Embriologia Animal .Indução Universidade de Brasília (UnB) Universidade Aberta do Brasil (UAB) Aula 9: Indução e organizador primário Síntese: Agentes indutores mesodermizante e neuralizante 1 Embriologia Animal .Indução Sumário Informações gerais da aula 1- Objetivos: geral e específicos 2- Conteúdo da aula: Indução e organizador primário 2.1- Introdução 2.2- Experimentos de Hans Spemann e Ingrid Mangold 2.3- Experiências de exogastrulação 2.4- Competência do reator 2.5- Indução neuralizante 2.6- Indução mesodermizante 3- Metodologia 4- Atividades de aprendizagem 5- Avaliação da aprendizagem 6- Bibliografia 2 Embriologia Animal .Indução 1- Objetivos 1.1- Objetivo geral A definir indução e compreender os mecanismos indutores neuralizante e mesodermizante. 1.2- Objetivos específicos 1.2.1- Definir e conceituar indução, indutor e reator. 1.2.2- Compreender os experimentos de Hans Spemann e Hilde Mangold 1.2.3- Compreender a experiência da exogastrulação 1.2.4- Definir e caracterizar a indução neuralizante. 1.2.5- Definir e caracterizar a indução mesodermizante. 2. Conteúdo da aula: Indução e organizador primário 2.1- Introdução O que diferencia uma célula de um tecido de outras células de outros tecidos? Genes específicos que são ativados e inativados. Esses são ativados e transcritos durante o processo de diferenciação. Ao final do desenvolvimento, restam os genes mais especializados do tecido. Com a diferenciação, o estímulo indutor penetra nas células e estimula sua interação núcleo citoplasma. Os genes respondem aos sinais citoplasmáticos dessa interação. Dessa forma, vão surgindo os diversos tipos celulares, formando os diferentes tecidos do indivíduo e as células vão adquirindo especialização morfológica, bioquímica e funcional, como a morte celular programada, ativação, deslocamento, fixação, entre outros. 3 Embriologia Animal .Indução Como já estudado, na gastrulação, ocorre diferenciação celular e todos os genes paternos e maternos estão ativos. Em função de suas localizações, as áreas celulares do embrião são estimuladas a se diferenciar em outros tipos de células e tecidos. Para entender este processo é necessário entender algumas definições: indutor – é estímulo que provoca o início da diferenciação celular; indutor – é a fonte responsável pelo lançamento do estímulo e, reator é a área celular e/ ou tecidual que recebe o estímulo e inicia a diferenciação. Na gastrulação de na anfíbios, descrita na aula 6, o mesoblasto notocordal, que forma o lábio dorsal do blastóporo, é o indutor ou o organizador primário da gástrula, assim como o nó de Hensen, no caso do mamífero, também descrito nessa mesma aula. Este indutor atua sobre dois reatores: o ectoblasto e mesoblasto somítico e das lâminas laterais. O embrião organiza toda a sua embriogênese em torno do mesoblasto notocordal ou seja, em torno do seu eixo do sustentação. Na Figura 1, em vermelho, é mostrado o mesoblasto notocordal. Figura 1: mesoblasto notocorda e o lábio dorsal do blastóporo. Adaptado de (HOUILLON, 1972) 4 Embriologia Animal .Indução 2.2- Experimentos de Hans Spemann e Hilde Mangold Este experimento evidencia a presença de um organizador primário para a diferenciação das células e dos tecidos, foi executado por Hans Spemann e Ingrid Mangold em 1924 utilizando duas gástrulas jovens de tritão Triturus taeniatus L. e T. crisatus L. escuro/pigmentada e claro/não pigmentada. Procedeu-se com a remoção do lábio dorsal do blastóporo do tritão claro formado pelo território presuntivo do mesoblasto notocordal enxertando na região superior do hemisfério vegetativo da espécie escura, pigmentada. 5 Embriologia Animal .Indução Com o amadurecimento da gástrula observou-se a formação de dois embriões normais ligados pela região ventral, ver na Figura 2, o esquema descrito porém com as cores invertidas, onde o vermelho representa o não pigmentado e o branco, o pigmentado. Figura 2: Experimento de evidência do organizador primário. (HOUILLON, 1972) O lábio dorsal enxertado foi capaz de se organizar e formar o segundo embrião em uma área onde estaria determinada a originar o endoblasto. Em cortes histológicos observa-se que somente a notocorda, em vermelho na Figura 2, é despigmentada e é 6 Embriologia Animal .Indução proveniente do enxerto enquanto que os demais tecidos são provenientes dos territórios presuntivos do hospedeiro, o tritão pigmentado. Portanto o território do mesoblasto notocordal e a notocorda são organizadores primários. O mesmo pode ser feito enxertando o nó de Hensen em aves e mamíferos, que também irão formar dois embriões. Processo pelo qual uma região embrionária interage com uma outra e influencia sua diferenciação – alteração do destino celular como um resultado da interação entre células vizinhas. Hnas Spemann e Hilde Mangold chamaram o processo de indução primária. Neste processo não existe especificidade zoológica, pois a enxertia do Nó de Hensen de coelho para disco germinativo de embrião de galinha. Como resultado ocorre formação de dois embriões de galinha. Quando o nó de Hensen foi enxertado em anfíbios houve formação de dois embriões de anfíbio. Com isso conclui-se que não existe especificidade zoológica. 2.3- Experiência da exogastrulação Quando uma blástula é mergulhada em solução hipertônica de NaCl, não ocorre a invaginação dos territórios presuntivos mesodérmicos. O endoblasto, não invagina e se autodiferencia pois já está determinado desde a segmentação, ver Figura 3, letra B, em verde. Os mesoblastos somítico e das lâminas laterais, que permanecem ao lado da notocorda, se diferenciam, ver Figura 3, letras B e C, em vermelho. O ectoblasto permanece sob a forma de uma massa celular indiferenciada. Ao colocar partes deste ectoblasto indiferenciado em contato com a notocorda, ocorre sua diferenciação, ver Figura 3, letra C, em azul. Para se ter indução é imprescindível o contato entre o indutor e o reator. As células do reator, uma vez induzidas, perdem o contato, as ligações, com as do 7 Embriologia Animal .Indução Figura 3: Experiência da exogastrulação. Adaptado de (HOUILLON, 1972) 8 Embriologia Animal .Indução Indutor, começando então a se organizarem em tecidos, células de um mesmo tecido, liberam substâncias para o meio extracelular, formando ligações entre elas. Em experimentos, células embrionárias de rim de galinha e de rato, cultivadas juntas com células da retina, também de galinha e rato, reagrupam em função do órgão e não da espécie. O rim é formado por células de galinha e de rato e a retina por células de galinha e rato. A conclusão é que a especificidade é organotípica e não da espécie. 2.4- Competência do reator Consiste no estado fisiológico de maturação em que a estrutura se encontra. O reator somente dará resposta ao indutor, se estiver em um estado fisiológico que lhe confere a capacidade de responder à indução. Quando uma gástrula jovem que é um indutor maduro enxertada na blastoderma de uma blástula jovem, o indutor lança o estímulo, porém a blástula não responde, pois ainda não está em condições de receber a informação e reagir. Portanto a indução é definida como a capacidade que o tecido possui de iniciar e orientar as diferenciações dos tecidos vizinhos que estão indiferenciados. Para se ter indução é necessário a presença do induto maduro. No experimento de Spemann houve transplante de células de gástrula jovem que ainda não estão determinadas para uma diferenciação específica. Neurônios prospectivos transplantados para epiderme prospectiva – resulta na formação de epiderme. Epiderme prospectiva transplantada para neurônios prospectivos – resulta na formação de neurônios. Assim, se conclui que no estágio inicial da gastrulação, desenvolvimento é dependente – seu destino final depende da localização no embrião. As células transplantadas regulam o processo de diferenciação. Em outro momento quando houve transplante de células de gástrula tardia que já estão determinadas para uma diferenciação específica. 9 Embriologia Animal .Indução Neurônios prospectivos transplantados para epiderme prospectiva – resulta na formação de neurônios. Epiderme prospectiva transplantada para neurônios prospectivos – resulta na formação de epiderme. A conclusão é que no estágio final da gastrulação o desenvolvimento é independente – seu destino final não depende da localização no embrião. As células transplantadas não regulam o processo de diferenciação, já estão induzidas. 2.5- Indução neuralizante Na indução neuralizante a notocorda libera ribonucleoproteínas que atuam sobre o ectoblasto neural no sentido céfalocaudal, no processo de diferenciação do sistema nervoso. Sua atuação é mais intensa na região cefálica ocupada pelo cérebro, diminuindo significativamente na região caudal. As células do embrião são originalmente totipotentes podendo responder a diferentes estímulos e se diferenciarem. A indução notocordal indução neuralizante, determinando o processo de neurulação que consiste na formação do tubo neural. O processo total dará origem ao sistema nervoso. Tal indução age sob gradientes, atuando com intensidades diferentes ao longo do embrião. A neuralizante é céfalocaudal, já que apresenta intensidade muito mais forte na região cefálica do embrião e diminui, gradualmente, até a porção caudal. Na formação do sistema nervoso, as células do ectoblasto neural vão mudar sua forma de cúbicas a cilíndricas, formando uma placa celular, a placa neural. Como a indução é mais forte na região cefálica, essa placa também tem a sua porção anterior mais larga. Acompanhe na Figura 4 que o avanço da indução neuralizante faz com que a placa neural prolifere e avance em direção ao mesoblasto, localizado abaixo do ectoblasto. 10 Embriologia Animal .Indução Figura 4: Formação do tubo neural (A e B) e final da neurulação. Adaptado de (SADLER, 2007) 11 Embriologia Animal .Indução 2.6- Indução mesodermizante O mesoblasto somítico se localiza ao lado da notocorda e a sua diferenciação é dependente da ação mesodermizante da notocorda. A indução mesodermizante apresenta dois gradientes: um lateral e outro caudocefálico. Dessa forma, a ação da notocorda sobre o mesoblasto somítico é muito forte na região troncocaudal do embrião. Primeiramente, as células do mesoblasto somítico agrupam-se em metâmeros, em conjuntos celulares. Esses metâmeros são chamados de somitos e ocorrem aos pares. O número de somitos vai variar de acordo com o animal. A ação da proteína mesodermizante sobre os somitos resultará em sua diferenciação. Inicialmente no somito são distinguidas três regiões: dermátomo, miótomo e esclerótomo. O dermátomo está localizado na região superior dos somitos e originará a derme e o tecido conjuntivo que se situa abaixo da epiderme. O miótomo é composto por células da região intermediária dos somitos. Essas se agrupam e formam células multinucleadas que, ao migrar para os respectivos destinos, originarão os músculos estriados esqueléticos. Por fim, o esclerótomo, composto por células da porção inferior dos somitos, também se diferencia e se movimenta para formar as vértebras e as costelas. Os músculos e a derme dos membros também têm origem a partir desses miótomos e dermátomos, porém, seus ossos se originam da diferenciação do mesênquima local. A ação da proteína indutora liberada pela notocorda sobre o mesoblasto das lâminas laterais na região troncocaudal do embrião promove uma delaminação, uma separação completa entre as suas camadas de células, o que resultará na formação de um espaço, de um celoma, chamado por celoma intraembrionário (Figura 5). Essa delaminação origina a somatopleura e a esplancnopleura. 12 Embriologia Animal .Indução Figura 5: Indução notocordal mesodermizante na formação do mesoblasto do anfioxo com a formação das vesículas enterocelomáticas. (DREWS, 1998) 13 Embriologia Animal .Indução 3- Metodologia Leitura atenta dos conteúdos da aula e redação das respostas. Nem sempre somente essa leitura será suficiente, portanto, para melhor compreensão do assunto complemente a leitura com a bibliografia indicada e com os conteúdos adquiridos em outras disciplinas estudadas. O recurso fundamental para o seu estudo e para as respostas da atividade é este guia de aula, nele encontrarão a maior parte das informações sobre o ciclo sexual. É importante ressaltar que para se adquirir conhecimentos mais aprofundados e críticos e respostas mais completas das atividades propostas são necessárias apoiar em outras informações contidas não somente na bibliografia indicada mas também de outras bibliografias de áreas complementares sobretudo de morfologia e fisiologia. 4- Atividade de aprendizagem Responder as quatro questões propostas após o texto explicativo. Para responder as questões das atividades propostas é necessário estar atento aos objetivos da aula, pois eles serão os guias e suportes correções de cada uma das respostas. Como já afirmado anteriormente, para responder as atividades é necessário leitura complementar que está indicada na bibliografia da aula ou da disciplina, além de conteúdos de outras disciplinas da área de Morfologia. Questões 4.1- Definir e caracterizar indução, indutor e reator. 4.2- Explicar os experimentos de Spemann e Mangold. 4.3- Explicar a indução neuralizante. 4.4- Explicar a indução mesodermizante. 14 Embriologia Animal .Indução 5- Avaliação da atividade Esta atividade tem valor de 10 pontos sendo, cada resposta com valor máximo de 2,5 que deverá ser original, redigida em no mínimo em 10 e máximo em 20 linhas e não serão aceitas cópias de textos, livros ou similares. Caso seja enquadrado nesta situação será atribuída nota zero para a atividade além de poder haver punição por plágio. 6- Bibliografia 1- DREWS, U. Atlasde poche d’embryologie. 1. ed. Paris: Flammarion Médicine-Sciences, 1998. 385p. 2- GARCIA, S. M. L., CASEMIRO, G. F. Embriologia. 3. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2012. 668p. 3- GILBERT, S. F. Biologia do desenvolvimento. 2. ed. Ribeirão Preto: Sociedade Brasileira de Genética, 1995. 563p. 4- HOUILLON, C. Embriologia. São Paulo: Edgard Blücher, 1972. 160p. 5- SADLER, T. W. Langman fundamentos de embriologia médica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 155p. 6- WOLPERT, L. Princípios de biologia do desenvolvimento. 3. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2008, 576p. 15