VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Análise Geoecológica da Bacia Hidrográfica do Rio Trairussu, Aquiraz/Ceará - Brasil Francisco Otávio Landim Neto Universidade Federal do Ceará [email protected] Francisco Davy Braz Rabelo Universidade Federal do Ceará [email protected] Edson Vicente da Silva Universidade Federal do Ceará [email protected] Introdução O litoral cearense, com seus 575 quilômetros de extensão linear possui uma variedade de paisagens que são peculiares por sua beleza cênica e importância ecológica caracterizada por está numa zona de interface entre o meio continental, marinho e atmosférico podendo ser considerado com uma sub região. Um geossistema sujeito a constantes intercâmbios de fluxo de matérias e energia. Tal fato leva a ocorrência de níveis de estabilidade natural bastante frágil, onde o manejo adequado de suas feições naturais é necessário para a conservação dos seus recursos, bem como do conjunto do espaço geográfico litorâneo. Entre os ambientes de maior importância ecológica e econômica do litoral, destacam-se as planícies fluviais e áreas estuarinas que são ocupadas por manguezais, sendo um dos responsáveis pela produtividade pesqueira e pela estabilidade da linha de costa. A conservação está diretamente ligada a harmonização paisagística (atrativo turístico) e a produção biológica (pesca e aqüicultura), sendo, portanto justificáveis que pesquisas sejam realizadas visando uma maior compreensão de suas estruturas e processos atuantes, bem como analisar os seus atuais estágios de ocupação. Nas últimas décadas, tem ocorrido uma intensificação nas formas de uso e ocupação do litoral cearense, com conseqüente perda da qualidade ambiental e de vida das comunidades pesqueiras. Vasconcelos (2005) afirma que: A população litorânea disputa um mesmo espaço geográfico para as mais diversas atividades e 1 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais finalidades, entre elas, a habitação, a indústria, o comércio, a agricultura, a pesca, o lazer e o turismo. Torna-se natural que um espaço restrito pelo adensamento populacional, grupos distintos disputem uma mesma área para atividades diferentes, mas muito conflitantes e até mesmo antagônicas. A ocupação desse espaço concorrido está entre as principais causas de riscos ambientais na zona costeira (VASCONCELOS, 2005 p.31). Devido à interdependência existente entre os elementos que compõem a planície litorânea, intervenções sociais não planejadas, irão certamente afetar todo o conjunto de unidades e modificar os fluxos de matéria e energia. Desta forma, a definição e delimitação do potencial de suporte, áreas de risco e vulnerabilidades das unidades ambientais, tratam-se de importantes ferramentas de gestão e planejamento. Silva (1993) reforça que: As medidas de planejamento do espaço geográfico não devem se basear exclusivamente nos aspectos sócio-econômicos, mas também sobre as condições ecológicas, buscando a racionalização das mesmas, por meio da interdisciplinaridade é possível a elaboração de propostas de planejamento que adequem-se ao uso dos recursos naturais e a transformação do meio ambiente (Silva, 1993 p.25). Cabe ainda destacar que o planejamento ambiental possui grande importância na compreensão e analise da realidade das comunidades litorâneas, com isso o ato de planejar deve ser construído e reconstruído com a população que habita as comunidades das áreas litorâneas, sendo que os diversos problemas visualizados devem ser sanados com a participação conjunta dos sujeitos planejadores. Caracterização da Área de Estudo As bacias hidrográficas da Região Metropolitana de Fortaleza representam um conjunto de bacias das mais diversas formas e tamanho, cobrindo uma área total de 15.085 km², corresponde a 10,18% do território cearense. Compreendendo um agrupamento de 16 microbacias, abriga o mais importante centro consumidor de água do Estado do Ceará que corresponde a Região Metropolitana de Fortaleza, onde a disponibilidade hídrica tem sido insuficiente para o atendimento da população como também para o suprimento das diferentes atividades econômicas desenvolvidas. No momento está sendo necessário importar água de outras bacias hidrográficas, principalmente através de transposição hídrica por meio do Canal do Trabalhador e do eixo Castanhão/ R.M.F, que tem suas águas distribuídas por 31 municípios cearenses localizados, na sub região nordeste do estado do Ceará. As sub-bacias da sub região 2 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 estão posicionadas no sentido oeste-leste, estando representadas pelos rios: São Gonçalo, Gereraú, Cauipe, Juá, Ceará, Maranguape, Cocó, Coaçu, Pacoti, Catu, Caponga Funda, Caponga Roseira, Malcozinhado, Uruau, Pirangi e Choro. A área de estudo em questão se configura em um setor geográfico da Bacia Hidrográfica do rio Catú localizada no município de Aquiraz conforme a classificação da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará. O rio Trairussu possui uma área de drenagem com aproximadamente 20 Km² trata-se de um corpo hídrico de caráter perene, com escoamento ocorrendo tanto durante o período seco como chuvoso. A figura 01 indica a área de localização da sub bacia do rio Trairussu. Fonte: Landim, 2010 Unidades Geoecológicas da Bacia Hidrográfica Na área da bacia, efetivou-se a delimitação de diferentes unidades/ feições da paisagem que foram delimitadas de acordo com os procedimentos metodológicos que seguem os referenciais contidos em estudos integrados concernentes a sociedade e 3 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais natureza. Para o estabelecimento das unidades geoecológicas da paisagem foi utilizada a geomorfologia como a variável de importância fundamental, pois os limites do relevo e as feições morfológicas são mais facilmente identificadas e delimitadas. A partir da delimitação fez-se uma caracterização geoecológica das unidades encontradas na área de estudo, sendo definidas as seguintes unidades de paisagens. 1. Faixa Praial A faixa de praia é constituída por sedimentos holocênicos que formam um depósito continuo alongado pela extensão da costa, desde a linha de maré baixa até a base das dunas móveis. Tais sedimentos são formados por areias quartzosas sujeitas á ação abrasiva das marés que lhe fornece uma dinâmica resultando em continuas mudanças nas formas. Está unidade geoecológica possui um importante potencial paisagístico para as atividades de lazer e turismo. Porém torna-se necessário destacar que as características geográficas deste ambiente lhes confere um alto grau de instabilidade estando dessa forma sujeitas a mudanças constantes. Os pescadores utilizam a praia como ancoradouro das jangadas usadas na pesca realizada no mar garantindo a sobrevivência familiar através da atividade pesqueira. 2. Campo de Dunas Móveis As dunas de geração mais recente com seus sedimentos arenosos de granulometría fina, não apresenta uma evolução pedogenética eficiente. Essas dunas compõem cordões paralelos a faixa praial, tendo sua gênese morfológica condicionada á ação eólica que transporta as areias finas depositadas na praia até o interior. O caráter de ambiente recém constituído, restringe o desenvolvimento de uma cobertura vegetal evoluída, sendo que ou está desprovida de espécies vegetais ou colonizada de forma incipiente por uma vegetação pioneira Psamófila, de fisionomia herbácea e gramínea, ausência de uma cobertura vegetal significativa forma o ambiente bastante instável geomorfologicamente, uma vez que os ventos mobilizam seus sedimentos arenosos, fazendo as dunas moveis migrarem sobre outras unidades geoecológicas, com as planícies lacustres e fluviais. 3. Campo de Dunas Fixas Constituído por dunas bioestabilizadas pela vegetação, e organizadas em cordões arenosos mais afastados da linha de costa, essa unidade geoecológica é bastante 4 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 diferenciada das dunas moveis. Apresenta um horizonte superficial desenvolvido a partir da ação biológica favorável a uma evolução pedológica mais eficiente. A vegetação Subperenifólia de dunas contribui efetivamente na estabilização do relevo e na formação de um microclima com temperaturas mais amenas e com maiores teores de umidade edáfica e atmosférica. As dunas fixas atuam como uma barreira ecológica reduzindo o avanço do relevo de dunas móveis sobre outras unidades geoecológicas. Além de propiciar habitats para diferentes espécies animais, vegetais, os campos de dunas móveis e fixas, apresentam um grande reservatório de água subsuperficiais que alimentam por percolação os ambientes de planícies lacustres, fluviais e fluviomarinhas. Destaca-se que são áreas protegidas ambientalmente e constituem um dos mais importantes potenciais paisagísticos naturais. 4. Planície Fluvio Marinha. O rio Trairussu desemboca no riacho Barro Preto que possui depósitos Fluvio marinhos acumulados pela ação conjunta de processos continentais e marinhos, caracterizados pela deposição de sedimentos finos, siltosos e argilosos, sendo ricos em matéria orgânica. A mistura da água doce dos rios com a água salgada do mar que penetra por meio das marés no continente favorece a formação e desenvolvimento da vegetação de mangue, representada por espécies arbóreas como o mangue-vermelho (Rhizophora mangle), o mangue-preto (Avicennia Schaucriana e Avicennia germinans), o mangue branco (Laguncularia racemosa), e o mangue ratinho (Conocarpus erectus). Essas áreas apresentam solos lamacentos e muito escuros em virtude da grande quantidade de matéria orgânica, os solos são salinos e ácidos, não tendo capacidade edáfica para cultivos agrícolas. Devido a contínua disponibilidade de nutrientes este ecossistema possui um elevado número de espécies da fauna que utiliza os manguezais para alimentação, reprodução e abrigo. Com a alta capacidade de reprodução, a maioria dos peixes, crustáceos e moluscos possuem um poder de recuperação populacional bastante acentuado, desde que não seja interrompido o ciclo reprodutivo dessas espécies, nem haja excessiva exploração de determinadas espécies ou ainda marcantes alterações ambientais (Silva, 1987). 5 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais 5. Tabuleiros Pré- Litorâneos Trata-se de uma superfície plana com um caimento suave em direção a linha da costa, exerce e recebe grande influência em relação a planície litorânea uma vez que há um permanente intercambio de sedimentos com suas unidades geoecológicas. Seus solos dominantes são as Areias Quartzosas Distróficas, de baixa fertilidade estando associadas aos Podzolicos Vermelho-Amarelos Distróficos, encontra-se recobertos por uma vegetação secundaria, a vegetação subcaducifolia de Tabuleiro. Devido a um uso e exploração continua e intensa, a cobertura vegetal original foi significativamente degradada onde tem-se a predominância das seguintes espécies vegetais: coqueiros; cajueiros; cultivo de mandioca, milho e feijão. Atualmente há o predomínio da atividade agrícola e pecuária, sendo que a vegetação natural, foi substituída por cultivos permanentes de frutíferas (cajueiros, coqueiros e mangueiras) e cultivos de subsistência. 6. Planícies Fluviais As planícies fluviais é uma feição típica de acumulação que são formadas pelas ações e deposições dos rios, com sedimentos formados por areias grossas, silte e argila. As áreas de acumulação fluvial são constituídas pelas margens e terraços do rio Trairussu com seus afluentes, são nessas áreas onde se apresentam as melhores condições de solo aluviais com presença de matéria orgânica de boa fertilidade natural. Nessas áreas aluviais se desenvolve a Vegetação Ribeirinha que é composta por arvores de grande porte, sendo também adequados para as culturas agrícolas, sobressaindo-se o feijão, milho, cana-de-açúcar e a mandioca. Há terrenos mais próximos ao curso d água que possuem um maior acumulo hídrico superficial, favorecendo seu uso agrícola durante quase todo ano. As áreas mais afastadas dependem das águas das chuvas e das cheias fluviais para poderem produzir agricolamente. 7. Planície Lacustre A lagoa da Encantada, que representa o maior corpo hídrico superficial da área de estudo, possui amplas superfícies de inundação em ambas as margens. Essas planícies lacustres possuem características ambientais similares aos das planícies fluviais, apesar de serem territorialmente mais largas. O histórico de uso e ocupação levou a destruição da vegetação ribeirinha anteriormente presente nas margens da lagoa, atualmente as mesmas são ocupadas 6 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 por cultivos de caráter temporário, característicos da agricultura de subsistência local como batata-doce, macaxeira, mandioca, feijão e milho. Algumas hortaliças são produzidas nos terrenos mais altos, sendo irrigados com água da lagoa. A Figura 02 indica a delimitação cartográfica das unidades geoecológicas da Bacia Hidrográfica. Fonte: Landim, 2010 A Construção Metodológica de Um Estudo Integrado Procurou-se realizar uma pesquisa de caráter interdisciplinar, decidindo-se optar por uma abordagem metodológica sistêmica, onde a analise socioambiental está voltada para uma visão de síntese do conjunto do espaço geográfico estudada. A concepção sistêmica consiste em uma abordagem de qualquer diversidade da realidade estudada (objetos, propriedades, fenômenos, relações, problemas, situações) regulada em um outro grau que se manifesta mediante algumas categorias sistêmicas, tais como: estrutura, elemento, meio, relação e intensidade. (RODRIGUES, VICENTE & CAVALCANTI, 2007, pg. 41) Dessa forma, o sistema do espaço geográfico pode ser definido como um conjunto de elementos que possuem relação entre si, formando uma unidade e integridade, ou seja, um complexo único, organizado formado pela organização dos objetos ou partes. O planejamento ambiental pode e deve se basear na analise da paisagem que consiste na caracterização das diversas funções do meio ambiente, a distribuição das atividades econômicas e as diferentes atividades da população, com vista a garantir a 7 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais utilização racional dos recursos naturais, humanos e econômicos acarretando na melhor organização do espaço geográfico Incitado pela política de reconhecimento e valorização de terras virgens na URSS, em 1962, Sotchava utilizou os princípios sistêmicos e a noção de paisagem e apresentou algumas conceituações. Para o autor Geossistema é a expressão dos fenômenos naturais, ou seja, o potencial ecológico de determinado espaço no qual há uma exploração biológica, podendo incluir fatores sociais e econômicos na estrutura e expressão espacial, porém, sem haver necessariamente, face aos processos dinâmicos, uma homogeneidade interna. Conforme Bertrand (1978) a paisagem é uma determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica, portanto, instável, de elementos físicos, biológicos e humanos reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem parte da paisagem um conjunto único e indissociável. Tricart (1977) considera o ecossistema como um todo no qual os seres vivos são dependentes entre si e do meio que vivem o que permite agrupar áreas homogêneas quanto às relações mútuas entre os fatores de potencial ecológico e exploração biológica. Ao trabalhar a ecodinâmica – dinâmica dos ecossistemas – o autor apresenta uma preocupação com a degradação ambiental, sua metodologia objetiva ajudar no planejamento e utilização do meio natural a fim de não permitir sua devastação. Cabe destacar que Jean Tricart estabeleceu dentro da Ecodinâmica uma classificação dos meios: meios estáveis, os meios intermediários e os meios fortemente instáveis. Chistofoletti (1979) observa que a abordagem e valorização do quadro natural; os movimentos relacionados com a crise ambiental; a difusão das perspectivas sistêmicas e das técnicas de analise multivariada e a preocupação em fornecer bases necessárias para o planejamento sócio-econômico contribuem para a caracterização, estrutura e dinâmica das paisagens naturais. Para Rodrigues, Silva e Cavalcanti (2004), a paisagem é vista como um sistema de conteúdos, atrelados pela interação em três níveis de sistemas ambientais: a paisagem natural (ecossistema) formada pela interação de elementos e componentes naturais e antropo-culturais; a paisagem social. È vista como a área onde vive a sociedade humana; a paisagem cultural, resultado da ação da cultura ao longo do tempo, modelando-se por um grupo social a partir de uma paisagem natural. Inclui a paisagem visual, o percebido e o valorizado. A partir destas concepções teórico-metodológicas, é que a pesquisa se desenvolveu, analisando não apenas a paisagem propriamente dita, mas as inter-relações que se 8 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 estabelecem com o meio, os fatores sociais, econômicos e ambientais, percebendo as influências que determinam a dinâmica da área em estudo. Utilização e Conservação dos Recursos Naturais Torna-se necessário destacar algumas características de utilização e conservação dos recursos naturais que são utilizados pela comunidade do rio Trairussu que está localizada no entorno do referido rio. A mesma é constituída por 47 famílias ocupando uma área de planícies fluviais e tabuleiro litorâneo. A área está localizada no município de Aquiraz, distante a cerca de 60 Km do centro da cidade de Fortaleza. Atualmente a comunidade conta com 270 moradores, onde nota-se que as atividades econômicas estão relacionadas com a agricultura de subsistência pesca e o extrativismo vegetal. Na área de estudo em questão a comunidade do rio Trairussu observa-se um acentuado processo de adensamento provocados por construções residenciais que resultam em impactos relativos á contaminação de águas superficiais como o despejo de efluentes sem tratamento, contaminação do aqüífero subterrâneos pela falta de serviços de esgotamento sanitário, deposição de resíduos sólidos em áreas inapropriadas, tendo em vista que inexiste a coleta seletiva do lixo pelo poder publico. Percebe-se também a existência de desmatamentos, queimadas que são causadas pela prática da agricultura de subsistência como também pela extração de madeira utilizada como combustível. O desmatamento provoca desequilíbrios como a erosão lacustre de encostas e o conseqüente assoreamento acelerado dos cursos de água (localizados nas margens ao rio), aumento da evaporação da umidade do solo e das águas superficiais, acarretando no rebaixamento do lençol freático. Os impactos ambientais presentes na planície fluvial decorrem das formas de uso e ocupação, principalmente relacionado ao extrativismo vegetal e agricultura de subsistência. Porém cabe destacar que a planície fluvial se constitui em uma das principais fontes de alimentos, pois a comunidade recorre a mesma para a fim de tirar o seu sustento diário, com peixes e aves que fazem parte da dieta alimentar. Torna-se necessário destacar que a utilização destas planícies relaciona-se especialmente pelo umedecimento das áreas próximas, com a formação de várzeas, facilitando o plantio e desenvolvimento de policulturas temporárias de subsistência, tendo em vista que são encontrados solos de maior fertilidade. Nas planícies fluvio-marinhas a dinâmica natural atua de forma significativa, em função do recobrimento vegetal propiciado pelo manguezal e pela deposição de 9 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais sedimentos ao longo dos cursos de água e nas margens tem-se um gradativo aumento das atividades humanas relacionadas ao extratisvimo vegetal, pesca, caça, pecuária extensiva. O quadro 01 estabelece os principais problemas sócio ambientais da área de estudo. PROBLEMA Desmatamento 1 Diagnóstico dos Principais Problemas Sócio-Ambientais CAUSA GRAVIDADE Retirada da vegetação primaria; Utilização de madeira como combustível Falta de estruturas cooperativas e baixo nível educacional local Falta de Ocupação e Desemprego Media Poluição Hídrica 4 Inexistência de Saneamento Básico Grande Queimadas 5 Preparação da terra para a prática agrícola denominada de Coivara Grande Acumulo de Lixo 6 Queima, Deposição em espaços públicos Grande Desemprego 2 Alcoolismo 3 Grande Grande UNIDADES. GEOECOLOGICAS Campo de dunas fixas; Planície Fluvio Marinha e Tabuleiro Litorâneo. Planícies Fluviais e Lacustres, Tabuleiros Litorâneos Planícies Fluviais e Lacustres; Tabuleiro Litorâneo Planícies Fluviais; Lacustres, e Fluviomarinhas Campo de dunas fixas, Campo de dunas móveis, Planície Fluvial e Tabuleiro Litorâneo Planícies Fluviais e Lacustres; Tabuleiro Litorâneo Fonte: Landim, 2010 Diante destes problemas sócio ambientais pertencentes à área de estudo faz-se necessário propor ações ambientais conjuntas que possuem caráter de minimizar ou até mesmo extinguir os problemas sócio ambientais existentes na comunidade. Resultados e Discussões As condições ambientais da área pesquisada apresentam-se diferentes níveis de ocupação e degradação com feições diferenciadas de paisagens: faixa de praia; as dunas moveis e semi fixas; os tabuleiros pré-litorâneos; a planície fluvio marinha e as planícies fluviais e lacustres. Nestas diferentes unidades geoecológicas, com exceção das dunas e planícies fluviomarinhas os recursos são utilizados de forma expressiva, especialmente com a prática da agricultura de subsistência, extrativismo e a pesca que são as principais atividades econômicas desenvolvidas na comunidade do rio Trairussu. O quadro 02 10 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 apresenta as potencialidades, limitações e uso compatível das unidades geombientais presentes na área de estudo. Potencialidade/ Limitação - Importante potencial paisagístico para atividades de lazer e Turismo. - Restrições para qualquer tipo de construção dada a influência direta das marés e instabilidade ecodinâmica. Uso Compatível - Atividades de lazer para a população -Práticas de (Trilhas ecológicas), ecoturismo e balneabilidade - Elevado potencial para atividades de lazer, porém de forma racional. - Excelente potencial de águas subterrâneas - Ambientes limitados para atividades agrícolas e construções dada a constante remobilização de sedimentos - Áreas de Preservação Permanente, devem ser protegidas para turismo ecológico. - Ambientes que dever ser conservados, podendo-se ser utilizado para fins de lazer desde que de forma racional. Planície Fluvio Marinha -Ambientes apresentam alta biodiversidade e capacidade produtiva do ponto de vista da flora e fauna. - Potencial hidrológico de superfície e subsuperficie - Proteção da linha de costa e possibilidade de pesca e mariscagem controlada, respeitando o período do defeso. Tabuleiros PréLitorâneo - Apresentam limitações quanto a fertilidade dos solos - Bom potencial de recursos hídricos superficiais dada a presença de lagoas e córregos durante o período chuvoso e limitado no período seco. - Ausência total ou parcial de cobertura vegetal natural, limitado a utilização de frutos silvestres e da caça para fins alimentares. - Ecossistemas sujeitos a preservação, porem podem ser utilizados de forma racional para pesca e moluscos, crustáceos e peixes. - Aquicultura racional, e turismo ecológico e cientifico. - Áreas apropriadas para a cultura do caju, murici e agricultura de subsistência. Faixa Praial Dunas Móveis e Fixas Planícies Fluviais e Lacustres - Presença de solos aluviais com elevada fertilidade natural - Bom potencial de águas superficiais e subterrâneas - As lagoas constituem em importantes locais de lazer e pesca -Presença de sedimentos argilosos utilizados em cerâmicas - Algumas áreas sujeitas a inundações periódicas Fonte: Landim, 2010 -Turismo ecológico e trilhas. -Áreas favoráveis a instalção de infraestruturas e expansão de ocupações residenciais - Pesca artesanal nas lagoas -Áreas favoráveis ao desenvolvimento agrícola - Não indicadas para construções devido as inundações periódicas e por terem patês de sua superfície como APP. Algumas propostas foram sugeridas e discutidas em conjunto com a comunidade local com o intuito da implantação das mesmas, lista-se algumas das principais propostas discutidas: I – Incentivar a adubação orgânica, enterrando a própria vegetação por ocasião do preparo do plantio possibilitando dessa forma o aumento da fertilidade do solo e melhoria na produtividade agrícola; 11 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais II – Eliminar as queimadas para permitir que a matéria orgânica se decomponha naturalmente, introduzindo nutrientes orgânicos nos solos, caso contrario a produtividade agrícola diminuirá gradativamente com o passar dos anos; III – A pesca deve respeitar o ciclo reprodutivos de peixes e crustáceos, com estabelecimento do período de defeso; IV – A criação de pequenos animais domésticos (galinhas, patos, marrecos), para o fornecimento de carne e ovos para a alimentação, obtendo um excedente para ser comercializado; V – Instalação de pequenas hortas, para a produção de legumes e verduras, podem complementar a alimentação das famílias que vivem na comunidade do rio Trairussu. Cabe destacar que algumas hortas já existem em algumas residências e podem ser estimuladas a produção por famílias que ainda não possuem. VI – Melhorias no saneamento básico devem ser implementadas, haja vista que as instalações sanitárias que se encontram próximas aos poços de captação de água. VII – Analises de amostras de água se fazem necessárias para o desenvolvimento de um monitoramento da qualidade da água consumida pela comunidade com a finalidade de se verificar níveis de contaminação. VIII – Oficinas sobre educação ambiental em áreas de manguezal e reciclagem do lixo devem serem elaboradas e ministradas junto a comunidade. Essas propostas são sugeridas para a melhoria das situações ambientais e socioeconômicas da comunidade, algumas delas já estão sendo implementadas. Espera-se que os resultados obtidos com esse diagnóstico, possam contribuir para melhorar a qualidade de vida da comunidade como também os incentive ainda mais a lutar pela conservação do meio ambiente em que vivem, garantindo dessa forma uma sobrevivência digna para a comunidade litorânea do rio Trairussu. 12 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERTRAND, G. 1972. Paisagem e Geografia Física Global. Caderno de Ciências da Terra, São Paulo. CAVALCANTI, A. P. B. 2006. Métodos e técnicas da análise ambiental: guia de estudos para estudos do meio ambiente. UFPI, Teresina. CHRISTOFOLETTI, A. 1979. Análise de Sistemas em Geografia. Ed. Hucitec e Ed. USP, São Paulo. SILVA, E.V. 1987. Modelo de aprovechamiento y preservación de los mangles de Marisco y Barro Preto, Aquiraz-Ceará. Dissertação de Mestrado, IAMZ, Zaragoza. SILVA, E.V. 1992. 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