O Perfil Dos Usuários Do Grupo De Apoio Às DST’s E AIDS, Viçosa - MG1 Talita da Conceição de Oliveira Fonseca. Economista Doméstica. Endereço: Rua João Valadares Gomes nº 210, bairro JK, Viçosa-MG. E-mail: [email protected]. Patrícia da Silva Fonseca. Economista Doméstica. Estudante não-vinculado do Programa de Pós-Graduação em Economia Doméstica da Universidade Federal de Viçosa. Endereço: Rua João Valadares Gomes nº 210, bairro JK, Viçosa-MG. E-mail: [email protected]. Cristiane Magalhães de Melo Economista Doméstica. Serviço de Vigilância Epidemiológica de Viçosa-MG. Endereço: Rua Santa Luzia nº 209, apto 02, bairro centro, Viçosa-MG. Email: [email protected]. RESUMO Este estudo foi realizado em Viçosa-MG, e objetivou fazer uma análise sobre o perfil dos usuários do Grupo de Apoio às DSTs/AIDS da Secretaria Municipal de Saúde de Viçosa MG. Viçosa é uma cidade de porte médio e está localizada na zona da mata de MG, possui população estimada de 70.404 habitantes e sua atividade econômica principal é o setor de serviços, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O GA foi implantado no município no ano 2000 e tem como objetivo apoiar as ações de assistência aos portadores das Doenças Sexualmente Transmissíveis, em especial ao portador do HIV. Entre os objetivos do GA, destaca-se a realização de exames para detecção do HIV e o aconselhamento. Para realização do presente estudo, foram analisados os formulários do GA que contêm informações sobre idade, procedência, gênero e motivos que levaram os clientes à realização do exame. O período analisado compreendeu os anos de 2005 a 2007. Foram excluídos exames realizados em gestantes como parte do pré-natal. Neste período foram realizados 1388 exames, sendo 52,2% em homens e 47,5% em mulheres. Quanto à idade, a 1 Trabalho desenvolvido no Grupo de Apoio às DST’s e AIDS da Secretaria Municipal de Saúde de Viçosa – MG. demanda foi maior na faixa etária de 21 a 40 anos para ambos os sexos. Com relação ao motivo da realização do exame, nos três anos de análise, a maioria das pessoas testadas afirmou ter tido relação sexual sem preservativo, sendo 76% no ano de 2005; 86,3% no ano de 2006 e 79,5% no ano de 2007. Este dado sugere que, embora ciente dos modos de transmissão da AIDS a população continua a manter comportamentos de risco. Neste mesmo período foram detectados 21 casos positivos, ou seja, 1,51% do número total de exames realizados. Com relação ao número de casos positivos, no ano de 2006, diferentemente dos demais anos de estudo, houve maior incidência entre as mulheres. Este dado reforça o que vem sendo observado em estudos sobre a infecção pelo HIV e apontam o processo de feminização e interiorização da AIDS. Como conseqüência da feminização da doença, esperase o aumento da incidência da infecção do HIV entre crianças. Nesse sentido, é importante o investimento na melhoria da qualidade da assistência ao pré-natal e ao parto a fim de se detectar precocemente casos de gestantes infectadas pelo vírus minimizando, assim, o risco da transmissão vertical do HIV. Palavras-chave: AIDS, testagem anônima, transmissão vertical e prevenção. I. INTRODUÇÃO A AIDS é uma doença que se manifesta após a infecção do organismo humano pelo Vírus da Imunodeficiência Humana, mais conhecido como HIV. O HIV destrói os linfócitos, células responsáveis pela defesa do organismo, tornando a pessoa vulnerável a outras infecções e doenças oportunistas, chamadas assim por surgirem nos momentos em que o sistema imunológico do indivíduo está enfraquecido (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, existem no mundo aproximadamente 33 milhões de pessoas vivendo com a doença. De 1980 a junho de 2007 foram notificados 474.273 casos de AIDS no País – 289.074 no Sudeste, 89.250 no Sul, 53.089 no Nordeste, 26.757 no Centro Oeste e 16.103 no Norte. Segundo critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil tem uma epidemia concentrada, com taxa de prevalência da infecção pelo HIV de 0,6% na população de 15 a 49 anos. Após 20 anos da descoberta do vírus da imunodeficiência adquirida (HIV) e do início da epidemia da AIDS que atingiu todo o mundo, diversos avanços relativos ao tratamento, prevenção e políticas de saúde têm sido feitos. Apesar disso, o problema está longe de ser resolvido e muitos desafios continuam instigando cientistas de todas as disciplinas em relação a este tema (CASTRO; REMOR, 2004). No Brasil, a vigilância epidemiológica da AIDS vem sendo realizada tomando-se como referência a notificação universal dos casos na fase mais avançada da infecção pelo HIV, incluída na relação de doenças e agravos de notificação compulsória, em 22 de dezembro de 1986, por meio da Portaria nº 542 do Ministério da Saúde, juntamente com a sífilis congênita (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003). A Secretaria Municipal de Saúde de Viçosa tem por finalidade o desenvolvimento das atividades de prevenção, promoção e assistência à saúde, extensiva a toda a microrregião da qual se constituiu como Pólo, bem como o gerenciamento das ações, dos profissionais, serviços e recursos financeiros do município (SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE, 2008). Em Viçosa, o Serviço de Vigilância Epidemiológica – SVE foi instituído em 1997 pela Secretaria Municipal de Saúde. Este serviço tem a responsabilidade de monitorar diversos indicadores de saúde com o objetivo de contribuir na construção de informações necessárias para subsidiar o planejamento de políticas e ações em saúde coletiva, incluindo o acompanhamento da ocorrência de doenças e agravos definidos em nível nacional como de notificação compulsória, que é o caso da AIDS (SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE, 2008). Objetivo geral Este estudo teve por objetivo fazer uma análise sobre o perfil dos usuários do Grupo de Apoio às DSTs/AIDS em Viçosa-MG, bem como levantar os motivos/comportamentos de risco que levam as pessoas a procurarem o GA para realização da testagem anônima para o HIV. II. METODOLOGIA Viçosa é uma cidade universitária, com população residente que, quando somada à população flutuante, a qual é constituída de estudantes universitários de graduação e pósgraduação, técnicos em treinamento na UFV, participantes de congressos e eventos técnicocientíficos, culturais e outros, alcança uma população de aproximadamente 70.404 habitantes, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE para 2007 (IBGE, 2007). É um dos mais importantes municípios da Zona da Mata e pólo da microrregião que engloba os municípios de Araponga, Cajuri, Canaã, Paula Cândido, Pedra do Anta, Porto Firme, São Miguel do Anta e Teixeiras. Figura 1 - Microrregião de Viçosa – MG O Grupo de Apoio às DSTs/AIDS da Secretaria Municipal de Saúde de Viçosa - MG foi implantado no município no ano 2000 e tem como objetivo apoiar as ações de assistência aos portadores das Doenças Sexualmente Transmissíveis, em especial ao portador do HIV, destacando-se a realização de exames para detecção do HIV e o aconselhamento. O período analisado compreendeu os anos de 2005 a 2007, onde foram excluídos os exames realizados em gestantes como parte do pré-natal. Para a coleta de dados, foi realizada uma análise dos formulários próprios do Grupo de Apoio, que contêm informações referentes à idade, procedência e gênero dos pacientes, além de informações a respeito da motivação para a realização do teste. A análise dos dados foi realizada com o auxílio do programa Epi Info versão 2000. III. RESULTADOS E DISCUSSÕES No período de 2005 a 2007 foram realizados 1388 exames, sendo 52,2% em homens e 47,5% em mulheres, o que mostra um equilíbrio na demanda pela testagem anônima. De acordo com Sanches (1999), o crescimento da AIDS entre mulheres tem e terá um grande impacto social que vai além das implicações dessa epidemia para a população feminina em si, o adoecimento ou morte da mulher poderá levar a uma desestruturação de suas famílias, uma vez que as mesmas ainda assumem culturalmente o papel de "agregadoras e cuidadoras" dos núcleos familiares. Quanto à idade, a demanda foi maior na faixa etária de 21 a 40 anos para ambos os sexos. De acordo com o Ministério da Saúde (2007), em ambos os sexos, a maior parte dos casos no Brasil se concentra na faixa etária de 25 a 49 anos. Porém, nos últimos anos, tem-se verificado aumento percentual de casos na população acima de 50 anos, em ambos os sexos. Um dado de bastante relevância diz respeito ao motivo da realização do exame: nos três anos de análise, a maioria das pessoas testadas afirmou ter tido relação sexual sem preservativo, sendo 76% no ano de 2005; 86,3% no ano de 2006 e 79,5% no ano de 2007. Este dado sugere que, embora ciente dos modos de transmissão da AIDS a população continua a manter comportamentos de risco. De acordo com Gir et al, (1999) a prevenção é a medida mais eficaz a ser assumida contra estas doenças, tanto pela população leiga como científica, e para tanto a educação em saúde assume importância de realce, uma vez que se trata de instrumento básico para conscientizar e informar as pessoas. Porém, Pompidou (1988 apud GIR et al, 1999), afirma que não basta simplesmente oferecer informações: “Estar informado não significa necessariamente conhecer, estar ciente não significa necessariamente tomar medidas, decidir a tomar necessariamente fazer. Portanto, é necessário medidas não significa desenvolver o senso de responsabilidade individual e grupal, só esse compromisso pode conduzir às mais efetivas e aceitas mudanças de comportamento, uma vez que se baseia em aceitação e não em obrigação” (Pompidou 1988 apud GIR et al, 1999). Neste mesmo período foram detectados 21 casos positivos, ou seja, 1,51% do número Número de casos positivos total de exames realizados, o que pode ser observado no gráfico abaixo: 12 10 8 6 4 2 0 2005 2006 2007 Ano Gráfico 1 - Número total de casos positivos de AIDS em Viçosa-MG, no período de 2005 a 2007. Com relação ao número de casos positivos, no ano de 2006, diferentemente dos demais anos de estudo, houve maior incidência entre as mulheres (Gráfico 2). Este dado reforça o que vem sendo observado em estudos sobre a infecção pelo HIV e apontam o processo de feminização da AIDS. De acordo com Guia de Vigilância Epidemiológica (2002) a feminização da AIDS é um reflexo do comportamento sócio-sexual da população, associado Número de casos positivos a aspectos de vulnerabilidade biológica da mulher. 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Homem Mulher 2005 2006 2007 Ano Gráfico 2 – Número de casos positivos de AIDS em Viçosa – MG segundo o gênero, no período de 2005 a 2007. À medida que aumenta o número de casos de HIV/AIDS em mulheres em idade reprodutiva, aumenta concomitantemente o número de casos de AIDS pediátrica. Isso é visto, principalmente, nos países sub-desenvolvidos economicamente onde as taxas de transmissão vertical são, de um modo geral mais elevadas. Denomina-se transmissão vertical do HIV a situação em que a criança é infectada pelo vírus da AIDS durante a gestação, o parto ou por meio da amamentação. Atualmente a quase totalidade de casos de AIDS, em menores de 13 anos de idade, tem como fonte de infecção a transmissão vertical do HIV (SANCHES, 1999). O crescimento do número de casos entre mulheres e, conseqüentemente em crianças, constitui a principal característica da AIDS no Brasil. Nesse sentido, é importante o investimento na melhoria da qualidade da assistência ao pré-natal e ao parto a fim de se detectar precocemente casos de gestantes infectadas pelo vírus minimizando, assim, o risco da transmissão vertical do HIV e a mortalidade materna e infantil. IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS Atualmente as estratégias de prevenção ao HIV implantadas no Brasil se caracterizam por ações de caráter informativo, voltadas para segmentos populacionais específicos. Porém, os dados obtidos neste estudo demonstram que o aumento do nível de conhecimento sobre as formas de transmissão do HIV/AIDS não se traduz diretamente, em adoção de práticas de sexo seguro. De acordo com Sanches (1999), sendo a prevenção a melhor opção para o controle da epidemia da AIDS, é essencial o entendimento de como a doença é percebida em um contexto cultural definido para o desenvolvimento de estratégias preventivas. Como a prevenção se baseia principalmente na promoção de mudanças no comportamento, considera-se necessário programar pesquisas sobre conhecimento, atitudes, comportamento e percepção de risco para o HIV/AIDS em diferentes contextos socioculturais e econômico buscando com isso uma maior abrangência das campanhas e programas de educação e prevenção contra AIDS no município. V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica. 5 ed. Vol I. Brasília: FUNASA, 2002. BRASIL. Ministério da Saúde. O que é AIDS. Disponível em: www.aids.gov.br. Acesso em: 12 março 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico AIDS ano XVII nº01, 2003. Disponível em: www.aids.gov.br. Acesso em: 10 março 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico AIDS ano V nº 1 - julho a dezembro de 2007/janeiro a junho de 2008. Disponível em: www.aids.gov.br. Acesso em: 10 março 2009. CASTRO, Elisa Kern; REMOR, Eduardo Augusto. Aspectos Psicossociais e HIV/Aids: Um Estudo Bibliométrico (1992-2002) Comparativo dos Artigos Publicados entre Brasil e Espanha. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2004; 17(2), pp.243-250. GIR, Elucir; MORIYA, Tokico Murakawa; HAYASHIDA, Miyeko Hayashida; DUARTE, Geraldo; MACHADO, Alcyone Artioli. Medidas preventivas contra a AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis conhecidas por universitários da área de saúde. Rev. Latino americana de enfermagem, Ribeirão Preto, v. 7, n. 1, p. 11-17, janeiro 1999. SANCHES, Kátia Regina de Barros. A AIDS e as mulheres jovens: uma questão de vulnerabilidade. Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública; 1999. 143 p. SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE. Análise da situação de saúde do município de Viçosa – MG. Viçosa – MG, 2008.