A insustentável leveza do ser – filosofia e ecologia The unbearable

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A insustentável leveza do ser – filosofia e ecologia
Renata MOLITZAS.¹
¹Mestranda em Ecologia na Universidade Santa Cecília – UNISANTA.
Resumo
O presente artigo se propõe a correlacionar períodos onde reflexões humanas acerca de sua
existência aproximaram a natureza, o ser humano, a espiritualidade e suas interações. A
filosofia e a ecologia são o fio condutor do trabalho identificando a base dos
questionamentos e desafios encontrados ao longo do processo histórico-cultural da
evolução humana.
Palavras-chave: Ecologia. Filosofia. Sustentabilidade. Histórico-filosófico da natureza.
The unbearable lightness of being - philosophy and ecology
Abstract
This article proposes to correlate periods where reflections on human existence approached
nature, the human being, spirituality and their interactions. The philosophy and ecology are
the thread of the work identifying the basis of the questions and challenges encountered
along the historical-cultural process of human evolution.
Keywords: Ecology. Philosophy. Sustainability. Philosophical-historical of nature.
Introdução
O ser humano desde os primórdios busca respostas para questões fundamentais acerca
de sua existência (ACOT, P.1990). Quem sou de onde vim, por que estou aqui, para onde vou.
Tais questionamentos, de acordo com o período histórico, obtiveram respostas diversas e
levaram o ser humano a outras reflexões. Esta busca pela explicação sobre as coisas, a vida, a
morte, fazem parte de uma característica presente na maioria de nossa espécie: curiosidade.
Somos movidos por desafios (GARDNER, H. 1999). O presente trabalho se propõe a destacar
ao longo do processo histórico-filosófico, períodos onde estas reflexões aproximaram a
natureza, o ser humano, a espiritualidade e suas interações (BERGSON, H. 2001). Trata-se,
portanto, de uma pesquisa reflexiva sobre a Filosofia e a Ecologia. Para tal, valeu-se de um
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levantamento bibliográfico horizontal ao longo desta linha de tempo. Similaridades foram
constatadas muitas vezes com séculos de diferença temporal.
Desenvolvimento
Aprender é a chave para a sobrevivência humana. Esta necessidade levou o ser
humano a buscar soluções para lidar com situações do dia-a-dia, como fome, sede, frio,
chuva. Desta forma o ser humano foi levado a desenvolver uma atitude de questionamento,
aprendizado e criatividade. E isto perdura ao longo de nossa história. Resolver problemas é a
capacidade que o ser humano desenvolve ao longo da vida para utilizar e reutilizar maneiras
de adaptação ao meio ambiente em que vive (REIGOTA, M. 1997). Neste contexto temos um
indivíduo com o olhar para o mundo externo com o propósito de compreendê-lo e utilizá-lo
em benefício próprio pelo bem de sua sobrevivência e de seus pares.
A filosofia é justamente isto: o estudo de problemas fundamentais relacionados à
existência, ao conhecimento, à verdade, aos valores morais e estéticos, à mente e à linguagem
(Wikipédia). O ser humano na sua vulnerabilidade diante do ambiente que o acolhe, mergulha
num universo intrapessoal e intercultural, social, ambiental. É neste momento que sua
fragilidade se mostra tornando-se, muitas vezes, insustentável diante da magnitude do cosmo,
da vida, da morte (RIECHMANN, J. 2000).
Ao voltarmos no tempo temos o homem das cavernas solucionando problemas diários
de sobrevivência de ordem primária: fome, sede, calor, frio. A partir daí, a única saída é
aprender a lidar com esse cotidiano de maneira eficaz. Paralelo a isso vem os questionamentos
sobre esta natureza muitas vezes ameaçadora. As respostas aparecem na forma de elementos
superiores, os deuses, os quais controlam e agem através desta natureza. Deus do fogo, das
tempestades, das águas, do sol. Deste homem primata damos um salto evolutivo e chegamos
ao homem na era clássica, tempo da filosofia antiga onde temos os pré-socráticos, dos quais
faço menção a Heráclito e Parmênidas. Ambos pensadores jônicos, no entanto, com posições
opostas acerca da natureza da vida. O primeiro acreditava que a origem da vida está no
elemento fogo, onde tudo se transforma, flui, muda: “jamais entramos no mesmo rio”. O
segundo, por outro lado diz que o ser é imutável em sua essência e, portanto, nada muda. Mas,
ambos fazem parte de uma mesma corrente que tem a natureza como explicação racional da
origem de tudo. Do mítico ao cosmológico onde a filosofia se ocupa da origem do mundo e
das causas de todas as transformações da natureza (LENOBLE, R. 1990). Aqui é o início da
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separação da ideia de que os deuses tomam conta de tudo. Em seguida temos o também présocrático Demócrito de Abdera que diz “o mundo é composto por uma minúscula partícula, a
menor partícula existente em todos os elementos, invisível a olho nu: o átomo”. Até o século
XIX ficaremos com a ideia do átomo para então, a comunidade científica trazer ao
conhecimento de todos, partículas subatômicas como fótons, elétrons, mais recentemente,
quark e antiquark como menor partícula indivisível. E não é só: antes mesmo de Demócrito,
tivemos Anaximandro de Mileto, jônico, que diz ”todos os elementos são englobados por um
elemento comum: apeiron. Tudo surge dele e depois retorna a ele”. Séculos depois, teremos
Einstein dizendo “a matéria não pode ser criada nem destruída, ela simplesmente existe”.
Como se a ideia do pensador pré-socrático precedesse o entender do Pai da Relatividade. Ao
longo do processo podemos, portanto, identificar a presença e a necessidade de compreensão
e relação com o meio ambiente, com a natureza e suas demandas.
O indivíduo se estabelece à medida que se adapta a essa natureza e sua presença e
percepção deste entorno, também resultam em consequências muitas vezes desastrosas para
esse ambiente. Através dos tempos, na medida em que a ciência se afasta da filosofia, sua
abordagem à natureza torna-se basicamente vertical, onde o ser humano impera absoluto
sobre todas as coisas. É exatamente esta postura, evolutivamente necessária até para
acompanhar as necessidades das civilizações, que torna a ciência distante dos
questionamentos filosóficos, míticos e poéticos acerca da vida no planeta.
O fato é que observamos paulatinamente o retorno à reflexão sobre sua natureza
intrínseca bem como extrínseca, ambiental. Esta reflexão perpassa pelo indivíduo,
coletividade e meio ambiente (LATOUR, B. 2004). A ideia do ecologicamente correto,
eticamente responsável, sustentável, traz a reflexão da comunidade científica e civil
novamente ao plano horizontal das multidisciplinaridades, onde vários conhecimentos se
somam para resolver demandas urgentes da sociedade contemporânea (GUATTARI, F. 1997).
O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer
a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa
possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de
desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo
tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais.
Conclusão
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A partir do presente trabalho podemos observar o caminho evolutivo processual da
história filosófico científica do ser humano. Ele avança, retoma, revisita e transcende o
conhecimento, sempre num contínuo de aprendizado voltado para resoluções de problemas
efetivos da vida em sociedade, muitas vezes causados por ele mesmo (LEFF, E. 2001). Faz-se
necessária a continuidade de pesquisas científicas que oportunizem resoluções eficazes de
manejo, conservação e sustentabilidade para tornar possível a vida na terra hoje, sem
comprometer populações futuras.
Referências
ACOT, P. História da Ecologia. São Paulo, Campus, 1990.
BERGSON, Henri. A evolução criadora. Lisboa: Edições 70, 2001.
GARDNER, H. Mentes que criam (1996) Artmed, 1996.
_____________Inteligência, a - um conceito reformulado. Objetiva, 1999.
GUATTARI, Félix. As três ecologias. Campinas: Papirus, 1997.
LATOUR, Bruno. Políticas da natureza – como fazer ciência na democracia. Bauru:
Edusc, 2004.
LEFF, Enrique. Saber ambiental – sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder.
Petrópolis: Vozes, 2001.
LENOBLE, Robert. História da ideia de natureza. Lisboa: Edições 70, 1990.
REIGOTA, Marcos. Meio ambiente e representação social. São Paulo: Cortez, 1997.
RIECHMANN, Jorge. Un mundo vulnerable – ensayos sobre ecologia, ética y
tecnociencia. Madrid: Catarata, 2000.
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