dinâmica tecnológica e ambiente seletivo em genética de

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DINÂMICA TECNOLÓGICA E AMBIENTE SELETIVO EM GENÉTICA DE
SUÍNOS
Júlio Eduardo Rohenkohl 1
Orlando Martinelli Júnior
Resumo: O artigo discute elementos do sistema tecnológico do desenvolvimento genético
de suínos – especialmente as trajetórias tecnológicas e os atributos do ambiente seletivo,
tais como os aspectos regulatórios e organizacionais -. O texto também identifica as
mudanças recentes nas configurações tecnológicas e organizacionais no segmento,
destacando os fluxos de informações tecnológicas/científicas.
Palavras-chave: tecnologia, ambiente seletivo, genética suína.
Abstract: The article discusses the swine genetics technological system – particularly the
technological trajectories and the selective environmental attributes, like the regulatory and
organizational aspects -. Recent changes in the technological and organizational
configurations of the swine genetics industrial segment are identified, given especial
attention to the technological/scientific information flows.
Key words. Technology, selective environmental, swine genetics
JEL: L79, O12.
1 INTRODUÇÃO
A dinâmica tecnológica tem uma natureza intrinsecamente sistêmica, cujas
dimensões econômicas, científicas, sociais e institucionais são as mais relevantes. Longe de
ser apenas explicada pelo avanço do conhecimento científico e/ou pelas mudanças nas
necessidades subjetivas de consumidores, o curso da inovação perpassa diversas etapas,
interagindo com diversos ambientes e loci seletivos. Destacam-se, por exemplo, o plano da
ciência – e da geração de conhecimento científico –, o dos aspectos judiciais e regulatórios,
o da esfera produtiva e estratégica das firmas, e o dos atributos lato sensu que compõem o
mercado.
Em setores agroalimentares, essas dimensões são particularmente importantes.
Além das trajetórias tecnológicas, das variantes de comportamento das firmas no ambiente
concorrencial, torna-se fundamental considerar também os aspectos cognitivos e subjetivos
dos consumidores – cujos limites são históricos e inerentemente vinculados a valores sócioculturais mais estáveis –, bem como os aspectos institucionais normativos – sejam os
formais (e.g. a evolução da legislação sobre práticas sanitárias), e/ou os informais (e.g.
convenção social sobre o padrão de consumo ao longo do tempo) -. Esses determinantes
consubstanciam-se em dois aspectos da inovação nos setores agroalimentares. O primeiro é
que não se observa a introdução exitosa de um grande número de produtos finais
radicalmente diferenciados em seus atributos mais importantes. A inovação em produtos é
claramente do tipo incremental. O segundo, atrelado ao anterior, é que devido à progressiva
incorporação de tecnologias genéricas nesses setores, observa-se a progressiva segmentação
das etapas produtivas de transformação industrial e, concomitantemente, o processo de
“decommoditização” do produto primário – ou artefato básico -. Isso implica uma trajetória
de maior diferenciação qualitativa do próprio produto primário, bem como do processado.
Em ambos ampliam-se, portanto, as possibilidades de agregação de valor no mercado, seja
no mercado final, ou mesmo no intermediário. (EYMARD-DUVERNAY, 1989 e 1995;
1
Professores do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Santa Maria.
2
CHEVASSUS-LOZZA E GALLEZOT, 1995; ANDERSEN, 2000; PESSANHA E
WILKINSON, 2003; FURTADO, 2004)
Nessa perspectiva, um caso interessante a ser analisado é o da suinicultura, cujo
processo de “decommoditização” do “produto primário” – o animal e sua carne –, é cada
vez mais evidente, especialmente pela incorporação de insumos tecnológicos mais
intensivos e complexos. No plano do mercado, isso tem se traduzido na maior segmentação
dos mercados (do produto primário e do processado), bem como na maior complexidade
dos elementos competitivos neles presentes. A tendência é de realçar as vantagens da
capacitação tecnológica dinâmica em detrimento das vantagens concentradas na base
produtiva primária.
Como se sabe, a indústria suinícola brasileira tem se destacado no âmbito
internacional 2 . Esse bom desempenho, porém, não está necessariamente garantido no
futuro. Além das barreiras não-tarifárias, bastante presentes no comércio internacional de
carnes em geral – inclusive na suína –, é preciso destacar a importância competitiva
crescente de fatores tecnológicos mais complexos, integrados e sistêmicos. Em diversos
países observam-se instituições públicas de pesquisa e empresas privadas engajadas em
programas conjuntos de melhoramento genético, ao lado de outros grupos insumidores
como medicamentos veterinários e nutrição animal.
O segmento de genética suína é um segmento fundamental nesse aspecto, uma vez
que é importante gerador de inovações pelo surgimento de novas linhas genéticas,
influenciando a velocidade de crescimento dos suínos, a quantidade de carne na carcaça, a
qualidade da carne e o número de leitões por parto. Além disso, ficam evidentes mudanças
importantes nos atributos da dinâmica tecnológica no segmento, tanto pelo avanço e uso do
maior conhecimento em biotecnologia, como pela maior incorporação de tecnologia da
informação. No plano econômico, constituiu-se um mercado internacionalizado, composto
fundamentalmente por firmas multinacionais importantes. Criaram-se também novas
estratégias organizacionais de desenvolvimento de linhas genéticas, envolvendo mais
fortemente parcerias com universidades, centros de pesquisa, e com firmas locais em
diversos países.
Este artigo tem como proposta discutir as principais características e mudanças
recentes nas configurações tecnológicas e organizacionais no segmento de genética suína.
Após esta introdução, a segunda seção apresenta as noções de sistema tecnológico, de
sistema de mercado e a articulação entre elas que vai delineando o ambiente seletivo
setorial para a genética de suínos. Em seguida, o artigo discute a evolução e as
características de duas configurações inovativas do desenvolvimento genético,
demonstrando – inclusive por meio de exemplos empresariais – a importância que uma
adequada concatenação dos elementos tecnológicos, econômicos e sócio-institucionais
podem ter na geração de sinergias e spillovers para o a capacitação tecnológica local. Neste
ponto, o artigo pode, em certo sentido, também contribuir para o aprimoramento da
2
O Brasil é um importante player mundial no mercado de carnes suínas. Em 2006, os quatro maiores
produtores mundiais foram a China, com 50 milhões de toneladas, a União Européia (com 25 países), com 21
milhões, os EUA próximo a 10 milhões e o Brasil com cerca de 3 milhões de toneladas. Esses 4 maiores
produtores mundiais de carne suína detêm juntos cerca de 80 % da produção mundial (ABIPECS, 2007). Em
1977 o plantel brasileiro de suínos era de 36,8 milhões de cabeças e a produção havia sido de 834 mil
toneladas (GOMES et al., 1992). Em 2007, o rebanho estimado era de 36,8 milhões de cabeças e a respectiva
estimativa de produção alcançava 2.997 milhões de toneladas (ACSURS, 2008). Portanto, decorridos 30 anos,
com o mesmo tamanho de rebanho a produção é 259% maior.
3
formulação de política industrial, tecnológica e de inovação, uma vez que evidencia os
fluxos tecnológicos e econômicos do setor. Por fim, apresentam-se algumas considerações
finais.
2 SISTEMA TECNOLÓGICO E AMBIENTE SELETIVO EM GENÉTICA SUÍNA
O sistema tecnológico (ST) é definido como uma rede dinâmica de agentes
interagindo em uma área econômica/industrial específica, sob uma infra-estrutura
institucional particular, e dedicada à geração, difusão e utilização de tecnologia. Esse
sistema é delineado em termos de fluxos de conhecimento e de competência científica e
empresarial em lugar dos tradicionais fluxos de bens e serviços (CARLSSON;
STANKIEWICZ, 1991).
Os componentes e o funcionamento de um ST contribuem para a identificação e
estruturação de possibilidades técnicas aplicadas a serem convertidas em oportunidades de
negócio em interação com o sistema de mercado (SM). Este, por sua vez, é o espaço,
perpassado e delimitado por regras e convenções de relacionamento, onde compradores e
vendedores trocam o direito sobre mercadorias utilizando moeda, ou seja, uma estrutura
socioeconômica onde ocorre a comercialização de direitos. O conjunto de regras e de
convenções
sociais
incentiva
e
constrange
possibilidades
comerciais
e
produtivas/tecnológicas aos participantes, compondo o padrão de concorrência industrial
específico. Portanto, SM, concorrência e dinâmica inovativa são figuras interligadas.
As condições de seleção decorrem do ambiente institucional e da interação entre
agentes (entre firmas e entre firmas e consumidores) no processo de concorrência. A
maleabilidade decorrente deste processo incorre em uma indeterminação do resultado da
disputa no SM. Embora não seja um processo aleatório, uma vez que os agentes possuem
uma história de conhecimentos adquiridos que condiciona o seu comportamento – e as
firmas, especificamente, inovam a maioria das vezes no marco de um paradigma
tecnológico – não há como estabelecer precisamente, ou provavelmente, como os demais
agentes vão se portar ou quando o ambiente seletivo vai alterar-se (o que implica uma
mudança de comportamento da maioria da população). Cada momento no SM é único e
inédito, há uma combinação ímpar de habilidades mutantes e diversas - de diferentes
concorrentes -, com as características peculiares do ambiente institucional. Surgem padrões
de comportamento que podem ser mapeados, como as trajetórias tecnológicas das firmas e
a transformação da mercadoria.
A inovação possui uma dimensão de seleção no SM. Seja ela uma inovação pela
perspectiva da firma (a mudança tecnológica), ou pela perspectiva de ineditismo no SM, é
uma invenção ou um incremento - no produto, de processo, ou organizacional - que é
submetido à seleção do SM. Assim, por definição, o ST, a estrutura setorial que abriga
instituições e organizações que contribuem para a geração de conhecimento e de inovações,
e o SM, são estruturas socioeconômicas com uma área de sobreposição. A união destes
conjuntos institucionais perenes forma o Ambiente de Seleção.
Desse modo, é no plano do ambiente seletivo em que se delineia o padrão de
concorrência do grupo ou do segmento. Neste processo, práticas antes consagradas
desaparecem, e novas surgem em seu lugar. Mais do que alteração de comportamento de
cada agente individualmente, a própria estrutura do SM e do ST, logo do ambiente seletivo,
é transformada no processo evolucionista. A população de organizações conviverá em um
ambiente de seleção modificado a cada período.
4
Cada uma destas estruturas socioeconômicas, SM e ST, é mais sensível a algumas
instituições do que a outras, e as organizações que delas participam perseguem objetivos
diferentes. Justamente por isto, conseguem conviver com relativa independência,
interpenetrando-se e propagando efeitos complementares. O ST possibilita a constituição da
base de conhecimento para a inovação, a criação de possibilidades técnicas aplicadas; o SM
é o espaço de concorrência entre firmas no qual algumas das possibilidades técnicas são
vistas como oportunidades de negócios, e a inovação e as vantagens competitivas
associadas à tecnologia são remuneradas. Esta perspectiva de concorrência e inovação em
uma conjugação dinâmica é que, segundo Metcalfe (2003), proporciona a base para a
formulação de políticas de inovação.
No caso do setor suinícola, o desenvolvimento da criação de animais em escala
industrial, similar a uma fábrica, trouxe a perspectiva de firmas especializarem-se e
identificarem-se como abatedoras ou como insumidoras de rações, de medicamentos
veterinários/aditivos ou de genética suína. Esta especialização, por sua vez, permite que
muitos abatedores assumam uma postura de tomadores de tecnologias e concentrem-se no
aprimoramento das capacidades gerenciais de produção e de distribuição de carne e
derivados. Além disso, a ação peculiar de consumidores e de organismos de regulação
provoca nas firmas novos rumos comportamentais, voltados para a segurança quanto à
sanidade do alimento.
Propriedade intelectual, Paradigma Tecnológico, Sistema de Educação, Regulação sanitária
Universidades e centros de
pesquisas
Medicamentos e aditivos
Desenvolvimento genético
Criadores integrados
ou independentes
Nutrição
Abate e processamento
Propriedade intelectual, Paradigma Tecnológico, Sistema de Educação, Regulação Sanitária
Fonte: Os autores.
Figura 1: Sistema tecnológico de carne suína
Legenda
Compartilhamento de conhecimento
Fluxo de produto e informação técnicas entre insumidores
Fluxo de produto e informação técnicas para a criação e abate
5
Os agentes que participam do ST da carne suína são as universidades, os centros de
pesquisa – criadores de conhecimento aplicado e testadores de produto -, os insumidores geradores de produtos que inovam o artefato “o animal” - os criadores independentes e as
firmas integradoras/abatedoras de animais, sendo as últimas usuárias das inovações como
criadoras de animais, vendedoras de produtos in natura e processadoras de alimentos
derivados de carnes. Eles relacionam-se através da troca de informações técnicas e de
produtos, ou do compartilhamento de conhecimento, conforme as suas competências.
(Figura 1).
As características das mercadorias transacionadas - rações, medicamentos, animais,
carne suína - são transformadas pela inovação tecnológica. Ao mesmo tempo, tais
características refletem as instituições do SM. Os atributos da mercadoria precisam ser
compatíveis – ou não destoantes – com os elementos socioinstitucionais, padrão de
consumo, legislação sanitária, e pelo direito de propriedade do mercado.
Regimes Regulatórios Internacionais
Propriedade intelectual, Sistema Educacional,
Paradigma Tecnológico, Regulação Sanitária, Padrão
de Consumo, Padrão de Concorrência
Produto 1, suíno vivo
Tecnologia 1, T1,
biotecnologia
tradicional
T5
Cliente 1, C1
P2, carne suína
T6
T3, Tecnologia
da Informação
C2
T2, química e
engenharia química
T4, biotecnologia
moderna
C3
C4
Fonte: Carlsson et al. (1999), com modificações dos autores.
Figura 2: Sistema tecnológico e de mercado do suíno caracterizado a pelos produtos
Nessa linha, esse recurso analítico permite a identificação de elementos
econômicos, tecnológicos e socioinstitucionais a partir de diferentes recortes (ou planos).
Pode-se, por exemplo, apresentar a configuração que combina o “produto-porco” como
6
ponto de partida, identificando as várias tecnologias que são combinadas para produzi-lo,
os agentes e os elementos do SM específico, isto é, pertencentes ao mesmo ambiente
sócioinstitucional e/ou seletivo. A Figura 2, inspirada em Carlsson et al. (1999, p. 13)
mostra dois produtos inter-relacionados física e biologicamente, o suíno e a sua carne.
Identificam-se as tecnologias genéricas combinadas para a sua produção e os agentes que se
relacionam para tanto. Este é um plano mais amplo, identificando o ST composto pelas
tecnologias (T 1, T2, T3...) da criação de suínos responsáveis pelas principais mudanças no
suíno (P1) e em sua carne (P2) que visam diferentes clientes (C1, C2, C3, C4).
O segmento de genética suína é um sub-bloco tecnológico do sistema acima. Vale
dizer, diz respeito à pesquisa e ao desenvolvimento (P&D) específica para a criação de
novos métodos de seleção animal, para as novas técnicas de reprodução e os novos
produtos (linhas genéticas). Pode-se denominar de desenvolvimento genético ao esforço
efetuado apenas por firmas especializadas em genética animal e que envolve a P&D para
obtenção de novas linhas genéticas híbridas mais produtivas e/ou que oportunizem
diferenças qualitativas na carcaça e na carne de seus descendentes.
Paralelamente, há outro esforço de adaptação das linhas genéticas de alto padrão às
necessidades ou às percepções de sistema de mercado específicas de abatedores ou de
criadores independentes e que implica o cruzamento de linhas genéticas “puras” para a
obtenção de um “mestiço” de primeiro cruzamento. Esta atividade é aqui chamada
melhoramento genético. O melhoramento restringe-se a um incremento em uma geração de
animais das linhas já desenvolvidas e pode ser empreendido pelas firmas de genética, pelas
integradoras/abatedoras ou pelos produtores independentes. A característica melhorada não
é fixada, sua transmissão à geração seguinte não é garantida.
Assim, o desenvolvimento genético consiste na oferta de reprodutores, machos e
fêmeas, de alta qualidade e especificidade. É uma base tecnológica importante para a
criação animal porque influi na capacidade dos animais de aproveitarem as características
positivas do meio, em especial da nutrição e do manejo sanitário, e permite alcançar
incremento dos fatores social e economicamente relevantes. Entre os fatores de importância
social estão o bem-estar dos animais, o impacto da criação sobre o ambiente e as
conseqüências do consumo da carne para a saúde humana. Os fatores econômicos referemse a itens que afetam diretamente o custo de criação - a conversão alimentar e número de
leitões obtidos por porca/ano - e outros que afetam a qualidade da carcaça e da carne dos
animais - espessura de toucinho, o potencial de hidrogênio iônico (pH) da carne - que
repercutirão a jusante no processamento e na comercialização.
A partir desse quadro, pode-se adaptar a contribuição de Carlsson et al. (1999), para
afunilar analiticamente o segmento de genética suína, identificando assim as
potencialidades tecnológicas e de seus usos mais efetivos pelos agentes no mercado. Desse
modo, a partir de uma dimensão cognitiva maior – chamado de espaço de estado –, poderse definir um reduzido recorte de possibilidades tecnológicas utilizado para a criação de
inovações na indústria – o espaço de desenho -. Neste, está agregado todo o conhecimento
relevante contido nas pessoas e nas organizações, e utilizado para produzir inovações. Ele
pode aumentar e transformar-se a partir de novas competências geradas pelas organizações.
No entanto, apenas uma parte das possibilidades do espaço de desenho transforma-se em
oportunidades de negócios. Mudanças radicais na base de conhecimento podem originar
outros espaços de desenho, e o ST acaba criando conhecimento aplicado a partir de mais de
uma tecnologia. Quanto maior for a capacidade dos agentes no sistema de receber e de
absorver conhecimento técnico, maiores as chances de que oportunidades de negócio sejam
7
identificadas (CARLSSON; ELIASSON, 2003, p. 444). Esta heurística de busca (o espaço
de possibilidades técnicas e o espaço de desenho), que reduz o campo de criação de
inovações, é compatível e complementar às noções de paradigma e de trajetória
tecnológica.
Logo, os contornos do ST - referentes aos tipos de conhecimentos utilizados e a
quais os agentes envolvidos - não são fixos, e a sua transformação, alicerçada em nova base
de conhecimento multifacetada (formada por tecnologias genéricas combinadas) que altera
o(s) espaço(s) de desenho, provoca transformações nos produtos para cuja produção
contribui com conhecimento aplicado. Com isto, muda o “menu” de produtos a serem
selecionados no SM. Não há uma correspondência de um para um entre tecnologia e
produto, ele é a composição de diversas tecnologias genéricas aplicadas a um segmento.
Sendo assim, os limites do ST originam-se em vários espaços de desenho que crescem,
amadurecem, subdividem-se ou convergem. Um exemplo é dado pela indústria
farmacêutica, cujo ST estava embasado na química e na engenharia química e agora está
sustentado também na biotecnologia moderna (CARLSSON E ELIASSON, 2003p 441-42).
Espaço de estado das
possibilidades
técnicas – dimensão
incerta
TI + biotecnologia tradicional +
biotecnologia moderna
Paradigma tecnológico do
grupo genética suína
Genética quantitativa
Combinações
técnicas em uso nas
trajetórias seguidas
Genômica
Espaços de desenho
Oportunidades de negócios
Fonte: os autores.
Figura 3: Afunilamento das possibilidades inovativas em genética suína
Para o segmento de genética suína, a Figura 3 sintetiza o afunilamento das
possibilidades técnicas até que sejam identificadas as oportunidades de negócios junto ao
SM. Partindo do espaço de estado com todas as combinações técnicas possíveis
relacionadas com o grupo insumidor de genética, há uma primeira delimitação com o
paradigma tecnológico utilizado no grupo de genética. Aí aparecem as tecnologias
genéricas que combinadas geram a lógica de solução de problemas. O conhecimento das
pessoas e das organizações, especializado em algumas ramificações das tecnologias
genéricas, é aplicado para operacionalizar a lógica do paradigma e define o espaço de
desenho, uma delimitação mais precisa das possibilidades técnicas a serem exploradas em
um período. Destas, algumas efetivamente são trilhadas nas trajetórias tecnológicas e
originam oportunidades de negócios.
8
O paradigma tecnológico com que o grupo de genética suína se defronta é uma
lógica de solução de problemas que combina conhecimentos da TI e da biotecnologia.
Softwares são utilizados pelas firmas para o controle e armazenamento de dados de
desempenho dos animais, gerenciamento de granjas, análise qualitativa da carcaça e da
carne, transmissão on line de dados de desempenho dos animais e de qualidade da carne e
da carcaça. A biotecnologia está presente na P&D com a inseminação artificial, a sexagem
de sêmen, o congelamento de sêmen e de embriões, e a genômica. Os softwares estatísticos
e a o seqüenciamento genético são combinados na genômica para orientar o processo de
seleção de animais.
Considerando os espaços de desenho, pode-se conceber dois campos de
possibilidades específicas dentro da grande amplitude do paradigma. O primeiro utiliza a TI
e a biotecnologia tradicional (inseminação artificial) e se estabelece em torno da genética
quantitativa, ou seja, o direcionamento da seleção a partir de um banco de dados de
desempenho dos animais para fatores produtivos relevantes. Nele ocorre uma trajetória
tecnológica, dominante até os anos de 1980, que levou à melhoria de conversão alimentar,
redução da espessura de toucinho e aumento do percentual de carne na carcaça dos animais.
O segundo espaço de desenho acrescenta à TI a biotecnologia moderna e algumas novas
técnicas de reprodução (transferência de embriões, sexagem de sêmen). Nele é seguida uma
trajetória tecnológica, desde os anos de 1990, que combina a genômica com a genética
quantitativa para a seleção de animais, melhorando o trade-off entre quantidade e qualidade
de carne (gordura intramuscular, cor e capacidade de retenção de água). O paradigma
tecnológico possibilita a ampliação do segundo espaço de desenho, delineando novos
objetivos para a seleção ao longo de uma trajetória tecnológica, tais como a obtenção de
animais mais resistentes a doenças, o aumento da prolificidade das porcas e a redução do
impacto ambiental. A ampliação do espaço de desenho pode, inclusive, desencadear outra
trajetória tecnológica, por exemplo, envolvendo o uso (futuro) de engenharia genética .
Nesse contexto, há aspectos institucionais importantes que transcendem as
fronteiras nacionais e perpassam fortemente o segmento de genética suína. Esses são os
casos da propriedade intelectual e do padrão de sanidade que, embora possuam algum grau
de peculiaridade nacional, estão condicionados a regimes internacionais monitorados por
órgãos internacionais tais como a Organização Mundial de Comércio (OMC).
No caso da propriedade intelectual as condições institucionais para a apropriação de
conhecimento relacionado com o desenvolvimento genético abrangem o direito autoral de
softwares estatísticos usados na genética quantitativa, o registro de marca das firmas e de
produtos (machos reprodutores e matrizes) e o requerimento de patentes em genética
molecular.
A obtenção de patentes de métodos de identificação de genes ou segmentos
genéticos de suínos ligados à transmissão hereditária de uma característica é possível, mas,
no momento, apresenta-se pouco eficaz para a remuneração pelo conhecimento e,
conseqüentemente, para a publicidade do mesmo 3 . Há poucos genes que estão ligados a
uma característica em todas as populações de suínos. O halotano (ligado ao estresse do
3
A Lei de Patentes Brasileira (de 1996) ampliou o raio de ação da propriedade intelectual após a Rodada
Uruguai. Em relação aos seres vivos, apenas microorganismos geneticamente modificados podem ser
patenteados no Brasil. Genes de plantas e de animais, métodos terapêuticos e de diagnóstico para aplicação no
corpo humano ou animal (Brasil, Lei n. 9279, 1996, Art. 10, incisos VIII e XIX, Art. 18, inciso III) e
procedimentos biológicos (DAL POZ; SILVEIRA; FONSECA, 2004, p. 381) não podem ser patenteados.
9
animal) e o gene da carne ácida são “universais”. Para outras relações entre genes e
características, mudando a população e/ou o ambiente, a característica pode não se
expressar, ou pode estar ligada a uma outra região do genoma. Devido a esta complexidade
da interação entre genética e ambiente, é muito valorizado o êxito em fixar em uma
população a característica econômica desejada. Esta mesma complexidade, aliada à
diversidade de técnicas de relacionar genes às características, desafiam a extensão da
propriedade intelectual ao patenteamento de genes tornando-o, para o emprego utilizado no
momento no desenvolvimento genético, pouco eficaz. A relação encontrada em uma
população animal pode não se repetir em outra; e a mesma relação entre genes e
característica pode ser estabelecida com outra técnica. Requerer a patente de uma rota de
identificação e/ou do próprio gene implica publicar a sua localização, e pode não garantir o
acesso exclusivo ao gene. Além disto, o fato deste gene ser encontrado em animais de
concorrentes não significa que houve seleção deliberada do mesmo e a prova em disputas
pode ficar frágil. Embora tenha ocorrido uma ampliação do regime de propriedade, nos
E.U.A. e na OMC, para contemplar a propriedade intelectual de produtos e processos da
biotecnologia, há flancos abertos para discussões.
Neste contexto, o segredo (conhecimento codificável e não publicado), o
conhecimento tácito (conhecimento difícil de transmitir), a velocidade de inovação principalmente em produto -, e a diversidade de produtos são fatores importantes de
competitividade.
No Brasil, como a Lei de Patentes não prevê o patenteamento de genes de animais e
de métodos de diagnóstico, mas os kits de identificação de genes acabam protegidos, a
incerteza parece maior. No entanto, até agora, esta imprecisão jurídica da lei nacional não
estrangula o grupo de genética suína porque há uma complexidade técnica que se impõe e
desafia até mesmo o regime internacional de propriedade já ampliado a genes de animais.
No caso da regulamentação sanitária, as instituições que abrangem a sanidade dos
rebanhos também são importantes para o SM de carne suína e para o desenvolvimento
genético. Isso está associado ao maior o interesse da população sobre a qualidade dos
alimentos e a sua contaminação por medicamentos e à possibilidade de resistência cruzada
aos antibióticos 4 .
Em relação às doenças dos animais, os referencias internacionais para controle e
tratamento são determinados pela Organização Internacional de Epizootias (OIE). Os
padrões e normas sanitárias preconizadas pela instituição são reconhecidos pela OMC
como de referência internacional.
Quanto aos resíduos e contaminações dos alimentos de origem animal, o Acordo
sobre a Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias, em vigor juntamente com a
OMC em 1º de janeiro de 1995, refere-se à aplicação de regulamentações em matéria de
inocuidade dos alimentos e controle sanitário dos animais e vegetais, incluindo o
monitoramento de resíduos (SEVERO, 1999).
A maior preocupação dos consumidores e a maior regulação oportunizam o
surgimento de novos atores e alterações nos contornos do ambiente seletivo, uma vez que
as exigências sanitárias para a prevenção de doenças nos rebanhos impostas ao comércio de
4
O resíduo de uma droga veterinária é a fração da droga e impurezas que permanecem no alimento. Nem
todas as drogas e compostos químicos aos quais os animais ficam expostos deixam resíduos nocivos à saúde
e, mesmo aqueles reconhecidos como potencialmente nocivos, somente permitem tal condição quando
ultrapassam o valor de concentração conhecido como Limite Máximo de Resíduo (LMR) (SEVERO, 1999).
10
carne suína afetam o comércio de reprodutores vivos 5 e o desenvolvimento genético. Por
exemplo, o impedimento do comércio internacional de carne suína, devido aos fatores
sanitários, para um destino com determinado padrão de demanda, implica que haverá
menor desenvolvimento de produto para aquele padrão. Especificamente, o impedimento
das exportações de carne suína para o Japão, devido à vulnerabilidade de um produtor à
febre aftosa (por exemplo, o Brasil), implica um menor desenvolvimento de produtos com
características genéticas de cor de carne e de gordura intramuscular que correspondam ao
padrão japonês, e perda de competitividade em relação aos principais concorrentes
internacionais, o Canadá, os Estados Unidos da América e a Dinamarca.
Quadro (1) Possibilidades inovativas e ambiente de seleção em genética suína
Trajetórias tecnológicas
Trajetória 1 – sem trade
off
entre
maior
quantidade de carne na
carcaça, maior CA e
redução de ET. Resultads
são
buscados
com
manipulações aditivas e
complementares.
utiliza a o paradigma da
TI
e
biotecnologia
tradicional (IA).
apropriação usa direito
autoral e marcas.
Trajetória 2 – trade off
entre quantidade de carne
na carcaça, maior CA e
redução de ET, de um
lado, e prolificidade ou
qualidade de carne ou
resistência a doenças, de
outro lado.
combina
TI
,
biotecnologia tradicional
e genômica.
apropriação usa direito
autoral, marcas e patentes
de genes.
Possibilidade de
aplicações
Inovação em produto:
produtos com elevada
CA e quantidade de
carne na carcaça, boa
prolificidade
e
sanidade, qualidade de
carne, resistência a
doenças; variabilidade
genética nos rebanhos;
volume de produção;
assistência técnica.
Moldura do ambiente de
seleção
Paradigma
tecnológico
Uso da TI para softwares
estatísticos com controle e
armazenamento de dados de
desempenho dos animais,
gerenciamento de granjas,
análise
qualitativa
da
carcaça
e
da
carne,
transmissão on line de
dados de desempenho dos
animais e de qualidade da
carne e da carcaça.
Uso da biotecnologia na IA,
sexagem de sêmen,
Inovação em processo: congelamento de sêmen e
genética quantitativa, de embriões, nos
combinação de genética marcadores moleculares.
quantitativa
com
genética
molecular, Legislação sanitária LMRs
parcerias de P&D com nos animais.
universidades
e
organizações
de Propriedade intelectual
Patentes de genes ou
pesquisa.
segmentos genéticos,
registro de marcas, direito
autoral.
Resultados
Pouca
eficácia
das
patentes e ênfase nas
marcas de produto e de
firmas contribui para a
competitividade através
da
velocidade
do
incremento e da inovação
em produto.
A preocupação com a
sanidade, e seus reflexos
na legislação, abrem
perspectivas
para
a
pesquisa de resistência
genética
a
doenças,
podendo vir a permitir a
redução do uso de drogas.
Ampliação da base de
conhecimento,
principalmente com a
evolução da biotecnologia
implica
maior
necessidade de parcerias
de P&D.
A legislação sanitária
Padrão de consumo: mais incentiva o uso da
segmentado e exigente genética molecular.
quanto à qualidade e
sanidade dos produtos.
CA – conversão alimentar; ET – espessura de toucinho; LMR – limite máximo de resíduos; IA – inseminação
artificial; TI – tecnologia da informação.
Fonte: os autores
5
A certificação de sanidade é feita pela Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, de acordo com as diretrizes do Plano Nacional de Sanidade Suídea.
Ela é necessária para a comercialização e distribuição, no Brasil, de suínos destinados à reprodução.
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A genética animal pode constituir-se em um vetor auxiliar para a solução de
problemas sanitários porque linhagens resistentes a doenças podem vir a ser desenvolvidas.
Este é um veio tecnológico ainda incipiente e incerto, porém relevante. Neste sentido, podese argumentar que a legislação sanitária de resíduos nos animais também importa ao
segmento de genética suína porque a necessidade de redução do uso de algumas drogas
pode impulsionar o curso mencionado.
Sendo assim, agora é possível confrontar as duas trajetórias tecnológicas do
segmento de genética suína com as características do ambiente de seleção. Uma ligada ao
uso de genética quantitativa e melhoria dos aspectos de conversão alimentar e quantidade
de carne na carcaça, existente já na década de 1980, e a outra, surgida nos anos de 1990,
que combina a genética quantitativa com a molecular e trabalha trade off entre, de um lado,
conversão alimentar/quantidade de carne na carcaça e, de outro lado, algum(ns) dos
seguintes aspectos: prolificidade, teor de gordura intramuscular, cor e retenção de água da
carne, resistência às doenças e redução do impacto ambiental.
Segredo e velocidade na inovação,
registro de marcas
Transferência não
cirúrgica de embriões
Sexagem de
embriões
Marcadores genéticos + softwares
estatísticos (copyright)
Resistência
genética a
doenças
Inseminação artificial
Organização das firmas em pirâmide –
granjas núcleo, multiplicação,
comercialização
Transgenia
Criação de
porcos
doadores de
órgãos
Seleção
exclusivamente
pelo fenótipo
Escopo interespécies
Linhas genéticas sem
predisposição ao estresse e à
acidez na carne
Patentes de genes
CRIAÇÃO
SELEÇÃO
PADRÃO INDUSTRIAL
DETERIORAÇÃO
Fonte: Os autores
Figura 4 – Criação e seleção no segmento de desenvolvimento genético
As tecnologias de processo e produto envolvidas no trabalho de desenvolvimento
genético estão em constante mudança, mas são, em suas linhas gerais, difundidas (Figura
4). A pesquisa em genética aplicada a suínos e de novas técnicas de reprodução é restrita a
poucos países. A vantagem, em termos de cumulatividade de conhecimento, é das matrizes
das firmas multinacionais que pesquisam em parceira com as universidades estrangeiras. Os
elementos de competitividade no segmento são a capacidade de perceber as tendências e
oportunidades do SM carne suína e seus reflexos no segmento de genética, a velocidade de
inovar em produto, a manutenção de alto padrão sanitário dos rebanhos, a capacidade de
12
criação de novas técnicas de reprodução e o acesso à melhoria nos processos de seleção de
animais (Quadro 1).
3 CONFIGURAÇÕES INOVATIVAS EM DESENVOLVIMENTO GENÉTICO
A configuração inovativa pode ser entendida como uma imagem mais detalhada da
área de sobreposição entre o ST e o SM. Nela visualizam-se tanto fluxos de informação e
compartilhamento de conhecimento – uma vez que as organizações envolvidas chegaram a
um acordo quanto à distribuição do retorno proveniente da aplicação do conhecimento
produzido (coordenação estratégica) – como o fluxo de mercadorias e divisão de tarefas
(coordenação operacional) entre firmas e organizações de pesquisa. O surgimento de
configurações inovativas está ligado às possibilidades de inovação decorrente deste íntimo
relacionamento entre pesquisa e desenvolvimento tecnológico6 .
Nesta seção são apresentadas duas configurações internacionais resultantes da
evolução de esforços inovativos e organizacionais na genética suína. Entendê-las é
relevante uma vez que a genética atua como um estimulador de inovações nas rações e no
manejo sanitário, melhorias que só se justificam quando aplicados a animais com potencial
genético para alcançar um desempenho superior.
3.1 Configuração com firma-chave
Esta configuração está estabelecida desde a década de 1970. No centro do processo
inovativo encontra-se uma firma-chave, de atuação internacional, dirigida ao
desenvolvimento de genética e comercialização de reprodutores, matrizes, sêmen e de
serviços ligados à genética suína. Esta firma participa ativamente da pesquisa de processo
de seleção de animais através de parcerias com universidades, em sua maioria norteamericanas e européias (Figura 5). Destes esforços têm resultado, recentemente, patentes de
métodos (processos), chamados marcadores genéticos ou moleculares, que propiciam a
identificação de genes e de sua relação com alguma característica de valor econômico e
social nos animais. Outros resultados deste esforço de pesquisa são os softwares de
avaliação e armazenagem de desempenho dos animais de diversas gerações, bem como o
desenvolvimento e melhoria nas técnicas de reprodução.
O desenvolvimento de novas linhas tanto pode ser feito pela firma-chave, como por
uma organização associada a ela, à qual é repassada a tecnologia de marcadores genéticos
para o desenvolvimento de novas linhas. Representantes comerciais, filiais, joint-ventures e
universidades de diferentes países, inclusive do Brasil, estão envolvidas nesta etapa. Neste
nível ocorre o esforço de desenvolvimento de produto, que não envolve um esforço de
pesquisa sofisticado, decorrendo muito mais da aplicação de métodos já consolidados. É
importante contar com uma grande variabilidade genética nos rebanhos da firma-chave, de
forma que inúmeras combinações possam ser averiguadas. Laboratórios de universidades e
centros de pesquisa, como o ITAL-SP (Instituto de Tecnologia de Alimentos do Estado de
6
As configurações inovativas encaixam-se na noção de aliança estratégica apresentada por Teece (1998). Ele
define as alianças estratégicas como constelações de acordos bilaterais ou multilaterais efetuados entre firmas
para desenvolver e comercializar nova tecnologia. Elas envolvem a coordenação estratégica, a qual aborda a
distribuição do retorno da inovação e é especialmente importante em situações que apresentam fraquezas na
garantia da propriedade intelectual, e a coordenação operacional que, por sua vez, abarca o aproveitamento de
ativos complementares, a relação fornecedor/usuário e a conexão entre tecnologias complementares.
13
São Paulo), participam da análise de carcaças e da carne, auxiliando na avaliação dos
resultados através de rotinas que realimentam o desenvolvimento.
Granjas multiplicadoras,
próprias ou terceirizadas.
Representantes, filiais ou
joint-ventures, diferentes
países.
Organizações de apoio
desenvolvimento
Firma-chave desenvolvimento
genético (pesquisa e
desenvolvimento)
Universidades e centros de pesquisa
na América do Norte, na Europa e
na China, pesquisa
Granjas multiplicadoras,
próprias ou terceirizadas.
Troca de informações e desenvolvimento de conhecimento
Troca de informação e de mercadoria
Fonte: os autores.
Figura 5: Configuração inovativa da firma-chave
A configuração da firma-chave é completada pelo esforço de adaptação e
multiplicação da genética desenvolvida. Os animais bisavós, de alto potencial genético, são
multiplicados em avós ou em matrizes e reprodutores que se destinam à venda para plantéis
de criadores de suínos. O trabalho de multiplicação a partir de um rebanho núcleo da firmachave pode ser conduzido pela mesma, pela filial ou por um terceiro especialmente
contratado para tanto, que deverá apresentar condições de elevado padrão sanitário e de
manejo para atender aos requisitos de qualidade da firma-chave. As granjas de
multiplicação também monitoram o desempenho dos animais criados em suas instalações e
abastecem a firma-chave com informações através dos softwares informatizados de
transmissão de dados. Aqui há outro ciclo de realimentação para orientar a inovação futura.
Estas informações constituem um enorme banco de dados de animais oriundos da genética
desenvolvida pela firma-chave e ajudam a direcionar o desenvolvimento de novas linhas
genéticas.
Na configuração da firma-chave, a cooperação/coordenação em torno da inovação tanto em pesquisa, como no desenvolvimento de novas linhas ou em pequenos incrementos
de produtividade e de qualidade de uma geração de animais para a outra dentro da mesma
linha genética – ocorre sob os auspícios da firma-chave. A capacidade de P&D interno da
firma-chave é bastante desenvolvida, mas não chega a ocorrer uma integração vertical da
P&D à comercialização. Há uma combinação de coordenação interna e externa à firma,
com as parcerias com universidades e centros de pesquisa funcionando como membros
auxiliares importantes, presos ao corpo coordenado pela firma-chave.
14
A PIC (Pig Improvement Company) é uma firma-chave, líder mundial em genética
suína que atua em mais de trinta países. De origem inglesa, possui dois centros de pesquisa
próprios, um na Inglaterra e outro nos E.U.A.. Estabelece parcerias de pesquisas na Europa,
nos E.U.A. e na China. No Brasil, é acionista de uma joint-venture com um grupo local, a
Agroceres-PIC. A joint-venture brasileira possui autonomia para desenvolver algumas
linhas genéticas a partir do núcleo genético da multinacional. Para tanto, repassa a
tecnologia de marcadores genéticos da firma-chave para uma universidade brasileira que os
utiliza para testar se os animais da nova linha possuem o fragmento genético desejado. A
condução da seleção é complementada pelo acúmulo de dados de desempenho destes
animais e de seus parentes. Tais informações acabam abastecendo o banco de dados
mundial da firma-chave.
A PIC extrapolou a atuação em genética suína e foi incorporada a um conglomerado
empresarial de pesquisa e comercialização de genética animal chamada Sygen. Além PIC, a
Sygen controla a SyAqua, que desenvolve genética de camarões. O conhecimento e a infraestrutura de inovação acumulados em genética de suínos acarretam economia de escopo. A
combinação de genética quantitativa e de genética molecular está sendo estendida para o
desenvolvimento tecnológico de outras espécies. A Sygen identificou 44 marcadores
genéticos em suas pesquisas, contemplando porcos, frangos, bovinos e camarões. Segundo
relatório anual da Sygen para 2004, o faturamento anual alcançou US$ 235 milhões, com
dispêndio de US$ 13 milhões (ou cerca de 5,5% do faturamento) em atividades de P&D. O
lucro operacional da firma subsidiária PIC alcançou US$ 26,72 milhões. No final de 2005,
a Sygen foi adquirida pela firma de genética bovina Genuc plc, reforçando a possibilidade
de explorar a economia de escopo inter-espécies decorrente da P&D em genética.
Outra firma-chave, a Génétiporc, de expansão mais recente, tem origem no Canadá.
Faz parte do grupo industrial de alimentos Breton que atua no abate e processamento de
carne suína, na produção de ovos, em rações animais e na produção de alimentos préembalados. Além do Canadá, o grupo tem ação nos E.U.A., no México e no Brasil. Aqui,
atua através de uma joint-venture com a Vitagri, firma do grupo Nutrimental, especializada
em soluções para a nutrição animal. A Génétiporc possui parcerias com centros de pesquisa
na Europa, nos E.U.A. e no Canadá, e desenvolveu o seu software de seleção genética.
3.2 Configuração modular
A multiplicação de possibilidades de inovação – avanços na biologia molecular nos
anos de 1970/90, e do direito de propriedade intelectual, ou seja, as alterações nas
perspectivas tecnológicas na P&D de genética suína - proporcionam condições para a
eclosão de nova configuração, denominada aqui de configuração modular (Figura 6).
Esta configuração difere da primeira pela formalização da separação, em firmas
diferentes, da etapa de pesquisa e da fase de desenvolvimento de linhas genéticas. Há uma
maior coordenação da inovação externa à firma de desenvolvimento, que agora compartilha
o eixo do processo inovativo com a firma especializada em pesquisa. Isto não implica uma
coordenação de mercado, entendido em sua idealização mais radical de mercado de
competição perfeita, com livre circulação de informação e de conhecimento. Por outro lado,
os parceiros de pesquisa não são mais apenas organizações extra-mercado (universidades e
centros de pesquisa públicos) análogos a membros auxiliares, alguns são firmas de pesquisa
e adquirem funções vitais no “corpo inovativo e comercial” da nova configuração.
15
A firma de pesquisa é especializada em genética e em técnicas de reprodução. Nesta
configuração é ela quem estabelece parcerias com universidades. Algumas dessas firmas
desenvolvem pesquisas para diferentes espécies animais, bem como técnicas que podem
resultar em inovações aplicadas à indústria farmacêuticas. A ação de algumas delas, como a
Metamorphix INC e a Gentec, ocorre nos moldes das New Biotech Firms (NBF) descritas
por Mckelvey e Orsenigo (2001). Elas mobilizam conhecimento relevante criado em
universidades e o transformam em processos aplicados e em produtos comercializáveis.
Já a firma de desenvolvimento genético trabalha voltada mais ao desenvolvimento
de produto e para o estabelecimento de uma ampla rede de reprodução e de comercialização
de animais. Possui menor capacidade de pesquisa comparativamente à sua parceira. Suas
ligações com filiais, organizações parceiras no desenvolvimento de linhas genéticas e com
multiplicadores seguem o mesmo padrão da firma-chave.
A firma de pesquisa e a firma de desenvolvimento genético desenvolvem relações
de longo prazo, o que incluem participações de capital dos mesmos agentes em ambas, com
percentuais distintos, ou contratos de desenvolvimento de esforços inovativos.
Organizações de
apoio ao
desenvolvimento
Granjas
multiplicadoras,
próprias ou
terceirizadas.
Representantes, filiais
ou joint-ventures,
diferentes países.
Firma especializada em
pesquisa genética e técnicas
de reprodução
Firma de
desenvolvimento
genético
Universidades E.U.A. e
Europa, pesquisa
Granjas multiplicadoras,
próprias ou
terceirizadas.
Fluxo de informações e desenvolvimento de conhecimento
Fluxo de informações e de mercadorias
Fonte: os autores
Figura 6: Configuração inovativa modular
O primeiro exemplo da configuração modular (Figura 6) refere-se à Topigs, uma
firma de desenvolvimento genético sediada na Holanda, com operações em 30 países, e
parte de um grupo empresarial de propriedade de uma cooperativa de produtores de suínos
dinamarquesa. O investimento anual nas áreas de genética (quantitativa e molecular)
inseminação artificial e transferências de embriões supera US$ 5 milhões, e é conduzido
por uma firma do grupo, o Institute for Pigs Genetics (IPG), criada em 1997 e especializada
16
em pesquisa. O IPG conta com 11 geneticistas e 35 funcionários de retaguarda. Ele também
desenvolve softwares e armazena dados da criação. Semanalmente, granjas-núcleo,
multiplicadoras e granjas comerciais ligadas à Topigs em diferentes partes do mundo
enviam eletronicamente backups contendo informações sobre seus plantéis para o IPG. O
banco de dados reúne informações de mais de 10 milhões de animais. A coleta de dados
envolve os animais puros que estão nas granjas núcleos e também os animais das camadas
mais inferiores na pirâmide de produção, ou seja, avós, matrizes e cevados, a fim de
orientar as combinações entre raças e linhas.
O IPG mantém contatos de pesquisa com universidades holandesas (Wageningen e
Utrecht), com o INRA da França e com a universidade de Bonn, na Alemanha. Ele também
presta serviços de desenvolvimento de software e gerenciamento de dados para a Aliança
de Inseminação Artificial das Cooperativas de Porcos da Dinamarca.
Um outro caso da configuração modular é oriundo da reestruturação da Seghers,
ocorrida em 2002, e envolve duas firmas de desenvolvimento em genética suína – a
Rattlerow Seghers, sediada na Bélgica, e a Newsham, dos Estados Unidos 7 - coproprietárias de uma terceira, a Gentec, especializada em pesquisa em genética animal. O
principal objetivo da Gentec é identificar marcadores genéticos que contribuam para a
qualidade da carcaça e da carne, para o crescimento, a prolificidade, e para a identificação
de hereditariedade de defeitos congênitos nos animais. Ela também dedica esforços ao
desenvolvimento de técnicas de transferência de embriões.
Mais um exemplo da configuração modular é encontrado nos E.U.A., na parceria de
P&D estabelecida em 2004 entre a Metamorphix INC. e a Monsanto Choice Genetics. A
primeira é experiente em análises de DNA, detentora de amplo mapeamento em genética
animal e humana – e com pesquisas que envolvem o desenvolvimento de drogas chamadas
“imunofarmacêuticas”, aproximando-se do setor farmacêutico -; a outra é o braço em
genética suína da Monsanto. A Metamorphix participa da parceria de pesquisa com o
mapeamento do genoma dos suínos que a Monsanto, embora possua capacidade em
pesquisa genética, necessita para identificar locais responsáveis pela transmissão de
características de valor econômico nos animais. A Monsanto pode, portanto, acelerar o
processo de busca por utilizar mapeamento genético já realizado. A Monsanto adquiriu uma
firma tradicional de genética do Canadá (Unipork) e possui a sua rede comercial e de
multiplicação de matrizes espalhada pelos E.U.A e Canadá 8 .
Grosso modo, as duas configurações inovativas descritas apresentam mudanças
organizacionais que acompanham alterações da base de conhecimento usada em
desenvolvimento genético. A própria firma-chave surgiu com a PIC em um momento de
mudança, da seleção artesanal para a dirigida pela quantificação sistemática da capacidade
produtiva dos animais. Ela mantém-se na configuração de firma-chave, incrementando a
sua ação com a busca de economia de escopo (camarões, bovinos). Ao longo do movimento
internacional de transformação da inovação, algumas firmas reorganizam sua oferta
inovativa (Topigs, Seghers/Gentec) e passam a utilizar a configuração modular. Outras
firmas adentraram o SM arriscando distintas configurações (Monsanto na configuração
modular e Génétiporc na firma-chave). Certamente há particularidades de competências
internas acumuladas e de visões de negócios que interferem nas decisões estratégicas.
7
A Rattlerow-Seghers está presente em dezessete países, em três continentes, possuindo a sua rede de
multiplicação e comercialização. A Newsham Genetics atua na América do Norte e no Brasil.
8
Em 2007, a Monsanto Choice Genetics foi adquirida pela Newsham.
17
Justamente as idiossincrasias de competência e de posição no SM é que oportunizam que
duas configurações convivam no mesmo contexto de inovação.
Em um contexto de rápida mudança tecnológica, os acordos de cooperação são uma
forma que permite às firmas obter recursos complementares e insumos tecnológicos
essenciais, minimizando riscos e mantendo a possibilidade de se descomprometerem
(CHESNAIS, 1996, p.143-44). A perspectiva de ampliar o conhecimento e acelerar o
desenvolvimento através do compartilhamento de pesquisa com organizações parceiras é
uma estratégia competitiva. Nesta perspectiva, a configuração modular é interessante diante
das maiores possibilidades técnicas presentes na inovação, tentando contornar o excesso de
burocratização que a integração vertical implica, e que pode oprimir a criação de soluções,
bem como permitindo o acesso rápido e simultâneo a um amplo leque de frentes de
pesquisa.
Financiamento; informações do
desenvolvimento para a pesquisa
Problemas
no produto
e tendências
de mercado
como
desafios.
Desenvolvimento de
produto (linhas
genéticas);
dados de
desempenho dos
animais, das carcaças
e da carne;
reorganização da
configuração da
inovação .
Pesquisa de
processos
Firma-chave;
firmas especializadas em P&D;
universidades e centros de pesquisa.
Proposição de soluções
Produto, distribuição, comercialização
Firmas de
desenvolvime
nto genético;
organizações
de apoio –
universidades
e centros de
pesquisa
Características do
mercado potencial
para os animais e
para a carne suína.
Criadores de
suínos;
Indústria de
abate/processa
mento;
Consumo final.
Realimentação
importante
Fonte: os autores.
Figura 7: Interação na inovação em desenvolvimento genético
Concomitantemente, o direito de propriedade estendido à genômica aplicada na
seleção genética de animais não proporciona ainda garantia de sustentação lucrativa com os
direitos de propriedade sobre genes e processos de associação entre genes e característica, a
principal trajetória atual. Logo, a maioria das firmas especializadas em pesquisa não são
completamente independentes, são braços de pesquisa especializados, com liberdade de
criar soluções, mas coordenados pelas firmas de desenvolvimento genético. Caso uma
trajetória que envolva, por exemplo, engenharia genética, ou outra técnica mais afeita à
remuneração através de direitos de propriedade intelectual, sobressaia no grupo, firmas de
pesquisa realmente independentes devem surgir, nos moldes da Metamorphix INC..
18
As duas configurações ajustam-se a uma representação de inovação setorial em
modelo interativo e sistêmico (Figura 7). Em ambas há pontos de realimentação, vitais para
a direção da inovação. As informações dos testes de qualidade de carcaça e de carne, e de
desempenho dos animais, realizados por instituições de apoio ao desenvolvimento de
linhas, acabam transmitidas à pesquisa e também orientam-na. Por exemplo, os problemas
de resistência de bactérias aos antibióticos colocam desafios ao desenvolvimento genético.
Soluções são tentadas pelo grupo de medicamentos, mas a procura de genes relacionados
com a resistência dos animais às doenças pelo desenvolvimento genético é um caminho
alternativo. Isto revela uma demanda da criação animal e da produção de carne em contato
com o SM consumidor e com as instituições de regulação sanitária, que colocam um
desafio à pesquisa. Os testes dos animais balizarão correções de rumo. Há, claramente, uma
interação entre as oportunidades/estrangulamentos de SM, a base de conhecimento e a
capacitação das firmas.
O modelo interativo de organização da inovação requer um grau de descentralização
da P&D para a aproximação dos clientes. Uma evolução neste sentido é facilitada pelas
novas possibilidades de coordenação e controle proporcionadas pela telemática [ou
Tecnologia da Informação] da P&D internacionalizada (CHESNAIS, 1996, p. 151-52). Na
genética suína, a aproximação do cliente para aprendizado parece estar impulsionando uma
descentralização do desenvolvimento de produto para captar as peculiaridades de sistemas
de mercado regionais.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na suinocultura, o termo pseudo-commodities é cada vez mais adequado para
retratar os animais e a sua carne em função das modificações que os insumos da criação
animal proporcionam a estes artefatos. Rebanhos de animais têm características de
genética, de nutrição e de manejo sanitário específicos para as linhas de produto final produtos de animais sem traços de antibióticos, linha genética de suíno específica para
embutido tipo x, carne no padrão de cor apreciado pela cultura de determinado país, e assim
por diante. As possibilidades de diferenciações nos animais e na carne multiplicam-se, e
capacitar-se e coordenar a utilização da tecnologia capaz de tal diferenciação qualitativa é
um trunfo competitivo.
O segmento de desenvolvimento genético é fundamental nesse aspecto. Numa
perspectiva sistêmica, pode-se afirmar que delineia-se no segmento um padrão de
concorrência calcado na capacidade de perceber rapidamente as mudanças do SM de carne
suína e responder a elas com o lançamento de novas linhas genéticas ou o incremento das
antigas. Para tanto, é fundamental ter acesso a um banco genético com grande variabilidade
e capacidade de predição acurada quanto ao desempenho produtivo das novas linhas
genéticas desenvolvidas. Também é importante pesquisar novos processos de seleção e
novas técnicas de reprodução. Com este objetivo, as firmas líderes cooperam com outras
organizações; a flexibilidade organizacional para acessar e compor rapidamente as diversas
fontes de conhecimento relevantes para o desenvolvimento do produto/processo torna-se
um fator de competitividade. Além disto, constituir uma ampla base de comercialização dos
animais é requisito necessário para atender às diversas nuances do SM e faturar o suficiente
para sustentar os investimentos em P&D. A apropriação de conhecimentos e de inovações
decorrentes da P&D está relacionada ao segredo industrial, ao registro de marca das firmas
e produtos e ao direito autoral, com algumas firmas apostando nas patentes de genes. No
19
entanto, o direito de propriedade para os genes de indivíduos não tornou as patentes uma
forma eficaz de apropriação do conhecimento em genética suína.
Se a propriedade privada do conhecimento em alguns aspectos relativos à genética
animal está pouco efetiva, por outro lado, o ímpeto concorrencial interno ao SM em torno
de inovações e diferenciação de produto impulsiona a transformação da mercadoria e a
variedade de comportamento das firmas. A velocidade da inovação e da diferenciação passa
a ser fundamental para obter os lucros extraordinários. Atualmente, no centro das
configurações inovativas do desenvolvimento genético estão postadas firmas
multinacionais que coordenam o uso de boa parte do conhecimento aplicado e relevante
decorrente de esforços cooperativos de P&D. Isto lhes confere o acesso em primeira mão
ao conhecimento necessário para avançar em fatias maiores de mercado e agregar valor
mais intensamente. Porém, a estratégia de firmas multinacionais de delegarem a filiais
algumas atribuições relativas à P&D se verifica em alguma medida no desenvolvimento
genético. Há filiais brasileiras adentrando o desenvolvimento de produto, em específico em
linhas macho terminador. O fenômeno de ampliação da base de conhecimento utilizada não dominada completamente por nenhum agente individualmente -, e a necessidade das
firmas de desenvolvimento genético de conhecerem e desenvolverem produtos dirigidos às
especificidades dos diversos segmentos do SM, são elementos que propiciam uma
porosidade do ambiente seletivo relativo à inovação em genética para a qualificação de
organizações brasileiras e sua penetração em direção ao centro das configurações
inovativas. É preciso garantir que os esforços para desenvolver novas linhas localmente
tenham continuidade e inspirem parcerias de organizações de pesquisa brasileiras com
firmas de capital nacional ou estrangeiro, ou entre firmas nacionais e estrangeiras,
adquirindo um caráter sistêmico no desenvolvimento genético e provocando,
conseqüentemente, efeitos positivos nos demais insumos para suínos. Obter-se-á, então,
uma dinâmica inovativa consolidada.
A forte inserção no ST internacional através do grupo insumidor de
desenvolvimento genético - mesmo que ocorra sem uma firma de capital brasileiro no papel
de firma-chave, ou no de firma de pesquisa -, pode proporcionar transbordamentos
positivos pelo acúmulo de conhecimentos nas firmas, nas universidades e nos centros de
pesquisas participantes. Isto aumentará a robustez competitiva da indústria nacional no
longo prazo e, caso novos padrões internacionais sanitários e de qualidade de carne,
mudanças de paradigma tecnológico, crises envolvendo doenças ou segurança alimentar,
entre outras possibilidades, surjam no horizonte da indústria de carne suína, os insumos da
criação, em especial no desenvolvimento genético, serão um vetor de oferta de soluções.
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