pH DO CONTEÚDO ESTOMACAL, INTESTINAL E CECAL DE

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pH DO CONTEÚDO ESTOMACAL, INTESTINAL E CECAL DE LEITÕES ALIMENTADOS COM
RAÇÕES CONTENDO ANACARDATO DE CÁLCIO COMO PROMOTOR DE CRESCIMENTO
ALTERNATIVO1
JULIANA M. MELO2*, PEDRO H. WATANABE3, AMANDA V. S. MATOS4, LUIZ E. CARVALHO3,
VIRGINIA M. LIMA2, ALINI M. VEIRA2, CAMILA A. PORTELA2, LEANDRO L. MOREIRA2
1
Parte do trabalho de iniciação científica do primeiro autor.
Graduanda em Zootecnia - UFC, Fortaleza, CE
3
Professor do Departamento de Zootecnia - CCA/UFC, Fortaleza, CE.
4
Mestre em Zootecnia - UFC, Fortaleza, CE
*Autor apresentador.
2
Resumo: Foi realizado um experimento com o objetivo de avaliar a utilização de anacardato de cálcio como
promotor de crescimento alternativo, sobre o pH do conteúdo estomacal, intestinal e cecal de leitões. Foram
utilizados 60 leitões, distribuídos em blocos ao acaso, com cinco tratamentos: tratamento sem promotor de
crescimento, tratamento com antibiótico promotor de crescimento (APC) e tratamentos com inclusão de 0,4, 0,8
e 1,2% de anacardato de cálcio, com seis repetições por tratamento, considerando a gaiola contendo 2 animais
como unidade experimental. Aos 42 dias de idade, um animal por gaiola foi abatido, para avaliar o pH dos
conteúdos do estômago, intestino delgado e ceco. Para avaliação do pH estomacal e intestinal, não foram
observadas diferenças significativas (P>0,05) entre os tratamentos. Os valores de pH cecal foram maiores
(P<0,05) para os animais alimentados com ração sem adição de promotor de crescimento. O anacardato de
cálcio pode ser um substituto aos antibióticos promotores de crescimento em rações para leitões na fase de
creche.
Palavras-chave: ácido anacárdico, ácidos orgânicos; pós-desmame; suínos
pH OF STOMACH, INTESTINE AND CECUM CONTENT OF PIGLETS FED DIETS CONTAINING
CALCIUM ANACARDATE AS ALTERNATIVE GROWTH PROMOTER
Abstract: An essay was carried out to evaluate the use of calcium anacardate as alternative growth promoter
regarding pH of stomach, intestine and cecum content of piglets. A total of 60 piglets were distributed in a
randomized blocks with five treatments: without growth promoter, treatment with antibiotic growth promoter
(AGP) and treatments with inclusion of 0.4, 0.8 and 1.2% of calcium anacardate, with six replicates per
treatment, considering the pen with 2 animals as experimental unit. At 42 days of age, one animal per pen was
slaughtered to evaluate the pH of stomach, small intestine and cecum content. Evaluating pH of stomach and
small intestine, no differences were observed among treatments (P>0.05). The values of pH on cecum content
were higher (P<0.05) in animals fed diet without growth promoter. Calcium anacardate can be a substitute to
antibiotics growth promoters in diets for piglets at nursery phase.
Keywords: anacardic acid; organic acids; post-weaning; pigs
Introdução
Mudanças importantes no sistema de produção da carne suína, como a restrição ou banimento total do uso
de antibióticos promotores de crescimento (APC) na produção, têm estimulado a busca por substâncias
alternativas, tendo em vista o modo de ação e níveis de inclusão destes aditivos (ZANGERÔNIMO et al., 2011).
Considerando as diversas substâncias consideradas como alternativas aos APC, destacam-se os ácidos orgânicos,
cuja suplementação com esses ácidos ou seus sais tem sido utilizada para reduzir a frequência de diarreia pósdesmame e melhorar o desempenho em leitões (KNARREBORG et al., 2002). Dentre os diversos ácidos
orgânicos, destaca-se o ácido anacárdico, composto fenólico encontrado nas diversas partes do cajueiro
(Anacardium occidentale L.) e que apresenta atividade inibidora seletiva contra bactérias gram positivas (KUBO
et al., 2003). A utilização do ácido anacárdico pode ser utilizado sob a forma de anacardato de cálcio (AC),
produto da precipitação do líquido da castanha de caju com hidróxido de cálcio, formando sais de cálcio,
possibilitando uma melhor utilização em rações devido a sua apresentação em pó. Por se tratar de um sal com
potencial tamponante, ainda não se conhece os efeitos do AC sobre o pH do conteúdo gastrintestinal, dessa
forma o objetivo do trabalho foi avaliar os efeitos da utilização do AC como promotor de crescimento alternativo
em rações, quanto o pH do conteúdo estomacal, intestinal e cecal de leitões na fase de creche.
Material e Métodos
Para obtenção do anacardato de cálcio (AC), primeiramente foi obtido o líquido da castanha de caju, a
partir do aquecimento das castanhas de caju em forno elétrico (120 o C por 70 minutos). O AC foi obtido
utilizando-se 550 mL de líquido da castanha de caju, 150 mL de água destilada, 2850 mL de etanol e 250 g de
hidróxido de cálcio sob agitação por 4h e aquecimento (50ºC), ao final formando um sal de cálcio de cálcio,
sendo este filtrado e seco em estufa de ventilação forçada a 55 o C por 72 horas. Para o ensaio de desempenho,
foram utilizados um total de 60 leitões desmamados aos 21 dias de idade, distribuídos entre cinco tratamentos,
ração sem adição de promotor de crescimento (CN); ração com adição de APC (bacitracina de zinco) (CP); ração
com de 0,4% de anacardato de cálcio (AC 0,4%); ração com 0,8% de AC (AC 0,8%) e ração com 1,2% de AC
(AC 1,2%), em um delineamento em blocos ao acaso, com seis repetições por tratamento, considerando a
unidade experimental de dois animais por gaiola. As rações experimentais foram formuladas para as fases I (21 a
32 dias) e II (33 a 42 dias), considerando-se os valores da composição química dos alimentos e das exigências
nutricionais dos leitões para o período de creche, de acordo com as recomendações de Rostagno et al. (2011),
sendo isonutritivas e isoenergéticas para cada fase. Aos 42 dias de idade um animal de cada repetição foi
eutanasiado, sendo o abate realizado mediante insensibilização por choque elétrico e sangramento, para avaliar o
pH dos conteúdos do estômago, intestino delgado e ceco. Imediatamente após o abate, foram retirados os
conteúdos do estômago, intestino delgado e ceco, colocados separadamente em recipientes plásticos para
determinação do pH, com auxílio de peagâmetro digital. Para as análises estatísticas, utilizou-se o programa
estatístico SAS, sendo as médias comparadas pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.
Resultados e Discussão
Para avaliação do pH estomacal e intestinal, não foram observadas diferenças significativas (P>0,05)
entre os tratamentos (Tabela 1). Sabe-se que o estômago deve apresentar pH de 2,0 a 3,5, uma vez que essa
acidez desempenha funções importantes, como a formação de barreira bacteriana para proteção do intestino
delgado contra a entrada de microrganismos patogênicos e promover um pH adequado para a ação da pepsina.
Tabela 1. Valores de pH estomacal, intestinal e cecal de leitões alimentados com ou sem APC e diferentes níveis
de AC.
Tratamentos¹
CN
CP
AC 0,4%
AC 0,8%
AC 1,2%
CV (%)²
Valor de P
Variáveis
pH estômago
3,14
3,28
3,63
3,54
3,67
28,71
0,8975
pH intestino
5,86
6,07
6,14
6,37
6,67
8,00
0,0368
pH ceco
5,88ᴬ
5,23ᴮ
5,38ᴮ
5,38ᴮ
5,36ᴮ
5,89
0,0147
¹ CN (controle negativo), CP (controle positivo), AC 0,4% (0,4% de anacardato de cálcio), AC 0,8% (0,8% de
anacardato de cálcio), AC 1,2% (1,2% de anacardato de cálcio). ² Coeficiente de variação. Médias seguidas de
letras maiúsculas diferentes na linha diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.
Os valores de pH cecal foram maiores (P<0,05) para os animais pertencentes ao tratamento sem adição
de promotor de crescimento. Os microrganismos presentes no ceco realizam fermentação microbiana e
produzem ácidos graxos voláteis (AGV), que por sua vez controlam o pH cecal. A produção de AGV e a
fermentação microbiana são proporcionais a quantidade de microrganismos existentes no trato intestinal (LUI et
al., 2005). Dessa forma, uma produção excessiva de AGV pode refletir em uma redução de pH cecal, e em
contrapartida durante o período de produção ativa de AGV, grande quantidade de água proveniente do sangue
entra no intestino grosso atravessando a mucosa, em virtude da produção de moléculas de AGV osmoticamente
ativas. Esta secreção de líquido pela mucosa em resposta ao aumento de AGV, em combinação às secreções do
íleo, é responsável pelo tamponamento do conteúdo do lúmen, tornando o conteúdo cecal mais alcalino.
A suplementação de anacardato de cálcio nas rações (0,4; 0,8 e 1,2%) demonstrou resultados
satisfatórios entre as variáveis analisadas. A constante de dissociação (pK) do ácido define a proporção entre as
formas protonada (AH) e desprotonada (A⁻) em um dado valor de pH e dessa forma um pH abaixo do pK do
ácido, garante dissociação do sal e liberação do princípio ativo. Dessa forma, como o pK do ácido anacárdico é
entre 4 e 5 e os valores de pH gástrico observados estavam abaixo desses valores, havia condições necessárias
para dissociação do sal, mesmo apresentando níveis elevados de cálcio em sua composição, com maior potencial
tamponante na ração. Dessa forma, a dissociação do princípio ativo do anacardato de cálcio, garantiu efeitos
positivos da sua inclusão nas rações para leitões até os 42 dias de idade.
Conclusões
Considerando o seu potencial de dissociação, o anacardato de cálcio pode ser um substituto aos
antibióticos promotores de crescimento em rações para leitões na fase de creche.
Referências
KNARREBORG, A.; MIQUEL, N.; GRANLI, T.; JENSEN, B.B. Establishment and application of an in vitro
methodology to study the effects of organic acids on coliform and lactic acid bacteria in the proximal part of the
gastrointestinal tract of piglets. Animal Feed Science and Technology, v.99, p.131–140, 2002.
KUBO, I; NIHEI, K.I.; TSUJIMOTO, K. Antibacterial action of anacardic acids against methicillin resistant
Staphylococcus aureus (MRSA). Journal of Agricultural and Food Chemistry, v.51, p.7624-7628, 2003.
LUI, J.F.; OLIVEIRA, M.C.; CAIRES, D.R.; CANCHERINI, L.C. Desempenho, rendimento de carcaça e ph
cecal de coelhos Em crescimento alimentados com dietas contendo níveis de probiótico. Ciência Animal
Brasileira. v. 6, n. 2, p. 87-93, 2005.
ROSTAGNO, H.S; ALBINO, L.F.T.; DONZELE, J.L.; GOMES, P. C.; OLIVEIRA, R.F.; LOPES, D.C.;
FERREIRA, A.S.; BARRETO, S.L.T.; EUCLIDES, R.F. Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos.
Composição de Alimentos e Exigências Nutricionais. 3ed. Viçosa: UFV/DZO, 2011. 186p.
ZANGERONIMO, M.G.; CANTARELLI, V.S.; FIALHO, E.T.; AMARAL, N.O.; SILVEIRA, H.; PEREIRA,
L.M.; PEREIRA, L.J. Herbal extracts and symbiotic mixture replacing antibiotics in piglets at the initial phase.
Revista Brasileira de Zootecnia. v.40, n.5, p.1045-1051, 2011.
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