INFORME ECONÔMICO Ano 17 ● Número 6 ● 09 de fevereiro de 2015 Recessão! Economia brasileira começa o ano muito pior do que se imaginava e a possibilidade de recessão está cada dia mais elevada. Atividade industrial gaúcha fecha 2014 com forte queda O Índice de Desempenho Industrial do Rio Grande do Sul (IDI/RS) devolveu o ganho acumulado ao longo de 2013. FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO RIO GRANDE DO SUL Av. Assis Brasil, 8787 Fone: (051) 3347.8731 Fax: (051) 3347.8795 UNIDADE DE ESTUDOS ECONÔMICOS www.fiergs.org.br/economia As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista desta Federação. É permitida a reprodução deste texto e dos dados contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas. Recessão! Economia brasileira começa o ano muito pior do que se imaginava e a possibilidade de recessão está cada dia mais elevada. I N F O R M E E C O N Ô M I C O F I E R G S As expectativas de crescimento para a economia brasileira em 2015 apresentaram forte deterioração ao longo do primeiro mês do ano. O avanço de 0,9% para este ano, imaginado pelos analistas de mercado em dezembro de 2014, atualmente já está completamente descartado. Agora, as apostas se distribuem num intervalo que vai de uma recessão mais severa ao crescimento nulo. Os elementos que levaram a essa profunda revisão nas expectativas são bastante claros e nos faz acreditar que, de fato, a economia move-se para um cenário de queda neste ano. No Balanço Econômico 2014 e Perspectivas 2015 realizado pela UEE/FIERGS no início de dezembro, contemplamos três cenários para a atividade econômica e, a partir dela, para as demais variáveis da economia. Em todos os cenários acreditávamos num desempenho fraco da economia no primeiro semestre. Porém, a intensidade dessa piora dependeria, fundamentalmente, de quatro elementos: i) a realização do ajuste na política macroeconômica; ii) a ocorrência de racionamento de água e eletricidade; iii) a desaceleração mais intensa na demanda chinesa; e, iv) a deterioração do quadro político. Antes de abordar cada um desses pontos, é importante contextualizar o panorama econômico do final do ano passado. Em novembro de 2014, a confiança dos empresários e dos consumidores localizavam-se próximas aos menores patamares já registrados. Aliado a essa baixa confiança, a conjuntura econômica do ano foi muito peculiar, com dois elementos atípicos que contribuíram para a queda na atividade. O primeiro deles foi a realização da Copa do Mundo, em que diversos ramos da economia optaram por paralisar, cancelar ou adiar atividades. Os indicadores da indústria e do comércio mostraram que o período foi de poucos negócios. Outro elemento foi o pleito eleitoral, em que o favoritismo da incumbente trazia mais incerteza ao setor produtivo do que a vitória da oposição, visto que a equipe que comandaria a economia neste segundo mandato era desconhecida. Diante desse cenário, a expectativa era de queda de 1,5% no PIB da indústria em 2014. Contudo, ficava como herança para 2015 uma base de comparação muito baixa, o que indicava que gerar crescimento, ainda que pequeno, não seria uma tarefa difícil. Para isso, bastaria repetir o mesmo nível de produção do terceiro trimestre de 2014 ao longo de 2015, sem piorar nem melhorar. O crescimento nulo em todos os trimestres desde o quarto terceiro trimestre de 2014, até o quarto de 2015, já garantiria um resultado positivo de 0,4% em 2015. Contudo, todos aqueles elementos que disparariam a possibilidade de um crescimento inferior foram sendo verificados já no início do ano. Primeiramente, a opção pelo ajuste nas contas públicas, juntamente com o realinhamento dos preços, derrubou a demanda. Além disso, a equalização das contas, mais focada no aumento da arrecadação do que na redução de gastos, não aponta para uma solução dos desequilíbrios no longo prazo. Dessa forma, o efeito do ajuste como elemento de resgate da confiança dos empresários ficou prejudicado. Em paralelo, a situação hídrica e energética piorou com a chegada do verão e percebeu-se que aquele quadro apresentado durante as eleições escondia uma realidade mais severa. Por sua vez, a crise política emperra qualquer possiblidade de início das reformas modernizantes que a economia brasileira precisa para se tornar mais competitiva. Além disso, a crise na Petrobras tem elevado potencial de contágio, visto que, por exemplo, a maior empresa brasileira foi responsável por 16,1% dos investimentos totais da economia brasileira em 2013 e, naquele ano, as dívidas da companhia eram equivalente a 5,3% do PIB brasileiro. A retração na demanda chinesa por produtos do resto do mundo também se mostra mais intensa do que o inicialmente esperado. As importações totais do país asiático caíram 20% em janeiro frente ao mesmo mês do ano anterior, determinadas pela menor quantidade e preço das commodities. A análise das contas externas brasileiras nos últimos anos mostra que há uma elevada correção entre a demanda chinesa e as exportações brasileiras. O índice de correlação de 0,93, que informa o grau de associação linear entre as duas séries, pode ser um prenuncio de que teremos ainda maiores problemas do ponto de vista das contas externas. Essa crença é incorporada à taxa de câmbio que começa a apresentar tendência mais sólida de desvalorização. Por outro lado, a taxa de câmbio mais desvalorizada tende a aumentar a rentabilidade das firmas exportadoras líquidas, segmento que mais sofreu com o fortalecimento do Real nos últimos quinze anos. Por outro lado, muitas firmas, principalmente aquelas voltadas exclusivamente para o mercado interno tornaram-se importadoras líquidas. Essas firmas, por sua vez, tendem a sofrer tanto pelo aumento no preço dos importados quanto pela estagnação na renda e queda na demanda interna. De acordo com a teoria econômica, o gráfico do saldo da conta corrente tende a apresentar a forma da letra “J”, o que representa piora no saldo no curto prazo e uma melhora, mais do que proporcional, no médio prazo. Isso porque há rigidez nos contratos de importações e uma defasagem nos recebimentos das novas exportações. Portanto, o cenário do primeiro semestre mostra-se pior do que o esperado, e mesmo que o segundo semestre seja de recuperação, não será suficiente para evitar uma recessão em 2015. Unidade de Estudos Econômicos – FIERGS www.fiergs.org.br/economia Atividade industrial gaúcha fecha 2014 com forte queda O Índice de Desempenho Industrial do Rio Grande do Sul (IDI/RS) devolveu o ganho acumulado ao longo de 2013. I N F O R M E E C O N Ô M I C O F I E R G S Em 2014, o Índice de Desempenho Industrial do Rio Grande do Sul (IDI/RS) em 2014 apresentou retração de 4,4% na comparação interanual, devolvendo o ganho obtido em 2013 (+4,5%). A queda registrada no ano passado foi a maior desde 2009 (-13,0%), período marcado pelos efeitos negativos da crise financeira internacional sobre a atividade econômica. Cinco das seis variáveis que compõem o indicador tiveram recuo nessa base de comparação. Os principais destaques negativos foram: compras industriais (11,1%), faturamento (-5,7%), horas trabalhadas na produção (-2,5%), utilização da capacidade instalada (2,1%) e pessoal ocupado (-1,8%). A massa salarial real, por sua vez, foi a única a apresentar crescimento, ainda que tímido (+1,1%). A comparação com os resultados para o total do Brasil mostra que a indústria gaúcha registrou um desempenho pior no que tange ao faturamento (-1,8%), massa salarial (+1,5%) e pessoal ocupado (-0,7%). A queda foi menos intensa do que em outros estados para a utilização da capacidade instalada (-1,6%) e para as horas trabalhadas (-3,7%). As demais variáveis não são computadas em nível nacional. O desempenho negativo em 2014 foi disseminado entre os setores: de um total de dezessete pesquisados, onze tiveram diminuição. Entre os destaques negativos que mais influenciaram o Índice, destacaram-se Veículos automotores (-10,4%), Máquinas e equipamentos (-4,8%) e Produtos de metal (-7,6%). Chama a atenção o fato de que essas categorias, mais intensivas em capital, ainda mostravam certa resiliência em períodos anteriores. Entre os setores que registraram altas, destaque para Alimentos (+2,8%), Químicos e derivados de petróleo (+1,3%) e Bebidas (+6,2%). Vale ressaltar que o primeiro e o terceiro sofrem menos com a concorrência dos produtos fabricados no exterior (medidos pelo coeficiente de importação) em relação à indústria de transformação. Em dezembro, o IDI/RS apresentou recuo de 2,2% ante novembro, na série livre de influências sazonais, mesmo sendo favorecido pela baixa base de comparação do mês anterior: -2,4% ante outubro. Em nível, a série histórica está no patamar mais baixo desde novembro de 2009. Da mesma forma, quatro dos seis elementos, a saber: pessoal ocupado, UCI, horas trabalhadas e compras industriais encerraram 2014 nos piores patamares dos últimos 5 anos. O comportamento da série histórica da atividade industrial tem sido claramente cíclico, porém não há uma tendência de crescimento sustentado. Os dados dos Indicadores Industriais do RS em 2014 retratam um quadro preocupante para o setor. Um dos principais fatores que gerou a consolidação desse cenário adverso foi a retirada de estímulos direcionados por parte do governo, a partir da recomposição parcial da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente sobre automóveis, eletrodomésticos da linha branca e móveis. Além disso, o setor secundário gaúcho foi duramente impactado pela menor demanda externa, sobretudo da Argentina. Vale ressaltar que o País vizinho continuou sendo o principal demandante dos produtos manufaturados gaúchos. No ano passado, a queda chegou a 29,3%, com destaque principal para os segmentos de Veículos automotores (-53,9%), Máquinas e equipamentos (-45,0%) e Químicos (9,1%). Outro importante destino, os Estados Unidos, também compraram menos do nosso estado: 16,9%. O ciclo de aperto monetário também atuou no sentido de encarecer a tomada de crédito, conforme evidenciam os resultados da última Sondagem Industrial Especial do RS sobre financiamento, conduzida no terceiro trimestre do ano passado. Destaca-se também o baixo volume de investimento na economia brasileira, fruto, entre outros motivos, da baixa confiança dos empresários. Além disso, várias empresas concederam férias coletivas durante a Copa do Mundo, com impactos generalizados. Também não se pode deixar de mencionar o conjunto de dificuldades estruturais que tem atuado para encarecer a produção: (i) complexidade tributária, (ii) baixa qualificação da mão de obra, (iii) infra-estrutura precária, (iv) escassez de acordos comerciais. (v) falta de regras claras e estáveis que favoreçam o investimento e (vi) insegurança jurídica. Para o início de 2015, a expectativa ainda não é de reversão do cenário adverso, dado que não há vetores que possam influenciar positivamente no crescimento da indústria. Nesse sentido, a continuidade do aperto monetário, o aumento de impostos e das tarifas de energia elétrica, aliadas a possibilidade cada vez maior de racionamento de energia elétrica e a diminuição dos estímulos pontuais via Programa de Sustentação de Investimento (PSI) devem impor dificuldades adicionais para o setor. Quebrar esse círculo vicioso requer planejamento de longo prazo, muito além do ciclo político. Unidade de Estudos Econômicos – FIERGS www.fiergs.org.br/economia