Direcção-Geral da Saúde

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Ministério da Saúde
Direcção-Geral da Saúde
Assunto:
Para:
Contacto na DGS:
Circular Informativa
GRIPE: VACINAÇÃO CONTRA A GRIPE em 2005/2006
Nº: 48/DT
DATA: 19/09/05
Todos os médicos e enfermeiros dos serviços dependentes do Ministério
da Saúde e dos sub-sistemas de saúde
Dr.ª Maria da Graça Freitas
Andrade
Contacto no INSA: Dr.ª Helena Rebelo de
Destaques para a época da gripe 2005/2006:
•
A quota de vacinas atribuída a cada país é limitada;
•
A vacina apenas protege contra a infecção pelas estirpes do vírus
influenza responsáveis, em cada ano, pelas epidemias de gripe humana;
•
A vacina não protege contra a infecção pelo vírus influenza A(H5N1),
responsável pela actual epidemia em aves, nem contra qualquer outra
estirpe deste vírus;
•
A vacina deve ser prioritariamente prescrita às pessoas que mais dela
beneficiam, de acordo com os critérios definidos na presente circular;
•
A vacina deve ser administrada em Outubro;
•
Os principais objectivos da vacinação para 2005/2006 são:
o Aumentar a cobertura vacinal dos grupos de risco;
o Vacinar o pessoal dos serviços de saúde que tenha contacto
directo com pessoas dos grupos de risco.
1. Introdução
A gripe é uma doença viral aguda causada pelo vírus influenza do qual se
conhecem 3 tipos – A, B e C. Apenas os vírus A e B causam doença com impacte
significativo na saúde pública. O vírus influenza A sofre variações antigénicas mais
frequentes que o vírus do tipo B e é o principal responsável pelas epidemias mais
alargadas, incluindo as pandemias.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), durante as epidemias anuais de
gripe, 5 a 15% da população é afectada por infecções do tracto respiratório.
O vírus é transmitido aos indivíduos susceptíveis através das secreções respiratórias
e tem um período de incubação médio de 2 dias (1 a 5 dias). A doença dissemina-se
rapidamente entre a população, particularmente em condições de maior
aglomeração.
O período de transmissão decorre desde 1 a 2 dias antes do aparecimento dos
sintomas até 7 dias depois. Apesar de não se considerar que haja estado de
portador, as crianças mais pequenas e os imunodeprimidos tendem a eliminar o
vírus durante períodos mais longos.
1
A infecção atinge todos os grupos etários. No entanto, são os indivíduos com idade
superior a 65 anos e as pessoas com patologia crónica subjacente que apresentam
maior morbilidade e letalidade, por agravamento da doença pré-existente e/ou
pneumonia. A complicação mais frequente da gripe é a sobreinfecção bacteriana
(por Streptococcus pneumoniæ, Haemophilus influenzæ ou Staphylococcus aureus)
e é mais frequente nos grupos de risco, podendo justificar-se ponderar, caso a caso,
a administração da vacina contra Streptococcus pneumoniæ. A pneumonia por vírus
influenza é menos frequente mas tem uma elevada letalidade.
O diagnóstico definitivo da gripe baseia-se no isolamento do vírus e/ou na
identificação do genoma viral.
2. Vigilância epidemiológica
Devido à grande variabilidade antigénica que este vírus apresenta, a identificação
das estirpes circulantes em cada ano é fundamental para a vigilância epidemiológica
da gripe e consequente conhecimento da epidemiologia da doença. A OMS gere um
sistema de vigilância global que assegura uma informação genética e antigénica
actualizada dos vírus em circulação.
Esta informação é fundamental para a recomendação anual sobre a composição
apropriada da vacina a ser comercializada em cada época de gripe, que se inicia, no
Hemisfério Norte, habitualmente em Setembro/Outubro e termina em Março/Abril do
ano seguinte.
Em Portugal, a Vigilância Epidemiológica da doença está a cargo do Centro Nacional
da Gripe (CNG) e do Observatório Nacional de Saúde (ONSA), do Instituto Nacional
de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA).
A partir de 1990, a colaboração com a Rede Médicos-Sentinela e desde 1999 com
os Serviços de Urgência Sentinela, tornou possível assegurar e aperfeiçoar esta
vigilância através da caracterização clínica, epidemiológica e laboratorial da doença.
Qualquer médico que detecte casos suspeitos de gripe, em particular no decurso de
um surto, pode contactar o Centro Nacional da Gripe (telefones: 21 752 64 55; fax:
21 759 04 41) para efeitos de diagnóstico laboratorial ou outros esclarecimentos ou a
Linha Saúde Pública (808 211 311).
3. Vacinação
A vacinação anual contra a gripe é a melhor forma de prevenir a doença e reduzir o
impacte das epidemias.
Em Portugal, desde 1989, são conhecidas estimativas da percentagem de indivíduos
que declararam estar vacinados contra a gripe. Estas estimativas revelam que, para
a população em geral nas épocas de 2003/2004 e 2004/2005, as percentagens de
vacinados foram respectivamente de 18,4 e 15,4%, sendo de 47 e 39% nos
indivíduos com 65 e mais anos.
É prioritário aumentar a cobertura vacinal nos grupos de risco.
As vacinas licenciadas são eficazes e seguras, reduzindo a incidência da doença e
ainda a gravidade e a letalidade entre os idosos e doentes crónicos.
2
3.1 A vacina
A OMS recomenda que, para a época de 2005-2006 no Hemisfério Norte, as vacinas
trivalentes contra a gripe contenham estirpes virais idênticas a:
A/New Caledonia/20/99(H1N1)
A/Califórnia/7/2004(H3N2)1
B/Shangai/361/20022
As vacinas contra a gripe disponíveis em Portugal são inactivadas. Uma das vacinas
contém tiomersal3 e todas usam como meio de cultura o ovo embrionado. (Ver 3.7
Vacinas disponíveis)
A eficácia das vacinas é variável de ano para ano e depende do grau de
concordância antigénica entre as estirpes contidas na vacina e as estirpes que
provocam a epidemia, e da idade e imunocompetência da pessoa vacinada.
Segundo a OMS, a vacinação da população idosa reduz a morbilidade associada à
gripe em 60% e a letalidade em 70 a 80%. Nos adultos saudáveis, a vacina reduz a
morbilidade em 70 a 90%.
Após a vacinação o nível de anticorpos que confere protecção é atingido,
geralmente, ao fim de 2 semanas (embora na primovacinação em crianças possa ser
um pouco mais longo) e persiste por um período inferior a 1 ano. Nos idosos, os
níveis de anticorpos podem descer abaixo do nível de protecção em 4 meses. Como
o pico da actividade gripal em Portugal tem ocorrido entre Novembro e Fevereiro, a
vacina, principalmente nos idosos e imunodeprimidos, deve ser administrada em
Outubro.
A vacina anual contra a gripe apenas protege contra a infecção pelo vírus da gripe
humana.
Esta vacina não protege contra a infecção pelo vírus influenza A(H5N1), responsável
pela actual epizootia em aves, nem contra qualquer outra estirpe do vírus H5N1.
A quota de vacinas atribuída a cada país é limitada pelo que a prescrição
indiscriminada irá comprometer a disponibilidade de vacinas para os grupos
populacionais que mais dela beneficiariam e que são referidos nesta circular.
3.2 Recomendações para vacinar contra a gripe
Na época 2005/06, em consonância com as orientações emanadas pela OMS,
pretende-se aumentar a cobertura vacinal nos grupos de risco e nos profissionais de
saúde.
A vacina é administrada anualmente, preferencialmente em Outubro.
Assim, recomenda-se fortemente a vacinação:
a) às pessoas consideradas com alto risco de desenvolver complicações pósinfecção gripal:
•
Pessoas com 65 ou mais anos de idade, particularmente se residentes em lares
ou outras instituições;
1
A estirpe A/New York/55/2004 é considerada idêntica a A/Califórnia/7/2004.
As estirpes B/Jiangsu/10/2003 e B/Jilin/20/2003 são consideradas semelhantes a B/Shanghai/361/2002.
3
A Circular 052/CA de 18/05/2004 do INFARMED sobre a utilização de tiomersal em vacinas de uso humano
está disponível no INFARMED (http://www.infarmed.pt/pt/alertas/seguranca/19_05_04_Circular_052.pdf).
2
3
•
Pessoas residentes ou com internamentos prolongados em instituições
prestadoras de cuidados de saúde, independentemente da idade (ex:
deficientes, centros de reabilitação);
•
Pessoas sem-abrigo;
•
Todas as pessoas com idade superior a 6 meses, incluindo grávidas em
qualquer fase da gravidez e mulheres a amamentar, que sofram das seguintes
patologias:
o
Doenças crónicas cardíacas, renais, hepáticas, pulmonares
(incluindo asma) ou neuromusculares (com risco de aspiração);
o
Doenças metabólicas (Diabetes mellitus);
o
Outras situações que provoquem depressão do sistema imunitário,
por medicação (ex: corticoterapia prolongada ou quimioterapia) ou
doença (ex: infecção pelo vírus da imunodeficiência humana e
cancro);
•
Crianças e adolescentes (6 meses – 18 anos) em terapêutica prolongada com
salicilatos e, portanto, em risco de desenvolver a síndroma de Reye após a
gripe;
•
Grávidas que, em Outubro, estejam no 2º ou 3º trimestre da gravidez.
b) às pessoas com risco acrescido de contrair a doença ou que podem
transmitir o vírus a outras consideradas de alto risco (mesmo que estas
tenham sido vacinadas):
•
Pessoal dos serviços de saúde e de outros serviços com contacto directo com
pessoas de alto risco;
•
Coabitantes de pessoas de alto risco;
•
Coabitantes de crianças com menos de 6 meses de idade que tenham risco
elevado de desenvolver complicações;
•
Pessoas que prestam cuidados (domiciliários ou em instituições) a pessoas de
alto risco.
c) aos profissionais que possam vir a estar envolvidos em operações de
abate sanitário de aves infectadas com vírus influenza
Recomenda-se a vacinação com a vacina contra a gripe humana por vírus
influenza, no período recomendado, para reduzir o risco teórico potencial de
recombinação genética do vírus por co-infecção com o vírus da gripe aviária e
humana.
Pode ser ponderada a vacinação de outras pessoas ou grupos que, por analogia
com os acima mencionados, se considerem em igual risco de contrair e/ou
transmitir a gripe.
A vacina pode ainda ser administrada no decurso de um surto, sendo de considerar
o complemento com a quimioprofilaxia durante 2 semanas (até à obtenção de
anticorpos protectores).
Os encargos resultantes da vacinação dos profissionais de saúde ou de outros
serviços, cujo risco advenha da sua actividade profissional, são da
responsabilidade da respectiva entidade empregadora (pública ou privada), de
acordo com a legislação em vigor.
4
3.3 Posologia
•
Crianças dos 6 aos 35 meses1: 0,25 mL.
•
Adultos e crianças acima de 36 meses de idade1: 0,5 mL.
•
Não se recomenda a vacinação em crianças com idade inferior a 6 meses.
•
Nas pessoas com idade igual ou superior a 9 anos só se recomenda a
administração de 1 dose.
•
Em crianças com idade inferior a 9 anos que não tenham sido vacinadas
previamente, devem ser administradas duas doses com o intervalo de, pelo
menos, 4 semanas, recomendando-se que a 2ª dose seja administrada antes
de Dezembro.
As vacinas comercializadas apresentam-se sob a forma de uma seringa précarregada.
3.4 Modo de administração
•
A vacina deve ser administrada por via intramuscular (ou subcutânea profunda
– excepto no caso da vacina Fluad, que deve ser administrada
exclusivamente por via intramuscular), recomendando-se a região deltóide, ou a
região antero-lateral da coxa nas crianças com idade inferior a 12 meses.
•
A vacina contra a gripe pode ser administrada em simultâneo com as vacinas
incluídas no PNV, desde que em locais anatómicos diferentes.
3.5 Contra-indicações
As contra-indicações à vacina contra a gripe são:
•
Antecedentes de uma reacção grave a uma dose anterior da vacina;
•
Hipersensibilidade aos componentes da vacina, nomeadamente aos excipientes
e às proteínas do ovo (Ver 3.7 Vacinas disponíveis);
•
Antecedentes de Síndroma de Guillain-Barré (SGB) nas 6 semanas seguintes a
uma dose anterior da vacina são considerados uma contra-indicação relativa.
Face ao risco da doença, a necessidade de vacinar deve ser seriamente
ponderada nos indivíduos de alto risco.
O conteúdo desta Circular não substitui a consulta dos respectivos Resumos das
Características do Medicamento (RCM).
3.6 Reacções adversas
A vacinação contra a gripe não provoca a doença porque as vacinas actualmente
comercializadas na União Europeia não contêm vírus vivos.
A reacção mais frequente é o endurecimento no local da inoculação. Podem
também ocorrer febre, mal-estar e mialgias 6 a 12 horas após a vacinação com
duração de 1 a 2 dias.
As reacções alérgicas são raras e são provavelmente consequência de
hipersensibilidade a um componente da vacina.
1
Excepto no caso de Fluad que é recomendada apenas para indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos.
5
A hipótese de relação causal entre a vacina contra a gripe e o aparecimento da
Síndroma de Guillain-Barré (SGB) surgiu em 1976, aquando da utilização de uma
vacina contra a gripe porcina. Em estudos conduzidos posteriormente concluiu-se
que os dados são insuficientes para confirmar ou infirmar a existência de uma
relação causal entre a SGB e as vacinas contra a gripe utilizadas desde então.
A Síndroma oculo-respiratória foi descrita nas 24 horas após a vacinação e inclui
conjuntivite bilateral e/ou sintomas respiratórios (tosse, pieira, opressão torácica,
dispneia, disfagia, rouquidão, odinofagia) e /ou edema facial.
3.7 Vacinas disponíveis
Apresentam-se as vacinas comercializadas em Portugal em 2005/2006, com
informação sobre a sua composição antigénica e contra-indicações constantes nos
respectivos RCM.
Nome comercial
Fluad®∗
Fluarix®
Inflexal V®
Influvac 2005®
Istivac®
Istivac infantil®
Composição antigénica
Contra-indicações
Hipersensibilidade a:
Antigénio de superfície Ovos ou proteínas de galinha
Sulfato de neomicina
Canamicina
Formaldeído
Brometo de cetiltrimetilamónia
Ovos ou proteínas de galinha
Vírus fraccionado
Formaldeído
Tiomersal
Sulfato de gentamicina
Deoxicolato de sódio
Antigénio de superfície Ovos ou proteínas de galinha
Polimixina B
Neomicina
Antigénio de superfície Ovos ou proteínas de galinha
Formaldeído
Brometo de cetiltrimetilamónia
Polissorbato 80
Gentamicina
Ovos ou proteínas de galinha
Vírus fraccionado
Neomicina
Formaldeído
Octoxinol-9
Vírus fraccionado
∗ - Recomendada apenas para indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos
Fonte: INFARMED e Resumos das Características do Medicamento em vigor
E-mail: [email protected]
Telefone 21 798 73 73
Fax 21 798 73 16
6
Bibliografia
Canada, National Advisory Committee on Immunization. Statement on Influenza Vaccination for the
2005-2006 season. CCDR 2005; 31(ACS-6):1-32 (http://www.phac-aspc.gc.ca/publicat/ccdrrmtc/05pdf/acs-dcc3106.pdf)
EUA, Centers for Disease Control and Prevention, Prevention and Control of Influenza:
recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). MMWR 2005; 54
(RR-8); 1-40 (http://www.cdc.gov/mmwr/pdf/rr/rr5408.pdf)
Observatório Nacional de Saúde. Vacinação anti-gripal: estudo da cobertura da população portuguesa
de 1998/1999 a 2002/2003. Estudo na amostra ECOS. 2003
(http://www.onsa.pt/conteu/estudos/estud_vacina-anti-gripal_onsa.pdf)
Organização Mundial de Saúde, Influenza fact sheet. WER 2003, nº 11, 78, 77-80
(http://www.who.int/docstore/wer/pdf/2002/wer7728.pdf)
Organização Mundial de Saúde, Recommended Composition of influenza virus vaccine for use in the
2005-2006 influenza season. WER 2005, nº 8, 71-76 (http://www.who.int/wer/2005/wer8008.pdf)
Organização Mundial de Saúde, Influenza Vaccines, WHO position paper. WER, nº 28, 2002, 77, 230239
(http://www.who.int/docstore/wer/pdf/2002/wer7728.pdf)
Organização Mundial de Saúde, Influenza Vaccines. WER, nº 35, 2000, 75, 281-288
(http://www.who.int/docstore/wer/pdf/2000/wer7535.pdf)
Reino Unido, Department of Health. The influenza immunization programme. July 2005
(http://www.dh.gov.uk/assetRoot/04/11/65/24/04116524.pdf)
A DGS agradece ao INSA e ao INFARMED a colaboração prestada para elaborar a presente
Circular, bem como aos peritos:
Adelaide Meneses, Direcção-Geral da Saúde
Ana Leça, Hospital D. Estefânia
António Diniz, Sociedade Portuguesa de Pneumologia
Beatriz Pieroni Calado, Direcção-Geral da Saúde
Filipe Froes, Sociedade Portuguesa de Pneumologia
Guilherme Gonçalves, Instituto Gulbenkian de Ciência
Helena Rebelo de Andrade, Centro Nacional da Gripe, INSA
Isabel Marinho Falcão, Rede Médicos-Sentinela, Observatório Nacional de Saúde, INSA
Kamal Mansinho, Hospital de Egas Moniz
Luís Almeida Santos, Hospital de São João
Paula Maria Valente, Centro de Saúde de Redondo
Paula Valente, Hospital de Santa Maria
Rosangela Garcia, Serviço de Informação, Medicamentos e Gravidez (SIMeG)
Revogada a Circular Informativa n.º 59/DT de 01/10/2004
Esta Circular está disponível na Internet: http://www.dgsaude.pt
O Director-Geral da Saúde
Francisco George
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