informe econômico

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INFORME
ECONÔMICO
Ano 17 ● Número 6 ● 09 de fevereiro de 2015
Recessão!
Economia brasileira começa o ano muito pior do que se imaginava e a possibilidade de recessão está
cada dia mais elevada.
Atividade industrial gaúcha fecha 2014 com forte queda
O Índice de Desempenho Industrial do Rio Grande do Sul (IDI/RS) devolveu o ganho acumulado ao
longo de 2013.
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Recessão!
Economia brasileira começa o ano muito pior do que se imaginava e a possibilidade de recessão está cada
dia mais elevada.
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As expectativas de crescimento para a economia
brasileira em 2015 apresentaram forte deterioração ao
longo do primeiro mês do ano. O avanço de 0,9% para
este ano, imaginado pelos analistas de mercado em
dezembro de 2014, atualmente já está completamente
descartado. Agora, as apostas se distribuem num
intervalo que vai de uma recessão mais severa ao
crescimento nulo. Os elementos que levaram a essa
profunda revisão nas expectativas são bastante claros e
nos faz acreditar que, de fato, a economia move-se para
um cenário de queda neste ano.
No Balanço Econômico 2014 e Perspectivas 2015
realizado pela UEE/FIERGS no início de dezembro,
contemplamos três cenários para a atividade econômica
e, a partir dela, para as demais variáveis da economia.
Em todos os cenários acreditávamos num desempenho
fraco da economia no primeiro semestre. Porém, a
intensidade dessa piora dependeria, fundamentalmente,
de quatro elementos: i) a realização do ajuste na política
macroeconômica; ii) a ocorrência de racionamento de
água e eletricidade; iii) a desaceleração mais intensa na
demanda chinesa; e, iv) a deterioração do quadro
político.
Antes de abordar cada um desses pontos, é
importante contextualizar o panorama econômico do
final do ano passado. Em novembro de 2014, a
confiança dos empresários e dos consumidores
localizavam-se próximas aos menores patamares já
registrados. Aliado a essa baixa confiança, a conjuntura
econômica do ano foi muito peculiar, com dois
elementos atípicos que contribuíram para a queda na
atividade. O primeiro deles foi a realização da Copa do
Mundo, em que diversos ramos da economia optaram
por paralisar, cancelar ou adiar atividades. Os
indicadores da indústria e do comércio mostraram que o
período foi de poucos negócios. Outro elemento foi o
pleito eleitoral, em que o favoritismo da incumbente
trazia mais incerteza ao setor produtivo do que a vitória
da oposição, visto que a equipe que comandaria a
economia neste segundo mandato era desconhecida.
Diante desse cenário, a expectativa era de queda de
1,5% no PIB da indústria em 2014. Contudo, ficava
como herança para 2015 uma base de comparação
muito baixa, o que indicava que gerar crescimento,
ainda que pequeno, não seria uma tarefa difícil. Para
isso, bastaria repetir o mesmo nível de produção do
terceiro trimestre de 2014 ao longo de 2015, sem piorar
nem melhorar. O crescimento nulo em todos os
trimestres desde o quarto terceiro trimestre de 2014, até
o quarto de 2015, já garantiria um resultado positivo de
0,4% em 2015.
Contudo, todos aqueles elementos que disparariam a
possibilidade de um crescimento inferior foram sendo
verificados já no início do ano. Primeiramente, a opção
pelo ajuste nas contas públicas, juntamente com o
realinhamento dos preços, derrubou a demanda. Além
disso, a equalização das contas, mais focada no
aumento da arrecadação do que na redução de gastos,
não aponta para uma solução dos desequilíbrios no
longo prazo. Dessa forma, o efeito do ajuste como
elemento de resgate da confiança dos empresários ficou
prejudicado.
Em paralelo, a situação hídrica e energética piorou
com a chegada do verão e percebeu-se que aquele
quadro apresentado durante as eleições escondia uma
realidade mais severa. Por sua vez, a crise política
emperra qualquer possiblidade de início das reformas
modernizantes que a economia brasileira precisa para se
tornar mais competitiva. Além disso, a crise na
Petrobras tem elevado potencial de contágio, visto que,
por exemplo, a maior empresa brasileira foi responsável
por 16,1% dos investimentos totais da economia
brasileira em 2013 e, naquele ano, as dívidas da
companhia eram equivalente a 5,3% do PIB brasileiro.
A retração na demanda chinesa por produtos do
resto do mundo também se mostra mais intensa do que
o inicialmente esperado. As importações totais do país
asiático caíram 20% em janeiro frente ao mesmo mês
do ano anterior, determinadas pela menor quantidade e
preço das commodities. A análise das contas externas
brasileiras nos últimos anos mostra que há uma elevada
correção entre a demanda chinesa e as exportações
brasileiras. O índice de correlação de 0,93, que informa
o grau de associação linear entre as duas séries, pode
ser um prenuncio de que teremos ainda maiores
problemas do ponto de vista das contas externas. Essa
crença é incorporada à taxa de câmbio que começa a
apresentar tendência mais sólida de desvalorização.
Por outro lado, a taxa de câmbio mais desvalorizada
tende a aumentar a rentabilidade das firmas
exportadoras líquidas, segmento que mais sofreu com o
fortalecimento do Real nos últimos quinze anos. Por
outro lado, muitas firmas, principalmente aquelas
voltadas exclusivamente para o mercado interno
tornaram-se importadoras líquidas. Essas firmas, por
sua vez, tendem a sofrer tanto pelo aumento no preço
dos importados quanto pela estagnação na renda e
queda na demanda interna. De acordo com a teoria
econômica, o gráfico do saldo da conta corrente tende a
apresentar a forma da letra “J”, o que representa piora
no saldo no curto prazo e uma melhora, mais do que
proporcional, no médio prazo. Isso porque há rigidez
nos contratos de importações e uma defasagem nos
recebimentos das novas exportações.
Portanto, o cenário do primeiro semestre mostra-se
pior do que o esperado, e mesmo que o segundo
semestre seja de recuperação, não será suficiente para
evitar uma recessão em 2015.
Unidade de Estudos Econômicos – FIERGS
www.fiergs.org.br/economia
Atividade industrial gaúcha fecha 2014 com forte queda
O Índice de Desempenho Industrial do Rio Grande do Sul (IDI/RS) devolveu o ganho acumulado ao
longo de 2013.
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Em 2014, o Índice de Desempenho Industrial do Rio
Grande do Sul (IDI/RS) em 2014 apresentou retração
de 4,4% na comparação interanual, devolvendo o ganho
obtido em 2013 (+4,5%). A queda registrada no ano
passado foi a maior desde 2009 (-13,0%), período
marcado pelos efeitos negativos da crise financeira
internacional sobre a atividade econômica.
Cinco das seis variáveis que compõem o indicador
tiveram recuo nessa base de comparação. Os principais
destaques negativos foram: compras industriais (11,1%), faturamento (-5,7%), horas trabalhadas na
produção (-2,5%), utilização da capacidade instalada (2,1%) e pessoal ocupado (-1,8%). A massa salarial real,
por sua vez, foi a única a apresentar crescimento, ainda
que tímido (+1,1%).
A comparação com os resultados para o total do
Brasil mostra que a indústria gaúcha registrou um
desempenho pior no que tange ao faturamento (-1,8%),
massa salarial (+1,5%) e pessoal ocupado (-0,7%). A
queda foi menos intensa do que em outros estados para
a utilização da capacidade instalada (-1,6%) e para as
horas trabalhadas (-3,7%). As demais variáveis não são
computadas em nível nacional.
O desempenho negativo em 2014 foi disseminado
entre os setores: de um total de dezessete pesquisados,
onze tiveram diminuição. Entre os destaques negativos
que mais influenciaram o Índice, destacaram-se
Veículos automotores (-10,4%), Máquinas e
equipamentos (-4,8%) e Produtos de metal (-7,6%).
Chama a atenção o fato de que essas categorias, mais
intensivas em capital, ainda mostravam certa resiliência
em períodos anteriores.
Entre os setores que registraram altas, destaque para
Alimentos (+2,8%), Químicos e derivados de petróleo
(+1,3%) e Bebidas (+6,2%). Vale ressaltar que o
primeiro e o terceiro sofrem menos com a concorrência
dos produtos fabricados no exterior (medidos pelo
coeficiente de importação) em relação à indústria de
transformação.
Em dezembro, o IDI/RS apresentou recuo de 2,2%
ante novembro, na série livre de influências sazonais,
mesmo sendo favorecido pela baixa base de
comparação do mês anterior: -2,4% ante outubro. Em
nível, a série histórica está no patamar mais baixo desde
novembro de 2009. Da mesma forma, quatro dos seis
elementos, a saber: pessoal ocupado, UCI, horas
trabalhadas e compras industriais encerraram 2014 nos
piores patamares dos últimos 5 anos. O comportamento
da série histórica da atividade industrial tem sido
claramente cíclico, porém não há uma tendência de
crescimento sustentado.
Os dados dos Indicadores Industriais do RS em 2014
retratam um quadro preocupante para o setor. Um dos
principais fatores que gerou a consolidação desse
cenário adverso foi a retirada de estímulos direcionados
por parte do governo, a partir da recomposição parcial
da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados
(IPI) incidente sobre automóveis, eletrodomésticos da
linha branca e móveis.
Além disso, o setor secundário gaúcho foi
duramente impactado pela menor demanda externa,
sobretudo da Argentina. Vale ressaltar que o País
vizinho continuou sendo o principal demandante dos
produtos manufaturados gaúchos. No ano passado, a
queda chegou a 29,3%, com destaque principal para os
segmentos de Veículos automotores (-53,9%),
Máquinas e equipamentos (-45,0%) e Químicos (9,1%). Outro importante destino, os Estados Unidos,
também compraram menos do nosso estado: 16,9%.
O ciclo de aperto monetário também atuou no
sentido de encarecer a tomada de crédito, conforme
evidenciam os resultados da última Sondagem
Industrial Especial do RS sobre financiamento,
conduzida no terceiro trimestre do ano passado.
Destaca-se também o baixo volume de investimento na
economia brasileira, fruto, entre outros motivos, da
baixa confiança dos empresários. Além disso, várias
empresas concederam férias coletivas durante a Copa
do Mundo, com impactos generalizados. Também não
se pode deixar de mencionar o conjunto de dificuldades
estruturais que tem atuado para encarecer a produção:
(i) complexidade tributária, (ii) baixa qualificação da
mão de obra, (iii) infra-estrutura precária, (iv) escassez
de acordos comerciais. (v) falta de regras claras e
estáveis que favoreçam
o investimento e (vi)
insegurança jurídica.
Para o início de 2015, a expectativa ainda não é de
reversão do cenário adverso, dado que não há vetores
que possam influenciar positivamente no crescimento
da indústria. Nesse sentido, a continuidade do aperto
monetário, o aumento de impostos e das tarifas de
energia elétrica, aliadas a possibilidade cada vez maior
de racionamento de energia elétrica e a diminuição dos
estímulos pontuais via Programa de Sustentação de
Investimento (PSI) devem impor dificuldades
adicionais para o setor. Quebrar esse círculo vicioso
requer planejamento de longo prazo, muito além do
ciclo político.
Unidade de Estudos Econômicos – FIERGS
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