ID: 63078057 11-02-2016 Tiragem: 6358 Pág: 18 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 26,00 x 28,86 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 2 Portos são a excepção nas empresas públicas com quatro anos de lucros Transportes Portos nacionais atingiram lucros de 174 milhões de euros entre 2010 e 2014. O porto de Leixões liderou o ‘ranking, com lucros de 67,4 milhões de euros. Nuno Miguel Silva [email protected] RESULTADO LÍQUIDO As cinco principais administrações portuárias nacionais registaram lucros agregados de 173,7 milhões de euros entre 2010 e 2014, o que perfaz uma média anual de lucros de 34,7 milhões de euros, de acordo com dados compilados pelo Conselho Português de Carregadores (CPC), a que o Diário Económico teve acesso. Numa altura em que ainda não são conhecidas as contas destas administrações portuárias referentes ao exercício de 2015, estes dados atestam uma excepção no Sector Empresarial do Estado (SEE), uma vez que a grande maioria das empresas públicas apresenta défices crónicos de gestão, acumulando passivos de ano para ano. E confirmam que um dos poucos motores da economia nacional nestes anos de crise tem sido proporcionado pelas exportações, com reflexos evidentes nas cargas movimentadas pelos portos e, por conseguinte, nos dados económico-financeiros das administrações portuárias. De entre as cinco maiores administrações portuárias nacionais – Leixões, Sines, Setúbal, Lisboa e Aveiro –, o grande destaque vai para o porto nortenho, que registou lucros de 67,4 milhões de euros no período em análise. A seguir, posicionou-se o porto de Sines, com lucros de 45,3 milhões de euros entre 2010 e 2014. Já o porto de Setúbal surge em terceiro lugar neste ‘ranking’, com 29,1 milhões de euros de lucros, significativamente acima do conseguido no mesmo período pelo porto de Lisboa: 21,9 milhões de euros de lucros. Este é mais um sinal dos problemas crescentes que o porto da capital tem atravessado nos últimos anos, em particular derivado de constantes greves dos estivado- 173,7 M€ Os cinco maiores portos portugueses registaram, entre 2010 e 2014 (últimos dados disponíveis), 173,7 milhões de euros de resultados líquidos agregados. Este montante equivale a lucros médios anuais próximos de 35 milhões de euros. res, que têm afastado alguns dos maiores armadores mundiais para outros portos nacionais (como Setúbal) e ou mesmo estrangeiros, com destaque para os espanhóis. Neste momento, está a decorrer há mais de um mês um processo negocial entre os operadores e os estivadores do porto de Lisboa, sob a iniciativa de Ana Paula Vitorino, ministra do Mar, com o objectivo de solucionar de forma definitiva este diferendo laboral não sendo publicamente conhecidas as evoluções dessas conversações. Como é natural, por questões de dimensão, no último lugar deste ‘ranking’ dos lucros das principais administrações portuárias nacionais, posicionou-se o porto de Aveiro, com lucros de cerca de dez milhões de euros entre 2010 e 2014. Apesar da saúde financeira das administrações portuárias que estes números evidenciam, diversos operadores do sector têm manifestado publicamente críticas à situação, como foi o caso de Pedro Viegas Galvão, presidente do CPC. Numa conferência sobre “Concorrência no Sector Portuário”, realizada no passado dia 26 de Janeiro, em Lisboa, este responsável defendeu que o actual regime de concessões portuárias tem de ser alterado e substituído preferencialmente pelo regime de licenças. No seu entender, no passado, com o regime das concessões portuárias, pretendia-se a maximização das receitas das administrações portuárias, privilegiando o encaixe inicial e apostando na cobrança de rendas variáveis e fixas, mas de futuro Pedro Viegas Galvão recomenda “a maximização da competitividade da economia, maximizar volume, diluir custos fixos e ganhar massa crítica”. (ver texto ao lado). ■ RESULTADOS LÍQUIDOS Lucros dos cinco maiores portos portugueses de 2010 a 2014. Porto Leixões Sines Setúbal Lisboa 2010-2014 67,4 45,3 29,21 21,9 Aveiro 10 Fonte: Conselho Português de Carregadores (CPC), valores em milhões de euros “O dinheiro está a ser transferido dos portos para as Finanças” O presidente do Conselho Português de Carregadores defende que o modelo de concessões deve ser mudado para o de licenças. Os lucros e os impostos arrecadados pelas administrações portuárias não estão a ser reinvestidos na economia e no fomento do sector portuário e das actividades exportadoras, sendo transferidos directamente para os cofres do Ministério das Finanças. Esta é constatação de Pedro Viegas Galvão, presiden- ID: 63078057 11-02-2016 Tiragem: 6358 Pág: 19 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 26,00 x 29,37 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 2 de 2 Ana Brigida te do Conselho Português de Carregadores, que reúne algumas das maiores empresas exportadoras nacionais. Segundo as contas de Pedro Galvão, entre 2010 e 2014, por exemplo, a administração do porto de Leixões (APDL), registou lucros de 67,4 milhões de euros. A estes lucros, há que juntar os lucros dos concessionários que operam no porto nortenho, os quais superaram os 71 milhões de euros no período em análise. No conjunto, está-se a falar de 138,5 milhões de euros, sobre os quais o Ministério das Finanças cobrou 21,7 milhões de euros de IRC aos concessionários e 16,7 milhões de euros de IRC à própria APDL: um total de 38,4 milhões de euros. Além disso, o Estado, ainda através do Ministério das Finanças, recolheu ainda mais 22,8 milhões de euros em dividendos retirados à própria APDL entre 2010 e 2014. Ou seja, dos 138,5 milhões de euros de lucros conseguidos pela APDL e “ Defendemos que haja um ‘pass through’ [transferência] para a economia, em vez de ser como agora, em que se está a tirar dinheiro dos portos para o Ministério das Finanças. Pedro Galvão Presidente do Conselho Português de Carregadores pelos respectivos concessionários entre 210 e 2014, o Ministério das Finanças ‘capturou’ 61 milhões de euros em cobrança de IRC e dividendos. “O que nós defendemos é que haja um ‘pass through’ [transferência] para a economia, em vez de ser como agora, em que se está a tirar dinheiro dos portos para o Ministério das Finanças. A única forma de alterar o actual estado de coisas é as pessoas sentarem-se para negociar e tentar encontrar uma plataforma de entendimento. Se nas PPP rodoviárias se conseguiu, não vejo como é que nos portos não se consegue”, defendeu Pedro Viegas Galvão, em declarações ao Diário Económico. De acordo com o presidente do CPC, “em vez de os portos poderem ser o motor da economia, cobram taxas que depois transferem para o Ministério das Finanças”. “É preciso incentivar a economia, e não desincentivar. O trabalho que se tem de fazer para ganhar eficiência nos portos, está longe de estar concluído. É um processo contínuo. É preciso alterar o regime de concessões e reduzir os tarifários, o que era defendido pela ‘troika’”, alerta Pedro Galvão. “Não estamos a atacar as administrações portuárias. Reconhecemos que houve melhorias significativas nos últimos anos com o regime das concessões portuárias, mas a vida evolui. Tem de haver um ajustamento às novas regras”, garante este responsável ao Diário Económico. Para Pedro Galvão, “a situação financeira de todos os portos nacionais é muito saudável”. O presidente do CPC explica que “este regime de concessões foi lançado há cerca de 20 anos com o objectivo de maximizar as receitas das administrações portuárias porque era necessário que os próprios portos limpassem os seus passivos; e isso não só foi consegui- do, como também permitiu a rentabilidade dos concessionários, mas, nós, empresas exportadoras, estamos neste momento a lutar com muitas dificuldades para penetrar em mercados externos, em ganhar quotas”. Para Pedro Galvão, “esta transferência de dinheiro dos lucros dos portos, da economia, para o Ministério das Finanças, é mais uma taxa à exportação do que uma receita para maximizar o volume de cargas”. O presidente do CPC é contra o monopólio no sector; defende que deve haver, no mínimo, dois prestadores para cada serviço portuário; é adepto da transferência do regime de concessões para o de licenças, “onde não há barreiras à entrada nem à saída, podendo qualquer operador com licença funcionar”; e aguarda a redução das tarifas portuárias para beneficiar as exportações, a actividade portuária e a economia nacional. ■ N.M.S.