Filosofia primeira: definir ou não definir? Paulo Borges de Santana Júnior Graduando de filosofia na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,USP,SP Resumo Esse exposição problematiza algumas dificuldades na construção da definição e, até mesmo, da nomeação daquela que seria a ciência primeira e, portanto, universal para Aristóteles. A via da definição da ciência por meio do seu objeto é algo que leva o texto Aristotélico a incongruências e confusões. Busca-se aqui tentar reconstituir uma definição próxima principalmente aos livros A e Γ da Metafísica para preservar o texto e algumas intenções de Aristóteles no que diz respeito a posição e a qualidade dessa ciência primeira. A tentativa de definição da ciência tematizada na Metafísica normalmente possui duas dificuldades. A primeira é tentar determinar uma ciência simplesmente pelo seu objeto. Um exemplo dessa dificuldade é dizer que a filosofia primeira é a ciência sobre o imaterial, ou sobre o objeto que é forma pura. Aristóteles não parece ter o interesse de determinar o domínio da ciência buscada por meio da natureza de seu objeto. A fórmula de determinar o campo de atuação dessa ciência em Aristóteles está muito mais vinculada aos princípios e às causas do que ao objeto que lhe fosse próprio. A ciência conhece algo pelas causas e pelos princípios e são, sobretudo, estes que determinam o seu domínio e a sua extensão. Com esse movimento não se pretende deixar de responder qual é o objeto da filosofia, mas apenas realçar um outro percurso para alcançar esse algo que chamaríamos de objeto. Pretende-se, então, buscar uma definição que dê conta das qualidades atribuídas por Aristóteles a essa ciência, qualidades que ficam mais evidentes por contraste com os outros saberes mencionados pelo próprio filósofo. Tais advertências sobre a definição da ciência primeira tem como base o livro A da Metafísica. Nele, Aristóteles procura um saber ou uma sabedoria superior. De todas as maneiras ou meios de saber – saber pelos sentidos, pelas artes, pelo conhecimento produtivo –, encontrase que a superior é a maneira teórica de conhecimento. Conhecimento teórico é um saber superior a respeito de certos princípios e causas. No entanto, Aristóteles almeja encontrar, dentre as ciências teóricas, a ciência teórica que seja superior. A qualidade da superioridade guia Aristóteles, que perpassa tipos de saberes, tipos de ciência e tipos de conhecimento teórico em busca do saber superior. Mais importante que seu nome ou o tipo de saber, a superioridade é a marca a partir da qual Aristóteles deseja encontrar o tema do livro Metafísica. Não se pretende dizer que a filosofia é para Aristóteles em todos os casos sinônimo de ciência do ente enquanto ente ou ciência dos princípios e das causas elevados. O importante é que, na argumentação do livro Γ, Aristóteles faz um esforço para identificá-las, primeiramente, por meio dos princípios e causas e, posteriormente, por meio da noção de substância. Essa identificação se mostra necessária quando compreendemos a superioridade que Aristóteles quer fornecer a ciência buscada no livro Metafísica. Essa identidade não é dada, mas sim construída e defendida por Aristóteles em vista de atingir a ciência superior, autárquica, a qual as outras ciência lhe devem obediência. O objeto da filosofia (o gênero substância), então, é um objeto, que em vez de limitar, autoriza a ciência a ser universal, autoriza a pretensão da filosofia de ser a ciência primeira e universal que conhece os princípios das ciências particulares, as quais são subordinadas à ciência primeira. Bibliografia Sumária ARISTÓTELES. Metafísica,IV. Trad de Lucas Angione. Ed Unicamp, Campinas