ENSINO DE GEOGRAFIA, CULTURA POPULAR E TEMAS TRANSVERSAIS: uma proposta de transversalidade a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) Kálita Tavares da SILVA1; Estevane de Paula Pontes MENDES2 Universidade Federal de Goiás. Campus de Catalão E-mail: [email protected]; E-mail: [email protected] Palavras-chave- Geografia. Ensino. Cultura Popular. Temas transversais 1 INTRODUÇÃO A Cultura Popular enquanto movimento social possui significativa influência na configuração do espaço geográfico e, sua compreensão é essencial para o ensino de Geografia. Diversas definições acerca de Cultura Popular foram construídas nas ciências humanas, e em decorrência das transformações ocorridas na sociedade com a evolução do modo de produção capitalista foi aberto um debate sobre sua posição frente o processo de globalização. Dessa forma, o presente trabalho objetiva discutir sobre o papel da Geografia na construção de uma reflexão sobre Cultura Popular a partir da proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) para temas transversais. O ensino de geografia exerce um relevante papel, uma vez que, propicia estratégias de desenvolvimento e ampliação da capacidade dos alunos de apreensão da realidade, a partir do ponto de vista da espacialidade, isto é, de compreensão do papel das práticas sociais e as influências dessas práticas na configuração do espaço. (CAVALCANTI, 1998) 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Goiás/Campus. Catalão. Membra do Núcleo de Estudos e Pesquisas Socioambientais (NEPSA) - UFG/CAC. 2 Professora dos Curso de Graduação e Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Goiás/Campus Catalão. Subcoordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Socioambientais (NEPSA) UFG/CAC 2 MATERIAL E MÉTODOS Primeiramente foi realizado um levantamento bibliográfico em fontes primárias sobre cultura, cultura popular, geografia e ensino de geografia. Em um segundo momento buscou-se dados e informações em fontes secundárias como: teses, dissertações que reflitam e discutam sobre os aspectos da cultura popular e de ensino de geografia. Além da pesquisa documental nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) para temas transversais. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES A espacialidade que os alunos vivem na sociedade do século XXI, é complexa, em virtude das transformações ocorridas na organização das sociedades. Tem-se nesse novo contexto termos como sociedade pósindustrial, pós-capitalista, sociedade pós-moderna, termos estes utilizados para denominar os fenômenos socioeconômicos, culturais e políticos da sociedade contemporânea. A temática Cultura Popular tem chamado a atenção de intelectuais desde os fins do século XVIII, visto que as inúmeras transformações ocorridas nesse contexto decorrentes da evolução do modo de produção capitalista influenciaram as formas de pensar, e agir, e ver o mundo, com vistas aos interesses dessa nova sociedade marcada pela produção em grande escala. Em decorrência desses fatores, os valores, costumes correspondentes a Cultura Popular foram ameaçados de desaparecimento, isso devido à nova cultura imposta pelo capitalismo, a Cultura de massa. Gramsci (1995) um dos nomes e referências do pensamento de esquerda do século XX e co-fundador do Partido Comunista Italiano, acredita que a infra-estrutura do capitalismo (forças produtivas, relações econômicas) não era a única força decisiva para a manutenção da burguesia no poder. Outras forças deveriam atuar para que as classes subalternas não despertassem para revolução. Assim, a superestrutura ideológica seria o principal fator de controle das massas. Gramsci (1995) renova o conceito de hegemonia que é a capacidade das classes dominantes de manter o poder utilizando o consenso, ou seja, o poder de coersão auxiliado pelo consenso constituiria o predomínio de uma visão social de mundo. Isso poderia ocorrer através de aparelhos ideológicos e dentre eles a indústria cultural, que principalmente através dos meios de comunicação expandem os valores hegemônicos dando visibilidade as interpretações, acontecimentos e idéias que fornecem sustentação ideológica para a classe dominante. Ao passo que a hegemonia exerce controle sobre as massas, percebese, que, quando determinados setores da sociedade não se identificam com a visão de mundo e posicionamentos da hegemonia manifestam sua contrariedade e passam a reinvidicar novas atitudes, tanto do poder público quanto da sociedade civil, o que acrescenta ao conceito de hegemonia o de contra-hegemonia, isto é, a cultura dominante limita e ao mesmo tempo produz contra-cultura. Willians (1979) traz uma reflexão, na qual, avança na elaboração de uma teoria materialista de cultura e reforça o papel da contra-hegemonia. Ressalta que a hegemonia “[...] sofre uma resistência continuada, limitada, alterada, desafiada por pressões que não são as suas próprias pressões [...]” (WILLIANS, 1979, p. 116). Na obra “Conformismo e Resistência: aspectos da Cultura Popular no Brasil”, Chauí (1989) concebe Cultura Popular enquanto produção por parte dos homens em determinadas condições materiais e imateriais de existência, uma verdadeira expressão do desabrochar do homem na vida social. E esse pensamento de homogeneidade vem tomando forma principalmente com o processo de globalização, que não se verifica de modo homogêneo, uma vez que, não atinge igualmente todos os indivíduos, pois encontra obstáculos na diversidade das pessoas e dos lugares. De acordo com Santos (2000), a globalização agrava a heterogeneidade, dando-lhe um caráter ainda mais estrutural, e uma das conseqüências disso é o surgimento de uma nova significação da Cultura Popular, tornada capaz de rivalizar a cultura de massas. A Cultura Popular exerce sua qualidade de discurso dos “de baixo”, colocando em evidência o cotidiano dos pobres, dos excluídos, por meio da exaltação da vida de todos os dias, que pode ser um alimento para a política dos pobres A cultura aparece como proposta nos PCN’s como eixo a ser trabalhado nos Temas Transversais, em uma visão interdisciplinar, na qual, possam ser discutidas e desenvolvidas algumas questões que envolvem múltiplos aspectos e diferentes dimensões da vida social. Os temas transversais trazem como eixos a ser trabalhados: ética, meio ambiente, pluralidade cultural, saúde, orientação sexual, trabalho e consumo, considerando que o professor possa estabelecer interfaces com os temas transversais definidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s). Os temas transversais são direcionados para serem trabalhados nas diferentes áreas do conhecimento, destacando a singularidade dos diferentes temas e áreas. Os PCN’s enfatizam em sua proposta as afinidades de determinados temas em relação a determinadas áreas. No que concerne a Cultura os PCN’s buscam trabalhar tendo como base a pluralidade cultural, “[...] desde a caracterização dos espaços dos diferentes seguimentos culturais que marcam a população brasileira, até os estudos de como as paisagens, lugares e regiões brasileiras expressam essas diferenças [...]” (BRASIL, 1998, p. 43). 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A preocupação dos PCN’s concentra-se no respeito aos diferentes grupos e culturas que constituem a sociedade brasileira, e ressalta que o saber geográfico não é apenas de geógrafos, mas de formas diferenciadas todos os grupos socioculturais detém um saber geográfico em função de suas necessidades e interesses. Assim, os PCN’s propõem que o grande desafio da escola é a superação da discriminação possibilitando ao aluno o conhecimento da riqueza representada pela diversidade etnocultural que compõe o patrimônio sociocultural brasileiro, valorizando a trajetória particular dos grupos que formam a sociedade. O ensino de Geografia pode construir com os alunos uma reflexão critica e consciente sobre a importância da Cultura Popular, na qual, experiências, vivências cotidianas, saberes e construções sociais realizadas pelo homem em seus conflitos e lutas ao longo de sua história sejam valorizados. REFERÊNCIAS ARANTES, A. A.O que é cultura popular. São Paulo: Brasiliense, 2007. 83 p. ARENDT, Hannah. A crise na educação. São Paulo: Perspectiva, 1972. p. 2153. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2002. ______. NBR 6022: informação e documentação: artigo em publicação periódica científica impressa: apresentação. 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