Décio Sena LÍNGUA PORTUGUESA SIMULADO PARA ESAF COM GABARITO COMENTADO DÉCIO SENA 1ª PARTE: QUESTÕES Para responder às questões de 01 a 10, leia o texto abaixo: O MITO NO PENSAMENTO DOS ANTIGOS GREGOS 04 08 12 16 20 24 28 32 36 40 Dá-se o nome de “mitologia” grega ao conjunto de relatos maravilhosos e de lendas de todo tipo, cujos textos e monumentos figurados nos mostram que sua ocorrência se deu nos países de língua grega, entre o IX ou VIII século antes da nossa era, época à qual nos reportam os poemas homéricos, e o fim do “paganismo”, três ou quatro séculos depois de Cristo. Temos neles um imenso material, muito dificilmente definível, de origem e características bastante diferenciadas, que desempenhou e ainda desempenha – na história espiritual do mundo – um papel considerável. Todos os povos, em dado momento de sua evolução, criaram lendas, ou seja, relatos maravilhosos nos quais, durante um certo tempo, e pelo menos em certa medida, acreditaram. Na maioria das vezes, as lendas – por movimentarem forças ou seres considerados superiores aos humanos – pertencem ao domínio da religião. Elas se apresentam assim como um sistema, mais ou menos coerente, de explicação do mundo: cada gesto do herói cujas façanhas são narradas é um gesto criador e implica conseqüências que têm efeitos sobre todo o Universo. Pertencem a esse tipo os grandes poemas épico-religiosos da literatura hindu. Em outros países, predomina o elemento épico. Decerto, os deuses não estão ausentes da narrativa, onde sua ação é sensível; mas a gênese do mundo não é por isso colocada em questão. O herói se limita a realizar grandes gestos de bravura, inventar astúcias memoráveis, empreender viagens por países maravilhosos; e – mesmo que supere a medida humana – permanece da mesma essência que a humanidade. Pertencem a esse tipo, sobretudo, os ciclos lendários dos celtas, que nos foram transmitidos, por exemplo, pelos romanos gauleses. Em outros locais, os relatos dos mitos terminaram por perder quase todo caráter maravilhoso, dissimulando-se sob as aparências da história. Os romanos, em particular, parecem ter assim integrado às suas mais antigas crônicas verdadeiras gestas lendárias. Na Grécia, o mito possui todas essas características. Ora colore-se de história e serve como título de nobreza para cidades ou famílias. Ora desenvolve-se em epopéia. Ora serve para apoiar ou explicar as crenças e os ritos da religião. Nenhuma das funções que a lenda assume é estranha ao mito grego. Mas ele é também algo bem diverso. A palavra grega que serve para designá-lo aplica-se a qualquer história narrada, seja o assunto de uma tragédia ou a intriga de uma comédia, seja o tema de uma fábula de Esopo. O mito se opõe ao logos como a fantasia à razão, como a palavra que narra à palavra que demonstra. Logos e mythos são as duas metades da linguagem, duas funções igualmente fundamentais da vida do espírito. O logos, sendo uma argumentação, pretende convencer; implica, no auditor, a necessidade de formular um juízo. O logos é verdadeiro, no caso de ser justo e conforme à “lógica”; é falso quando dissimula alguma burla secreta (um “sofisma”). Mas o “mito” tem por finalidade a si mesmo. Acredita-se ou não nele, conforme a própria vontade, mediante um ato de fé, caso pareça “belo” ou verossímil, ou simplesmente porque se quer acreditar. O mito, assim, atrai em torno de si toda a parcela do irracional existente no pensamento humano; por sua própria natureza, é aparentado à arte, em todas as suas criações. E talvez seja esse o caráter mais marcante do mito grego: pode-se constatar sua integração em todas as atividades do espírito. Não há nenhum domínio do helenismo, seja a plástica ou a literatura, que não tenha constantemente recorrido a ele. Para um grego, o mito não conhece fronteira. Insinua-se por toda parte. É tão essencial a seu pensamento quanto o ar ou o sol à sua própria vida. PIERRE GRIMAL, A Mitologia Grega, Ed. Brasiliense. Questão 01) Com base no texto, aponte a alternativa que contém proposição falsa. a) Pode-se situar cronologicamente o acontecimento do mito em largo período delimitado pelos fatos a que nos conduzem os relatos homéricos até o século III ou IV de nossa era. 1 Décio Sena b) É característica de todos os povos a criação de narrativas fantásticas, relatórios supra-realistas, os quais jamais se lhes tornaram crença absoluta ou perpétua. c) Ainda que os deuses não estejam ausentes do fluxo narrativo dos poemas épico-religiosos hindus, nos quais desempenham ação sensível, a gênese do mundo decerto não é posta em discussão. d) A vinculação das antigas lendas à religião advém do fato de serem alusivas a seres ou mesmo a forças que ultrapassavam a medida ou a compreensão humana. e) Em alguns povos a narrativa mítica, de tão encoberta pela história, acaba por perder, quase que por inteiro, sua essência assombrosa, sua vinculação com o fantástico, seu apelo à fantasia. Questão 02) Observe as assertivas abaixo: I. II. III. mito está para logos assim como fantasia : razão mito está para logos assim como palavra que demonstra : palavra que narra logos + mythos = linguagem Podem ser consideradas corretas: a) b) c) d) e) I e III II e III I e II III, apenas II, apenas Questão 03) Não é inferência viável a partir do texto: a) O mito grego não só contém todas as características comuns aos mitos de outras culturas, como também deles difere pela integração em todas as atividades espirituais. b) Diferentemente do logos, o mito não tem por propósito a persuasão, o que o deixa isento de sofrer, por parte de quem o ouve, qualquer juízo de valor. c) O desapego do mito à objetiva realidade cotidiana aproxima-o à verdade em que se deseja acreditar e, por conseqüência, libera, em cada um que o ouve, o irracional subjacente ao seu pensamento. d) Por descomprometer-se com a coerência de raciocínio, com a lógica, e pela exigência de que nele se acredite, como em um ato de fé, o mito aproxima-se do raciocínio religioso. e) É inexistente qualquer manifestação da cultura grega clássica que não tenha sido impregnada pelo mito, que não o tenha recorrentemente procurado. Questão 04) Com respeito aos comentários feitos relativamente a passagens do texto, indique o correto. a) O pronome “sua” (l. 02) é referente a “textos e monumentos figurados” (l. 02) b) Em “época à qual nos reportam os poemas homéricos” (linhas 03/04) o acento grave indica a crase de preposição (exigida pelo emprego transitivo indireto da forma verbal de dupla predicação “reportam”) com o artigo definido “a”, antecessor do pronome relativo “qual”. c) Utilizou-se a forma verbal “reportam” (l. 03) na terceira pessoa do plural em obediência à regra geral da concordância do verbo, que orienta a vinculação da flexão verbal com o sujeito, no caso “os poemas homéricos, e o fim do paganismo” (ls. 03/04) d) Em “Dá-se o nome de “mitologia grega ao conjunto de relatos maravilhosos de lendas de todo tipo, cujos textos e monumentos figurados nos mostram que sua ocorrência se deu nos países de língua grega” (ls. 01/03) os vocábulos sublinhados têm idêntica análise morfológica. e) Ainda que reescrita com o vocábulo sublinhado no singular, a passagem “Temos neles um imenso material, muito dificilmente definível” (ls. 04/05) manteria o apuro gramatical. 2 Décio Sena Questão 05) Assinale o item em que se estabelece afirmativa incorreta, a respeito de elementos do texto. a) As modificações a seguir propostas para o fragmento: “Todos os povos, em dado momento de sua evolução, criaram lendas” (l. 07) mantêm a correção gramatical e preservam o sentido da mensagem original: Todo povo, em dado momento de sua evolução, criou lendas / Todo o povo, em dado momento de sua evolução, criou lendas. b) O vocábulo “dado”, na passagem “Todos os povos, em dado momento de sua evolução, criaram lendas” (l. 07) exemplifica a regra geral da concordância dos nomes ao concordar em gênero e número com o substantivo “momento”, a que se refere. c) É indispensável o emprego das vírgulas isolando a locução denotativa de retificação “ou seja”, na passagem “Todos os povos, em dado momento de sua evolução, criaram lendas, ou seja, relatos maravilhosos nos quais, durante um certo tempo, e, pelo menos em certa medida, acreditaram.” (linhas 07/08). d) É aceitável a afirmativa de que haveria mais adequada pontuação no período transcrito no item anterior desta questão caso fosse colocada uma vírgula diante de “nos quais”. e) Os travessões utilizados nas linhas 09/10, isolam oração reduzida de natureza adverbial e, como tal, poderiam ser substituídos por vírgulas ou, mesmo, por parênteses. Questão 06) Considerando o léxico, indique a associação indevida: a) b) c) d) e) “reportam” (l. 03) “Decerto” (l. 14) “gênese” (l. 14) “gestas” (l. 22) “estranha” (l. 25) = = = = = volvem; Certamente; geração; façanhas; esquisita. Questão 07) Está incorreta a afirmativa contida em: a) “O herói se limita a realizar grandes gestos de bravura”(ls. 15/16), “sobretudo, os ciclos lendários dos celtas, que nos foram transmitidos, por exemplo”(l. 18) e “Insinua-se por toda parte.” (ls. 38/39) são passagens que exemplificam, quanto à colocação dos pronomes átonos utilizados, emprego de próclise, respectivamente, facultativa, obrigatória e proibida. b) Observando-se atentamente as expressões introduzidas pela preposição de que se seguem: “Na maioria das vezes” (ls. 08-09) e “os relatos dos mitos” (l. 20) nota-se que a preposição faz parte de expressões que indicam, em seqüência, os valores nocionais de totalidade depois de palavra que significa parte e agente de ação. c) Em “O mito se opõe ao logos como a fantasia à razão, como a palavra que narra à palavra que demonstra.” (ls. 28/29) os transpositores assinalados introduzem orações de naturezas distintas: adverbial e adjetiva, respectivamente. d) Em “O logos é verdadeiro, no caso de ser justo e conforme à “lógica” (ls. 31/32) os vocábulos sublinhados têm idênticas análises lexical e sintática. e) Os vocábulos assinalados em: “Acredita-se ou não nele, conforme a própria vontade, mediante um ato de fé” (linhas 33/34) têm análise morfológica que os enquadra em uma mesma classe. Questão 08) “Dá-se o nome de “mitologia” grega ao conjunto de relatos maravilhosos e de lendas de todo tipo, cujos textos e monumentos figurados nos mostram que sua ocorrência se deu nos países de língua grega, entre o IX e VIII século antes da nossa era” (ls. 01/03) 3 Décio Sena O fragmento de texto acima foi reescrito de maneiras distintas nas opções que se seguem. Indique a alternativa em que a nova redação não implicou deslize gramatical. a) Chama-se “mitologia” os relatos e lendas maravilhosos, de todo tipo, cujos textos e monumentos figurados mostram-nos que sua ocorrência se deu nos países de língua grega, entre o IX e VIII século antes da nossa era ... b) Chama-se de “mitologia” ao conjunto, de todo tipo, de relatos e lendas maravilhosas, cujos textos e monumentos figurados nos mostram que sua ocorrência deu-se nos países de língua grega, entre os séculos IX e VIII antes de nossa era ... c) Chama-se “mitologia” ao conjunto de maravilhosas lendas, de todo tipo, e relatos, cujos os monumentos figurados e textos mostram-nos que sua ocorrência se deu entre o IX e VIII séculos antes da nossa era, nos países de língua grega ... d) Chamam-se “mitologia” os, de todo tipo, relatos e lendas maravilhosas, cujos monumentos e textos figurados nos dão mostra que sua ocorrência deu-se nos países de língua grega, antes de nossa era, entre o século IX e o século IX ... e) Chamam-se de “mitologia” o conjunto de relatos maravilhosos e de lendas de todo o tipo, cujos textos e monumentos figurados mostram-nos que a ocorrência deles deu-se em países de língua grega, entre os IX e VIII séculos antes da nossa era ... Questão 09) Levando em conta aspectos de pontuação e sem preocupar-se com a manutenção do conteúdo das mensagens originais, indique o item em que não se verifica correção nas modificações propostas para passagens originais do texto. a) “Temos neles um imenso material, muito dificilmente definível, de origem e características bastante diferenciadas, que desempenhou e ainda desempenha – na história espiritual do mundo – um papel considerável.” (ls. 04/06) / Temos, neles, um imenso material, muito dificilmente definível, de origem e características bastante diferenciadas, que desempenhou e ainda desempenha, na história espiritual do mundo, um papel considerável. b) “Elas se apresentam assim como um sistema, mais ou menos coerente, de explicação do mundo: cada gesto do herói cujas façanhas são narradas é um gesto criador e implica conseqüências que têm efeitos sobre todo o Universo.” (ls. 10/12) / Elas se apresentam, assim, como um sistema – mais ou menos coerente – de explicação do mundo: cada gesto do herói, cujas façanhas são narradas, é um gesto criador e implica conseqüências que têm efeitos sobre todo o Universo. c) “Pertencem a esse tipo, sobretudo, os ciclos lendários dos celtas, que nos foram transmitidos, por exemplo, pelos romanos gauleses.” (ls. 18-20) / Pertencem a esse tipo, sobretudo, os ciclos lendários dos celtas que nos foram transmitidos, por exemplo, pelos romanos gauleses. d) “Os romanos, em particular, parecem ter assim integrado às suas mais antigas crônicas verdadeiras gestas lendárias.” (ls. 21-22) / Os romanos, em particular, parecem ter, assim, integrado às suas mais antigas crônicas, verdadeiras gestas lendárias. e) “O logos é verdadeiro, no caso de ser justo e conforme à “lógica”; é falso quando dissimula alguma burla secreta (um “sofisma”).” (ls. 31-32) / O logos é verdadeiro, no caso de ser justo e conforme à “lógica”; é falso, quando dissimula alguma burla secreta – um “sofisma”. Questão 10) Nas alternativas abaixo, reescreveram-se passagens do texto. Indique a opção em que a reescrita não apresenta qualquer deslize de natureza morfossintática, ortográfica, ou de impropriedade vocabular. a) Na maioria das vezes, as lendas – ao movimentarem forças ou seres consideradas superiores aos humanos – pertencem ao domínio religioso. b) Decerto, os deuses não estão ausentes da narrativa, a qual sua ação é sensível; mas a gênese do mundo não é por isso colocada em questão. c) O herói limita-se a realizar gestos de grande bravura, criar astúcias memoráveis, realizar viagens por países maravilhosos; e – ainda que ultrapasse à medida humana – permanece com a mesma essência da humanidade. 4 Décio Sena d) Pertencem a esse tipo, sobretudo, os ciclos lendários dos celtas, os quais os romanos gauleses estiveram a incumbência de nos transmitir. e) Os romanos, em particular, parece terem assim integrado às suas mais antigas crônicas verdadeiras gestas lendárias. 2ª PARTE: GABARITO COMENTADO: QUESTÃO 01 GABARITO: C Comentários: Para comprovar-se o erro da afirmativa contida na alternativa “c”, leia-se o fragmento de texto contido entre as linhas 07 e 13, que se transcreve a seguir, salientando-se o que nele mais fortemente caracteriza a proposição como falsa: “Todos os povos, em dado momento de sua evolução, criaram lendas, ou seja, relatos maravilhosos nos quais, durante um certo tempo, e pelo menos em certa medida, acreditaram. Na maioria das vezes, as lendas – por movimentarem forças ou seres considerados superiores aos humanos – pertencem ao domínio da religião. Elas se apresentam assim como um sistema, mais ou menos coerente, de explicação do mundo: cada gesto do herói cujas façanhas são narradas é um gesto criador e implica conseqüências que têm efeitos sobre todo o Universo. Pertencem a esse tipo os grandes poemas épico-religiosos da literatura hindu.” QUESTÃO 02 GABARITO: A Comentários: Leia-se o fragmento contido entre as linhas 28 e 30: “O mito se opõe ao logos como a fantasia à razão, como a palavra que narra à palavra que demonstra. Logos e mythos são as duas metades da linguagem, duas funções igualmente fundamentais da vida do espírito.” QUESTÃO 03 GABARITO: D Comentários: Para certificar-se da impropriedade da opção “d”, deve-se ler com atenção a passagem que vai da linha 29 à linha 35: “Logos e mythos são as duas metades da linguagem, duas funções igualmente fundamentais da vida do espírito. O logos, sendo uma argumentação, pretende convencer; implica, no auditor, a necessidade de formular um juízo. O logos é verdadeiro, no caso de ser justo e conforme à ‘lógica’; é falso quando dissimula alguma burla secreta (um ‘sofisma’). Mas o mito tem por finalidade a si mesmo. Acredita-se ou não nele, conforme a própria vontade, mediante um ato de fé, caso pareça ‘belo’ ou verossímil, ou simplesmente porque se quer acreditar.” Desta forma, na alternativa “d”, quando se estabelece que o mito exige que nele se acredite, incorreu-se em mau entendimento do texto. QUESTÃO 04 5 Décio Sena GABARITO: D Comentários: O item “c” peca ao estabelecer que o sujeito da forma verbal “reportam” é “os poemas homéricos, e o fim do paganismo”. Uma leitura atenta indica que a expressão “fim do paganismo” é um dos limitadores temporais da ocorrência do mito na Grécia. Ao lermos o início do texto, isto fica claro. Para facilitar o entendimento, transcreve-se o texto, marcando-se a sua seqüência direta e, em especial, o intervalo de tempo em que houve, segundo o autor, a ocorrência do mito grego: “Dá-se o nome de ‘mitologia’ grega ao conjunto de relatos maravilhosos e de lendas de todo tipo, cujos textos e monumentos figurados nos mostram que sua ocorrência se deu nos países de língua grega, entre o IX ou VIII séculos antes da nossa era, época à qual nos reportam os poemas homéricos, e o fim do ‘paganismo’, três ou quatro séculos depois de Cristo. No item “d” utilizaram-se duas ocorrências de pronomes “se” associado a um mesmo verbo, embora de significados distintos e regências também diferentes. Assim, em: “Dá-se o nome de ‘mitologia’ grega ao conjunto de relatos maravilhosos de lendas de todo tipo” está ocorrendo uma oração de voz passiva pronominal. O pronome “se” é aí identificado como pronome apassivador. Verifique-se a possibilidade da reescritura da oração em uma forma de passiva analítica, que seria: O nome de ‘mitologia’ grega é dado ao conjunto de relatos maravilhosos de lendas de todo tipo. Por outro lado, em “sua ocorrência se deu nos países de língua grega” o verbo é pronominal. Trata-se do verbo dar-se, que significa, na passagem, realizar-se, acontecer, ocorrer. Neste caso, o “se” é parte integrante do verbo. Finalmente, a possibilidade de o vocábulo “neles” poder surgir, sem que se incorresse em desvio gramatical, em singular é perfeitamente viável, considerando-se que é cabível – talvez seja até melhor – sua associação ao vocábulo “conjunto”, que surge em “conjunto de relatos maravilhosos e de lendas de todo tipo”. QUESTÃO 05 GABARITO: A Comentários: A alternativa ficou incorreta em face da segunda opção que se ofereceu como possível para o texto original, mantendo a correção gramatical e preservando o sentido da mensagem original. Sem dúvida, a alteração de “Todos os povos, em dado momento de sua evolução, criaram lendas” em Todo povo, em dado momento de sua evolução, criou lendas nenhum transtorno de natureza gramatical faria surgir e preservaria o sentido da mensagem – destacando-se, desde já, o interesse em darse ao substantivo “povos” um matiz semântico generalizante, indefinido, semelhante ao que poderia ser dito, embora de outra maneira: Qualquer povo, em dado momento de sua evolução criou lendas. Na segunda frase proposta, entretanto, a utilização do artigo – bem como do pronome indefinido, obviamente – em singular, se não causa qualquer embaraço à correção gramatical do texto, promove, contudo, uma alteração bastante perceptível no sentido da mensagem. Agora, note-se bem, já não se fala de um povo indefinido, impreciso – qualquer povo, retome-se a idéia –, mas sim de um povo definido, determinado e, mais ainda, em sua inteireza. Como exemplos que servirão para consolidar o que se salientou acima, note-se o valor significativo comum a estas duas frases: 1. Todo bairro será visitado pelos agentes sanitários. 2. Todos os bairros serão visitados pelos agentes sanitários. Como se constata, a mensagem é rigorosamente a mesma. Entretanto, compare-se o valor significativo veiculado pelas duas orações com a que se segue: 3. Todo o bairro será visitado pelos agentes sanitários. 6 Décio Sena Não é difícil verificarem-se as mensagens distintamente veiculadas pela oração 3 em confronto com a que se veiculara nas orações 1 e 2. Idêntico fato foi explorado na alternativa “a”. Na alternativa “d” faz-se menção ao fato de a oração “nos quais, durante um certo tempo, e, pelo menos em certa medida, acreditaram.” exercer efeito semântico de mera explicação para o substantivo “relatos”, sendo, portanto, uma oração subordinada adjetiva explicativa e, conseqüentemente, devendo estar isolada da principal por vírgulas. Relembre-se: as orações que têm por conector um pronome relativo são subordinadas adjetivas. Quando trazem para um substantivo da oração principal efeito semântico restritivo, são denominadas subordinadas adjetivas restritivas. Não se isolam da principal por vírgulas: Os operários que chegaram tarde foram advertidos. Quando a mensagem que expressam não diminui o significado do substantivo a que se ligam, são denominadas subordinadas adjetivas explicativas. Neste caso, deverão isolar-se da sua principal: Os operários, que chegaram tarde, foram advertidos. Complementando-se a informação relativa ao emprego das vírgulas, é possível admitir-se emprego de vírgula ao final de uma oração subordinada adjetiva restritiva, particularmente em períodos longos, nos quais a oração subordinada adjetiva restritiva também é longa. Tal vírgula servirá como uma pausa na enunciação: “Fedra, ao amar Hipólito, realiza suas fantasias na figura do enteado, mas não aceita o corte separador que lhe rouba o filho, enquanto parte sua.” (Hélio Pellegrino) QUESTÃO 06 GABARITO: E Comentários: “Estranha”, no texto, deve ser entendida, no que diz respeito ao seu significado, como desconhecida, inusitada. As demais associações estão rigorosamente corretas. QUESTÃO 07 GABARITO: B Comentários: Verifica-se que a preposição “de” nas expressões “Na maioria das vezes” e “os relatos dos mitos” portam os valores significativos (ou nocionais) de: “Na maioria das vezes” = vindo após o vocábulo “maioria” o qual faz alusão a quantidades não precisas, não exatas, que indicam parte de um universo, a preposição ao introduzir a expressão “as vezes” transmite exatamente a idéia que se mencionou: totalidade depois de palavra que indica parte. “os relatos dos mitos” = vindo após o substantivo “relatos”, a preposição só estaria indicando agente de ação caso “os mitos” fossem o autor dos relatos. Na verdade, a expressão “dos mitos” dá conta daquilo que é relatado, sendo a preposição, então, introdutora de idéia nocional de paciente de ação. No item “a”, recordem-se alguns casos de colocação pronominal: 1. Próclise facultativa, quando o sujeito é representado por substantivo, em geral imediatamente antecedente do verbo: “O herói se limita ...” ou O herói limita-se ... 2. Próclise obrigatória provocada por pronomes relativos: “sobretudo, os ciclos lendários dos celtas, que nos foram transmitidos, por exemplo” 3. Próclise proibida no início de períodos: “Insinua-se por toda parte.” Para a compreensão do item “c”, deve-se observar a existência implícita das formas verbais que se mostram abaixo, entre colchetes: 7 Décio Sena “O mito se opõe ao logos como a fantasia [se opõe] à razão, como a palavra que narra [se opõe] à palavra que demonstra.” Percebida a existência das formas verbais implícitas, entende-se que o vocábulo “como” é analisado morfologicamente como conjunção subordinativa comparativa. Por outro lado, o vocábulo “que” é um pronome relativo. As orações introduzidas por tais palavras são evidentemente de naturezas distintas, sendo adverbial a primeira e adjetiva, a segunda. Na opção “d” realçaram-se dois adjetivos, em função sintática de predicativos de sujeito. No item “e” o vocábulo “conforme” tem enquadramento morfológico distinto do que apresentara na alternativa anterior. Identifica-se semanticamente com o vocábulo “segundo” valendo por preposição, sendo, também, preposição. “Mediante” é, igualmente, preposição. Alguns chamam tais vocábulos que não estão sempre com valor de preposições, de preposições acidentais. QUESTÃO 08 GABARITO: B Comentários: Não há qualquer deslize de natureza gramatical no que se lê no item “b”. A alternativa trabalha o verbo chamar, utilizado com sentido de nomear, denominar, apelidar. Trata-se de um verbo clássico no estudo de regência verbal. No item ora estudado, o verbo foi empregado com regência transitiva indireta. Neste caso, estando acompanhado do pronome “se” criou-se uma oração de voz ativa com sujeito indeterminado. O pronome “se” será identificado como símbolo (índice, partícula) de indeterminação do sujeito. Sendo transitivo indireto, percebe-se seu objeto indireto “ao conjunto, de todo tipo, de relatos e lendas maravilhosas”. Ainda na primeira oração, a expressão de “mitologia” funciona, sintaticamente, como predicativo do objeto indireto. Na segunda oração, a expressão “cujos textos e monumentos figurados” exerce papel sintático de sujeito da forma verbal transitiva direta e indireta “mostram”, a qual recebe como objeto indireto o pronome pessoal oblíquo átono “nos” e por objeto direto a oração que se segue “que sua ocorrência deuse nos países de língua grega, entre os séculos IX e VIII antes da nossa era”. Nesta última oração “sua ocorrência” é o sujeito do verbo dar-se (já mencionado na resolução da questão 36). Ocorrem ainda, de relevante, nesta última oração, duas expressões adverbializantes “nos países de língua grega”, mencionando lugar, e “entre os séculos IX e VIII antes de nossa era ...”, aludindo a tempo. O texto contido no item “b” está correto, como se demonstrou acima. Na opção “a” ocorre desvio de concordância verbal, que retificado apontaria: Chamam-se “mitologia” os relatos e lendas maravilhosos ... Na opção “c” ocorre uso indevido de artigo os após o pronome relativo cujos. Na alternativa “d” há erro de regência nominal. O substantivo “mostra” deveria reger uma preposição, tal qual se mostra: Chamam-se “mitologia os, de todo tipo, relatos e lendas maravilhosas, cujos monumentos e textos figurados nos dão mostra de que sua ocorrência deu-se nos países ... Finalmente, no item “e” há erro de concordância verbal, uma vez que o sujeito do verbo chamar é “o conjunto de relatos maravilhosos e de lendas de todo o tipo”, o que implica emprego daquele verbo em terceira pessoa do singular, desta forma: Chama-se de “mitologia” o conjunto de relatos maravilhosos e de lendas de todo o tipo, ... Concluindo, um lembrete importante: certamente não terá passado despercebida a mudança de significado levada a efeito pela mensagem contida no item “b”, relativamente ao texto original, que ensejou a questão. Convém estar-se, sempre, muito atento aos enunciados das questões. No enunciado desta que ora se resolveu, não há qualquer referência à obrigatoriedade da manutenção do sentido original do texto. Podemos observar, novamente, a enunciação da questão: 8 Décio Sena “O fragmento de texto acima foi reescrito de maneiras distintas nas opções que se seguem. Indique a alternativa em que a nova redação não implicou deslize gramatical.” A partir do que se enunciou, apenas fatos gramaticais estariam sendo levados em conta. Eventuais modificações do sentido da mensagem, ainda que pequenos, não devem ser levados em conta para a resolução da questão. QUESTÃO 09 GABARITO: D Comentários: A vírgula que se colocou entre “crônicas” e “verdadeiras” promoveu a separação entre a forma verbal parecem ter integrado” e seu objeto indireto “verdadeiras gestas lendárias”. Não é lícita a separação do verbo de seus complementos, por vírgula. As demais alterações promovidas estão corretas. Dentre elas, destaque-se a colocação, na alternativa “b”, da oração “cujas façanhas são narradas”, o que altera o sentido do texto, na medida em que modifica uma oração subordinada adjetiva restritiva em subordinada adjetiva explicativa. Releia-se, então, o enunciado e verifique-se que há menção que estabelece “sem preocupar-se com a manutenção do conteúdo das mensagens originais”. QUESTÃO 10 GABARITO: E Comentários: São os seguintes os erros de cada alternativa: a) Concordância nominal indevida: “forças ou seres consideradas” deve ser modificado para forças e seres considerados. b) Regência verbal defeituosa: “a qual sua ação é sensível” deve ser corrigido para à qual sua ação é sensível. c) Regência verbal defeituosa: “ainda que ultrapasse à medida” corretamente redigido resulta ainda que ultrapasse a medida. d) Impropriedade vocabular: utilizou-se o verbo estar em lugar de ter, na passagem “os romanos gauleses estiveram a incumbência de nos transmitir”. Corrigindo-se: os romanos gauleses tiveram a incumbência de nos transmitir. No item “e” não há qualquer erro. Utilizou-se, novamente, forma verbal formada por parecer mais outro verbo, conforme já se utilizara na questão 32. ADQUIRA O LIVRO ESAF –COLEÇÃO PROVAS COMENTADAS – PORTUGUÊS DÉCIO SENA – EDITORA FERREIRA 9