
Cantarella e Duarte (2004), merecem destaque os progressos nas tabelas de adubação, que passaram a levar em conta a
expectativa de produtividade e, indiretamente, a extração e exportação de nutrientes. Esses autores também apontam a
expansão do plantio direto como um fator
importante para a adoção de tecnologias
modernas na cultura do milho, ao mesmo
tempo que exige cuidados no manejo da
calagem e da adubação, especialmente a
nitrogenada, em virtude de potenciais implicações ambientais do excesso de N.
Em resumo, com o avanço das técnicas
de cultivo e dos aumentos de produtividade da cultura do milho, a recomendação
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
Fotos: Jeferson Antônio de Souza
30
Figura 1 - Área de plantio de milho (SPD) com cobertura de Brachiaria brizantha (braquiarão), vinte dias após dessecação
NOTA: Observa-se a abundância de raízes e a eficiência da cobertura do solo.
de adubos e corretivos não pode mais ser
feita com base em dados de laboratórios e
tabelas de adubação. Deve-se substituir o
conceito estático de fertilidade de solo, por
conceitos dinâmicos, que levam em consideração fatores que interagem alterando a
disponibilidade do nutriente em questão.
Em outras palavras, para se fazer recomendação não é mais suficiente verificar o nível ditado pela análise de laboratório e ir à
tabela. Isto porque, dois solos com a mesma
quantidade de P disponível e opostos em
relação à capacidade de água disponível,
por exemplo, podem ter o mesmo potencial
produtivo ou o mesmo conteúdo de P, se
for considerado apenas o resultado de laboratório, ou potenciais diferentes, se for
considerada a capacidade de armazenamento de água. É importante considerar
todos os fatores envolvidos e abolir de vez
as cartilhas de recomendação.
Amostragem de solo
e planta
A amostragem de solo é o componente
principal de recomendação de adubos e
corretivos e interfere diretamente nos resultados analíticos e na interpretação destes,
visando à programação das adubações e/ou
correções de solos. É o ponto de partida
para adubação/correção feita com eficiência.
Para a cultura do milho, assim como para
outras culturas anuais, a amostragem de
solo deve ser feita com base em conhecimentos científicos, adotando-se critérios
que façam com que a amostra coletada seja
a mais representativa possível das condições de fertilidade da área de implantação
da cultura. Nesse aspecto, o número mínimo
de amostras deve ser estabelecido de acordo com o procedimento de amostragem a
ser adotado: tradicional ou orientada – normalmente a orientada exige maior precisão
e, conseqüentemente, maior número de
amostras.
A amostragem tradicional consiste na
coleta de amostras simples, para compor a
amostra representativa do talhão supostamente uniforme – os critérios usuais são:
topografia e cor do solo ou mapa de rendimento da cultura. A amostragem orientada consiste na coleta de amostras simples, para compor a amostra composta por
unidade de área, orientada por coordenadas cartesianas, com o objetivo de fazer o
mapa de fertilidade e recomendação de adu-
bação. Em agricultura de precisão utilizase o Global Positioning System (GPS), segundo Fancelli e Dourado Neto (2004).
No sistema de cultivo convencional, as
amostragens são feitas na profundidade de
0-20 cm e, conforme o caso, até 20-40 cm.
No SPD, de até sete anos após a implantação, recomenda-se amostrar o solo nas
camadas 0-10 cm e 10-20 cm e, até 20-40 cm.
A estratificação da camada superficial é
indicativo do potencial do solo em fornecer nutrientes de médio a longo prazo. Para ter o resultado na camada 0-20 cm, pois
as adubações e correções são calculadas
para camadas de 20 cm de solo, misturamse as amostras coletadas de 0-10 cm e de
10-20 cm. Em áreas com mais de sete anos
de SPD, portanto, em equilíbrio, pode-se
amostrar o solo de 0-20 cm e de 20-40 cm.
Em ambos os sistemas de cultivo, convencional ou plantio direto, devem-se adotar
estratégias de amostragem que incluem
linhas de plantio e entrelinhas. Para isso,
as amostras podem ser coletadas com tradagens nas entrelinhas e nas linhas de
plantio, colocando-se em um balde a terra
coletada e misturando-se em seguida, para
homogeneização. Daí será retirada a amos-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
tra para análise com, aproximadamente,
300 g. Outra maneira de retirar as amostras
consiste em abrir a cova na profundidade
de 20 cm, tendo de comprimento o espaçamento utilizado para as linhas de plantio,
tomando-se a metade do espaçamento para
cada lado. Assim, a linha de plantio deverá ficar no centro da cova (Fig. 2). Repetir o
procedimento em cerca de 20 pontos.
Ao contrário da análise de solo, o objetivo da análise foliar é conhecer o estado
nutricional da cultura, o que possibilita o
planejamento de cultivos posteriores, uma
vez que os resultados da análise foliar somente poderão ser úteis para a próxima
safra.
Por meio da análise foliar de amostras
colhidas na hora certa, conseguem-se boas
correlações entre as concentrações de nutrientes nas plantas e as produções obtidas.
De posse dos resultados da análise foliar,
podem-se calcular doses de fertilizantes,
uma vez que há boa correlação entre as
concentrações nutricionais da folha analisada, e doses necessárias para obter produtividades almejadas. Contudo, a análise
não deve ser melhor que a amostragem, isto
é, de nada adianta a análise bem-feita em
material colhido sem as devidas recomen-
31
dações. Admite-se que mais de 90% dos
erros cometidos na interpretação dos resultados de análise sejam devidos à amostragem e não à análise realizada.
É de conhecimento amplo que as concentrações dos nutrientes nas diversas
partes da planta são variáveis em função
do estádio de desenvolvimento, além de
outros fatores. De maneira geral, o início
da floração é a época mais indicada para
amostragem na maioria das culturas. Para
o milho, a recomendação é colher o terço
médio da folha abaixo da espiga (folha + 4,
a partir do ápice), retirando-se a nervura
central, na época da inflorescência feminina (cabelo). Devem-se amostrar pelo menos
30 plantas por talhão ou gleba.
Para obter sucesso no cultivo do milho,
o agricultor deve lançar mão de resultados
de análise do solo, de amostras retiradas
antes do início do preparo da área de plantio, combinados com resultados de análise
foliar do cultivo anterior. Isto porque, as
análises de solo e de planta são complementares e, em conjunto, oferecem informações valiosas para a solução de problemas
nutricionais observados no cultivo anterior, além de possibilitar o planejamento da
adubação a ser feita.
Figura 2 - Esquema para orientar a coleta de amostras de solos em áreas já implantadas
FONTE: Comissão .... (1995 apud SOUSA; LOBATO, 2002).
NOTA: Também é útil para coletar amostras de solo após a retirada da cultura.
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Fertilidade atual
e fertilidade almejada
Muitas vezes a área de cultivo apresenta nível de fertilidade insuficiente para a
implantação e manutenção da cultura do
milho. Nesse caso, há necessidade de fazer correção das características químicas
do solo elevando os níveis atuais de disponibilidade de nutrientes a níveis consideravelmente mais altos, de acordo com as
exigências da cultura. Como orientação,
adotam-se os valores críticos dos macronutrientes no solo, definindo as faixas ótima e de deficiências, e de micronutrientes
no solo, definindo as faixas ótima, de deficiência e fitotoxidez (Fig. 3). Elabora-se,
então o fertigrama. Diante dos dados do
fertigrama, pode-se visualizar a necessidade de cada nutriente a ser adicionado pelas adubações. Assim, podem-se definir
estratégias de manejo a curto e a longo prazos, com o objetivo de alcançar o nível desejado de fertilidade do solo no sistema de
produção adotado.
Calagem
Para a cultura do milho no estado de
Minas Gerais, o cálculo da calagem é feito
por dois métodos com base em dois conceitos amplamente aceitos por técnicos e
Figura 3 - Fertigrama (solo): representação
esquemática da fertilidade almejada
FONTE: Fancelli e Dourado Neto (2004).
NOTA A – Informação de pesquisa e conhecimento empírico acumulado no
local de interesse, e da fertilidade
atual; B – Resultado da análise química do solo.
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
32
especialistas em fertilidade de solos: método da neutralização da acidez trocável e da
elevação dos teores de Ca, Mg e Al trocáveis e método da saturação por bases.
A gessagem pode ser uma prática adotada,
quando a camada subsuperficial apresentar Ca < 0,4 e/ou Al > 0,5 cmolc dm-3 e/ou
m > 30% e/ou relação Ca/t < 60. As quantidades de gesso a aplicar estão relacionadas diretamente com o valor do P remanescente (RIBEIRO et al., 1999).
Método da neutralização
da acidez trocável e
da elevação dos teores de Ca,
Mg e Al trocáveis
Neste método, são consideradas as características do solo e as exigências das
culturas. Com o cálculo da calagem, por
este método procura-se corrigir a acidez do
solo (para isso leva-se em consideração a
suscetibilidade ou tolerância do milho à
elevada acidez trocável – valor mt, que é a
máxima saturação por Al3+, e a capacidade
tampão do solo, valor Y) e elevar a disponibilidade de Ca e Mg de acordo com as
exigências da cultura do milho (valor X).
Para o milho, mt = 15%, X = 2,0 cmolc dm-3 e
Y é obtido de acordo com os dados apresentados no Quadro 3 ou por modelo de
regressão cúbico (Y = 4,002 – 0,125901
P-rem + 0,001205 P-rem2 – 0,00000362
P-rem3, R2 = 0,9998). Ambos em função
do valor de fósforo remanescente (P-rem).
Y é variável em função da capacidade tampão da acidez do solo. Então, a necessidade de calcário (NC) pode ser determinada
pela equação:
Método da saturação por bases
Neste método, considera-se a relação
existente entre o pH do solo e a saturação
por bases (V%). Devem ser determinados
os teores de Ca, Mg e K trocáveis e, em
alguns casos, de Na trocável, além da acidez potencial (H + Al) extraível em acetato
de cálcio 0,5 mol L-1 a pH 7,0 ou pelo estimado pelo método do pHSMP. O valor da
saturação por bases para a cultura do milho
é 50%. Então, pode-se determinar a necessidade de calcário por:
NC = T (50 – V)/100
Quantidade de calcário
A necessidade de calcário calculada
por um dos dois métodos citados referese à quantidade de CaCO3 ou calcário, por
hectare, com poder relativo de neutralização total (PRNT) de 100% a ser incorporado
na camada de 0 a 20 cm de profundidade.
No SPD a correção do solo deve ser feita,
obrigatoriamente, antes de sua implantação. A quantidade de calcário (QC) é ajustada em função da profundidade de correção. Esta QC pode ser referida como sendo a dose teórica, pois, na prática, a dose
de calcário deve ser calculada levando-se
em consideração: a porcentagem da superfície do solo a ser coberta com calcário
(SC, em %); a profundidade de incorporação do calcário (PI, em cm); o PRNT, em %.
Calcula-se a QC através da expressão:
QC = NC . (SC/100) . (PI/20) . (100/PRNT)
Adubação
A recomendação de adubação para a
cultura do milho, obrigatoriamente, deve ser
NC = Y [Al3+ – (2,0 . t/100)] + [15 – (Ca2+ + Mg2+)]
QUADRO 3 - Valores de Y para cálculo da capacidade tampão da acidez do solo em função dos
valores de fósforo remanescente (P-rem)
P-rem
(mg L-1)
Y
P-rem
(mg L-1)
Y
0a4
4,0 a 3,5
19 a 30
2,0 a 1,2
4 a 10
3,5 a 2,9
30 a 44
1,2 a 0,5
10 a 19
2,9 a 2,0
44 a 60
0,5 a 0,0
FONTE: Ribeiro et al. (1999).
feita com base nos resultados da análise
de solo e, sempre que possível, reforçada
pela análise foliar, principalmente em se tratando de micronutrientes. Para recomendação de nitrogênio lança-se mão da quantidade absorvida pela cultura em função
da produtividade almejada, descontandose a quantidade fornecida pelo solo, por
meio da matéria orgânica ou de restos de
culturas. Para os demais nutrientes, macro
ou micro, deve-se seguir a recomendação
contida na 5a aproximação (RIBEIRO et al.,
1999). Para interpretação da disponibilidade de fósforo, desde 1999 adotam-se os
valores do P remanescente, indispensável
nos laboratórios de análise de solo do estado de Minas Gerais.
Quando se pensa em recomendação de
adubação, dois tópicos são abordados direta ou indiretamente:
a) adubação de correção e
adubação com manutenção
Segundo Sousa e Lobato (2002), a adubação corretiva tem como objetivo transformar o solo de baixa fertilidade em solo
fértil. É importante conhecer o nível de fertilidade atual do solo e a fertilidade almejada. Para definir o nível de fertilidade que se
quer, é imprescindível conhecer o grau de
exigência da cultura.
Atualmente, com o avanço do SPD,
áreas cultivadas com milho dispensam adubações corretivas, sobretudo naquelas com
plantio direto já estabilizado.
Para obter melhores resultados com a
lavoura é fundamental que se conheçam
os fatores mais limitantes de cada área da
propriedade, pois isso possibilita a programação de adubação equilibrada, aplicandose, prioritariamente, os nutrientes mais deficientes (adubação de correção) e a dose
de manutenção dos nutrientes que estão
com teores ótimos no solo (adubação de
manutenção). De maneira geral, as adubações corretivas são mais comuns para
fósforo e potássio. As principais ferramentas disponíveis para esse fim são: histórico da área, análise de solo e análise de
folhas.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
33
b) adubação de plantio e adubação de
Quando se pretende cultivar o milho
no SPD, a adubação corretiva deve ser feita,
obrigatoriamente, antes da implantação,
pois este sistema impede o revolvimento
do solo. A adubação corretiva gradual pode ser utilizada, quando não se tem capital
suficiente para realizar a correção de uma
só vez. Consiste em aplicar no sulco de
plantio, quantidade de P superior à indicada para manutenção, até atingir, após
alguns anos, a disponibilidade de P desejada para cultivo do milho ou do sistema
de produção adotado.
Independentemente do método de correção do P, estando o solo corrigido com teor
classificado como adequado, recomendase apenas a adubação de manutenção.
semeadura pode ser colocado em sulcos
ou a lanço.
Atualmente, recomenda-se colocar no
plantio mais N (Quadros 4 e 5). No entanto,
tem-se questionado a necessidade de fazer
o parcelamento da adubação nitrogenada
para a cultura do milho, sobretudo em solos
argilosos devido, principalmente, ao maior
custo de produção. Hoje não há razão de
parcelar o N em condições de sequeiro, porque este está relacionado com a disponibilidade de água (FANCELLI, 2000). Para que
o parcelamento possa ser eficiente, a água
tem que estar no Sistema.
Resultados de pesquisa (FANCELLI,
2000; FANCELLI; DOURADO NETO,
2004) têm mostrado que uma cobertura po-
cobertura (parcelamentos)
Todo o fósforo a ser fornecido para a
cultura do milho deve ser colocado por
ocasião do plantio, a não ser quando se
tem que fazer adubação fosfatada corretiva. Nesse caso, o fósforo é colocado no
solo antes do plantio. Já o nitrogênio e o
potássio são fornecidos parte no plantio e parte em cobertura, ou ainda colocados juntos ou não em pré-semeadura.
O N em pré-semeadura tem sido usado em
recuperação de pastagens através da integração lavoura-pecuária. O potássio colocado junto com o N nas entrelinhas do milho tem como objetivo reduzir os custos.
Por outro lado, o potássio sozinho em pré-
QUADRO 4 - Adubação mineral para a cultura do milho em função da produtividade esperada de grãos
(2)
(3)
Disponibilidade de P
Produtivi-
(4)
N no
dade
plantio
-1
-1
(t ha )
Disponibilidade de K
(1)
N em
Baixa
Média
(kg ha )
Boa
Baixa
Média
Dose de P2O5
Dose de K2O
(kg ha-1)
(kg ha-1)
Boa
(5)
-1
(kg ha )
(6)
S
cobertura
Zn
-1
(kg ha )
(kg ha-1)
4a6
30-45
80
60
30
50
40
20
40
30
1-2
6-8
30-45
100
80
50
70
60
40
80
30
1-2
>8
30-45
120
100
70
90
80
60
120
30
1-2
FONTE: Dados básicos: Ribeiro et al. (1999).
(1) As doses de N no plantio foram alteradas, conforme sugerido por Fancelli (2000). (2) (3) Utilizar os critérios de interpretação apresentados em
Ribeiro et al. (1999). (3) (4) As coberturas devem ser feitas observando-se as recomendações contidas no Quadro 6. (5) Esta quantidade está
vinculada à aplicação de fertilizantes concentrados, sem enxofre. (6) Em solos deficientes ou com eficiência verificada no cultivo anterior.
QUADRO 5 - Adubação mineral para a cultura do milho em função da produtividade esperada de massa verde para silagem
(2)
(3)
Disponibilidade de P
Produtivi-
Disponibilidade de K
(1)
(4)
N no
dade
plantio
(t ha-1)
(kg ha-1)
N em
Baixa
Média
Boa
Baixa
Média
Dose de P2O5
Dose de K2O
(kg ha-1)
(kg ha-1)
Boa
cobertura
(5)
(6)
S
Zn
-1
(kg ha-1)
(kg ha )
(kg ha-1)
30-40
30-45
80
60
30
100
80
40
60
30
1-2
40-50
30-45
100
80
50
140
120
80
110
30
1-2
> 50
30-45
120
100
70
180
160
120
160
30
1-2
FONTE: Dados básicos: Ribeiro et al. (1999).
(1) As doses de N no plantio foram alteradas, conforme sugerido por Fancelli (2000). (2) (3) Utilizar os critérios de interpretação apresentados em
Ribeiro et al. (1999). (3) (4) As coberturas devem ser feitas observando-se as recomendações contidas no Quadro 6. (5) Esta quantidade está
vinculada à aplicação de fertilizantes concentrados, sem enxofre. (6) Em solos deficientes ou com eficiência verificada no cultivo anterior.
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Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
34
deria ser feita entre a 4a e a 6a folha (não
mais em número de dias, mas em número
de folhas) (Quadro 6).
Quanto ao número de coberturas,
recomendam-se fazer duas, em condições
de solos arenosos ou de alta percolação, e
três coberturas, apenas em sistema de pivô central. Existem trabalhos desenvolvidos na Embrapa Cerrados com pivô central
parcelando-se a adubação nitrogenada em
até dez vezes e não se encontrou diferença
significativa entre três e dez aplicações de
N em cobertura. Inclusive, quanto maior o
número de parcelamentos, maior é a chance
de perdas por volatilização e imobilização
(porque se trabalha sempre com N diluído).
Então, em sistemas de irrigação, devem-se
fazer, no máximo, três aplicações e, normalmente em termos gerais, recomenda-se apenas uma aplicação.
Com relação ao potássio, recomendase que a quantidade no plantio não seja
superior a 60 kg ha-1, devido ao efeito salino
(FANCELLI, 1998 apud FANCELLI, 2000).
No Quadro 7 são mostrados os índices salinos de alguns fertilizantes, com destaque
para o cloreto de potássio.
QUADRO 7 - Índice salino de fertilizantes
N-P2O5-K20
Índice
(%)
salino
Nitrato de amônio
34-00-00
101,7
Sulfato de amônio
21-00-00
69,0
Uréia
45-00-00
72,7
Nitrato de sódio
16-00-00
100,0
Superfosfato simples
00-20-00
7,8
Superfosfato triplo
00-45-00
10,1
MAP
11-55-00
26,9
DAP
18-46-00
29,0
Cloreto de potássio
00-00-60
116,3
Sulfato de potássio
00-00-54
46,1
Nitrato de potássio
14-00-46
73,6
Fertilizante
FONTE: Fancelli (2000).
NOTA: MAP - fosfato monoamônico; DAP fosfato diamônico.
Além da dose, outras estratégias podem contribuir para a adubação potássica
eficiente. Isto é importante porque o efeito
salino vai interferir na arquitetura da raiz,
a exemplo do que é mostrado na Figura 4
para a soja. Caso se tenha o solo corrigido,
com K na CTC do solo em nível adequado e CTC com valores também satisfatórios pode-se optar por colocar o K em présemeadura. Essa operação reduz em muito
o K na semeadura, o que proporciona germinação mais uniforme das plantas.
Nitrogênio
É de conhecimento amplo a importância
do nitrogênio na cultura do milho de altas
produtividades. A literatura tem mostrado
resultados com até 200 kg ha-1 de N, para
produtividades acima de 10 t ha-1. A resposta das culturas à adubação nitrogenada
depende, além do suprimento de nitrogênio
do solo, da dose aplicada, das características da planta e das condições de uso anteriores (OLIVEIRA; BALBINO, 1995), ou
seja, depende diretamente da forma como
a adubação foi realizada, da fonte empregada, das condições climáticas e do histórico
da área ou sistema de cultivo.
Em condições naturais, o N entra no
sistema através da fixação biológica e/ou
pela decomposição de resíduos de animais
e vegetais. Do N contido no solo, cerca de
90% está na matéria orgânica em forma
QUADRO 6 - Adubação de cobertura nitrogenada e de complementação potássica em milho
Parcelamento/Tipo
Época
Condição ou indicação
Nitrogênio (considerando o uso de
30 a 45 kg ha-1 de N na semeadura)
1 aplicação
4a a 6a folha
Solos argilosos e regiões muito chuvosas
2 aplicações
(1a) 4a folha
Solos arenosos e condição de alta percolação de N
(2a) 7a e 8a folha
3 aplicações
(1a) 4a folha
Sistemas de irrigação por pivô central
(2a) 6a a 8a folha
(3a) 10a folha
Potássio (considerando o uso de até
60 kg ha-1 de K2O na semeadura)
Pré-semeadura
1 a 8 semanas antes da semeadura
Solos corrigidos participação do K na CTC > 1,5 e CTC do solo > 4,5
Cobertura
A lanço
Antes de as plantas emergirem
Na superfície em faixas
Até a 6a folha
Incorporado
Até a 8a folha
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
35
Figura 4 - Arquitetura de raiz em função da concentração de sais
FONTE: Dados básicos: Teruel (1999 apud FANCELLI, 2000).
estável, porém não disponível para as
plantas. Este se torna disponível lentamente e em quantidades insuficientes para
satisfazer as exigências das plantas de milho em crescimento, apenas cerca de 2%3% do N da matéria orgânica são convertidos para a forma disponível a cada ano
(BELOW, 2002). E as plantas de milho requerem N em quantidades relativamente
grandes, de 1,5% a 3,5% da massa seca
da planta (STANGEL, 1984 apud BELOW,
2002). Como conseqüência, o restante do
N tem que ser adicionado através de fertilizantes químicos.
De acordo com Fancelli (2000) e Fancelli
e Dourado Neto (2004), para o milho, o potencial de produção é definido precocemente, ou seja, por ocasião da emissão da
4a folha (diferenciação floral). O número
de ovários e o número de óvulos contidos
na espiga são afetados pela disponibilidade de N, além da temperatura, do genótipo, da radiação solar e da densidade de
plantas (UHART; ANDRADE, 1995 apud
FANCELLI, 2000).
Na busca pela maior eficiência da adubação nitrogenada, três questões precisam
ser respondidas: quanto, como e quando
aplicar o N. As quantidades de N dependem diretamente da produtividade esperada, enquanto que a forma de aplicação
está condicionada à fonte e ao sistema de
cultivo da cultura. A época de aplicação
relaciona-se mais diretamente com a eficiência no aproveitamento do nutriente pela
planta. De qualquer forma, a adubação nitrogenada tem que ser planejada em função
da produtividade almejada, aproveitandose o máximo possível o investimento com
fertilizantes.
Quanto de nitrogênio aplicar?
A quantidade de N a ser fornecida para
a cultura do milho de altas produtividades
vai depender do sistema de plantio adotado (convencional ou direto, com ou sem
rotação de culturas). No plantio convencional, os métodos indiretos de recomendação são basicamente dois: aplicar de 15
a 20 kg de N por tonelada a ser produzida (YAMADA, 1996), ou considerar a necessidade da cultura para produção de
grãos e palhada, o fornecimento de N pelo
solo através da matéria orgânica (MO) e
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006
resíduos da cultura e a eficiência de utilização do N (MENGEL, 1996), conforme
Figura 5.
Atualmente é vantajoso utilizar sistemas
de produção planejados por sucessivas
safras. Dessa forma, procura-se, através da
rotação de culturas com exigências nutricionais diferentes, aproveitar melhor os resíduos de adubações anteriores.
No SPD não há revolvimento do solo, com manutenção dos resíduos na superfície. A liberação de nutrientes, pelo
processo de mineralização, depende, entre
outros fatores, das práticas de manejo e
das condições ambientais, da relação carbono/nitrogênio (C/N) dos resíduos.
O cultivo do milho, após gramíneas ou
leguminosas, apresenta um balanço diferenciado de N no solo, podendo influir no
rendimento de grãos. O cultivo após gramíneas (aveia-preta, por exemplo) apresenta
menor oferta de N na fase inicial, sobretudo,
devido à relação C/N mais elevada, o que
causa imobilização temporária de N. Para
Sá (1993), a faixa de resposta para produtividades acima de 8.000 kg ha-1 seria de
40 a 120 kg ha-1 de N.
O cultivo do milho após leguminosas
apresenta maior oferta de N ao sistema, e,
por conseqüência, menor resposta à adubação mineral. Nesse caso, Sá (1993) menciona que a faixa de resposta para produtividades superiores a 8.000 kg ha-1 situa-se
entre 20 e 60 kg ha-1 de N. Dessa forma,
para plantios de milho após soja, a recomendação é reduzir em 30 ou 40 kg de N
na adubação nitrogenada de cobertura
(RIBEIRO et al., 1999).
Como aplicar o nitrogênio?
Apesar de inúmeros estudos, ainda
restam dúvidas sobre como aplicar o adubo
nitrogenado, tanto no plantio convencional como no SPD, principalmente, com
relação ao custo da adubação. O aproveitamento de N pela cultura do milho depende, ainda, da eficiência da fonte nitrogenada.
Lara Cabezas e Yamada (1999) verificaram que a incorporação da uréia tem custo
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
36
Produção de
Fornecimento pelo solo
10.000 kg ha-1 de grãos (1,4% de N) = 140 kg ha-1 de N
+
10.000 kg ha-1 de palhada (1,1% de N) = 110 kg ha-1 de N
3% de MO (20 kg de N por 1% de MO) = 60 kg ha-1 de N
+
30% de N na palhada (40 kg ha-1 de N) = 33 kg ha-1 de N
Total = 250 kg ha-1 de N
Total = 93 kg ha-1 de N
Eficiência de utilização
de N igual a 75%
Necessidade de N via adubação
(250 - 93) / 0,75 = 209,3 kg ha-1 de N
Figura 5 - Necessidade de adubação nitrogenada para a cultura do milho
FONTE: Dados básicos: Mengel (1996).
NOTA: Para o milho após soja descontar 30-40 kg ha-1
MO - Matéria orgânica.
de, aproximadamente, 4,5 vezes maior que
sua aplicação na superfície. Entretanto, se
para cada quilo de N volatilizado deixa-se
de produzir 15 kg de grãos de milho, em
média, incorporando-se a uréia teria lucro
adicional de 120%, comparativamente com
a não-incorporação.
Resultados de diferentes anos de pesquisas mostraram perdas superiores a 40%,
quando a uréia é aplicada na superfície
da palha (LARA CABEZAS et al., 1997a),
ou quando se compararam perdas entre
aplicação superficial e incorporada (LARA
CABEZAS et al., 2000). Em trabalho de
Pöttker e Wiethölter (2000), a aplicação de
N nas linhas de semeadura de milho, em
geral, proporcionou rendimentos de grãos
mais elevados que a aplicação a lanço, mas
sem diferença significativa entre modos de
aplicação. Em outro estudo, Lara Cabezas
et al. (1997b) registraram perdas por volatilização acima de 30% e 70% de N aplicado
como uréia, respectivamente, em plantio
convencional e SPD (aplicação na superfície da palha). Já o nitrato e o sulfato de
amônio, nas mesmas condições apresentaram perdas inferiores a 15%, quando
aplicado na superfície nos dois sistemas
de cultivo. Portanto, dependendo da forma
de aplicação, deve-se optar por uma ou
outra fonte de N.
Quando aplicar o nitrogênio?
A aplicação tem sido feita basicamente
em três épocas: pré-semeadura, semeadura e cobertura, em uma ou mais épocas
combinadas. No geral, recomenda-se fazer
uma adubação de plantio, composta de 1/3
da adubação e uma (com 2/3) ou duas coberturas (com 1/3 + 1/3) com o restante da
adubação.
O N é um nutriente importante no estádio inicial de desenvolvimento da planta.
É na segunda semana após a emergência, que é definido o potencial de produção
(IOWA STATE UNIVERSITY, 1993 apud
FANCELLI, 1997). Dessa forma, há necessidade da disponibilidade de, pelo menos,
30 kg ha-1 de N nesta fase da planta.
Além disso, aproximadamente aos 20
dias após a emergência, a absorção de N
por unidade de raiz/dia é cerca de sete vezes maior que no pendoamento e 16 vezes
maior que no embonecamento (FANCELLI,
1997). Assim, a adubação de arranque é
importante para suprir a alta demanda ini-
cial exigida pelo sistema radicular incipiente da cultura. Segundo Ritchie et al. (1993
apud YAMADA, 1996), as curvas de
absorção mostram que, mesmo nos híbridos de ciclo longo, a fase de maior absorção de N ocorre entre 30 e 60 dias após a
emergência. Considerando que o N aplicado ao solo primeiro é retido pelos microrganismos e só depois de liberado (2 a 3
semanas ou mais) é absorvido pelas raízes. Pode haver déficit de N no período de
maior necessidade de absorção de N, principalmente, quando se faz cobertura tardia
ou se aplica pouco N no plantio.
Em um campo de observação da Ciba
Sementes, Yamada (1996) menciona
aumentos de 2.085 kg ha-1 de grãos (35 sacas) quando a adubação de 15 kg ha-1 de N
(plantio) mais 115 (em cobertura) foi alterada para 35 kg ha-1 (plantio) mais 85 (em
cobertura). Da mesma forma, Davanso
et al. (apud YAMADA; ABDALLA, 2000)
observaram que os melhores resultados
foram obtidos com aplicação de 40 kg ha-1
de N no plantio e 80 em cobertura no estádio V4 (quatro folhas totalmente abertas),
em relação à adubação toda no plantio.
No ano anterior, com melhor distribuição
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
de chuvas, estes mesmos autores verificaram não haver diferença significativa
entre a adubação toda no plantio comparada com 40 kg ha-1 no plantio + 80 kg ha-1
em cobertura. De acordo com Silva e Buzetti (2000), a melhor época de aplicação da
adubação nitrogenada foi metade da dose na semeadura e metade no estádio quatro a seis folhas desenvolvidas. Segundo
Broch e Fernandes (2000), a aplicação de
sulfato de amônio em cobertura aumentou
a produtividade, independentemente, da
adubação de plantio. Fórmulas contendo
S e Zn aumentaram a produtividade em
24% (com fórmulas sem S e Zn, o aumento
foi inferior a 10% em relação à testemunha,
sem cobertura nitrogenada).
Visando aumentar a disponibilidade de
N nos estádios iniciais de desenvolvimento
do milho, Basso et al. (1998ab) observaram
que, quando 75% do N total recomendado
(90 kg ha-1) foram aplicados até a semeadura (60 kg ha-1 27 dias antes da semeadura + 30 kg ha-1 no plantio – os 30 kg ha-1
restantes (25%) foram aplicados em cobertura), obteve-se o maior rendimento de
grãos comparativamente ao manejo tradicional (semeadura mais cobertura).
Silva et al. (2001) e Fuliaro et al. (2001)
relatam que plantas que receberam 100%
do N na semeadura tiveram maior produção de grãos. Em sistemas de rotação de
milho e soja, Vanzela et al. (2001ab) encontraram maiores produções aplicando-se
90 kg ha-1, independentemente, do esquema de rotação adotado.
Fósforo
Solos do Cerrado são reconhecidos como possuidores de fertilidade natural baixa,
fósforo nativo com teores reduzidos, cálcio,
magnésio e micronutrientes baixos, acidez
elevada e alta adsorção de fósforo.
Ao contrário do nitrogênio e do potássio, que são mais exigidos pela planta de
milho na fase inicial, apresentando resposta
até a 12a folha, o fósforo tem seu requerimento durante todo o ciclo da cultura (Quadro 1). De acordo com Karlen et al. (1988), a
planta de milho continua a absorver P do
37
devem-se considerar, além da questão relacionada com a adsorção do P, fatores que
governam diretamente sua disponibilidade para as plantas, como por exemplo, a
capacidade de armazenamento de água pelo
solo, uma vez que, aqueles com mesmo teor
de P disponível pode apresentar maior potencial produtivo em função da restrição
ou não de água. Cabe lembrar que o fósforo
é absorvido pelas plantas, preferencialmente, na forma iônica [-H2PO-4], e que as
raízes absorvem o íon pelo processo de
difusão, devido ao gradiente de concentração existente na solução do solo (MENGEL;
KIRKBY, 1978).
solo até próximo da maturação fisiológica
dos grãos sem declínio aparente nos estádios. Além de ser exigido durante todo o
ciclo da cultura, o P é o nutriente exportado em maior quantidade relativa, podendo
exportar aproximadamente 90% da quantidade absorvida, de acordo com os dados
mostrados no Quadro 2.
Com o baixo retorno de P ao solo, aliado ao alto poder adsortivo dos solos do
Cerrado, este nutriente é sabidamente um
dos mais limitantes à cultura do milho. Neste aspecto, a rotação de culturas é altamente
benéfica ao cultivo do milho sem degradação do solo.
A recomendação para adubação fosfatada no estado de Minas Gerais é feita
levando-se em consideração o teor de fósforo remanescente (P-rem), utilizado para
determinação de classes de interpretação
(Quadro 8). O método oficial para determinação de P disponível é o Mehlich 1.
No entanto, ao recomendar fertilizante
fosfatado para uma determinada área,
Potássio
O potássio é o segundo nutriente mais
exportado relativamente e quantitativamente pela cultura do milho (cerca de 20 kg t-1
de grãos). O máximo acúmulo de K na planta
de milho ocorre mais cedo em relação ao
nitrogênio e ao fósforo. Segundo Fancelli
(2000), plantas de milho respondem à aplica-
QUADRO 8 - Classes de interpretação da disponibilidade de fósforo e potássio de acordo com o
valor de fósforo remanescente (P-rem)
Classificação
(1)
P-rem
(mg L-1)
Muito baixo
(2)
Baixo
Médio
Bom
Muito bom
(3)
Fósforo disponível (P)
(4)
(mg dm-3)
0-4
 3,0
3,1 - 4,3
4,4 - 6,0
6,1 - 9,0
> 9,0
4 - 10
 4,0
4,1 - 6,0
6,1 - 8,3
8,4 - 12,5
> 12,5
10 - 19
 6,0
6,1 - 8,3
8,4 - 11,4
11,5 - 17,5
> 17,5
19 - 30
 8,0
8,1 - 11,4
11,5 - 15,8
15,9 - 24,0
> 24,0
30 - 44
 11,0
11,1 - 15,8
15,9 - 21,8
21,9 - 33,0
> 33,0
44 - 60
 15,0
15,1 - 21,8
21,9 - 30,0
30,1 - 45,0
> 45,0
(3)
Potássio disponível (K)
(4)
(mg dm-3)
–
 15
16 - 40
(5)
41 - 70
71 - 120
> 120
(1) Concentração de fósforo da solução de equilíbrio após agitar durante 1h a TFSA com solução de CaCl2 10 mmol L-1, contendo 60 mg L-1 de P, na relação 1:10. (2) Nesta classe apresentamse os níveis críticos de acordo com o valor do fósforo remanescente. (3) Método Mehlich-1.
(4) mg d m-3 = ppm (m v-1). (5) O limite superior desta classe indica o nível crítico.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
38
ção de K até atingirem 12a ou 14a folha,
tendo acúmulo máximo por volta da 4a folha.
A utilização de K no milho cultivado
em solos do Cerrado aponta resposta até
a dose de 300 kg ha-1 de K2O. Entretanto, recomenda-se não aplicar mais que
60 kg ha-1 de uma só vez no sulco de plantio,
pois doses maiores podem levar a quedas
de produtividade em função da redução na
população de plantas pelo efeito salino dos
adubos potássicos. Para minimizar o efeito
salino, pode-se aplicar parte do fertilizante
potássico em pré-semeadura ou fazendose uma ou mais coberturas. Aplicações tardias de potássio tendem a ser pouco eficientes, sobretudo se o fertilizante for aplicado em cobertura superficial e em solos
argilosos, nos quais o aprofundamento do
nutriente no solo por lixiviação é lento. Por
esta razão, a adubação de cobertura deve
ser feita quando a planta de milho apresentar no máximo seis folhas.
Enxofre e micronutrientes
A aplicação de enxofre para a cultura
do milho é dependente da fonte de adubos
utilizados no plantio ou em cobertura. Formulações com altas concentrações de NPK
não contêm S, podendo, nesse caso, levar
a deficiências em cultivos subseqüentes.
A utilização de fertilizantes como superfosfato simples e sulfato de amônio pode
fornecer enxofre suficiente para suprir as
exigências da cultura. Para detectar deficiências no solo, recomenda-se amostrar o
solo até a profundidade de 40 cm, uma vez
que para este nutriente pode haver deficiência temporária. Para os solos do estado
de Minas Gerais, a recomendação é aplicar 30 kg ha-1 de S por ocasião do plantio.
Áreas submetidas a aplicações de gesso,
em doses devidamente calculadas, não exigem aplicação de enxofre para a cultura do
milho.
A aplicação de micronutrientes tem
como objetivo corrigir a deficiência do
solo. Quando se pensa em altas produtividades com a cultura do milho cresce a
preocupação com adubação e micronutrientes. No caso específico de micronutrientes
com aplicação no solo, a correção deve ser
feita gradativamente, porque o limite entre
deficiência e toxidez é muito estreito. Sabese que o milho tem alta sensibilidade à deficiência de Zn, no entanto, apresenta sensibilidades inferiores ao Cu, Fe e Mn e muito
pouca a B e Mo. Com relação ao Mo, temse verificado efeito benéfico da sua adição
à cultura do milho. Araújo et al. (1996) mencionam que a aplicação de 90 g ha-1 de molibdênio, aos 15 dias após a emergência do
milho, proporcionou acréscimo de 14,3%
na produtividade. Estes autores também
verificaram redução de nitrato nas folhas,
quando o Mo foi aplicado aos 15 dias. Por
outro lado, Coelho et al. (1998) não encontraram acréscimo na produtividade no consórcio feijão-milho, com aplicação de Mo
(50 g ha-1 via foliar aos 25 dias após emergência).
De maneira geral, para o estado de Minas Gerais, recomenda-se adicionar Zn à
adubação de plantio à base de 1 a 2 kg ha-1
de Zn. Normalmente, utilizam-se formulações de fertilizantes contendo Zn ou aplicação de sulfato de zinco no solo com histórico de deficiências anteriores. Atualmente,
tem sido utilizada adubação foliar com Zn.
No cultivo de milho para silagem,
recomendam-se quantidades mais elevadas
de nutrientes, porque todo o material é
cortado e removido do campo antes que a
cultura complete seu ciclo. Nessas áreas, a
exportação de nutrientes é maior e exige,
por conseqüência, maior reposição através
de adubações, sobretudo de N e K. Com
relação ao K, deve-se ressaltar que as culturas, de maneira geral, apresentam consumo de luxo para esse elemento, o que pode
provocar maior absorção de K que, mesmo
adicionado em quantidades maiores será
retirado do sistema pela cultura. Portanto,
no cultivo para silagem recomenda-se planejar a adubação potássica de maneira que
a planta fique bem nutrida e ainda haja disponibilidade após a colheita.
constantes nestes Quadros para N foram
modificados de acordo com sugestões da
pesquisa, sendo que as quantidades totais
continuam praticamente as mesmas. Houve
modificação nas quantidades recomendadas para aplicação no plantio, com a conseqüente redução da cobertura, visando
maior quantidade de N mais cedo para o
milho e, assim, garantir todo o potencial
produtivo da planta.
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Nos Quadros 4 e 5 são apresentadas
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Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
42
Manejo da cultura do milho em Sistema Plantio Direto
José Carlos Cruz 1
Israel Alexandre Pereira Filho 2
Ramon Costa Alvarenga 3
Miguel Marques Gontijo Neto 4
João Herbert Moreira Viana 5
Maurílio Fernandes de Oliveira 6
Derli Prudente Santana 7
Resumo - O Sistema Plantio Direto (SPD) consolidou-se como tecnologia conservacionista, largamente aceita entre os agricultores, havendo sistemas adaptados a diferentes
regiões e níveis tecnológicos, do grande ao pequeno agricultor que usa tração animal.
Para o sucesso do SPD, além do revolvimento mínimo do solo e do controle químico de
plantas daninhas, são necessários a implantação de um programa de rotação de culturas
e o estabelecimento de cobertura morta sobre a superfície do solo. A rotação que envolve
as culturas da soja e do milho merece especial atenção, devido às extensas áreas que essas
duas culturas ocupam e ao efeito benéfico em ambas. Para o milho safrinha, em que há
sempre a expectativa de ocorrência de déficit hídrico, o SPD é essencial, pois geralmente
promove o aumento no teor de água disponível para as plantas e permite o plantio o
mais cedo possível, realizado imediatamente após a colheita. Hoje, sistemas de integração
lavoura-pecuária, que consistem no cultivo em rotação e/ou consorciação de culturas
anuais como milho, sorgo e milheto, com espécies forrageiras, principalmente as
braquiárias, representam excelente alternativa, que envolve a cultura do milho em SPD.
Palavras-chave: Zea mays. Cultivar. Prática cultural. Rotação. Climatologia. Cultura de
cobertura.
INTRODUÇÃO
Dos cereais cultivados no Brasil, o milho é o mais expressivo, com cerca de 40,8
milhões de toneladas de grãos produzidos, em área de, aproximadamente, 12,55 milhões de hectares (CONAB, 2006), referente a duas safras, normal e safrinha. Por suas
características fisiológicas, a cultura do mi-
lho tem alto potencial produtivo e já foi
obtida produtividade superior a 16 t ha-1,
em concursos conduzidos por órgãos de
assistência técnica e extensão rural e por
empresas produtoras de semente (COELHO
et al., 2003). No entanto, o nível médio nacional de produtividade é muito baixo, cerca
de 3.250 kg ha-1, demonstrando que os diferentes sistemas de produção de milho
deverão ser ainda bastante aprimorados
para obter aumento na produtividade e na
rentabilidade que a cultura pode proporcionar.
Neste artigo, são discutidos aspectos
relacionados com a escolha de cultivares,
exigências climáticas e cuidados no plantio
da cultura do milho, levando em consideração esses diferentes sistemas.
1
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected]
2
Engo Agro, M.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected]
3
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected]
4
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected]
5
Engo Agro, D.Sc.,Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected]
6
Engo Agro, Pós-Doc, Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: maurilio.oliveira@cnpms.
embrapa.br
7
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected]
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
MILHO EM SISTEMA PLANTIO
DIRETO (SPD)
Em termos de modernização da agricultura brasileira, a utilização do Sistema Plantio Direto (SPD) é uma realidade
inquestionável e a participação da cultura
do milho em sistemas de rotação e sucessão (safrinha) de culturas para assegurar
a sustentabilidade de SPD é fundamental.
A área plantada nesse sistema tem aumentado rapidamente, no Brasil, nos últimos
anos. Estima-se que, hoje, o SPD cubra
mais de 25 milhões de hectares, ou seja,
cerca de 50% da área com culturas anuais
no País.
O SPD consolidou-se como tecnologia
conservacionista, largamente aceita entre
os agricultores, havendo sistemas adaptados a diferentes regiões e aos diferentes
níveis tecnológicos, do grande ao pequeno
agricultor que usa a tração animal. Requer
cuidados na implantação, mas, depois de
estabelecido, seus benefícios estendem-se
não apenas ao solo e, conseqüentemente,
ao rendimento das culturas e à competitividade dos sistemas agropecuários, mas
também devido à drástica redução da erosão, reduz o potencial de contaminação
do meio ambiente e dá ao agricultor maior
garantia de renda, pois a estabilidade da
produção é ampliada, em comparação aos
métodos tradicionais de manejo de solo.
Por seus efeitos benéficos sobre os atributos físicos, químicos e biológicos do solo,
pode-se afirmar que o plantio direto é uma
ferramenta essencial para alcançar a sustentabilidade dos sistemas agropecuários
(CRUZ et al., 2001).
A cultura do milho tem a vantagem de
deixar grande quantidade de restos culturais que, uma vez bem manejados, podem
contribuir para reduzir a erosão e melhorar o solo. Dessa forma, sua inclusão em
esquema de rotação é fundamental. A sustentabilidade do sistema de produção não
está apoiada apenas em aspectos de conservação e preservação ambiental, mas
também nos aspectos econômicos e comerciais.
43
ROTAÇÃO DE CULTURA
A rotação que envolve as culturas da
soja e do milho merece especial atenção,
devido às extensas áreas que essas duas
culturas ocupam e ao efeito benéfico em
ambas (Quadro 1). Nessa rotação, como se
observa no Quadro 1, o milho plantado
após a soja produziu cerca de 9% a mais e
a soja plantada após o milho produziu 5%
e 15% a mais, quando comparados com os
plantios contínuos.
Existem experimentos que demonstram
os efeitos benéficos do milho, ao se estender até ao segundo ano da soja plantada
após a rotação (Quadro 2). Nesse exemplo,
a soja produziu 20,3% a mais no primeiro ano após o milho e 10,5% no segundo.
Essa diferença foi atribuída, além da menor
incidência de pragas e doenças, à maior
quantidade de nutrientes deixados pela palha do milho, principalmente o potássio, do
qual a soja é exigente. Na escolha da rotação de culturas, especial atenção deve ser
dada às exigências nutricionais das espécies escolhidas e à sua capacidade de extrair
nutrientes do solo, ao que a soja e o milho
se complementam satisfatoriamente.
Na implantação e na condução de um
sistema eficiente de plantio direto, é indispensável que o esquema de rotação de
culturas promova, na superfície do solo,
a manutenção permanente de palhada,
que nunca deverá ser inferior a 2,0 t ha-1 de
massa seca. Como segurança, recomendase que sejam adotados sistemas de rotação que produzam, em média, 6,0 t ha-1 ano-1
ou mais de massa seca. Nesse caso, a soja contribui com muito pouco, raramente
ultrapassando 2,5 t ha-1 de massa seca
(RUEDELL, 1998). Por outro lado, a cultura do milho, de ampla adaptação a diferentes condições, tem ainda a vantagem
de deixar grande quantidade de restos culturais, que, bem manejados, podem contribuir para reduzir a erosão e melhorar o solo
(FIORIN; CAMPOS,1998).
No Sul do Brasil, devido às condições
climáticas mais favoráveis, há maiores
opções de rotação de culturas, que envolvem tanto as culturas de verão como as de
QUADRO 1 - Efeito da rotação soja milho sobre o rendimento destas culturas
Rendimento
(kg ha-1)
Rotação
(A)
(B)
9.680 (100%)
6.160 (100%)
10.520 (109%)
6.732 (109%)
Soja após soja
3.258 (100%)
2.183 (100%)
Soja após milho
3.425 (105%)
2.517 (115%)
Milho após milho
Milho após soja
FONTE: Dados básicos: (A) Cruz (1982) e (B) Muzilli (1981) (apud DERPSCH, 1986).
QUADRO 2 - Rendimento de grãos de soja, em kg ha-1, no primeiro e segundo ano após milho,
comparado ao rendimento da soja sem rotação, conduzidos em Sistema Plantio
Direto (SPD)
Ano
Tratamento
Média
1987/
1988
1988/
1989
1989/
1990
1990/
1991
1991/
1992
1992/
1993
1993/
1994
1o ano após milho
1.838
3.366
3.980
1.883
4.456
4.691
2.746
3.280
2o ano após milho
1.499
3.234
3.730
1.716
4.340
3.979
2.589
3.012
Sem milho
1.440
3.180
3.724
1.136
3.663
3.565
2.378
2.727
FONTE: Dados básicos: Ruedell (1995).
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
44
inverno. No Brasil Central, as condições
climáticas, com quase total ausência de
chuvas entre os meses de maio e agosto,
dificultam a existência de cultivos de
inverno, exceto em algumas áreas com
microclima adequado ou com agricultura
irrigada. Essa situação dificulta ou deixa
poucas opções para o estabelecimento de
culturas comerciais ou mesmo culturas de
cobertura, isto é, culturas cuja finalidade
principal é aumentar o aporte de restos
culturais sobre a superfície do solo, exigindo que estas tenham características peculiares, como rápido desenvolvimento
inicial e maior tolerância à seca.
CULTURA DE COBERTURA
No início do SPD, é importante priorizar
a cobertura e o perfil de fertilidade do solo,
principalmente se as áreas apresentarem
certo grau de degradação. Durante o seu
crescimento e desenvolvimento, as espécies de cobertura contribuem efetivamente para a proteção do solo, bem como para
a manutenção de seus resíduos vegetais
(palhada) na superfície do solo. A cobertura vegetal (viva ou morta) representa a
essência do SPD, pois tem efeito na interceptação das gotas de chuva, evitando o
impacto direto sobre a superfície do solo,
reduzindo tanto a desagregação das partículas, que é a fase inicial do processo erosivo, quanto a velocidade de escorrimento
das enxurradas, melhora ou mantém a capacidade de infiltração de água, diminuindo
o efeito da desagregação do solo e evitando o selamento superficial, provocado pela
obstrução dos poros com partículas finas
desagregadas. Além disso, protege o solo
da radiação solar, diminui a variação térmica do solo, reduzindo a evaporação de água
e favorecendo o desenvolvimento de microrganismos, e ainda ajuda no controle
de plantas daninhas (ROSOLEM et al.,
2003).
Das espécies utilizadas como cultura
de cobertura, algumas merecem destaque,
por seus benefícios físico-químicos ao
solo, entre elas a aveia-preta, a ervilhacapeluda e o nabo-forrageiro, como plantas
antecessoras de inverno (ROS; AITA, 1996;
AMADO et al., 2000). Utilizando essas
espécies e o consórcio entre elas antecedendo ao cultivo do milho em SPD, Martins
e Rosa Junior (2005) concluíram que o uso
da cultura antecessora não influenciou a
produtividade do milho, que a aveia-preta
foi mais eficiente em manter o solo coberto
por maior tempo e aumentou o grau de
floculação do solo.
As culturas de milho e da aveia integradas e de forma planejada, no sistema de
rotação, proporcionam alto potencial de
produção de fitomassa, com elevada relação carbono/nitrogênio (C/N), garantindo
a manutenção de cobertura do solo, dentro
da quantidade mínima preconizada e por
maior tempo de permanência na superfície.
Diversos artigos relatam o efeito de
culturas de cobertura sobre a produtividade e a resposta à adubação nitrogenada,
na cultura do milho (BASSO; CERETTA,
2000; GONÇALVES et al., 2000; SOUZA et
al., 2003; CERETA et al., 2002; VARGAS
et al., 2005; LARA CABEZAS et al., 2004).
O uso generalizado do SPD e de culturas
de cobertura, no Sul do País, criou a necessidade de recomendar adubação nitrogenada para a cultura do milho adaptada a
esse novo cenário (AMADO et al., 2002).
No Brasil Central, as condições climáticas, com quase total ausência de chuvas
entre os meses de maio e agosto, dificultam
os cultivos de inverno, exceto em algumas
áreas com microclima adequado ou com
agricultura irrigada. Essa situação dificulta
ou deixa poucas opções para o estabelecimento de culturas comerciais ou mesmo
culturas de cobertura, isto é, culturas cuja
finalidade principal é aumentar o aporte de
restos culturais sobre a superfície do solo,
exigindo que estas tenham características
peculiares, como rápido desenvolvimento inicial e maior tolerância à seca. Bertin
et al. (2005) relatam que o plantio direto
não deve ser visto como receita universal,
mas como um sistema que exige adaptações locais.
Em regiões de clima tropical, temperatura e umidade elevadas favorecem a rápida
decomposição dos resíduos vegetais, dificultando a formação de camada adequada
de cobertura morta. Além do aumento na
velocidade de decomposição do material
vegetal, provocada pelas altas temperaturas, as culturas anuais não produzem
quantidade suficiente de fitomassa, e são
rapidamente metabolizadas pelos microrganismos do solo. Sem cobertura, o solo se
adensa mais facilmente, retém menor quantidade de água, atinge facilmente altas temperaturas e fica mais suscetível à erosão,
comprometendo o sistema. Portanto, na
seleção de espécies destinadas à cobertura
do solo em SPD, deve-se levar em consideração a quantidade e a qualidade dos resíduos vegetais, bem como sua capacidade
de reciclagem de nutrientes, com impacto
direto nos atributos químicos, físicos e biológicos do solo e na resposta das culturas
subseqüentes em SPD (LIMA et al., 2005).
Trabalhando com várias opções de rotação de culturas de verão (safra normal) e
de safrinha, na região de Rio Verde, GO,
Ferreira (1998) constatou que as maiores
produtividades de milho ocorrem sobre as
palhadas de algodão, girassol, guandu e
nabo-forrageiro, enquanto que, para a cultura da soja, as melhores respostas foram
sobre as palhadas de milho, aveia, sorgo e
milheto.
Hoje, sistemas de integração lavourapecuária, os quais envolvem culturas e
forrageiras, principalmente as braquiárias,
apresentam essas condições e representam
excelente alternativa, que envolve a cultura
do milho no SPD.
Um exemplo é o Sistema Santa Fé. Neste
Sistema, quando as condições climáticas
permitem, cultivam-se seqüencialmente
uma a duas culturas solteiras por ano e
uma última, a safrinha, que consiste de consórcio de uma cultura com uma gramínea
forrageira. A exploração agrícola, nessas
condições, caracteriza-se por um cultivo
solteiro no início da estação chuvosa, seja
soja, milho, ou arroz, e um cultivo de safrinha de milho ou sorgo associado a uma forrageira, comumente a Brachiaria brizantha
(OLIVEIRA et al., 2001). Geralmente, utilizam-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
se como cultura de safrinha o milho, o
sorgo ou o milheto, também em SPD. Como resultado, têm-se, a partir do segundo
ano ou mais de cultivo, solos agricultáveis
corrigidos, com altos níveis de fertilidade
e fisicamente estruturados. Essas áreas,
inicialmente de fertilidade comprometida,
passam a apresentar altos teores de matéria
orgânica, baixos níveis de acidez e elevada
infiltração de água no solo, em relação às
áreas onde ainda se utilizam práticas de
cultivo tradicionais (OLIVEIRA et al., 2001).
Outro enfoque do Sistema Santa Fé é sua
implantação anual, em regiões onde as condições climáticas não permitem a safrinha, consistindo no cultivo consorciado
de culturas anuais como milho, sorgo e milheto, com espécies forrageiras, principalmente as braquiárias, em áreas agrícolas,
em solos parcial ou devidamente corrigidos. As práticas que compõem o Sistema
minimizam a competição precoce da forrageira, evitando redução do rendimento das
culturas anuais, o que permite, após a colheita destas, a produção forrageira abundante e de alta qualidade para a alimentação animal, além de palhada em quantidade
e qualidade para a realização do plantio
direto na safra seguinte (COBUCCI et al.,
2001).
MILHO SAFRINHA X SISTEMA
PLANTIO DIRETO (SPD)
A implantação do milho safrinha, no
final do período chuvoso, deixa o agricultor
na expectativa de ocorrência de déficit
hídrico durante o ciclo da cultura. Assim,
toda estratégia de manejo do solo deve levar em consideração maior quantidade de
água disponível para as plantas. Nesse
caso, sempre que possível, deve-se optar
pelo SPD, pois oferece maior rapidez nas
operações, principalmente no plantio realizado simultaneamente à colheita, permitindo o plantio mais cedo. Além disso, o
SPD, com adequada cobertura da superfície do solo, permitirá o aumento da infiltração da água no solo e a redução da
evaporação, com conseqüente aumento no
teor de água disponível para as plantas.
45
Em algumas áreas de plantio direto, já se
constatou aumento do teor de matéria
orgânica do solo, afetando a curva de retenção de umidade e aumentando ainda
mais o teor de umidade para as plantas.
Embora exista grande diversidade de
preparo de áreas para o cultivo do milho na
segunda safra, predomina o emprego do
Plantio Direto Permanente (PDP) ou Temporário (PDT), visando antecipar a implantação do milho safrinha. No PDT, realiza-se
a semeadura direta do milho safrinha e o
preparo convencional para a soja. Nesse
caso, no verão, tem sido freqüente o preparo com grades.
Em áreas com grande infestação de
plantas daninhas, no momento da colheita da soja, e quando o agricultor não dispõe de máquina para semeadura direta,
utiliza-se o preparo com grades no outonoinverno. Uma desvantagem da grade aradora é que provoca grande pulverização
do solo. Além disso, o uso da grade continuamente no verão e na safrinha, por anos
sucessivos, pode provocar a formação do
“pé-de-grade”, uma camada compactada
logo abaixo da profundidade de corte da
grade, a 10-15 cm. Essa camada reduz a
infiltração de água no solo, o que, por sua
vez, irá favorecer maior escorrimento superficial e, conseqüentemente, a erosão do
solo e a redução da produtividade do milho
safrinha (DE MARIA; DUARTE, 1997; DE
MARIA et al., 1999) (Quadro 3).
CONDIÇÕES CLIMÁTICAS
O período de crescimento e desenvolvimento do milho é limitado pela água,
temperatura e radiação solar ou luminosidade. A cultura do milho necessita que
os índices dos fatores climáticos, especialmente a temperatura, precipitação e fotoperíodo, atinjam níveis considerados ótimos, para que o seu potencial genético de
produção se expresse ao máximo.
Temperatura
A temperatura possui relação complexa
com o desempenho da cultura, uma vez que
a condição ótima varia com os diferentes
estádios de crescimento e desenvolvimento da planta.
A temperatura da planta é basicamente
a mesma do ambiente que a envolve. Devido a esse sincronismo, flutuações periódicas influenciam nos processos metabólicos que ocorrem no interior da planta.
Nos momentos em que a temperatura é mais
elevada, o processo metabólico é mais acelerado e, nos períodos mais frios, o metabolismo tende a diminuir. Essa oscilação
metabólica ocorre dentro dos limites extremos tolerados pela planta de milho, compreendido entre 10oC e 30oC. Abaixo de
10oC, por períodos longos, o crescimento
da planta é quase nulo e, sob temperaturas
acima de 30oC, também por períodos longos, durante a noite, o rendimento de grãos
decresce, em razão do consumo dos pro-
QUADRO 3 - Rendimento de grãos da soja e do milho safrinha, em Latossolo Roxo, em Tarumã,
SP, no ano agrícola 1995/1996, após dez anos de implantação de sistemas de manejo do solo
Rendimento de grão
Manejo do solo
Safra de soja
Safrinha de milho
kg ha-1
%
kg ha-1
%
Grade aradora/Grade aradora
2.579
78
4.678
77
Escarificador + Grade niveladora/Grade niveladora
3.130
94
5.404
89
Escarificador + Grade niveladora/Semeadura na palha
3.144
95
5.682
94
Sistema Plantio Direto
3.310
100
6.046
100
FONTE: De Maria et al. (1999).
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
46
dutos metabólicos elaborados durante o
dia. Temperaturas noturnas elevadas, por
longos períodos, causam diminuição do
rendimento de grãos e provocam senescência precoce das folhas (APRAKU et al.,
1983)
A temperatura ideal para o desenvolvimento do milho, da emergência à floração, está compreendida entre 24oC e 30oC.
Comparando-se temperaturas médias diurnas de 25oC, 21oC e 18oC, verificou-se que
o milho obteve maior produção de matéria
seca e maior rendimento de grãos na temperatura de 21oC (WILSON et al., 1973).
A queda do rendimento sob temperaturas elevadas deve-se ao curto período de
enchimento de grãos, em virtude da diminuição do ciclo da planta (APRAKU et al.,
1983).
A planta de milho precisa acumular
quantidades distintas de energia ou simplesmente unidades calóricas necessárias
a cada etapa de crescimento e desenvolvimento. A unidade calórica é obtida através
da soma térmica necessária para cada etapa do ciclo da planta, desde o plantio até o
florescimento masculino. O somatório térmico é calculado através das temperaturas
máximas e mínimas diárias, sendo 30oC e
10oC, respectivamente, as temperaturas
referenciais para o cálculo. Com relação ao
ciclo, as cultivares são classificadas em
normais ou tardias, semiprecoces, precoces e superprecoces. Segundo Fancelli e
Dourado Neto (2000), as cultivares normais
apresentam exigências térmicas correspondentes a 890-1.200 graus-dia, as precoces,
de 831 a 890 e as superprecoces, de 780 a
830 graus-dia. Essas exigências calóricas
referem-se ao intervalo das fases fenológicas compreendidas entre a emergência
e o início da polinização. Dos materiais
existentes hoje no mercado, 25,25% são
classificados como hiperprecoces e superprecoces. As cultivares classificadas como precoces representam 65% e as cultivares semiprecoces e normais representam
14,75% das opções de mercado, respectivamente (CRUZ; PEREIRA FILHO, 2005).
Umidade do solo
O milho é muito exigente em água.
Entretanto, pode ser cultivado em regiões
onde as precipitações vão de 250 mm até
5.000 mm anuais, sendo que a quantidade
de água consumida pela planta, durante
seu ciclo, está em torno de 600 mm (CRUZ
et al., 1993). O consumo de água pela planta, nos estádios iniciais de crescimento,
num clima quente e seco, raramente excede
2,5 mm dia-1. Durante o período compreendido entre o espigamento e a maturação, o
consumo pode-se elevar para 5 a 7,5 mm
diários. Mas se a temperatura estiver muito elevada e a umidade do ar muito baixa,
o consumo de água poderá chegar até
10 mm dia-1 (AVELAR, 1986; MARINATO,
1980; MATZENAUER et al. , 1981).
A ocorrência de déficit hídrico na
cultura do milho pode ocasionar danos em
todas as fases. Na fase do crescimento vegetativo, devido ao menor elongamento
celular e à redução da massa vegetativa, há diminuição na taxa fotossintética.
Após o déficit hídrico, a produção de grãos
é afetada diretamente, pois a menor massa vegetativa possui menor capacidade
fotossintética. Na fase do florescimento,
a ocorrência de dessecação dos estilosestigmas (aumento do grau de protandria),
aborto dos sacos embrionários, distúrbios
na meiose, aborto das espiguetas e morte
dos grãos de pólen resultarão em redução
no rendimento (VALOIS, 1982). Déficit hídrico na fase de enchimento de grãos afetará o metabolismo da planta e o fechamento
de estômatos, reduzindo a taxa fotossintética e, conseqüentemente, a produção de
fotoassimilados e sua translocação para os
grãos.
Fotoperíodo
Entre os componentes climáticos que
afetam a produtividade do milho, está o
fotoperíodo, representado pelo número de
horas de luz solar, o qual é um fator climático
de variação sazonal, mas que não apresenta
muita variação de ano para ano. O milho é
considerado planta de dias curtos, embora algumas cultivares tenham pouca ou
nenhuma sensibilidade às variações do
fotoperíodo.
O aumento do fotoperíodo faz com que
a duração da etapa vegetativa aumente e
proporcione também incremento no número de folhas emergidas durante a diferenciação do pendão e do número total de
folhas produzidas pela planta.
Nas condições brasileiras, o efeito do
fotoperíodo na produtividade do milho é
praticamente insignificante.
Radiação solar
A radiação solar é um dos parâmetros
de extrema importância para a planta de
milho, sem a qual o processo fotossintético
é inibido e a planta é impedida de expressar
o seu máximo potencial produtivo. Grande parte da matéria seca do milho, cerca
de 90%, provém da fixação de CO2 pelo
processo fotossintético. O milho é uma
planta do grupo C4, altamente eficiente na
utilização da luz. Uma redução de 30% a
40% da intensidade luminosa, por períodos
longos, atrasa a maturação dos grãos ou pode ocasionar até mesmo queda na produção.
Em pesquisa para avaliar a produção
de sementes, verificou-se que o milho semeado em outubro teve redução na produtividade e no rendimento de sementes
beneficiadas, quando comparado com a
semeadura em março, que apresentou 60%
a mais na produtividade e maiores valores
no rendimento de beneficiamento nas peneiras 24, 22 e 20 e menores na peneira 18
e no resíduo final. Essa diferença foi atribuída ao fato de o período de enchimento
de grãos do milho semeado em outubro ter
ocorrido no mês de janeiro, quando se
constatou longo período com alta nebulosidade, com grande freqüência de período
chuvoso durante o dia, ou seja, com redução na radiação fotossinteticamente ativa,
necessária para implementar o processo
fotossintético.
CULTIVAR
Sem dúvida alguma, o primeiro passo
na produção do milho é a escolha da semente. O potencial produtivo do milho é o
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
somatório do potencial genético da semente (47,75%) e das condições ambientais
e manejo cultural (52,25%) (DUVICK,1992).
Conseqüentemente, a escolha correta da
semente pode ser a razão do sucesso ou
insucesso da lavoura. Existem, no mercado
brasileiro, mais de 230 tipos de cultivares
de milho e a escolha, com base no gosto
pessoal, disponibilidade e preço, pode não
ser a melhor. Dessa forma, pode-se afirmar
que existem cultivares adaptadas a qualquer região do País e a qualquer sistema de
produção, sendo provavelmente o insumo
moderno de uso mais generalizado na cultura do milho. A escolha de cada cultivar
deve atender a necessidades específicas.
Para isso, o produtor deve fazer uma avaliação completa das informações geradas
pela pesquisa, assistência técnica, empresas produtoras de sementes, experiências
regionais e pelo comportamento de safras
passadas. De acordo com o grau de melhoramento genético, encontram-se, hoje, no
mercado, variedades, híbridos duplos, triplos e simples, mas os triplos e simples podem ser modificados ou não.
As sementes das variedades melhoradas são de menor custo e, com os devidos cuidados na multiplicação, podem ser
reutilizadas por alguns anos, sem diminuição substancial da produtividade. São,
ainda, de grande utilidade em regiões onde,
devido às condições econômico-sociais e
de baixa tecnologia, a utilização de milho
híbrido torna-se inviável. Os híbridos só
têm alto vigor e produtividade na primeira geração (F1). É necessária a aquisição
de sementes híbridas todos os anos. Se os
grãos colhidos forem semeados, o que corresponde a segunda geração (F2), haverá
redução, dependendo do tipo do híbrido,
de 15% a 40% na produtividade, perda de
vigor e grande variação entre plantas.
Os híbridos simples são potencialmente mais produtivos que os de outros tipos,
apresentando maior uniformidade de plantas e espigas. São também os mais caros.
Os híbridos triplos também são bastante
uniformes e seu potencial produtivo é intermediário entre os híbridos simples e du-
47
plos. O mesmo ocorre com o preço de suas
sementes.
Os híbridos duplos são pouco mais variáveis em características da planta e da
espiga que os simples e triplos. O custo da
semente dos duplos é mais baixo que o preço da semente dos simples e triplos. Considerando que esses diferentes tipos de
cultivares apresentam grande variação tanto no custo da semente como no seu potencial produtivo, é óbvio que a escolha da
cultivar deve levar em conta o sistema de
produção que o agricultor usará. De nada
adianta usar semente de alto potencial produtivo e de maior custo, se o manejo e as
condições da lavoura não permitirem que a
semente expresse o seu potencial genético.
Na safra de 2005/2006, foram comercializadas 237 cultivares de milho, sendo
que 29 foram lançadas, substituindo 22 que
deixaram de ser comercializadas, demonstrando a dinâmica dos programas de melhoramento e a importância do uso de semente
no aumento da produtividade.
Existem, no mercado, variedades e híbridos. Verifica-se crescente aumento no número de híbridos simples, modificados ou
não (Quadro 4). Os híbridos simples e triplos, modificados ou não, representam hoje
cerca de 65,3% das opções para os produtores, mostrando tendência na agricultura
brasileira e maior necessidade de aprimorar
os sistemas de produção utilizados para
melhor explorar o potencial genético dessas
sementes (CRUZ; PEREIRA FILHO, 2005).
As cultivares classificadas como precoces
representam 64,55% das opções de mercado.
Normalmente, as novas cultivares disponibilizadas no mercado apresentam elevado potencial genético, além de outras
vantagens relativas a aspectos fitossanitários, físicos e fisiológicos, capazes de
proporcionar altas produtividades. Para
isso, informações, como o comportamento das cultivares em relação às principais
doenças, tipo de híbrido, ciclo, região de
adaptação, cor e textura de grãos, época e
densidade de plantio recomendada, entre
outras, são fornecidas, para que os agricultores possam explorar ao máximo o potencial genético dessas cultivares. Praticamente, para toda cultivar comercial são
apresentadas informações, pela empresa
responsável pelas sementes, sobre o comportamento da cultivar em relação às principais doenças. Com essas informações, os
agricultores poderão optar pelo plantio de
cultivares mais resistentes às principais
doenças que ocorrem em sua região.
ÉPOCA DE SEMEADURA
O período de crescimento e desenvolvimento é afetado pela umidade do solo,
temperatura, radiação solar e fotoperíodo.
A época de plantio é função desses fatores, cujos limites extremos são variáveis em
cada região agroclimática (MUNDSTOCK,
1995). A época de semeadura mais adequada é aquela que faz coincidir o período
de floração com os dias mais longos do
ano e a etapa de enchimento de grãos com
QUADRO 4 - Distribuição porcentual do número de cultivares de milho disponíveis no mercado nas
últimas safras
Tipo de cultivar
2002/2003
2003/2004
2004/2005
2005/2006
Híbridos simples
34,8
35,7
37,6
40,0
Híbridos triplos
31,3
29,7
28,4
25,3
Híbridos duplos
20,5
22,4
22,7
22,3
Variedades
13,4
12,2
11,3
12,4
Total de cultivares
207
233
230
237
Eliminadas/Novas
13 / 25
9 / 35
35 / 32
22 / 29
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Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
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o período de temperaturas mais elevadas
e alta disponibilidade de radiação solar.
Isto, considerando satisfeitas as necessidades de água pela planta. Gomes (1991)
verificou que as épocas em que obteve rendimento de grãos maiores e mais estáveis
foram aquelas em que os estádios de desenvolvimento de quatro folhas totalmente desenvolvidas e a floração ocorrem sob
boas condições de água no solo. Nas condições tropicais, devido à menor variação da temperatura e do comprimento do
dia, a distribuição de chuvas é que geralmente determina a melhor época de semeadura.
No Sul do Brasil, o milho geralmente é
plantado de agosto a setembro e, à medida
que se caminha para os Estados do CentroOeste e Sudeste, a época de semeadura
varia de outubro a novembro. Resultados
de pesquisa mostram que atraso na época
de plantio, além dos meses de setembro e
outubro, resultam em redução no ciclo da
cultura e no rendimento de grãos. Segundo Oliveira (1990), a época de semeadura
afeta várias características da planta, ocorrendo decréscimo mais acentuado no número de espigas por planta (prolificidade)
e no rendimento de grãos. Este autor relata
ainda que resultados da literatura mostram
que o atraso na semeadura pode resultar em perdas que podem ser superiores
a 60 kg ha-1 dia-1. Essa tendência pode ser
revertida se não houver déficit hídrico e
ocorrer a redução na temperatura do ar, nos
meses de fevereiro e março.
Por ser plantado no final da época recomendada, o milho safrinha tem sua produtividade bastante afetada pelo regime de
chuvas e por fortes limitações de radiação
solar e temperatura, na fase final de seu
ciclo. Além disso, como o milho safrinha é
plantado após uma cultura de verão, a sua
data de plantio depende da época do plantio dessa cultura e de seu ciclo. Assim, o
planejamento do milho safrinha começa
com a cultura do verão, visando liberar a
área o mais cedo possível. Quanto mais
tarde for o plantio, menor será o potencial
e maior o risco de perdas por seca e/ou
geadas (ALFONSI; CAMARGO, 1998;
OLIVEIRA et al., 1998; QUIESSI et al. ,1999;
BRUNINI et al., 1998; DUARTE et al., 2000).
Hoje, com os avanços nos trabalhos
na área de climatologia, o Brasil já tem um
Zoneamento Agrícola, elaborado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que fornece informações sobre as épocas de plantio de milho
tanto na safra como na safrinha, com menores riscos, para quase todo o País.
Nas regiões onde não ocorrem geadas,
o plantio do milho poderá ser feito o ano
todo, mas o agricultor deverá levar em consideração as alterações no ciclo da cultura,
que afetarão a época de colheita e, conseqüentemente, o calendário agrícola, podendo afetar a época de plantio de culturas
subseqüentes, como mostrado no Quadro 5. Além disso, o potencial produtivo
pode variar de acordo com as condições
climáticas resultantes da época de plantio.
Experimento com milho irrigado, realizado no Rio Grande do Sul, mostrou que
os rendimentos de grãos foram, em média, 15% e 48% inferiores na semeadura de
agosto e dezembro, respectivamente, em
relação à de outubro. Essas diferenças foram atribuídas a alterações na quantidade
de radiação solar disponível, em decorrência da época de plantio. No plantio em
dezembro, a alta porcentagem de plantas
estéreis pode também ter contribuído para
o baixo rendimento de grãos (SILVA et
al.,1999) .
PROFUNDIDADE DE
SEMEADURA
A profundidade de semeadura está condicionada aos fatores temperatura do solo,
umidade e tipo de solo. A semente deve
ser colocada numa profundidade que possibilite bom contato com a umidade do solo. Entretanto, a maior ou menor profundidade de semeadura vai depender do tipo
de solo. Em solos mais pesados, com drenagem deficiente ou com fatores que dificultam o alongamento do mesocótilo, atrapalhando a emergência de plântulas, as
sementes devem ser colocadas entre 3 e
5 cm de profundidade. Em solos mais leves
ou arenosos, as sementes podem ser colocadas numa profundidade entre 5 e 7 cm,
para se beneficiarem do maior teor de umidade do solo.
QUADRO 5 - Variação do ciclo de cultivares de milho em função da época de plantio, para a
produção de milho verde
Época de
semeadura
Normal
Precoce
Superprecoce
05 de fevereiro
124
117
108
05 de março
134
129
127
06 de abril
145
140
138
05 de maio
139
138
137
08 de junho
138
133
131
09 de junho
146
134
125
12 de agosto
124
119
118
08 de setembro
125
118
115
07 de outubro
115
112
106
08 de novembro
116
112
107
09 de dezembro
115
115
112
FONTE: SANS et al. (apud CRUZ et al., 1993).
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
No SPD, onde há sempre acúmulo de
resíduos na superfície do solo, especialmente em regiões mais frias, a cobertura
morta retarda a emergência, reduz o estande
e, em alguns casos pode até causar queda
no rendimento de grãos da lavoura, dependendo da profundidade em que a semente foi colocada. O Quadro 6 mostra o
efeito da profundidade de semeadura sobre a emergência, o vigor e a duração do
período de emergência na cultura do milho.
Contrário à crença popular, a profundidade de semeadura tem influência mínima na profundidade do sistema radicular
definitivo, que se estabelece logo abaixo
da superfície do solo.
DENSIDADE DE PLANTIO
A densidade de plantio ou estande,
definida como o número de plantas por
unidade de área, tem papel importante no
rendimento de uma lavoura de milho, uma
vez que pequenas variações na densidade
têm grande influência no rendimento final
da cultura.
O milho é a gramínea mais sensível à
variação na densidade de plantas. Para cada
sistema de produção, existe a população
que maximiza o rendimento de grãos. A população ideal para maximizar o rendimento
de grãos de milho varia de 30 mil a 90 mil
plantas ha-1, dependendo da disponibilidade hídrica, da fertilidade do solo, do ciclo
49
da cultivar, da época de semeadura e do
espaçamento entrelinhas (SANGOI, 2001).
Vários pesquisadores consideram o próprio genótipo como principal determinante
da densidade de plantas (SILVA et al.,1999).
O aumento da densidade de plantas até determinado limite é a técnica usada com finalidade de elevar o rendimento de grãos da
cultura do milho. Porém, o número ideal de
plantas por hectare é variável, uma vez que
a planta de milho altera o rendimento de
grãos de acordo com o grau de competição
intra-específica proporcionado pelas diferentes densidades de planta (SILVA et
al.,1999).
O rendimento do milho aumenta com a
elevação da densidade de plantio, até atingir uma densidade ótima, que é determinada pela cultivar e por condições externas,
tais como edafoclimáticas do local e do
manejo da lavoura. A partir da densidade
ótima, quando o rendimento é máximo,
aumento na densidade resultará em decréscimo progressivo na produtividade da lavoura. A densidade ótima é, portanto, variável para cada situação e, basicamente,
depende de três condições: cultivar, disponibilidade hídrica e do nível de fertilidade
de solo. Qualquer alteração nesses fatores,
direta ou indiretamente, afetará a densidade
ótima de plantio.
Além do rendimento de grãos, o aumento da densidade de plantio também afeta
outras características da planta. Dentre
essas características, merecem destaque a
QUADRO 6 - Porcentagem de emergência, vigor e duração do período de germinação de sementes
de milho, em diferentes profundidades
Profundidade
Emergência
(cm)
(%)
2,5
100,0
3,0
8,0
5,0
97,5
3,0
10,0
7,5
97,5
3,0
12,0
10,0
80,0
2,5
15,0
12,5
32,5
0,7
18,0
(1)
Vigor
Duração média
(dia)
FONTE: Dados básicos: Fagundes (1975 apud BRESOLIN, 1993).
(1) Vigor aos 22 dias após semeadura. Notas: 3 para o máximo vigor e zero para o mínimo vigor.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006
redução no número de espigas por planta (índice de espigas) e o tamanho delas.
Também o diâmetro do colmo é reduzido e
há maior suscetibilidade ao acamamento e
ao quebramento. Além disso, é reconhecido que pode haver aumento na ocorrência
de doenças, especialmente as podridõesde-colmo, com o aumento na densidade de
plantio. Esses aspectos podem determinar o aumento de perdas na colheita, principalmente quando esta é mecanizada. Por
estas razões, não se recomendam densidades maiores, que embora em condições
experimentais apresentam maiores rendimentos, não são aconselhadas em lavouras
colhidas mecanicamente.
A densidade de plantio, dentre as técnicas de manejo cultural, é um dos parâmetros mais importantes. Geralmente, a causa
das quedas nos rendimentos de milho é o
baixo número de plantas por área. Entretanto, para que haja aumento da produtividade, é necessário que vários outros fatores, como o nível de fertilidade do solo,
o nível de umidade e as cultivares estejam
em consonância com o número de plantas
por área. Em termos genéricos, verifica-se
que cultivares precoces (ciclo mais curto)
exigem maior densidade de plantio em
relação a cultivares tardias para expressarem seu máximo rendimento. A razão dessa
diferença é que cultivares mais precoces,
geralmente, possuem plantas de menor
altura e menor massa vegetativa. Essas características morfológicas determinam menor sombreamento dentro da cultura, o que
possibilita, com isso, menor espaçamento
entre plantas, para melhor aproveitamento de luz. Mesmo dentre os grupos de cultivares (precoces ou tardios), há diferenças
quanto à densidade ótima de plantio.
Uma análise de mais de 237 cultivares
de milho comercializadas na safra 2005/2006
mostra que as variedades são indicadas para plantios com densidades que variam de
40 mil a 50 mil plantas por hectare, o que é
coerente com o menor nível de tecnologia
dos sistemas de produção empregados pelos agricultores que usam esse tipo de culti-
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
50
var. As faixas de densidades mais freqüentemente recomendadas para os híbridos
duplos variam de 45 a 55 mil plantas por ha,
havendo casos de recomendação até de
65 mil plantas por ha. Para os híbridos triplos e simples, é freqüente a densidade de
50 mil a 60 mil plantas por ha, havendo casos de recomendação de até 80 mil plantas
por ha. Deve ser ressaltado, entretanto, que
apenas 23 cultivares são recomendadas
com densidades de plantio igual ou maior
do que 70 mil plantas por hectare. A maioria
das empresas já está recomendando densidades de plantio em função da região,
da altitude e da época de plantio. Além disso, já existem empresas que recomendam a
densidade em função do espaçamento, o
que representa uma evolução. Dados de
pesquisa mostram vantagens do espaçamento reduzido (45 a 50 cm entre fileiras),
comparado ao espaçamento convencional
(80 a 90 cm), especialmente quando se utilizam densidades de plantio mais elevadas
(CRUZ; PEREIRA FILHO, 2005).
O surgimento de cultivares de milho de
ciclo mais curto, estatura reduzida, menor
número de folhas, sendo estas mais eretas,
aumentou o potencial de resposta da cultura à densidade de planta (ALMEIDA et
al., 2000).
O aumento e o arranjo da população de
plantas podem contribuir para a correta
exploração do ambiente e do genótipo, com
conseqüências no aumento do rendimento de grãos (AMARAL FILHO et al., 2002).
O arranjo de plantas basicamente pode ser
manipulado através de alterações na densidade de plantas e no espaçamento entre
fileiras.
A interceptação da radiação fotossinteticamente ativa pelo dossel exerce grande
influência sobre o rendimento de grãos da
cultura do milho, quando outros fatores
ambientais são favoráveis. Uma forma de
aumentar a interceptação de radiação e,
conseqüentemente, o rendimento de grãos,
é através da escolha adequada do arranjo
de plantas (SILVA et al., 2002). Teoricamente, o melhor arranjo de plantas de milho
é aquele que proporciona distribuição mais
uniforme de plantas por área, possibilitando melhor utilização de luz, água e nutrientes (ARGENTA et al., 2001; SANGOI,
2001).
Atualmente, a redução no espaçamento
entrelinhas e o aumento da densidade de
plantio são duas realidades na cultura de
milho. No mercado brasileiro, inclusive,
existem plataformas adaptáveis às colhedoras que realizam a colheita em espaçamentos de até 0,45 m.
Com relação à disponibilidade hídrica e
de nutrientes, observa-se que a densidade
deve ser aumentada sempre que esses fatores forem otimizados, para que seja atingido o máximo rendimento de grãos.
Em situações de áreas irrigadas ou
quando não há restrições hídricas é aconselhável usar o limite superior da faixa da
densidade recomendada. Um fator importante, quando se usa alta densidade de
plantio, é assegurar que a cultivar utilizada apresente grande resistência ao acamamento e ao quebramento.
De forma análoga ao suprimento hídrico, quanto maior for a disponibilidade de
nutrientes para as plantas, seja pela fertilidade natural do solo seja pela adubação,
maior será a densidade para se alcançar
o máximo rendimento. As interações mais
freqüentes entre o nível de fertilidade e a
densidade de semeadura se dão, principalmente, com a adubação nitrogenada
(XIMENES ,1991).
ESPAÇAMENTO ENTRE FILEIRAS
É muito variado o espaçamento entre
fileiras de milho nas lavouras, embora seja
nítida a tendência de sua redução.
Entre as vantagens potenciais da utilização de espaçamentos mais estreitos, podem ser citados:
a) o aumento do rendimento de grãos,
em função de distribuição mais eqüidistante de plantas na área, faz aumentar a eficiência de utilização de luz solar, água e nutrientes (PASZIEWICZ,
1996; FLÉNET et al., 1996);
b) melhor controle de plantas daninhas,
devido ao fechamento mais rápido
dos espaços disponíveis, o que diminui, dessa forma, a duração do
período crítico das plantas daninhas
(SWOBODA, 1996);
c) redução da erosão, em conseqüência
do efeito da cobertura antecipada
da superfície do solo (PENDLETON,
1965);
d) melhor qualidade de plantio, através da menor velocidade de rotação
dos sistemas de distribuição de sementes e maximização da utilização
de plantadoras. Diferentes culturas,
como, por exemplo, milho e soja, poderão ser plantadas com o mesmo
espaçamento, permitindo maior praticidade e ganho de tempo (TECNOLOGIAS..., 2003).
Tem sido também mencionado que os
espaçamentos reduzidos permitem melhor
distribuição da palhada de milho sobre a
superfície do solo, após a colheita, favorecendo o SPD.
Diversos trabalhos têm mostrado tendência de maiores produções de grãos em
espaçamentos mais estreitos (45 e 50 cm),
principalmente com os híbridos atuais, que
são de porte mais baixo e arquitetura mais
ereta (PAIVA, 1992; MEDEIROS; SILVA,
1975; PEREIRA FILHO et al., 1993). Sangoi
et al. (1998) encontraram aumento no rendimento de grãos de milho com redução no
espaçamento entre fileiras de até 50 cm.
Essa redução no espaçamento resultou
também em maior peso de grãos por espiga.
Esse comportamento deve-se aos milhos
atuais terem características de porte mais
baixo, melhor arquitetura foliar e menor
massa vegetal, o que permite cultivos mais
adensados em espaçamentos mais fechados. Devido a essas características, esses
materiais exercem menores índices de sombreamento e captam melhor a luz solar.
Avaliando diferentes cultivares de milho, espaçamento e densidade de plantio,
Cruz et al. (2004) verificaram que o rendi-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
mento de grãos cresceu com o aumento da
densidade de plantio, em ambos os espaçamentos (reduzido e normal), demonstrando que poderia aumentar ainda mais a
produtividade, com aumento na densidade de plantio. Entretanto, no espaçamento
de 0,50 m entre fileiras, a produtividade
apresentou maior ampliação, quando se
passou de 40 mil plantas ha-1 para 77.500
plantas ha-1, do que no espaçamento de
0,80 m, indicando que a redução de espaçamento é mais vantajosa, quando se
utilizam maiores densidades de plantio,
mais uma vez concordando com a observação de Hoeft (2003) de que o benefício
das linhas mais estreitas aumenta à medida
que cresce a população de plantas.
Quando se pensa em diminuir o espaçamento entrelinhas e/ou aumentar a densidade de plantas por área, a escolha do híbrido deve ser criteriosa. Geralmente, os
híbridos ou as variedades de porte alto
e ciclo longo produzem bastante massa
e quase sempre não proporcionam bom
arranjo das plantas dentro da lavoura e,
por essa razão, já no início do crescimento
é prejudicada a captação da luz. Os híbridos de menor porte, mais precoces desenvolvem pouca massa vegetal, com menor
quantidade de auto-sombreamento, o que
proporciona maior penetração da luz solar. Estas plantas permitem cultivo em menores espaçamentos e maiores densidades
(MUNDSTOCK, 1978).
Uma das dificuldades para o uso de
espaçamentos mais estreitos eram as colheitadeiras, que, muitas vezes, não se
adaptavam a esta situação. No entanto,
hoje, com a evolução do parque de máquinas agrícolas, esse problema já não
existe.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cultura do milho, por sua versatilidade, adapta-se a diferentes sistemas de
produção. Devido à grande produção de
fitomassa de alta relação C/N, a cultura é
fundamental em programas de rotação de
culturas em SPD. Embora apresente alto
51
potencial de produção, comprovado nos
concursos de produtividade e por agricultores que utilizam alto nível tecnológico, o
rendimento de milho, no Brasil, ainda é
muito baixo. Levando em consideração a
qualidade e o potencial da semente de milho disponível, com predominância dos
híbridos simples, verifica-se que é fundamental o aperfeiçoamento dos sistemas de
produção para que esses materiais possam
expressar ao máximo seu potencial genético, alcançando altas produtividades em
sistemas de produção sustentáveis.
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Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
54
Manejo de plantas daninhas
na cultura do milho
José Mauro Valente Paes 1
Roberto Kazuhiko Zito 2
Resumo – As plantas daninhas constituem grande problema para a cultura do milho.
Prejudicam a cultura, pois competem por luz solar, água e nutrientes. Dependendo do
nível de infestação e das espécies, podem dificultar a operação de colheita e comprometer
a qualidade do grão. O controle de plantas daninhas no Sistema Plantio Direto (SPD), que
já foi causa principal da desistência de produtores em continuar no sistema, hoje possui
enfoque prático, notadamente diferenciado do que vem acontecendo e, também, das
ferramentas que estão sendo colocadas à disposição dos técnicos e produtores para
melhor gerenciamento da questão. O manejo de plantas daninhas envolve vários métodos de controle, que devem ser utilizados de acordo com os fatores ligados à cultura
(espécie, cultivar, espaçamento, densidade e profundidade de plantio), à comunidade
infestante (espécie, densidade e distribuição), ao ambiente (solo, clima e tratos culturais)
e ao período de controle ou convivência. Com a utilização do manejo integrado de
plantas daninhas, devidamente orientado, é possível minimizar a utilização de herbicidas e, em alguns casos, pode-se buscar a sua exclusão no SPD na palha. Esta situação
permitirá reduzir os impactos negativos causados pelo uso dos herbicidas nos meios
físico, biótico e antrópico.
Palavras-chave: Zea mays. Plantio direto. Manejo integrado. Controle integrado. Controle
químico. Herbicida. Espécie nociva. Alelopatia.
INTRODUÇÃO
As plantas daninhas constituem grande
problema para a cultura do milho. Conforme a espécie, a densidade e a distribuição
da invasora na lavoura, as perdas são significativas. A invasora prejudica a cultura,
competindo com esta por luz solar, água e
nutrientes, podendo, a depender do nível
de infestação e da espécie, dificultar a operação de colheita e comprometer a qualidade do grão.
O controle de plantas daninhas consiste
na adoção de certas práticas que resultam
na redução da infestação, mas não neces-
sariamente na sua completa eliminação.
Resultados de pesquisa mostram que o
período crítico de competição das plantas
daninhas com o milho, em condições normais, ocorre entre 20 e 60 dias após a emergência da cultura. A competição é tolerável
após este período, por não afetar o rendimento do milho.
O manejo de plantas daninhas envolve
vários métodos de controle, que devem ser
utilizados de acordo com os fatores ligados
à cultura (espécie, cultivar, espaçamento,
densidade e profundidade de plantio), à comunidade infestante (espécie, densidade e
distribuição), ao ambiente (solo, clima e
tratos culturais) e ao período de controle
ou convivência.
O controle de plantas daninhas no Sistema Plantio Direto (SPD), que já foi causa
principal da desistência de produtores em
continuar no sistema, hoje possui enfoque
prático, notadamente diferenciado do que já
esta acontecendo e, também, das ferramentas que estão sendo colocadas à disposição
dos técnicos e produtores para melhor gerenciamento da questão (ADEGAS, 1997).
Pode-se dizer que o SPD na palha só
evoluiu, significativamente, no Cerrado a
1
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTTP/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: jpaes@epamig
uberaba.com.br
2
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTTP, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: [email protected]
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
partir do momento em que se conseguiu
dominar de modo satisfatório o manejo das
plantas daninhas, permitindo a adoção de
sistemas de controle que fossem eficientes
e de baixo custo (SCALÉA, 1998). Esta evolução foi conseqüência, principalmente, do
aprimoramento das técnicas de controle
dessas invasoras.
Muitos agricultores cometem o erro de
atribuir somente a um método a incumbência de controlar as plantas daninhas. O bom
manejo deve congregar todos os possíveis
métodos de controle (manejo integrado de
plantas daninhas), compondo estratégia
tecnicamente eficiente e economicamente
viável, para manter a sustentabilidade do
SPD na palha.
A associação de métodos de controle
deve ser utilizada sempre que possível,
porém é conveniente que a estratégia de
controle (melhor método, no momento
oportuno) esteja adaptada às condições
locais de infra-estrutura, como disponibilidade de mão-de-obra, implementos e
análise de custos. Os vários métodos de
controle atualmente disponíveis são apresentados a seguir.
CONTROLE PREVENTIVO
Consiste no uso de práticas que visam
prevenir a introdução, o estabelecimento
e/ou, a disseminação de determinadas
espécies em áreas ainda não infestadas.
A legislação nacional estabelece a relação
das espécies nocivas e seus respectivos
limites máximos específicos de tolerância,
para sementes de espécies daninhas toleradas e determina as proibidas. Isto evita
que contaminem novas áreas utilizando
sementes com impurezas. Nos Quadros 1 e
2, encontram-se a relação das sementes
nocivas toleradas e proibidas para o comércio de sementes fiscalizadas de grandes
culturas.
Além do uso de sementes livres de propágulos de plantas daninhas, outros cuidados são necessários, como uso de estrume,
palha ou compostos isentos de propágulos
de plantas daninhas proibidas, limpeza
completa dos equipamentos agrícolas antes
55
QUADRO 1 - Sementes nocivas proibidas para o comércio de sementes de grandes culturas
Limite máximo
Nome científico
Nome comum
por amostra
analisada
Cuscuta spp.
Cuscuta cipó-chumbo, fios-de-ovos
0
Cyperus rotundus
Tiririca-verdadeira
0
Echium plantagineum
Borrago
0
Eragrostis plana
Capim-annoni
0
Euphorbia heterophylla
Leiteira, amendoim-bravo
0
Oryza sativa
Arroz-preto
0
Rumex acetosella
Linguinha-de-vaca
0
Sorghum halepense
Capim-maçambará, sorgo-de-alepo
0
Vigna unguiculata
Feijão-miúdo
0
FONTE: Brasil (1986).
de entrar na lavoura ou em talhões, onde
existem espécies-problema e controle de
plantas daninhas próximas a canais de irrigação e margens de carreadores.
CONTROLE CULTURAL
O controle cultural consiste em aproveitar as próprias características do milho
e das plantas daninhas, de modo que a cultura leve vantagem sobre as invasoras.
A rotação de culturas, além de muitas
outras utilidades, é praticada como meio
de prevenir o surgimento de altas populações de certas espécies de plantas daninhas mais adaptáveis à determinada cultura. A monocultura por vários anos e a
aplicação dos mesmos herbicidas, ano
após ano, no mesmo solo favorecem o estabelecimento de certas espécies daninhas
tolerantes que aumentam sua interferência
sobre a cultura, refletindo negativamente
na produção, na qualidade dos produtos
e nos lucros. A escolha do tipo de cultura
a ser incluída em uma rotação, quando o
controle de plantas daninhas é o principal
objetivo, deve recair sobre plantas cujas
características sejam bem contrastantes
com o milho.
Para que a cultura do milho tenha vantagem competitiva em relação às plantas
daninhas, é importante que se tenha adequado espaçamento. Em termos práticos,
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006
o bom espaçamento é aquele que permite
cobertura do solo, quando a cultura atinge
seu pleno desenvolvimento vegetativo,
devendo ser diferenciado para os diferentes híbridos e variedades e condições
edafoclimáticas. É comum o uso de 0,75 m
entrelinhas e 4 a 6 sementes por metro para
a maioria dos híbridos e variedades. A variação do espaçamento entrelinhas ou da
densidade de plantas na linha pode contribuir para a redução da interferência de
plantas daninhas sobre a cultura. A redução do espaçamento entrelinhas geralmente proporciona vantagem competitiva
à maioria das culturas sobre as plantas daninhas sensíveis ao sombreamento.
CONTROLE QUÍMICO
O manejo químico é um método de controle de plantas daninhas eficiente desde
que usado adequadamente, de forma integrada com outros métodos. Pode ser usado
em toda a área cultivada, entretanto, antes
de sua utilização deve-se proceder a levantamento criterioso das espécies infestantes, do local, tanto quanto possível, sua
densidade (número de plantas por m2), bem
como sua distribuição. Somente, com base
nessas informações, torna-se possível partir para a escolha correta dos princípios
ativos e das doses a serem recomendadas,
com maior eficiência. Ao se usar este esque-
56
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
QUADRO 2 - Sementes nocivas toleradas para o comércio de sementes de grandes culturas
ma de controle, propicia-se redução das
plantas daninhas ao longo dos anos agrícolas, dos custos de controle e, em alguns
casos, até a redução da área a ser tratada
com herbicidas (BIANCHI, 1997). As alterações das importâncias relativas das
espécies, com a predominância de plantas
pouco comuns no sistema convencional,
constituem outro tipo de impacto que se
evidencia atualmente. Entretanto, esses
impactos são resultantes de integração dos
fatores acima comentados e da aplicação
de herbicidas, especialmente os de manejo.
O uso do manejo químico das plantas
daninhas, pela aplicação de herbicidas, foi
o que possibilitou a eliminação do preparo
do solo, conduzindo a mudança do sistema
convencional de cultivo para a implementação do SPD na palha. O plantio direto,
em comparação com o tempo de agricultura
convencional, é uma prática relativamente
recente. As reduções iniciais da diversidade e densidade das plantas daninhas foram
os primeiros sinais do impacto deste sistema de cultivo sobre a dinâmica das comunidades infestantes. Da ação conjunta do
não-revolvimento do solo e da cobertura
morta que, em condições de bom controle
de plantas daninhas, há tendência de desenvolver menor população de infestantes
nos campos submetidos ao SPD do que ao
sistema convencional, como observado
por Almeida (1985b), em ensaios conduzidos em duas localidades do Paraná (Quadro 3).
Com o aprimoramento do manejo de
plantas daninhas e com a evolução dos próprios herbicidas, pode-se dizer que o SPD
na palha não é poluente, contribui para a
redução de utilização de insumos modernos e reduz o risco de contaminação do
meio ambiente. É preciso desmistificar a
crença de que o SPD na palha aumenta o
uso de herbicidas (SILVA, 1997).
Com a utilização do manejo integrado
de plantas daninhas, devidamente orientado, é possível minimizar a utilização de
herbicidas com redução de doses e, em
alguns casos, pode-se buscar a sua exclu-
Nome científico
Limite
máximo por
amostra
analisada
Nome comum
Acanthospermum hispidium
Carrapicho-de-carneiro
10
Aeschynomene rudis
Angiquinho
10
Amaranthus spp.
Caruru-gigante, bredo, caruru-de-espinho
15
Anthemis cotula
Macela-fétida
–
Avena fatua e A. barbara
Aveia-silvestre, aveia-selvagem
Bidens pilosa
Picão-preto
5
Borreria alta
Língua-de-vaca
10
Brachiaria plantaginea
Capim-marmelada, papuã
10
Sinapis arvensis
Mostarda-silvestre, mostarda-selvagem
10
Cassia tora e C. occidentalis
Fedegoso
10
Cenchrus echinatus
Capim-carrapicho, timbete
10
Chechrus echinatus
Erva-formigueira, ançarinha
–
Cirsium vulgares
Cardo
30
Croto glandulosus
Gervão-branco
10
Cyperus esculentus
Tiririca-amarela
_
Cyperus sesquiflorus
Capim-santo, capim-de-um-só-botão
–
Cyperus spp.
Tiririca-do-brejo, tiririca-falsa
5
Digitaria insularis
Capim-amargoso
–
Diodia teres
Poaia-do-campo, diodia
–
E. colonum
Capim-arroz, colônia
10
Echium plantagineum
Borrago
–
Euphorbia hetophylla
Leiteira, amendoim-bravo
–
Hiptis suaveolens
Mata-pasto, fazendeiro
–
Ipomoea aristolchiaefolia
Corda-de-viola, corriola, campainha
–
Ipomoea purpurea
Corda-de-viola, corriola, campainha
–
Oryza sativa
Arroz-vermelho
8
Pennisetum setosum
Capim-oferecido, capim-custódio
15
Polygonum convolvulus
Cipó-de-veado
10
Polygonum spp.
Erva-pessegueira, enredadeira, erva-de-bicho
10
Rapistrum rugosum
Mostarda-comum
20
Raphanus raphanistrum
Nabiça
5
Rumex acetosella
Linguinha-de-vaca
–
R. obtusifolius
Língua-de-vaca
10
Sida spp.
Guanxuma, guanxuma-branca, malva-preta
10
Sylybum marianum
Cardo-branco
–
Solanum spp.
Maria-pretinha, jóia, fumo-bravo
15
Xantium americanum
Carrapichão
15
10
Brassica campestris e
Echinocloa crusgalli e
Rumex crispus e
Xantim spp.
FONTE: Brasil (1986).
–
–
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
57
QUADRO 3 - Número de plantas daninhas por m2 em SPD e convencional, na sucessão soja trigo
e milho trigo determinado após a colheita do trigo – média de três anos
Londrina
Carambeí
Sistema
Soja
Milho
Soja
Milho
Plantio convencional
49
73
45
81
Plantio direto
33
47
17
09
são no SPD na palha. Esta situação permitirá reduzir os impactos negativos causados pelo uso dos herbicidas nos meios
físico, biótico e antrópico.
A expectativa dos agricultores experientes do Brasil, do Paraguai e da Argentina
é que, pelo uso sistemático da adubação
verde e da rotação de culturas, assim como
o uso correto dos produtos químicos, se
consiga reduzir a quantidade de herbicidas
no SPD na palha em, aproximadamente,
80% da quantidade utilizada no sistema
convencional (DERPSCH, 1997). Além disso, essa redução de herbicidas possibilitará a implementação de uma agricultura
econômica, social e ecologicamente sustentável.
O método mais utilizado para controlar
as invasoras é o químico, isto é, o uso de
herbicidas. Suas vantagens são a economia de mão-de-obra e a rapidez na aplicação. Para que a aplicação dos herbicidas
seja segura, eficiente e econômica, exigemse técnicas refinadas. O reconhecimento
prévio das invasoras predominantes é condição básica para a escolha adequada do
produto (Quadros 4 e 5), que resultará no
controle mais eficiente das invasoras.
A eficiência dos herbicidas aumenta,
quando aplicados em condições favoráveis. É fundamental que se conheçam as
especificações do produto antes de sua
utilização e que se regule corretamente o
equipamento de pulverização, quando for
o caso, para evitar riscos de toxicidade ao
homem e à cultura.
Os herbicidas são classificados quanto
à época de aplicação, em pré-plantio, préemergentes e pós-emergentes. No Qua-
dro 6, encontram-se alguns produtos indicados para a cultura do milho.
Os herbicidas para o controle das plantas daninhas devem ser registrados no
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Em algumas situações
as Secretarias Estaduais de Agricultura
podem proibir o uso de determinado produto. Ao se pensar em controle químico
em milho, alguns itens devem ser considerados:
a) a seletividade do herbicida para a
cultura;
b) a eficiência no controle das principais espécies na área cultivada;
c) o efeito residual dos herbicidas para
as culturas que serão implantadas
em sucessão ao milho.
Dada a existência de legislação rigorosa
quanto à responsabilidade no uso de defensivos, torna-se necessário que as recomendações sejam feitas por engenheiro
agrônomo ou técnico devidamente credenciado que possa emitir receita específica
para cada caso.
EFEITOS ALELOPÁTICOS
O processo de decomposição da cobertura morta na superfície libera gradativamente
vários compostos orgânicos denominados
aleloquímicos, muitos deles interferindo
diretamente na germinação e emergência
de plantas daninhas (ALMEIDA, 1985a).
O processo de germinação das plantas daninhas, quando está intimamente ligado a
esses fatores, reduz substancialmente no
SPD com grande quantidade de cobertura
de palha.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006
O uso da cobertura de palha é o exemplo mais antigo de manejo econômico de
plantas daninhas. A presença dessa palha
é fundamental para o sucesso do plantio
direto, além dos importantes efeitos na conservação e manutenção da umidade do solo
e em causar, também, supressão das plantas
daninhas.
Existem numerosas evidências de que
os aleloquímicos podem alterar a absorção
de íons pelas plantas. Sem dúvida, este
fenômeno encontra-se associado ao colapso de outras funções, como a respiração e
a permeabilidade das membranas celulares. Os aleloquímicos podem atuar como
reguladores de crescimento vegetal, como
inibidores de fotossíntese, desreguladores da respiração e da permeabilidade das
membranas, inibidores da síntese protéica
e da atividade enzimática (PUTNAN, 1985).
Para que os produtos secundários liberados pelas coberturas mortas em plantio
direto tenham ação sobre as infestantes, é
necessário que esses atinjam no solo a concentração mínima a que elas são suscetíveis. Esta concentração é função da quantidade de aleloquímicos contidos na palha
e da velocidade com que são lixiviados para
o terreno. Para reduzir infestações, os aleloquímicos devem ser liberados gradativamente, para que seus efeitos se façam sentir
até que as culturas atinjam desenvolvimento suficiente para competir, com vantagem,
com as infestantes que venham surgir.
A decomposição do material vegetal é um
dos fatores que influenciam neste aspecto,
sendo que a maioria dos cereais tem decomposição lenta e, conseqüentemente,
ação alelopática longa, enquanto as dicotiledôneas têm decomposição rápida e, ação
alelopática alta no início, porém, de curta
duração (ALMEIDA, 1988).
A alelopatia pode ser analisada sob dois
enfoques diferentes. Ela pode ser preocupação pelas conseqüências negativas sobre o desenvolvimento da cultura ou ser
usada como forma de controle de plantas
daninhas que competem com o homem na
produção de alimentos (GASSEN; GASSEN,
1996).
Estrelinha
Botão-de-cachorro
Erva-de-touro
Apaga-fogo
Trapoeraba
Carrapichinho
Picão-preto
Picão-preto
Corda-de-viola
Leiteira
Alfinete-da-terra
Beldroega
Carrapicho-de-carneiro
Carrapicho-bravo
Caruru-rasteiro
Cipó-de-veado
Campainha
Guanxuma
Língua-de-vaca
Nabiça
Fazendeiro
Poaia-branca
Balãozinho
Falsa-serralha
Cordão-de-frade
Rubim
Fedegoso
Mata-pasto
Pega-pega
Anileira
Malva-branca
Malva-guaxima
Guanxuma
Guaxima
Guanxuma-dourada
Malva-preta
Agriãozinho
Hortelã-do-brejo
Erva-quente
Joá-de-capote
Maria-pretinha
Mentrasto
Esparguta
Nome comum
Sulfosate
S-metolachlor
Simazine
Sethoxydim
Paraquat
Nicosulfuron
Linuron
Isoxaflutole
Glyphosate
Diuron + Paraquat
Dimethenamid
2,4-D
Cyanazine
Carfentrazone
Bentazon
Atrazine + S-metolachlor
Atrazine + Simazine
Atrazine + Isoxaflutole
Atrazine
Ammonium-glufosinate
Ametryn
Alachlor + Atrazine
Alachlor
Acetochlor
• A A M • • • T T A • • S • • • A A P • •
- • • S • • - - • - - - • - - S - - - - - S - • S - • • S M • - - - - - - A S S • • - - - • A A - - - - - - • - - • S M P • • • T T - • • M • • • A A P • •
P • • M • • - - • - S - • - - S A - - - - S - • S - • • M P • - - - - - P S S - • • S A A • A A - - - - - - • - - • A A P • • • T T - • • P • • • A S M • •
S • • M • • - - • S - - • - - S - - - - - - - • S - • • S - • A S S - - M A A - • • A A A • A A - - - S - - • - - • A A M • • • T T P • • M • • • A A M • •
S • • A • • A A • A A S • - - A A S - - - A A • - - • • S M • - - A A S P S S - • • S A S • A A - - - S - - • S M • A M A • • • T T S • • - • • • A A M • •
S • • S • • A P • S A S • A A A S M - - - A S • A S • • A S • - - A P T S A A S • • A A A • A A - - - A A S • S M • A S P • • • T T A • • S • • • A S P • •
S • • P • • S A • S S M • A A S A M - - - S A • S A • • M P • A S M P P M A A P • • A A A • A A - - - M P P • - - • A A P • • • T T M • • S • • • A A P • •
- • • S • • A A • M S M • - - S A M - - - S S • A S • • S S • M - M P P M A A S • • - - - • A A - - - M P P • A - • S S M • • • T T M • • S • • • S S P • •
S • • M • • S S • S M M • A S S S S - - - S S • S S • • M M • S M M M P M S M - • • A A S • S M - - - S P P • - - • S S P • • • T T M • • S • • • S M P • •
- • • S • • - - • S M M • - - M P P - - - M P • M P • • S M • A M S P P P A S - • • - - - • A A - - - A P P • - - • S S P • • • T T P • • M • • • A S M • •
- • • S • • S - • - - - • - - M P P - - - - - • - - • • S M • - - S P - P A A - • • - A A • A A - - - S P P • - - • S S M • • • T T P • • M • • • A A M • •
- • • M • • S P • S M M • - - S M P - - - S P • S P • • M M • - - S P T M A A - • • A A S • A A - - - M M - • S - • S M P • • • T T M • • M • • • A - P • •
- • • M • • S M • S S M • - - S M - - - - - - • - - • • S M • - - M - - P A A - • • S - - • A A - - - - - - • - - • S S M • • • T T P • • M • • • A A M • •
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M • • P • • M P • M P P • - - M P P - - - M P • M P • • P P • - - M P P P M M - • • - - - • A A - - - P P P • - - • M M P • • • T T M • • P • • • - - P • •
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p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f
Trifluraline
NOTA: A - Altamente suscetível (acima de 95% de controle); S - Suscetível (de 85% a 95% de controle); M - Medianamente suscetível (de 50% a 85% de controle); P - Pouco suscetível (menos de 50% de controle); T - Tolerante (0% de controle); • - Nãorecomendável; p - Pré-emergência; i - Pós-emergência inicial (plantas daninhas com 2 a 4 folhas); f - Pós-emergência tardia (plantas daninhas com 4 a 8 folhas).
FONTE: Lorenzi (2000).
Ageratum conizoides
Stellaria media
Melampodium divaricatum
Melampodium perfoliatum
Tridax procumbens
Alternanthera tenella
Commelina benghalensis
Acanthospermum australe
Bidens pilosa
Bidens subalternans
Ipomoea grandifolia
Euphorbia heterophylla
Silene galica
Portulaca oleraceae
Acanthospermum hispidum
Xanthium cavalinesii
Amaranthus deflexus
Polygonum convolvulus
Ipomoea nil
Sida rhombifolia
Rumex obtusifolius
Raphanus raphanistrum
Galinsoga parviflora
Richardia brasiliensis
Cardiospermum halicacabum
Emilia sonchifolia
Lenotis nepetifolia
Leonurus sibiricus
Senna obtusifolia
Senna occidentalis
Desmodium tortuosum
Indigofera hirsuta
Sida cordifolia
Sida glaziovii
Sida santaremnensis
Sida spinosa
Sida urens
Sidastrum micranthum
Heteranthera limosa
Heteranthera reniformis
Spermacoce latifolia
Nicandra physaloides
Solanum americanum
Nome científico
Pendimethalin
QUADRO 4 - Comportamento de plantas daninhas de folhas largas em função da aplicação de herbicidas em pré-emergência, pós-emergência inicial e pós-emergência tardia para a cultura do milho
58
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006
Capim-angola
Capim-marmelada
Capim-carrapicho
Grama-seda
Capim-colchão
Capim-pé-de-galinha
Azevém
Capim-arroz
Capim-quicuio
Capim-argentino
Tiririca
Capim-colonião
Capim-oferecido
Capim-favorito
Brachiaria mutica
Brachiaria plantaginea
Cenchrus echinattus
Cynodon dactylon
Digitaria horizontalis
Eleusine indica
Lolium multiflorum
Echinocloa colonum
Pennisetum clandestinum
Sorghum halepense
Cyperus rotundus
Panicum maximum
Pennisetum setosum
Rhynchelytrum repens
Acetochlor
Alachlor
f p i
Alachlor + Atrazine
f p i
Ametrine
f p i
Ammonium-glufosinate
f p i
Atrazine
f p i
Atrazine + Isoxaflutole
f p i
Atrazine + Simazine
f p i
Atrazine + S-metolachlor
f p i
Bentazon
f p i
Carfentrazone
f p i
Cyanazine
f p i
2,4-D
f p i
Dimethenamid
f p i
Diuron + Paraquat
f p i
Glyphosate
f p i
Isoxaflutole
f p i
Linuron
f p i
Nicosulfuron
f p i
Paraquat
f p i
Pendimethalin
f p i
f p i
Simazine
f p i
S-metolachlor
f p i
f p i
Sulfosate
f p i
f
A • • M • • S - • S S - • - - S M - - - - S - • S M • • T T • - - - P T T T T A • • - A A • A A - - - - P T • - - • A A S • • • A A S • • S • • • A A A • •
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P • • P • • P - • - - - • M P P T T - - - - - • M - • • T T • - - P T T T T T P • • P S M • A A - - - - - - • - - • - - P • • • S M P • • - • • • A A P • •
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p i
Trifluraline
recomendável; p - Pré-emergência; i - Pós-emergência inicial (plantas daninhas com 2 a 4 folhas); f - Pós-emergência tardia (plantas daninhas com 4 a 8 folhas).
NOTA: A - Altamente suscetível (acima de 95% de controle); S - Suscetível (de 85% a 95% de controle); M - Medianamente suscetível (de 50% a 85% de controle); P - Pouco suscetível (menos de 50% de controle); T - Tolerante (0% de controle); • - Não-
FONTE: Lorenzi (2000).
Capim-braquiária
Nome comum
Brachiaria decumbens
Nome científico
Sethoxydim
QUADRO 5- Comportamento de plantas daninhas de folhas estreitas em função da aplicação de herbicidas em pré-emergência, pós-emergência inicial e pós-emergência tardia para a cultura do milho
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
59
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
60
QUADRO 6 - Alternativas para o controle químico(1) de plantas daninhas na cultura do milho
(continua)
(3)
Dose comercial
Nome comum
(2)
Nome comercial
-1
Formulação
e
concentração
Registrante
Kadett
Monsanto
EC 840 g L
Acetochlor
Kadett CE
Monsanto
EC 840 g L
Acetochlor
Surpass
Dow AgroSciences
EC 768 g L
-1
-1
-1
Alachlor
Alaclor Nortox
Nortox
EC 480 g L
Alachlor
Laço CE
Monsanto
EC 480 g L
Alachlor + Atrazine
Agimix
Milenia
SC (260 + 260) g L
Alachlor + Atrazine
Alazine 500 SC
-1
Agricur
Alachlor + Atrazine
Boxer
Alachlor + Atrazine
Alaclor + Atrazine SC Nortox Nortox
SC (250 + 250) g L
Monsanto
SC (300 + 180) g L
SC (240 + 250) g L
Ametryne
Ametrina Agripec
Agripec
SC 500 g L
Gesapax 500 Cyba Geigy
Syngenta
SC 500 g L
Ametryne
Gesapax GrDa
Syngenta
WG 785 g kg
Amicarbazone
Dinamic
Bayer
WG 700 g kg
Amônio-Glufosinato
Finale
Bayer
SL 200 g L
Atrazine
Atrazine Atanor 50 SC
Atanor
SC 500 g L
Atrazine
Atranex 500 SC
Agricur
SC 500 g L
Atrazine
Atrazina Nortox 500 SC
Nortox
SC 500 g L
Atrazine
Atrazinax 500
Bayer
SC 500 g L
-1
-1
-1
-1
-1
-1
Milenia
SC 500 g L
Gesaprim 500 Ciba-Geigy
Syngenta
SC 500 g L
Atrazine
Gesaprim GrDa
Syngenta
WG 880 g kg
-1
-1
Milenia
SC 500 g L
-1
-1
Atrazine
Proof
Syngenta
SC 500 g L
Atrazine
Siptran 500 SC
Sipcam
SC 500 g L
Atrazine
Siptran 800 PM
Sipcam
PM 800 g L
Atrazine
Trac 50 SC
Atanor
SC 500 g L
Atrazine + Bentazon
Laddok
Basf
SC (200 + 200) g L
Guardsman
-1
-1
Coyote
Atrazine + Dimethenamid
-1
-1
Atrazine
Herbitrin 500 BR
-1
-1
Atrazine
Atrazine
-1
-1
Ametryne
-1
-1
-1
-1
-1
Basf
SE (320 + 280) g L
-1
Atrazine + Isoxaflutole
Alliance WG
Bayer
WG (830 + 34) g kg
Atrazine + Nicosulfuron
Sanson AZ
Ishihara
WG (500 + 20) g kg
Atrazine + Óleo Vegetal
Posmil
Milenia
SC (400 + 300) g L
-1
Atrazine + Óleo Vegetal
Primóleo
Syngenta
SC (400 + 300) g L
Atrazine + Simazine
Actiomex 500 SC
Action
SC (250 + 250) g L
Atrazine + Simazine
Atrasimex 500 SC
Agricur
SC (250 + 250) g L
Atrazine + Simazine
Atrazine + Simazine
Atrazine + Simazine
Atrazine + Simazine
Controller 500 SC
Extrazin SC
Herbimix SC
Primatop SC
Dow AgroSciences
Sipcam
Milenia
Syngenta
Classificação
(4)
PréPósToxiemergência emergência cológica
-1
Acetochlor
-1
(L ha ou kg ha )
SC (250 + 250) g L
SC (250 + 250) g L
SC (250 + 250) g L
SC (250 + 250) g L
-1
-1
-1
-1
-1
-1
-1
-1
(5)
Ambiental
3,0 a 4,0
–
II
II
3,0 a 4,0
–
I
I
2,6 a 5,2
–
I
I
5,0 a 7,0
–
II
II
5,0 a 7,0
–
I
III
6a8
6a8
II
II
7a8
–
III
II
7a9
–
I
II
6a7
–
I
II
3,0 a 4,0
3,0 a 4,0
III
II
–
3,0 a 4,0
IV
II
–
2 a 2,5
IV
II
0,4
–
II
II
–
1,5
III
III
4a6
4a6
III
III
4a5
–
III
II
3 a 6,5
3 a 6,5
III
II
3 a 6,5
–
III
(6)
5a6
5a 6
II
II
4a5
4a 5
IV
II
2,5 a 3,5
2,5 a 3,5
III
II
4a8
_
III
(6)
4a5
4a5
IV
II
4a5
4a5
III
III
3a4
3a4
III
III
4a6
4a6
III
III
–
2,4 a 3,0
I
II
4,0 a 5,0
–
I
II
1,5 a 2,0
–
IV
II
–
1,75 a 2,0
IV
II
–
5a7
IV
II
–
5a6
IV
II
3,5 a 7,0
3,5 a 7,0
IV
II
4,0 a 6,0
–
III
II
3,5 a 6,0
–
IV
II
3,6 a 6,8
–
IV
(6)
6,0 a 7,0
6,0 a 7,0
IV
III
6a8
6a8
III
II
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
61
(continuação)
(3)
Dose comercial
Nome comum
Atrazine + Simazine
(2)
Nome comercial
Triamex 500 SC
Registrante
Bayer
SC (250 + 250) g L
Atrazine + S-Metolachloro
Primagram Gold
Syngenta
SC (370 + 230) g L
Atrazine + S-Metolachloro
Primaiz Gold
Syngenta
SC (370 + 230) g L
Atrazine + S-Metolachloro
Primestra Gold
Syngenta
SC (370 + 290) g L
Bentazon
Banir
Sipcam
SL 480 g L
Bentazon
Basagran 480
Basf
SL 480 g L
Bentazon
Basagran 600
Basf
SL 600 g L
Carfentrazone-ethyl
Aurora 400 CE
FMC
EC 400 g L
Cianazine
Bladex 500
Basf
SC 500 g L
-1
-1
-1
-1
-1
-1
-1
-1
2,4-D 806 Nufarm
Nufarm
SL 806 g L
2,4-D Amina 72
Atanor
SL 698 g L
2,4-D
Aminamar
Agro Química Maringá
SL 806 g L
-1
-1
-1
2,4-D
Aminol 806
Milenia
SL 806 g L
2,4-D
Capri
Milenia
SL 868 g L
2,4-D
Deferon
Milenia
EC 502 g L
2,4-D
DMA 806 BR
Dow AgroSciences
SL 806 g L
2,4-D
Herbi D-480
Milenia
SL 480 g L
2,4-D
Navajo
Nufarm
WG 970 g kg
-1
-1
-1
-1
-1
-1
2,4-D
Tento 867 CS
Dow AgroSciences
SL 867 g L
2,4-D
U 46 D-Fluid 2,4-D
Nufarm
SL 806 g L
Dimethenamid
Zeta 900
Basf
EC 900 g L
Classificação
(4)
PréPósToxiemergência emergência cológica
-1
2,4-D
-1
(L ha ou kg ha )
-1
2,4-D
Diuron + Paraquat
-1
Formulação
e
concentração
-1
-1
-1
Gramocil
Syngenta
SC (100 + 200) g L
Iodossulfuron-methyl
Equip Plus
Bayer
WG (300 + 20) g kg
Glyphosate
Agrisato 480 CS
Alkagro
SL 480 g L
(5)
Ambiental
3,5 a 6,0
3,5 a 6,0
III
III
3,25 a 4,5
3,5 a 4,5
I
II
3,25 a 4,5
3,5 a 4,5
I
II
3,25 a 4,5
3,25 a 4,5
II
II
–
1,5 a 2,5
(6)
(6)
–
1,5
III
III
–
1,2 a 1,6
III
III
–
25 a 31,2
II
II
3 a 4,5
–
III
I
–
0,5 a 1,5
I
III
–
1,0 a 1,5
I
III
–
1,5
I
III
–
0,5 a 1,5
I
I
–
1 a 1,25
I
II
0,6 a 0,9
0,6 a 0,9
III
II
–
1,5
I
III
3,0 a 4,5
3,0 a 4,5
I
(6)
–
0,4 a 1,7
I
III
–
2
I
II
–
1,5
I
III
1,25
–
I
II
–
2a3
II
II
–
120 a 150
III
III
1,0 a 6,0
1,0 a 6,0
IV
II
–
1,0 a 2,0
II
III
–
1 a 6,0
IV
III
2,0 a 5,0
2,0 a 5,0
III
III
–
1,0 a 3,0
III
III
–
0,5 a 2,5
IV
III
–
1,0 a 6,0
IV
III
1,0 a 5,0
–
II
III
–
1a2
III
III
–
1,0 a 3,0
III
III
–
1,0 a 6,0
IV
III
–
1,0 a 6,0
IV
III
–
0,5 a 5
IV
III
Foramsulfuron +
Glyphosate
Glyphosate
Glyphosate
Glyphosate
Glyphosate
Glyphosate
Glyphosate
Glyphosate
Glyphosate
Glyphosate
Glyphosate
Glyphosate
Glifos
Glyphosate 480 Agripec
Glyphosate Alkagro
Glyphosate Atanor
Glyphosate Nortox WG
Glyphosate Nortox
Glyphosate Nufarm
Gliphogan 480
Glister
Gliz 480 CS
Gliz BR
Polaris
Cheminova
Agripec
Alkagro
Atanor
Nortox
Nortox
Nufarm
Agricur
Sinon
Dow AgroSciences
Dow AgroSciences
Du Pont
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006
-1
-1
SL 480 g L
SL 480 g L
SL 480 g L
-1
-1
-1
SL 480 g L
WG 720 g kg
SL 480 g L
SL 480 g L
SL 480 g L
SL 480 g L
SL 480 g L
SL 480 g L
SL 480 g L
-1
-1
-1
-1
-1
-1
-1
-1
-1
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
62
(conclusão)
(3)
Dose comercial
(2)
Nome comum
Nome comercial
Registrante
Radar
Monsanto
SL 480 g L
Glyphosate
Roundup Original
Monsanto
SL 480 g L
Glyphosate
Roundup Transorb
Monsanto
SL 648 g L
Glyphosate
Roundup WG
Monsanto
WG 720 g kg
Glyphosate
Rustler
Monsanto
SL 480 g L
Glyphosate
Trop
Milenia
SL 480 g L
Zapp Qi
Syngenta
-1
-1
-1
-1
Onduty
Basf
WG (525 + 175) g kg
Isoxaflutole
Alliance SC
Bayer
SC 20 g L
Isoxaflutole
Provence 750 WG
Bayer
WG 750 g kg
Linuron
Afalon SC
Bayer
SC 450 g L
Linuron
Linurex Agricur 500 PM
Agricur
PM 500 g kg
-1
-1
-1
-1
-1
Mesotrione
Callisto
Syngenta
SC 480 g L
Nicosulfuron
Nisshin
Ishihara
WG 750 g kg
Nicosulfuron
Sanson 40 SC
Ishihara
SC 40 g L
-1
-1
-1
Nicosulfuron
Nicosulfuron Nortox S.A.
Nortox
SC 40 g L
Nicosulfuron
Nipppon 40 SC
Agripec
SC 40 g kg
Paraquat
Gramoxone 200
Syngenta
SL 200 g L
Pendimethalin
Herbadox 500 CE
Basf
EC 500 g L
Sethoxydim
Poast Plus
Basf
DC 120 g L
Sethoxydim
Poast
Basf
DC 184 g L
Simazine
Herbazin 500 BR
Milenia
SC 500 g L
Simazine
Sipazina 800 PM
Sipcam
PM 800 g kg
S-Metolachloro
Dual Gold
Syngenta
EC 960 g L
-1
-1
-1
-1
-1
-1
-1
-1
-1
Sulfosate
Touchdown
Syngenta
SL 480 g L
Terbutilazine
Gardoprim
Syngenta
SC 500 g L
Trifluralin
Novolate
Milenia
EC 600 g L
Trifluralin
Premerlin 600 CE
Milenia
EC 600 g L
Trifluralin
Trifluralina Nortox Gold
Nortox
EC 450 g L
-1
-1
-1
-1
-1
(5)
Ambiental
0,5 a 5
III
–
0,5 a 6
IV
III
–
1,0 a 4,5
III
III
–
0,5 a 3,5
IV
III
–
0,5 a 5,0
III
III
–
1,0 a 6,0
IV
III
–
0,7 a 4,2
III
III
–
-1
SL 620 g L
Classificação
(4)
PréPósToxiemergência emergência cológica
-1
Imazapic + Imazapyr
-1
(L ha ou kg ha )
-1
Glyphosate
Glyphosate-sal de potássio
-1
Formulação
e
concentração
III
–
100
III
II
2,5 a 4,0
–
III
II
80
–
III
II
1,6 a 3,3
–
III
(6)
1,5 a 3
–
III
(6)
–
0,3 a 0,4
III
III
–
70 a 80
IV
III
–
1,25 a 1,5
IV
II
–
1,25 a 1,5
III
III
–
1,3 a 1,5
III
III
–
1,5 a 3
II
II
2,0 a 3,5
–
II
–
1,5 a 2,0
III
III
–
1,0 a 1,25
II
III
4a5
–
III
III
(6)
2a5
–
III
(6)
1,25 a 1,75
–
I
II
–
1,0 a 6,0
IV
III
4,0 a 7,0
–
IV
II
0,9 a 4,0
–
I
II
3,0 a 4,0
–
II
II
–
1,2 a 5
II
II
FONTE: Agrofit (2006).
NOTA: Aplicar herbicida PRÉ com solo em boas condições de umidade. Não aplicar herbicidas PÓS durante períodos de seca, em que as plantas
estejam em déficit hídrico.
(1) Antes de emitir recomendação e/ou receituário agronômico, consultar relação de defensivos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), e cadastrados na Secretária de Agricultura do Estado (onde houver legislação pertinente). (2) A escolha do produto deve ser
feita de acordo com a situação. É importante conhecer as especificações dos produtos escolhidos. (3) A escolha da dose depende da espécie e do
tamanho das plantas daninhas para os herbicidas de pós-emergência e da textura do solo para os de pré-emergência. Para solos arenosos e de baixo teor de matéria orgânica, utilizar doses menores. As doses maiores são utilizadas em solos pesados e com alto teor de matéria orgânica.
(4) Classificação toxicológica: I - Extremamente tóxico; II - Altamente tóxico; III - Medianamente tóxico; IV - Pouco tóxico. (5) Classificação ambiental: I - Altamente perigoso; II - Muito perigoso; III - Perigoso; IV - Pouco perigoso. (6) Em adequação a Lei no 7.802/89.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
Alguns especialistas levantam a hipótese de que o azevém e a aveia produzem
substâncias prejudiciais à cultura do milho,
recomendando a semeadura um mês após
a dessecação.
Em condições de campo, a Avena
strigosa (aveia-preta) tem demonstrado
grande potencialidade no controle de plantas daninhas sob SPD na palha, com maior
versatilidade por apresentar grande produção de massa seca. O Lolium multiflorum
(azevém) também vem sendo utilizado por
proporcionar boa cobertura do solo e controlar eficientemente Digitaria horizontalis
(capim-milhã), Brachiaria plantaginea
(capim-marmelada), e, particularmente, a
Sida sp. (guanxuma) (ROMAN; VELLOSO,
1993).
A atividade dos aleloquímicos no solo
é normalmente transitória, uma vez que são
sujeitos à absorção pelos colóides do solo
e, degradação, inativação e transformação
pelos microrganismos. A caracterização do
efeito alelopático é tarefa de grande complexidade, devido ao alto número de variáveis envolvidas no processo. O controle
dessas variáveis no delineamento experimental, o domínio de técnicas agrícolas e
da biologia de plantas daninhas são tarefas que exigem a condução de trabalhos
científicos para tentar elucidar a complexidade destes efeitos e suas interações com
o ambiente.
OPERAÇÃO DE MANEJO
OU DESSECAÇÃO
A dessecação é a secagem das plantas, acelerada quimicamente, resultando na
morte de todas as partes delas. O principal
aspecto fisiológico da dessecação parece
ser a injúria das membranas das células, o
suficiente para permitir a rápida perda da
água.
O grau de injúria varia com o ingrediente ativo utilizado, bem como o estádio fisiológico das plantas. O uso de dessecantes que provoca o desfolhamento
63
ou a dessecação das plantas é uma idéia
recente, que não tem mais do que aproximadamente 40 anos, segundo Osborne
(1968).
A pesquisa em dessecantes ganhou
destaque a partir dos anos 60 e o maior número de trabalhos concentra-se na década
de 70. As culturas mais pesquisadas foram
algodão, batata, sorgo e a soja. Os trabalhos desenvolvidos procuram resolver
principalmente: produtos e doses a serem
usados e épocas de aplicação.
A aplicação de manejo também denominada de dessecação é realizada com
herbicidas pós-emergentes não-seletivos,
objetivando controlar toda a vegetação
existente na área antes da semeadura das
culturas, a qual pode ser constituída de
plantas daninhas ou culturas semeadas
para produção de massa. Normalmente,
a operação de dessecação é concentrada
num período curto, sendo importante que
o produtor disponha de equipamentos suficientes.
Atualmente, são disponíveis no mercado vários princípios ativos recomendados
para essa operação (glifosato, sulfosato,
paraquat), os quais podem variar de região
para região, de fazenda para fazenda e
mesmo dentro destas. Há, portanto, necessidade de bom monitoramento da área para
aumentar a eficiência, diminuindo, assim,
desperdício e custos.
A tecnologia de aplicação atual tem
evidenciado a possibilidade de redução do
volume de calda na aplicação de herbicidas
de manejo, permitindo que uma maior área
seja tratada em menor tempo, facilitando a
programação da pulverização nos momentos mais oportunos do dia.
RESISTÊNCIA
Tem sido constatada a resistência de
certas plantas daninhas como Brachiaria
plantaginea e Digitaria ciliaris a herbicidas inibidores da ACCase, Bidens pilosa,
Bidens subalternans e Euphorbia hetero-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006
phylla, a herbicidas inibidores da enzima
ALS.
No entanto, é comum confundir falta
de controle com resistência. A maioria dos
casos de seleção e de resistência pode ser
esperada quando se utiliza o mesmo herbicida ou herbicidas com o mesmo mecanismo
de ação, consecutivamente. Erros na dose
e na aplicação são as causas da maioria
dos casos de falta de controle.
Prevenir a disseminação e a seleção de
espécies resistentes são estratégias fundamentais para evitar esse tipo de problema.
A utilização e a rotação de produtos com
diferentes mecanismos de ação e a adoção
do manejo integrado (rotação de culturas,
uso de vários métodos de controle, etc.)
fazem parte do conjunto de indicações para
eficiente controle das invasoras.
É interessante manter o histórico de
cada área da propriedade para identificar a
evolução da população de determinadas
espécies. Normalmente, não se identificam
os biótipos resistentes já no primeiro ano
de sua ocorrência, ou seja, quando se percebe a falta de controle de uma espécie que
tradicionalmente era controlada por certo
herbicida, já se decorreram vários anos
da seleção do biótipo resistente (VIDAL,
1997).
MANUSEIO DE HERBICIDAS E
DESCARTE DE EMBALAGENS
Devem-se utilizar somente herbicidas
devidamente registrados no MAPA e
cadastrados na Secretaria de Agricultura
dos Estados que adotam este procedimento para uso na cultura do milho e para a
espécie de planta daninha que se deseja
controlar. O número do registro consta no
rótulo do produto.
O equipamento de proteção individual
(EPI) apropriado é necessário em todas as
etapas de manuseio de agrotóxicos (abastecimento do pulverizador, aplicação e
lavagem de equipamentos e embalagens),
a fim de evitar possíveis intoxicações.
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
64
Não se deve fazer mistura em tanque
de dois herbicidas, ou de herbicida (s) com
outro agrotóxico. Tal procedimento é proibido por lei (BRASIL, 2002b). Somente é
permitida a utilização de misturas formuladas.
Em aplicação de herbicidas em condições de pós-emergência, deve-se respeitar
o período de carência do produto (entre a
data de aplicação e a colheita do milho).
O rótulo e a bula do produto devem ser
lidos com atenção e seguidas todas as
orientações e cuidados com o descarte das
embalagens, que devem ser devolvidas
vazias (após a tríplice lavagem das que
contêm produtos líquidos), no prazo de um
ano após a compra do produto, ao posto
de recebimento indicado na nota fiscal de
compra, conforme legislação do MAPA
(BRASIL, 2000, 2002a).
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o armazenamento, a comercialização, a propa-
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ganda comercial, a utilização, a importação, a
Acesso em: 3 jul. 2006.
exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a
inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências. Diário
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daninhas no Rio Grande do Sul. Revista Plantio
Direto, Passo Fundo, n.41, p.53-57, 1997. Edição
Oficial [da] República Federativa do Brasil,
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dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a
caminho do futuro. 2.ed. Passo Fundo: Aldeia
produção, a embalagem e rotulagem, o transporte,
Sul, 1996. 207p.
o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a
exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a
inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus com-
LORENZI, H. (Coord.). Manual de identificação e controle de plantas daninhas: plantio direto e convencional. 5.ed. Nova Odessa:
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extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_
_______. Ministério da Agricultura. Portaria no
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443, de 11 de novembro de 1986. Aprova e torna
válida a relação das espécies “nocivas” e seus
ROMAN, E.S.; VELLOSO, J.A.R. Controle cul-
respectivos limites máximos específicos, anexos
tural, coberturas mortas e alelopatia em sistemas
ALMEIDA, F.S. A alelopatia e as plantas. Lon-
a esta Portaria, estipulados em número de semen-
conservacionistas. In: EMBRAPA. Centro Nacio-
drina: IAPAR, 1988. 60p.
tes por amostra analisada e dimensionada, de
nal de Pesquisa de Trigo. Plantio direto no
acordo com as regras para análise de sementes em
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vigor, para produção, transporte e comércio de
sementes nacionais e importadas de orelícolas,
forrageiras e de grandes culturas. Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil, Brasília,
___________. Influência da cobertura morta do
11 nov. 1986. Disponível em: <http://www.agri
plantio direto na biologia do solo. In: SIMPÓSIO
cultura.gov.br>. Acesso em: 11 maio 2006.
SOBRE POTENCIAL AGRÍCOLA DOS CERRADOS, 1., 1985, Goiânia. Trabalhos apresentados... Campinas: Fundação Cargill/Goiânia:
EMGOPA, 1985b. p.109-149.
SCALÉA, M. Manejo e controle de plantas daninhas em plantio direto no Cerrado. Revista
Plantio Direto, Passo Fundo, n.45, p.49-51,
1998. Especial Cerrado.
SILVA, J.B. da. Plantio direto: redução dos riscos
ambientais com herbicidas. In: SATURNINO, H.S.;
_______. Ministério da Agricultura, Pecuária e
LANDERS, J.N. (Ed.). O meio ambiente e o
Abastecimento. Instrução Normativa, nº 46, de
plantio direto. Goiânia: APDC, 1997. cap. 6,
24 de julho de 2002. Determina às empresas
p.83-88.
titulares de registros de agrotóxicos a retirada das
indicações de misturas em tanque dos rótulos e
VIDAL, R.A. Herbicidas: mecanismo de ação e
2002. Regulamenta a Lei n 7.802, de 11/07/1989,
bulas de seus agrotóxicos, no prazo de 30 (trinta)
resistência de plantas. Porto Alegre: Palotti, 1997.
que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a
dias. Diário Oficial [da] República Federativa
165p.
BRASIL. Decreto no 4.074, de 4 de janeiro de
o
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006
SELETIVIDADE DE ACCENT®
SOBRE 10 DIFERENTES HÍBRIDOS DE MILHO
Daniel Donato Hernandez
Representante Pesquisa e Desenvolvimento – DuPont do Brasil S/A
([email protected])
Com o objetivo de determinar o grau de seletividade do herbicida Accent® (nicosulfuron NicoDry
75%WG) sobre os diferentes híbridos de milho, um ensaio foi conduzido na Estação Experimental da Pionner
Sementes em Itumbiara/GO, entre os meses de janeiro e abril de 2006. Foram escolhidos 10 diferentes híbridos
de milho, todos utilizados em larga escala na região centro-sul do país, ao que se segue: 30P70, 30F80,
30F90, 30K75, 30K64, 30K73, 30F35, DKB390, DAS2B710 E MAXIMUS. Foram aplicadas duas doses do
herbicida Accent® (21 e 42 g.p.c/ha) em mistura com atrazina a 4,0 L.p.c/ha e Assist (0,3% v/v), com uma
vazão igual a 200 L/ha, obtida por meio de um aplicador pressurizado com barra de 4 bicos e pontas tipo
XR110.02. Além disso, foi realizado um tratamento testemunha com as plantas de milho mantidas no limpo
através de capina manual. Por ocasião da aplicação, as plantas de milho encontravam-se no estádio V4.
Durante o período experimental, a precipitação foi de 451 mm.
Avaliações visuais foram realizadas aos 7, 14, 21 e 28 dias após a aplicação do herbicida com o
objetivo de se verificar possíveis sintomas de fitointoxicação às plantas de milho. Independentemente da época
de avaliação, do híbrido observado e dose do herbicida Accent® utilizado, não foram observados quaisquer
sintomas nas plantas de milho que pudessem ser interpretados como fitointoxicação e, conseqüentemente,
injúrias às plantas.
Por ocasião da colheita, as produtividades dos 10 híbridos de milho foram analisadas, não sendo
observado, no entanto, reduções das mesmas devido à aplicação do herbicida Accent®.
Portanto, conclui-se que, para os 10 híbridos de milho estudados, a aplicação de Accent® nas doses
de 21 e 42 g.p.c./ha no estádio V4 da cultura, não provocou sintomas perceptíveis de fitointoxicação na cultura,
não reduzindo, assim, suas produtividades. Dessa maneira, para essa modalidade de aplicação e doses, o
herbicida Accent® mostrou-se altamente seletivo à cultura do milho, apresentrando-se como uma excelente
opção para o manejo e controle de plantas daninhas para esta cultura.
DuPont Accent®: Produto em fase de registro.
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
66
Manejo de pragas da cultura de milho
em Sistema Plantio Direto
Ivan Cruz 1
Américo Iorio Ciociola Jr. 2
Resumo - Com a globalização, pode-se esperar profunda mudança no que se refere ao
controle de pragas na produção agrícola. Para que haja competitividade é necessário o
aumento da produção sem onerar seus custos. O controle de pragas, muitos anos
dependente quase que exclusivamente do uso de produtos químicos, que não encontravam resistência por parte da sociedade, deve, nesse milênio, sofrer modificações
significativas. Atualmente, a preocupação com os efeitos adversos dos produtos químicos é muito maior. Do ponto de vista da sociedade leiga, a palavra de ordem é qualidade
de vida. No passado, havia grande diversificação em relação ao número de empresas
produtoras de defensivos. Hoje muitas dessas empresas têm investido na área de
biotecnologia e já dispõem de plantas transgênicas. Apesar das inúmeras controvérsias
sobre o uso dessa nova tecnologia, pode-se esperar grande avanço e até mesmo
modificações nos atuais modelos de MIP empregados, além do aumento nas pesquisas
com controle alternativo, especialmente com inimigos naturais, que deverão ser parte
importante nos sistemas de manejo de pragas no futuro.
Palavras-chave: Zea mays. Controle alternativo. Controle biológico. MIP.
INTRODUÇÃO
Com a chegada da globalização, podese esperar profunda mudança no que se
refere ao controle de pragas na produção
agrícola brasileira. Para que haja competitividade é necessário o aumento dessa produção, sem onerar seus custos. Em outras
palavras, será necessário o aumento da
produtividade, porém, o componente “qualidade”, não só do produto colhido, mas
também do ecossistema de produção, será
fundamental nas competições internacionais, para a aquisição de bens alimentícios,
tanto para alimentação direta quanto indireta, especialmente no caso de milho, muito
utilizado nas rações de suínos e aves.
O controle de pragas, muitos anos dependente quase que exclusivamente do
uso de produtos químicos, que não encontravam resistência por parte da sociedade,
deve, nesse milênio, sofrer modificações
significativas. No passado, os inseticidas,
considerados eficazes, de ação rápida e de
custo relativamente baixo, foram utilizados sem parcimônia, mesmo nos casos em
que determinada espécie de inseto nem
mesmo demandava medidas de controle
(DENT, 1991). Com os atributos dos inseticidas químicos e sem medidas alternativas competitivas, por muitos anos, as
empresas produtoras de tais insumos não
preocuparam-se com a melhoria qualitativa
de seus produtos. O lema era a diversidade
de ação sobre as espécies de insetos, mesmo sendo estas pragas, insetos benéficos
ou agentes de controle biológico. Com o
passar do tempo, os exemplos negativos
com o uso inadequado dos produtos químicos fizeram com que a sociedade começasse a despertar, especialmente depois
do livro “Primavera Silenciosa” de Carson
(1962). Daí em diante, muitos outros exemplos começaram a ser documentados, inclusive aqueles que afetariam diretamente a
eficiência dos produtos químicos. Vários
casos de resistência aos inseticidas foram
relatados (BROWN, 1971; BROWN; PAL,
1971; GEORGHIOU; LAGUNES-TEJEDA,
1
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected]
2
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Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
1991). Segundo Metcalf (1980) e Metcalf
e Luckmann (1994), a resistência genética
adquirida pelos insetos em relação aos
inseticidas continua sendo a barreira mais
importante para o sucesso no uso desses
químicos em programas de manejo. Atualmente, a preocupação com os efeitos adversos dos produtos químicos é muito maior.
Do ponto de vista da sociedade leiga, a palavra de ordem é qualidade de vida. Ou seja,
a sociedade demanda cada vez mais produtos e ambientes de melhor qualidade,
significando desta feita produtos sem resíduos tóxicos. Do ponto de vista científico,
a preocupação também é a mesma, porém,
devem-se acrescentar, ainda, os efeitos colaterais dos inseticidas sobre os agentes
de controle biológico, que provavelmente
exerciam papel fundamental no controle de
determinadas pragas antes de ser eliminadas ou reduzidas drasticamente pelo mau
uso dos produtos químicos. Portanto, sem
dúvida, nos próximos anos o sistema de
controle de pragas no mundo deve mudar.
Na verdade, em alguns países já se pratica
há algum tempo, o que se chama manejo
integrado de pragas (MIP), que reúne e usa,
de maneira inteligente, os métodos de controle que propiciam maior sustentabilidade
ao sistema agrícola (PIMENTEL, 1981abc;
DENT, 1991; METCALF; LUCKMAN,
1994).
Mesmo naqueles países onde já se tem
implantado o manejo integrado de pragas
têm-se discutido as tendências mundiais
de compra ou fusão das grandes empresas
produtoras de insumos, bem como o avanço na área de biotecnologia, com a produção de milho geneticamente modificado,
pela introdução de toxinas da bactéria
Bacillus thuringiensis (CAROZZI; KOZIEL,
1997). Esses fatos, com certeza, levarão à
mudança nas estratégias de manejo atualmente utilizadas. No passado, havia grande
diversificação em relação ao número de
empresas produtoras de defensivos. Hoje
muitas dessas empresas têm investido na
área de biotecnologia e já dispõem de plantas transgênicas. Apesar das inúmeras
controvérsias sobre o uso dessa nova tec-
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nologia, pode-se esperar grande avanço e
até mesmo modificações nos atuais modelos de MIP empregados. É de se esperar aumento nas pesquisas com controle
alternativo, especialmente com inimigos
naturais, que deverão ser parte importante nos sistemas de manejo de pragas no
futuro.
DESCRIÇÃO, BIOLOGIA,
IMPORTÂNCIA E
CONTROLE DAS PRAGAS
No Brasil e em muitos outros países a
implementação de programas de manejo de
pragas ainda não é realidade em função da
carência de informações básicas sobre a
dinâmica populacional das pragas. A pretensão é colocar à disposição do leitor
informações que auxiliem no reconhecimento das diferentes pragas que atacam a
cultura de milho e na tomada de decisão
sobre o seu controle.
Existem, no Brasil, revisões bibliográficas que permitem, de maneira razoável, a
síntese da bioecologia das principais pragas
que afetam a cultura de milho, bem como a
maneira de efetuar seu manejo. Entre as mais
importantes, podem ser incluídos os trabalhos de Santos et al. (1982), Cruz (1992ab,
1993, 1994, 1995ab, 1996, 1997ab, 1999,
2004), Cruz e Santos (1984), Cruz e Turpin
(1982, 1983), Cruz et al. (1983, 1987, 1990,
1993, 1995c, 1996, 1997b, 1999b, 2001), Cruz;
Waquil (2001), Waquil et al. (1992), Gassen
(1996) e Silva (1998).
Pragas da semente
e/ou raízes
Existem diversos insetos apontados
na literatura como pragas subterrâneas
que se alimentam de diferentes hospedeiros, incluindo o milho, como os cupins
(diversas espécies distribuídas nos gêneros, bicho-bolo ou coró (Phyllophaga,
Cyclocephala, Diloboderus), larva-arame
(Conoderus e outros gêneros), percevejocastanho, (Scaptocoris castanea), larvaalfinete (Diabrotica speciosa) e, provavelmente, outras vaquinhas. De modo geral, a
identificação dessas pragas se faz inicial-
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mente através dos sintomas de danos ou
de falhas existentes na plantação. Essas
falhas podem ser decorrentes da falta de
plantio da semente, ou ocasionadas pelas
pragas citadas. Algumas delas, quando não
matam a planta pela destruição da semente,
ocasionam seu enfraquecimento, o que
causa sua morte posteriormente, por não
ter condições de competir com as demais
plantas da cultura ou com as plantas daninhas. Cavando-se o solo próximo às falhas,
no início da germinação, deve-se encontrar
a semente e/ou a praga.
Percevejo-castanho
Scaptocoris castanea Perty, 1830
(Hemiptera, Heteroptera,
Cydnidae)
Conhecido popularmente como percevejocastanho, Scaptocoris castanea, nos últimos três anos vem causando prejuízos
em diversas espécies vegetais de importância econômica no Brasil, com destaque para as culturas de soja, milho, algodão e pastagens (SILOTO; RAGA, 1998).
Os estudos sobre a espécie são escassos
no Brasil. O gênero Scaptocoris está distribuído desde os Estados Unidos até a
Argentina (FROESCHNER; CHAPMAN,
1963; BREWER, 1972). No Brasil, sua
distribuição é generalizada, embora com
registros de ataque mais na Região CentroSul do Brasil (ANDRADE; PUZZI, 1953;
PUZZ; ANDRADE, 1957; BRISOLLA et al.,
1985; RAMIRO et al., 1989; COSTA; FORTI,
1993; BECKER, 1996; BERTI FILHO et al.,
1996; SOUZA FILHO et al., 1997; CORRÊAFERREIRA et al., 1999). Segundo Raga et
al. (2000), nas culturas de soja, milho e algodão do estado de São Paulo, S. castanea
tem sido observado com maior freqüência
e intensidade, em ataques às plantas no
sentido da linha de plantio, nem sempre
formando reboleiras típicas.
O percevejo-castanho na fase adulta
tem de 7 a 9 mm de comprimento e de 4 a
5 mm de largura. As pernas anteriores são
destinadas à escavação e as posteriores
possuem fortes cerdas e espinhos. As formas jovens são de coloração marrom-clara.
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
Durante a noite, podem voar para outras
localidades. Os ovos são postos no solo.
O percevejo-castanho é facilmente reconhecível, no momento da abertura dos
sulcos, pelo cheiro desagradável que exala.
Nas épocas mais secas, aprofunda-se no
solo à procura de regiões mais úmidas,
retornando à superfície durante as chuvas.
Segundo Raga et al. (2000), as plantas atacadas têm suas raízes sugadas por ninfas e
adultos e tornam-se raquíticas. O desenvolvimento reduzido e posterior morte da
planta podem ser confundidos com deficiência nutricional, que é facilmente diferenciada, quando as plantas são arrancadas do solo, pois exala-se um odor típico,
oriundo das glândulas odoríferas do inseto.
Larva-alfinete
Diabrotica speciosa Germar, 1824
(Coleoptera, Chrysomelidae)
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Os adultos de D. speciosa são muito
conhecidos, especialmente pela coloração
verde-amarela (Fig. 1), recebendo às vezes
a denominação nacional ou patriota. São
pequenos besouros com coloração geral
verde, sobressaindo nas asas três manchas
amarelas. São insetos pequenos e ágeis,
com cerca de 6 mm de comprimento. Tanto
o macho quanto a fêmea alimentam-se das
folhas de diferentes culturas e, no milho,
seus danos às vezes são confundidos com
os ocasionados por larvas de lepidópteros, especialmente da lagarta-do-cartucho,
quando raspam as folhas. Os ovos são colocados no solo próximo à planta hospedeira. A larva (Fig. 2) é cilíndrica e, quan-
Figura 1 - Adulto de Diabrotica speciosa
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
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Figura 2 - Larva de Diabrotica speciosa
do completamente desenvolvida, atinge o
tamanho máximo de 10 a 12 mm, com cerca
de 1 mm de diâmetro. É de coloração geral
esbranquiçada, sobressaindo a cabeça e
o ápice do abdome, que são de coloração
preta. Alimenta-se da região da raiz e pode
atingir o ponto de crescimento, matando
as plantas recém-germinadas. Com o desenvolvimento da planta e também das larvas,
é comum o ataque ser verificado nas raízes
adventícias, prejudicando o desenvolvimento normal da planta. Em ataques intensos é comum o desenvolvimento de raízes
nos nós da planta. A planta desenvolvese de maneira irregular, apresentando-se
recurvada. O ciclo biológico total do inseto
dura cerca de 53 dias, sendo de 13, 23 e 17
dias os períodos de incubação, larval e
pupal, respectivamente.
O inseto é uma praga polífaga que afeta
diversas culturas no Brasil. Os adultos
atacam as folhas de hortaliças de modo
geral, feijoeiro, soja, girassol, algodoeiro,
etc. (ZUCCHI et al., 1993). As larvas atacam a parte subterrânea, incluindo sementes em germinação, nódulos de leguminosas, raízes de milho e tubérculo de batata,
provocando muitas vezes danos severos
(LOURENÇÃO et al., 1982). Em milho, nos
últimos anos, com o incremento da área de
safrinha, as larvas vêm causando consideráveis danos ao sistema radicular dessa
gramínea, especialmente em sistemas de
plantio direto (GASSEN, 1996; MARQUES
et al., 1999). No entanto, ainda não se tem
resultados de campo, quantificando o impacto de diferentes populações do inseto sobre
os rendimentos da cultura de milho. Segundo Marques et al. (1999), existe relação positiva e significativa entre a densidade de
larvas de D. speciosa no sistema radicular
de milho e o dano na raiz e redução do peso
seco da parte aérea da planta. Para estes
autores, a densidade de larvas capaz de
causar danos ao milho, no estádio em que
ocorreu a infestação (sete dias após a emergência), está aquém de 40 larvas por planta. Porém, como os resultados não foram
obtidos em campo e sim em vasos contendo vermiculita como substrato, o que pode
não traduzir a realidade, especialmente em
relação à sobrevivência das larvas, estes
autores sugerem que novas pesquisas
devam ser realizadas no campo, para se
conhecer o real nível de dano econômico
dessa praga na cultura do milho.
Bicho-bolo ou coró
Phyllophaga spp.; Cyclocephala spp.
e Diloboderus abderus Sturm, 1826
(Coleoptera, Scarabaeidae)
As larvas dos insetos conhecidos como
bicho-bolo ou corós (Phyllophaga spp.;
Cyclocephala spp. e Diloboderus abderus)
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Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
são semelhantes quanto ao aspecto geral, com o corpo de coloração brancoamarelada e em forma de C; a cabeça é de
cor marrom; possuem três pares de pernas.
A ponta do abdome é brilhante e transparente e o conteúdo interno do corpo pode
ser visualizado através da pele.
Dentro de um mesmo estádio de desenvolvimento, as larvas de cada espécie
podem ser separadas pelo tamanho e pela
disposição dos pêlos e espinhos na região
ventral do último segmento abdominal
(SALVADORI, 1997). Nas espécies do gênero Phyllophaga existem duas fileiras
paralelas de espinhos no centro daquele
segmento; em Cyclocephala existe distribuição uniforme das setas no último segmento abdominal da larva; a cabeça das
larvas de D. abderus é de coloração marromavermelhada, mais escura do que a cabeça
das outras duas espécies, que é marromamarelada. Os adultos são mais facilmente
separados, especialmente no tamanho e na
cor. D. abderus são os de maior tamanho
(cerca de 25 mm), apresentando coloração
pardo-escura, e os machos apresentam
“chifre”. Os besouros de Phyllophaga sp.
são de tamanho intermediário (20 mm) em
relação às outras duas espécies e apresentam coloração marrom-avermelhadabrilhante. Os besouros de Cyclocephala
são os de menor tamanho (cerca de 15 mm)
e apresentam coloração marrom-amarelada.
Esses insetos podem ter ciclo de vida
de dois a quatro anos, embora seja mais
comum o ciclo de três anos. Normalmente, colocam os ovos em gramíneas nativas.
As larvas recém-nascidas iniciam sua alimentação próximo à superfície do solo.
As plantas de milho podem ser severamente danificadas ou enfezadas pela alimentação das larvas nas raízes. Em infestações
pesadas, a planta pode morrer. Em infestações mais leves, pode ocorrer o tombamento das plantas, em função do enfraquecimento do sistema radicular. Os danos
geralmente são localizados em reboleiras. Pequenas áreas podem ser totalmente
destruídas, enquanto outras permanecem
intactas. Essa variação reflete a preferência
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dos adultos por oviposição em certos tipos de solo. Mesmo pequenas variações
na textura do solo aparentemente podem
afetar a preferência pela oviposição. À semelhança de outros insetos de solo, as
espécies de bicho-bolo, no Brasil, são pouco conhecidas e estudadas em relação à
sua taxonomia e bioecologia, o que dificulta
o estabelecimento de seus níveis de dano
na cultura de milho. Alvarado (1980, 1983,
1989) relatou que na Argentina o efeito de
larvas de D. abderus é evidente na fase
inicial de milho, quando as densidades são
superiores a quatro larvas/m2. No Brasil,
Silva e Costa (2002) concluíram que o nível
de controle para milho seria de apenas 0,5
larvas/m2.
Larva-arame
Agriotes; Conoderus e Melanotus
(Coleoptera, Elateridae)
Segundo Thomas (1940), os insetos
denominados larva-arame são considerados pragas de grande importância para
muitas plantas cultivadas em vários países
do mundo. Lima (1953) mencionou a importância das espécies do gênero Agriotes e
Conoderus, ao danificar raízes e a base do
caule de plantas, principalmente gramíneas.
Algumas espécies do gênero Melanotus
também são citadas como pragas de milho
(QUATE; THOMPSON, 1967; RILEY et al.,
1974; RILEY; KEASTER, 1979). Keaster et
al. (1975) salientaram as dificuldades existentes para estabelecer os níveis de danos
e construir tabelas de vida para as espécies
de larva-arame, devido à falta de informações tanto sobre preferência por hospedeiros, como sobre os efeitos de fatores
ambientais sobre o crescimento e desenvolvimento de suas populações.
A biologia dessa praga varia de acordo
com a espécie. Não existem no Brasil estudos básicos sobre tais espécies. Segundo
Keaster et al. (1975), uma das razões para
isso está relacionada com a complexidade
de espécies, dificuldade de coletar grande
número de larvas e ciclo biológico muito
longo. As informações encontradas no
Brasil são na maioria genéricas. Os adultos
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desses insetos variam de seis a 19 mm de
comprimento, possuem coloração marrom
ou mesmo mais escura e têm forma alongada, afunilando nas extremidades. Depositam seus ovos no solo, entre as raízes
de gramíneas. As larvas alimentam-se das
raízes de milho e de outras gramíneas.
As recém-nascidas são de coloração esbranquiçada. Quando completamente desenvolvidas adquirem coloração marromamarelada e o corpo torna-se bastante
esclerotinizado. O período larval varia de
dois a cinco anos. Findo esse período, a
larva forma uma célula no solo e transformase numa pupa tenra e de coloração branca,
permanecendo nesse estádio por curto período, findo os quais emergem os adultos.
Li et al. (1976) descrevem o ciclo biológico
de C. vespertinus, uma praga importante
na cultura do milho na Região Nordeste
dos Estados Unidos da América. Os ovos
dessa espécie (brancos e esféricos) são depositados no solo, em massas, sendo que
cada massa pode conter entre 20 e 40 ovos,
medindo cada um cerca de 0,5 mm. Durante
seu ciclo a fêmea pode depositar entre 200
e 1.400 ovos. A larva de coloração marrom
é alongada, com corpo rígido, medindo
entre 18 e 22 mm, quando completamente
desenvolvida. Apresenta o abdome com
muitos segmentos e com reentrância no
final do último segmento. O estádio larval
dura entre três e sete anos. A transformação
no estádio de pupa ocorre no próprio solo.
A pupa é de coloração que varia de branca
a marrom-brilhante e mede entre 12 e 15 cm
de comprimento.
Controle das pragas subterrâneas
Em função da escassez de informações
sobre a bioecologia dessas pragas, as recomendações de controle muitas vezes são
de caráter geral. Uma delas baseia-se na
rotação de culturas que, de maneira geral,
influencia o grau de incidência de uma ou
outra espécie de pragas subterrâneas na
cultura do milho, de acordo com o tipo de
cultivo utilizado na rotação, com a seqüência de rotação e com o tempo que se tenha
cultivado a mesma espécie vegetal antes
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
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de mudar para outra (LIMA, 1992). Segundo Gray e Steffey (1993), o potencial de
dano de uma praga subterrânea é baixo na
cultura do milho, quando este é semeado
após a soja, não necessitando, portanto,
de medidas químicas de controle. Porém,
quando o milho é semeado após milho ou
após pastagem, problemas maiores podem
ocorrer, especialmente em relação ao bichobolo, larva-arame e larva-alfinete.
Segundo Lima (1992) a eliminação de
hospedeiros intermediários, principalmente
na ante-safra, é outra medida que contribui
para diminuir a população de pragas subterrâneas, aliviando a pressão de infestações que ocorreriam no próximo cultivo.
O atraso na semeadura de milho tem
sido relacionado com a diminuição da população de D. abderus (ALVARADO, 1980;
MOREY; ALZUGARAY, 1982; SILVA et al.,
1996).
Medidas químicas de controle ainda
têm-se constituído na prática mais extensamente empregada para o controle de
pragas subterrâneas (LIMA, 1992). Isso se
deve, sem dúvida, à facilidade de aplicação.
De modo geral, o controle baseia-se em aplicações preventivas, uma vez que o controle
curativo, mesmo que possível, nem sempre
leva a resultados satisfatórios, considerando que ao notar os sintomas, parte do
prejuízo já está feita (LIMA, 1992). Uma
dessas medidas é com base no tratamento
da semente com inseticidas sistêmicos.
Esse método dá proteção à semente e/ou
plântula contra a maioria das pragas subterrâneas, seja pelo efeito direto do produto
em contato com a praga, o que causa sua
morte, seja pelo efeito de repelência, não
deixando que a praga ocasione danos na
fase mais crítica da cultura. Dessa maneira,
tem-se maior número de plantas por unidade de área do que se teria, se não fosse efetuado nenhum tipo de controle. Segundo
Radford e Allsopp (1987), o tratamento de
sementes requer menos quantidade de
ingrediente ativo do que as aplicações no
sulco de plantio, seja através de pulverizações ou de produtos granulados. Como
conseqüência, o custo do controle é menor.
Segundo Viana e Marochi (2002), o
controle químico tem sido o método mais
utilizado em programas de manejo das
várias espécies de Diabrotica. No entanto,
para D. speciosa, a espécie que ataca o milho
no Brasil, os trabalhos são escassos, impossibilitando recomendação eficiente de inseticidas ou método de aplicação. Os estudos
relatados em outros países indicam a persistência (seis a dez semanas para conferir
proteção à planta durante o período mais
suscetível) dos inseticidas como fator importante no controle de Diabrotica (LEVINE;
OLOUMI-SADEGHI, 1991). No entanto,
resultados inconsistentes têm sido relatados em vários trabalhos visando o controle
da praga (APPLE et al., 1977; SUTTER et
al., 1989, 1990; DAVIS; COLLEMAN, 1997).
Para o controle de S. castanea em milho
safrinha, Raga et al. (1997) trabalhando com
inseticidas via tratamento de semente ou
aplicados sobre o solo, destacaram apenas o inseticida clorpirifós como eficiente,
quando pulverizado no sulco de plantio.
Em outro trabalho na mesma cultura, em avaliação realizada aos 55 dias após a semeadura, encontraram maior eficiência na redução populacional do inseto, empregando
os inseticidas (g i.a. ha-1) terbufós (2.000
e 3.000 g i.a. ha-1), fipronil (80 g i.a. ha-1)
e endosulfan (525 e 1.050 g i.a. ha-1), estimando níveis médios de mortalidade de
97,9%; 95,8%; 76,3%e 64,6%, respectivamente (RAGA et al., 1998). Siloto et al. (2000)
observaram que aos 38 dias após a aplicação,
os inseticidas terbufós, clorpirifós e endosulfan foram os inseticidas mais eficientes
na redução da população do percevejocastanho em milho safrinha.
Para controlar o bicho-bolo (D. abderus),
Silva (1996), estudando diferentes inseticidas de tratamento de sementes, concluiu,
com base no número de larvas vivas, população de plantas e produtividade de
grãos, que os melhores produtos foram
thiodicarb (700 g 100 kg-1 de sementes),
carbossulfan (500 g 100kg-1), e furathiocarb
(640 g 100 kg-1).
Morrill (1984), em estudos que visaram
o controle de larva-arame, relatou a eficiên-
cia dos produtos carbossulfan e lindane
utilizados via tratamento de sementes na
redução do número de plantas mortas por
espécies de larva-arame na cultura do trigo.
Pragas do colmo
Lagarta-rosca
Agrotis ipsilon Hufnagel, 1766
(Lepidoptera, Noctuidae)
O nome científico dessa espécie reflete a marca verificada na asa anterior da
mariposa que lembra a letra grega ípsilon.
A espécie é uma praga de ocorrência mundial que ataca folhas, colmos e raízes de
muitas espécies vegetais cultivadas incluindo uva, algodão, fumo, soja, batata, tomate, feijão, repolho, couve-flor, morango e
milho. As posturas são feitas na parte aérea
da planta. Após o primeiro instar, as lagartas
dirigem-se para o solo, onde permanecem
protegidas durante o dia, só saindo ao anoitecer para se alimentarem. A lagarta desse
inseto alimenta-se da haste da planta,
provocando o seccionamento desta, que
pode ser total, quando as plantas estão com
a altura de até 20 cm, pois ainda são muito
tenras e finas, e parcial, após esse período.
Apesar desse sintoma de dano ser característico da lagarta-rosca, ele não é exclusivo,
pois pode ser provocado também pela
lagarta-do-cartucho. Portanto, deve-se
identificar corretamente a espécie que está
ocasionando o dano. A separação das
espécies, através dos adultos, é muito fácil,
em função das grandes diferenças morfológicas. No entanto, às vezes, não é tão
fácil a separação das lagartas. Uma das
características que pode ser utilizada para
a separação mais rápida é através das
suturas da cabeça, onde se tem desenhado
na parte frontal de S. frugiperda um Y
invertido, enquanto que na lagarta de A.
ipsilon o que observa é um V invertido.
As lagartas de A. ipsilon, quando completamente desenvolvidas, medem cerca
de 40 mm, são robustas, cilíndricas, lisas e
apresentam coloração variável, predominando a cor cinza-escura. As lagartas
quando tocadas enrolam-se tomando o
aspecto de uma rosca. A duração do ciclo
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Controle das pragas de colmo
a) tratamento de sementes: o tratamento
de sementes é eficaz para o controle
da lagarta-rosca, porém somente
para os ataques em plântulas;
b) controle biológico: existem laboratórios de produção de moscas e vespas, que são liberadas na área, e em
função da capacidade inerente de
busca de cada espécie liberada, procuram e controlam eficientemente a
praga. Com o aumento da incidência
na cultura do milho, tal tecnologia
biológica pode ser facilmente adaptável. Atualmente, pela facilidade de
produção e baixo custo, o parasitóide de ovos do gênero Trichogramma
tem sido indicado para o controle biológico de várias pragas de importância econômica em sistemas florestais
e agrícolas (PARRA et al., 2002).
Pragas da parte aérea
(fase vegetativa)
Mastigadores
Lagarta-do-cartucho
Spodoptera frugiperda Smith, 1797
(Lepidoptera, Noctuidae)
A lagarta-do-cartucho é a principal praga da cultura do milho por sua ocorrência
generalizada e por atacar todos os estádios
de desenvolvimento da planta. A redução
nos rendimentos de grãos, devido ao
ataque dessa praga, varia de 17,7% a 55,6%
de acordo com o estádio de desenvolvimento e dos genótipos de milho (CRUZ;
TURPIN, 1982, 1983; WILLIAMS; DAVIS,
1990; WILLINK et al., 1991; CRUZ et al.,
1996, 1999a). Aspectos sobre a sua bioecologia foram revisados por Cruz (1995a).
A mariposa coloca seus ovos agrupados
formando massa, que pode conter mais de
300 ovos. O período de incubação varia de
acordo com a temperatura, mas nos meses
de verão, é em torno de três dias. As larvas
recém-eclodidas iniciam sua alimentação
pelas partes mais tenras das folhas, deixando sintoma de dano característico, pois se
alimentam apenas da parte verde, sem, no
entanto ocasionar furos nas folhas, ou seja,
raspam a folha, deixando apenas a epiderme
membranosa. As plantas que estão sendo
atacadas são, portanto, facilmente reconhecidas pelas inúmeras pontuações transparentes. Quando a lagarta passa para o
segundo instar ela começa a furar as folhas,
indo em direção ao cartucho da planta, local
onde permanece até próximo ao estádio de
pupa. Durante o período larval, em torno
de 18 a 20 dias, a lagarta consome grande
quantidade de área foliar (Fig. 3), geralmente alimentando-se das folhas mais tenras.
A lagarta pode também penetrar no colmo,
através do cartucho, fazendo galerias descendentes, até danificar o ponto de crescimento, ocasionando o sintoma denominado coração morto. Outro dano provocado pela lagarta-do-cartucho é através do
seccionamento na base do colmo que pode
ser parcial ou total, neste caso, com a morte
da planta. O ponto de inserção da espiga
pode ser também atacado, com perda total
da produção da planta atacada, devido à
não-formação de grãos ou pela queda da
espiga com grãos ainda em formação. São
também comuns os danos diretamente no
grão em formação dentro da espiga, ocasionando danos diretos pela alimentação
ou indiretos por facilitar a penetração de
microrganismos, tais como fungos e bac-
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larval varia entre 20 e 25 dias, à temperatura de 25oC ± 3oC (HARRIS et al., 1962;
SANTOS; NAKANO, 1982). A lagarta
transforma-se em pupa no próprio solo.
A pupa apresenta o tegumento bem esclerotizado, marrom, com segmentação bem
evidente. A duração do estádio pupal varia entre 11 e 15 dias, à temperatura de
25oC ± 3oC (HARRIS et al., 1962; ELSAYED; NAGUIB, 1964; SANTOS;
NAKANO, 1982). A mariposa é geralmente de coloração marrom-escura, com áreas
claras no primeiro par de asas, coloração
clara com os bordos escuros, no segundo
par, medindo cerca de 40 mm de envergadura. Santos e Nakano (1982) relataram
que o número médio de ovos obtidos por
fêmea de A. ipsilon foi 1.263, em experimento
de laboratório.
71
Figura 3 - Danos causados pela lagartado-cartucho, Spodoptera
frugiperda
térias. Nesse caso, a perda em qualidade
do grão e conseqüentemente da própria
silagem é reduzida.
A lagarta completamente desenvolvida
sai da planta e dirige-se ao solo penetrando
por alguns centímetros, onde constrói uma
célula, transformando-se em seguida em
pré-pupa, com duração de cerca de um dia,
findo o qual se transforma em pupa. O período pupal dura cerca de onze dias.
Controle de pragas que atacam a
fase vegetativa do milho
A lagarta-do-cartucho é sem dúvida a
praga de maior preocupação em termos de
manejo, em virtude de sua ocorrência em
praticamente todas as fases de desenvolvimento da planta. Em função disso, diferentes estratégias de manejo precisam ser
adotadas.
Ataque no início do desenvolvimento
da cultura de milho acarretará redução do
número de plantas na área, pois a plântula
fatalmente será morta pela praga. Em fun-
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
72
ção da pequena área foliar da planta, muitas
vezes o controle via pulverização convencional não é eficiente, pois o produto não
fica retido na folha, diminuindo seu período
residual. A medida de controle, com base
no uso de inseticidas sistêmicos via tratamento de sementes, tem sido uma alternativa viável.
Em plantas mais desenvolvidas, ou seja,
a partir do estádio de oito folhas, muitas
vezes a eficiência esperada do controle da
praga não é alcançada, não pela ineficiência do produto utilizado, mas sim, devido
ao método de aplicação. Por exemplo, em
estádios mais avançados de desenvolvimento da planta a eficiência da aplicação
via trator pode cair, significativamente, devido ao tombamento das plantas pela própria barra de pulverização, fazendo com que
o produto não atinja o centro do cartucho
da planta onde se encontra a praga (Quadro 1).
Um indicativo para determinar a época
de controlar a lagarta-do-cartucho – Nível
de Controle (NC) ou porcentagem de plantas atacadas, acima dos quais se recomenda o controle – na cultura de milho destinado à produção de grãos, é mostrado no
Quadro 2. O valor calculado de porcentagem de plantas atacadas, quando comparado com o valor real da infestação observada
no campo, serve de base para tomar decisões sobre o controle da praga. Um valor
médio encontrado no campo, semelhante
ou superior ao valor determinado pelo Quadro 2, leva à decisão de controlar a praga.
O valor no Quadro 2 é estabelecido em
função da fórmula, que leva em consideração o custo do controle, o dano médio
que a praga ocasiona (média de 20%) e o
valor a ser protegido (valor monetário do
milho). Assume-se que quanto maior for o
valor a ser protegido, menor será a tolerância à praga. O NC calculado é então comparado ao valor real da porcentagem de
plantas atacadas, obtido no campo, após
amostragem realizada em cinco pontos/ha
(100 plantas consecutivas por ponto).
Exemplificando, para um rendimento
esperado de 6 toneladas de grãos de mi-
QUADRO 1 - Comparação entre aplicação via trator ou pulverizador costal de inseticidas em milho em diferentes estádios de desenvolvimento, para o controle de Spodoptera
frugiperda
Mortalidade larval
(%)
Estádio de desenvolvimento da planta
Dose
Produto
(g i.a. ha-1)
Aplicação
no dia da pulverização
(número de folhas abertas)
Clorpirifós
288,0
Metomil
112,5
Fenpropatrin
30,0
4-6
6-8
8-10
10-12
Costal
89
94
99
79
Trator
84
84
65
25
Costal
88
83
96
76
Trator
85
95
69
50
Costal
89
80
94
53
Trator
82
86
70
20
NOTA: i.a. - Ingrediente ativo.
QUADRO 2 - Valor estimado da incidência da lagarta-do-cartucho na cultura de milho (%) acima
do qual se devem utilizar medidas de controle
(1)
Nível de controle (NC)
(% de plantas atacadas)
Custo
Rendimentos estimados
do controle
(t ha-1)
(R$)
3
4
5
6
7
8
7
11,7
8,7
7,0
5,8
5,0
4,4
8
13,3
10,0
8,0
6,7
5,7
5,0
9
15,0
11,2
9,0
7,5
6,4
5,6
10
16,7
12,5
10,0
8,3
7,1
6,2
11
18,3
13,7
11,0
9,2
7,9
6,9
(1) NC calculado pela fórmula: 100 x Custo do Controle em R$ ha-1 (R$ 0,20 x kg ha-1 x preço do
milho, em R$ kg-1, em que o valor fixo de R$ 0,20 é o dano médio que a praga ocasiona ao milho
(20%); assumindo um valor de R$ 0,10 (kg de milho).
lho por hectare e um custo de controle de
R$ 10,00, o ponto de decisão sobre a necessidade de controle da lagarta-do-cartucho
seria para infestação igual ou superior a
8,3%.
Devido às características de ataque da
lagarta-militar na cultura de milho, geralmente em surtos, a aplicação de inseticidas
químicos deve ser imediata e dirigida para
todas as partes da planta. Quando o ataque
da praga ocorre em plantas, cujo estádio
de desenvolvimento impede a entrada de
equipamentos como o trator, pode-se fazer
uso da pulverização via água de irrigação
ou através de avião. Considerando que a
ocorrência inicial da praga pode ser nas
plantas daninhas dentro ou fora da cultura
do milho, muitas vezes, o controle desses
focos resulta em maior eficiência e em
menor custo, por ser aplicação localizada.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
Sugadores
Cigarrinha-do-milho
Dalbulus maidis Delong & Wolcott,
1923 (Homoptera, Cicadellidae).
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Dalbulus maidis (Fig. 4) é a cigarrinha
mais importante da cultura do milho na
América Latina (NAULT, 1990). Essa espécie no Brasil ainda é de importância relativamente pequena pelos danos diretos
ocasionados através da sucção de seiva.
No entanto, por ser transmissora eficaz de
doenças, tem recebido muita atenção dos
pesquisadores, pois a alta incidência das
doenças transmitidas pode limitar a produção do milho. A fêmea mede cerca de 5 mm
e seus ovos são alongados, incrustados
na nervura principal, geralmente no interior
do cartucho. Tanto as ninfas como os adultos são sugadores de seiva. No processo
de alimentação em planta doente e, posteriormente, em uma sadia ocorre a transmissão da doença, que pode ocasionar
perdas elevadas nos rendimentos.
Entre as principais doenças transmitidas pela cigarrinha, estão os enfezamentos, que são doenças sistêmicas associadas
à presença, no floema das plantas, de microrganismos procariontes, pertencentes à
classe Mollicutes (espiroplasma e fitoplasma) (FERNANDES; OLIVEIRA, 2000).
Os enfezamentos reduzem significativamente a quantidade absorvida de nutrien-
Figura 4 - Adulto da cigarrinha-do-milho,
Dalbulus maidis
73
tes pelas plantas de milho, com conseqüente redução na produção, sendo esse efeito influenciado pela suscetibilidade da
cultivar, época de infecção das plantas e
temperatura ambiente. O espiroplasma e
o fitoplasma são transmitidos de forma
persistente pela cigarrinha. Esse insetovetor, assim como os patógenos que transmitem, multiplica-se apenas em milho (Zea
mays L.) e em espécies relacionadas, que são
raras no Brasil (FERNANDES; OLIVEIRA,
2000). Assim, a presença contínua de plantas de milho no campo oriundas da germinação de sementes de milho remanescentes da cultura anterior ou por plantios
sucessivos dessa cultura, pode permitir a
sobrevivência dos patógenos e da cigarrinha.
atacada na fase de formação de grãos, as
espigas deformam-se e não há o desenvolvimento dos grãos ou estes tornam-se
ressecados (CLOWER, 1957; PARISI;
DAGOBERTO, 1979). Quando o grão é
atacado no estádio leitoso ou pastoso,
apresenta-se completamente destruído
ou manchado na maturidade (PARISI;
DAGOBERTO, 1979). Outras conseqüências advindas do ataque na espiga, ou nos
grãos em formação, incluem a perda na
qualidade (diminuição nos teores de óleo,
proteína etc.), na estética do produto in
natura, industrializado e redução na germinação da semente (DAGOBERTO et al.,
1980).
Controle de insetos sugadores que
Percevejo-barriga-verde
Dichelops spp. e
Percevejo-verde
Nezara viridula Linnaeu, 1758
(Hemiptera, Pentatomidae)
Em anos recentes e em algumas regiões
do País, tem-se verificado a ocorrência dos
percevejos Dichelops e Nezara especialmente em plantas jovens de milho. Os gêneros são facilmente separados, pois o
Nezara é totalmente verde e de maior dimensão, enquanto que o Dichelops apresenta o dorso marrom.
Tais insetos geralmente migram da cultura da soja para se alimentarem de plântulas de milho, podendo causar redução do
número de plantas por unidade de área.
Quando o ataque ocorre em plantas mais
desenvolvidas e estas não morrem, é comum o aparecimento de perfilhos improdutivos. Além disso, a planta atacada apresenta crescimento retardado. Geralmente,
tem-se verificado apenas a presença de
adultos que atacam a planta. No entanto,
quando a fêmea coloca seus ovos na plântula, as formas jovens também se alimentam e danificam a planta. Segundo Clower
(1957), plantas de milho entre 25 e 30 cm,
quando atacadas por N. viridula, mostram
graus distintos de danos, que variam desde leve murchamento das folhas centrais
até a morte da planta. Quando a planta é
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006
atacam a fase vegetativa do milho
Para a cigarrinha D. maidis, considerando que os danos são mais significativos
em relação às doenças transmitidas e que
basta uma picada do inseto para que ocorra a transmissão, a eficiência do controle
do vetor não tem sido suficiente para evitar os danos ocasionados pelas doenças.
Deve-se, portanto, lançar mão de outras
táticas de manejo. Evitar o plantio de cultivares muito suscetíveis, selecionando-as
de acordo com as características indicadas
em Cruz et al. (2001).
O tratamento de sementes tem sido a
alternativa viável para o controle dos percevejos. Martins e Weber (1998) estudaram
a eficiência e praticabilidade agronômica
do imidacloprid (Gaucho 700 PM, nas doses de 140 e 210 g i.a. ha-1 por 100 kg de
sementes), comparando-o com a pulverização convencional com methamidophós
(Tamaron BR, a 240 g ha-1, aplicado de
um a 14 dias após a semeadura). A eficiência do tratamento de sementes no controle
do inseto foi superior a 87%, em avaliações
realizadas aos 20 e 30 dias após a emergência da planta.
O tratamento da semente propicia controle relativamente bom, porém com residual
muito pequeno. Dependendo da população
da praga (dois percevejos por metro de sulco) haverá necessidade de utilização de
FUTURO DO MIP EM MILHO
O objetivo principal do Programa do
MIP continuará sendo a manipulação de
maneira inteligente do ambiente de uma
praga-chave, para reduzir permanentemente sua posição de equilíbrio, de tal modo que ela caia para um patamar abaixo do
nível de dano econômico. Essa redução
duradoura deverá ser conseguida usando
táticas (de maneira isolada ou em combinação), tais como a liberação intencional e
o estabelecimento de inimigos naturais nas
áreas onde eles não se encontram (através do controle biológico clássico), uso
de inseticidas microbianos, utilização de
variedades de milho resistentes às pragas (seja através da resistência genética
tradicional, seja através do uso de plantas geneticamente modificadas – plantas
transgênicas) e manejo ambiental (CRUZ,
2002).
Em programas de manejo, a meta será
sempre evitar que pragas-chave conhecidas
atinjam populações que ultrapassem seus
níveis de danos. As medidas corretivas deverão ser usadas somente quando as pragas (sejam elas, pragas-chave, secundárias
ou migratórias, recentemente surgidas na
área) estiverem fora do controle e as perdas
que justifiquem as ações de controle sejam
aparentes. Alguma tática de manejo ainda
muito incipiente na cultura do milho no
Brasil com certeza receberá atenção especial
nesse novo milênio: controle biológico com
predadores e parasitóides; controle microbiano, uso seletivo de produtos químicos
e plantas geneticamente modificadas.
Controle biológico com
predadores e parasitóides
Essa tática de controle contra as pragas do milho, embora não tenha sido ainda
amplamente utilizada, deve aumentar de
a) aplicações de alimentos suplementaimportância nos próximos anos, especialres para atrair, fixar, reter e sustentar
mente quando composta com outros méos inimigos naturais na área, quando a
todos de controle, em função das melhorias
presa natural está em baixa população
nas técnicas de produção dos inimigos
ou quando substâncias nutritivas, tais
naturais, do conhecimento da época mais
como pólen, são deficientes para a
apropriada de liberação; a busca de novas
manutenção dos inimigos naturais;
espécies ou raças mais efetivas também
deve contribuir de maneira substancial pab) fornecimento ou manejo de abrigos
ra o aumento da eficiência desse método
utilizados pelos inimigos naturais, tais
de controle (CRUZ, 2002).
como margens, faixas ou matas natiEm diversos países existem progravas próximas da lavoura, que também
mas de controle biológico através de
servem de abrigo para pássaros inseTrichogramma (Fig. 5), um inimigo natural
tívoros;
muito importante na manutenção de baic) manejo de plantas daninhas que serxas populações de lagartas de H. zea nas
vem como refúgios para as populaespigas de milho. Além da eficiência desções dos inimigos naturais;
te parasitóide no campo, sua criação em
escala pode ser facilmente conseguida em
d) uso seletivo de inseticidas para evitar
a eliminação dos inimigos naturais.
laboratório (CRUZ et al., 1999a), abrindo espaço para uso no controle
de outras pragas. Vários outros
inimigos naturais têm sido considerados promissores para uso
em programas de manejo de pragas, especialmente em relação às
espécies de Lepidoptera (CRUZ,
1994, 1995b; CRUZ et al., 1995ab;
1997a; CRUZ e OLIVEIRA, 1997;
REIS et al., 1988; REZENDE et al.,
1994, 1995; FIGUEIREDO et al.,
2002). Apesar de todos esses avanços, ainda será necessária a determinação, com maior precisão,
do real valor das liberações maciças desses inimigos naturais
Figura 5 - Trichogramma sp., parasitando ovos da
no campo. Controle cultural para
lagarta-do-cartucho
conservar e aumentar os inimigos
naturais existentes na área deve
ser melhorado no futuro.
Novas tecnologias estão sendo desenvolvidas para viabilizar
a criação massal da tesourinha
Doru luteipes (Dermaptera: Forficulidae) (Fig. 6), em laboratório, e
posterior liberação no campo.
Técnicas especiais para aumentar a eficiência de inimigos naturais devem ser consideradas em
qualquer estratégia de manejo:
Figura 6 - Adultos da tesourinha, Doru luteipes
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
medidas complementares, através da pulverização. Nesse caso, o inseticida deve
ser direcionado especialmente para atingir o colmo da planta, onde normalmente
encontra-se o inseto.
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
74
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
O uso de suplementos alimentares para
aumentar a eficiência dos inimigos naturais
tem sido empregado principalmente para
alguns insetos predadores, como pulverizações com substâncias açucaradas em
plantas próximas ou na própria cultura.
Controle biológico com
entomopatógenos
Entre os agentes causais de doenças
infecciosas em pragas, os fungos ocupam
lugar de destaque, sendo os primeiros agentes de infecção de natureza microbiana identificados em insetos (ALVES; MORAES,
1979). Entre os fungos entomopatogênicos mais conhecidos e estudados estão os
gêneros Entomophthora, Cordyceps,
Aschersonia, Metarrhyzium, Beauveria e
Nomuraea. Os fungos caracteristicamente
penetram no hospedeiro através do tegumento, ao contrário de bactérias e vírus, os
quais só entram via canal alimentar. Recentemente foi demonstrado que certos fungos patogênicos tais como B. bassiana, N.
rileyi e P. fumosoroseus alteram a função
dos hemócitos durante seu desenvolvimento in vivo (HUNG; BOUCIAS, 1992;
LOPES-LASTRA; BOUCIAS, 1994),
reduzindo o número de hemócitos do hospedeiro, inibindo dessa maneira a formação de um sistema efetivo de encapsulação multicelular contra o corpo estranho.
A eficiência dos fungos depende de vários
fatores abióticos. Um desses fatores é a
umidade relativa do ambiente, que pode
controlar o desenvolvimento do processo
infectivo dos fungos, tais como Beauveria,
Metarhizium, Nomuraea e Paecilomyces.
Segundo Ignoffo et al. (1976) e Gaugler e
Boush (1978, 1979), os inseticidas microbianos são inativados pela exposição aos
raios solares. A fotoinativação tem sido
considerada como o fator ambiental mais
importante especialmente no que diz respeito à luz ultravioleta de maior interesse
biológico, por ser a faixa onde maiores danos são verificados (EDGINGTON et al.,
2000).
Produtos comerciais à base de fungos
já existem (JARONSKI, 1997). Segundo
75
esse autor, a escolha de fungos como candidatos a agentes de controle biológico cai
dentro de sete espécies dentro dos Deuteromicetos (fungo imperfeito): B. bassiana,
B. brongniartti, Hirsutella, Verticillim
lecanii, M. anisopliae N. rileyi e Aschersonia
aleyrodis. Algumas dessas espécies são
conhecidas há mais de 100 anos (por exemplo, B. bassiana e M. anisopliae). Somente
para B. bassiana existem mais de 700 trabalhos publicados, desde 1970 (JARONSKI,
1997).
Os agentes de controle biológico à
base de vírus são, na maioria, do grupo
Baculovírus, devido à especificidade, à
alta virulência ao hospedeiro e à maior
segurança proporcionada a vertebrados
(TANADA; REINER, 1962; IGNOFFO et al.,
1965; ALLEN et al., 1966; WHITLOCK,
1977; BURGHES et al., 1980; MOSCARDI,
1986). Para a lagarta-do-cartucho do milho,
têm-se estudado dois tipos de Baculovírus,
ou seja, o vírus de granulose e o vírus de
poliedrose nuclear. No entanto, esse último
tem sido apontado como de maior potencial
de uso contra lagartas de Spodoptera spp.
(YOUNG; HAMM, 1966; GARCIA, 1979;
GARDNER; FUXA, 1980; HAMM; HARE 1982; FUXA, 1982; GARDNER et al.,
1984; MOSCARDI; KASTELIC, 1985;
VALICENTE et al., 1989; VALICENTE;
CRUZ, 1991; JONES et al., 1994; HAMM;
CARPENTER, 1997).
O vírus de poliedrose nuclear de
Spodoptera frugiperda (VPNSF) é específico, isto é, só tem ação sobre a lagartado-cartucho. A larva é a fase mais suscetível à sua infecção. Em condições naturais,
a praga é infectada mais comumente por
via oral ao ingerir o alimento (folhas de
milho) contaminado; no entanto é possível
também a infecção através dos ovos, dos
orifícios de respiração do corpo (espiráculos), ou mesmo através de insetos parasitóides contendo vírus. Uma vez ingerido, os corpos de inclusão poliédrica,
encontrando condições alcalinas existentes no mesêntero são dissolvidos liberando os vírions. O vírus começa a se multiplicar nos núcleos das células dos tecidos,
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006
espalhando-se por todo o corpo do inseto
(tecido adiposo, epidérmico, matriz traqueal
e mesmo glândulas salivares, tubo de
Malphighi e células sangüíneas) e provocando sua morte, geralmente de seis a oito
dias após a ingestão. Uma lagarta infectada
pelo vírus de poliedrose nuclear ingere apenas 7% do alimento normalmente ingerido
por lagarta sadia (VALICENTE; CRUZ,
1991).
Entre as bactérias, o Bacillus thuringiensis (Bt) é um dos agentes do controle
de pragas mais promissores. Quando a
praga alimenta-se do hospedeiro, contendo
os esporos de Bt, seu aparelho digestivo
fica paralisado e ocorre diminuição na ingestão de alimentos, embora a lagarta ainda
permaneça viva por vários dias.
Como bioinseticida, o Bt vem sendo
usado há décadas (FEITELSON et al., 1992)
e está registrado, sem limitação de uso, para
controle de várias espécies de Lepidoptera.
A limitação para sua maior participação no
mercado deve-se ao alto custo de produção e à instabilidade dos resultados obtidos no campo (VAECK et al., 1987). Mesmo com a eficiência Bt efetivo no controle
de várias pragas do milho, conforme seu
registro de uso, a eficiência das estirpes
hoje comercializadas sobre a lagarta-docartucho é baixa (WAQUIL et al., 1982).
Toxinas de Bt têm sido as precursoras das
plantas transgênicas de milho e de outras
culturas para o controle de diferentes
pragas de importância econômica.
Uso de inseticidas seletivos
Apesar do avanço nos métodos alternativos de controle dentro dos programas
de MIP, o uso de produtos químicos convencionais ainda será necessário contra
muitas pragas para as quais alternativas
ainda não estão disponíveis, ou seja, ainda
não foram desenvolvidas ou não estão
implementadas. É provável que o controle
químico ainda persista por longo período
como um dos mais potentes métodos de
controle de pragas. No entanto, seu uso
contínuo não será mais permitido. Além do
aumento da conscientização sobre os pro-
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
76
blemas ambientais e o perigo para a saúde,
seu uso contínuo irá sempre gerar outras
conseqüências, sendo do ponto de vista
do MIP, entre as mais importantes, o
aumento significativo no nível de resistência da praga.
Uso de armadilhas contendo
feromônio sexual
A disponibilidade comercial do feromônio de Spodoptera frugiperda tem
favorecido a tomada de decisão sobre a
necessidade de controle dessa praga. Tem
também propiciado o avanço principalmente na utilização do controle biológico
através de parasitóides de ovos, como é o
caso de Trichogramma spp. e Telenomus
remus. Os trabalhos desenvolvidos pela
Embrapa Milho e Sorgo indicam a utilização de uma armadilha do tipo Ferocon 1C
por hectare. Essa armadilha, contendo o
feromônio sexual de S. frugiperda deve
ser colocada no centro da área, logo após
a emergência da plântula. As vespinhas
Trichogramma ou Telenomus serão liberadas na densidade de 100 mil adultas por
hectare, quando forem capturadas em
média três mariposas por armadilha.
Caso a opção seja por inseticida químico, a escolha deve ser por produto seletivo, aplicado 10 dias após a detecção das
três mariposas por armadilha por hectare,
seguindo as condições apontadas no Quadro 2.
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Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
82
Principais doenças da cultura do milho
Nicésio Filadelfo Janssen de Almeida Pinto 1
Maria Amélia dos Santos 2
Dulândula Silva Miguel Wruck 3
Resumo - Nos últimos anos, tem-se presenciado o aumento da incidência de doenças
na cultura do milho, que resulta em quedas na produtividade e na qualidade dos grãos.
As causas do aumento da incidência dessas doenças são a monocultura do milho, as
alterações climáticas e o manejo cultural adotado, fazendo com que os patógenos (fungos,
bactérias, nematóides, vírus, molicuttes) permaneçam por mais tempo na área de cultivo.
O manejo de doenças do milho exige o empenho do produtor, que resultará numa maior
ou menor eficiência do controle. Estão disponíveis no mercado, híbridos que apresentam
diferentes graus de resistência para diferentes doenças, mas não para todas. Para algumas
doenças foliares, causadas por fungos, há trabalhos comprovando a viabilidade e a
eficiência do controle químico, podendo assim fazer parte do sistema de manejo da
cultura.
Palavras-chave: Zea mays. Doença. Manejo. Nematóide.
A incidência e a severidade de doenças
na cultura do milho têm aumentado muito
nos últimos anos, devido, principalmente, a mudanças climáticas globais, a mudanças no sistema de cultivo (plantio direto, milho irrigado), da época de plantio
(primeira época – safra de verão e segunda
época – safrinha), de plantios consecutivos
(milho no campo o ano todo), da expansão da área cultivada para a região CentroOeste e, não raro, à ausência da rotação de
culturas (substituída pela sucessão de culturas). Essas mudanças têm contribuído
acentuadamente para a multiplicação e preservação de inóculos de diversos patógenos (fungos, bactérias, nematóides, vírus,
molicuttes), bem como submetido a cultura
do milho a condições edafoclimáticas favoráveis ao desenvolvimento de determinadas doenças.
No Brasil, atualmente, são muitas as
doenças da cultura do milho. Destacam-se
a mancha-branca (etiologia indefinida);
as ferrugens causadas por Puccinia sorghi
(ferrugem-comum), Puccinia polysora
(ferrugem-polissora) e Phyzopella zeae
(ferrugem-branca ou tropical); a queimade-turcicum (Exserohilum turcicum); a
cercosporiose (Cercospora zeae-maydis e
Cercospora sorghi f. sp. maydis); a manchafoliar por Stenocarpella macrospora
(Diplodia macrospora); a antracnose-foliar
(Colletotrichum graminicola);
o enfezamento-pálido e o
enfezamento-vermelho, entre
outras.
mo saprófita. Portanto, a rotação de cultura,
o manejo adequado da matéria orgânica e
o bom preparo do solo reduzem sensivelmente o seu potencial de inóculo.
Por outro lado, o desbalanço de nutrientes no solo predispõe as plantas ao
ataque deste patógeno (Fig. 1). Excesso de
nitrogênio associado à deficiência de potássio torna as plantas mais suscetíveis à
doença.
DOENÇAS FOLIARES
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
INTRODUÇÃO
Mancha por turcicum
Exserohilum turcicum
(= Helminthosporium
turcicum)
É um fungo invasor do solo
e não consegue sobreviver co-
Figura 1 - Mancha por turcicum (Exserohilum turcicum)
1
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected]
2
Enga Agra, D.Sc., Profa UFU, Caixa Postal 593, CEP 38400-902 Uberlândia-MG. Correio eletrônico: [email protected]
3
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTTP, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: [email protected]
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
83
Mancha-branca
Ferrugem-branca ou tropical
Etiologia indefinida
Physopella zeae
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
A medida de controle mais recomendada para a mancha-branca é a utilização
de cultivares resistentes. Materiais comerciais de milho têm apresentado alta variabilidade no grau de resistência a esta doença (Fig. 2). A alteração na época de plantio
deve coincidir com a fase de suscetibilidade do hospedeiro e ausência do patógeno.
Em algumas regiões de ocorrência desta
doença, sua severidade tem sido maior nos
meses de dezembro a maio, não ocorrendo
normalmente nos meses de julho a outubro.
Figura 3 - Ferrugem-comum
(Puccinia sorghi)
A ferrugem-branca (Fig. 5) é de ocorrência mais recente no Brasil. Nos últimos anos, disseminou-se de forma que se
tornou comum em muitas regiões do País.
É favorecida por ambientes úmidos e por
temperaturas moderadas a altas. Portanto, por amplitude maior de temperatura que
aquela mais favorável à ferrugem-polissora,
apresentando grande capacidade de adaptação em diferentes ambientes. Em geral,
apresenta maior severidade em locais de
baixa altitude e, principalmente, em plantios
tardios. Por ser parasita obrigatório e apresentar ciclos completos, as principais medidas de controle para as três ferrugens
citadas são a utilização de cultivares resistentes, a eliminação de plantas hospedeiras
e o controle químico.
Ferrugem-polissora
Puccinia polysora
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
A ferrugem-polissora (Fig. 4) é favorecida por temperaturas em torno de 27oC,
umidade relativa alta e altitudes inferiores
a 900 m. Altitudes superiores a 1.200 m são
desfavoráveis à doença.
Figura 2 - Mancha-branca
Ferrugem-comum
Figura 5 - Ferrugem-branca ou tropical
(Physopella zeae)
A ferrugem-comum do milho (Fig. 3)
é favorecida por temperaturas entre 16oC e
23oC, alta umidade relativa e altitudes superiores a 900 m. Por ser parasita obrigatório
e apresentar ciclo completo, as principais
medidas de controle são a utilização de
cultivares resistentes, a eliminação de plantas hospedeiras alternativas e o controle
químico.
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Puccinia sorghi
Figura 4 - Ferrugem-polissora
(Puccinia polysora)
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006
Cercosporiose
Cercospora zeae-maydis e
C. sorghi f. sp. maydis
A cercosporiose (mancha-cinza-dafolha) (Fig. 6) pode causar perdas superiores a 80% na produção de grãos de milho.
A severidade da cercosporiose é favore-
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
84
bo foliar (Fig. 7) e na nervura central da
folha, sendo favorecida por períodos de
alta temperatura e de alta umidade relativa.
Como medidas de controle, recomenda-se
a utilização de sementes sadias, de cultivares resistentes e de rotação de culturas.
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
cida pela ocorrência de vários dias nublados, com alta umidade relativa, presença
de orvalho e cerração por longos períodos.
O fungo sobrevive em restos de cultura
de milho e a disseminação de seus esporos
ocorre pelo vento e por respingos de água
de chuva ou irrigação. Por isso, um fator
de grande importância na severidade da
doença é a presença, na superfície do solo,
de restos de cultura infectados, os quais
se constituem em fonte primária de inóculo.
A medida de controle mais eficiente é a utilização de cultivares resistentes, eliminação dos restos de cultura e a rotação de
culturas.
Figura 6 - Cercosporiose
(Cercospora zeae-maydis e
C. sorghi f. sp. maydis)
Antracnose-foliar
Colletotrichum graminicola
A antracnose-foliar está aumentando
em incidência e severidade nas lavouras
das principais regiões produtoras de milho, notadamente nos estados de GO, MT,
MS, MG, SP, PR e SC. Esta doença tem sido favorecida no SPD, bem como em áreas
onde não se pratica a rotação de cultura.
A antracnose pode estar presente no lim-
Figura 7 - Antracnose-foliar
(Colletotrichum graminicola)
Mancha por
Queima-bacteriana
Pseudomonas alboprecipitans
A turgidez da folha do milho favorece a
ocorrência desta doença, cujos sintomas
caracterizam-se pela presença de lesões necróticas, tipicamente alongadas e estreitas
(Fig. 9). Excesso de água (chuva ou irrigação) predispõe as plantas de milho ao
ataque desta doença.
Stenocarpella macrospora
Este fungo causa manchas necróticas
grandes nas folhas do milho (Fig. 8), que podem ser confundidas com aquelas produzidas por Exserohilum turcium. Contudo,
uma característica sintomatológica importante é que na mancha por S. macrospora
é facilmente observado um pequeno círculo, visível contra a luz, o qual corresponde ao ponto de infecção do patógeno.
Este patógeno sobrevive em resto de cultura de milho infectado, atingindo nova
cultura via liberação dos seus esporos pela ação do vento e da água de chuva. Para
o controle desta doença recomendam-se a
utilização de cultivares resistentes, a eliminação dos restos de cultura contaminados
e a rotação de cultura.
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Figura 8 - Mancha por Stenocarpella
macrospora
Figura 9 - Queima-bacteriana
(Pseudomonas alboprecipitans)
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Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
85
Enfezamento-pálido
Enfezamento-vermelho
Espiroplasma
Fitoplasma
O enfezamento-vermelho (Fig. 11), à semelhança do enfezamento-pálido, pode ser
seriamente limitante à produção do milho.
Esta doença, também, é transmitida por cigarrinhas, principalmente Dalbulus maidis.
No Brasil, tem sido observado que, em
Figura 10 - Enfezamento-pálido
(espiroplasma)
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Esta doença é transmitida pela cigarrinha (Dalbulus maidis). Seus efeitos podem
resultar em drástica limitação da produção,
particularmente quando as plantas de milho
são infectadas nas fases iniciais de desenvolvimento (Fig. 10). Em geral, as plantas
apresentam encurtamento de internódios,
formação de espigas pequenas e o enchimento de grãos pode ser seriamente prejudicado. As espigas apresentam grãos
frouxos, pequenos, descoloridos ou manchados. Dependendo da cultivar, as plantas
secam e morrem ou tombam antes da maturidade, provavelmente devido ao enfraquecimento causado pela doença. Em regiões
onde o milho é cultivado em plantios sucessivos, as cigarrinhas migram de campos
doentes que atingiram a maturidade para
campos com plantas jovens, levando com
elas o agente da doença. O método mais
eficiente para controle do enfezamentopálido do milho é a utilização de cultivares
resistentes.
geral, as plantas afetadas não apresentam acentuada redução do crescimento,
embora o tamanho das espigas e o enchimento de grãos sejam seriamente prejudicados. As medidas de controle para o
enfezamento-vermelho incluem, principalmente, o uso de cultivares resistentes.
Figura 11 - Enfezamento-vermelho (fitoplasma)
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Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
86
DOENÇAS DO COLMO
plantas vivas e tornarem-se parasitas. Nesse caso, a eficiência da rotação de cultura é
questionável. Por outro lado, o manejo adequado da matéria orgânica e o bom preparo
do solo permitirão sensível redução no
potencial de inóculo. Culturas de milho corretamente adubadas, a fim de evitar desequilíbrios nutricionais, são mais resistentes. A medida mais econômica e eficiente é
a utilização de cultivares resistentes.
Podridão-do-colmo
Stenocarpella (Diplodia): S. maydis
ou S. macrospora
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
A podridão-do-colmo é uma doença
favorecida por temperaturas entre 28oC e
30oC e umidade relativa alta, quando estas
condições ocorrem duas a três semanas
após a polinização (Fig. 12). O fungo, na
forma de picnídios e/ou micélio dormente,
sobrevive no solo, em restos de cultura e
em sementes. Por serem fungos invasores
do solo, a rotação de cultura, o manejo adequado da matéria orgânica e o bom preparo
de solo reduzem, sensivelmente, o potencial de inóculo no solo. A medida de controle mais econômica e eficiente é a utilização de cultivares resistentes.
Figura 14 - Podridão-do-colmo (Pythium sp.)
Antracnose-do-colmo
Podridão-do-colmo
Fusarium verticillioides e
F. subglutinans
São fungos (Fig. 13) habitantes do solo. Apresentam elevado número de hospedeiros, vivem a maior parte de seu ciclo
de vida como saprófitos, podendo infectar
A antracnose-do-colmo (Fig. 15) tornase mais visível após o florescimento das
plantas de milho, e, conseqüentemente,
Figura 13 - Podridão-do-colmo
(Fusarium verticillioides
e F. subglutinans)
Podridão-do-colmo
Pythium
O principal causador é o fungo Pythium
aphanidermatum (Fig. 14), habitante natural do solo e que se diferencia dos demais
patógenos de colmo por atacar plantas
ainda jovens e vigorosas, antes do florescimento. Em condições de alta umidade do solo e alta temperatura, a podridão
ocorre no primeiro entrenó acima do solo.
A principal medida de controle é o manejo
adequado da água de irrigação.
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Figura 12 - Podridão-do-colmo
(Stenocarpella maydis
ou S. macrospora)
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Colletotrichum graminicola
Figura 15 - Antracnose-do-colmo
(Colletotrichum graminicola)
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Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
87
Podridão-mole-do-colmo
a ocorrência da podridão-do-cartucho por
E. chrysanthemi. Os sintomas típicos desta
doença caracterizam-se pela murcha e seca
das folhas do cartucho da planta, decorrentes de podridão aquosa na base desse
cartucho (Fig. 18). As folhas do cartucho
desprendem-se facilmente e exalam odor
desagradável. O controle desta doença do
milho, em plantios irrigados, pode ser efetivamente conseguido através do adequado
manejo da irrigação.
Erwinia carotovora pv. zeae
Como o nível de umidade do solo afeta,
simultaneamente, a suscetibilidade do milho e a virulência do patógeno, a manutenção de altos níveis de umidade no solo
é favorável a patógenos dependentes de
água para a sua disseminação, como é o
caso da bactéria Erwinia carotovora pv.
zeae, que causa a podridão-mole-do-colmo
(Fig. 17). As plantas atacadas apresentam
apodrecimento aquoso na base do colmo e
morrem rapidamente. Esta doença pode
ocorrer, também, em locais de temperatura
e umidade do ar relativamente altas.
Podridão-preta-do-colmo
Macrophomina phaseolina
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Este fungo se desenvolve melhor em
condições de solo seco e quente, causando a podridão-preta-do-colmo do milho
(Fig. 16). Esta doença é facilmente prevenida em cultivos irrigados com a umidade
do solo mantida próxima da capacidade de
campo. A incidência desta doença aumenta em condições de altas temperaturas e
seca por ocasião do florescimento do milho.
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Figura 17 - Podridão-mole-do-colmo
(Erwinia carotovora pv. zeae)
Figura 16 - Podridão-preta-do-colmo
(Macrophomina phaseolina)
Podridão-do-cartucho
Erwinia chrysanthemi
Em geral, as bactérias necessitam de
água livre e altas temperaturas para sua multiplicação e disseminação. Assim, a alta
umidade proporcionada pelo excesso de
água de irrigação ou chuva, principalmente,
pelo acúmulo de água no cartucho da planta, associada a altas temperaturas, favorece
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
esta é a fase mais apropriada para o seu
diagnóstico. A antracnose-do-colmo pode
causar a morte prematura da planta, proporcionando o seu tombamento. Esta doença
tem sido favorecida no SPD, bem como em
áreas onde não se pratica a rotação de cultura. Como medida de controle recomendase a utilização de sementes sadias, cultivares resistentes e rotação de culturas.
Figura 18 - Podridão-do-cartucho
(Erwinia chrysanthemi)
DOENÇAS DA ESPIGA
Carvão-da-espiga
Ustilago maydis
Doença muito comum e de fácil identificação. Ocorre na lavoura normalmente em baixa freqüência (plantas isoladas).
O desenvolvimento do carvão-da-espiga
(Fig. 19) é favorecido por temperatura alta
(26-34oC), baixa umidade do solo e em plantas de milho com deficiência nutricional.
A infecção da espiga resulta na substituição dos grãos ou das sementes pelas estruturas do fungo, com evidente formação de
galhas.
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
88
Podridão-rosada-da-espiga
Fusarium verticillioides ou
Podridão-vermelha-daponta-da-espiga
F. subglutinans
Gibberella zeae
Esta podridão de espiga é conhecida, também, pelo nome de podridão-deGibberella. É mais comum em regiões de
clima ameno e de alta umidade relativa.
A ocorrência de chuvas após a polinização propicia a ocorrência desta podridão
de espiga. A doença inicia-se com massa
cotonosa avermelhada na ponta da espiga (Fig. 22) e pode progredir para sua base.
A palha pode ser colonizada pelo fungo e
tornar-se colada na espiga. Ocasionalmente, esta podridão pode-se iniciar na base e
progredir para a ponta da espiga, confundindo o sintoma com aquele causado por
Fusarium verticillioides ou F. subglutinans.
Chuvas freqüentes no final do desenvolvimento da cultura, principalmente em
lavoura com cultivar com espigas que não
se dobram para baixo após a maturidade
fisiológica dos grãos, aumentam a incidência desta podridão de espiga (grãos ardidos). Este fungo sobrevive nas sementes
na forma de micélio dormente. A forma
assexual de Gibberella zeae é denominada
F. graminearum.
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
A infecção dos grãos pode-se iniciar
pelo topo ou por qualquer outra parte
da espiga (Fig. 21), mas sempre associada
a alguma injúria no grão (grãos ardidos).
A medida mais econômica e eficiente é a
utilização de cultivares resistentes.
Figura 19 - Carvão-da-espiga
(Ustilago maydis)
Podridão-branca-da-espiga
Stenocarpella maydis
Figura 20 - Podridão-branca-da-espiga (Stenocarpella maydis ou S. macrospora)
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Figura 21 - Podridão-rosada-da-espiga
(Fusarium verticillioides
ou F. subglutinans)
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Esta podridão é causada pelo mesmo
agente etiológico da podridão-do-colmo.
Espigas infectadas apresentam grãos de
cor marrom, denominados grãos ardidos;
de baixo peso e com crescimento micelial
branco entre as fileiras de grãos (Fig. 20).
Espigas mal empalhadas, com palhas frouxas e que não se dobram para baixo após a
maturidade fisiológica dos grãos são mais
suscetíveis. Alta precipitação ou irrigações freqüentes na época da maturidade
dos grãos favorecem o aparecimento desta
doença. A medida de controle mais econômica e eficiente é a utilização de cultivares
resistentes.
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
ou S. macrospora
Figura 22 - Podridão-vermelha-da-pontada-espiga (Gibberella zeae)
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
Os grãos ardidos em milho são o reflexo
das podridões de espigas, causadas pelos
fungos presentes no campo, isto é, na fase de pré-colheita. São considerados grãos
ardidos todos aqueles que possuem pelo
menos ¼ de sua superfície com descolorações, cuja matiz pode variar de marromclaro a roxo (Fig. 23) ou vermelho-claro a
vermelho-intenso (Fig. 24). Esses fungos
podem ser divididos em dois grupos: aqueles que apenas produzem grãos ardidos e
aqueles chamados toxigênicos, que, além
de propiciar a produção de grãos ardidos
89
são exímios biossintetizadores de toxinas,
denominadas micotoxinas.
Como padrão de qualidade tem-se, em
algumas agroindústrias, a tolerância máxima de 6% para grãos ardidos, em lotes comerciais de milho. Quando ocorrem fortes
chuvas após o estádio da maturidade fisiológica dos grãos e também há a postergação na colheita do milho, normalmente a
incidência de grãos ardidos supera este limite de tolerância máxima, cujos valores têm
atingido freqüentemente 10% a 20%, em
algumas cultivares.
As principais micotoxinas que têm sido
relatadas contaminando o milho na fase de
pré-colheita são as aflatoxinas (Aspergillus
flavus e A. parasiticus), as ocratoxinas (A.
ochraceus) e as toxinas de Fusarium: zearalenona (produzida por F. graminearum e
F. roseum), deoxinivalenol - DON ou vomitoxina (F. graminearum e F. verticillioides),
toxina T-2 (F. sporotrichioides) e as fumonisinas (F. verticillioides, F. subglutinans
e F. proliferatum). Assim, as perdas qualitativas por grãos ardidos são motivos
de desvalorização do produto e ameaça à
saúde humana e à dos rebanhos.
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Figura 23 - Grãos ardidos (Stenocarpella maydis)
Figura 24 - Grãos ardidos (Fusarium verticillioides)
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006
As sementes de milho estão sujeitas a
danos por fungos no campo de produção
de sementes, durante o período de armazenamento e pelos fungos presentes no solo
da semeadura. A semente pode ser infestada ou infectada por fungo. Na infestação, o fungo localiza-se externamente na
superfície dela, enquanto que na infecção
o fungo aloja-se nos tecidos internos da
semente: endosperma e embrião.
Os fungos que sobrevivem no solo
na forma de estruturas de resistência (clamidosporos, esclerócios e oósporos) ou
aqueles que infectam as sementes podem
causar o apodrecimento delas (Fig. 25),
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
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DOENÇAS DAS SEMENTES,
RAÍZES E PLÂNTULAS
Figura 25 - Podridão-de-sementes
(Pythium aphanidermatum)
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
90
ção de lesão mole, a qual pode apresentar
coloração preta, branco-parda ou brancorosada, indicando o ataque de Pythium
spp., Diplodia maydis ou Fusarium spp.,
respectivamente.
No solo, os fungos encontram condições ideais para atacar as sementes de milho, principalmente, quando a semeadura é
realizada em condições subótimas, isto é,
em solo frio, mal drenado, compactado e
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
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morte de plântulas em pré ou pós-emergência
(Fig. 26 e 27), e podridões radiculares em
plântulas (Fig. 28 e 29). Na morte das plântulas, o fungo ataca a região do mesocótilo, próximo ao nível do solo, com forma-
Figura 26 - Plântulas atacadas por Sclerotium rolfsii
Figura 27 - Plântulas atacadas por Pythium aphanidermatum
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Figura 28 - Podridão-das-raízes
(Pythium aphanidermatum)
Figura 29 - Podridão-das-raízes
(Rhizoctonia solani)
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
com baixo nível de oxigênio; condição em
que há impedimento da germinação, ou a
velocidade de emergência é reduzida,
propiciando maior exposição ao ataque dos
fungos. Temperatura do solo entre 10oC a
12oC impede a germinação das sementes
de milho, porém não cessa o desenvolvimento de fungos do solo causadores de
apodrecimento de sementes.
O potencial de inóculo do fungo no solo
é fator importantíssimo na germinação das
sementes e atua na intensidade de resposta
da semente ao tratamento com fungicida.
Em solo muito infectado, mesmo que as
sementes tenham alto vigor, a melhor decisão é tratá-las com fungicidas. Também,
para as regiões mais frias ou para plantios
de inverno, devem-se utilizar lotes com alto
vigor, associados ao tratamento das sementes com fungicidas.
NEMATÓIDES DO MILHO
Muitas espécies de fitonematóides já
foram associadas ao milho em diferentes
partes do mundo. No Brasil, as espécies mais
importantes são Pratylenchus brachyurus,
P. zeae, Helicotylenchus spp. Steiner,
Criconemella spp. De Grises and Loof,
Meloidogyne spp. Goeldi e Xiphinema
spp. Cobb. Rotylenchulus reniformis também já foi associada como parasito de raízes
de milho.
A constatação da ocorrência de nematóides na cultura, principalmente Meloidogyne
incognita e M. javanica, que causam danos
em lavouras de milho, tem sido freqüente
em alguns Estados brasileiros (CARNEIRO et al., 1990; LORDELLO et al., 1986ab).
Em muitas regiões brasileiras, o cultivo do
milho apresenta-se como única opção agrícola em programas de rotação de culturas
principalmente em função da sua adaptabilidade às diversas condições edafoclimáticas. Além disso, em áreas produtoras
de soja com Heterodera glycines, o milho
é a cultura mais utilizada nos planos de rotação por tratar-se de planta não-hospedeira
a essa espécie (MANZOTTE et al., 2002).
Por outro lado, estas duas culturas po-
91
dem ser parasitadas por Meloidogyne e
Pratylenchus.
Meloidogyne:
nematóide-de-galhas
A ocorrência de Meloidogyne parasitando milho e causando prejuízos foi relatada por Lordello et al. (1986b) e tratava-se
de Meloidogyne incognita raça 3. Atualmente, Meloidogyne incognita e M. javanica
são as espécies mais comuns em lavouras de milho no Brasil. Sob condições experimentais 2 mil juvenis de 2o estádio de
Meloidogyne/kg de solo reduz o crescimento e a produção do milho.
As espécies de Meloidogyne são bastante polífagas, ou seja, apresentam ampla
gama de hospedeiros. Desse modo, há comprometimento da utilização de rotação de
culturas, pois existe escassez de opções
de plantas não-hospedeiras. Entre os hospedeiros, incluem-se as plantas infestantes
como beldroega, caruru, capim-marmelada
e maria-pretinha, que são ótimas hospedeiras para Meloidogyne incognita e M.
javanica. O descuido de não evitá-las tanto na safra como na entressafra pode resultar no fracasso da tentativa de reduzir o
nível populacional do nematóide.
Sintomas
O sistema radicular apresenta pequenas galhas. No entanto, as galhas podem
estar totalmente ausentes e, por isso, muitas vezes o milho é considerado, erroneamente, como mau hospedeiro ou até mesmo
imune. Sintomas observados na parte aérea
do milho que refletem o parasitismo nas
raízes, compreendem nanismo, clorose foliar, murcha durante os dias quentes e essas
plantas doentes formam as reboleiras de
tamanho variável.
Pratylenchus:
nematóide-das-lesõesradiculares
No Brasil, o nematóide-das-lesões
posiciona-se como o segundo grupo mais
importante de fitonematóides à agricultura,
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006
ficando em primeiro os causadores de galhas do gênero Meloidogyne. No entanto,
apresenta um número de trabalhos realizados no Brasil ainda inferior ao necessário
(FERRAZ, 1999).
O gênero Pratylenchus engloba, aproximadamente, mais de 60 espécies descritas
(TIHOHOD, 2000). A distribuição geográfica do nematóide-das-lesões é ampla,
parasitando várias cultivares de grande
interesse como soja, milho, algodão, fumo,
trigo, alfafa, maçã, pêssego e citros (GOODEY
et al., 1965). Além disso, apresenta grande
número de plantas infestantes como hospedeiros, que possibilitam a sobrevivência
na entressafra e interferem na eficácia de
programas de rotação de culturas, quando
não são eliminadas (MANUEL et al., 1980).
Entre as plantas infestantes que se destacam pela alta multiplicação, relacionam-se
para Pratylenchus brachyurus: carrapichinho (Alternanthera ficoidea), capimcarrapicho (Cenchrus echinatus), capimmarmelada (Brachiaria plantaginea),
maria-pretinha (Solanum nigrum), capimcolchão (Digitaria sanguinalis), braquiárias (Brachiaria spp.), tiririca (Cyperus
spp.) e grama-batatais (Paspalum notatum).
Enquanto que para Pratylenchus zeae,
capim-colonião (Panicum maximum), capimcarrapicho, sapé (Imperata brasiliensis) e
tiririca são ótimas hospedeiras.
Os nematóides-das-lesões são encontrados em quase todos os cultivos de milho
e são freqüentemente associados com o
crescimento reduzido da cultura. Pratylenchus
brachyurus, P. zeae e P. penetrans são as
espécies mais encontradas em regiões
tropicais e subtropicais.
Esses nematóides são tipicamente migradores e endoparasitas de órgãos subterrâneos, não obstante possam ser encontrados associados a órgãos aéreos, como
em estacas da planta ornamental Coleus,
causando lesões a cerca de 5 cm acima do
nível do solo (THORNE, 1961), ou em ramos
de aveia e cevada (MERZHEEVSKAYA, 1951).
Os nematóides-das-lesões têm quatro
estádios juvenis e o adulto. Os ovos po-
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
92
dem ser depositados no interior das raízes
ou no solo. Embora sejam comumente mais
encontrados no interior dos tecidos vegetais parasitados. A célula-ovo passa pela
embriogênese, resultando no primeiro
estádio juvenil (J1). Ocorre a primeira troca
de cutícula no interior do ovo, resultando
no segundo estádio (J2). Esse juvenil eclode
e inicia sua alimentação ao penetrar na raiz
da planta. Os juvenis, a partir de J2, sofrem
três ecdises antes de tornarem-se adultos.
O segundo, terceiro e quarto estádios juvenis e os adultos (fêmeas) são infectivos e
penetram nas raízes, movimentando através
ou entre as células do córtex, enquanto se
alimentam do conteúdo celular (NICKLE,
1984).
A reprodução em Pratylenchus pode
ser realizada por anfimixia, partenogênese
meiótica ou partenogênese mitótica, sendo
aparentemente equivalentes os números de
espécies anfimíticas e partenogenéticas
(ROMAM; TRIANTAPHYLLOU, 1969;
LUC, 1987).
Os machos de P. brachyurus são extremamente raros, visto que as fêmeas reproduzemse por partenogênese mitótica. O período
necessário para completar uma geração
varia conforme a temperatura. Em baixas
temperaturas, o ciclo de vida é retardado
em milho, quando comparado com o desenvolvimento em temperaturas mais altas
(TIHOHOD, 2000). Uma geração completase em quatro a oito semanas, em média, e o
desenvolvimento é parcial ou totalmente
no interior dos tecidos vegetais, particularmente nos sistemas radiculares das plantas
hospedeiras. Assim, várias gerações podem ocorrer durante o ciclo vegetativo das
culturas (JENKINS; TAYLOR, 1967).
A temperatura juntamente com a espécie
vegetal afeta efetivamente o desenvolvimento e a reprodução do Pratylenchus
(OLOWE; CORBETT, 1976; ZIRAKPARVAR et al., 1980). Freqüentemente a
temperatura ótima para desenvolvimento
do nematóide está correlacionada com a
temperatura ótima requerida para um bom
crescimento da planta (OLOWE; CORBETT,
1976). A temperatura de 20oC é considerada ótima para o bom desenvolvimento de
raízes e é simultaneamente ótima para penetração máxima na raiz e desenvolvimento
do P. brachyurus (DICKERSON et al., 1964).
Nas espécies de clima tropical, como P.
brachyurus, o ciclo completa-se em 28 dias
a 30oC - 35oC e a mais alta taxa de reprodução foi observada a 29oC - 30ºC (LINDSEY;
CAIRNS, 1971; OLOWE; CORBETT, 1976).
Embora para muitas espécies de
Pratylenchus não se tenham dados sobre
a influência de características físicas do
solo, sabe-se que a textura dele está ligada ao desenvolvimento do nematóide.
Em P. zeae, verificou-se que a movimentação horizontal foi bem maior em solo
arenoso do que em solo argiloso, quase
não havendo migração na ausência de
raízes (ENDO, 1959).
Sintomas
O gênero Pratylenchus, segundo Tihohod (2000), causa nas raízes ferimentos,
onde outros organismos patogênicos como
bactérias e fungos, tornam-se oportunistas
e penetram. Essa interação ocasiona a formação de lesões que resultam na destruição
dos tecidos da raiz. Os sistemas radiculares
parasitados mostram-se reduzidos, pouco
volumosos e rasos.
Os juvenis e/ou adultos entram nas
raízes e penetram através ou entre as células do córtex, alimentando-se do conteúdo celular, enquanto migram pelos tecidos.
O parênquima cortical fica bastante desorganizado, devido à destruição de numerosas células durante a movimentação dos
espécimes (ação mecânica). Também, durante a alimentação, observa-se injeção de
secreções esofagianas no interior das células (ação tóxica), as quais se degeneram
e acabam morrendo pouco tempo depois
da retirada do nematóide. Com isso, ocorre
severa proliferação de raízes laterais em
milho (OGIGA; ESTEY, 1975; ZIRAKPARVAR et al., 1980). As radicelas infestadas por Pratylenchus freqüentemente sofrem invasão por fungos e/ou bacté-
rias do solo, resultando no aparecimento
de muitas lesões necróticas típicas, de
coloração escura.
P. zeae causa interrupção mecânica das
células e necrose, e resulta na formação
de cavidades no tecido cortical (OLOWE;
CORBETT, 1976; OLOWE, 1977). Ao contrário, P. brachyurus causa mais necrose
do que danos mecânicos. Ocasionalmente,
é observada uma delicada hipertrofia da
célula. A presença de pequenas lesões na
superfície da raiz planta pode ser observada
com freqüência. A alteração das células é
o resultado da reação às toxinas produzidas
pelo nematóide (BROOKS; PERRY, 1967).
As reboleiras são características nas
pratilencoses de cultivos de milho, consistindo de conjunto de plantas que apresenta
sintomas reflexos na parte aérea em função do parasitismo que acontece nas raízes.
As plantas tornam-se pequenas (nanismo),
com ramos finos e folhas cloróticas amarelecidas. A murcha pode ocorrer durante
a estação seca e, com ataque severo, pode
acontecer a desfolha. Espigas pequenas e
mal granadas podem também ser observadas.
Manejo de áreas contaminadas
por nematóides
O milho é uma das culturas mais recomendadas para a prática de rotação
em áreas infestadas com Meloidogyne
javanica (Treub, 1885) Chitwood 1949, pela
existência de muitos genótipos que não
permitem a multiplicação do nematóide.
No entanto, para P. brachyurus, P. zeae
Graham 1951 e M. incognita já não há essa
pronta disponibilidade.
O conhecimento do fator de reprodução (FR) das espécies de nematóides em
genótipos de milho é importante. O FR é
calculado pela razão entre a população final
do nematóide (colheita) e a população inicial do nematóide (semeadura), e expressa
se o genótipo é bom ou mau hospedeiro.
Os híbridos e cultivares de milho utilizados
em plantios comerciais devem apresentar
FR menor que 1, se possível igual a zero ou
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
próximo de zero, ou seja, maus hospedeiros. Deve haver pressão por parte dos
agricultores, para que as empresas de sementes de milho forneçam as informações
de FR. Há uma variação de hospedabilidade dos vários genótipos testados e como
esses materiais apresentam diferenciação
de uso regional, são muitos no mercado, e
as informações são escassas e nem sempre
atualizadas.
Brito e Antônio (1989), trabalhando
com diversos genótipos de milho, observaram que dos materiais testados, a maioria comportou-se como resistente ao nematóide M. javanica. Em outro trabalho,
Manzotte (2002) constataram que, dos 56
materiais, 24 mostraram-se resistentes a
M. javanica. Por outro lado, Felli e Monteiro (1987), Manzotte (2002) e Medeiros et
al. (2001) avaliaram genótipos de milho
quanto à reação de M. incognita e M.
javanica, e observaram suscetibilidade em
todos os materiais estudados.
Embora a resistência do milho a M.
javanica já tenha sido relatada, as reações
de cultivares utilizadas no Nordeste e das
linhagens selecionadas nos programas de
melhoramento dirigidos àquela região não
são conhecidas. Um dos principais fatores
responsáveis por essa falta de informação
é que o parasitismo do nematóide-dasgalhas em milho nem sempre induz à formação de genótipos efetivamente resistentes (MEDEIROS et al., 2001).
Carbofuran é o ingrediente ativo dos
nematicidas recomendados para a cultura
do milho no controle de Pratylenchus zeae
(ANDREI, 1999, 2003). Acréscimos de 33%
a 128% na produção podem ser obtidos
após a aplicação de nematicidas.
Entre as alternativas, o uso da rotação de cultura com plantas do gênero
Crotalaria é uma eficiente medida de
controle. Considerando-se que no Brasil
poucas pesquisas têm sido feitas sobre a
utilização de Crotalaria no controle de espécies de Pratylenchus, estudos mostram
que a maioria das espécies de Crotalaria
apresentam acentuada resistência a P.
brachyurus e P. zeae (SILVA et al., 1989).
93
A utilização de genótipos resistentes
seria a medida mais eficiente e econômica de controle desses nematóides. Porém,
pouco se sabe sobre a resistência de espécies vegetais ao nematóide-das-lesões.
Segundo Ferraz (1999), quanto ao controle de P. brachyurus e P. zeae nas culturas
da cana-de-açúcar, do café e do milho, há
um número expressivo de trabalhos desenvolvidos no País. Contudo, muitos foram
divulgados na forma de resumos e de publicações de difícil acesso. Outro problema
levantado foi que as estratégias avaliadas
visam o controle não só do Pratylenchus,
mas primariamente das espécies de
Meloidogyne.
Outras medidas, como o alqueive que
consiste em arações sucessivas, arranquio
e eliminação de restos culturais, também
são importantes no controle desses nematóides (TIHOHOD, 2000). Entretanto, devese recorrer também a medidas de prevenção
para impedir ou limitar a contaminação de
áreas não infestadas, principalmente com
relação ao trânsito de máquinas e implementos agrícolas.
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Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
Aspectos de produção e mercado do milho
Marcos Joaquim Mattoso 1
João Carlos Garcia 2
Jason de Oliveira Duarte 3
José Carlos Cruz 4
Resumo - O milho é insumo para produção de centenas de produtos, porém na cadeia
produtiva de suínos e aves são consumidos aproximadamente 70% do milho produzido
no mundo. Para melhor abordagem do mercado do milho, é importante a visão dos
panoramas mundial e nacional da produção e consumo das carnes de suíno e de frango,
e de como o Brasil se posiciona neste contexto. Destacam-se assim, as principais utilizações do milho como insumo para outros sistemas produtivos e os coeficientes técnicos de
sistemas de produção comerciais de milho.
Palavras-chave: Zea mays. Economia. Sistema de produção. Consumo. Custo de produção.
Coeficiente técnico.
INTRODUÇÃO
O desenvolvimento da produção e do
mercado do milho deve ser analisado, preferencialmente, sob a ótica das cadeias produtivas ou dos sistemas agroindustriais
(SAG). O milho é insumo para produção de
centenas de produtos, porém na cadeia produtiva de suínos e aves são consumidos,
aproximadamente, 70% do milho produzido no mundo e entre 70% e 80% do milho
produzido no Brasil. Assim, para melhor
abordagem do que está ocorrendo no mercado do milho torna-se importante, além
da análise de dados relativos ao produto
milho per si, também uma visão, ainda que
superficial, dos panoramas mundial e nacional da produção e consumo das carnes
de suíno e de frango e de como o Brasil se
posiciona neste contexto, para que seja
possível o melhor entendimento das possibilidades futuras do milho no Brasil.
PANORAMA INTERNACIONAL
Produção de milho
Os maiores produtores mundiais de milho são os Estados Unidos, China e Brasil,
que, em 2005, produziram: 280,2; 131,1; e
35,9 milhões de toneladas, respectivamente (Quadro 1).
De uma produção total, no ano de 2005
de, aproximadamente, 708 milhões de toneladas (USDA, 2006), cerca de 75 milhões
são comercializados internacionalmente
(em torno de 10% da produção total, em
2005, com expectativa de 11,5%, em 2006).
Isto indica que o milho destina-se, principalmente, ao consumo interno. Deve-se
ressaltar que, dado seu baixo preço de mer-
cado, os custos de transporte afetam muito
a remuneração da produção obtida em
regiões distantes dos pontos de consumo,
reduzindo o interesse no deslocamento da
produção a maiores distâncias, ou em condições que a logística de transporte é desfavorável.
O mercado mundial de milho é abastecido basicamente por três países, os Estados Unidos (46 milhões de toneladas de
exportações, em 2005), a Argentina (14 milhões de toneladas, em 2005) e a África do
Sul (2,3 milhões de toneladas, em 2005).
A principal vantagem desses países é ter
logística favorável, que pode ser decorrente da excelente estrutura de transporte
(caso dos EUA), proximidade dos portos
(caso da Argentina) ou dos compradores
(caso da África do Sul). O Brasil, eventual-
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: mattoso@cnpms.
embrapa.br
1
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected]
2
Economista, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: jason@cnpms.
embrapa.br
3
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: zecarlos@cnpms.
embrapa.br
4
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006
96
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
QUADRO 1 - Principais países produtores de milho – 2001-2005
tir do milho, nos Estados Unidos, o que
pode incrementar o consumo interno desse
cereal e reduzir as quantidades disponíveis
para exportação, no país que é responsável
por mais de 50% da quantidade comercializada internacionalmente.
Produção
(1.000 t)
País
Ano
2001
2002
2003
2004
2005
Estados Unidos
241.485
228.805
256.905
299.917
280.228
China
114.254
121.497
115.998
130.434
131.145
Brasil
41.955
35.933
48.327
41.806
34.860
México
20.134
19.299
19.652
22.000
20.500
Argentina
15.365
15.000
15.040
15.000
19.500
Índia
13.160
10.300
14.720
14.000
14.500
França
16.408
16.440
11.991
16.391
13.226
Indonésia
9.347
9.654
10.886
11.225
12.014
África do Sul
7.772
10.076
9.705
9.965
11.996
10.554
10.554
8.702
11.375
10.622
Itália
FONTE: FAO (2006).
mente, participa desse mercado, porém, a
instabilidade cambial e a deficiência da
estrutura de transporte até aos portos tem
prejudicado o País na busca de presença
mais constante no comércio internacional
de milho.
Os principais consumidores são o Japão
(16,5 milhões de toneladas, em 2005), Coréia
do Sul (8,5 milhões de toneladas, em 2005),
México (6,0 milhões de toneladas, em 2005)
e Egito (5,2 milhões de toneladas, em 2005).
Outros importadores relevantes são os países do Sudeste da Ásia (2,9 milhões de
toneladas, em 2005) e a Comunidade Européia (2,5 milhões de toneladas, em 2005).
Nesses dois últimos casos, além das importações ocorre grande montante de trocas
entre os países que compõem cada um desses blocos.
Um fato importante a destacar é que
a China vem gradativamente diminuindo
seus estoques (formados em grande parte
como política derivada da Guerra Fria), por
meio de agressiva política de exportação.
Como a produção chinesa não tem sido suficiente para atender à demanda crescente,
a China deverá, em primeira fase reduzir as
exportações e, em segunda fase, passar de
exportadora a importadora líquida de milho,
em curto período. Essa situação abrirá mercado de cerca de 8 ou 9 milhões de toneladas adquiridas anualmente por países
asiáticos que tradicionalmente compravam
da China.
Para finalizar, está ocorrendo processo
de incremento de produção de etanol a par-
Suínos e aves
As principais utilizações do milho no
mundo são as atividades de criação de aves
e suínos. Existem previsões de que a demanda mundial de carnes continue crescendo e estimativas apontam consumo
superior a 110 milhões de toneladas de carne suína e quase 70 milhões de toneladas
de carne de frango, até o ano de 2015.
A China é o país que mais produz e
consome carne suína: aproximadamente
50 milhões de toneladas. O segundo lugar
é ocupado pelos Estados Unidos, com cerca de 9,5 milhões de toneladas. O Brasil
é o quinto produtor mundial (Quadro 2).
O consumo per capita registrado no Brasil,
de 12 kg ha-1 ano-1, ainda é baixo, quando
comparado com o observado na China, Estados Unidos e União Européia, que é de
30, 28 e 42 kg ha-1 ano-1, respectivamente.
O crescimento verificado na China, nos
QUADRO 2 - Principais países produtores de carne suína – 2001-2005
Produção
(1.000 t)
País
China
Estados Unidos
Ano
2001
2002
2003
2004
2005
42.982
44.358
46.233
48.118
50.095
8.691
8.929
9.056
9.312
9.402
Alemanha
4.074
4.110
4.239
4.323
4.505
Espanha
2.989
3.070
3.190
3.176
3.310
Brasil
2.637
2.798
3.059
3.110
3.110
França
2.315
2.346
2.339
2.293
2.257
Vietnã
1.515
1.654
1.795
2.012
2.100
Canadá
1.731
1.858
1.882
1.936
1.960
Polônia
1.849
2.023
2.209
1.956
1.923
Dinamarca
1.716
1.759
1.762
1.810
1.800
92.082
95.249
98.473
100.484
102.523
Total mundial
FONTE: FAO (2006).
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006
97
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
últimos anos, é impressionante, pois foi
incorporada à produção quantidade quase
equivalente ao total de carne suína produzida nos Estados Unidos. Com certeza esse
crescimento está exercendo forte pressão
sobre a quantidade demandada de milho
para alimentação do rebanho suíno.
O custo de produção de carne suína na
China (US$ 1,32 kg-1 vivo) é mais que o dobro do verificado no Brasil (US$ 0,62 kg-1
vivo) e maior que os observados na União
Européia (US$ 1,10 kg-1 vivo) e Estados
Unidos (US$0,77 kg-1 vivo) (ROPPA, 2005).
Além disso, o número de animais por km2,
que é de 50,6 na China; 36,8 na União Européia e 10,2 nos Estados Unidos, é substancialmente maior que os 4,5 animais por km2
no Brasil. A alta densidade populacional
de suínos traz sérias implicações ambientais, derivadas dos efeitos nocivos causados
pela disposição dos dejetos dos animais
no meio ambiente, e já afeta as decisões
sobre a localização de novos empreendimentos voltados para a criação de suínos.
Deve-se registrar que, mesmo no Brasil,
estas considerações crescem de importância e têm direcionado a produção para áreas
com menor concentração de animais e
menor impacto ambiental da disposição dos
resíduos, localizadas principalmente na
região Centro-Oeste.
Com relação à produção de carne de
frango, os Estados Unidos, com aproximadamente 16 milhões de toneladas, são os
maiores produtores mundiais, seguidos pela China e Brasil (Quadro 3). A produção
mundial é crescente, porém o crescimento
distribui-se de maneira mais uniforme entre
os principais produtores.
PANORAMA NACIONAL
Produção de milho
A produção de milho no Brasil tem-se
caracterizado pela divisão da produção em
duas épocas de plantio (Quadro 4). Os plantios de verão, ou primeira safra, são realizados na época tradicional, durante o período
chuvoso, que varia entre fins de agosto,
na Região Sul, até os meses de outubro/
novembro, no Sudeste e Centro-Oeste (no
QUADRO 3 - Principais países produtores de carne de aves – 2001-2005
Produção
(1.000 t)
País
Estados Unidos
Ano
2001
2002
2003
2004
2005
14.267
14.701
14.924
15.514
16.026
China
9.070
9.275
9.660
9.895
10.149
Brasil
6.208
7.050
7.760
8.668
8.668
México
1.928
2.076
2.116
2.225
2.225
Índia
1.250
1.400
1.600
1.650
1.900
Espanha
1.009
1.191
1.185
1.268
1.320
Reino Unido
1.263
1.272
1.295
1.288
1.309
900
1.083
1.118
1.191
1.245
1.216
1.229
1.239
1.242
1.240
862
938
1.030
1.152
1.130
61.523
64.262
65.874
68.322
69.892
Indonésia
Japão
Federação Russa
Total mundial
FONTE: FAO (2006).
QUADRO 4 - Produção brasileira de milho
Ano
Safra
2001
2002
2003
2004
2005
Produção (1.000 t)
Total
42.290
35.267
47.411
42.192
39.040
1a safra
35.833
29.086
34.614
31.617
29.319
2a safra
6.457
6.181
12.797
10.574
9.721
12.973
12.298
13.226
12.822
12.297
1 safra
10.546
9.413
9.664
9.465
9.195
2a safra
2.426
2.885
3.563
3.357
3.102
Área plantada (1.000 ha)
Total
a
Rendimento (kg ha-1)
Total
3.260
2.868
3.585
3.291
3.175
a
3.398
3.090
3.582
3.340
3.189
a
2.661
2.142
3.592
3.150
3.134
1 safra
2 safra
FONTE: CONAB (2006).
Nordeste esse período ocorre no início do
ano). Mais recentemente, tem aumentado
a produção obtida na chamada safrinha,
ou segunda safra. A safrinha refere-se ao
milho de sequeiro, plantado extemporaneamente, em fevereiro ou março, quase sempre depois da soja precoce, com predomínio
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006
na Região Centro-Oeste e nos estados do
Paraná e São Paulo. Verifica-se decréscimo
na área plantada no período da primeira
safra, decorrente da concorrência com a
soja, o que tem sido parcialmente compensado pelo aumento dos plantios na safrinha.
Embora realizados em condição desfavo-
98
rável de clima, esses plantios vêm sendo
conduzidos dentro de sistemas de produção, gradativamente adaptados a estas condições, o que tem contribuído para elevar
os rendimentos das lavouras.
A baixa produtividade média de milho
no Brasil (3.175 kg ha-1) não reflete o bom
nível tecnológico já alcançado por boa parte dos produtores voltados para lavouras
comerciais, uma vez que as médias são obtidas nas mais diferentes regiões, em lavouras com diferentes sistemas de cultivos e
finalidades.
O milho é cultivado em praticamente
todo o território, sendo que 90% da produção concentra-se nas Regiões Sul (43%),
Sudeste (25%) e Centro-Oeste (22%). A participação dessas regiões em área plantada
e produção vem-se alterando ao longo dos
anos.
A evolução da produção de milho 1a
safra e 2a safra, nas principais regiões produtoras e respectivos Estados, é mostrada
nos Quadros 5 e 6.
Nota-se que a produção obtida na primeira safra (com exceção do ano da safra
2004/2005, afetada por problemas climáticos) manteve-se relativamente estável, em
que pese a redução da área plantada (e mesmo o deslocamento das melhores áreas e
dos agricultores comerciais para a cultura
da soja). Esse equilíbrio foi conseguido pelo
incremento da produtividade agrícola nos
principais Estados produtores, nos quais,
a produtividade média na safra de verão
(1a safra) já é superior a 4.500 kg ha-1. A produtividade na safrinha (2a safra), embora
menor que a da safra normal, tem mostrado
tendência de crescimento, demonstrando
a maior difusão de tecnologias de produção
nessa época de plantio, apesar das restrições climáticas.
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
QUADRO 5 - Produção de milho 1a safra. Centro-Sul, Brasil (1.000 t)
Ano
Região
2000/2001
2001/2002
2002/2003
2003/2004
2004/2005
5.733
3.884
4.088
3.852
3.308
MT
891
680
772
678
532
MS
1.204
638
681
539
441
GO
3.517
2.435
2.483
2.476
2.165
DF
120
131
153
159
169
7.687
8.165
8.865
9.515
9.466
4.153
4.657
5.208
5.903
6.068
ES
129
138
145
125
119
RJ
28
27
22
24
26
SP
3.376
3.344
3.490
3.463
3.251
19.630
14.391
17.658
14.363
10.926
PR
9.446
7.380
8.140
7.523
6.537
SC
3.947
3.106
4.235
3.340
2.818
RS
6.237
3.906
5.283
3.500
1.571
Centro-Sul
33.049
26.441
30.611
27.730
23.701
Brasil
35.833
29.086
34.614
31.617
27.272
2003/2004
2004/2005
Centro-Oeste
Sudeste
MG
Sul
FONTE: CONAB (2006).
QUADRO 6 - Produção de milho na 2a safra – Brasil (1.000 t)
Ano
Região
2000/2001
2002/2003
Nordeste
121
265
254
219
219
BA
121
265
254
219
219
Centro-Oeste
2.502
3.204
5.843
5.503
4.603
MT
953
1.519
2.456
2.768
2.938
MS
970
708
2.359
1.814
998
GO
563
959
1.002
896
636
DF
16
17
27
24
30
905
729
1.183
1.134
836
MG
75
131
120
98
104
SP
831
598
1.063
1.036
732
2.929
1.983
5.517
3.669
1.806
2.929
1.983
5.517
3.669
1.806
Centro-Sul
6.336
5.916
12.543
10.306
7.246
Brasil
6.457
6.181
12.797
10.574
7.704
Sudeste
Suínos e aves
Diferente do que acontece no mundo,
onde a carne suína é a mais consumida, no
Brasil consome-se a de frango, seguida das
carnes bovina e suína. O Quadro 7 mostra
a evolução da produção de carnes no Brasil
(os dados diferem daqueles dos Quadros 2
e 3, devido à diferença de fontes).
2001/2002
Sul
PR
FONTE: CONAB (2006).
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006
99
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
QUADRO 7 - Evolução da produção de carnes
no Brasil (1.000 t)
Ano
Ave
Suíno
Bovino
1997
3.891,2
1.010,4
3.334,9
1998
4.196,0
1.119,1
3.397,9
1999
4.681,3
1.237,8
3.806,7
2000
5.082,0
1.348,5
3.899,8
2001
5.566,7
1.588,1
4.330,3
2002
6.068,9
1.881,1
4.699,6
2003
6.226,4
1.917,5
4.977,2
2004
7.060,0
1.867,6
5.922,3
FONTE: IBGE (2006).
No que se refere à carne de frango, este
é o segmento do setor de proteínas animais
que mais cresce no País, e é impulsionado
pelas exportações. Do total produzido em
2004, cerca de 71% destinaram-se ao mercado interno e 29% foram exportados. O Brasil
é o maior exportador mundial de carne de
frango e exportou, em 2004, para 136 diferentes países e os maiores importadores
de frango brasileiro foram: Oriente Médio,
Ásia e União Européia.
Mais recentemente, verifica-se forte
incremento das exportações de carnes bovinas. A evolução das exportações brasileiras de carnes está no Quadro 8. As exportações de bovinos e aves foram as que mais
cresceram.
Para atender à crescente demanda por
ração animal, estima-se que serão consumidas 42 milhões de toneladas de milho, em
2005, representando acréscimo de 8% em
relação ao ano anterior (Quadro 9). Para
2015, estima-se que para atender, primordialmente, ao segmento de ração animal, a
produção brasileira de milho terá que ser
de, aproximadamente, 55 milhões de toneladas.
Outro aspecto relevante que deve ser
destacado é a localização das unidades
industriais de suínos e aves. A Região Sul
ainda concentra a maioria da produção e
vem apresentando crescimento dessa atividade. Mais recentemente, a produção de
suínos e de frangos na Região CentroOeste vem mostrando forte expansão, vinculada à crescente produção de soja e milho
nessa região. Essa tendência é plenamente
justificável em razão do peso que representa o milho e a soja no custo final da ração,
tanto para aves, quanto para suínos. Além
disso, o custo de transporte, especialmente
no Brasil, onde são precárias as condições
de infra-estrutura, onera muito o preço do
milho, quando transportado a longas distâncias, refletindo na elevação do custo da
ração. Assim, há tendência de consumir o
milho o mais próximo possível das áreas de
produção.
MERCADO DO MILHO
O milho caracteriza-se por destinar-se
tanto para o consumo humano como para
a alimentação de animais. Em ambos os
casos, algum tipo de transformação, industrial ou na própria fazenda, pode ser necessário. O resumo de possíveis utilizações
QUADRO 8 - Evolução das exportações brasileiras de carnes (toneladas)
Ano
Tipo
2000
2001
2002
2003
2004
Carne suína in natura
116.006
247.369
449.202
458.031
470.969
Carne peru in natura
42.487
67.952
89.151
110.446
134.338
9.349
16.599
24.963
37.730
45.177
Carne frango in natura
906.746
1.249.288
1.599.924
1.922.046
2.424.513
Carne bovina industrializada
132.242
132.636
160.480
180.406
231.696
Carne bovina in natura
188.657
368.286
430.272
620.118
925.071
Carne frango industrializada
FONTE: MDIC-SECEX (2006).
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006
QUADRO 9 - Consumo de milho por segmento
(milhões de t)
Ano
Carne
Variação
2005/2004
(%)
2004
2005
13,70
14,60
7
Ovo
2,20
2,30
5
Suíno
7,60
8,40
11
Bovino
1,05
1,21
15
Outros
1,45
1,49
3
Ração
26,00
28,00
8
Frango
FONTE: Sindirações (2006).
do milho pode ser encontrado no Quadro 10. Nas seções seguintes, as principais
transformações necessárias para os consumos animal e humano serão exploradas.
Consumo humano
Mesmo para o consumo humano, o milho necessita de alguma transformação.
À exceção, quando os grãos estão em estado leitoso, ou “verde”. Os grãos secos não
podem ser consumidos diretamente pelo
ser humano.
O milho pode ser industrializado através dos processos de moagem úmida e
seca. Este último é o mais utilizado no Brasil.
Desse processo resultam subprodutos como a farinha de milho, o fubá, a quirera,
farelos, óleo e farinha integral desengordurada, envolvendo escalas menores de
produção e menor investimento industrial.
O processamento industrial do milho rende, em média, 5% do seu peso na forma de
óleo. Através do processo de moagem úmida, o principal subproduto obtido é o amido, cujo nome do produto foi praticamente
substituído pela designação comercial de
Maizena.
Em Minas Gerais, bem como no Brasil,
a moagem seca é o processo mais utilizado.
Devido à pequena necessidade de maquinaria e também à simplicidade desta, as
indústrias processadoras de milho por esse
processo estão espalhadas pelo Estado,
sendo geralmente de pequeno porte e qua-
100
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
QUADRO 10 - Múltiplos usos do milho (planta, espiga e grão) no Brasil
se que totalmente dedicadas ao processamento para consumo local. A tendência
recente está na concentração destes produtos em indústrias de maior porte, que
têm sido instaladas em Minas Gerais. Como
a maioria dessas indústrias é de pequena
dimensão e voltada para o abastecimento
local, a proximidade do mercado é mais
importante do que a localização das fontes
de produção de milho.
Além dos produtos derivados da moagem seca, vários produtos industriais foram acrescentados dentre os destinados
ao consumo humano. Os de maior importância são o amido, derivado da moagem
úmida, e o óleo de milho. Devido à complexidade de seu processamento e à necessidade de capital envolvido, estes produtos são
oriundos de empresas de grande porte.
Em Minas Gerais, a produção de óleo
está concentrada na região do Triângulo,
onde se encontra instalado o maior parque
agroindustrial, processador de milho e soja
do Estado e um dos mais modernos do País.
A produção de derivados mais nobres, como a glicose e o amido, ocorre na região do
Triângulo (Uberlândia).
Mais recentemente, tem aumentado a
produção do milho especificamente destinado ao enlatamento. Esta indústria tem
evoluído em termos de qualidade, pois mais
recentemente, com a disponibilidade de novos materiais adaptados ao País, passouse a processar o milho do tipo doce. Existe
um movimento para transferência dessa
indústria, anteriormente localizada, principalmente, no extremo sul do Brasil, para as
regiões do Triângulo e do Alto Paranaíba,
onde, com as novas cultivares, é possível
a produção durante todo o ano, aproveitando a infra-estrutura de irrigação existente.
Destinação
Uso animal direto
Forma/Produto final
Silagem; rolão; grão (inteiro/desintegrado) para
ave, suíno e bovino.
Uso humano direto de preparo caseiro
Espiga assada ou cozida; pamonha; curau; pipoca; pão; bolo; broa; cuscuz; polenta; angu; sopa;
farofa.
Indústria de rações
Ração para ave (corte e postura); outras aves;
suíno; bovino (corte e leite); outros mamíferos.
Indústria de alimentos (produtos finais)
Amido; fubá; farinha comum; farinha pré-cozida;
flocada; canjica; óleo; creme; pipoca; glicose; dextrose.
Intermediários
Canjica; sêmola; semolina; moído; granulado; farelo de germe.
Xarope de glucose
Bala dura; bala mastigável; goma de mascar; doce
em pasta; salsicha; salame; mortadela; hambúrguer; outras carnes processadas; fruta cristalizada;
compotas; biscoito; xarope; sorvete; para polimento de arroz.
Xarope de glucose com alto teor de maltose
Cerveja.
Corantes caramelo
Refrigerante; cerveja; bebida alcoólica; molho.
Maltodextrinas
Aroma e essência; sopa desidratada; pó para sorvete; complexo vitamínico; produto achocolatado.
Amidos alimentícios
Biscoito; melhorador de farinha; pão; pó para
pudim; fermento em pó; macarrão; produto farmacêutico; bala de goma.
Amidos industriais
Para papel; papelão ondulado; adesivo; fita gomada; briquete de carvão; engomagem de tecido;
beneficiamento de minério.
Dextrinas
Adesivo; tubo e tubete; barrica de fibra; lixa; abrasivo; saco de papel; multifolhado; estampagem
de tecido; cartonagem; beneficiamento de minérios.
Consumo animal
Pré-gelatinizados
Fundição de peças de metal.
Adesivos
Rotulagem de garrafa e de lata; saco; tubo e tubete;
fechamento de caixa de papelão; colagem de papel;
madeira e tecido.
Ingredientes protéicos
FONTE: Jornal Agroceres (1994).
Rações para bovino; suíno; ave e cão.
Neste ponto, a cadeia produtiva do milho passa a se inserir na cadeia produtiva
do leite, dos ovos e da carne bovina, suína e de aves, sendo esse o canal por onde
os estímulos do mercado são transmitidos
aos agricultores. Mudanças nessas cadeias
passam a ser de vital importância como
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006
101
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
incentivadoras do processo produtivo do
milho. Três grandes derivações ocorrem
neste item:
a) a produção de silagem, para alimentação de vacas em produção de leite
e, mais recentemente, de gado confinado para engorda no período de
inverno;
b) a industrialização do grão de milho
em ração;
c) o emprego do grão em mistura com
concentrados protéicos para a alimentação de suínos e de aves.
A atividade de produção de milho para
silagem tem sofrido forte influência, tanto
na necessidade de modernização do setor
de pecuária leiteira de Minas Gerais, como
no incremento das atividades de confinamento bovino que ocorreram nos últimos
anos.
No caso da industrialização do grão de
milho em ração, o processo de transformação resulta no fornecimento de rações prontas, principalmente utilizadas na criação de
animais de estimação, como cães, gatos,
etc.
Na criação de suínos, devido à quantidade relativamente grande de milho necessária, este normalmente é adquirido em
grão, ou parcialmente produzido pelos criadores para mistura com concentrados na
propriedade rural.
Todas essas três derivações têm-se desenvolvido consideravelmente em Minas
Gerais, com a criação de pólos regionais de
consumo de milho, que não necessariamente estão próximos aos locais de produção
(caso da avicultura na região de Pará de
Minas e de suinocultura em Ponte Nova).
Ao contrário da industrialização de milho
para o consumo humano, este setor apresenta grande dinamismo, com incremento
do número de indústrias processadoras.
Processamento na fazenda
Uma parcela importante do milho produzido no Estado destina-se ao consumo
ou transformações em produtos para utili-
zação na própria fazenda. O milho destinado ao consumo humano – principalmente na forma de fubá, farinha ou canjica – tem menor quantitativo, diante do
destinado à alimentação de pequenos animais, geralmente aves e suínos.
Embora esse estádio da cadeia do milho
possa gerar eventualmente algum excedente para comercialização fora da propriedade agrícola, sua importância no que
diz respeito ao abastecimento urbano é hoje
muito reduzida. O aumento na eficiência dos
sistemas alternativos de produção de aves
e suínos, as próprias características dos
produtos demandados pelos consumidores
urbanos e as quantidades necessárias para
atingir escalas mínimas que compensem o
transporte para as regiões consumidoras
reduziu, e muito, sua capacidade de competição. Sua importância hoje é muito maior
na subsistência dessas populações rurais
do que como fator de geração de renda capaz de promover melhorias substanciais
em seu padrão de vida. O desafio que se
defronta neste elo da cadeia seria a transformação da capacidade desses agricultores em se integrarem em cadeias de processamento de milho mais modernas e
competitivas, sem o que sua situação de
marginalidade diante do processo de desenvolvimento do País não será modificada.
CUSTO DE PRODUÇÃO
Sistema de produção
de milho
Há grande diversidade nas condições
de cultivo do milho no Brasil. Observa-se
desde a agricultura tipicamente de subsistência, sem utilização de insumos modernos
(produção voltada para consumo na propriedade e eventual excedente comercializado), até lavouras que utilizam o mais alto
nível tecnológico, alcançando produtividades equivalentes às obtidas em países
de agricultura mais avançada. Independente da região, os seguintes sistemas de
produção de milho são bastante evidentes.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006
Produtor comercial de grãos
Normalmente produzem milho e soja em
rotação, podendo também envolver outras
culturas. São especializados na produção
de grãos e têm por objetivo comercializar a
produção. Plantam lavouras maiores. Utilizam a melhor tecnologia disponível, predominando o sistema plantio direto (SPD). São
os grandes responsáveis pelo abastecimento do mercado.
Produtor de grãos e pecuária
Neste caso, o agricultor usa nível médio
de tecnologia, por lhe parecer o mais adequado, em termos de custo de produção.
É comum o plantio de milho, para renovação de pastagens. A região, muitas vezes,
não produz soja e o milho é a principal
cultura. As lavouras são de tamanho médio a pequeno. A capacidade gerencial
não é tão boa e muitas vezes as operações
agrícolas não são realizadas no momento
oportuno, com o insumo adequado ou na
quantidade adequada. A qualidade das máquinas e dos equipamentos agrícolas pode
também comprometer o rendimento do
milho.
Recentemente, estão implementando a
recuperação de pastagens degradadas, que
atingem, praticamente, 50 milhões de
hectares. À medida que avance o programa
de recuperação, deverá haver aumento na
oferta de milho, uma vez que o sistema de
integração lavoura-pecuária, utilizando milho, tem-se mostrado o mais apropriado
para esse fim.
Pequeno produtor
É aquele produtor de subsistência, em
que a maior parte da produção é consumida
na propriedade. O nível tecnológico é baixo, inclusive envolvendo o uso de semente
não melhorada. O tamanho da lavoura é
pequeno. Essa produção tem perdido importância, no que se refere ao abastecimento
do mercado.
Produção de milho safrinha
Este tipo de exploração ocupa hoje cerca de três milhões de hectares de milho
102
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
plantados principalmente nos estados
PR, SP, MT, MS e GO. O milho é semeado
extemporaneamente, após a soja precoce.
O rendimento e o nível tecnológico dependem muito da época de plantio. Nos plantios mais cedo, o sistema de produção é, às
vezes, igual ao utilizado na safra normal.
Nos plantios tardios, o agricultor reduz o
nível tecnológico em função do maior risco da cultura, devido, principalmente, às
condições climáticas (frio excessivo, geada
e deficiência hídrica). A redução do nível
tecnológico refere-se, basicamente, à semente utilizada e redução nas quantidades
de adubos e defensivos aplicados. Essa
oferta tem sido importante para a regularização do mercado.
Coeficiente técnico
Dos sistemas de produção identificados, o que mais prontamente assimila às
tecnologias disponíveis na busca de competitividade diz respeito ao “produtor comercial de grãos”. Para esse sistema, temse observado grande homogeneização do
padrão tecnológico empregado pelos produtores na condução das lavouras de milho, variando pouco entre as principais
regiões produtoras.
Evidentemente não existe padrão tec-
nológico único que atenda a todos os sistemas de produção utilizados e que se adapte
a todas as situações inerentes a cada lavoura. Entretanto, especificamente com relação
aos produtores enquadrados no sistema
citado, é possível, com razoável precisão,
identificar um padrão tecnológico que se
apresenta como o mais adequado para essas
lavouras.
Os coeficientes técnicos foram elaborados para as três situações predominantes nas lavouras comerciais, quais sejam:
safra normal, usando SPD (Quadro 11): safra normal, usando plantio convencional
(Quadro 12); safrinha (Quadro 13).
QUADRO 11 - Coeficientes técnicos de produção para 1 ha de milho (plantio direto: produtividade 7.000 kg ha-1)
Descrição
Especificação
(continua)
Unidade
Quantidade
utilizada
t
0,7
t
0,4
Preparo do solo
Calcário
–
Gesso
–
Distribuição do calcário
Trator 85 hp + calcariador
Dessecação – herbicida
Glifosato
Distribuição de herbicida
Trator 85 hp + pulverizador Barra 2000 L
Mão-de-obra – distribuição de herbicida
h/m
L
–
0,125
3
h/m
0,3
d/H
0,25
Plantio
Semente
Híbrido simples ou triplo
saco de 20 kg
1
Tratamento de semente
Fungicida
–
L
0,02
Inseticida
–
L
0,4
Adubação
8-28-16 + FTE
Plantio – adubação mecânica
Trator 120 hp + plantadeira/adubadeira com 12 linhas
h/m
0,8
Transporte interno para plantio
Trator 85 hp + carreta 8 t
h/m
0,3
kg
300
Trato cultural
Adubação de cobertura
Uréia
kg
Aplicação de adubação de cobertura
Trator 85 hp + distribuidor de adubo com 5 linhas
200
h/m
0,6
Herbicida – pós-emergência
Herbicida 1
–
L
2,5
Herbicida 2
–
L
0,8
h/m
0,3
Aplicação de herbicida
Trator 85 hp + pulverizador Barra 2000 L (1X)
Controle de praga
Inseticida 1
Piretróide
L
0,3
Inseticida 2
Fisiológico
L
0,6
Espalhante adesivo
Óleo mineral
L
1
Aplicação de inseticida
Trator 85 hp + pulverizador Barra 2000 L (2X)
h/m
0,6
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006
103
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
(conclusão)
Descrição
Especificação
Unidade
Quantidade
utilizada
kg
0,6
Trato cultural
Controle de formiga
Formicida
Isca
Colheita
Colheita mecânica
Colheitadeira plataforma 4m
h/m
0,85
Transporte interno
Trator 85 hp + carreta 8 t
h/m
0,3
NOTA: h/m – Hora/máquina; d/H – Dia/homem; FTE – Fritted trace elements.
QUADRO 12 - Coeficientes técnicos de produção para 1 ha de milho (plantio convencional: produtividade 7.000 kg ha-1)
Descrição
Especificação
Preparo do solo
Calcário
Gesso
Distribuição do calcário
Gradagem aradora
Gradagem niveladora
–
–
–
Trator 120 hp + grade pesada
Trator 120 hp + grade niveladora
Plantio
Semente
Fungicida
Inseticida
Distribuição de inseticida manual
Adubação
Plantio – adubação mecânica
Transporte interno para plantio
Híbrido simples ou triplo
–
–
–
8-28-16 + FTE-CAMPO
Trator 120 hp + plantadeira/adubadeira 12 linhas
Trator 85 hp + carreta 8 t
Trato cultural
Adubação de cobertura
Aplicação de adubação de cobertura
Aplicação de herbicida – máquina
0,7
0,4
0,125
1,6
0,4
1
0,02
0,4
0,05
300
0,8
0,3
–
kg
h/m
200
0,6
–
–
L
L
2,5
0,8
h/m
0,3
d/H
0,16
Trator 85 hp + pulverizador Barra 2000 L
Mão-de-obra – aplicação de herbicida
t
t
h/m
h/m
h/m
Quantidade
utilizada
saco de 20 kg
L
L
d/H
kg
h/m
h/m
Uréia
Herbicida – pós-emergência
Herbicida 1
Herbicida 2
Unidade
–
Inseticida
Inseticida 1
Inseticida 2
Piretróide
Fisiológico
L
L
0,3
0,6
Espalhante adesivo
Óleo mineral
L
1
Aplicação de inseticida
Trator 85 hp + pulverizador Barra 2000 L (2X)
Mão-de-obra – aplicação de inseticida
Controle de formiga
Formicida
–
Isca
h/m
0,6
d/H
0,32
kg
0,6
Colheita
Colheita mecânica
Colheitadeira plataforma 4m
h/m
0,85
Transporte interno
Trator 85 hp + carreta 8 t
h/m
0,3
NOTA: h/m – Hora/máquina; d/H – Dia/homem; FTE – fritted trace elements.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006
104
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
QUADRO 13 - Coeficientes técnicos de produção para um 1 ha de milho (safrinha: produtividade 3.000 kg ha-1)
Descrição
Especificação
Unidade
Quantidade
utilizada
Preparo do solo
Dessecação – herbicida
Herbicida 1
Glifosato
L
1,5
Herbicida 2
2,4-D
L
0,5
h/m
0,15
d/H
0,25
Distribuição de herbicida
Trator 85 hp + pulverizador Barra 2000 L
Mão-de-obra – distribuição de herbicida
–
Plantio
Semente
Híbrido duplo ou triplo
saco de 20 kg
Adubo
4-20-20
Plantio – adubação
Trator 120 hp + plantadeira/adubadeira com 12 linhas
h/m
0,8
Transporte interno para plantio
Trator 85 hp + carreta 8 t
h/m
0,3
kg
1
200
Trato cultural
Adubação de cobertura
Uréia
kg
Aplicação da adubação
–
Inseticida
Aplicação de inseticida
–
Trator 85 hp + pulverizador Barra 2000 L (2X)
Mão-de-obra – aplicação de inseticida
–
60
h/m
0,5
L
0,6
h/m
0,3
d/H
0,32
Colheita
Colheita mecânica
Colheitadeira plataforma 4m
h/m
0,6
Transporte interno
Trator 85 hp + carreta 8 t
h/m
0,3
NOTA: h/m – Hora/máquina; d/H – Dia/homem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma vez que a produção mundial de
suínos e aves, principais consumidores de
milho, continuará crescendo, a questão que
se coloca é a indagação sobre quais regiões reúnem as condições mais favoráveis
para suportar esse crescimento.
Certamente haverá grande peso para
favorecer regiões produtoras de milho que
disponham de boa logística de transporte
para atender a consumidores situados em
distância razoável. Esse atendimento regional é da maior importância para a sustentabilidade da atividade produtiva, pois
provê escoamento seguro para a produção.
Outro fator importante é a disponibilidade
de um sistema de armazenamento eficiente,
que possibilite aos agricultores realizar a
comercialização da produção de forma mais
lucrativa ao longo do ano. A disponibilidade do sistema de comercialização eficiente também é parte desse complexo de
aspectos que aumenta a competitividade
dos produtores de milho de determinada
região.
Para finalizar, embora o atendimento a
consumidores localizados a distâncias mais
curtas seja vital, o estabelecimento do canal
de comércio exterior é interessante, tendo
em vista que este fornecerá um piso de flutuação dos preços mais estável do que os
normalmente verificados nos preços internos.
Janeiro, 2006. Disponível em: <http://www.sidra.
ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?c=1612&z=
t&o=10>. Acesso em: 2 maio 2006.
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Disponível em: <http://aliceweb. desenvolvimento.
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2005/06. Brasília, 2006. Disponível em: <http://
PFri-RoppaL.pdf>. Acesso em: 2 maio 2006.
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IBGE. SIDRA. Tabela 1612 - Quantidade pro-
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duzida, valor de produção, área plantada e
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área colhida da lavoura temporária. Rio de
Acesso em: 2 maio 2006.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
106
Cultura do milho na integração lavoura-pecuária
Ramon Costa Alvarenga 1
Tarcísio Cobucci 2
João Kluthcouski 3
Flávio Jesus Wruck 4
José Carlos Cruz 5
Miguel Marques Gontijo Neto 6
Resumo - A cultura do milho (Zea mays) destaca-se no contexto da integração lavourapecuária (ILP), devido às inúmeras aplicações que este cereal tem na propriedade agrícola,
quer seja na alimentação animal, quer seja na alimentação humana ou na geração de
receita, mediante a comercialização da produção excedente. Outro ponto importante são
as vantagens comparativas do milho em relação a outros cereais ou fibras, no que diz
respeito ao seu consórcio com capim. Uma dessas vantagens é a competitividade no
consórcio, visto que o porte alto das plantas de milho, depois de estabelecidas, exerce
grande pressão sobre as demais espécies que crescem no mesmo local. A altura de inserção
da espiga permite que a colheita seja realizada sem maiores problemas, pois a regulagem
mais alta da plataforma diminui os riscos de embuchamento. Somando-se a isso, com a
disponibilidade de herbicidas graminicidas pós-emergentes, seletivos ao milho, é possível
obter resultados excelentes com o consórcio milho + forrageira. A cultura do milho ainda
possibilita trabalhar com diferentes espaçamentos. No consórcio com forrageiras, a
redução de espaçamento tem a vantagem de desenvolver um pasto mais bem formado.
A decisão pelo espaçamento do consórcio a ser estabelecido deve também levar em
conta a disponibilidade das máquinas, tanto para o plantio quanto para a colheita.
Palavras-chave: Zea mays. Produção integrada. Consorciação de cultura. Forrageira.
Sistema Barreirão. Sistema Santa Fé. Pastagem consorciada. Produção de forragem.
Herbicida.
INTRODUÇÃO
A integração lavoura-pecuária é a diversificação, rotação, consorciação e/ou
sucessão das atividades agrícolas e pecuárias dentro da propriedade rural, de forma
harmônica, constituindo um mesmo siste-
ma, de tal maneira que há benefícios para
ambas (Fig. 1). Como uma das principais
vantagens, possibilita que o solo seja
explorado economicamente durante todo
o ano ou, pelo menos, na maior parte dele,
favorecendo o aumento na oferta de grãos,
de fibras, de lã, de carne, de leite e de agroenergia a custos mais baixos, devido ao
sinergismo que se cria entre a lavoura e a
pastagem. Sistemas de integração lavourapecuária (ILP), compostos por tecnologias
sustentáveis e competitivas foram e ainda
1
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected]
2
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico: cobucci@
cnpaf.embrapa.br
3
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico: joaok@
cnpaf.embrapa.br
4
Engo Agro, M.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico:
[email protected]
5
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas- MG. Correio eletrônico: [email protected]
6
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas- MG. Correio eletrônico: [email protected]
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
107
Ramon Costa Alvarenga
lho + forrageira. Aliás, essa prática é bastante antiga. Por outro lado, é raro aquele
que faz implantação de pastagens em áreas
agrícolas. Existem para essas duas situações, propostas para inserir as propriedades em ILP de tal forma que elas passem a ser mais sustentáveis e competitivas.
As tecnologias disponíveis são o Sistema
Barreirão e o Sistema Santa Fé. Esses sistemas são perfeitamente ajustados a qualquer tamanho de propriedade, desde as
pequenas com alguns hectares e que usam
a mão-de-obra familiar, até aquelas empresariais com alto nível tecnológico.
Figura 1 - Consórcio milho braquiária
estão sendo desenvolvidos e/ou ajustados
às diferentes condições edafoclimáticas do
País. Isso tem possibilitado a sustentabilidade do empreendimento agrícola, com
redução de custos, distribuição de renda e
redução do êxodo rural, em decorrência da
maior oferta de empregos no campo.
Entre os principais benefícios da ILP
destacam-se:
a) para o produtor, há aumento da produtividade e do lucro da atividade,
com maior estabilidade de renda,
devido à produção diversificada;
b) com a rotação de cultura, há a redução dos custos e da vulnerabilidade
aos efeitos do clima e do mercado;
c) com a lavoura, há melhoria da fertilidade do solo, o que permite ganhos
em produtividade e maior oferta de
pasto, forragem e grãos, para alimentação animal na estação seca.
A adubação de manutenção da nova
pastagem deve manter um novo patamar
de produtividade. Por sua vez, a pastagem
favorece a melhoria da qualidade física e
biológica do solo, a redução de pragas e
doenças, aumenta a matéria orgânica do
solo e ajuda no controle da erosão, devido
à cobertura e à proteção que proporciona.
A lavoura cultivada na seqüência é beneficiada com a melhoria da qualidade do
solo.
Durante as etapas de conversão da
propriedade, ou parte dela, para ILP o proprietário deverá ir se qualificando, pois
o gerenciamento torna-se mais complexo.
As maiores dificuldades para adoção de
ILP, por parte do pecuarista, é seu parque
de máquinas geralmente limitado. Por sua
vez, o agricultor demandará investimentos
consideráveis em cercas e animais. Em razão disso, acordos de parcerias e arrendamentos de terra têm sido uma saída para
aqueles que não dispõem de capital para
fazer estes investimentos ou não estão dispostos a utilizar linhas convencionais ou
especiais de crédito para ILP, que estão sendo implementadas.
MILHO CONSORCIADO
COM FORRAGEIRAS
Na prática, depara-se com as mais variadas situações em que o produtor tenta
reduzir os custos de recuperação ou reforma de seus pastos, fazendo plantio de mi-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
Sistema Barreirão
Este sistema foi desenvolvido na década de 80 pela Embrapa Arroz e Feijão.
Com ele foi possível recuperar ou reformar
imensas áreas com pastagens degradadas,
especialmente no Brasil Central (Fig. 2).
Ainda hoje, ele é usado com essa finalidade servindo como preparação para implantação da ILP no Sistema Santa Fé.
Para que o Sistema Barreirão seja implantado, ele deve ser precedido de vários cuidados referentes ao diagnóstico da gleba,
escolha da cultivar de milho e da forrageira, dentre outros. Primeiramente, deve-se
fazer a avaliação do perfil do solo da gleba,
ocasião em que se constatam as condições
do solo, quanto à presença de camada compactada ou adensada e espessura do horizonte superficial, etc. Nessa etapa, podem
ser decididas quais profundidades de amostragem para caracterização física e química
do solo. Com base nos resultados das análises, deve-se fazer a correção da acidez do
solo, seguindo a orientação de um técnico.
É importante que a aplicação do corretivo
seja feita pelo menos 60 dias antes do plantio e que ainda haja umidade suficiente no
solo, para que o calcário reaja.
O milho é uma espécie exigente em
fertilidade do solo e necessita de pH, Ca,
Mg, saturação por alumínio e saturação
por bases, sendo mínimos em torno de 6,0;
2,2; 0,8 menor que 20% e 50%-55%, respectivamente. Esses níveis são, também, os mínimos necessários para implantar o Siste-
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
Ramon Costa Alvarenga
108
Figura 2 - Sistema Barreirão
ma Plantio Direto (SPD). Dentre esses parâmetros, a saturação por bases pode ser
considerada a mais importante característica química do solo para a produção do
milho (FAGERIA, 2001). Além disso, a cultura do milho é mais adaptada a solos anteriormente cultivados, principalmente com
soja. Como cultura de primeiro ano, em solos
recém-corrigidos ou após pastagem degradada, dificilmente são obtidos rendimentos de grãos superiores a 6 t ha-1. Assim, o
agricultor pode optar pelo cultivo de variedade e não de híbrido, cujas sementes
são, via de regra, quatro a cinco vezes mais
onerosas. Existem no mercado variedades
de milho, com ampla adaptação e potencial produtivo entre 6 t e 7 t ha-1. Outro fator relevante é que o ciclo do milho é regulado pela soma calórica, exigindo que se
tenha o adequado cuidado na escolha da
cultivar em relação à altitude e à latitude.
Baixas latitude (menor que 12o) e altitude
(menor que 400 m), comuns nos Cerrados
requerem, geralmente, cultivares com soma
calórica mais alta, em torno de 800 grausdia, até a floração. Mesmo assim, nessas
condições, as produtividades máximas possíveis giram em torno de 6 a 7 t ha-1.
Caso se opte pela adubação corretiva,
recomenda-se apenas fósforo e potássio.
Na adubação de base, contudo, os demais
macro e micronutrientes podem ser ministrados simultaneamente à semeadura do milho. Para cada tonelada de grãos são requeridos cerca de 24 kg de N, 3 kg de P, 23 kg
de K, 5 kg de Ca, 4 kg de Mg, 46 g de Zn,
8 g de Cu, 65 g de Mn, 274 g de Fe e 18 g
de B (FAGERIA, 2001). Conforme Coelho
et al. (2003), a extração de enxofre pela planta
de milho varia de 15 kg a 30 kg ha-1, para produções de grãos em torno de 5 t a 7 t ha-1.
Com a ILP, o milho é preferido na recuperação de pastagens degradadas, em consórcio com forrageiras tropicais, pelo Sistema Barreirão (OLIVEIRA et al., 1996), ou
em áreas de lavoura, com solos adequadamente corrigidos, pelo Sistema Santa Fé
(KLUTHCOUSKI et al., 2000).
A principal característica do Sistema
Barreirão é a aração profunda com arado
de aivecas. A razão para usar esse implemento é fazer os condicionamentos físico
e químico do solo, rompendo camadas compactadas ou adensadas; inverter a camada
de solo revolvida para que haja incorporação profunda de corretivos; incorporar em
profundidade o banco de sementes de
plantas daninhas, para que estas não germinem ou tenham a emergência retardada,
competindo menos com o milho; incorporar
o sistema radicular de capins, acelerando a
sua mineralização para minimizar a concorrência com o milho pelo nitrogênio, etc.
Na seqüência, são tomados os cuidados
com a conservação do solo. Como o condicionamento químico não é imediato, ou seja,
demanda tempo de reação dos corretivos e
fertilizantes, é esperado melhor desempenho das lavouras de milho nos cultivos
subseqüentes, por ser esta cultura exigente
em condicionamento químico do solo.
Para obter bom desempenho da cultura
em áreas com pastagem degradada, onde
predominam solos ácidos e de baixa fertilidade, são necessários a correção mínima de acidez e o suprimento de bases, como
nutrientes. A calagem, nesse caso, pode ser
feita antes do período chuvoso que antecede a semeadura (agosto/setembro), no
final do período chuvoso (março/abril) ou
dois ou mais anos antes da implantação da
cultura. Essa última opção é que irá possibilitar a melhor reação do corretivo, como
atestam os dados expostos no Quadro 1.
Na primeira opção, devido ao curto período
de reação no solo, o calcário deve ser bem
homogeneizado no solo. Para tanto, o melhor método consiste em aplicar 60%-70%
do calcário, incorporá-lo superficialmente
com grade aradora, arar profundamente
(35-40 cm), aplicar o restante 30%-40% do
corretivo, nivelar/destorroar e semear o milho e a forrageira. Nas demais opções, o
calcário pode ser espalhado superficialmente para ser apenas incorporado, imediatamente antes da semeadura do consórcio.
No Sistema Barreirão, a determinação
da necessidade de calagem para o milho
obedece à mesma metodologia e aos critérios utilizados para os cultivos solteiros.
Entretanto, deve-se considerar que para
solos com alto teor de areia e baixa matéria
orgânica, o método de saturação por bases
geralmente subestima a quantidade de calcário a ser aplicada. Em geral, isto ocorre
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
109
QUADRO 1 - Algumas características químicas do solo antes e dois anos após a aplicação superficial de calcário, em Brejinho de Nazaré, TO1
Época
Profundidade
pH da
(cm)
água
Ca
Mg
Al
mmolc dm
Antes
(2)
Após 2 anos
CTC
V
Argila
-3
Silte
Areia
%
0-10
4,7
1,0
0,4
0,1
3,82
42,4
19
5
76
10-20
3,7
0,5
0,3
0,4
4,83
18,9
21
5
74
0-10
5,5
12,0
7,0
0
4,25
48,2
–
–
–
10-20
5,0
10,0
4,0
0
3,07
24,7
–
–
–
NOTA: Dados não publicados, coletados por Georgette Andrea Kluthcouski, técnica da Agropecuária Santa Angelina, em julho de 2002.
CTC – Capacidade de troca catiônica; V – Saturação por bases.
-1
(1) A gleba foi calcariada alguns anos antes de ser recalcariada. (2) Refere-se à aplicação de 2 t ha de corretivo.
com todos os métodos vigentes. Assim, é
necessário considerar a cultura a ser implantada, o histórico da área e a experiência local, quanto à resposta das culturas aos
corretivos de acidez do solo. Não deve haver diferença na quantidade de corretivo a
ser aplicada em relação ao tempo que antecede a implantação da cultura.
Para a cultura do milho, a calagem é
necessária, quando o solo apresentar concentração de Ca2+ + Mg2+ inferior a 3,0
cmolc dm-3 de solo, na razão aproximada
de 3-4:1. Um exemplo disso é mostrado no
Quadro 2, observando-se que, mesmo com
a incorporação do corretivo pouco antes
da semeadura do milho, houve efeito significativo na produtividade de grãos de milho e na produção da forrageira.
Por outro lado, a reação do corretivo
no solo, no que se refere a alguns parâmetros físico-químicos, é relativamente rápida,
como pode ser comprovado pelos dados
apresentados no Quadro 3, onde todas as
características avaliadas foram substancialmente alteradas pela calagem em 50 dias.
Esse fato foi observado também na Agropecuária Santa Angelina, em Brejinho de
Nazaré, TO, em solo recém-desmatado, isto
é, que nunca recebeu corretivos de acidez
do solo (Quadro 4). Nota-se que a reação
do solo foi plenamente alterada em 90 dias
e essa alteração foi mais proeminente em
solos que continham maior teor de areia.
QUADRO 2 - Efeito de métodos de incorporação de calcário sobre a produtividade de massa verde da planta e produtividade de grãos do milho híbrido BR 201, e de massa verde da forrageira B. brizantha, em área anteriormente sob pastagem degradada, na Fazenda Barreirão, em
Piracanjuba, GO
Milho
(1)
Calcário
-1
(t ha )
B. brizantha
Método de
incorporação
Estande
Massa verde
-2
0
–
-1
Produtividade
-1
Massa verde
-1
(plantas m )
(g planta )
(kg ha )
(t ha )
6,5 a
1.767 b
1.993 b
17,2 c
3
Grade aradora
6,8 a
2.700 a
3.467 a
25,7 ab
3
Arado
6,8 a
2.900 a
3.014 a
28,3 a
3
Grade niveladora
6,6 a
3.073 a
3.360 a
22,0 bc
10,2
8,7
CV (%)
–
10,8
14,8
FONTE: Oliveira et al. (1996).
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
CV – Coeficiente de variação.
(1) Quantidade de calcário aplicada um mês antes da semeadura. Considerando: Latossolo Vermelho-Amarelo; pH 5,8; Ca2+ + Mg2+ =
2,0 cmolc-3; teores de P, K, Cu, Zn, Fe e Mn de 0,8 mg, 137,0 mg, 2,1 mg, 0,6 mg, 154,0 mg e 50,0 mg dm-3, respectivamente; matéria
orgânica = 20 g kg-1.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
110
QUADRO 3 - Efeito de diferentes doses de calcário em algumas características de um Latossolo Vermelho no período de 50 dias após a aplicação
Calcário
pH/H2O
-1
Ca
Mg
Al
S
CTC
V
m
(t ha )
(1/1,25)
0
4,8
1,7
1,4
0,3
3,5
12,4
40,0
2,5
1
5,4
4,2
3,0
0,1
7,6
14,6
52,0
0,7
2
5,6
4,1
2,3
0,0
6,8
13,0
52,0
0,0
Média
5,3
3,4
2,3
0,2
6,0
13,3
48,0
1,1
cmolc dm
-3
cmolc kg
-1
%
FONTE: Dados básicos: Oliveira et al. (2000).
NOTA: CTC – Capacidade de troca catiônica; V – Saturação por bases; m – Saturação por alumínio.
QUADRO 4 - Algumas características químicas do solo, antes e seis meses após a aplicação de calcário1, Agropecuária Santa Angelina, Fazenda
Tocantins, Brejinho de Nazaré, TO
ProfunÉpoca
didade
(cm)
pH da
Ca
água
Mg
Al
mmolc dm
CTC
V
Argila
-3
Silte
Areia
%
Gleba 1
Antes da aplicação do calcário
Após 6 meses da aplicação
0-10
3,7
0,3
0,2
0,6
5,0
11,4
12
5
83
10-20
3,7
0,2
0,1
0,5
4,2
8,4
11
5
84
0-10
6,0
1,2
0,6
0,0
3,1
58,5
–
–
–
10-20
4,4
0,5
0,3
0,3
2,4
34,3
–
–
–
0-10
3,9
0,3
0,1
0,4
4,6
10,4
10
4
86
10-20
3,9
0,2
0,1
0,4
3,5
10,1
11
5
84
0-10
5,7
1,5
0,6
0,0
3,6
60,8
–
–
–
10-20
4,1
0,6
0,2
0,4
2,8
29,5
–
–
–
0-10
3,8
0,3
0,2
0,4
4,7
12,0
37
9
54
10-20
3,9
0,2
0,1
0,3
3,9
9,1
34
9
57
Gleba 2
Antes da aplicação do calcário
Após 6 meses da aplicação
Gleba 8
Antes da aplicação do calcário
Após 6 meses da aplicação
0-10
5,7
1,2
0,5
0,0
3,8
46,7
–
–
–
10-20
4,4
0,5
0,3
0,2
2,8
29,2
–
–
–
0-10
3,9
0,3
0,2
0,3
5,3
10,6
32
9
59
10-20
4,0
0,2
0,1
0,4
4,0
8,8
35
10
55
0-10
5,6
1,2
0,5
0,0
3,6
47,8
–
–
–
10-20
4,5
0,4
0,2
0,2
2,6
23,8
–
–
–
Gleba 9
Antes da aplicação do calcário
Após 6 meses da aplicação
NOTA: Dados não publicados, coletados por Georgette Andrea Kluthcouski, técnica da Agropecuária Santa Angelina, em julho de 2002.
V – Saturação por bases.
(1) Foram aplicadas 5 t ha
-1
-1
de calcário dolomítico e 400 kg ha
de superfosfato simples.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
111
Também em solos sob pastagens degradadas, onde predominam solos ácidos
e pouco férteis, a aplicação de calcário dois
a três meses antes da semeadura do milho resultou em produtividade média de
grãos de 3,75 t ha-1, chegando ao máximo
de 7,4 t ha-1. As mais altas produtividades
referem-se, muito provavelmente, a solos
anteriormente corrigidos ou naturalmente
férteis (Quadro 5). Assim, para atingir médias superiores a 6 t ha-1, é fundamental
que a calagem seja feita com antecedência
mínima de um ano ou um ciclo de chuvas.
Existem vários relatos de que o processo mais econômico de correção da acidez
das camadas superficiais e subsuperficiais
do solo é a utilização de uma parte de gesso
(sulfato de cálcio) em mistura com calcário.
O gesso contém, aproximadamente, 23% de
cálcio e 19% de magnésio. Assim, se forem
aplicados 500 kg ha-1 de gesso, por exemplo, só com este insumo estariam sendo
aplicados 115 kg ha-1 de Ca e 95 kg ha-1 de
S, quantidades essas teoricamente suficientes para a obtenção de mais de 6 t ha-1
de milho.
Os sulfatos carreiam alguns cátionsbase através dos horizontes, corrigindo a
acidez e favorecendo o crescimento radicular das plantas. No Sistema Barreirão, as
doses extremas de qualquer um dos corretivos, aplicadas entre dois e três meses antes
da semeadura do milho, tenderam a resultar
em menores produtividades do milho, cultivar BR 201, e da forrageira B. brizantha
(Quadro 6), não havendo, contudo, diferenças significativas entre as proporções
testadas. No entanto, melhores rendimentos foram obtidos para as misturas com as
QUADRO 5 - Produtividade média de grãos e taxas de retorno diretas obtidas nas unidades demonstrativas do Sistema Barreirão, implantadas em
duas safras agrícolas em solos sob pastagem degradada e em diferentes municípios e Estados brasileiros
(1)
Safra agrícola
Total de municípios
Estados abrangidos
1992/1993
3
1993/1994
1993/1994
Cultura anual
Produtividade
-1
(2)
Taxa de
consorciada
(t ha )
retorno direta
GO
Milho
4,1
1,06
16
GO/MS/MG/SP/MT
Milho
3,4
0,80
1
GO
Sorgo
3,0
0,94
FONTE: Dados básicos: Yokoyama et al. (1998).
(1) Gramínea: Brachiaria brizantha. (2) Retorno por unidade monetária aplicada.
QUADRO 6 - Efeito da mistura de gesso com calcário no estande, na produtividade de grãos do milho híbrido BR 201, na produtividade de massa
verde da forrageira B. brizantha e nos teores de cálcio no perfil do solo, Fazenda Barreirão, Piracanjuba, GO
Cálcio
Milho
-3
(cmolc dm )
Massa verde
(1)
Mistura
calcário:gesso
Produtividade
Estande
-2
(plantas m )
(2)
Profundidade
da forrageira
-1
(t ha )
(cm)
-1
(kg ha )
30
60
90
100:0
4,9 a
3.797 a
16,8
2,0
1,5
1,3
80:20
6,1 a
3.550 a
12,8
2,7
1,7
1,2
60:40
4,9 a
4.300 a
15,2
2,3
1,2
1,4
40:60
4,9 a
4.217 a
15,4
2,2
1,7
1,4
20:80
6,3 a
4.093 a
13,9
1,8
2,3
1,3
0:100
6,1 a
3.493 a
13,2
1,8
2,3
1,3
Testemunha
6,1 a
1.490 b
14,3
1,9
1,5
1,3
(3)
FONTE: Oliveira et al. (1996).
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
(1) Latossolo Amarelo; pH 5,7; Ca2+ + Mg2+ = 0,7 cmolc dm-3; teores de P, K, Cu, Zn, Fe e Mn de 0,7; 86,0; 0,3; 2,3; 154,0 e 44,0 mg dm-3,
respectivamente; matéria orgânica = 19 g kg-1. (2) Correspondente a 3,0 t ha-1. (3) Correspondente a 5,76 t ha-1.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
112
relações calcário: gesso de 60% e 40% e
40% e 60%. A distribuição do cálcio no
perfil do solo, a partir da profundidade de
60 cm, foi crescente, à medida que a mistura continha mais gesso.
Na recuperação de pastagens degradadas, tal qual no Sistema Barreirão, o tempo
de reação do corretivo no solo é, em geral,
insuficiente, não obedecendo ao período
mínimo de 90 dias, em condições de solo
úmido, entre a aplicação e a semeadura da
cultura ou da forrageira. Considerando-se
que o principal fator determinante da velocidade de reação do corretivo é o tamanho
de suas partículas, o calcário filler, ou finamente moído, pode produzir melhor resultado que o calcário convencional. Na cultura do milho, embora o teste estatístico não
tenha detectado diferenças, houve acréscimo superior a 1,0 t ha-1 de grãos com a
utilização do filler e diferenças significativas na produção de massa verde da forrageira B. brizantha (Quadro 7).
No Sistema Barreirão, os procedimentos de plantio do milho são os tradicionais.
No plantio simultâneo, dependendo da espécie da forrageira, suas sementes são mistu-
radas ou não ao adubo do milho. É importante cuidar para que essa mistura seja feita
no dia do plantio e regulada a profundidade de deposição do adubo + sementes para
maior profundidade, a fim de que não ultrapasse o limite e que haja emergência das
plântulas, o que varia conforme a espécie.
Geralmente, sementes de braquiária podem
ser semeadas até 8 cm e de panicum até
3 cm. As sementes do milho geralmente
são semeadas a 3 cm de profundidade no
solo.
É desejável estabelecer uma ou duas
linhas adicionais de forrageira nas entrelinhas do milho para melhor formação da
pastagem, o que vai depender do espaçamento e do equipamento de plantio disponível. Existe hoje tendência de redução
do espaçamento entrelinhas na cultura
do milho, principalmente com os híbridos
atuais, que são de porte mais baixo e arquitetura mais ereta. Sangoi et al. (1998) encontraram aumento no rendimento de grãos de
milho com redução do espaçamento entre
fileiras até 50 cm. Esta redução no espaçamento resultou também em maior massa
de grãos por espiga. Esse comportamento
QUADRO 7 - Efeito comparativo da calagem tradicional com a microcalagem no estande, no número de espigas, na produtividade de grãos de milho e massa verde de B. brizantha,
em solo sob pastagem degradada, Fazenda Barreirão, Piracanjuba, GO
Milho
Massa verde
(1)
Calcário
-2
(planta m )
-1
3 t ha de calcário a lanço
-1
3 t ha de filler a lanço
-1
0,3 t ha de filler na linha
-1
0,6 t ha de filler a lanço
CV (%)
Espiga
Estande
Produtividade
-1
o
(n espiga m )
-1
(kg ha )
da forrageira
-1
(t ha )
5,7 a
4,9 a
2.283 a
34,4 b
5,8 a
5,3 a
3.348 a
44,6 ab
5,6 a
5,4 a
3.360 a
50,8 a
5,7 a
5,4 a
3.084 a
38,6 ab
11,2
12,7
8,3
15,6
FONTE: Oliveira et al. (1996).
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem significativamente pelo teste
Tukey, a 5% de probabilidade.
CV - Coeficiente de variação.
(1) Latossolo Vermelho-Amarelo; pH 5,7; Ca2+ + Mg2+ = 2,6 cmolc dm-3; teores de P, K, Cu, Zn,
Fe e Mn de 1,1 mg, 89,0 mg, 2,6 mg, 0,6 mg, 363,0 mg e 33,0 mg dm-3, respectivamente; matéria
orgânica = 15 g kg-1.
deve-se aos milhos atuais terem características de porte mais baixo, melhor arquitetura
foliar e menor massa vegetal que permitem
cultivos mais adensados em espaçamentos
mais fechados. Quanto à qualidade da silagem, Paiva (1992) verificou maior rendimento de proteína bruta na massa seca da
forragem, no espaçamento de 0,50 m, comparando com espaçamentos maiores. Esse
plantio em menores espaçamentos, além de
possibilitar melhor e mais rápida cobertura
do solo, evita a formação de touceiras muito
grandes de capim, o que poderá afetar negativamente a qualidade do próximo plantio.
Outra possibilidade é o plantio defasado
da forrageira em 15 a 30 dias depois da
emergência do milho: planta-se o milho
solteiro e, quando ele já estiver estabelecido, faz-se o semeio da forrageira.
Em muitos casos, agropecuaristas têm
adotado essa tecnologia somente para recuperar ou reformar pastagens. O programa
de adubação de manutenção e de pastejo
controlado tem permitido a utilização da
nova pastagem por período indeterminado,
com alta produtividade. Caso essa programação não seja executada, a nova pastagem degradar-se-á em alguns anos, sendo
necessário recuperá-la novamente. É regra em ILP que a pastagem não se degrade.
Se isto estiver acontecendo mostra que há
deficiência no planejamento da ILP adotada e que medidas corretivas são necessárias.
Recomendações
a) devido à cultura do milho não ser
plenamente adaptada a cultivos de
abertura de área ou sob área com pastagem degradada, o potencial de
rendimento, no primeiro ano, dificilmente ultrapassa 5 t ha-1;
b) para a obtenção de altas produtividades de milho, acima de 6 t ha-1, é
recomendável a aplicação dos corretivos de acidez do solo pelo menos
um ciclo de chuvas antes da semeadura;
c) em áreas recém-desbravadas ou sob
pastagem degradada, a opção por
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
variedade resulta em economia da
ordem de quatro a cinco vezes na
aquisição de sementes.
Sistema Santa Fé
dade agrícola mais competitiva e sustentável. Além disso, esse sistema está viabilizando o plantio direto em várias regiões,
devido à geração de palhada em quantidade adequada. Somam-se a isso alguns
benefícios agregados à palhada de braquiária, no que diz respeito ao seu efeito
supressor de plantas daninhas e de fungos
de solo.
Fisiologia das espécies
em consórcio
As espécies forrageiras comumente utilizadas são de metabolismo C4 de elevadas
taxas de crescimento em altas irradiâncias.
Por isso, redução do crescimento das forrageiras deve ser considerada, para que o
consórcio tenha êxito, com produtividades
de grãos equivalentes ao sistema solteiro. Estratégias como retardar a emergência da forrageira, uso de doses reduzidas
de herbicidas e populações adequadas
das espécies em consórcio são fundamentais para que as áreas foliares das culturas
sobreponham-se às das forrageiras ao longo do ciclo. De acordo com Portes et al. (2000),
no Sistema Barreirão, dispondo as sementes
das forrageiras a, aproximadamente, 10 cm
Ramon Costa Alvarenga
O Sistema Santa Fé fundamenta-se na
produção consorciada de culturas de grãos,
especialmente o milho, sorgo, milheto com
forrageiras tropicais, principalmente as do
gênero Brachiaria e Panicum, tanto no
SPD quanto no convencional, em áreas de
lavoura, com solo parcial ou devidamente
corrigido (Fig. 3). Nesse sistema, a cultura
do milho apresenta grande performance de
desenvolvimento inicial e exerce com isso
alta competição sobre as forrageiras, evitando, assim, redução significativa na produtividade de grãos. Os principais objetivos
do Sistema Santa Fé são a produção forrageira para a entressafra e palhada em
quantidade e qualidade para o SPD. Esse
sistema apresenta grande vantagem, pois
não altera o cronograma de atividades do
produtor e não exige equipamentos especiais para sua implantação. Através dele, é
possível aumentar o rendimento da cultura
de milho e das pastagens e, com isso, baixar
os custos de produção, tornando a proprie-
113
Figura 3 - Sistema Santa Fé
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
de profundidade, retarda em até 13 dias a
sua emergência, conseguindo-se ampla
vantagem do índice de área foliar (IAF) da
cultura sobre o da forrageira. No Sistema
Santa Fé, o consórcio é conduzido em solo
de média a alta fertilidade e espera-se maior
competição da forrageira com a cultura. Por
esta razão, além da semeadura mais profunda da forrageira, em alguns casos pode haver a necessidade do uso de herbicidas para
conter seu crescimento.
Portela (2003) estudou o consórcio milho com braquiária e com mombaça. Verificou que mesmo com ou sem a aplicação
do herbicida para reduzir o crescimento das
forrageiras, a Taxa Assimilatória Líquida
(TAL) do milho foi maior que a das forrageiras em grande parte do ciclo da cultura
(Gráficos 1 e 2). A TAL indica a eficiência
fotossintética e devido ao maior crescimento do milho e conseqüente sombreamento
que este exerce nas forrageiras, resultou
em maior Taxa de Crescimento da Cultura
(TCC) do milho, superando ao das forrageiras, tornando o consórcio dessas espécies muito seguro (Gráficos 3 e 4). A aplicação de herbicida para redução do TCC
da braquiária (Gráfico 3B) somente é necessária em situações em que o milho não tem
bom desenvolvimento inicial, em casos de
baixa fertilidade do solo e/ou outros fatores,
tais como: estiagem prolongada no período
inicial da lavoura, forte ataque de lagartado-cartucho, etc.
Vários são os trabalhos realizados com
o consórcio milho e forrageiras como citados no Quadro 8. Na média de todos os
ensaios a presença da forrageira reduziu
a produtividade em 5%, contudo verificase que vários foram os casos de diferenças
não-significativas entre o milho solteiro e o
consorciado. Vale ressaltar que os diferentes resultados estão associados à combinação de vários fatores, como a população
da forrageira, época de sua implantação,
arranjos de plantio, presença de plantas daninhas, aplicação de herbicidas, fertilidade
do solo e condições hídricas. Nos tratamentos em que foram aplicados os herbicidas para reduzir o crescimento da forra-
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
114
A
B
Gráfico 1 - Taxa Assimilatória Líquida (TAL) de milho solteiro, milho consorciado e braquiária em função de dias após a emergência (DAE) na ausência (A) e presença (B) de herbicidas
FONTE: Portela (2003).
A
B
Gráfico 2 - Taxa Assimilatória Líquida (TAL) de milho solteiro, milho consorciado e mombaça em função de dias após a emergência (DAE) na ausência (A) e presença (B) de herbicidas
FONTE: Portela (2003).
geira, as produções foram semelhantes às
do milho solteiro, indicando que este procedimento pode eliminar as perdas no
consórcio.
Manejo de herbicidas e efeito
no milho e na produção
de forragem
No consórcio milho e forrageiras, geralmente as aplicações de herbicidas em préemergência afetam o estabelecimento das
forrageiras, mesmo naqueles manejos onde
o plantio destas é feito junto com a cobertura nitrogenada (20 dias pós-emergência
do milho). Dessa forma, são usados os herbicidas aplicados em pós-emergência das
plantas daninhas e do milho. Dentre esses
herbicidas destacam-se o herbicida atrazina
e alguns do grupo químico das sulfonilúreas, como o nicosulfuron, foramsulfuron
e iodosulfuron methyl sodium (ZAGONEL,
2002 apud JAKELAITIS et al., 2005a).
O atrazine pertence ao grupo químico
das triazinas e controla espécies daninhas
dicotiledôneas e algumas gramíneas anuais.
No consórcio, esse herbicida é aplicado
nas doses de 1.000 a 1.500 g i.a. ha-1, em pósemergência, e nessas doses somente apresentam controle sobre as dicotiledôneas.
As sulfonilúreas são usadas em pósemergência, com enfoque no controle de
gramíneas e algumas espécies dicotiledôneas. Já o foramsulfuron atua principalmente sobre gramíneas, e o iodosulfuron
methyl sodium sobre espécies de folhas
largas, estando, assim disponível no mer-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
115
A
B
Gráfico 3 - Taxa de Crescimento da Cultura (TCC) de milho solteiro, milho consorciado e braquiária em função de dias após a emergência (DAE) na ausência (A) e presença (B) de herbicidas
FONTE: Portela (2003).
A
B
Gráfico 4 - Taxa de Crescimento da Cultura (TCC) de milho solteiro, milho consorciado e mombaça em função de dias após a emergência (DAE) na ausência (A) e presença (B) de herbicidas
FONTE: Portela (2003).
cado como mistura pronta para a cultura do
milho (FRANCO, 2002 apud JAKELAITIS
et al., 2005b).
No Quadro 9 são apresentados trabalhos realizados para calibração de doses
de herbicidas no consórcio milho e braquiária. Verifica-se que em alguns ensaios
houve a interferência significativa do consórcio sobre o rendimento de grãos e nestes as subdoses de herbicidas eliminaram
a competição exercida pela braquiária no
milho.
O período crítico de competição (PCC)
das plantas daninhas e/ou forrageiras no
milho ocorre entre os estádios V5 (cinco
folhas totalmente expandidas) e V8 ou entre
20 e 40 dias pós-emergência (BLANCO et
al., 1976; RAMOS; PITELLI, 1994; HANIZ
et al., 1996; DUARTE, 2000). Dessa forma,
a aplicação de herbicidas pós-emergentes
deve ser feita entre V4 e V5. O herbicida
atrazine (atrazina) é usado na dose de 1.500
g i.a. ha-1 (3 L p.c. ha-1), para o controle de
plantas daninhas dicotiledôneas. O nico-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
sulfuron (Sanson) é recomendado nas doses de 4 a 8 g i.a. ha-1 (0,1 a 0,2 L p.c. ha-1).
A dose maior é recomendada quando a forrageira e/ou plantas daninhas estão em
estádios mais avançados (mais de três perfilhos). Para o consórcio do milho e panicuns (tanzânia, mombaça e outros) a dose de nicosulfuron não deve ultrapassar a
6 g i.a. ha-1 (0,15 L p.c. ha-1), devido à sensibilidade dessas espécies aos herbicidas.
Para o herbicida foramsulfuron + iodosulfuron (Equipe-Plus) recomenda-se dose
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
116
QUADRO 8 - Produtividade de grãos de milho no sistema solteiro, consorciado com braquiária, com e sem herbicida em diferentes locais e anos
Milho
solteiro
Local
Ano
Cultivar
Milho +
Braquiária
(sem
herbicida)
Milho +
Braquiária
(com
herbicida)
CV
(%)
Fonte
Produtividade
-1
(kg ha )
Piracicaba-SP
2003
FORT
9.270 a
9.690 a
–
1,60
Piracicaba-SP
2003
CATI AL 34
7.130 a
5.190 b
–
11,10
Coimbra-MG
2002
AGN 3180
5.910 a
5.270 b
5.860 a
5,98
Jakelaitis et al. (2005 a)
Coimbra-MG
2002
AG 122
6.881 a
5.319 b
6.732 a
9,20
Jakelaitis et al. (2005b)
Jaboticabal-SP
2002
9.800 a
9.700 a
–
3,77
Bernardes (2003)
Ilha Solteira- SP
2002
AG 8080
8.300 a
7.200 b
–
8,07
Pantano (2003)
Santo Antônio de Goiás-GO
2002
BR 3150
9.388 a
8.415 a
9.121 a
3,12
Portela (2003)
Coimbra-MG
2001
AG 6690
4.500 a
4.250 a
4.267 a
–
Jakelaitis et al. (2004)
Santo Antônio de Goiás-GO
2001
BR 201
5.945 a
5.252 a
5.844 a
8,20
Kluthcouski e Aidar (2003)
Brasília-DF
2000
30T75
7.444 a
8.788 a
–
9,50
Kluthcouski e Aidar (2003)
Novo São Joaquim- MT
2000
AG 1051
3.960 a
3.012 a
–
19,80
Kluthcouski e Aidar (2003)
Novo São Joaquim- MT
2000
AG 9010
5.456 a
5.877 a
–
3,30
Kluthcouski e Aidar (2003)
Novo São Joaquim- MT
2000
BR 201
3.825 a
3.880 a
–
6,00
Kluthcouski e Aidar (2003)
Montividiu-GO
2000
Tork
5.882 a
5.447 a
–
5,50
Kluthcouski e Aidar (2003)
Santa Helena de Goiás-GO
2000
BR 201
8.865 a
8.779 a
–
5,00
Kluthcouski e Aidar (2003)
Santa Helena de Goiás-GO
2000
BR 205
9.256 a
8.352 a
–
10,70
Kluthcouski e Aidar (2003)
Santa Helena de Goiás-GO
2000
BR 206
9.170 a
8.570 b
–
6,60
Kluthcouski e Aidar (2003)
Santa Helena de Goiás-GO
2000
AG 105
4.088 a
4.102 a
–
10,40
Kluthcouski e Aidar (2003)
Campo Novo do Parecis-MT
1999
A 2662
5.857 a
4.840 b
–
3,60
Kluthcouski e Aidar (2003)
Luis Eduardo Magalhães-BA
1999
Dina 766
7.823 a
8.507 a
–
4,90
Kluthcouski e Aidar (2003)
Luziânia-GO
1999
C 333B
5.023 a
4.859 b
5.298 a
13,70
Kluthcouski e Aidar (2003)
Santa Helena de Goiás-GO
1999
BR 201
7.686 a
7.600 a
6.854 a
9,60
Kluthcouski e Aidar (2003)
Santa Helena de Goiás-GO
1999
BR 201
7.999 a
8.164 a
–
11,50
Kluthcouski e Aidar (2003)
Santa Helena de Goiás-GO
1998
BR 201
7.735 a
8.236 a
–
7,60
Kluthcouski e Aidar (2003)
6.966 (100)
6.637 (95)
–
–
Média
–
_
–
Tsumanuma (2004)
Severino et al. (2005)
–
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra na linha, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
CV – Coeficiente de variação.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
-1
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
Dose
-1
13,3
–
–
–
–
6.854 a
6.603 a
–
7.365 a
–
–
7.600 a
8,2
–
–
–
–
–
–
–
6.099 a
–
–
5.252 b
5.945 a
1999
1999
7.686 a
(cultivar C 333B)
(cultivar BR 201)
Santa Helena
de Goiás-GO
(A)
de Goiás-GO
Santa Helena
(A)
11,1
–
–
–
–
5.361
5.298 a
–
5.438 a
–
–
4.859 a
5.023 a
1999
(cultivar C 333B)
Luziânia-GO
(A)
Coimbra-MG
(B)
–
–
–
–
–
–
4.502 a
4.569 a
–
–
4.560 a
4.440 a
4.950 a
2001
5,9
6.402 a
6.723 a
–
6.732 a
–
6.610 a
6.180 a
–
6.167 a
6.533 a
5.319 b
6.881 a
2002
(cultivar AG 6690) (cultivar AGN 3180)
Coimbra-MG
(B)
(kg ha )
-1
Produtividade
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
CV - Coeficiente de variação; i.a. - Ingrediente ativo; p.c. - Produto comercial.
0,15
0,1
0,075
0,05
0,45
0,3
0,2
0,15
0,1
0,05
0
–
(L p.c. ha )
FONTE: (A) Kuthcouski e Aidar (2003) e (B) Jakelaitis et al. (2004).
CV (%)
45 + 3 + 1.500
Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine
18 + 1.500
Nicosulfuron + atrazine
30 + 2 + 1.500
12 + 1.500
Nicosulfuron + atrazine
Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine
8 + 1.500
Nicosulfuron + atrazine
22,5 + 1,5 + 1.500
6 + 1.500
Nicosulfuron + atrazine
Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine
4 + 1.500
Nicosulfuron + atrazine
15 + 1 + 1.500
2 + 1.500
Nicosulfuron + atrazine
Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine
0 + 1.500
–
(g i.a. ha )
Dose
Nicosulfuron + atrazine
Milho solteiro
Herbicida
QUADRO 9 - Produtividade de grãos de milho consorciado com B. brizantha, em função de diferentes herbicidas e doses
7,8
–
–
7.545 a
7.480 a
–
7.435 a
7.270 a
7.378 a
–
–
6.250 b
7.480 a
2004
(cultivar BR 3051)
Goiás-GO
Santo Antônio de
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
117
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
118
de 15 + 1 g i.a. ha-1 (0,5 L p.c. ha-1). Nessas
doses recomendadas dos herbicidas citados, há uma redução do crescimento da
forrageira e também das plantas daninhas
em torno de 40% a 50%, suficientes para a
redução da competição com o milho no PCC
(Quadro 10).
O efeito da aplicação de herbicida na
produção de forragem foi estudado por
alguns autores (Quadro 11). Os dados não
são conclusivos, pois no trabalho de
Freitas et al. (2005), a aplicação de herbicida favoreceu a produção de forragem de
B. brizantha, tanto na colheita da forragem
do milho, como 60 dias após esse período.
Nesse trabalho, o resultado pode ser explicado pelo fato de o herbicida controlar a
planta daninha B. plantaginea, diminuindo,
portanto, a competição com a B. brizantha.
Já no trabalho de Jakelaitis et al. (2005a), a
aplicação dos herbicidas afetou negativamente a produção de B. brizantha, na colheita do milho, como também 50 dias póscolheita e 40 dias após o primeiro pastejo.
O mesmo aconteceu no trabalho de Kluthcouski et al. (2003). Portela (2003), estudando mombaça e braquiária verificou que,
apesar de haver redução da produção da
forrageira na colheita do milho com a aplicação de herbicida, aos 50 dias após a colheita
não se verificou efeito negativo. Concluise que a recuperação da toxicidade da for-
rageira, devido aos herbicidas, depende de
vários fatores, como as condições hídricas,
a fertilidade do solo, e do próprio nível de
fitotoxicidade da forrageira após a aplicação
dos herbicidas. Portanto, recomenda-se
não aplicar doses acima das recomendadas.
Arranjos espaciais da
forrageira e efeito no milho
e na produção de forragem
Trabalhos realizados mostram que os
diferentes arranjos testados não afetaram
o rendimento do milho (Quadro 12). Entretanto os arranjos afetam de forma significativa a produção de forragem (Quadro 13), ou
seja, ficou evidente que o plantio de duas
linhas da forrageira na entrelinha do milho
proporcionam maior produção de forragem,
ou seja, quanto maior for a distribuição em
linha da forrageira, maior será a produção
(menor tempo de formação do pasto).
Épocas de introdução das
forrageiras e efeitos no milho
e na produção de forragem
De acordo com os trabalhos citados no
Quadro 14, verifica-se que não há diferenças
de produtividade do milho entre o plantio
simultâneo da forrageira com o milho e o
plantio em pós-emergência. Como discutido anteriormente, o milho apresenta maior
taxa de crescimento no início do desenvolvimento em comparação com a forrageira,
o que garante o sucesso do plantio simultâneo das duas espécies. Ao contrário do
milho, a produção da forrageira é extremamente afetada pela época de implantação
(Quadro 15). Verifica-se, nos trabalhos realizados, que a produção da forrageira diminui
significativamente, à medida que atrasa a
introdução desta no consórcio. O milho,
por ser uma planta muito competitiva, afeta
negativamente a forrageira, quando esta é
implantada em pós-emergência do milho.
Diante desses dados, recomenda-se o plantio simultâneo da forrageira com o milho,
pois o rendimento deste não é afetado (desde que sejam seguidas as recomendações
de uso de herbicidas, arranjos e densidade
de plantio) e a produção da forrageira após
colheita do granífero atinge seu máximo
potencial.
Densidade de plantio da
forrageira e efeito no milho e
na produção de forragem
Nos trabalhos, não se verificaram respostas da densidade de plantio das forrageiras na produção de milho e de forragem
(Quadros 16 e 17). Recomenda-se, portanto, uma densidade de 3,0 kg ha-1 de sementes puras e viáveis para a implantação do
consórcio.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
0,15
0,1
0,075
0,05
0,45
0,3
0,2
0,15
0,1
0,05
0
–
Controle
–
90
80
–
53
–
91
73
–
43
20
0
100
–
91
76
–
70
–
83
80
–
50
30
0
100
–
10
2
–
0
–
0
0
–
0
0
0
0
28 DAA
28 DAA
28 DAA
2002
(%)
-1
kg ha
5,9
6.402 a
6.723 a
–
6.732 a
–
6.610 a
6.180 a
–
6.167 a
6.533 a
5.319 b
6.881 a
–
–
–
55
50
–
65
60
42
–
–
0
100
28 DAA
(%)
milho
(%)
Controle
B. brizantha
Toxicidade
(%)
B. brizantha D. horizonthalis
Controle
–
–
–
0
0
–
0
0
0
–
–
0
0
2004
28 DAA
(%)
milho
Toxicidade
-1
7,8
–
–
7.545 a
7.480 a
–
7.435 a
7.270 a
7.378 a
–
–
6.250 b
7.480 a
kg ha
(cultivar BR 3051)
(cultivar AGN 3180)
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
CV – Coeficiente de variação; DAA – Dias após a aplicação dos herbicidas; i.a. - Ingrediente ativo; p.c. - Produto comercial.
FONTE: (A) Jakelaitis et al. (2005a).
CV (%)
45 + 3 + 1.500
Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine
18 + 1.500
Nicosulfuron + atrazine
30 + 2 + 1.500
12 + 1.500
Nicosulfuron + atrazine
Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine
8 + 1.500
Nicosulfuron + atrazine
22,5 + 1,5 + 1.500
6 + 1.500
Nicosulfuron + atrazine
Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine
4 + 1.500
Nicosulfuron + atrazine
15 + 1 + 1.500
2 + 1.500
Nicosulfuron + atrazine
Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine
0 + 1.500
–
-1
(L p.c. ha )
(g i.a. ha )
-1
Dose
Dose
Nicosulfuron + atrazine
Milho solteiro
Herbicida
Santo Antônio de Goiás-GO
Coimbra-MG
(A)
QUADRO 10 - Porcentagem de controle de B. brizantha e Digitaria horizonthalis e rendimento de grãos de milho consorciado com B. brizantha, em função de diferentes herbicidas e doses
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
119
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
120
QUADRO 11 - Produtividade de massa seca de forragem e de grãos de milho, em função da aplicação de herbicidas
(A)
Coimbra-MG
Herbicida
(2002 - cultivar AGN 2012)
Dose
-1
(g i.a. ha )
B. brizantha
B. plantaginea
B. brizantha
Rendimento de
30 DAA
30 DAA
colheita
forragem de milho
-1
-1
(kg ha )
Milho solteiro
-1
(kg ha )
B. brizantha
60 DAC
-1
(kg ha )
-1
(t ha )
(kg ha )
–
–
–
–
55 a
–
Nicosulfuron + atrazine
0 + 1.500
342 a
3.657 a
138 b
40 b
2.249 b
Nicosulfuron + atrazine
8 + 1.500
250 b
849 b
733 a
55 a
4.482 a
sd
5,9
sd
B. brizantha
CV (%)
sd
sd
(B)
Coimbra-MG
Herbicida
(2002 - cultivar AGN 3180)
Dose
-1
(g i.a. ha )
B. brizantha
B. brizantha
B. brizantha
B. brizantha
30 DAA
colheita
colheita
50 DAC
-1
-1
(kg ha )
Milho solteiro
-1
(kg ha )
40 DAP
-1
(kg ha )
-1
(kg ha )
(kg ha )
–
–
–
6.888 a
–
–
Nicosulf uron + atrazine
0 + 1.500
–
5.347 a
5.319 b
7.767 a
3.685 a
Nicosulfuron + atrazine
8 + 1.500
–
2.367 b
6.180 a
3.717 b
2.487 b
–
–
24,42
5,98
26,47
20,03
B. brizantha
CV (%)
(C)
Santo Antônio de Goiás-GO
Herbicida
(2001 - cultivar BR 201)
Dose
-1
(g i.a. ha )
B. brizantha
B. brizantha
B. brizantha
B. brizantha
30 DAA
colheita
colheita
45 DAC
-1
-1
(kg ha )
Milho solteiro
-1
(kg ha )
(kg ha )
35 DAP
-1
-1
(kg ha )
(kg ha )
–
–
–
5.945 a
–
–
Nicosulfuron + atrazine
0 + 1.500
–
1.060 a
5.252 a
4.300 a
4.060 a
Nicosulfuron + atrazine
8 + 1.500
–
1.162 a
5.844 a
3.740 a
2.920 b
–
–
13,5
8,20
20,78
33,20
CV (%)
(D)
Santo Antônio de Goiás-GO
Herbicida
(2001 - cultivar BR 3150)
Dose
-1
(g i.a. ha )
B. brizantha
Rendimento
40 DAA
de milho
-1
Milho solteiro
–
-1
B. brizantha
50 DAC
-1
(kg ha )
(kg ha )
(kg ha )
–
8.425 a
–
Nicosulfuron + atrazine
0 + 1.500
400 a
8.012 a
6.130 a
Nicosulfuron + atrazine
8 + 1.500
230 b
8.039 a
5.780 a
–
54,78
10,0
34,30
CV (%)
(D)
Santo Antônio de Goiás-GO
Herbicida
(2002 - cultivar AGN 3180)
Dose
-1
(g i.a. ha )
P. maximum
Rendimento
40 DAA
de milho
-1
Milho solteiro
–
-1
P. maximum
50 DAC
-1
(kg ha )
(kg ha )
(kg ha )
–
7.375 a
–
Nicosulfuron + atrazine
0 + 1.500
280 a
6.877 a
9.600 a
Nicosulfuron + atrazine
8 + 1.500
150 b
7.708 a
11.100 a
–
26,62
9,40
49,3
CV (%)
FONTE: (A) Freitas et al. (2005), (B) Jakelaitis et al. (2005a), (C) Kuthcouski e Aidar (2003) e (D) Portela (2003) .
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
DAA – Dias após aplicação dos herbicidas; DAC – Dias após colheita; DAP – Dias após primeiro pastejo; CV – Coeficiente de
variação; i.a. - Ingrediente ativo; p.c. - Produto comercial
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
121
QUADRO 12 - Produtividade de grãos de milho consorciado com B. brizantha, em função de diferentes arranjos espaciais
Produtividade
-1
(kg ha )
Arranjos espaciais
(A)
Coimbra-MG
(B)
(C)
Ilha Solteira-SP
Coimbra-MG
(cultivar AG 122)
(cultivar AG 8080)
Plantio simultâneo com uma linha na entrelinha
5.570 a
–
–
Plantio simultâneo com duas linhas na entrelinha
5.030 a
–
55.330
Plantio simultâneo a lanço
5.770 a
6.928 a
49.790
Plantio simultâneo na linha do milho
5.550 a
7.503 a
–
Plantio 30 DAE do milho, uma linha na entrelinha
–
7.677 a
51.920
Plantio 30 DAE do milho a lanço
–
8.147 a
–
5.910 a
7.995 a
55.920
CV (%)
9,20
8,07
–
Espaçamento do milho entre fileiras (m)
1,00
0,45
1,00
3,0
6,4
3,8
Sim
Não
Sim
Milho solteiro
-1
Densidade de plantio de B. brizantha (kg ha
de sementes puras viáveis)
Uso de subdose de herbicida
(cultivar AGN 2012)
FONTE: (A) Jakelaitis et al. (2005b), (B) Pantano (2003) e (C) Freitas et al. (2005).
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
CV – Coeficiente de variação; DAE – Dias após emergência.
QUADRO 13 - Produtividade de massa seca de B. brizantha, consorciada com milho em função de diferentes arranjos espaciais
Produtividade
-1
(t ha )
Arranjos espaciais
(A)
Coimbra-MG
(cultivar AG 122)
(B)
Ilha Solteira-SP
(C)
Coimbra-MG
(cultivar AG 8080) (cultivar AGN 2012)
Colheita
25 DAC
Colheita
60 DAC
Plantio simultâneo com uma linha na entrelinha
1,15 c
–
–
–
Plantio simultâneo com duas linhas na entrelinha
2,66 b
–
0,73
4,48
Plantio simultâneo a lanço
0,45 c
1,69 a
0,13
0,76
Plantio simultâneo na linha do milho
0,71 c
2,13 a
–
–
Plantio 30 DAE do milho, uma linha na entrelinha
–
1,45 a
0,05
0,05
Plantio 30 DAE do milho a lanço
–
1,48 a
–
–
Braquiária solteira
7,63 a
–
2,83
14,94
CV (%)
16,14
34,47
–
–
1,00
0,45
1,0
1,0
Densidade de plantio da B. brizantha (kg ha de sementes puras viáveis)
3,0
6,4
3,8
3,8
Uso de subdose de herbicida
Sim
Não
Sim
Sim
Espaçamento do milho entre fileiras (m)
-1
FONTE: (A) Jakelaitis et al. (2005b), (B) Pantano (2003) e (C) Freitas et al. (2005).
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
CV – Coeficiente de variação; DAC – Dias após colheita; DAE – Dias após emergência.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
Piracicaba-SP
9.260 a
Plantio em pós-emergência do milho – V4
Não
Não
3,0
entrelinha
3,0
Uma linha na
entrelinha
0,9
B. brizantha
7,36
_
_
9.500 a
9.700 a
9.270 a
Uma linha na
0,9
B. decumbens
7,36
_
Piracicaba-SP
(cultivar Fort)
(A)
Piracicaba-SP
Não
3,0
entrelinha
Uma linha na
0,9
B. ruziziensis
7,36
_
_
9.450 a
9.333 a
9.270 a
(cultivar Fort)
(A)
Jaboticabal-SP
Não
6,4
entrelinha
Duas linhas na
0,9
B. decumbens
3,77
9.595 a
9.595 a
_
_
9.723 a
(cultivar Exceler)
(B)
CV – Coeficiente de variação.
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
FONTE: (A) Tsumanuma (2004), (B) Bernardes (2003), (C) Pantano (2003) e (D) Freitas et al. (2005).
Uso de subdose de herbicida
(kg ha de sementes puras viáveis)
-1
Densidade de plantio da forrageira
Arranjo
Espaçamento do milho entre fileiras (m)
Forrageira
CV (%)
(sete folhas desenvolvidas)
Plantio em pós-emergência do milho – V7
(cinco folhas desenvolvidas)
Plantio em pós-emergência do milho – V5
_
9.690 a
Plantio simultâneo
(quatro folhas desenvolvidas)
9.270 a
(cultivar Fort)
(A)
Milho solteiro
Época de introdução da forrageira
(kg ha )
-1
Produtividade
QUADRO 14 - Produtividade de grãos de milho consorciado com B. brizantha, em função de diferentes épocas de introdução da forrageira
Ilha Solteira-SP
Não
3,17
entrelinha
Uma linha na
0,45
B. brizantha
7,09
_
_
7.677 a
7.503 a
7.995 a
(cultivar AG 8080)
(C)
Coimbra-MG
Sim
3,8
A lanço
1,0
B. brizantha
_
_
51.920 a
_
49.790 a
55.130 a
(cultivar 2012)
(D)
122
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
Piracicaba-SP
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
20,0
–
20,0
–
–
2,10 b
3,17 a
–
60 DAC
Não
Não
3,0
entrelinha
3,0
Uma linha na
entrelinha
–
B. brizantha
17,7
–
–
0,35 b
1,56 a
–
Colheita
Uma linha na
–
B. decumbens
17,7
–
–
3,16 a
3,93 a
–
60 DAC
Piracicaba-SP
(cultivar Fort)
(A)
Piracicaba-SP
20,0
–
–
1,85 b
2,22 a
–
60 DAC
Jaboticabal-SP
DAC – Dias após colheita; CV – Coeficiente de variação.
(C)
Ilha Solteira-SP
Não
6,4
entrelinha
Duas linhas na
–
B. decumbens
7,75
2,88 b
4,51 a
–
–
–
Colheita
Não
3,17
entrelinha
Uma linha na
0,45
B. brizantha
29,84
–
–
1,45 a
2,13 a
–
Colheita
(cultivar Exceler) (cultivar AG 8080)
(B)
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
Não
3,0
entrelinha
Uma linha na
–
B. ruziziensis
17,7
–
–
0,33 b
1,06 a
–
Colheita
(cultivar Fort)
(A)
FONTE: (A) Tsumanuma (2004), (B) Bernardes (2003), (C) Pantano (2003) e (D) Freitas et al. (2005).
Uso de subdose de herbicida
(kg ha de sementes puras viáveis)
-1
Densidade de plantio da forrageira
Arranjo
Espaçamento do Milho entre fileiras (m)
Forrageira
CV (%)
(sete folhas desenvolvidas)
Plantio em pós-emergência do milho – V7
(cino folhas desenvolvidas)
Plantio em pós-emergência do milho – V5
–
0,37 b
Plantio em pós-emergência do milho – V4
(quatro folhas desenvolvidas)
1,31 a
–
Colheita
(cultivar Fort)
(A)
Plantio simultâneo
Milho solteiro
Época de introdução da forrageira
(t ha )
-1
Produtividade
QUADRO 15 - Produtividade de massa seca de forragens consorciada com milho, em função de diferentes épocas de introdução da forrageira
Coimbra-MG
–
–
–
–
0,05 b
–
0,76 a
–
60 DAC
Sim
3,8
A lanço
1,0
B. brizantha
0,05 a
–
0,13 a
–
Colheita
(cultivar 2012)
(D)
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
123
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
124
QUADRO 16 - Produtividade de grãos de milho consorciado com forrageiras, em função de diferentes densidades de semeio da forrageira
Produtividade
-1
(kg ha )
Densidade de semeio
(A)
(B)
Jaboticabal-SP
(cultivar Exceler)
Milho solteiro
Santo Antônio de Goiás-GO
(cultivar BRS 3051)
9.270 a
8.425 a
7.812 a
7.373 a
8.103 a
–
7.959 a
7.772 a
7.077 a
7.028 a
9.561 a
8.012 a
8.039 a
6.877 a
7.708 a
–
7.898 a
7.551 a
7.195 a
7.521 a
9.629 a
–
–
–
–
3,77
9,4
9,4
10,0
10,0
B. decumbens
B. brizantha
B. brizantha
P. maximum
P. maximum
0,9
0,90
0,90
0,90
0,90
Época de plantio
Pós-emergência
(V5)
Plantio
simultâneo
Plantio
simultâneo
Plantio
simultâneo
Plantio
simultâneo
Arranjo
Duas linhas na
entrelinha
Uma linha na
entrelinha e
outra no milho
Não
Não
-1
1,6 kg ha sementes puras e viáveis
-1
3,2 kg ha sementes puras e viáveis
-1
4,8 kg ha sementes puras e viáveis
-1
6,4 kg ha sementes puras e viáveis
CV (%)
Forrageira
Espaçamento do milho entre fileiras (m)
Uso de subdose de herbicida
Uma linha na
Uma linha na
Uma linha na
entrelinha e
entrelinha e
entrelinha e
outra no milho outra no milho outra no milho
Sim
Não
Sim
FONTE: (A) Bernardes (2003) e (B) Portela (2003).
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
CV – Coeficiente de variação; V5 – Milho com cinco folhas desenvolvidas.
QUADRO 17 - Produtividade de massa seca de forragens consorciada com milho, em função de diferentes densidades de semeio da forrageira
Produtividade
-1
(t ha )
Densidade de semeio
(A)
(B)
Jaboticabal-SP
Santo Antônio de Goiás-GO
(cultivar Exceler)
(cultivar BRS 3051)
Colheita
50 DAC
50 DAC
50 DAC
50 DAC
–
–
–
–
–
sementes puras e viáveis
–
5,67 a
5,21 a
10,7 a
11,2 a
sementes puras e viáveis
4,48 a
6,13 a
5,78 a
9,6 a
11,0 a
sementes puras e viáveis
–
6,00 a
5,19 a
11,8 a
14,7 a
sementes puras e viáveis
4,55 a
–
–
–
–
7,75
34,3
34,3
49,3
49,3
B. decumbens
B. brizantha
B. brizantha
P. maximum
P. maximum
0,9
0,90
0,90
0,90
0,90
Época de plantio
Pós-emergência
(V5)
Plantio
simultâneo
Plantio
simultâneo
Plantio
simultâneo
Plantio
simultâneo
Arranjo
Duas linhas na
entrelinha
Uma linha na
entrelinha e
outra no milho
Uma linha na
entrelinha e
outra no milho
Uma linha na
entrelinha e
outra no milho
Uma linha na
entrelinha e
outra no milho
Não
Não
Sim
Não
Sim
Milho solteiro
-1
1,6 kg ha
-1
3,2 kg ha
-1
4,8 kg ha
-1
6,4 kg ha
CV (%)
Forrageira
Espaçamento do milho entre fileiras (m)
Uso de subdose de herbicida
FONTE: (A) Bernardes (2003) e (B) Portela (2003).
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra na mesma coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
DAC – Dias após colheita; CV – Coeficiente de variação; V5 – Milho com cinco folhas desenvolvidas.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
Interação das forrageiras e
plantas daninhas no consórcio
milho + forrageira
Segundo Severino et al. (2005), o manejo
de plantas daninhas na cultura do milho
pode ser otimizado com a adoção de espécies de plantas forrageiras que convivam e
desenvolvam-se nas entrelinhas da cultura.
Além de auxiliar na supressão da comunidade infestante, as forrageiras aceleram
a formação da pastagem que será destinada
ao consumo animal. Esse sistema de cultivo pode ser, particularmente, interessante
para pequenas áreas, como, por exemplo,
as de agricultura familiar.
No Quadro 18, verifica-se que, quando o milho se desenvolvia na presença de
plantas daninhas (corda-de-viola, carururoxo e capim-colchão), houve significativa redução da produtividade. Em média a
testemunha capinada produziu 7,0 t ha-1 e
125
a testemunha mantida com as diferentes
plantas daninhas produziu apenas 2,0 t ha-1.
Entretanto, quando se utilizou do consórcio com as forrageiras B. decumbens, B.
brizantha e P. maximum, com a presença
das gramíneas forrageiras, ficou evidente
a supressão da infestação de plantas daninhas, uma vez que os rendimento obtidos
com a consorciação foram significativamente maiores que os da testemunha (milho solteiro sem capina).
COLHEITA DO MILHO
A partir do início do secamento das
folhas do milho vai haver maior penetração
de luz e a forrageira voltará a crescer em
maior velocidade. Então, a colheita não deve
sofrer atraso, pois a forrageira poderá crescer muito e causar transtornos (embuchamento) na colheita mecânica e operacional
na manual. Caso se decida por antecipação
da colheita, deve estar disponível o secador
de grãos. Depois da colheita, dependendo
da condição do pasto, deve-se fazer um pastejo rápido de formação, para estimular o perfilhamento da forrageira, ou o pasto deve
ser vedado. No primeiro caso, em seguida
à saída dos animais, a área deve ser vedada
por período suficiente para rebrota e crescimento até a fase do pastejo definitivo, que
vai depender das condições do clima. Caso
o milho seja colhido para ensilagem, a área
é vedada em seguida até a época do primeiro pastejo definitivo. A altura do pastejo
deve seguir as recomendações para a espécie forrageira plantada, bem como a carga
animal. Depois de um ciclo de pastejo que
pode ser somente na entressafra ou de alguns
anos e, ao final do período de seca, a pastagem é vedada e, no início das chuvas, dessecada, dando início a novo ciclo de cultura
solteira em rotação ou em consórcio.
QUADRO 18 - Produtividade de grãos de milho consorciado com forrageiras, em função de diferentes plantas daninhas
Produtividade
-1
(kg ha )
Cultivar CATI AL 34
Planta daninha
Milho solteiro
com capina
Milho solteiro
sem capina
Consórcio com
B. brizantha
Consórcio com
B. decumbens
Consórcio com
P. maximum
Corda-de-viola
7.130 Aa
1.980 Ad
4.000 Ac
4.040 Ac
5.190 Ab
Caruru-roxo
7.010 Aa
2.350 Ad
4.080 Ac
4.100 Ac
5.170 Ab
Capim-colchão
7.040 Aa
2.310 Ad
4.070 Ac
4.180 Ac
5.180 Ab
11,1
11,1
11,1
11,1
11,1
0,9
0,9
0,9
0,9
0,9
Simultâneo
Simultâneo
Simultâneo
Simultâneo
Simultâneo
3,0
3,0
3,0
3,0
3,0
Duas linhas na
entrelinha
Duas linhas na
entrelinha
Duas linhas na
entrelinha
Duas linhas na
entrelinha
Duas linhas na
entrelinha
Não
Não
Não
Não
Não
CV (%)
Espaçamento do milho entre fileiras (m)
Época de plantio
Densidade de plantio da forrageira
-1
(kg ha de sementes puras viáveis)
Arranjo
Uso de subdose de herbicida
FONTE: Severino et al. (2005).
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra maiúscula, na coluna, e minúscula, na linha, não diferem significativamente pelo teste
Tukey, a 5% de probabilidade.
CV – Coeficiente de variação.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
126
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Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
127
Produção de milho orgânico no
Sistema Plantio Direto
Anastácia Fontanétti 1
João Carlos Cardoso Galvão 2
Izabel Cristina dos Santos 3
Glauco Vieira Miranda 4
Resumo - O Sistema Plantio Direto (SPD) é um dos principais desafios da agricultura
orgânica na atualidade e sua consolidação passa necessariamente pela adaptação e geração
de conhecimentos tecnológicos que possibilitem a manutenção e o incremento da
fertilidade do solo, o manejo de pragas, doenças e plantas invasoras, a estabilização da
produção e a melhoria do padrão comercial dos produtos. Os resultados de pesquisa
sobre a produção de milho orgânico no SPD indicam entre os principais entraves técnicos
o manejo das plantas daninhas e a disponibilização dos nutrientes dos adubos orgânicos
em sincronia com a demanda nutricional das plantas de milho.
Palavras-chave: Zea mays. Agricultura orgânica. Agricultura alternativa. Planta de cobertura. Planta daninha. Planta invasora.
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, têm sido observadas mudanças no padrão de consumo e
de alimentação. Novos valores, sociais e
ambientais, antes não relevantes, são agregados aos produtos, o que influencia a
escolha dos consumidores. A crescente demanda por alimentos mais saudáveis, de
melhor qualidade, com elevado valor nutricional e produzidos em sistemas menos
agressivos ao ambiente, gerou a necessidade de repensar o modelo de produção.
Os modelos reducionistas de produção agrícola conseguiram, em curto prazo,
aumentar a produtividade e conferir maior
competitividade no mercado globalizado.
Porém, os impactos gerados causaram degradação do solo, contaminação da água e
perda da biodiversidade, dificultando a ma-
nutenção dos índices produtivos e comprometendo o sistema de produção. Esses
fatos contribuíram para o surgimento de
novo paradigma, o da sustentabilidade, o
qual preconiza o uso equilibrado do solo e
da água, a maximização das contribuições
biológicas e o incremento da biodiversidade. A adoção desse paradigma difundiu
amplamente as correntes de agricultura
ecológica, entre elas a agricultura orgânica.
O crescimento de vendas de produtos
orgânicos no mundo está em torno de 7%
a 9% ao ano e os maiores mercados estão
situados na Europa e nos EUA; a área destinada à produção orgânica certificada no
mundo ocupa cerca de 26,5 milhões de hectares e o Brasil está na 5a posição mundial
(WILLER; YUSSEF, 2005). O Brasil pos-
sui cerca de 203 mil hectares com culturas orgânicas e 600 mil hectares com pastagens orgânicas (ORMOND et al., 2002).
No entanto, o País deve subir para a 2a
posição, devido à recente certificação de
5,7 milhões de hectares de áreas de extrativismo sustentável de castanha, açaí,
pupunha, látex e outros produtos, oriundos principalmente da região Amazônica
(AGRICULTURA..., 2006).
As normas de produção, certificação e
comercialização dos produtos orgânicos no
Brasil começaram a ser regulamentadas por
meio da Instrução Normativa no 7, de 17 de
maio de 1999 (BRASIL, 1999) e, posteriormente, pela Lei no 10.831 de 23 de dezembro
de 2003 (BRASIL, 2003). Em 11 de junho de
2004, foi publicada a Instrução Normativa no 16, que estabelece os procedimentos
1
Enga Agra, Doutoranda, UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correiro eletrônico: [email protected]
2
Engo Agro, D.Sc., Prof. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correiro eletrônico: [email protected]
3
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTZM/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correiro eletrônico: [email protected]
4
Engo Agro, D.Sc., Prof. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: [email protected]
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
128
a serem adotados para registro e renovação
de registro de matérias-primas e produtos
de origem animal e vegetal orgânicos junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (BRASIL, 2004). Algumas
alterações nas exigências ainda podem ser
feitas pelas certificadoras, principalmente
para atender ao mercado internacional, de
acordo com as diretrizes da International
Federation of Organic Agriculture Movements (Ifoam).
Entre as culturas produzidas no sistema
orgânico, no Brasil, destacam-se a soja, o
açúcar e o café, destinados à exportação,
e as olerícolas, destinadas principalmente ao mercado interno (DAROLT, 2002).
No entanto, outros setores, como de produção de cereais, carnes, leite e seus derivados deverão ser incrementados, devido
à inserção de suas cadeias produtivas no
mercado orgânico.
Nesse contexto, a produção de milho
orgânico assume grande relevância, pois é
intensamente utilizado na alimentação
animal. É fundamental para a consolidação
das cadeias produtivas de carnes e leites
orgânicos.
O preço dos grãos de milho e de soja
orgânicos é cerca de 40% a 100% mais elevado que o dos grãos produzidos convencionalmente. Quase toda a produção orgânica é exportada, diminuindo a oferta do
produto no mercado interno, o que tem
dificultado o avanço da produção de carnes orgânicas no Brasil, principalmente de
aves. Na formulação das rações orgânicas
para animais, a legislação permite a utilização de apenas 20% de componentes não
produzidos de acordo com as diretrizes orgânicas. Assim, devido à baixa oferta e ao
elevado preço dos componentes de origem
orgânica, o quilo da ração orgânica é, aproximadamente, 70% mais caro que o da ração convencional (DEMATTÊ FILHO et
al., 2005), o que pode dificultar a permanência do produtor no setor de avicultura orgânica.
É difícil quantificar a área com produção
orgânica de milho no Brasil; as informações
estatísticas nesse setor são em geral espe-
culativas, fornecidas pelas certificadoras e
entidades ligadas à extensão rural. Existem,
aproximadamente, 25 certificadoras atuando no Brasil. No Instituto de Biodinâmica
e de Desenvolvimento Rural (IBD, 2006),
por exemplo, há, atualmente, cerca de 50
projetos de certificação de milho orgânico.
Além disso, muitos agricultores produzem
milho em sistemas ecológicos sem certificação. De acordo com dados da Associação Riograndense de Empreendimentos
de Assistência Técnica e Extensão Rural
(Emater-RS), somente no estado do Rio
Grande do Sul, 795 hectares eram cultivados com milho orgânico em 2001, com
produtividade média de 4,0 t ha-1, cerca
de 300 kg a mais que a média nacional de
milho produzido convencionalmente (PRODUTORES..., 2003).
O fato é que a produção de milho orgânico no Brasil deve aumentar, mas ainda
encontrará várias barreiras técnicas que
dificultarão sua consolidação. Entre elas
está o incremento e a manutenção da fertilidade do solo e o manejo das plantas invasoras.
Uma das contradições da produção
orgânica de grãos é o sistema de preparo
de solo, que geralmente é feito com aração
e gradagem, o que não está totalmente de
acordo com os princípios da agricultura
orgânica. Portanto, enquanto no sistema
convencional as áreas de plantio direto vêm
aumentando, no sistema orgânico os produtores continuam a revolver o solo.
Sem dúvida, a prática do plantio direto
seguindo os preceitos da agricultura orgânica seria o ideal em termos de sustentabilidade, mas adaptar o plantio direto tradicional às normas da produção orgânica não
tem sido tarefa fácil para os pesquisadores,
extensionistas e produtores.
As diferenças entre os cultivos tradicional e orgânico em SPD não se restringem
apenas ao que é ou não é permitido pela
legislação, mas também às diferenças de
abordagem. A produção orgânica tem o
enfoque holístico; a fertilidade do solo deve
ser alcançada e mantida com a aplicação
de resíduos orgânicos vegetais e animais,
utilizando o mínimo possível de insumos
externos à propriedade. A produtividade
no sistema orgânico é conseqüência da ciclagem de nutrientes e do equilíbrio alcançado. Um produto não recebe o selo orgânico com base apenas no resultado final,
mas em função de todo o seu processo
produtivo.
ESCOLHA DAS ESPÉCIES
PARA FORMAÇÃO DA
COBERTURA MORTA
Diferentemente do SPD tradicional, o
orgânico, por não utilizar os herbicidas dessecantes, depende da formação de uma boa
cobertura morta ou palha para sua implantação, não apenas com o intuito de manter
o solo protegido, mas principalmente para
evitar futuros problemas com as plantas
daninhas.
Recomenda-se também que, na fase inicial de implantação do SPD, se evite a utilização de áreas que se encontram em pousio
(com vegetação espontânea) ou áreas com
os restos da cultura antecessora junto com
as plantas daninhas de final de ciclo, pois
nesses casos o manejo das invasoras no
cultivo posterior fica difícil, visto que a
competição com a cultura no início do ciclo
será muito maior.
Na escolha das plantas de cobertura,
devem-se privilegiar as que apresentem rápido crescimento inicial, boa capacidade
de recobrimento do solo e elevada produção de biomassa. Várias pesquisas realizadas no sistema tradicional em SPD têm
indicado que plantas de inverno como a
aveia-preta (Avena strigosa) e o trigo
(Triticum aestivum) são boas opções para
reduzir a densidade das plantas daninhas
e sua interferência nas safras posteriores. Na cultura da soja, o incremento dos
níveis de palha de aveia-preta sobre o solo reduziu de forma exponencial a infestação de capim-marmelada (Brachiaria
plantaginea); na ausência do controle químico, as maiores produtividades da soja
foram obtidas quando a aveia-preta produziu acima de 6 t ha-¹, possivelmente de-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
desse nutriente pelo milho, além de permitir
maior proteção do solo e controle das plantas daninhas, requisitos essenciais para a
produção orgânica de milho em SPD.
Em experimentos realizados durante
nove anos na Região Sul do País foi constatado que a utilização do consórcio de aveiapreta com ervilhaca (Vicia sativa) proporcionou produção de massa seca igual à do
cultivo isolado de aveia e acúmulo de nitrogênio equivalente ao da ervilhaca, porém com relação C/N de 23,7, enquanto no
cultivo exclusivo da aveia e da ervilhaca
essa foi de 46,8 e 14,7 respectivamente, demonstrando que no consórcio o processo
de mineralização e imobilização permaneceu próximo ao equilíbrio (AMADO et
al., 2000). Estes autores destacaram ainda
que o acúmulo de nitrogênio na biomassa
do milho cultivado em sucessão ao consórcio foi igual ao obtido no cultivo do milho em sucessão à ervilhaca em cultivo
solteiro.
MANEJO DAS PLANTAS
DE COBERTURA E PLANTIO
O manejo das plantas de cobertura no
sistema orgânico, como mencionado ante-
riormente, não utiliza os herbicidas dessecantes do sistema convencional; as plantas
são roçadas ou tombadas na fase de formação de grãos (quando cultivadas exclusivamente para cobertura do solo), ou após
a colheita (quando se aproveita o resto
cultural), utilizando roçadeiras motorizadas, rolo-faca, entre outros equipamentos.
No SPD orgânico de milho implantado
na Estação Experimental de Coimbra-MG
da UFV, o manejo da aveia-preta é realizado na fase de formação de grãos (início
do mês de outubro) com ceifadeira motorizada (Fig. 1 e 2); a palha fica exposta ao
sol durante aproximadamente cinco dias e,
em seguida, o plantio do milho é realizado
com a semeadora/adubadora de plantio
direto (MELO, 2004) (Fig. 3). Deve-se evitar
a utilização de semeadoras que promovam
maior abertura lateral do sulco de plantio,
pois nesse caso ocorre maior exposição das
sementes das plantas daninhas, o que favorece sua emergência na linha.
No sistema orgânico essas plantas só
podem ser controladas com o repasse manual com enxada, o que onera os custos de
produção.
Anastácia Fontanétti
vido à redução da infestação de capimmarmelada (THEISEN et al., 2000). Resultados de experimentos realizados nos
Estados Unidos revelaram que 5 e 7 t ha-1
de massa seca de resíduos de trigo sobre
o solo reduzem a biomassa das plantas
daninhas em 21% e 73%, respectivamente
(WICKS et al., 1994).
Na Estação Experimental de CoimbraMG, pertencente a Universidade Federal
de Viçosa (UFV), a aveia-preta produziu
4,0 t ha-1 de massa seca no primeiro ano de
adoção do SPD de milho orgânico (MELO,
2004). Na mesma área experimental, no
terceiro ano de plantio direto orgânico,
obteve-se produção média de 7,0 t ha-1 de
massa seca de aveia-preta. Porém, para atingir essa produtividade numa região de
inverno seco como da Zona da Mata mineira é necessário utilizar irrigação e realizar
o plantio até julho, em baixa temperatura.
Embora a aveia-preta tolere temperaturas
mais elevadas em relação a outras espécies
de inverno, quando o plantio é realizado a
partir de agosto há queda na produção de
massa seca.
Uma alternativa para a formação da cobertura morta na produção orgânica é a
utilização do consórcio entre gramíneas e
leguminosas. Enquanto as gramíneas apresentam alta relação carbono/nitrogênio
(C/N), baixa taxa de decomposição e, por
isso, maior permanência da palha sobre o
solo, as leguminosas apresentam baixa
relação C/N e rápida taxa de decomposição;
assim, parte do nitrogênio pode ser liberado nas primeiras semanas após o manejo.
No entanto, o aproveitamento desse nutriente pela cultura em sucessão dependerá
do sincronismo entre a decomposição da
palha e a demanda da cultura. Se a cultura
em sucessão não absorver esse nutriente,
grande parte pode ser perdida por volatilização ou lixiviação. O consórcio de gramíneas com leguminosas, portanto, pode
contribuir para liberação gradual do nitrogênio, impedindo sua imobilização inicial,
geralmente observada, quando se utiliza
cobertura formada exclusivamente por gramínea, e pode favorecer o aproveitamento
129
Figura 1 - Corte da aveia-preta com ceifadeira motorizada
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
Anastácia Fontanétti
João Carlos Cardoso Galvão
130
Figura 2 - Detalhe da ceifadeira motorizada
Figura 3 - Plantio do milho com semeadora/adubadora de plantio
direto
ESCOLHA DA CULTIVAR
DE MILHO
A escolha da cultivar de milho para o
sistema orgânico deve levar em consideração, principalmente, a adaptação às condições edafoclimáticas da região, a tolerância
a pragas e doenças e a eficiência quanto
à absorção de nutrientes de fontes menos
solúveis. Em geral, as variedades têm sido preferidas em relação aos híbridos, pois
possuem maior variabilidade genética.
No entanto, nada impede a utilização de
cultivares híbridas, desde que sejam recomendadas visando à região e à época de
plantio e adquiridas por preços compatíveis
com os custos de produção.
A produção de espigas de milho verde
de dez cultivares comerciais, em sistema
orgânico, foi avaliada por Santos et al.
(2005); eles verificaram que os híbridos
AG4051 e D270 apresentaram os melhores desempenhos, com produção de 10,5 e
7,4 t ha-1 de espigas despalhadas, respectivamente; entre as variedades, as cultivares
AL25 e UFVM100 apresentaram as maiores produções de espigas: 8,0 e 7,1 t ha-1
respectivamente. No entanto, Melo (2004)
não encontrou diferenças entre a variedade
UFVM100 e o híbrido AG1051 para as
principais características agronômicas de
milho verde, produzido no SPD orgânico.
Tendo em vista a seleção de genitores
de milho para o sistema de produção orgânico, Oliveira (2005) verificou que o híbrido
AG1051 e a variedade AL25 foram os mais
indicados como genitores nesse ambiente.
ADUBAÇÃO
A adubação nos cultivos orgânicos
baseia-se no aporte de matéria orgânica ao
solo por meio de resíduos de origem animal
ou vegetal, como esterco, composto orgânico, vermicomposto, biofertilizante e adubos verdes (BRASIL, 1999). Ainda de acordo com Brasil (1999), fertilizantes minerais
naturais pouco solúveis como fosfato natural, termofosfato, sulfato de potássio,
sulfato de magnésio e micronutrientes
podem ser utilizados; porém, algumas certificadoras restringem seu uso.
O composto orgânico é um dos adubos
mais usados na agricultura orgânica, mas
sua utilização implica na realização de compostagem e requer meio de transporte e aplicação desse insumo, o que eleva os custos
de produção. Outra dificuldade levantada
em relação ao uso do composto para produção de milho orgânico é relacionada com
o volume a ser aplicado para que se obtenha elevada produtividade de grãos. Em
função dessas dificuldades apresentam-se
a seguir resultados de pesquisas sobre o
uso de composto orgânico na cultura do
milho.
Uso de composto orgânico
na adubação do milho orgânico:
experiência da UFV
A Estação Experimental de Coimbra- MG
da UFV mantém desde 1984, experimento
permanente, no qual são testadas as hipóteses de que o composto orgânico aplicado
continuamente na cultura do milho modifica os teores de nutrientes, influencia as
características físicas do solo e aumenta o
rendimento de grãos de milho (GALVÃO,
1995; MAIA; CANTARUTTI, 2004). Anualmente, são aplicados 40 m³ ha-1 ano-1 de
composto orgânico, o que, dependendo da
densidade, atinge entre 10 e 15 t de massa
seca ha-1 ano-1, e dois níveis de adubação
mineral, 250 e 500 kg ha-1 da fórmula 4-14-8
no plantio e mais 100 e 200 kg ha-1 de sulfato
de amônio em cobertura, respectivamente.
É mantida também uma testemunha sem
adubação. Inicialmente, o preparo do solo
para o SPD do milho era realizado com uma
aração e duas gradagens e o composto aplicado no sulco de plantio (Fig. 4).
O composto é obtido por meio da compostagem de esterco bovino e resíduos de
cultivos, como a palha de feijão e trigo, colmo de milho picado, casca de café e capim
seco. Os teores médios de nutrientes presentes no composto orgânico são: 0,7 dag kg-1
de P; 2,8 dag kg-1 de K; 1,0 dag kg-1 de Ca;
0,4 dag kg-1 de Mg e 3,2 dag kg-1 de N to-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
João Carlos Cardoso Galvão
131
Figura 4 - Aplicação do composto orgânico no sulco de plantio, forma utilizada no
cultivo orgânico convencional na UFV
tal, com pequena variação de um ano para
o outro.
A primeira avaliação foi realizada sete
anos após o início do experimento. Os resultados evidenciaram que o composto
elevou os teores de fósforo (P), potássio
(K), cálcio (Ca) e magnésio (Mg) e manteve o pH do solo em níveis satisfatórios,
sendo que o incremento nos teores de P
foi de aproximadamente quatro vezes em
relação à testemunha (sem adubação) e
o de K, 2,4 vezes maior (GALVÃO, 1995).
Verificou-se que os teores foliares de nitrogênio (3,00 dag kg -1), fósforo (0,24 dag kg-1)
e potássio (1,94 dag kg-1), no milho adubado com composto orgânico, foram considerados adequados para a cultura, com
produtividade média de grãos de milho de
5 t ha-1.
Maia e Cantarutti (2004) observaram,
14 anos após o início do experimento, na
mesma área experimental aumento dos teores de C total e C lábil no solo e, conseqüentemente, aumento médio de 41% da capacidade de troca catiônica (CTC) total nas
parcelas que receberam o composto orgânico, com tendência de diminuição da CTC
nas parcelas que receberam adubação mineral. Verificaram também aumento de 44%
de N-total na camada de 0 -10 cm do solo nas
parcelas que receberam composto orgâ-
nico, enquanto a aplicação da adubação
mineral durante os 14 anos pouco alterou
o teor de N-total do solo. No tratamento
com adubação orgânica cerca de 3,1% do
N-total estava na forma lábil, ou seja, mineralizável, contra 2,8% no tratamento mineral.
O Gráfico 1 ilustra os resultados obtidos ao longo de vários anos por Galvão
(1995), Silva et al. (1998), Bastos (1999) e
Maia (1999). Verifica-se que a produtividade
do milho obtida na parcela testemunha, ou
seja, sem adubação por 14 anos, está em
acentuada queda, influenciada pelo esgotamento de nutrientes do solo. Por sua vez,
o nível 1 de adubação mineral (250 kg ha-1
de 4-14-8 mais 100 kg de sulfato de amônio ha-1 ano-1) também tendeu a reduzir o
rendimento dos grãos de milho durante os
anos de experimentação. No nível 2 de adubação mineral (500 kg ha-1 de 4-14-8 mais
200 kg de sulfato de amônio ha-1 ano-1), a
produtividade manteve-se estável, com o
potencial produtivo em torno de 6,5 t ha-1.
Com uso de composto orgânico a tendência da produtividade do milho foi sempre
ascendente, atingindo patamar em torno de
8,0 t ha-1. Esses resultados permitiram a
estes autores concluir que a aplicação de
40 m³ ha-1 ano-1 de composto orgânico diretamente no sulco de plantio, garante a manutenção da fertilidade do solo e da produção do milho orgânico.
Gráfico 1 - Produtividade da cultura do milho em função de vários anos de cultivo
submetido a diferentes adubações
FONTE: Dados básicos: Maia (1999).
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
Em 2003, na mesma área experimental,
foi adotado o SPD para produção orgânica
de milho com apoio financeiro do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de Minas
Gerais (Fapemig). A partir desse ano o composto orgânico (40 m³ ha-1 ano-1 ) passou a
ser aplicado em cobertura, ao lado da linha de plantio, após a emergência do milho
(Fig. 5). A primeira avaliação da produção
de milho no SPD foi realizada por Melo
(2004), que verificou produção de espigas de milho verde sem palha de 7,2 t ha-1 .
Este autor ressalta que o SPD orgânico proporcionou resultados equivalentes ao do
SPD convencional, com altos valores nos
componentes de produção de milho verde.
Porém, no segundo ano de plantio direto na mesma área experimental, verificouse tendência de redução do rendimento de
grãos do milho. De acordo com o Gráfico 2,
no cultivo convencional (aração e gradagem), a aplicação do composto orgânico
proporcionou aumento da produtividade
de grãos de milho ao longo de vários anos;
no entanto, a partir do segundo ano de
SPD, a produtividade foi reduzida no cultivo orgânico em SPD e teve incremento
no SPD tradicional (fertilização mineral e
uso de herbicidas).
A redução na produtividade está, provavelmente, relacionada com o fato de que
as plantas de milho não estão absorvendo
os nutrientes disponibilizados pelo composto orgânico aplicado em cobertura, e
também ao aumento da população de plantas daninhas na área, a partir do segundo ano de plantio direto orgânico, o que
aumenta a competição entre a cultura e as
plantas invasoras pelos fatores de produção.
MANEJO DAS
PLANTAS DANINHAS
O manejo das plantas daninhas no cultivo orgânico em SPD é, sem dúvida, o principal entrave técnico na atualidade e um
dos principais motivos da recusa do SPD
pelos produtores orgânicos.
João Carlos Cardoso Galvão
132
Figura 5 - Aplicação do composto orgânico em cobertura ao lado da linha de plantio
do milho, forma utilizada no Sistema Plantio Direto orgânico na UFV
Gráfico 2 - Produtividade de milho em sistema convencional e em SPD, em função de
adubação mineral e orgânica ao longo de vários anos - Estação Experimental
de Coimbra-MG da UFV, 2005
Nos sistemas de produção orgânicos
descritos na literatura, o manejo das plantas daninhas tem recebido pouca atenção,
o que se justifica, até certo ponto, em sistemas estáveis, de longo prazo, nos quais
as práticas de manejo possibilitam o convívio entre as culturas e as plantas daninhas dentro de um limiar de dano econômico
aceitável. Além disso, no sistema orgânico
é desejável, sempre que possível, a convi-
vência com as plantas daninhas, porque
podem ser importantes fontes de alimento
alternativo e abrigo para inimigos naturais
de vários insetos-pragas (ALTIERI et al.,
1996). No entanto, não se pode ignorar o
fato de que as plantas daninhas competem
com as culturas, principalmente, em áreas
de conversão ao sistema orgânico, acarretando perdas na produtividade. Na cultura do milho em sistema convencional, por
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
densidade de seis plantas por metro na
mesma linha do milho (Fig. 6), ele não afeta
a produção da cultura, contribui no aporte
de nutrientes ao solo e reduz a ressemeadura de final de ciclo das plantas daninhas.
O manejo das plantas daninhas durante
o ciclo da cultura é feito na maior parte das
vezes, com o uso de roçadeiras nas entrelinhas e/ou de capina manual com enxada
nas linhas e entrelinhas de plantio. No experimento da Estação Experimental de CoimbraMG da UFV, o manejo das plantas daninhas
no cultivo orgânico em SPD é realizado com
ceifadeira motorizada nos estádios de quatro e oito folhas do milho completamente
desenvolvidas (Fig. 7 e 8).
Em estudo realizado na Estação Experimental do Instituto Agronômico do Paraná
(Iapar), em Ponta Grossa (PR), foi avaliada
a demanda de mão-de-obra e o efeito dos
métodos de controle das plantas daninhas
(uma capina, duas roçadas, dessecante mais
uma roçada e herbicida), sobre o rendimento
de grãos de milho em SPD. Verificou-se que
a capina é altamente demandadora de mãode-obra e demonstrou tendência de redu-
Anastácia Fontanétti
exemplo, a interferência das plantas daninhas pode reduzir o rendimento de grãos
em até 87%, principalmente quando ocorre
nos estádios iniciais de desenvolvimento
da cultura, devido à competição por água,
luz e nutrientes (KOZLOWSKI, 2002).
O não-revolvimento do solo, a utilização da palha como cobertura morta e a rotação de culturas, entre outras práticas do
SPD, interferem no comportamento evolutivo da flora infestante e contribuem para
o seu controle. O simples fato de não movimentar o solo diminui a germinação de
espécies dependentes da luz para o processo germinativo como, por exemplo, picãopreto (Bidens pilosa), botão-de-ouro
(Galinsoga parviflora) e beldroega
(Portulaca oleraceae) (BLANCO; BLANCO,
1991), e reduz em até 94% as manifestações epígeas de tiririca (Cyperus rotundus),
pois não ocorre a divisão de tubérculos e
a quebra da dominância apical provocada
pelos implementos agrícolas utilizados para
a movimentação do solo (JAKELAITIS et
al., 2003). A rotação de culturas e a cobertura
morta podem modificar ainda a dinâmica
do banco de sementes e, por conseqüência,
da comunidade de plantas daninhas por
proporcionar diferentes modelos de competição, distúrbios do solo e ação alelopática (BUHLER et al., 1997). Porém, essas
mudanças são observadas em longo prazo.
No início da adoção do SPD sem o uso
de herbicidas, algumas estratégias são
importantes e devem ser seguidas para a
manutenção da produtividade: utilizar plantas de cobertura com alta produção de biomassa, evitar a reinfestação de final de ciclo
e períodos de pousio entre as culturas. Uma
alternativa para diminuir a infestação de
final de ciclo é consorciar a cultura com
adubos verdes de bom recobrimento do
solo, que podem ser semeados simultaneamente às culturas ou algum tempo depois.
A consorciação do milho com o feijão-deporco (Canavalia ensiformis) tem-se revelado promissora para o SPD orgânico.
Nas condições da Zona da Mata mineira, quando o feijão-de-porco é semeado na
133
Figura 6 - Consórcio de milho com feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) no Sistema
Plantio Direto orgânico
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
Anastácia Fontanétti
134
Anastácia Fontanétti
Figura 7 - Roçada das plantas daninhas em parcela de Sistema Plantio Direto orgânico,
em primeiro plano, e ao fundo parcelas do Sistema Plantio Direto tradicional
com aplicação de herbicidas
Figura 8 - Detalhe da roçada das plantas daninhas na entrelinha do milho orgânico
em Sistema Plantio Direto
ção no rendimento do milho. É indicada
apenas para áreas com baixa densidade de
plantas daninhas. Já o uso de duas roçadas, apresentou nível intermediário de mãode-obra e não prejudicou o rendimento de
grãos de milho (DAROLT; SKORA NETO,
2002).
Porém, para algumas espécies de plantas daninhas, principalmente as que apresentam rebrota, a utilização exclusiva da
roçagem, pode dificultar o manejo (MELO,
2004). Este mesmo autor verificou maior
produção de biomassa total de plantas daninhas no SPD orgânico em comparação
ao SPD tradicional com utilização de herbicidas, devido, principalmente, à alta capacidade de rebrota de algumas espécies
de plantas daninhas como Bidens pilosa.
Esses dados corroboram com os mencionados por Chiovato et al. (2006a), os quais
avaliaram em casa de vegetação os métodos
de controle mecânico de B. pilosa e suas
interferências nos componentes de produção do milho orgânico. Estes autores verificaram que a roçada e o tratamento sem
controle foram os que mais interferiram
na produção de massa seca das folhas do
milho, reduzindo em 27,12% a produção em
relação à capina. Concluíram que a roçada
não proporcionou controle eficiente de B.
pilosa no cultivo do milho orgânico.
A eficiência da roçada no manejo das
plantas daninhas também depende da
densidade de infestação. Para a espécie
Brachiaria plantaginea, a roçada e a capina proporcionaram o mesmo acúmulo de
massa seca total de plantas de milho que conviveram com duas plantas de B. plantaginea
por vaso com 18L de substrato (solo + composto orgânico). Porém, nas maiores densidades (quatro e seis plantas), o tratamento
com roçada foi semelhante ao sem controle, demonstrando que a roçada é eficiente
no controle de B. plantaginea apenas,
quando essa se encontra em baixa densidade populacional (CHIOVATO et al., 2006b).
MANEJO DE PRAGAS
E DOENÇAS
Nesse caso, novamente os enfoques
entre os SPD tradicional e orgânico são distintos. No manejo orgânico, deve-se privilegiar a prevenção, utilizando, para isso,
sementes de boa qualidade, cultivares tolerantes/resistentes a pragas e a doenças
consideradas de risco na região, aumento
da diversidade de espécies (cultivos intercalares, rotação de culturas, áreas de refúgio, etc.); limpeza de implementos agrícolas;
alteração da época e densidade de plantio,
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto
quando possível. Também recomendam-se
os métodos curativos e/ou de manutenção
dos níveis de infestação abaixo dos de danos econômicos, por meio da utilização de
biofertilizantes, caldas, extratos botânicos,
preparados homeopáticos, armadilhas luminosas, controle biológico, feromônios,
entre outros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A produção de milho orgânico no SPD
não se encontra definida, mesmo porque
na produção orgânica não existem pacotes
tecnológicos; a unidade de produção deve
ser analisada individualmente e a tecnologia
adaptada à sua realidade. De modo geral, o
manejo das plantas daninhas e a disponibilidade de nutrientes dos adubos orgânicos
em sincronia com a época de maior demanda da cultura são os principais entraves
da produção orgânica de milho em SPD.
135
Os resultados de pesquisa indicam que o
uso da roçada tende a favorecer espécies
que apresentam elevada capacidade de rebrota, o que tem contribuído para o aumento dessas espécies na área, dificultando o
manejo e onerando os custos de produção.
Fica, assim, evidente que outras estratégias de manejo devem ser estudadas com
o intuito de diminuir a competição das
plantas daninhas com o milho, principalmente no início do ciclo.
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