variáveis que interferem na implementação da interdisciplinaridade

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VARIÁVEIS QUE INTERFEREM NA IMPLEMENTAÇÃO DA
INTERDISCIPLINARIDADE NO ENSINO SUPERIOR DA CIÊNCIA
CONTÁBIL
Nilton Facci (UEM – CESUMAR – FAP)
Alceu Panosso (UEM – CESUMAR)
Carlos Henrique Marroni (UEM)
Lílian Moreira Alvarenga Assolari (UEM)
Resumo
A simples menção da palavra “interdisciplinaridade” já traz em seu bojo uma quantidade bastante
razoável de dúvidas. A angústia se manifesta, quando iniciam discussões sobre as formas que se pretende
adotar na sua implementação. As variáveis que interferem, positiva e/ou negativamente, são diversas. Para
qualquer dessas variáveis, existem aspectos positivos e negativos. A angústia começa já na definição das
variáveis. Quais delas deve-se levar em consideração? Quais os aspectos positivos? Quais os aspectos
negativos? Como cada aspecto positivo e negativo pode interferir na implementação da
interdisciplinaridade? Essas questões precisam de alguma forma de resposta. Entre as diversas variáveis,
esse texto inicia discussões sobre: aspectos culturais da gestão empresarial brasileira; práticas
metodológicas, perfil dos docentes e aspectos culturais existentes no ensino contábil brasileiro; e o perfil
dos alunos nos cursos de Bacharel em Ciências Contábeis. Evidente que, devido às limitações do texto,
sabidamente não estão outras variáveis, tais como a legislação inerente ao ensino superior. Portanto, as
reflexões são iniciais, buscando, de alguma forma, introduzir a necessária discussão, para que a
implementação, caso seja decidida, possa encontrar um certo campo fértil nas instituições de ensino
contábil.
Palavras-Chaves: Interdisciplinaridade – Variáveis - Contabilidade
Introdução
As mudanças na vida das pessoas e das organizações são indissociáveis. Em
vários momentos as pessoas e as organizações, cada qual na busca de seus objetivos, são
chamadas a conhecer seus aspectos internos e compreender como podem, e o que devem
mudar, para acompanhar as transformações externas, a fim de sobreviverem no
ambiente que atuam.
Tendo em vista que tanto as pessoas quanto as organizações são compostos por
diversos elementos do ambiente onde estão inseridas, é notório que se houver mudanças
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em qualquer destes elementos, internos ou externos, os demais, de alguma forma serão
influenciados.
Assim, em processo de mudança, as pessoas e as organizações devem elaborar
procedimentos que visem identificar e compreender os fatores ambientais que
interferem no processo e que deverão ser considerados.
É nesse contexto que as mudanças que vem ocorrendo nas instituições de
ensino superior precisam ser analisados.
Alterações nas legislações relativas ao ensino superior, inclusive a Lei de
Diretrizes e Bases (LDB), desencadearam a necessidade de diversas mudanças
relacionadas ao processo ensino-aprendizagem nas Instituições de Ensino Superior
(IES). Dentre essas mudanças estão as discussões sobre a necessária implementação dos
conceitos e práticas da interdisciplinaridade.
Decorrente da LDB, e de outras normas mais recentes, os projetos pedagógicos
de muitas IES já foram revistos e outros estão em elaboração no intuito de incluir ações
interdisciplinares.
Todavia, a interdisciplinaridade é extremamente complexa e muito há que se
estudar e discutir para conseguir, de fato, aplicá-la no processo de ensino-aprendizágem
nas IES.
Como tantos outros cursos que enfrentam tal desafio, está o curso de Bacharel
em Ciências Contábeis.
Nessa busca por compreender os diversos aspectos sobre a implementação da
interdisciplinaridade em curso de Ciências Contábeis, e necessário que se apresente e
analise algumas variáveis que, em determinadas situações, podem contribuir, facilitando
a implementação, ou mesmo dificultá-la.
Com o objetivo de trazer contribuições às discussões sobre a atuação
interdisciplinar no curso de Bacharel em Ciências Contábeis, o texto inicia pela
apresentação de comentários acerca de aspectos culturais da gestão empresarial
brasileira. Em seguida, apresenta aspectos relevantes sobre práticas metodológicas,
perfil dos docentes e alguns elementos que caracterizam a cultura existente no ensino
contábil brasileiro. Na seqüência estão os aspectos inerentes ao perfil dos acadêmicos do
curso.
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Dentro de cada variável apresentada, estão comentados alguns fatores que
podem facilitar e outros que podem dificultar a implementação da interdisciplinaridade
num curso de Bacharel em Ciências Contábeis.
Assim, nesse estudo, busca-se compreender como essas variáveis interferem
positiva e/ou negativamente na implementação da interdisciplinaridade no referido
curso.
Evidente que os comentários constantes não tem a pretensão de abrangerem o
estado da arte, e nem de serem conclusivos, pois, como qualquer pesquisador da área
pedagógica já conhece, as subjetividades existentes nas Ciências Sociais não permitem
conclusões similares às apresentadas para as pesquisas em Ciências Exatas, por
justamente aquelas buscarem compreender a ações humanas sobre determinada
realidade material. Além dessa característica pertinente a determinada ciência, é
importante ressaltar que, como cada ser humano é diferente em vários aspectos, suas
ações também serão.
Aspectos Culturais da Gestão Empresarial Brasileira.
Antes de ressaltar aspectos específicos sobre a gestão empresarial brasileira, é
preciso compreender o que são organizações. Como são estudadas? Por quem são
estudadas? Esses aspectos são relevantes, pois as respostas a qualquer questão sobre
gestão empresarial estão condicionadas pelas formas como os conceitos, princípios e as
técnicas são disseminadas nas instituições de ensino.
Conforme ressalta Srour (1998, p.107):
O estudo das organizações resulta de esforços interdisciplinares. Sociologia,
Ciência Política, Antropologia, Administração, Economia Política, Direito e
Psicologia Social convergem e contribuem para o conhecimento desse tipo
particular de coletividades. Como as organizações se empenham em
atividades socialmente valorizadas, tornam-se um dos objetos de estudo
preferenciais das Ciências Sociais.
Ainda sobre a complexidade existente nas organizações, seja em seus aspectos
internos, seja nas formas como interage com o ambiente externo, Smelser (1968, p.
189), quando analisa os aspectos sobre as transformações estruturais associadas ao
desenvolvimento, acentua que:
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Suponhamos, agora, que se tenha rompido o círculo vicioso da pobreza – não
importa aqui através de que mecanismo – e que se tenha iniciado o
desenvolvimento econômico. Nessas circunstâncias, o que acontece com a
estrutura social? Não se dispõe de uma resposta simples para esta pergunta,
pois, os processos de desenvolvimento econômico podem diferenciar-se das
seguintes maneiras: 1. Variações nas condições pré-industriais do país; 2.
Variações no impulso para o desenvolvimento; 3. Variações no caminho para
a modernização; 4. Variações nas últimas fases da modernização; e, 5.
Variações no conteúdo e ritmo de acontecimentos dramáticos durante o
desenvolvimento.
Percebe-se claramente que as organizações são “seres vivos”, participando de
um complexo relacionamento, com amplas possibilidades de que seus mecanismos
internos sofram alterações provocadas pelo ambiente externo e, ao mesmo tempo,
derivado dessa constante interação, influenciarem em determinados elementos desse
mesmo ambiente.
Sobre as formas de relacionamentos que ambientam as organizações, Srour
(1998) entende que elas são direcionadas pelo que denomina dimensões, quais sejam:
Econômicas, Políticas e Simbólicas. Também acentua que as organizações podem ser
compreendidas em sua realidade, conforme os seguintes domínios:
DOMÍNIO
Natureza
Sociedade
Indivíduo
OBJETO DE
ESTUDO
Fenômenos
físicos
Relações
sociais
Condutas
individuais
PROCESSO
EMPÍRICO
Eventos naturais
(perenes)
Processos sociais
(históricos)
Estados
psicológicos
(biográficos)
REGULARIDADES
Necessárias
universais
Contingentes
históricas
Necessárias
históricas
CAMPO
CIENTÍFICO
Ciências
Naturais
Ciências
Sociais
Psicologia
Quadro 01: Dimensões da realidade
Fonte: Srour (1998, p. 121)
Diante dessa complexidade e diversidade de relacionamentos, os quais
interferem na interação com os ambientes interno e externo, as organizações são áreas
de estudos, principalmente, das Ciências Sociais. Essa percepção deriva do fato de que
as organizações possuem, internamente, relações sociais que determinam atitudes
individuais. Em fazendo parte de determinado grupo social, o indivíduo passa a, de certa
forma, ser o representante. Nessa representação, expõe os aspectos culturais internos
existentes no grupo e na organização.
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Decorrente dessas interações, as organizações, para sobreviverem, dependem
das qualidades do relacionamento entre os grupos existentes em estrutura interna, assim
como das interações com o ambiente externo.
Quanto ao estudo das organizações e, por conseguinte, do patrimônio que
administra, embora Srour (1998) não a tenha citado, por, talvez a incluir nalguma das
ciências citadas, tem-se, como senso comum entre seus pesquisadores, aceitar que a
Ciência Contábil está entre as Ciências Sociais.
Essas áreas de conhecimento contribuem para estabelecer algumas métricas
qualitativas que perfazem aspectos da cultura de uma sociedade. Nesse caso, da entidade
detentora e/ou controladora de determinado patrimônio.
Alguns desses aspectos foram destacados por Holanda (1995, p.17), quando
destaca características da sociedade brasileira. Entre essas características, está o que
denomina “mentalidade cordial”, conceituado como os:
[...] vários traços importantes, como a sociabilidade apenas aparente, que na
verdade não se impõe ao indivíduo e não exerce efeito positivo na
estruturação de uma ordem coletiva. Decorre deste fato o individualismo, que
aparece aqui focalizado de outro ângulo e se manifesta como relutância em
face da lei que o contrarie. Ligada a ele, a falta de capacidade para aplicar-se
a um objetivo exterior.
Holanda (1995, p.20) destaca também que:
Tendências de tipo reacionário bem poderiam enganar-se na propensão sulamericana o caudilhismo, que intervem no processo democrático como forma
suprema do personalismo e do arbítrio.. [...]... repulsa pela hierarquia, a
relativa ausência dos preconceitos de raça e cor, o próprio advento das formas
contemporâneas de vida.
Barros e Prates (1996, p. 9), ao pesquisar sobre o estilo brasileiro de
administrar, chama a atenção para as seguintes expressões populares: “1. Manda quem
pode, obedece quem tem juízo; 2. O cidadão vai ter que esperar um pouco; 3. Deixa
como está para ver como é que fica; e 4. Você sabe com quem está falando?”.
Barros e Prates (1996, p.13), acentuam a importância da pesquisa, ressaltando
que:
O estilo brasileiro de administrar não é qualquer um, tampouco, vários outros
amontoados. É único e original, criando, em um processo de transformação,
por nossos dirigentes, gerentes e todos os outros colaboradores envolvidos no
desafio cotidiano de administrar nossas organizações.
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Barros e Prates (1996) acentuam que a premissa básica da pesquisa é de que:
A empresa, além de ser vista como uma unidade econômica, em sua função
empreendedora e produtiva, deve ser entendida também como uma unidade
sociocultural, palco de fenômenos de socialização e de aculturamento. E
como tal, expressa no conjunto de suas relações uma série de valores,
estruturas e processos vigentes na cultura e na sociedade brasileira.
Demonstrando o que denominam de sistema de ação cultural brasileiro, Barros
e Prates (1996, p.70) apresentem a seguinte figura:
Concentração
de poder
Personalismo
Paternalismo
Formalismo
Impunidade
Lealdade às
pessoas
Flexibilidade
Postura de
espectador
Evitar
conflito
Figura 01: Sistema de ação cultural brasileiro
Sobre esse “palco de fenômenos de socialização e de aculturamento”, conforme
denominou esse sistema de ação cultural, Srour (1998), ao analisar as revoluções
tecnológicas, destaca as formas como essas provocaram alterações sociais que
influenciaram os processos produtivos e nos parâmetros econômicos então estabelecidos,
assim como nos relacionamentos entre as nações e, por conseguinte, as formas que as
organizações passaram a serem geridas.
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Srour (1998) faz análise sobre as formas de produção e de gestão empresarial
praticadas desde os primeiros mecanismos estabelecidos pelas diversas sociedades.
Discorre sobre o que denomina “sistemas mundiais”. Esses sistemas foram construídos
com base em (p. 34) “articulações internacionais”. Essas articulações são as seguintes: “O
comércio distante, o tributo, a renda fundiária, os pactos coloniais, as religiões, e mais
recentemente, os blocos militares, a mídia e os blocos econômicos”.
Ainda sobre esses sistemas mundiais, Srour (1998, p. 36) ressalta que:
Em síntese, os vários sistemas mundiais não devem ser concebidos como etapas,
sucessivas no tempo, mesmo que sua descrição sinalize alguma periodização,
porque a análise histórica indica que tais sistemas não se excluem. Bem ao
contrário: eles funcionam de maneira coexistente no tempo e na co-extensiva no
espaço.
Analisando esses aspectos culturais existentes nas sociedades, interagindo com a
percepção quanto à economia brasileira, em que existem várias organizações geridas por
parâmetros compreendidos como “empresa familiar”, Gonçalves (2000) ressalta que:
A empresa familiar foi sempre marcada por um número assustador de
preconceitos. Quando se faz referência a ela, imediatamente são lembrados o
pragmatismo e o imediatismo do empresário, o seu informalismo, o paternalismo
e o nepotismo, além de vários outros qualificativos pejorativos.
Essas atitudes, segundo Gonçalves (2000, p. XII), acabam por provocar ações, até
certo ponto estabelecidas como “normais” na cultura econômica e popular brasileira, tais
como:
a) lançar mão de diversas formas de distribuição disfarçada dos lucros, quando a
empresa, entre outras possibilidades, pode sustentar gastos e luxos pessoais, mas
especialmente fica exposta à transferência de seus ativos, para sócio ou sócios,
em condições favorecidas;
b) o desenvolvimento de negócios paralelos, de interesse pessoal dos sócios, mas
não da sociedade, que assim mesmo tem recursos seus desviados para o
financiamento de tais negócios – a chamada “diversificação de investimentos”;
c) a sistemática distribuição dos lucros, sem qualquer preocupações quanto às
necessidades de capitalização do empreendimento; e,
d) o nepotismo e o “paternalismo”, coroando uma política de exploração sem
limites dos empregados.
Portanto, para que o curso de Bacharel em Ciências Contábeis contribua para
compreender como a Ciência Contábil atua sobre seu objeto de estudo, concretamente
deverá utilizar conceitos dessas outras ciências citadas.
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Quando à Ciência Contábil, diante do objeto definido e do parâmetro a ser
seguido, deverá estudar o patrimônio então identificado, elencado e mensurado quantitativa
e monetariamente de determinada entidade, não confundindo-o com qualquer outro.
Quanto à mensuração qualitativa, ainda são poucos os parâmetros que apresentem os
mesmos atributos dos princípios contábeis estabelecidos, principalmente quanto à
objetividade.
Além da mensuração do patrimônio de determinada entidade, a Ciência Contábil
busca compreender aspectos estáticos e dinâmicos, através de técnicas que permitem a
construção de indicadores de performance. Assim, contribuindo para a continuidade das
entidades.
Para que essa contribuição seja mais efetiva, a Ciência Contábil utiliza também conceitos
de outras áreas. Entre essas áreas, estão a Sociologia, a Psicologia e a Ética.
Diante dessas constatações, como o ensino contábil, na hipótese de estar
direcionado pelos paradigmas da interdisciplinaridade, deve agir?
Aspectos
Culturais
da
Gestão
Empresarial
Brasileira
que
Facilitam
a
Interdisciplinaridade.
Praticamente, poucas atividades humanas são mais complexas e diversas do que o
processo de ensino. O relacionamento entre quem se propõe a ensinar, com o ser humano
que, até certo ponto, se propõe a aprender, já foi, é, e com certeza, será foco de estudos das
mais diversas ciências.
Decorrente dessa afirmação, as determinações dos órgãos públicos responsáveis
pelas diretrizes a serem atendidas nos cursos de graduação em Ciências Contábeis,
ressaltam a necessidade de que no currículo deve conter conhecimentos pertinentes à
Sociologia, Psicologia e Filosofia.
A importância desses conhecimentos quanto aos objetivos dos cursos de
graduação em Ciências Contábeis, está no fato de que, conforme comentários já expostos,
o patrimônio administrado pelas organizações, nesse caso aquelas que compõem a
economia brasileira, possuem características institucionais, em vários aspectos, claramente
diversas daquelas pertencentes a outros países.
Essa perspectiva atua de forma a que os alunos devem compreender parte
substancial da cultura empresarial brasileira. Essa compreensão passa pela utilização de
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conceitos e práticas inerentes à Sociologia, Psicologia e à Filosofia. São necessárias para,
por exemplo, a construção de relatórios que visem apoiar o processo decisório precisa
atender as características culturais dos gestores, usuários relevantes dos processos
contábeis.
Decorrente, numa ação interdisciplinar, os conhecimentos que abordam os
aspectos culturais brasileiros podem ser explorados por disciplinas contábeis, na busca da
eficácia entre o profissional e os usuários das informações que são geradas e utilizadas.
Aspectos
Culturais
da
Gestão
Empresarial
Brasileira
que
Dificultam
a
Interdisciplinaridade
É perceptível como as possibilidades permitidas pela complexidade e diversidade
cultural brasileira permitem vários direcionamentos interdisciplinares.
Por outro lado, alguns aspectos culturais brasileiros, conforme pesquisa de Barros
e Prates (1996), principalmente quanto aqueles por eles acentuados, tais como a
Concentração de poder; a Postura de espectador; o Personalismo; a Impunidade; a
Flexibilidade; e o Paternalismo, acabam por restringir, de forma até impositiva, a atuação
contábil quanto a apoiar o processo decisório. Por conseguinte, a ação interdisciplinar.
Um exemplo da conseqüência desses aspectos é a busca pela distribuição
disfarçada de lucros, por exemplo, conforme já destacado por Gonçalves (2000).
Essa atitude, entre outras, derivadas das características apresentadas na pesquisa
de Barros e Prates (1996) citadas no parágrafo acima, fazem com que o profissional tenha
sobre si diversas dificuldades na implantação de procedimentos que possam apresentar a
veracidade sobre o estado e a dinâmica do patrimônio de determinada entidade.
Assim, mesmo compreendendo que a Ciência Contábil possui amplas
possibilidades na geração de informações que, efetivamente, podem apoiar o processo
decisório, o aluno, por vezes, tende a se limitar a compreender somente os procedimentos
burocráticos tributários e previdenciários impostos pelas legislações. Essa compreensão
decorre, também, do fato de que, existindo a lei, a entidade é obrigada a cumpri-la. Assim,
da mesma forma que parte da sociedade, nela incluídos alguns empresários, ainda
compreende que a profissão contábil está intimamente ligada a apenas ajudar o empresário
a atender essas legislações, o aluno vê nesse aspecto o objetivo-fim da profissão.
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Em virtude dessa atitude ainda perceptível em parte da sociedade, a busca pela
ampliação dos processos de ensino e aprendizagem através de atividades interdisciplinares
poderá encontrar barreiras entre empresários, o que dificulta, por exemplo, a obtenção de
informações sobre o patrimônio das entidades e, ainda mais difícil, sobre aspectos culturais
existentes nos gestores e internamente.
Embora a cultura que permeia a gestão empresarial brasileira seja realmente
relevante, a implementação da interdisciplinaridade em qualquer curso deve também
considerar as práticas metodológicas, o perfil dos docentes e alguns aspectos culturais
existentes no ensino contábil brasileiro.
Práticas Metodológicas, Perfil dos Docentes e Aspectos Culturais Existentes no
Ensino Contábil Brasileiro
Embora não se possa afirmar, talvez seja possível considerar que as práticas
metodológicas, muitas delas até compreendidas como verdadeiros paradigmas, sejam os
aspectos mais impactantes, positiva e negativamente, para a implementação da
interdisciplinaridade no curso de Bacharel em Ciências Contábeis.
Confirmando essa percepção, MacKenzie, Eraut e Jones (1985, p.161) acentuam
que:
Uma das principais causas das diferenças observadas nos métodos pedagógicos é
o professor. Há alguns fatores perceptíveis que influem sobre o comportamento
dele: seu saber, a extensão e a natureza de sua experiência pedagógica, alguns
traços de sua personalidade e algumas técnicas de ensino.
Assim como foram apresentados alguns aspectos sobre as organizações,
ressaltados por Srour (1996) no que denominou de relações sociais, também os indivíduos
são influenciados pelos mesmos aspectos intrínsecos às organizações. Isto é, todos os
elementos externos ao indivíduo, assim como suas próprias percepções do que considera
certo e errado, estabelecem o que entende como verdade. Decorrente, suas ações nos
âmbitos familiar e profissional são provocadas e delimitadas em razão das verdades que
aceita. Assim também o é a ação desse indivíduo enquanto docente.
Portanto, também estão inseridas, de forma diversa em cada indivíduo, os mesmos
elementos elencados por Barros e Prates (1996), em sua pesquisa sobre o estilo brasileiro
de administrar. Ressalte-se, como elementos que interferem na atuação docente, os
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seguintes traços culturais: concentração de poder, personalismo, paternalismo, formalismo,
impunidade, lealdade às pessoas e a flexibilidade.
Embora considerem a existência e os impacto desses fatores subjetivos intrínsecos
nas ações de cada indivíduo, Hernandes, Peleias e Barbalho (2005) apresentam as
características que consideram necessárias à formação técnica e acadêmica do professor de
Contabilidade, quais sejam: formação prática, técnica-científica, pedagógica e social e
política.
Ressaltam os autores que é na conjugação dessas características que o docente
poderá atuar positiva ou negativamente nos processos de aprendizagem dos alunos.
Além desses aspectos, Hernandes, Peleias e Barbalho (2005, p. 87) apresentam
algumas habilidades pessoais que o professor pode e precisa possuir, quais sejam: empatia;
equilíbrio, respeito, doação, entusiasmo, otimismo, confiança, generosidade, carisma,
paciência e objetividade.
Apresentados e comentados por Petrucci e Batiston (2005), como estratégias
adotadas no ensino contábil, têm-se o seguinte elenco: aula expositiva, seminário,
excursões e visitas, resumos de textos, ensino em pequenos grupos, aula orientada, jogos
de empresas, estudo de caso, laboratório ou empresa-modelo, palestras, ensino à distância e
ensino individualizado. Em cada um deles, de forma mais intensa ou não, o docente poderá
utilizar recursos instrucionais, tais como: quadro-negro, retroprojetor, flip chart,
videocassete/DVD, projetor multimídia e computador.
Na definição de qual estratégia e recursos utilizar, o docente será influenciado por
percepções e habilidades pessoais e, conforme Srour (1996), esses aspectos são construídos
dentro das relações sociais em que esse docente estiver compreendido.
Segundo Srour (1996, p. 131):
Essas relações sociais são divididas em outras, quais sejam: relações de produção
(ou de haver), as relações de poder e as relações de saber. A combinação desses
três gêneros de relações define a arquitetura do espaço social. Por que? Porque as
relações coletivas articulam agentes empenhados em intervenções sobre as
realidades material e imaterial; demarcam, portanto, processos de transformação
da natureza e da sociedade. São estes processos que denominamos práticas
sociais.... Em resumo, as práticas sociais são conjuntos planejados de atividades,
ou empreendimentos em sentido lato, que implicam intervenções na realidade.
Pautam-se por normas e inspiram-se em valores, e são, por isso mesmo,
socialmente controladas; desenvolvem-se de maneira estruturada ao obedecer a
padrões recorrentes; constituem a dinâmica da própria vida social e representam
a chave para a reprodução das relações numa dada coletividade.
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Srour (1996) considera que as formas como essas relações sociais acontecem nas
organizações é que definem a atuação do poder, atuando na forma de gestão. A forma de
poder está na construção da estrutura definida. Como acontece nas instituições de ensino
contábil, muitas vezes essa estrutura é imposta por hierarquia. Decorrente, a atuação do
poder está na ocupação das estruturas hierárquicas, fato que propicia a evidência de
determinadas características culturais brasileiras, tais como: concentração de poder,
paternalismo, personalismo.
Conjugando a forma estrutural e atuação do poder nas instituições de ensino, com
os procedimentos que ainda direcionam a admissão de docentes, ou seja, a avaliação para
entrada na instituição é por mérito acadêmico, poucas vezes considerando como fator
diferencial a prática profissional, faz com que ainda exista o que em países da língua
portuguesa e da espanhola denomina-se “catedrático”. O docente qualificado como um
catedrático, também denominado “titular”, é compreendido como a pessoa que, até certo
ponto, é o proprietário quase único de determinada disciplina. Observe-se que não está
referido a determinado conhecimento. Assim, o que esse docente define na escolha das
estratégias e dos recursos instrucionais, passa a ser compreendido pelos demais docentes
atuantes no curso, como uma verdade quase absoluta. Como país de língua portuguesa,
entende-se que esse aspecto é facilmente percebido em várias instituições de ensino
contábil existente no Brasil.
Assim, as instituições de ensino contábil, ao elaborar o projeto pedagógico,
deverão atender as normas existentes. Esse projeto pedagógico, invariavelmente, será
estruturado em disciplinas que, provavelmente, deverão atender o perfil dos egressos.
Percebe-se, o que não seria diferente, que a estrutura de qualquer projeto
pedagógico apresentará e se ajustará, como “pano de fundo”, as características intrínsecas
dos docentes. Concomitante, as disciplinas passam a ser construídas com base nas
convicções pessoais dos docentes, com maior influência daqueles compreendidos como
“catedráticos”. Dessa forma, o poder que esses docentes possuem, decorrente da cultura
catedrática estabelecida, pode impactar positiva e negativamente na implantação da
interdisciplinaridade no referido curso.
Quanto ao perfil dos docentes que atual no ensino da Ciência Contábil, de forma
resumida, pode-se considerar que o corpo docente existente nas instituições de ensino
contábil é, em parte, composto por ex-alunos que estão, ou estiveram, atuando em
organizações, seja como contador interno ou componente da estrutura de departamentos
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responsáveis pelas atividades contábeis. Também podem estar compondo a estrutura de
escritórios de contabilidade, seja como proprietário ou não. Ou ainda como profissional
liberal, sem ligações trabalhistas com qualquer organização formal.
Esse perfil induz a perceber que, no momento em que adentram como
componentes do corpo de docentes, uma parcela, talvez a maioria dos casos, não possuem
conhecimentos de métodos de ensino, não tendo base pedagógica suficiente para cumprir
com eficácia os objetivos educacionais.
Conforme Nossa (1999), esse aspecto negativo leva às seguintes constatações:
a) falta de interesse na aula ministrada, comunica-se mal com os alunos, não varia a
metodologia, desestímulo do professor com a sala de aula e com a matéria;
b) apresenta limitações técnicas, falta de exemplificação, falta de clareza na transcorrência
do assunto, entre outros, todos relacionados ao despreparo do corpo docente;
c) deficiência curricular;
d) falta de integração entre os professores;
e) uso inadequado dos recursos, ou usar somente um recurso.
Na busca de melhoria do perfil, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC),
através da Resolução 945/2002, trata da educação continuada para o exercício da auditoria
contábil. Embora se limita a essa área de atuação, suas premissas se expandem para toda a
amplitude da atuação do profissional contábil.
Esse aperfeiçoamento acadêmico tem o objetivo de fazer com que os docentes
capacitados em cursos de mestrado e doutorado sejam responsáveis pelas seguintes
contribuições (Hernandes, Peleias e Barbalho, 2005, p.81)
a) capacitar o estudante a identificar de forma mais rápida e mais completa os
problemas nas organizações;
b) demonstrar na prática como levantar as informações necessárias e pertinentes
ao que se quer resolver;
c) ajudar a analisar e estruturar essas informações de forma produtiva e
eficiente;
d) permitir desenvolver a habilidade em delinear alternativas de solução;
e) permitir ao estudante desenvolver a capacidade de estabelecer comparações
entre as opiniões dos autores da área, oferecendo subsídios ao desenvolvimento
de seu pensamento crítico;
f) melhorar o processo decisório do estudante, pelo exercício da escolha e
implantação da alternativa que melhor atende a realidade da organização para a
qual vier a trabalhar ou prestar seus serviços.
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Com a crescente melhoria acadêmica do atual corpo docente das instituições de
ensino contábil, derivado do aumento de mestres e doutores, se considere que terá, em
decorrência do aprimoramento, didática e método para ensinar. Isto não é verdade. Uma
das dificuldades para se ter um resultado mais eficaz em qualquer projeto pedagógico,
envolve duas vertentes. A da titulação e a do treinamento. Mas não qualquer treinamento e
sim para novas tecnologias metodológicas e instrucionais.
Dentro do âmbito da busca por melhores práticas metodológicas, as entidades
contábeis, juntamente com as instituições de ensino contábil, têm intensificado a promoção
de fóruns nacionais e regionais, buscando discutir sobre características semelhantes quanto
às dificuldades e virtudes que cada qual possui, na tentativa de diminuir os problemas
existentes e, se possível, evitar situações que podem surgir e que prejudiquem o processo
de ensino-aprendizagem contábil.
Práticas Metodológicas, Perfil dos Docentes e Aspectos Culturais que Facilitam a
Interdisciplinaridade
Para provocar algumas mudanças culturais quanto às práticas metodológicas, as
entidades normatizadoras do ensino superior brasileiro estabeleceu diversas exigências
legais quanto à educação continuada imposta aos docentes das instituições de ensino
superior, e de forma específica aos cursos de Bacharel em Ciências Contábeis, provocando
o necessário aprimoramento técnico e pedagógico dos docentes que buscaram cursos de
pós-graduação, tanto em nível de mestrado quanto de doutorado.
Esse aprimoramento tem provocado impactos positivos nas metodologias
utilizadas, haja vista a reestruturação do projeto pedagógico, buscando não apenas adequálo às normas legais existentes, mas, principalmente, às crescentes alterações nos modelos
econômicos, provocados pelos novos procedimentos nas relações comerciais, inicialmente
entre as organizações e, posteriormente, entre os países. Incluem-se nessas mudanças, as
também constantes evoluções tecnológicas, em, praticamente, todos os campos do
conhecimento humano.
Outro aspecto que tem provocado alterações nos projetos pedagógicos, são
algumas exigências das autoridades públicas, nesse caso específico, às instituições públicas
de ensino. As preocupações dessas autoridades públicas estão direcionadas às análises de
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custo / benefício dos recursos aplicados. Esse aspecto tem provocado a redução do tempo
de integralização do curso, diminuindo de cinco para quatro anos.
Em razão das adequações, sejam impostas por fatores legais, sejam por alterações
no ambiente econômico, implicam, quase que obrigatoriamente, por implantar aspectos
interdisciplinares no curso.
Práticas Metodológicas, Perfil dos Docentes e Aspectos Culturais que Dificultam a
Interdisciplinaridade
Embora o ambiente externo já alterado pelas novas formas de relacionamentos
econômicos e as legislações pertinentes aos recursos aplicados nas instituições públicas de
ensino já exigem adequações, tanto no projeto pedagógico quanto nas escolhas
metodológicas, os aspectos culturais enraizados nas estruturas, aparentemente arcaicas
existentes nessas instituições, ainda impactam negativamente na implantação dos conceitos
e práticas interdisciplinares.
Quanto às instituições públicas de ensino superior, como conseqüência da
estrutura delineada em legislações do servidor público, das relações hierárquicas legais
com o poder público, das crescentes disputas pelo poder, e a exaltação aos que podem ser
compreendidos como catedráticos, não só quanto a determinado conhecimento e/ou
disciplina, mas também no fato de ocupar cargos na direção dessas instituições, têm
dificultado a implantação de idéias já academicamente compreendidas como positivas.
Existindo essas relações sociais paradigmáticas na estrutura formal dos setores
decisoriais das instituições, o reflexo é imediato nas divisões inferiores hierarquicamente,
compreendidas como Departamentos e/ou Colegiados. Portanto, existem ainda aspectos
formais muito fortes quanto à aceitação de mudanças.
Essas dificuldades na aceitação de mudanças são confirmadas por Pinto Jr. (2001),
quando acentua que “o ser humano não gosta de mudança por que o novo, a quebra de
rotina, pressupõe o desconhecido e provoca insegurança. As pessoas gostam de saber o que
é certo e o que é errado.”.
Outra variável que impacta a implementação da interdisciplinaridade é o perfil dos
alunos.
16
Perfil dos Alunos nos Cursos de Bacharel em Ciências Contábeis
Conforme afirma Souza (1991, p.51):
Ele [o aluno] é o alfa e o ômega da educação; o princípio e o fim; a causa
eficiente da pedagogia e de outras ciências que embasam suas formulações. Na
verdade, em educação, o aluno é o substantivo, valendo os recursos todos que
servem para educá-lo, como adjetivos, importantes sim, mas não fundamentais.
Para o aluno, a Resolução CNE/CES 10/2004 estabelece o perfil desejado que o
projeto pedagógico deverá atender. Para que isso aconteça, é preciso o aluno se comporte
como parte ativa nos processos de aprendizagem, já que o conhecimento será “adquirido”
por ele, numa ação de característica estritamente individual. Portanto, mesmo que o
docente adote variadas metodologias de ensino, se o aluno se opor, da forma como
entender, o processo de aprendizagem não irá ocorrer.
Em parte dos alunos que buscam o conhecimento contábil existem ações que,
conforme uma dada forma de percepção, por vezes não contribuem para que seja um
sujeito ativo no processo de aprendizagem. São os seguintes aspectos:
a) são trabalhadores que estudam, isto é, precisam da renda do trabalho para arcar com
gastos particulares.
b) estão compreendidos como elementos pertencentes à parcela sócio-econômica de media
e de baixa renda da sociedade;
c) buscam, no curso, uma forma de alavancagem na vida pessoal e profissional, ou seja,
aumentar a renda;
d) parte relevante, ao entrar como aluno do curso, não possui conhecimento sobre a
amplitude da profissão contábil;
e) são oriundos de escolas públicas;
f) residem em municípios próximos à instituição de ensino;
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g) preferem atividades pragmáticas à outras que exigem capacidade crítico-analítica
descritiva;
h) desempenho médio menor nos vestibulares, principalmente nos conhecimentos lógicos,
quando comparados com curso em que a concorrência por vaga é maior do que no curso
de Bacharel em Ciências Contábeis.
Em razão desse perfil, existem dificuldades para que os egressos das instituições
de ensino contábil alcancem as capacidades e habilidades definidas pela Resolução
CNE/CES n. 10/2004 em seus egressos.
Portanto, na escolha de estratégias de ensino que sejam compreendidas como as
que podem contribuir no alcance os melhores níveis de aprendizagem, devem ser
considerados os aspectos intrínsecos de cada aluno, ou de determinado grupo, para que
sejam harmônicas as ações docentes, juntamente com as virtudes e necessidades dos
alunos.
Perfil dos Alunos nos Cursos de Bacharel em Ciências Contábeis que Facilitam a
Implantação da Interdisciplinaridade.
A ação como sujeito ativo é cada vez mais exigida dos alunos, mesmo com certa
resistência a, por exemplo, participarem em seminários e discussões que requeiram leituras
prévias.
Essa ação docente tem provocado uma certa mudança no comportamento, até
então, acentuadamente passivo por parte dos alunos. Os incentivos a elaboração de artigos
e na apresentação em eventos, assim como na participação ativa em consultorias-junior
existentes em várias instituições de ensino contábil, têm provocado uma certa “revolução”
quanto a ampliar as percepções dos alunos acerca das possibilidades existentes na profissão
contábil.
Para que essas ações sejam positivas, é necessário que o aluno tenha a
compreensão dos ambientes interno e externo das organizações, principalmente no que se
refere ao relacionamento com o chamado ambiente próximo, isto é, fornecedores, clientes,
sindicatos e entidades governamentais.
Essa percepção do aluno ao que é necessário para as ações descritas, passa a exigir
dos docentes, práticas de ensino que evidenciem as inter-relações entre os conceitos e
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atividades de determinada disciplina, com outras existentes no curso. Assim, diante dessa
exigência, os conceitos e práticas da interdisciplinaridade passam a ser, praticamente,
obrigatórios no curso.
Perfil dos Alunos nos Cursos de Bacharel em Ciências Contábeis que Dificultam a
Implantação da Interdisciplinaridade.
Mesmo que os docentes adotem metodologias inovadoras, quanto a aumentar a
motivação para o que apresenta, caso o aluno não encontre seus próprios motivos, o
processo de aprendizagem poderá não acontecer. Não ocorrendo esse processo, a
desmotivação é quase uma certeza, implicando, por conseqüência, no mau desempenho nas
avaliações, num processo de realimentação negativa.
Existindo o pragmatismo característico em parte relevante dos alunos, os docentes
que são responsáveis por disciplinas chamadas “teóricas”, poderão ter maiores dificuldades
no processo de ensino. Essa dificuldade decorre do fato de que a característica pragmática
exige que o aluno esteja “resolvendo exercícios”. Esse aspecto dificulta o desenvolvimento
de práticas pedagógicas que exigem a percepção de relacionamentos entre conceitos e as
práticas.
No caso dos cursos de Bacharel em Ciências Contábeis, os docentes que utilizam
como estratégia de ensino a exposição dos conceitos, por vezes, encontram dificuldades
para que os alunos sejam sujeitos ativos do processo de aprendizagem. O fato de que, para
compreender a exposição, o aluno necessita de leituras prévias, e este não a faz, por
compreender que o texto não possui características práticas, isto é, não atende ao quesito
“como fazer”, mas “apenas” comenta sobre determinado assunto, acarreta sua pouca
participação nas análises e discussões sobre o tema exposto.
Não conseguindo relacionar o texto com alguma atividade prática, o aluno tende a
estar desmotivado para essas disciplinas. Assim, qualquer proposta de interdisciplinaridade
dessas disciplinas “teóricas”, com as “práticas”, poderá encontrar resistências.
Conclusões
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Para o ser humano, mudança tem o objetivo de tirá-lo de algo em que já construiu
um “modus-operandi”. Mudança tende a tirá-lo daquilo em que se sente, até certo ponto,
tranqüilo. Conhece os limites e as amplitudes em que pode atuar.
A palavra interdisciplinaridade tem o poder de tirar as pessoas de seu mundo.
Apenas o fato de tentar entender a palavra já é, em si, um ato de mudança. Diversos autores
pesquisam sobre o tema. Praticamente todos são unânimes em afirmar que enunciar
conceitos e características dessa palavra é extremamente difícil, dado o contexto em que
cada um a coloca.
Além dessa dificuldade conceitual, outros aspectos influenciam nas tentativas de
implementar atividades em instituições de ensino superior que possam ser compreendidas,
conforme este ou aquele pesquisador, como interdisciplinar. A esses aspectos, nesse texto,
denominou-se de variáveis.
As variáveis aqui comentadas não abrangem todas as que possam impactar na
implementação de qualquer atividade interdisciplinar. Existem outras, por exemplo, a
legislação pertinente ao ensino superior brasileiro. Também impacta o ensino contábil a
forma como se desenvolveu essa Ciência.
Evidentemente o texto não visou esgotar as discussões sobre as variáveis
mencionadas. Muito pelo contrário. O objetivo foi, em primeiro momento, colocá-las como
um dos fatores a serem considerados.
Espera-se, com o texto, contribuir nas discussões e para que as atividades
interdisciplinares possam ser disseminadas, não só no curso de Bacharel em Ciências
Contábeis, mas, sobretudo, no ensino superior brasileiro.
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