Métodos de Pesquisa 1. A PESQUISA COMO PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO A ciência é uma atividade tipicamente humana de busca sistemática do conhecimento da natureza e dos seus fenômenos. Dependendo do objeto de pesquisa, a experimentação (tentativa de reproduzir em laboratório, de modo controlado, os fenômenos) poderá não existir, sendo substituída por um modelo teórico explicativo dos fenômenos naturais ou sociais. A experimentação pode ser mais ou menos rigorosa, dependendo dos recursos de que se dispõe, inclusive o conhecimento teórico preexistente. A profissão de cientista, entendendo-se como a atividade regularmente remunerada por prestação de serviços de pesquisa científica e tecnológica, surge pela primeira vez na Alexandria, cerca de 330 anos a. C. Anteriormente, o conhecimento científico era gerado por filósofos, professores, sacerdotes, magos e por pessoas com outras profissões, mas que tinham em comum um grande espírito de curiosidade e uma certa disciplina. Nos dias atuais, muito se tem discutido sobre os métodos por meio dos quais se desenvolve a atividade científica, podendo-se dizer que todos eles têm validade tanto para a ciência como na busca de tecnologia. Esses métodos podem: priorizar a conduta abstrata e teórica e subestimar as sensações e o experimento, entender ser a comprovação experimental o procedimento fundamental. 1.1 Conceito de Tecnologia A tecnologia é o estudo das técnicas, inclusive de sua evolução. É a busca do conhecimento de como produzir e desenvolver instrumentos de trabalho, equipamentos e processos, destinados a elevar a produção por esforço físico humano ou unidade de trabalho despendida e resolver problemas e, desta forma, melhorar a qualidade de vida. Na sua origem, a tecnologia era uma atividade típica de artesãos, dedicados a uma arte diversa daquelas voltadas para despertar o prazer estético, como a pintura, a escultura etc. O desenvolvimento destas artes práticas ou técnicas vem-se dando desde o aparecimento do homem, mas a sistematização e a divulgação do conhecimento adquirido é uma manifestação recente. A tecnologia generaliza-se depois da descoberta da imprensa. Antes da publicação de tratados impressos, alguns copistas tentaram, por meio de manuscritos, sistematizar e preservar o conhecimento técnico disponível desde a Antiguidade. O conhecimento se transmitia de homem a homem, nas oficinas e laboratórios. Até o Século XVII não se pode falar de relacionamento funcional entre a ciência e a tecnologia, ou de ciência e tecnologia conectadas, C&T. Esse relacionamento se dá com a Revolução Científica do Século XVII, quando a necessidade de equipamentos mais complexos e mais precisos para as determinações e medições obrigou os cientistas a estabelecerem um contato mais próximo com os artesãos, o que propiciou um intercâmbio de idéias com sensíveis benefícios para as duas partes. A tecnologia de hoje é a ciência de ontem, e a ciência de hoje é a tecnologia de amanhã. 1.2 Conceito de Pesquisa A pesquisa é o exercício ou a prática da busca do conhecimento, conduzido por meio do método científico escolhido. Convencionalmente, a pesquisa vem sendo classificada em: básica: objetiva a expansão do saber não necessariamente associada com um interesse imediato de utilização prática dos resultados; aplicada: conduzida com o propósito de gerar inovações para solucionar problemas. É desejável que exista um certo equilíbrio no desenvolvimento destes dois tipos de pesquisa porque, enquanto a pesquisa básica cria e dá legitimidade e fundamento a novas idéias, a pesquisa aplicada procura transformá-las em utilidades. O papel da pesquisa aplicada não deve, contudo, levar à suposição de que exista uma relação direta e linear entre os seus resultados, de um lado, e o lançamento de novos produtos no mercado, dinamização da economia, criação de novos postos de trabalho, de outro. É necessário que ocorra, antes, o desenvolvimento do produto ou do processo e a mediação do empresário. Tem-se proposto uma subclassificação da pesquisa em estratégica e fundamental, que se aplicaria conjuntamente às categorias básica e aplicada, de acordo com a dimensão temporal do potencial de aplicação dos seus resultados. A estratégica apresentaria um elevado potencial para interagir rapidamente com outras pesquisas, dando suporte para novos avanços. A fundamental teria um horizonte temporal impreciso de utilização dos resultados, seja para expansão do conhecimento, como para resolver problemas. 1.3 Conceito de desenvolvimento experimental Por desenvolvimento experimental entendem-se as diversas etapas de transformação de uma descoberta ou um invento em uma inovação, ou o aprimoramento de uma inovação tecnológica, seja esta um novo produto ou um novo processo produtivo. O desenvolvimento experimental tem início em uma bancada de laboratório ou oficina, sendo progressivamente testado em escalas cada vez maiores (scaleup), até se chegar ao estágio de protótipo, no caso de produto, ou de uma nova rota de produção, no caso de processo. Este conjunto de operações é definido como atividade de Pesquisa e Desenvolvimento, P&D ( Research and Development, R&D). A P&D pode-se dar por meio de cooperação entre laboratórios e oficinas de universidades e de empresas, ou pelo trabalho integrado de pesquisadores e engenheiros nos laboratórios e plantas-piloto de uma indústria, os quais reúnam tanto a capacitação científica como a técnica. 1.4 Conceito de estado do conhecimento ou ”estado da arte” Estado do conhecimento é a avaliação qualitativa e quantitativa do conhecimento em um determinado momento, seja ele referente a um campo da ciência ou a uma determinada técnica. É também denominado como”estado da arte” (state of the arts). Os avanços de conhecimento na ciência são denominados descobertas ou invenções, já que houve uma certa intencionalidade de gerar utilidade. Os avanços de conhecimento na tecnologia são inventos e inovações. A denominação de inovação está reservada àquela invenção que tem condições de ser absorvida pelo setor produtivo, transformando-se em uma mercadoria. 1.5 Processo de geração de conhecimento A geração de conhecimento implica que a atividade nas áreas de C&T e de P&D tenha como resultado os produtos, as descobertas, invenções ou inovações. na área científica, ocorre em laboratório de universidades e centros de pesquisa. na área tecnológica, tem lugar nos laboratórios, oficinas, plantas-piloto e parques tecnológicos ou incubadoras de empresas de universidades e de centros de pesquisa e também em instalações de pesquisa das indústrias. A participação da indústria na geração de conhecimento na área tecnológica se dá porque as inovações interessam de perto ao setor produtivo. O conhecimento gerado na área científica tem sido de grande utilidade para as pesquisas na área tecnológica. Esse conhecimento estabelece um fluxo de informações sobre novas descobertas e invenções de interesse para o desenvolvimento de um produto ou um processo produtivo. Da mesma forma, o avanço do conhecimento na área tecnológica interessa às pesquisas na área científica, porque significa a possibilidade de se utilizar os resultados obtidos na produção de novos instrumentos e equipamentos para análises, mensurações e determinações, bem como para criação de condições especiais para observações. O desafio está em aumentar a colaboração e o relacionamento entre a área tecnológica e a científica. Inovação A inovação é a invenção que tem condições de ser absorvida pelo setor produtivo, transformando-se em uma mercadoria. A inovação pode ser de produto ou de processo. A de processo se divide em melhoramento organizativo, de aquisição de conhecimento gerencial, inovação tecnológica propriamente dita ou aquela que tem o progresso técnico incorporado. o pode-se afirmar que a sua introdução implica, necessariamente, economia de pelo menos um recurso. A inovação de produto compreende a criação de bens finais novos e qualitativamente diversos. o não está voltada para poupar qualquer recurso, mas sim para incrementar a demanda de um determinado bem. As inovações podem impactar o sistema produtivo (caso de um processo poupador de um determinado fator ou o caso de um recurso adicionalmente incorporado a um produto); podem tornar a vida mais ética (caso de um método de análise que auxilie a perícia criminal); ou podem tornar a vida mais humana (no sentido de evitar sofrimentos, prevenindo e curando enfermidades). Independente de serem de processo ou de produto, as inovações podem ser classificadas em: radicais > provocam mudanças de forma pronta e imediata; incrementais > causam mudanças progressivas que levam a uma mudança equivalente à que seria produzida por uma inovação radical; genéricas > resultam da fusão das duas anteriores; pervagantes > do tipo genérico, mas com um amplo espectro de aplicações, sobre muitos setores. 1.6 O interesse pelo estudo do progresso técnico e seus efeitos na economia As possibilidades oferecidas pelo progresso técnico para renovar e impulsionar os setores produtivos, tornando-os mais competitivos, e melhorar a qualidade de vida da população, começam a ser objeto de interesse das ciências sociais por ocasião das grandes transformações que ocorreram na sociedade quando o capitalismo mercantilista inicia a dissolução do sistema feudal. Conhecer a natureza do progresso técnico aplicado ao sistema produtivo vem constituindo preocupação das várias correntes do pensamento econômico. 1.6.1 O enfoque dos economistas clássicos Para os economistas, clássicos, o progresso técnico traria prosperidade e bemestar e quaisquer inconvenientes que resultassem de sua aplicação seriam amplamente compensados pelos benefícios acarretados pela sua introdução. Os economistas clássicos - Smith, Ricardo e Mill - foram os primeiros a reconhecer o papel do progresso técnico no crescimento econômico. Para Ricardo, o progresso técnico - além de poder reverter a tendência da economia em direção ao”estado estacionário” - seria uma poderosa arma para a concorrência. Os países que mais avançassem no uso das novas técnicas poderiam beneficiar-se nas relações de comércio internacional. A inovação tecnológica consolidaria e ampliaria comparativas de uma nação nas trocas comerciais. as vantagens 1.6.2 A visão marxista do progresso técnico Marx foi o primeiro economista a seguir os efeitos do progresso técnico no sistema econômico em sua totalidade. Marx não dissociava a possibilidade de expansão capitalista, da utilização crescente do progresso técnico, uma vez que este era a principal arma da concorrência capitalista, portanto, da concentração e centralização dos capitais. Os impactos negativos da grande indústria, que era o vetor da modernização da produção capitalista – entre eles a destruição de formas antigas de produção familiar, a alienação do trabalhador, o aumento da exploração capitalista através do incremento da mais-valia relativa e a formação de um”exército” de desempregados - se explicavam pela formação social em que ela se inseria. Superado o Capitalismo como formação social, a grande indústria seria expropriada e os benefícios do progresso técnico se voltariam para os trabalhadores. 1.6.3 A visão do pensamento neoclássico convencional Os neoclássicos convencionais defendem que não se deve atribuir qualquer sentido valorativo em relação à adoção ou não do progresso técnico. A inovação tecnológica dependeria do avanço do conhecimento científico e das artes técnicas, o que estaria permanentemente acontecendo fora do sistema produtivo. A possibilidade de mudança técnica seria algo que aconteceria a depender do preço relativo dos fatores de produção. Uma técnica avançada, embutida em uma máquina ou em um processo de produção disponíveis no mercado, seria utilizada quando os preços destes bens que a incorporassem pudessem ser comparativamente vantajosos em relação ao preço dos fatores que seriam substituídos. Só o mercado deve orientar uma mudança técnica, e um valor afirmativo deve ser dado ao equilíbrio que através dela se venha obter, sendo uma questão menos relevante o rumo e a velocidade com que o progresso técnico é incorporado pelo sistema produtivo. 1.6.4 A visão contemporânea A visão contemporânea ressalta o impacto econômico das políticas públicas de ciência e tecnologia e das instituições integrantes do sistema nacional de inovações tecnológicas. Tão ou mais importante que os preços relativos para a decisão empresarial de introduzir uma inovação, visando a maior competitividade, é o funcionamento do sistema de geração de tecnologias e os mecanismos de endogenização da demanda pela pesquisa e desenvolvimento, P&D. O arcabouço institucional da ciência e da tecnologia, ou a maneira como se organiza e funciona a pesquisa básica e a aplicada e os mecanismos de difusão em um determinado país ou região, é um fator decisivo nos processos de indução e absorção de inovações tecnológicas. 1.7 O papel da C&T na afirmação da soberania nacional A afirmação de uma nação, a continuidade de sua independência, a soberania e as relações comerciais mais equilibradas que estabelece com o resto do mundo são progressivamente dependentes da Ciência e da Tecnologia. Ciência e Tecnologia não são somente elementos da cultura de um povo, de uma sociedade, mas são também elementos delimitadores de um perfil moderno de qualquer Estado ou nação. Sem uma ciência e uma tecnologia nacionais não se consegue promover o desenvolvimento econômico, valorizar devidamente os produtos de exportação e também não se tem sucesso em educar, nutrir e tornar saudáveis os cidadãos de um país. No Brasil: há necessidade de que certos conhecimentos sejam adaptados à realidade brasileira; há necessidade de sermos menos dependentes de produtos importados e mais eficientes na exportação de produtos novos. Estas necessidades nos obrigam a sermos eficientes na geração autóctone do conhecimento, aquela que se dá no próprio local onde se faz necessária. 1.7.1 Por que a tecnologia importada não substitui a geração autóctone A importância de uma produção autônoma em Ciência e Tecnologia que leve a uma menor dependência da importação de conhecimentos se justifica, porque a transferência de tecnologia não esgota o elenco da diversidade das necessidades de inovações e não apresenta um grau variável de adaptabilidade ao ambiente e às particularidades de mercados nacionais com especificidades culturais inquestionáveis. A efetividade da transferência de tecnologia, que deve ser medida pela capacidade de ir além de soluções tópicas e localizadas de problemas, somente se verifica quando acompanhada da possibilidade de se produzir conhecimento autóctone, que é aquele nacionalmente localizado. Somente por esta via é que serão geradas oportunidades de investimentos que ajudam a superar o modelo de economia complementar e a reduzir os eventuais desequilíbrios econômicos entre as nações. É por meio da produção nacional do conhecimento científico-tecnológico que surgem as possibilidades de explorar as vantagens de comércio internacional, obtendo lucros extraordinários, mediante a incorporação em”primeira mão”, de inovações de processos e produtos, o que não é possível pela via da importação de tecnologia. A dependência tecnológica como fator de retardamento do desenvolvimento econômico tem sido salientada por vários estudiosos. Da mesma forma que é uma utopia pensar-se em auto-suficiência em termos de conhecimento, é, por outro lado, altamente desejável depender menos da pesquisa realizada fora das fronteiras do Brasil. Renunciar à geração autóctone do conhecimento e a uma presença em temas avançados de pesquisa significa manter um elevado grau de vulnerabilidade da economia e colocar questões essenciais, como a segurança alimentar e a saúde da população, fora do controle das decisões nacionais. A cooperação internacional em ciência e tecnologia, bem como nos demais setores, faz parte do convívio das nações. Entretanto, ela se deve dar em condições de trocas iguais. O Brasil tem forte potencial para a geração de conhecimento, mas ainda carece de um mecanismo que faça com que este conhecimento alcance o setor produtivo. Comparando-se o Brasil com a Coréia, observa-se que a produção acadêmica dos dois países é semelhante. Porém a quantidade de trabalhos acadêmicos transformada em pedidos de patentes na Coréia é mais de trinta vezes maior que no Brasil. Os produtos da geração de conhecimento no Brasil e na Coréia No Brasil, há ainda incongruência entre o volume de produção científica e a escassez de inovações. A expansão do conhecimento não é proporcional ao aproveitamento econômico desse conhecimento. Alguns problemas foram detectados por pesquisadores: Cultura de propriedade intelectual incipiente – o conhecimento como fonte de geração de inovação e de riqueza precisa, antes de qualquer coisa, estar protegido (situação que vem sendo alterada). A reputação / notoriedade do pesquisador parece ser mais importante que o benefício social da exploração comercial do objeto da patente. Há pouco incentivo e cultura para a fixação de Doutores em empresas (expectativa de mudança com a Lei de Inovação). A situação é ainda mais grave quando se compara o Brasil com países como a Inglaterra, a França e a Alemanha. O Brasil precisa capitalizar mais sua cultura científica. Os produtos da geração de conhecimento no Brasil comparados com outros países. 2. TIPOS DE PESQUISA A pesquisa compreende qualquer atividade criativa e sistemática realizada com o fim de incrementar o acervo do conhecimento científico e o uso desse acervo de conhecimentos para conceber novas aplicações. Para realizar uma pesquisa de cunho científico, é de fundamental importância que o pesquisador tenha uma clara distinção dos diversos tipos de conhecimento e uma sólida fundamentação epistemológica. 2.1 Quanto à natureza 2.1.1 Pesquisa básica Tem como objetivo principal a busca do saber. 2.1.2 Pesquisa teórica Trata-se da pesquisa que é ”dedicada a reconstruir teoria, conceitos, idéias, ideologias, polêmicas, tendo em vista, em termos imediatos, aprimorar fundamentos teóricos”. Esse tipo de pesquisa é orientado no sentido de reconstruir teorias, quadros de referência, condições explicativas da realidade, polêmicas e discussões pertinentes. A pesquisa teórica não implica imediata intervenção na realidade, mas nem por isso deixa de ser importante, pois seu papel é decisivo na criação de condições para a intervenção. “O conhecimento teórico adequado acarreta rigor conceitual, análise acurada, desempenho lógico, argumentação diversificada, capacidade explicativa”. 2.1.3 Pesquisa empírica É a pesquisa dedicada ao tratamento da ”face empírica e factual da realidade; produz e analisa dados, procedendo sempre pela via do controle empírico e factual”. A valorização desse tipo de pesquisa está na possibilidade que oferece maior concretude às argumentações, por mais tênue que possa ser a base factual. O significado dos dados empíricos depende do referencial teórico, mas esses dados agregam impacto pertinente, “sobretudo no sentido de facilitarem a aproximação prática”. 2.1.4 Pesquisa aplicada Busca de solução para problemas concretos e imediatos. Muitas vezes pesquisas básicas possuem grande importância em nossa vida. É o caso da eletricidade. Quando os primeiros cientistas começaram a pesquisá-la, o único objetivo era a curiosidade. Ligada à práxis, ou seja, à prática histórica em termos de conhecimento científico para fi ns explícitos de intervenção; não esconde a ideologia, mas sem perder o rigor metodológico. 2.2 Quanto aos objetivos 2.2.1 A pesquisa exploratória Na primeira aproximação com o tema, pode buscar descobrir teorias e práticas que modificarão as existentes; recuperar as informações disponíveis para criar maior familiaridade com os fenômenos, descobrir os pesquisadores ou buscar informações para a obtenção de inovações tecnológicas. É feita por meio de: Levantamentos bibliográficos; Entrevistas com profissionais da área; Visitas a instituições, empresas, etc; Web sites, etc. 2.2.2 A pesquisa descritiva Observa, registra e analisa os fenômenos, sem manipulá-los e é muito utilizada em pesquisas sociais. Procura descobrir a freqüência com que o fenômeno ocorre, sua natureza, suas características, sua relação com outros fenômenos. Em geral, é executada após a pesquisa exploratória e implica a realização de observação sistemática e não participante com o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados (questionário e observação sistemática). 2.2.3 A pesquisa explicativa Visa ampliar generalizações, definir leis, estruturar e definir modelos, relacionar hipóteses existentes e gerar novas, via dedução. Exige maior investimento na síntese, teorização e reflexão sobre o objeto. Busca explicar os porquês e exige aplicação de métodos de modelagem e simulação para reproduzir fenômenos e aprofundar o conhecimento da realidade. Níveis Conhecimento Objetivos Modalidades 2.3 Quanto aos procedimentos Uma vez entendida a natureza da pesquisa e determinados seus objetivos deve-se escolher o procedimento para sua execução. 2.3.1 Pesquisa experimental Manipula diretamente as variáveis relacionadas ao objeto de estudo. Busca as causas e efeitos, como o evento ocorre. O cientista cria situações de controle para evitar interferências (o placebo, por exemplo). A pesquisa experimental viabiliza novas descobertas: materiais, componentes, métodos, técnicas e é muito utilizada para obter novos conhecimentos e para a construção de protótipos. Este tipo de pesquisa requer manipulação e coleta de dados imparcial. Experimentar significa: elaborar e formular novos elementos, testar materiais e componentes, simular eventos, inferir e introduzir variáveis, realizar modelagens. Em uma pesquisa experimental, o pesquisador manipula algumas variáveis e então mede os efeitos dessa manipulação em outras variáveis. 2.3.1.1 O que são variáveis? Variáveis são características que são medidas, controladas ou manipuladas em uma pesquisa. Diferem em muitos aspectos, principalmente no papel que a elas é dado em uma pesquisa e na forma como podem ser medidas. Há variáveis dependentes e variáveis independentes. Variáveis independentes são aquelas que são manipuladas, enquanto que variáveis dependentes são apenas medidas ou registradas. 2.3.2 Pesquisa de laboratório Artificializa a produção do fato ou da sua leitura. É caracterizada por: Interferir artificialmente na produção do fato/ fenômeno/processo. Artificializar o ambiente ou os mecanismos de percepção para que o fato/fenômeno/processo seja produzido/ percebido adequadamente. Permite: Estabelecer padrão desejável de observação. Captar dados para descrição e análise. Controlar o fato/fenômeno/processo. Coletar dados em um espaço curto, obtendo um snapshot do fenômeno. 2.3.3 Pesquisa operacional É a investigação sistemática dos processos de produção. Utiliza ferramentas estatísticas e métodos matemáticos e visa selecionar os meios para produção, comparando custos, eficiência e valores. Aplicações: Controle e produção de estoques; Processos e operações de manufatura; Projeto e desenvolvimento de produtos; Engenharia e manutenção de fábricas; Administração de RH; Gestão e Vendas. Exemplo: 2.3.4 Pesquisa Ex-post-facto (a partir de depois do fato) É uma investigação sistemática e empírica em que o pesquisador não tem controle direto sobre as variáveis independentes, porque os fatos pesquisados já ocorreram e suas manifestações. São intrinsecamente não manipuláveis. Nesse tipo de pesquisa são feitas inferências sobre as relações entre variáveis em observação direta, a partir da variação concomitante entre as variáveis independentes e dependentes. 2.3.5 Levantamento Caracteriza-se pela interrogação direta das pessoas, cuja opinião se quer conhecer, e por ser um procedimento útil para pesquisas exploratórias e descritivas. Permite o conhecimento direto da realidade, a quantificação, economia e rapidez. Etapas: Seleção da amostra Aplicação de questionários, formulários ou entrevista Tabulação dos dados Análise com auxílio de ferramentas estatísticas 2.3.6 Pesquisa de campo Observa o lugar natural onde ocorrem os fenômenos e utiliza diversos procedimentos de coleta como observações e entrevistas. É realizada onde acontece o fato/fenômeno/processo e coleta de dados pela observação do fato/fenômenos/processo in natura. 2.3.7 Estudo de caso Estudo aprofundado e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado. É adequado para explorar situações da vida real, descrever a situação em que está sendo feita determinada investigação e explicar as variáveis causais de determinado fenômeno em situações muito complexas. Limitações: Falta de rigor metodológico; Dificuldade de generalização; Tempo destinado à pesquisa. 2.3.8 Pesquisa-ação É um tipo de pesquisa social com base estreita associação com uma ação ou coletivo, e no qual os pesquisadores e situação ou problema estão envolvidos de empírica, concebida e realizada em com a resolução de um problema os participantes representativos da modo cooperativo ou participativo. Esse tipo de pesquisa é indicado quando há interesse coletivo na resolução de um problema ou suprimento de uma necessidade. Há envolvimento participativo ou cooperativo dos pesquisadores e demais participantes no trabalho de pesquisa. 2.4 Quanto à natureza da informação 2.4.1 Pesquisa quantitativa Considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Requer o uso de recursos e de técnicas estatísticas (percentagem, média, moda, mediana, desvio-padrão, coeficiente de correlação, análise de regressão, etc.). Apesar de criticada por reduzir as relações humanas a números exatos, é utilizada para estudar o homem e a sociedade quando é possível utilizar a mesma metodologia e o mesmo instrumental das ciências naturais. Exemplo: 2.4.1.1 Técnicas quantitativas 2.4.1.1.1 Observação sistemática O observador, munido de uma listagem de comportamentos, registra a ocorrência dos mesmos durante um período de tempo. Para evitar interferências, observação sistemática. é comum utilizarem-se câmeras na 2.4.1.1.2 Questionário É um instrumento ou programa de coleta de dados em que o pesquisador deve saber exatamente o que procura, o objetivo de cada questão. O informante deve compreender perfeitamente as questões, portanto deve-se conhecer e ter cuidado com o repertório do informante. O questionário deve seguir uma estrutura lógica, do mais simples ao mais complexo. Deve apresentar uma questão por vez e ter linguagem clara. Características: confeccionado pelo pesquisador e preenchido pelo informante; linguagem simples e direta; deve-se condiderar um limite máximo de 30 min para respostas; devem-se determinar as questões mais relevantes e como se relacionam ao item de pesquisa. Os questionários devem ser acompanhados de uma carta de apresentação detalhando: A finalidade do estudo. Como preencher o questionário. Se é preciso identificação pessoal. Como devolver o questionário. 2.4.1.1.3 Entrevistas Partem do encontro entre o pesquisador e o objeto de estudo e servem para coleta de dados não documentados. Possibilitam análises qualitativas e quantitativas. O número de entrevistados depende da variabilidade da informação a obter. O roteiro da entrevista deve considerar a distribuição do tempo por assunto e a formulação de perguntas com respostas descritivas. 2.4.2 Pesquisa qualitativa Considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito, que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem. 2.4.2.1 Técnicas qualitativas 2.4.2.1.1 Observação participante Ocorre por meio do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado. Exemplo: de Carlos Castañeda ( A Erva do Diabo), Oliver Sachs. 2.5 Pesquisa bibliográfica A pesquisa bibliográfica deve anteceder todos os tipos de pesquisas, pois coloca o pesquisador em contato com o que existe sobre o seu tema. É feita a partir de documentos (livros, livros virtuais, cd-rom, internet, revistas, jornais...) e compreende várias etapas: Identificação e localização das Fontes; Consulta aos catálogos das bibliotecas; Exame de índices de periódicos; Consultas aos abstracts. Há três tipos de fontes de informação: A BUSCA da literatura deverá ser completa, ampla e profunda. A pesquisa bibliográfica possibilita a determinação dos objetivos, a construção das hipóteses e oferece elementos para fundamentar a justificativa ou motivação do tema. Com a revisão bibliográfica, o pesquisador obtém os subsídios necessários para elaborar um histórico da questão, avaliar os trabalhos publicados sobre o tema, avaliar métodos apropriados para coletar e analisar dados e evitar duplicações desnecessárias de estudos já desenvolvidos. Poucas horas gastas nas bibliotecas das grandes universidades poderão economizar muitas horas do pesquisador em laboratórios ou no campo. 2.5.1 Pesquisa documental Assemelha-se à pesquisa bibliográfica, todavia as fontes que a constituem são documentos e não apenas livros publicados e artigos científicos divulgados, como é o caso da pesquisa bibliográfica. A pesquisa documental é realizada em documentos conservados em órgãos públicos e privados de qualquer natureza, com pessoas, anais, regulamentos, ofícios, memorandos, balancetes, diários, cartas pessoais e outros. 3. O PROJETO DE PESQUISA O que é pesquisa? “Pesquisar, significa, de forma bem simples, indagações propostas.”(Silva e Menezes, 2001) procurar respostas para “Pesquisa científica é a realização concreta de uma investigação planejada, desenvolvida e redigida de acordo com as normas da metodologia consagradas pela ciência.” “A pesquisa é uma atividade voltada para a solução de problemas, através do emprego de processos científicos.” “Pesquisa científica é um conjunto de procedimentos sistemáticos, baseados no raciocínio lógico, que tem por objetivo encontrar soluções para os problemas propostos mediante o emprego de métodos científicos.” Pesquisar para quê? Criar novas tecnologias; Explorar o desconhecido; Controlar a natureza; Entender os sistemas; Produzir inovação; Buscar o desenvolvimento sustentável; Aumentar produtividade e competitividade; Gerar investimento, emprego e renda; Buscar solução para um problema; Procurar um novo entendimento para uma dada situação. Objetivos da Pesquisa: Trazer uma contribuição inovadora para a Ciência; Responder a uma pergunta de interesse para a comunidade científica; Responder a uma pergunta ainda não respondida anteriormente; Responder a uma pergunta de relevância para o interesse social (caso de tecnologia); Produzir uma contribuição inédita em sua área do conhecimento. A contribuição pode ser puramente teórica, baseada em experimentação ou melhoria de técnicas existentes, mas em todos os casos deve ter resultados que possam ser generalizados. Ponto de partida da investigação científica; Uma pesquisa só é necessária se existe uma dúvida a ser esclarecida; O problema = dúvida inicial que motiva e orienta a pesquisa; Redigido de forma clara e argumentativa - qual é a questão para a qual se busca uma resposta??? No exemplo -”organização de moradores e saneamento”, suponha que o pesquisador que more no bairro C, passa todos os dias pelo bairro A e observa que em um bairro há saneamento e no outro não. Uma questão seria:”por que um bairro tem saneamento e outro não”? o Por motivos econômicos, geológicos, jurídicos, demográficos, educacionais, de engenharia, sociológicos (sociais, políticos e culturais). o “Que relações... existem nestes locais que favorecem ou bloqueiam a adoção de políticas públicas básicas de saneamento”? O pesquisador possui um prazo determinado para realizar sua pesquisa - não há possibilidade de esgotar todo o assunto de uma só vez. O segundo passo é a delimitação dos tipos de relações que irão tornar-se o objeto principal de estudo. “Em que medida as organizações de moradores de bairro conseguem influenciar a execução de políticas públicas locais”? Este problema poderia ser, ainda, desdobrado nos seguintes: o “Que tipos de mecanismos de representação política permitem esta influência por parte das associações de moradores? o Quais os obstáculos institucionais à representação dos interesses de bairro na adoção e execução de políticas públicas de saneamento”? Na elaboração de um projeto de pesquisa deve-se ter em mente as perguntas que permitem estruturar seu desenvolvimento. 3.1 O que pesquisar? Há várias formas para escolher o tema de um projeto de pesquisa: Escolha pela instituição Escolha baseada na área de especialização do pesquisador Escolha decorrente de lacuna na formação Escolha baseada na relevância para uma determinada área Escolha visando à revisão de aspectos teóricos ou práticos Escolha baseada na aplicabilidade O tema é o ponto de partida do trabalho de pesquisa. Delimita um campo de estudo no interior de uma grande área de conhecimento e deve ser escolhido de acordo com as tendências e aptidões do pesquisador. Encontrada uma área do conhecimento de interesse, deve-se identificar um tema plausível. Para avaliar a escolha de um tema, podem-se fazer as seguintes perguntas: Trata-se de um problema original e relevante? Ainda que seja”interessante”, é adequado para mim? Tenho hoje possibilidades reais para executar tal estudo? Existem recursos (financeiros, materiais, humanos...) para o estudo? Há tempo suficiente para investigar tal questão? Quais são as partes do seu tema? Qual o contexto do tema? Qual a importância do seu tema? Quem deu contribuições relevantes ao tema? Como outros autores abordaram o assunto? O que resta por investigar no tema? Exemplos: 3.2 Por que pesquisar? A justificativa mostra a relevância da pesquisa e identifica quais contribuições para a compreensão, intervenção ou solução a pesquisa apresentará. É a parte em que o pesquisador irá demonstrar a relevância da proposta de investigação. • A relevância de um projeto nunca está nele mesmo, nem na vontade do pesquisador, nem no ineditismo do trabalho. • A justificativa de um projeto está na contribuição para o conhecimento sobre um tema. Para redigir a justificativa, o pesquisador deverá ter lido a bibliografia principal. Na justificativa, apresenta as lacunas que existem nos estudos até então realizados. Sua contribuição será preencher as lacunas ou demonstrar, de forma crítica, que aquilo que se entendia até então como certo é uma interpretação incongruente com a realidade atual. Que motivos justificam um projeto de pesquisa? Atualidade do tema: inserção do tema no contexto atual. Ineditismo do trabalho: proporcionará mais importância ao assunto. Interesse do autor: vínculo do autor com o tema. Relevância do tema: importância científica, social, educacional, entre outras. Pertinência do tema: contribuição do tema para a solução de um problema atual. 3.3 Para que pesquisar? Os objetivos indicam o que se pretende conhecer, ou medir, ou provar no decorrer da pesquisa, ou seja, as metas que se deseja alcançar. Objetivos gerais: indicam uma ação muito ampla (resultado pretendido), como por exemplo: Melhorar a aprendizagem de Eletromagnetismo no ensino médio. Objetivos específicos: procuram descrever ações pormenorizadas ou aspectos detalhados que levarão à realização dos objetivos gerais, como por exemplo: Identificar fatores que dificultem a aprendizagem de Eletromagnetismo. Propor mecanismos que minimizem esses fatores. Aplicar procedimentos metodológicos que garantam a melhoria da aprendizagem. Descrever o perfil dos alunos que utilizam computadores. Os objetivos dependem do tipo de pesquisa que é realizada. Por exemplo, um projeto realizado pelo Ministério da Saúde – caracterizar o perfil social das comunidades onde há casos de cólera – teria como objetivo”orientar a política pública na área de saúde, visando conter a doença”. No caso de pesquisa acadêmica, o objetivo maior será trazer uma contribuição ao tema. • objetivos gerais - referem-se a uma contribuição teórica que se espera alcançar com a pesquisa (por exemplo revisão de um conceito); • objetivos específicos - apresentam o resultado imediato do trabalho científico (apresentação de uma bibliografia atualizada sobre o tema, compilação de novos dados sobre um assunto). Exemplo: Objetivo Geral o Este trabalho compara o sistema de tratamento de efluente por Biodigestão e o sistema de tratamento por Lodo Ativado, utilizando como ferramenta a análise emergética e seus indicadores. Objetivos específicos o Avaliar a sustentabilidade dos sistemas estudados. o Avaliar os serviços do meio ambiente para diluição das emissões de cada sistema. o Discutir os resultados obtidos. o Comparar os ambiente. o Verificar o alcance dos indicadores emergéticos na avaliação dos sistemas estudados. sistemas quanto à sua contribuição ao meio 3.4 Como pesquisar? A Metodologia é a explicação minuciosa, detalhada, rigorosa e exata de toda ação desenvolvida no trabalho de pesquisa. Descreve a estratégia de pesquisa para coletar dados necessários a fi m de testar a hipótese formulada: Por exemplo, na pesquisa sobre associações de moradores e política de saneamento: Que tipo de dados seriam necessários? Como obtê-los de forma fidedigna? Quantos dados seriam representativos? Como analisá-los? Podem-se combinar métodos qualitativos (como a história de vida) com métodos quantitativos (a elaboração de um índice de casas atendidas pelo sistema de saneamento correlacionado ao índice de membros filiados à associação de bairro, a partir de dados retirados de uma amostra de moradores dos bairros A, B e C). A metodologia explica: o tipo de pesquisa, o instrumental utilizado (questionário, entrevista, entre outros), o tempo previsto, a equipe de pesquisadores e a divisão do trabalho, as formas de tabulação e tratamento dos dados ...tudo aquilo que se utilizou no trabalho de pesquisa. 3.5 Quando pesquisar? O cronograma deve descrever o tempo necessário para a realização de cada uma das partes propostas no projeto. As etapas podem ser coincidentes, mas não excludentes. Por exemplo, é possível fichar um texto e levantar dados secundários no mesmo mês, mas não é possível fazer uma análise comparativa das entrevistas sem tê-las terminado. 4. O RELATÓRIO DE PESQUISA O Relatório de Pesquisa é o documento que mostra: como o projeto foi executado, que dados foram coletados, como esses dados foram analisados e que resultados podemos extrair deles. O projeto pode ser retomado no relatório, não mais como proposta de trabalho, mas como relato da realização desse trabalho. O relatório é a primeira divulgação da pesquisa efetuada, pois, sem divulgação dos resultados, sua pesquisa não servirá a seu fim. 4.1 O que considerar ao planejar um relatório ou um resumo? O texto deve ser conciso, informativo, com maior ou menor detalhamento. A forma é importante, mas não substitui resultados consistentes e interpretação adequada. Apresente o aparato teórico que deu suporte à pesquisa, que auxiliou a levantar hipóteses e a estabelecer seus objetivos. Esclareça conceitos importantes; apresente, discuta e posicione-se a respeito de diferentes visões ou abordagens; mostre que você conhece o que se diz sobre o assunto, discutindo questões polêmicas ou problematizando algumas delas e explicite sempre seu posicionamento nessas discussões. 4.2 Como escrever um relatório? Os relatórios de pesquisa devem, obrigatoriamente, conter os seguintes itens: Identificação Resumo Introdução Material e Métodos Resultados Discussão / Conclusões Bibliografia Perspectivas de continuidade ou desdobramento do trabalho Apoio Agradecimentos 4.2.1 Identificação Faça uma capa simples com: Nome da Instituição Título do trabalho Nomes completos do(s) autor(es) Local e data Identifique: Projeto Número do processo Bolsista Orientador Local de execução Vigência 4.2.2 Resumo É a apresentação sintética e seletiva das idéias de um texto, ressaltando sua progressão e articulação. Mostra as principais idéias do autor e é feito quando o relatório está finalizado. Forma: tamanho: determinado em muitos casos o um só parágrafo o frases pouco extensas o terminologia específica o ordem direta das frases O resumo deve conter: 1) Identificação 2) Introdução 3) Material e Métodos 4) Resultados 5) Discussão / Conclusões 6) Apoio Exemplo: Características biológicas de células hematopoiéticas transfectadas com o gene egfp. Leonardo Augusto Karam Teixeira, Cecília Matte Fricke, Camila Ilgenfritz e Nance Beyer Nardi. Departamento de Genética – Instituto de Biociências, UFRGS – Porto Alegre/RS. Células hematopoiéticas estão sendo intensamente investigadas devido a seu potencial como alvo de terapia gênica. Tem sido mostrado, entretanto, que a transferência de genes exógenos pode alterar biologicamente as células-alvo, diminuindo sua capacidade de proliferação e diferenciação. O presente trabalho teve como objetivo a análise das características biológicas de células da linhagem hematopoiética K562, previamente transfectadas com o gene repórter egfp ( enhanced green fluorescent protein), cuja expressão é detectada por citometria de fluxo. Células K562 transfectadas ou normais foram cultivadas em diferentes condições, e comparadas com relação a diferentes parâmetros que incluíram a expressão de marcadores de superfície. Os principais resultados encontrados foram: (1) quando cultivadas na ausência de pressão seletiva, a expressão do gene repórter mostrou um rápido declínio; (2) células K562 transfectadas apresentaram uma capacidade mitótica diminuída quando co-cultivadas com células K562 normais, em diferentes concentrações; e (3) os níveis das moléculas de adesão CD11c, CD31 (baixo) e CD49e (alto) não foram afetados pela transfecção, enquanto a baixa expressão dos marcadores DL e CD117 mostraram uma tendência a aumentar nas células transfectadas. Estes resultados mostram que dois dos principais problemas dos protocolos de terapia gênica, manutenção da expressão do transgene e expansão das células transfectadas, podem ser analisados para correção in vitro. Apoio: CNPq, FINEP 4.2.3 Introdução A introdução deve esclarecer qual a pergunta que você está fazendo (tema) e por que vale a pena fazê-la. Explique o que você pesquisou, ou seja, o seu objeto de pesquisa. A introdução deverá ser um breve resumo do projeto, contendo o problema e os objetivos, se for o caso, de forma que possa informar ao leitor, com uma leitura rápida, o que pretende a pesquisa proposta. A introdução apresenta as razões da pesquisa. Expõe o que levou o pesquisador a realizar a investigação, situando o trabalho em relação a outros já publicados no mesmo campo. Ao estabelecer, de forma sucinta, o estado atual em que se encontra o problema a ser investigado, a introdução mostra a importância do trabalho, limita o problema a ser estudado e o situa no setor especializado. Deve-se convencer o leitor de que sua pesquisa é relevante. Faça um pequeno histórico sobre o tema, conte de onde ele surgiu e por quê. Mostre, sutilmente, para seu leitor que seu trabalho merece ser lido. De maneira geral, a introdução deve informar sobre: antecedentes do tema; tendências; natureza e importância do tema; justificativa da escolha do tema; relevância; possíveis contribuições esperadas; objetivos do estudo. 4.2.4 Material e métodos Mostra o que você utilizou e o que você fez para responder à questão colocada como tema. Essa parte pode variar muito, dependendo do objeto de trabalho, mas normalmente especifica os seguintes aspectos: Sujeitos da pesquisa – quem são, faixa etária, sexo, grau de escolaridade, diferenças entre os grupos, entre outros. Método de coleta de dados (procedimentos) – que materiais foram usados, como os dados foram coletados, etc. Materiais: citar os equipamentos, reagentes e outros itens utilizados, informando fabricante ou fornecedor. Métodos: descrever os procedimentos detalhados, que possam ser reproduzidos com os materiais e equipamentos descritos. 4.2.5 Resultados Quais as respostas que você encontrou? A descrição dos resultados deve ser clara e objetiva, resumindo os achados principais que serão detalhados em tabelas e figuras. Exemplo Tabela 1 - Extensão do desflorestamento bruto (km2) de janeiro de 1978 a agosto de 1998. Table1 - Extent of gross deforestation (km2 ) from January 1978 to August 1998. Tabelas e figuras são muito importantes; seu número deve ser o menor possível, e elas devem ser construídas com cuidado para incluir todas as informações necessárias com clareza. Tabelas são numeradas seqüencialmente (Tabela 1, Tabela 2...), seu título deve ser informativo, colocado acima; notas de rodapé (a, b, c...) podem ser colocados diretamente abaixo da tabela. Figuras (fotos, esquemas, gráficos) são numeradas seqüencialmente (Figura 1, Figura 2, etc), seu título deve ser informativo e devem ser auto-explicativas. A legenda deve ser colocada abaixo da figura. Histograma do ruído branco acima com 50 bins 4.2.6 Discussão / Conclusões No fechamento da sua pesquisa, retome os objetivos propostos na introdução, faça um breve resumo do que foi feito e apresente as suas principais conclusões. O que estas respostas encontradas nos resultados significam? Como elas ajudam a resolver o problema? Quais as principais dificuldades encontradas? Quais as perspectivas de continuidade do trabalho? Raramente chegamos a conclusões muito definitivas, por isso, em muitos casos, é melhor tratar de considerações finais e deixar a conclusão para os casos em que ela realmente ocorrer. A conclusão deve resultar de deduções lógicas, sempre fundamentadas no que foi apresentado e discutido no corpo do trabalho, e conter comentários e conseqüências próprias da pesquisa. Dadas as particularidades e restrições de cada pesquisa, normalmente, o que temos são indícios, tendências e não conclusões. 4.2.7 Bibliografia citada Referência bibliográfica é um conjunto de elementos identificação de publicações, no todo ou em parte. que permite a Todas as referências utilizadas no texto devem estar listadas nesse item. Lembre-se: não liste se não citar e não cite se não listar. Dependendo do meio de divulgação, há diversos formatos para apresentação das referências bibliográficas. Desta forma, após defi nir o meio de divulgação, deve-se escolher o formato apropriado. Exemplos Livros: Periódicos: Artigos de periódicos: Artigos de jornal: Filmes: Sites: Essas normas costumam modificar-se a cada ano. Apresentamos, aqui, as formas mais freqüentemente encontradas em documentos acadêmicos. Lembramos também que, mais importante que fazer de um jeito ou de outro, é manter, dentro do que estabelecem as regras, a constância, a coerência em todo o trabalho. 4.2.7.1 Citações A citação, além de fundamentar a argumentação, confere credibilidade ao trabalho. Existem pelo menos três formas diferentes de mencionarmos um autor ou, mais precisamente, seu discurso em um texto: Citação literal: reprodução ipsis verbis do texto, com as mesmas palavras que ele próprio utilizou no texto original, com os devidos créditos ao autor. É interessante fazer um comentário após uma citação literal. Isso demonstra que se está atento à relação das palavras do autor, com o seu texto. Paráfrase: é também a reprodução das idéias contidas em um texto, porém em palavras diferentes das utilizadas pelo autor. Essa forma de citação já demonstra mais independência da parte do autor, mas, cuidado! A falta de atenção pode mudar o sentido das palavras que se está citando. Plágio: é a cópia das idéias ou do texto de outrem sem indicação de autoria, constituindo-se como crime. Há basicamente três formas de se fazer citações literais: Citações longas: aquelas que ocupam mais de três linhas completas no texto. Devem ser destacadas no texto, em parágrafo recuado e independente (o uso de aspas é opcional), não sendo necessário espaçamento datilográfico entre linhas: Citações curtas: aparecem integradas ao texto, sempre entre aspas. Citação de citação: são indicadas por aspas simples. Não se deve fazer um trabalho com um mosaico de citações. É adequado discorrer sobre um assunto com as próprias palavras e usar outros autores para dar suporte. 4.2.8 Perspectivas de continuidade ou desdobramento do trabalho O projeto foi concluído ou será continuado? Neste item, podem-se sugerir opções para a continuidade do trabalho (pelo próprio pesquisador ou não). 4.2.9 Apoio Citar as agências que financiaram o projeto. Exemplo: O projeto teve financiamento do CNPq e UNIP. 4.2.10 Agradecimentos Citar pessoas ou instituições que tenham colaborado para a execução do projeto Bibliografia ALVES, Rubem. Filosofia da ciência, São Paulo, Ars Poética, 1996. ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico; elaboração de trabalhos na graduação. 6 edição-São Paulo: Atlas, 2003 BASTOS, L.R.; PAIXÃO, L.; FERNANDES, L. M. Manual para a elaboração de projetos e relatórios de pesquisa, teses e dissertações. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979. CERVO, A. L. & Bervian, P. A. Metodologia Científica. São Paulo: Makron Books, 1996. CONTANDRIOPOULOS, A.P. e. al Saber preparar uma pesquisa. São Paulo: Hucitec & ABRASCO,1994. DEMO P. Introdução à metodologia da ciência. São Paulo: Atlas, 1991. GIL, A. C. Projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1994. LAKATOS, E. Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1991. MARCANTONIO, A. T. Elaboração e divulgação do trabalho científico. São Paulo: Atlas, 1993. MINAYO, M.C.S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 17ª ed. Petrópolis: Vozes, 2000. MOREIRA, D. A. O método fenomenológico na pesquisa. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002. SELLTIZ, WRIGTHSMAN, COOK. Métodos de pesquisa nas relações sociais. Vol2: Medidas na pesquisa social. São Paulo, EPU, 1987. SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 1993. SIDMAN, M. Táticas de pesquisa científica. São Paulo: Editora Brasiliense, 1976. THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 6ª edição. São Paulo, Cortez, 1994. Bibliografia complementar CHIZZOTI, A. A pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo, Ed. Cortez, 1995. CRUZ NETO, O. O Trabalho de Campo como Descoberta e Criação. In: MINAYO, M. C. S., Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 9.ª Ed. Petrópolis, Vozes, 2000, p. 51-66. DEMO P. Metodologia científica em ciências sociais. São Paulo: Atlas, 1989. DESLANDES, S. F. A construção do Projeto de Pesquisa. In: MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 9.a. Ed. Petrópolis, Vozes, 2000, p. 31-50. 118 GOMES, R. A Análise de Dados em Pesquisa Qualitativa. In: MINAYO, M. C. S., Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 9.ª Ed. Petrópolis, Vozes, 2000, p 67-80. HAGUETTE, T. M. F. Metodologias qualitativas na sociologia. 6.a. Ed. Petrópolis, Vozes, 2000. LUCKESI, C. C. Fazer universidade: uma proposta metodológica. São Paulo: Editora Cortez, 1987. MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 4.a. ed. São Paulo-Rio de Janeiro, Hucitec/Abrasco, 1996. SOLOMON, DV. Como fazer uma monografia, 4. ed, São Paulo: Martins Fontes, 1996.