O Esoterismo dos Planetas Transpessoais Um olhar sobre os Grandes Mestres Espirituais Leonardo Figueiredo Mansinhos “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” João 1:1 Introdução Os planetas transpessoais são provavelmente o primeiro e mais polémico tema estruturante da Astrologia dos tempos modernos. Desde as descobertas de Úrano, Neptuno e Plutão, em 1781, 1846 e 1930, respectivamente, que a introdução destes planetas na ciência astrológica tem sido debatida e estudada, tendo criado a grande cisão da Astrologia. Mais do que apenas a consideração sobre a introdução e interpretação destes planetas num horóscopo, os transpessoais vieram trazer grandes discussões e divisões na forma de ver e actuar da Astrologia. Até ao aparecimento dos planetas transpessoais a Astrologia foca-se apenas no acontecimento em si, seja ele uma guerra, uma eleição, uma empresa, um evento ou mesmo o nascimento de uma pessoa, analisando-o, explicando-o e prevendo as suas “acções”. Com Úrano, Neptuno e Plutão a Astrologia vira-se para o desenvolvimento do indivíduo e da situação, procurando as suas razões profundas, as raízes, as motivações, trabalhando não só o consciente como também o inconsciente, trazendo-lhe assim uma dimensão filosófica e metafísica. Ao trabalhar o inconsciente e trazer esse lado oculto e profundo da situação para o consciente, os transpessoais carregam para a Astrologia uma dimensão esotérica que sem eles não seria, de todo, possível. O Esoterismo na Astrologia Ocidental Não existe propriamente um consenso sobre o que é o Esoterismo e também não é objectivo deste trabalho a sua explicação. No entanto, é importante esclarecer a ligação deste conceito com a Astrologia. Antoine Faivre diz, entre outras coisas, que o Esoterismo “refere-se a um conjunto de correntes espirituais na história ocidental moderna e contemporânea que partilham duma Leonardo Figueiredo Mansinhos CEIA 2011 certa familiaridade, assim como a «forma de pensamento» que é o seu denominador comum.”1 Esta forma de pensamento, refere ainda no mesmo texto, é constituída por seis elementos, dois intrínsecos – a doutrina das correspondências universais, a natureza viva, a imaginação/mediação e a transmutação – e dois extrínsecos – a concordância de tradição e a transmissão de conhecimentos. É sobre esta plataforma que podemos encontrar o desenvolvimento da Astrologia Ocidental com o aparecimento dos planetas transpessoais. Pois se toda a personalidade e o peso da sociedade estão contidos nos sete planetas tradicionais, Úrano, Neptuno e Plutão vêm trazer a necessidade de transmutação. Eles são os grandes desafiadores da nossa evolução, ligando-se à dimensão oculta da vida e confluindo para o conceito de metafísica que a filosofia nos trouxe. Mais do que uma simples previsão ou ferramenta de adivinhação, a Astrologia passa a revestir-se de uma dimensão psicológica, procurando, precisamente, entender como a ligação energética inconsciente pode motivar-nos a uma transformação que ultrapassa as fronteiras do pessoal e do social. O mito tornado caminho Os planetas transpessoais são planetas lentos no seu movimento de translação à volta do Sol. Dado que estes planetas demoram mais do que a média de uma vida humana a fazer os seus movimentos à volta do Sol, a sua influência sobre as pessoas (e situações) não se vai revelar sobre o lado de personalidade ou sobre o que a sociedade adiciona a cada um de nós, mas sim sobre gerações em termos globais. Por isso, os planetas transpessoais vão trazer ao horóscopo o desafio de desenvolvimento que cada um de nós carrega na sua geração. Por isso, entender este desafio passa por compreender os papéis destes planetas e o que eles nos solicitam. A melhor forma de o fazer é buscar a sua mitologia primordial, a sua correspondência com os deuses gregos e romanos, os originadores dos seus nomes. Úrano Úrano, segundo a mitologia, representa o criador primordial, foi gerado espontaneamente por Gaia e foi através dela que criou todos os seres. Mais do que apenas criar, é Úrano quem atribui nomes a todos os seres. Maior parte das suas criações eram grotescas, o que o deixava insatisfeito. Por isso renegava as suas criações e atirava-as para o ventre de Gaia. Cansada deste acto, Gaia solicita ajuda aos seus filhos, sendo apenas correspondido por um, Saturno2, que castra o pai, Úrano, impedindo-o de se reproduzir mais e tomando o seu papel como deus superior. Após castrá-lo, Saturno atira os seus órgãos sexuais ao mar, formando uma espuma de onde nasceu Vénus. O sangue de Úrano derramado sobre Gaia nasceram os Gigantes, as Fúrias e as Melíades. É nesta perspectiva que Úrano vai actuar sobre o horóscopo. Ele representa a mente cósmica, é o grande criador que existe em cada um de nós. Úrano mostra-nos a área das nossas vidas Leonardo Figueiredo Mansinhos CEIA 2011 (ou da situação) onde é pedida mudança, inovação, originalidade, a transcendência do passado para ganhar liberdade. Ele diz-nos que a Individuação é o caminho para a Unidade. Mas este Úrano comporta também um lado negro. Quando ele está tenso ou o nível de consciência não o permite libertar-se, ele traz frustrações e respostas violentas. Quando está liberto mas sem enfoque, ele leva a uma criação exagerada e grotesca, que é sucessivamente recusada, trazendo novamente frustração. Neptuno Neptuno era irmão de Júpiter e de Plutão. Ele foi engolido por Saturno, por este ter medo que um dos filhos pudesse tomar o seu lugar como rei dos deuses. Após ser liberto por Júpiter, foilhe atribuída uma parte da ordem do mundo, tornando-se assim o deus dos mares profundos, controlando as águas, os rios, as ondas, as correntes e as marés. Na mitologia são-lhe também atribuídos outros domínios, como os cavalos e os terramotos . Neptuno era também o dono da Atlântida. Este era um deus reconhecido pelos seus inúmeros casos amorosos, mas também pelo seu carácter temperamental, usando muitas vezes o seu poder de uma forma caprichosa. Por lidar com o domínio das águas, representando o nosso lado emocional denso e profundo, Neptuno traz ao horóscopo um campo por vezes difícil de entender e lidar. Ele representa o nosso Cristo interior, o Amor Universal, um lado espiritual de entrega e diluição com a entidade maior, com algo que é maior que nós próprios. Ele pede-nos a unificação pela fusão com o colectivo, exigindo-nos que aqui sejamos unos mas individuais. Se esta premissa não acontece “(…)é-se absorvido pela força colectiva, onde a identidade é anulada.”3 Mas o carácter mais negro deste planeta, e por vezes o que é mais explorado, tem a ver com outro factor, o de este planeta trazer ao consciente os medos mais profundos que muitas vezes monopolizam a nossa acção. No entanto, isto apenas acontece pois Neptuno protagoniza na área onde exerce a sua força uma unificação dos sentimentos, diluindo-os e criando em nós um “vazio da alma” que liberta os nossos medos e receios e que necessitamos de colmatar. O que na verdade ele faz, creio, é dar-nos a imagem desta unificação com o Todo, o que, consoante a consciência do indivíduo ou da situação, pode abrir caminhos de desenvolvimento pessoal e espiritual ou amplificar o lado negro da personalidade. Plutão Plutão era irmão de Júpiter e de Neptuno. Após ter sido salvo juntamente com o seu irmão Neptuno por Júpiter, é-lhe atribuída uma parte da ordem do mundo: o submundo. O que aparentemente seria a pior parte para dominar, revela-se na verdade ser a mais frutuosa, pois é no submundo que estão as verdadeiras riquezas da Terra. Plutão era assim o senhor do submundo, ele controlava o mundo dos mortos e não permitia aos seus súbditos saírem dos seus domínios. A ligação ao submundo é permanente, quem entra nos domínios de Plutão fica para sempre a ele ligado. Este é um planeta muito complexo na Astrologia. A polémica à volta das considerações astronómicas tem sido argumento para muitas vezes colocar de parte este planeta. Mas creio Leonardo Figueiredo Mansinhos CEIA 2011 que isso também tem a ver com a importância que ele tem e com o efeito que provoca sobre cada um de nós enquanto parte de um todo. Não é fácil encarar Plutão de frente, pois ele representa a aceitação dolorosa do lado obscuro da nossa existência, ele é a morte que leva à redenção. Plutão traz-nos um processo que devemos aceitar e reverenciar, uma descida ao inferno do nosso ser para matar, purgar e reintegrar interiormente, de forma a poder revelar as riquezas do nosso interior. Por isso Plutão é tão temido e tão negligenciado, pois ele revela o nosso lado negro, o nosso outro eu poderoso e do qual tantas vezes fugimos. Não obstante o facto destes três planetas actuarem sobre o Eu, eles agem, tal como indicado, em termos geracionais, pois tome-se em atenção o facto de que Úrano, o mais rápido dos três, passa 7 anos em cada signo. É por isso que eles vão trazer desafios globais por geração que são ajustados em cada indivíduo consoante a casa onde se vai situar. Os bastidores – o desafio transpessoal Depois de entendermos o âmbito destes planetas, é necessário compreender como é que eles actuam sobre os indivíduos ou situações numa base de consciência. Se quisermos usar uma analogia, podemos comparar a vida como um teatro. Não é original, é um facto, mas encaremos as nossas vidas como peças em que não conhecemos os guiões. Aqui, na verdade, todos somos espectadores uns dos outros, mas no palco demonstramos a nossa personagem e o ambiente em que ela se desenvolve. No entanto, é nos bastidores que se prepara a entrada dos cenários e das novas personagens. Ilustração 1 - Esquema de integração da Personalidade Leonardo Figueiredo Mansinhos CEIA 2011 O esquema acima reflecte o funcionamento estrutural da personalidade no seu ambiente. A dualidade, Sol e Lua, são a nossa base de existência, o lado original da construção da personagem. Estes são influenciados pelos aspectos de personalidade, que são moldados por Mercúrio, Vénus e Marte e que vão assim formando a personagem, dando-lhe os traços característicos, os jeitos, as formas de agir. Este conjunto, já por si só bastante complexo, é ainda moldado pela sociedade, pelo poder de Júpiter e Saturno, que veste a nossa personagem e a orienta nas suas opções e ideias, nas suas crenças e desafios. Mas é sobre este conjunto que vão actuar os planetas transpessoais. Não sobre a linha de influência mas sim sobre todos em conjunto, conferindo-lhe uma perspectiva de transmutação. No nosso teatro, eles são os bastidores que orquestram a entrada e saída de cenários, de ambientes, a música de fundo e as luzes, criando-nos desafios acima de nós próprios e possibilitando-nos explorar as nossas capacidades. Este é o grande papel dos transpessoais, apresentar desafios de consciência a cada um de nós, mostrar-nos caminhos de desenvolvimento únicos. Por isso consideramos que os Planetas Transpessoais são a Energia do Universo que nos faz transmutar para além do nosso Ego. Ilustração 2 - A integração dos transpessoais Isto faz-nos seguir uma perspectiva (que a mitologia já apresenta) de que a acção destes planetas é uma acção conjunta. É da interacção de Úrano com Neptuno que a acção e Plutão vai ser benéfica e desbloqueadora. Note-se que Úrano pede a Individuação e Neptuno pede a Unidade com o Todo. Aparentemente são duas coisas díspares, mas na verdade são um fortíssimo factor de integração de opostos. Quanto mais individuais nós somos no nosso percurso, mais diluídos com o Todo conseguimos estar, permitindo uma integração que se auto-amplia e auto-alimenta. A individualidade sem o propósito do Todo é apenas um exercício egocêntrico e a diluição no Todo sem qualquer individualização traz-nos a entrega a algo que nos alimenta por momentos mas não nos constrói. Leonardo Figueiredo Mansinhos CEIA 2011 É desta integração e potenciação da individuação com a diluição com o Colectivo que Plutão pode agir construtivamente. Plutão leva-nos ao resgate da nossa riqueza interior, algo que por vezes pode ser destrutivo e violento. Para chegarmos a estas riquezas que residem dentro de nós temos muitas vezes de deitar abaixo tudo o que somos. Se o fizermos com a consciência do nosso papel criador (Úrano) e de ligação com o Colectivo (Neptuno), Plutão permite-nos trazer à luz as riquezas do nosso interior, fazendo-nos subir uma oitava no nosso nível de consciência. Mas se pelo contrário, tentamos lidar ou trabalhar directamente com as nossas riquezas interiores sem a devida preparação (integração de Úrano e Neptuno), corremos o risco de entrar em processo de autodestruição. A relação entre os transpessoais e os signos – a problemática das regências, coregências e afinidades Aquando da descoberta destes planetas, os astrólogos preocuparam-se imediatamente em atribuir ligações com os signos. No entanto, isto nunca trouxe consenso, pois se no início atribuíram-se regências destes planetas a determinados signos, mais tarde considerou-se que retirar as regências dos anterior seria demasiado, tendo passado essa regência a co-regência e, para alguns estudiosos, até se classificaram como sub-regências. Hoje continua-se em muitos círculos de estudos a viver essa dualidade, não havendo consenso. Com o desenvolvimento deste estudo sobre os transpessoais, compreendemos que, na verdade talvez seja abusivo considerar regências ou co-regências, tais como as aplicamos sobre os restantes planetas em relação aos signos. No entanto, é indiscutível a relação próxima, a afinidade que cada um deles tem com um signo: Úrano a Aquário, Neptuno a Peixes e Plutão a Escorpião. Cremos que não é necessário explicar o porquê desta afinidade, pois basta compreender o que está atrás descrito em relação à energia destes planetas. Mas é importante justificar o porquê da não regência ou co-regência, pelo que apresentamos três razões que, em conjunto, permitem uma maior clarificação desta posição. A primeira e mais directa é descrita no ponto anterior e determina que a influência dos transpessoais nota-se sobre o global e não sobre as pessoas ou sobre as sociedades. A sua influência é planetária e geracional, não afectando directamente a personalidade. A segunda razão é a de que os seus tempos de translação são superiores à média de uma vida humana. Úrano demora cerca de 84 anos a dar uma volta ao Sol, Neptuno cerca de 164 anos e Plutão cerca de 248 anos. Por isso, durante uma vida não recebemos a energia destes planetas por todos os signos, podendo inclusive não chegar sequer à sua suposta regência, o que nos leva a considerar que o seu papel não está ligado directamente a um signo que possa reger mas sim sobre aspectos superiores a nós próprios, o que nos leva à terceira razão. Na terceira razão confirma-se a afinidade com os signos anteriormente referidos mas pela energia das Eras Astrológicas. É a transição do Planeta pelas Eras Astrológicas que alimenta e traz a importância aos planetas4, demonstrando que o conceito astrológico destes surge quando a humanidade está “preparada” para o entender. Leonardo Figueiredo Mansinhos CEIA 2011 Esta razão, mais complexa e também por isso mais difícil de entender, juntamente com as anteriores, justificam uma afinidade destes planetas transpessoais com os três signos, mas consideramos que atribuir uma regência ou uma co-regência é convencionalista e redutora, pois se tomarmos como exemplo uma pessoa cuja energia principal é a de Escorpião, estaríamos a atribuir o papel de planeta regulador desta pessoa a um planeta (Plutão) cujo intuito é a destruição, a morte simbólica e o resgate interior. Isto só por si não atribui qualquer estrutura ou dinâmica de personalidade, como Marte faria, neste caso; e com alguma facilidade chegamos à mesma conclusão relativamente aos outros dois planetas transpessoais. Os Planetas Transpessoais como processos evolutivos A ideia de afinidade entre os planetas transpessoais e os signos leva-nos a outra ideia igualmente importante, a das ligações entre os transpessoais e os restantes planetas. Sendo assim, e bastando uma pequena reflexão sobre o indicado anteriormente, entende-se que com os luminares, Sol e Lua, os transpessoais têm uma influência sobre a nossa base dual, sobre os nossos dois pólos. Em contrapartida, com os planetas sociais, Júpiter e Saturno, a influência vai recair sobre a nossa ligação com o meio em que estamos inseridos. Mas isto leva-nos igualmente à conclusão que com os planetas pessoais a influência dos transpessoais é directa, pois estes últimos estão, como o próprio nome indica, além dos primeiros. Eles representam, assim, a evolução dos planetas pessoais, eles são as suas Oitavas Superiores. As Oitavas Superiores são as energias dos planetas pessoais elevadas por subida de nível de consciência, levando a que estes sejam sublimados pelo trabalho interior e pessoal exercido, que é estimulado pelo correspondente superior. Assim, entende-se que Úrano é a oitava superior de Mercúrio, Neptuno de Vénus e Marte de Plutão. Se considerarmos as energias dos planetas pessoais e compararmos com as dos transpessoais já aqui explicadas, vamos concluir que a sua semelhança reside no ponto de partida5, mas concordamos que os transpessoais levam a energia dos pessoais a pontos mais elevados. Por isso, os planetas transpessoais demonstram ser processos evolutivos que vivemos intrinsecamente e de forma global. Como tal, eles são uma espécie de mapa que revela os caminhos de desenvolvimento por actuação sobre os planetas pessoais. Podemos encará-los como charadas que, ao serem desvendadas, abrem portais de consciência de desenvolvimento. Se quisermos olhar para esta relação de oitava superior de outra forma, podemos dizer que os transpessoais são os grandes orientadores, demonstrando que Úrano é o grande desafio de Mercúrio, Neptuno o de Vénus e Marte o de Plutão, o que, em nossa opinião, reforça o carácter esotérico e revelador de consciência que os transpessoais trazem à Astrologia. Leonardo Figueiredo Mansinhos CEIA 2011 Muito para além do simples desafio de um acontecimento ou de uma personalidade, os transpessoais trazem à Astrologia a necessidade de olhar o ser humano como um ser evolucional e espiritual, com desafios que o transportam para além de si mesmo. Conclusão Sendo provavelmente um dos mais controversos temas da Astrologia moderna, os planetas transpessoais revelam-se através deste estudo como os Grandes Mestres Espirituais que residem na centelha divina de cada um de nós. O primeiro ponto que devemos reter tem a ver com o facto de este ser o factor de cisão da Astrologia dos tempos modernos, trazendo uma dimensão psicológica e esotérica à análise do horóscopo como até ali não existia. É sob esta premissa que podemos encarar os transpessoais como energias estruturais de desenvolvimento pessoal e espiritual no sentido de autoconhecimento. Eles revelam a necessidade estruturada e evolutiva de subida de consciência para níveis de maior compreensão do nosso lugar no Todo Colectivo. Da sua análise num horóscopo podemos, primeiro que tudo, entender os pontos de inflexão na personalidade, desafios globais que vão mexer com o nosso eu e nos vão impelir para lá de nós mesmos. Por outro lado, os planetas transpessoais vão indicar-nos o caminho para transcendermos a nossa própria personalidade, funcionando como um mapa que nos dá as direcções de desenvolvimento e evolução através da acção sobre os planetas pessoais. A dimensão esotérica destes planetas reside assim na percepção que existe mais em nós do que nós mesmos, que tem de ser explorado pela interacção entre o desafio de individualidade que é Úrano e o de diluição consciente com o Todo que é Neptuno. Apenas sendo Unos no Todo podemos resgatar a essência do nosso eu profundo que Plutão nos solicita. Desta forma, percebemos que os planetas transpessoais encerram em si uma dimensão esotérica muito profunda, um conhecimento individual projectado no colectivo, tornando-se assim verdadeiros motores de transformação das sociedades e das pessoas nelas inseridas. Leonardo Figueiredo Mansinhos CEIA 2011 Bibliografia LIVROS FAIVRE, Antoine e Wouter J. Hanegraaff (1998), Western Esotericism and the Science of Religion. Ed. Peeters. Leuven RESINA, Luis (2001), Guia de Interpretação Astrológica. Pergaminho. Lisboa RUDHYAR, Dane (1972), As Casas Astrológicas. Ed. Pensamento. São Paulo SASPORTAS, Howard (1985), As Doze Casas. Ed. Pensamento. São Paulo WEBSITES Encyclopedia Mythica – www.pantheon.org Wikipedia – www.wikipedia.org PALESTRAS MONSARAZ, Maria Flávia, “Úrano, Neptuno e Plutão – os arquétipos vivos”, in Congresso Ibérico de Astrologia. 13 de Maio de 2010, Estoril 1 Antoine Faivre, Wouter J. Hanegraaff , Western Esotericism and the Science of Religion, Ed. Peeters, 1998, página 2. 2 Neste trabalho não foi feita distinção entre os nomes gregos e os nomes romanos dos deuses, propositadamente para usar apenas a nomenclatura usada na Astrologia. 3 Maria Flávia de Monsaraz, “Úrano, Neptuno e Plutão – os arquétipos vivos”, Palestra inserida no Congresso Ibérico de Astrologia, 13 de Maio de 2010 4 Note-se que é na Era de Leão que a Humanidade adora o Sol, passando depois, na Era de Caranguejo, a valorizar a Lua e o Feminino. Na Era de Gémeos surgem a roda, a escrita e as estradas, territórios de Mercúrio, enquanto que na Era de Touro o homem sedentariza-se, cultivando e criando o casamento como uma instituição, domínios de Vénus. Na Era de Carneiro surgem os grandes impérios e as grandes conquistas pela guerra, domínios de Marte, assim como o controlo dos povos pelo poder e submissão às normas, apanágios de Júpiter e Saturno. Seguiu-se a Era de Peixes, em que ainda vivemos, a Era das Grandes Religiões e das ideologias, do grande desenvolvimento da Humanidade. Se durante mais de um milénio desta Era viveu-se um desenvolvimento lento, muito toldado ainda por energias de domínio e imposição radical de fé, é com o caminhar da Era de Peixes para o seu final, a partir do século XV, com a força oposta de Virgem a actuar, trazendo os descobrimentos, e depois mais tarde a tecnologia, o mental e o racional, que a mente humana abre-se a novos conceitos, permitindo o aparecimento dos planetas transpessoais. 5 Note-se que se Mercúrio tem a ver com o pensamento, linguagem e criatividade, Úrano é a mente criativa superior, a verdadeira mente cósmica. Por sua vez, se Vénus tem a ver com o amor e como lidamos com os sentimentos de ligação ao outro, Neptuno refere-se o Amor Universal e Incondicional e como nos diluímos não só com o outro mas principalmente com o Todo. Por fim, se Marte é a energia de acção, decisão e atitude, Plutão é a sublimação desta energia para o resgate interior; se Marte é o incêndio numa floresta, Plutão é a abertura das sementes e a limpeza do terreno trazida pelo fogo. Leonardo Figueiredo Mansinhos CEIA 2011