UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE

Propaganda
UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE
ÁREA DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE ENFERMAGEM
Ana Cristina de Oliveira
Eudson Haroldo de Oliveira Costa
Faiene da Cruz Vieira
Janaina Oliveira Freitas
O CÂNCER DE MAMA, SUAS IMPLICAÇÕES E AS CONSIDERAÇÕES
DE ENFERMAGEM NA DOR
Governador Valadares
2009
ANA CRISTINA DE OLIVEIRA
EUDSON HAROLDO DE OLIVEIRA COSTA
FAIENE DA CRUZ VIEIRA
JANAINA OLIVEIRA FREITAS
O CÂNCER DE MAMA, SUAS IMPLICAÇÕES E AS CONSIDERAÇÕES
DE ENFERMAGEM NA DOR
Monografia para obtenção do grau de
bacharel em Enfermagem, apresentada à
Área de Ciências Biológicas e da Saúde
da Universidade Vale do Rio Doce.
Orientadora: Tatiana Heidi Oliveira
Governador Valadares
2009
ANA CRISTINA DE OLIVEIRA
EUDSON HAROLDO DE OLIVEIRA COSTA
FAIENE DA CRUZ VIEIRA
JANAINA OLIVEIRA FREITAS
O CÂNCER DE MAMA, SUAS IMPLICAÇÕES E AS CONSIDERAÇÕES
DE ENFERMAGEM NA DOR
Monografia apresentada como requisito
para obtenção do grau de bacharel em
Enfermagem pela Área de Ciências
Biológicas e da Saúde da Universidade
Vale do Rio Doce.
Governador Valadares, 24 de Novembro de 2009.
Banca Examinadora:
____________________________________________
Profª. Tatiana Heidi Oliveira – Orientadora
Universidade Vale do Rio Doce
____________________________________________
Profª. Andréia Eliane Silva Barbosa
Universidade Vale do Rio Doce
____________________________________________
Profª. Êrick da Silva Ramalho
Universidade Vale do Rio Doce
____________________________________________
Profª. Ivanete Niley Rodrigues de Abreu
Universidade Vale do Rio Doce
Dedicamos este trabalho, primeiramente a
Deus, aos nossos pais, e a nós autores
desta pesquisa, pelo esforço e
determinação.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Deus por estar presente em todos os momentos, por ter nos dado
sabedoria para aprender e discernir. Tão importante quanto o lugar que ocupa em
nós é a intensidade da tua presença em tudo aquilo que fazemos.
Aos nossos familiares por compartilharem conosco as dificuldades, que encheram
de amor e ternura os nossos corações, pelo incentivo e compreensão que sempre
nos proporcionaram.
Ao marido, namorado e namorada pela compreensão da nossa ausência, paciência
e palavras de incentivo nos momentos das dificuldades.
A nossa querida orientadora Tatiana Heidi, que acima de tudo foi muito amiga,
atenciosa e, sempre disponibilizando do seu tempo, nos orientou e apoiou em todos
os momentos.
Aos colegas pelos momentos maravilhosos e pelo carinho durante todos esses
anos.
“Bom mesmo é ir a luta com
determinação, abraçar a vida e viver com
paixão, perder com classe e viver com
ousadia. Pois o triunfo pertence a quem se
atreve, e a vida é muito bela para ser
insignificante”.
Charles Chaplin
RESUMO
O aumento da incidência de doenças crônico-degenerativas no mundo e
conseqüentemente no Brasil, tem gerado uma série de estudos, inclusive sobre o
câncer. Devido ao grande número de casos novos da patologia, é comum nos
depararmos com estes pacientes durante a nossa prática clínica. Dentre estes
encontramos o câncer de mama que no Brasil e no mundo tem aumentado e
aparecido cada vez mais cedo na vida da mulher. Este foi o fator relevante para a
realização desta pesquisa bibliográfica, com abordagem qualitativa indireta, sendo
os dados coletados por meio de livros, artigos, revistas e sites, com o objetivo de
conhecer em profundidade as especificidades do câncer de mama, suas implicações
e as considerações de enfermagem frente à dor oncológica. É de extrema
importância a valorização do referencial teórico para o aprimoramento de uma
assistência mais integral e abrangente, uma vez que este tipo de neoplasia traz
consigo uma diversidade de fatores. A revisão demonstrou que a equipe de
enfermagem deve estar adequadamente capacitada, sendo esta, alcançada com um
conhecimento técnico científico suficiente para lidar com o tratamento das mulheres
portadoras de câncer de mama.
Palavras-chave: Câncer de mama. Dor. Enfermagem.
ABSTRACT
The increase of incidence of chronic-degenerative disease in the world and
consequently on Brazil, has generate a serie of studies, including about the cancer.
Because of the great number of new cases of the pathology, it is common to find
those patients during our clinic practice. Among many types we find the breast
cancer which has in the Brazil and in the world increased and showed earlier every
time in the woman`s life. This was the factor for the realization of this bibliography
research, with the qualitative indirect approach, and the collected data was by books,
articles magazines and sites, with the objective of get deeper know ledge of the
specificity of breast cancer, its implications and the considerations of nursing in face
of oncological pain. It is of extreme importance the valorization of the theoric
references for the improvement of a more integral and more embracive assistance,
once this type of neoplasy brings with itself a diversity of factor. The revision showed
that the nursing staff must this reached with a technical scientific knowledge enough
to deal with treatment of women carrier of breast cancer.
Key words: Breast câncer. Pain. Nursing.
LISTA DE SIGLAS
AJCC – Comitê da Associação Americana do Câncer
EVA – Escala Visual Analógica
INCA – Instituto Nacional de Câncer
OMS – Organização Mundial da Saúde
PAAF – Punção Aspirativa Por Agulha Fina
PAG – Punção Por Agulha Grossa
RH – Receptor Hormonal
SAE – Sistematização das Ações de Enfermagem
SUS – Sistema Único de Saúde
UICC – União Internacional Contra o Câncer
UNIVALE – Universidade Vale do Rio Doce
USG – Ultra Sonografia
9
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 13
2.1 CONCEITO DO CÂNCER DE MAMA ................................................................. 13
2.2 EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER DE MAMA ........................................................ 13
2.3 ETIOLOGIA/FATORES DE RISCO DO CÂNCER DE MAMA ............................. 16
2.4 FISIOPATOLOGIA DO CÂNCER DE MAMA ...................................................... 17
2.4.1 Anatomia e Fisiologia da Mama .................................................................... 18
2.4.2 Carcinogênese ................................................................................................ 20
2.5 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ............................................................................ 23
2.6 DIAGNÓSTICO E ESTADIAMENTO ................................................................... 25
2.7 TRATAMENTO .................................................................................................... 29
2.7.1 Cirurgia............................................................................................................ 29
2.7.2 Radioterapia .................................................................................................... 31
2.7.3 Quimioterapia ................................................................................................. 33
2.8 O CÂNCER DE MAMA E SUAS IMPLICAÇÕES ................................................ 37
2.9 DOR ONCOLÓGICA ........................................................................................... 39
2.9.1 Assistência de Enfermagem.......................................................................... 41
2.9.1.1 Cuidados de enfermagem à dor .................................................................... 45
3 METODOLOGIA .................................................................................................... 49
4 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 51
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 54
ANEXOS ................................................................................................................... 59
10
1 INTRODUÇÃO
O Brasil tem enfrentado nos últimos anos um quadro marcado pela grande
incidência de doenças crônico-degenerativas. O câncer é a principal, por ser a
segunda causa de morte por doença no país, sendo que a estimativa para 2009 foi
de 466.730 novos casos de câncer. A melhoria na qualidade de vida no plano sócioeconômico e o avanço da medicina além de facilitar o diagnóstico, aumentou a
expectativa de vida e conseqüentemente o número de casos novos de câncer
(INCA, 2008).
Diante desse crescente número de casos de câncer, é freqüente depararmos
com esse paciente nas instituições de saúde. É necessário conhecer a realidade
clínica desses indivíduos e as qualificações necessárias para o profissional que o
atende, com a finalidade de oferecer uma assistência de qualidade junto a esses
pacientes que o ajudem a superar as dificuldades advindas do diagnóstico e pelo
tratamento, visando o alívio da dor, o conforto e acima de tudo, que possibilite a
esses pacientes uma melhora da sua qualidade de vida (INCA, 2008).
O câncer de mama é uma doença heterogênea e complexa, que se apresenta
de múltiplas formas clínicas e morfológicas, com diferenças na pré e pósmenopausa, com diferentes graus de agressividade tumoral e potencial metastático,
atingindo frequentemente mulheres após os quarenta anos de idade, embora se
tenha observado um fenômeno em nível mundial, do aumento de sua incidência em
faixas etárias mais jovens (PINHO et al., 2007).
As causas do câncer de mama ainda não foram determinadas com exatidão.
Os fatores de risco significativos são: história familiar de câncer mamário em mãe,
irmã, avó e tia, ter mais de 45 anos e estar no período pré-menopausa. Outros
fatores de risco prováveis que ainda estão sendo investigados, inclui ciclo
menstruais longos; início precoce da menstruação ou menopausa tardia; exposição
a radiação; tratamento com estrógeno ou com agente anti-hipertensivo; uso de
álcool e tabaco; doença fibrocística preexistente. A descoberta do gene BRCA1 do
câncer de mama confirma a tese de que essa doença pode ser transmitida pela mãe
ou pelo pai (BOUNDY, 2004).
De acordo com Brunner & Suddarth (2002), os cânceres de mama ocorrem
em qualquer local no órgão, porém a maior parte é encontrada no quadrante
11
superior externo, onde se localiza a maior parte do tecido mamário. Geralmente as
lesões são indolores, em vez de dolorosas, fixas em vez de móveis, e com bordas
endurecidas irregulares, em vez de encapsuladas e lisas. As queixas de dor e
sensibilidade difusa na mama que ocorrem no período de menstruação estão
usualmente associadas à doença mamária benigna. A dor acentuada, no entanto,
pode estar ligada ao câncer de mama em estágio mais avançado.
Muitas mulheres hoje, diagnosticadas com câncer de mama, podem ficar
curadas ou viver longos períodos com a doença. Entretanto, ao contrário de outros
tratamentos para doenças crônicas, os tratamentos contra o câncer são mais tóxicos
e intensos, resultando num aumento tanto da demanda das reservas físicas como,
também, de seus recursos sociais e psicológicos para sobreviver e enfrentar a
doença (CAMARGO; SOUZA, 2003).
Não existe uma opção seqüencial para se estabelecer o tratamento. A
escolha vai depender de fatores como: o tamanho do tumor, o seu tipo histológico e
sua resposta frente ao tratamento inicial. Sendo assim, é feito pelo cirurgião
oncológico, patologista e oncologista clínico o estadiamento, para a implementação
do plano terapêutico. O estadiamento irá determinar o prognóstico, facilitar na
escolha do tratamento e ajudar na avaliação dos resultados do tratamento escolhido.
As considerações de enfermagem em oncologia evoluíram muito desde seu
aparecimento como as especialidades, e a literatura existente aponta e preconiza
importante papel da enfermagem no apoio ao cliente oncológico nas várias fases de
sua doença. Pensar hoje em oncologia é pensar em sobrevida com qualidade e não
se fixar na cura da doença (CAMARGO; SOUZA, 2003).
Portanto, a prática da enfermagem em oncologia evoluiu para a assistência
ao cliente e sua família através da educação, provendo suporte psicossocial,
administrando a terapia recomendada, selecionando e administrando intervenções
que diminuam os efeitos colaterais da terapia proposta, participando da reabilitação
e provendo conforto e cuidado.
A dor ligada ao câncer pode ser aguda ou crônica. A dor decorrente do
câncer é tão importante que, depois do medo de morrer, é a segunda causa mais
comum de medo nos pacientes com câncer recentemente diagnosticado. Estima
que de mais de 50% dos pacientes com um diagnóstico de câncer e 70% dos
pacientes com câncer avançado experimentam dor. A dor no paciente que sofre de
câncer pode estar diretamente associada ao tumor, a um resultado do tratamento,
12
ou não associada ao câncer. A maior parte da dor associada ao câncer, no entanto,
consiste no resultado direto de envolvimento tumoral (POLLOCK et al., 2006).
Neste sentido é necessário conhecer em profundidade as especificidades
deste tipo de tumor, suas implicações e as considerações de enfermagem frente à
dor oncológica, ajudando assim os profissionais a estarem aptos a acolher essas
mulheres, oferecendo adequadamente o cuidado com o ser humano que deve se
manifestar em atitudes que valorizem e dignifiquem a vida.
Justifica-se
este
estudo
pelo
conhecimento
adquirido
na
disciplina
Enfermagem do Adulto II, onde no decorrer dos conteúdos aplicados, despertamos o
interesse de aprimorarmos nossos conhecimentos a respeito do câncer de mama.
Este estudo torna-se de relevância pessoal, porque a formação acadêmica
propõe a capacidade do graduando de prestar uma assistência de enfermagem com
qualidade, e de relevância social, porque em nível mundial e nacional é uma doença
crônica degenerativa crescente, como já citada anteriormente.
No mundo atual, o binômio saúde doença não pode mais ser analisado
isoladamente da pessoa que, concretamente, está vivenciando tal fenômeno. Há
necessidade de uma abordagem que contemple esta totalidade existencial,
examinando a doença como é vivida pelo SER que adoece e considerando as
condições histórico-culturais implicadas nesse contexto. Deste modo, a assistência à
saúde procura ver o homem no mundo, situado em sua totalidade de vida, buscando
novos horizontes de compreensão (COSTA et al., 2005).
13
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 CONCEITO DO CÂNCER DE MAMA
De acordo com Duarte & Andrade (2006) o câncer de mama ou carcinoma
mamário é o resultado de multiplicações desordenadas de determinadas células que
se reproduzem em grande velocidade, desencadeando o aparecimento de tumores
ou neoplasias malignas que podem vir a afetar os tecidos vizinhos e provocar
metástases. Este tipo de câncer aparece sob forma de nódulos e, na maioria das
vezes, podem ser identificados pelas próprias mulheres, por meio da prática do autoexame.
Completa Inca (2009) que o nódulo muitas vezes, apresenta-se como uma
massa dura e irregular que, quando palpada, se diferencia do resto da mama, pela
sua consistência.
O câncer de mama é provavelmente o tipo de câncer mais temido pelas
mulheres, sobretudo pelo impacto psicológico que provoca, pois envolve
negativamente a percepção da sexualidade e a própria imagem corporal, mais do
que se observa em qualquer outro tipo de câncer (MOHALLEM; RODRIGUES,
2007).
Complementam ainda Maieski & Mansano (2007), que a mama apresenta
importância para o corpo da mulher por representar simbolismo e ser característica
da imagem feminina, fazendo relação com a sexualidade e também com a função de
mulher.
2.2 EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER DE MAMA
A distribuição da incidência e da mortalidade por câncer é de fundamental
importância para o conhecimento epidemiológico sobre a ocorrência da doença,
desde seus aspectos etiológicos até aos fatores prognósticos envolvidos em cada
tipo específico de neoplasia maligna. Esse conhecimento possibilita gerar hipóteses
causais e avaliar os avanços científicos em relação às possibilidades de prevenção
14
e cura, bem como a resolutividade da atenção à saúde. O estabelecimento de
medidas efetivas de controle também deve ser feito com base em informações de
qualidade sobre a ocorrência dos tumores malignos nas diferentes regiões
geográficas (INCA, 2005).
No Brasil, assim como em vários países desenvolvidos, não se conhece o
número real de casos novos que são diagnosticados a cada ano pelos serviços de
saúde, em função da ausência de um sistema de registro de câncer que cubra todo
o território nacional, o que faz com que as estimativas anuais de incidência
continuem sendo de grande valia. Através do cálculo das estimativas de casos
novos é possível obter uma excelente base para o planejamento, organização e
aprimoramento das ações que visam a prevenção e o controle na rede de atenção
oncológica em todos os níveis (INCA, 2005).
Estatísticas revelam que o câncer de mama é a neoplasia maligna de
maior ocorrência entre as mulheres em muitos países. No Brasil, é a
primeira ou segunda causa mais freqüente, dependendo da região
considerada. A ocorrência do câncer de mama é relativamente rara
antes dos 35 anos de idade, mas cresce rapidamente após essa
idade, principalmente nas faixas etárias mais elevadas. Ocorre com
maior freqüência no sexo feminino (MOHALLEM; RODRIGUES,
2007, p. 256).
Ainda confirmam Pollock et al. (2006) que o câncer de mama é o mais comum
e a segunda causa de morte por câncer entre mulheres ocidentais. A ocorrência em
homens equivale a um centésimo da encontrada em mulheres. O risco médio de
desenvolver a doença durante a vida para uma mulher no mundo ocidental é de um
para oito. A incidência é um tanto menor em outras regiões do mundo e em não
caucasianos. Populações de migrantes assumem um risco similar ao risco da
população de seu novo ambiente.
A incidência de câncer de mama, em especial de doença positiva para
receptor hormonal (RH), aumentou nas últimas décadas, em parte em razão do
aumento da detecção de cânceres incidentais com o rastreamento. A mamografia de
rastreamento mudou a distribuição dos estádios do câncer de mama, agora com
uma maior quantidade de casos no qual o tamanho é menor e o estádio, inferior.
Isso, combinado às estratégias aperfeiçoadas na terapêutica adjuvante, resultou
numa modesta redução global na mortalidade por câncer de mama ao longo dos
15
últimos 20 anos (POLLOCK et al., 2006).
Os cânceres vêm assumindo um papel cada vez mais importante entre as
doenças que acometem a população feminina, representando, no Brasil e no
mundo, importante causa de morte entre as mulheres adultas. O câncer de mama é
o segundo tipo de câncer mais freqüente no mundo e o primeiro entre as mulheres.
Segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA, 2008), o número de
casos novos esperados para o Brasil em 2008 e válidas também para o ano de
2009, seria de 49.400, com um risco estimado de 51 casos a cada 100 mil
mulheres.
As estatísticas indicam o aumento de sua freqüência tanto nos países
desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento. Segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS), nas décadas de 60 e 70 registrou-se um aumento de 10
vezes nas taxas de incidência ajustadas por idade nos Registros de Câncer de Base
Populacional de diversos continentes (INCA, 2008).
A distribuição dos casos novos de câncer segundo localização primária é bem
heterogênea entre estados e capitais do país; o que fica bem evidenciado ao
observar-se a representação espacial das diferentes taxas brutas de incidência. As
regiões Sul e Sudeste, de uma maneira geral, apresentam as maiores taxas,
enquanto que as regiões Norte e Nordeste mostram as menores taxas. As taxas da
região Centro-Oeste apresentam um padrão intermediário (INCA, 2008).
Em 2005, de um total de 58 milhões de mortes ocorridas no mundo, o câncer
foi responsável por 7,6 milhões, o que representou 13% de todas as mortes. Os
principais tipos de câncer com maior mortalidade foram: pulmão (1,3 milhão);
estômago (cerca de 1 milhão); fígado (662 mil); cólon (655 mil); e, mama (502 mil).
Do total de óbitos por câncer ocorridos em 2005, mais de 70% ocorreram em países
de média ou baixa renda (WHO, 2006 apud INCA, 2008).
Segundo Inca (2001), um dos fatores que contribuem para esta alta
mortalidade é o avançado estadiamento da doença no momento em que as
mulheres são submetidas ao primeiro tratamento. Em geral, 50% dos casos são
diagnosticados em estádios avançados (III e IV).
Diante deste cenário fica clara a necessidade de continuidade em
investimentos no desenvolvimento de ações abrangentes para o controle do câncer,
nos diferentes níveis de atuação, como: na promoção da saúde, na detecção
precoce, na assistência aos pacientes, na vigilância, na formação de recursos
16
humanos, na comunicação e mobilização social, na pesquisa e na gestão do SUS
(INCA, 2008).
2.3 ETIOLOGIA/FATORES DE RISCO DO CÂNCER DE MAMA
As principais etiologias do câncer de mama são diversas, podendo associarse a fatores externos ou internos ao organismo, estando ambos inter-relacionados.
As causas externas relacionam-se ao meio ambiente e aos hábitos ou costumes
próprios de um ambiente social, cultural e fatores físicos. As causas internas são, na
maioria das vezes, geneticamente pré-determinadas, estão ligadas à capacidade do
organismo de se defender das agressões externas. Esses fatores causais podem
interagir de várias formas, aumentando a probabilidade de transformações malignas
nas células normais. Os fatores de risco ambientais de câncer são denominados
cancerígenos ou carcinógenos. Esses fatores atuam alterando a estrutura genética
(DNA) das células (ZELMANOWICZ, 2008).
Segundo Mohallem & Rodrigues (2007), as causas do câncer de mama são
desconhecidas, mas é aceita pela comunidade científica a relação da doença com
fatores próprios do hospedeiro, como a duração da atividade ovariana e a
hereditariedade, além de fatores ambientais, tais como alimentação e utilização de
determinados medicamentos. Alguns autores referem também a idade, localização
geográfica, consumo de álcool, uso de contraceptivo oral e terapia de reposição
hormonal como fatores de risco associados às neoplasias mamárias, conforme
explicação abaixo:
a) hereditariedade: o fator familiar é, talvez, o mais aceito na comunidade
científica relacionado com o risco de desenvolver neoplasia mamária.
Mulheres cuja mãe ou irmã desenvolveram câncer de mama têm duas a
três vezes mais risco;
b) características reprodutivas: estas características associadas ao maior
risco de câncer de mama incluem a menarca precoce, menopausa tardia,
idade do primeiro parto após os 30 anos e nuliparidade;
c) patologias benignas: algumas doenças mamárias benignas diagnosticadas
por biópsia estão associadas ao aumento de risco para o câncer de mama;
17
assim como o câncer de mama prévio, que pode aumentar em cinco vezes
o risco de uma mulher desenvolver um segundo câncer de mama primário;
d) radiação ionizante: a exposição à esta radiação empregada nos
diagnósticos
médicos,
entre
elas
a
mamografia,
em
exposições
ocupacionais, permanece incerta. Pouco se conhece ainda sobre o risco
de neoplasia mamária relacionado a outros tipos de radiação;
e) dietas: estudos recentes indicam que a dieta rica em gorduras pode ser
considerada como fator de aumento do risco de câncer de mama
fundamentalmente na infância e na adolescência.
Alguns autores argumentam que o aumento do risco em mulheres obesas na
pós-menopausa seria devido à conversão da androstenediona em estrona no tecido
adiposo, por ser a maior fonte de estrogênios endógenos nestas mulheres
(MOHALLEM; RODRIGUES, 2007).
Sendo assim Pollock et al. (2006) consideram a etiologia do câncer de mama
multifatorial e a evolução genética dos precursores malignos para doença invasiva é
compreendida apenas em parte. Os fatores de risco incluem duração da exposição
ininterrupta a estrógeno, nuliparidade e idade avançada à época do primeiro parto,
anormalidades histológicas anteriores na mama, predisposição genética e fatores
ambientais.
O organismo humano encontra-se exposto a múltiplos fatores carcinogênicos,
com efeitos aditivos ou multiplicativos. Sabe-se que a predisposição individual tem
um papel decisivo na resposta final, porém não é possível definir em que grau ela
influência a relação entre a dose e o tempo de exposição ao carcinógeno e a
resposta individual à exposição. Independentemente da exposição a carcinógenos,
as células sofrem processos de mutação espontânea, que não alteram o
desenvolvimento normal da população celular como um todo (INCA, 2002).
2.4 FISIOPATOLOGIA DO CÂNCER DE MAMA
Inicialmente será descrito os aspectos anatômicos e fisiológicos das mamas
para uma melhor compreensão da formação e atuação da célula tumoral neste
tecido.
18
2.4.1 Anatomia e Fisiologia da Mama
As mamas são órgãos pares, situadas na parede anterior do tórax, sobre o
músculo grande peitoral (HARRIS et al., 1996).
Figura 1 – Anatomia da Mama
Fonte: http://www.clinimater.com.br/images/anat_mama2.jpg
De acordo com Franco (1997), externamente cada mama, na sua região
central, apresenta uma auréola e uma papila. Na papila mamária exteriorizam-se 15
a 20 orifícios ductais, que correspondem às vias de drenagem das unidades
funcionantes, que são os lobos mamários.
19
Figura 2 – Anatomia da Mama
Fonte: Inca, 2001
A mama é dividida em 15 a 20 lobos mamários independentes, separados por
tecido fibroso, de forma que cada um tem a sua via de drenagem, que converge
para a papila, através do sistema ductal, sendo composta conforme a figura 2 pelo:
a) ácino - porção terminal da “árvore” mamária, onde estão as células
secretoras que produzem o leite;
b) lóbulo mamário - que é o conjunto de ácinos;
c) lobo mamário - unidade de funcionamento formada por um conjunto de
lóbulos (15-20) que se liga à papila por meio de um ducto lactífero;
d) ducto lactífero - sistema de canais (15-20) que conduz o leite até a papila,
o qual se exterioriza através do orifício ductal;
e) papila - protuberância composta de fibras musculares elásticas onde
desembocam os ductos lactíferos;
f) auréola - estrutura central da mama onde se projeta a papila;
g) tecido adiposo - todo o restante da mama é preenchido por tecido adiposo
ou gorduroso, cuja quantidade varia com as características físicas, estado
nutricional e idade da mulher;
h) ligamentos de Cooper - responsáveis pela retração cutânea nos casos de
câncer de mama, são expansões fibrosas que se projetam na glândula
mamária.
As mulheres mais jovens apresentam mamas com maior quantidade de tecido
glandular, o que torna esses órgãos mais densos e firmes. Ao se aproximar da
menopausa,
o
tecido
mamário
vai
se
atrofiando
e
sendo
substituído
progressivamente por tecido gorduroso, até se constituir, quase que exclusivamente,
de gordura e resquícios de tecido glandular na fase pós-menopausa (HARRIS et al.,
1996).
Têm como função principal a produção do leite para a amamentação, mas
têm também grande importância psicológica para a mulher, representando papel
fundamental na constituição de sua auto estima e auto imagem. Embelezam a
silhueta do corpo feminino e desempenham também função erógena e de atração
sexual (FRANCO, 1997).
Na infância, as meninas apresentam discreta elevação na região mamária,
decorrente da presença de tecido mamário rudimentar. Na puberdade, a hipófise,
20
uma glândula localizada no cérebro, produz os hormônios folículo-estimulante e
luteinizante, que controlam a produção hormonal de estrogênios pelos ovários. Com
isso, as mamas iniciam seu desenvolvimento com a multiplicação dos ácinos e
lóbulos (HARRIS et al., 1996).
Na vida adulta, o estímulo cíclico de estrogênios e progesterona faz com que
as mamas fiquem mais túrgidas no período pré-menstrual, por retenção de líquido. A
ação da progesterona, na segunda fase do ciclo, leva a uma retenção de líquidos no
organismo, mais acentuadamente nas mamas, provocando nelas aumento de
volume, endurecimento e dor. Depois da menopausa, devido à carência hormonal,
ocorre atrofia glandular e tendência à substituição do tecido parenquimatoso por
gordura (FRANCO, 1997).
No período da gestação, o estímulo de estrogênio e progesterona (hormônios
esteróides) é máximo, devido à sua produção pela placenta, mas outros hormônios
também se elevam na gestação, sem os quais não seria possível a lactação. São
eles: prolactina, hormônios da tireóide, corticosteróides e lactogênio placentário
(FRANCO, 1997).
Segundo Harris et al. (1996), a plenitude funcional das mamas ocorre na
amamentação, com a produção e saída do leite. A ejeção do leite, no momento das
mamadas, é reflexo basicamente da contração das células mioepiteliais, que
circundam os ácinos, estimuladas pela liberação de um outro hormônio, a ocitocina,
que é produzido na hipófise posterior ou neuro-hipófise. A mulher que não
amamenta, jamais atinge a maturidade funcional da mama.
2.4.2 Carcinogênese
De acordo com Abrão (1995), a gênese tumoral é um processo complexo,
relacionado a desregulação do controle da proliferação celular, no qual uma célula
normal sofre alterações na expressão gênica que lhes confere vantagens de
crescimento sobre as demais células.
Cada célula cancerosa tem uma bioquímica e uma morfologia alterada em
relação à célula normal. O câncer é um processo lógico coordenado, onde uma
célula normal sofre modificações e adquire capacidades especiais (OTTO, 2002).
21
O câncer é um processo patológico que começa quando uma célula anormal
é transformada pela mutação genética do DNA celular. A célula anormal forma um
clone e começa a proliferar-se ignorando as sinalizações de regulação do
crescimento no ambiente circunvizinho a célula, adquirindo características invasivas,
infiltram-se nos tecidos circunvizinhos e acessam os vasos sanguíneos e linfáticos,
os quais as transportam até outras regiões do corpo. Sendo chamado este
fenômeno de metástase (disseminação do câncer para outras partes do corpo)
(BRUNNER; SUDDARTH, 2002).
Acredita-se que a transformação maligna, ou carcinogênese é um processo
celular de pelo menos três etapas: iniciação, promoção e progressão (BRUNNER;
SUDDARTH, 2006).
Inca (1996) acrescenta que em geral este processo ocorre lentamente,
podendo levar vários anos para que uma célula cancerosa prolifere e dê origem a
um tumor visível.
Na iniciação, a primeira etapa, os iniciadores (carcinógenos), como as
substâncias químicas, fatores físicos e agentes biológicos, fogem dos mecanismos
enzimáticos normais e alteram a estrutura genética do DNA celular. Normalmente,
estas alterações são revertidas pelos mecanismos de reparação do DNA ou elas
iniciam a apoptose (o suicídio celular programado). Ocasionalmente, as células
fogem
destes
mecanismos
protetores,
ocorrendo
as
mutações
celulares
permanentes. Em geral, estas mutações não são significativas para as células até a
segunda etapa da carcinogênese. (BRUNNER; SUDDARTH, 2006).
Segundo Inca (1996), nesta fase as células se encontram, geneticamente
alteradas, porém ainda não é possível detectar um tumor clinicamente. O primeiro
estágio deixa as células “preparadas” para a ação de um segundo grupo de agentes
que atuará no próximo estágio.
Durante a promoção, o segundo estágio, a exposição repetida aos agentes
promotores (co-carcinógenos) provoca a expressão das informações genéticas
anormais ou mutantes, mesmo depois de longos períodos de latência. Os períodos
de latência para a promoção das mutações celulares variam de acordo com o tipo de
agente e a dosagem do promotor, bem como com as características inatas das
células alvo (BRUNNER; SUDDARTH, 2006).
Os oncogenes celulares, presentes em todos os sistemas mamíferos, são
responsáveis pelas funções celulares vitais de crescimento e diferenciação. Os
22
proto-oncogenes celulares estão presentes nas células e agem como um „interruptor‟
para o crescimento das mesmas. De maneira similar, os genes supressores
cancerosos „desligam‟ ou regulam a proliferação celular desnecessária. Quando os
genes supressores sofrem mutação, são rearranjados ou amplificados, ou perdem
suas capacidades reguladoras, permitindo que as células malignas se reproduzam
(BRUNNER; SUDDARTH, 2006).
Segundo Otto (2002), o agente promotor altera a expressão da informação
genética da célula, potencializando assim a transformação celular; inclui hormônios,
produtos vegetais e fármacos. Estes, por si só, não causam câncer; os efeitos são
temporários e reversíveis. A suspensão do contato com agentes promotores muitas
vezes interrompe o processo neste estágio.
A progressão é a terceira etapa da carcinogênese celular. As alterações
celulares formadas durante a iniciação e promoção exibem, atualmente, maior
comportamento maligno. Essas células demonstram propensão para invadir os
tecidos adjacentes e gerar metástase (BRUNNER; SUDDARTH, 2006).
Segundo Mohallem & Rodrigues (2007), a metástase é um tumor que cresce
separadamente do tumor secundário. Ele se origina de células que se destacaram
do tumor primário e que foram transportadas para outros locais. O transporte pode
se fazer através dos vasos linfáticos ou sanguíneos.
Inca (1996) afirma que a progressão se caracteriza pela multiplicação
descontrolada e irreversível das células alteradas. Neste estágio o câncer já está
instalado, evoluindo até o surgimento das primeiras manifestações clínicas da
doença.
Em síntese, a carcinogênese pode iniciar-se de forma espontânea ou ser
provocada pela ação de agentes carcinogênicos (químicos, físicos ou biológicos).
Em ambos os casos, verifica-se a indução de alterações mutagênicas e não
mutagênicas ou epigenéticas nas células.
O tempo para a carcinogênese ser completada é indeterminável, podendo ser
necessários muitos anos para que se verifique o aparecimento do tumor.
Teoricamente, a carcinogênese pode ser interrompida em qualquer uma das etapas,
se o organismo for capaz de reprimir a proliferação celular e de reparar o dano
causado ao genoma (INCA, 2008).
23
2.5 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Na fase inicial, o câncer de mama é geralmente assintomático, o que dificulta
sua detecção precoce. O sinal mais notado pela paciente é a presença de um
nódulo endurecido na mama; outras vezes a paciente relata a presença de um
espessamento, leve endurecimento ou discreto incômodo, pode ocorrer também
saída espontânea de secreção pelo mamilo, e secreção hemorrágica que está mais
associada á presença de lesão maligna. A dor só ocorre nos casos mais avançadas
e quase sempre associadas a alterações benignas. A retração do mamilo e da
aréola está geralmente associada a tumores maiores. Nas formas mais avançadas
pode surgir o edema cutâneo, com dilatação dos poros, o que determina o aspecto
de "casca de laranja"; ulcerações com infecção secundária e hemorragia também
pode aparecer nesta fase. A hiperemia cutânea ocorre nos casos mais avançados
ou no carcinoma inflamatório; em menor freqüência, podem ocorrer, como primeira
queixa, sinais ou sintomas associados á presença de metástases linfáticas ou
hematogênicas, sem tumor mamário palpável (MOHALLEM; RODRIGUES, 2007).
Segundo Otto (2002), as manifestações clínicas do câncer de mama na
abertura do quadro são: massa dura, irregular, indolor ou espessamento na mama
ou axila; secreção espontânea, persistente, unilateral mamilar serossanguinolenta,
sanguinolenta ou aquosa; ocorre também alteração no tamanho, no formato ou na
textura da mama; retração ou inversão do mamilo; descamação cutânea em torno do
mamilo.
Os sintomas de disseminação regional geralmente são: vermelhidão,
ulceração, edema ou dilatação de veias; e aumento dos linfonodos na axila. As
manifestações quando se tem evidências de doenças metastáticas são de: aumento
dos linfonodos na região supra clavicular ou cervical; anormalidades na radiografia
de tórax, com ou sem derrame pleural; elevação da fosfotase alcalina, elevação de
cálcio, cintilografia óssea positiva e/ou dor óssea relacionada com comprometimento
ósseo; podem ocorrer provas de função hepática alterada (OTTO, 2002).
O avanço da doença e as metástases do câncer de mama causam
complicações específicas da localização do tumor, como infecções; redução da
mobilidade se ocorrer metástase ósseas; alterações respiratórias, se a doença
disseminar para os pulmões; e distúrbios do sistema nervoso central se o tumor
24
produzir metástases cerebrais (BOUNDY, 2004).
O Inca (2004) descreve os sintomas de maior freqüência em relação aos
pacientes com câncer de mama avançado, ressaltando que os demais não devem
ser esquecidos, sendo eles:
a) astenia: seu manejo se dá através do tratamento das causas reversíveis
(anemia, infecção, distúrbio hidroeletrolítico, entre outros) e auxílio no
estabelecimento de prioridades;
b) síndrome de anorexia / caquexia: é o segundo sintoma mais comum em
cuidados paliativos,ocorrendo em 65-85% dos casos. Seu manejo tem
como objetivo a manutenção da integridade física e não a melhora do
estado nutricional do paciente;
c) lesões tumorais de pele, infiltração da pele pelo tumor primário ou
metastático com conseqüente desenvolvimento de ulcerações ou lesões
“fungóides”, causando muitas vezes isolamento social e prejuízo
emocional;
d) dor: constitui o quinto sinal vital, ocorrendo em 60% 90% dos pacientes
com câncer avançado. Sendo assim, torna-se mandatário o uso da “Escala
Visual Analógica - EVA” (em anexo) durante a avaliação da dor em
paciente com câncer de mama avançado;
e) dispnéia: ocorre em 70% dos pacientes em cuidados paliativos, sendo que
em 24% dos casos não há causas identificáveis. As causas identificáveis
estão relacionadas a uma restrição por invasão da parede torácica e
metástases pulmonares;
f) alterações neurológicas/ psiquiátricas: a avaliação inicial das pacientes
com câncer de mama avançado e alteração cognitiva inclui exame físico
completo e exames laboratoriais; a desidratação é a causa mais comum
de confusão mental e alteração de comportamento;
g) depressão maior: esses quadros estão presente em 20% dos pacientes
em cuidados paliativos e de ansiedade generalizada, devendo ser tratados
com terapia medicamentosa, psicoterapia, estímulo à atividade física e
terapia comportamental;
h) delírio: manifestação neuropsiquiátrica encontrada com freqüência em
pacientes com câncer avançado sendo inclusive descrito na literatura
médica mundial como uma das principais indicações de sedação. Entre as
25
possíveis causas destacamos a progressão da doença, incluindo
metástases, associação medicamentosa, alterações metabólicas.
2.6 DIAGNÓSTICO E ESTADIAMENTO
No planejamento terapêutico do câncer, o diagnóstico e o estadiamento são
fatores imprescindíveis. Para diagnosticar e estadiar, é fundamental conhecer os
aspectos biológicos, a história natural e as principais vias de disseminação dos
tumores (MURAD; KATZ, 1996).
A investigação diagnóstica, planejada a partir dos sintomas do cliente, da
história e do exame físico gera uma pressuposição diagnóstica de doença maligna.
O diagnóstico deve ser confirmado por exames histológicos e citológicos. O
estadiamento encerra a investigação necessária ao planejamento terapêutico
(OTTO, 2002).
Complementam Brunner & Suddarth (2002), que um diagnóstico de câncer se
embasa na análise das alterações fisiológicas e funcionais e nos resultados da
investigação diagnóstica. Os pacientes com suspeita de câncer sofrem extensos
exames para: (1) determinar presença do tumor e sua extensão; (2) identificar a
possível disseminação (metástase) da doença ou invasão de outros tecidos
corporais; (3) avaliar a função dos sistemas orgânicos e órgãos afetados e nãoafetados; e (4) obter tecidos e células para análise, incluindo a avaliação dos
estágios e grau do tumor. A avaliação diagnóstica é orientada pelas informações
obtidas através de uma história completa e do exame físico.
Segundo o Inca (2004), a ultra-sonografia (USG) é o método de escolha para
avaliação por imagem das lesões palpáveis, em mulheres com menos de 35 anos.
Naquelas com idade igual ou superior a 35 anos, a mamografia é o método de
eleição. Se houver lesões suspeitas deve-se buscar a confirmação do diagnóstico
que pode ser citológico, por meio de punção aspirativa por agulha fina (PAAF), ou
histológico, quando o material for obtido por punção, utilizando-se agulha grossa
(PAG) ou biópsia cirúrgica convencional.
A PAAF é um procedimento ambulatorial, de baixo custo, de fácil execução e
raramente apresenta complicações, que permite o diagnóstico citológico das lesões.
26
Esse procedimento dispensa o uso de anestesia. A PAG1 ou core biopsy é também
um procedimento ambulatorial, realizado sob anestesia local, que fornece material
para diagnóstico histopatológico (por congelação, quando disponível), permitindo
inclusive a dosagem de receptores hormonais.
Conforme descrito pelo Inca (2004), os critérios citológicos para a avaliação
das lesões mamárias podem ser categorizados como:
a) padrão citológico benigno, negativo para malignidade;
b) padrão citológico positivo para malignidade - apresenta celularidade alta,
com células epiteliais atípicas, geralmente isoladas e com citoplasma intacto,
ausência de núcleos nus e redução da coesão celular. Sempre que possível
acompanha a especificação diagnóstica do processo;
c) padrão citológico de malignidade indeterminada (tumor papilar, tumor
filóide);
d) padrão citológico suspeito para malignidade (lesão epitelial proliferativa
com atipias).
Segundo Brunner & Suddarth (2002), uma avaliação diagnóstica completa
inclui a identificação do estágio e do grau do tumor. Isso é feito antes de iniciar o
tratamento, para gerar parâmetros basais de avaliação dos resultados da terapia e
para manter uma conduta sistemática e consistente com o diagnóstico e tratamento
contínuo. As opções de tratamento e prognóstico são determinados com base no
estadiamento e na gradação. O estadiamento determina o tamanho do tumor e a
existência de metástase.
De acordo com Spence & Johnston (2003), as decisões clínicas acerca do
tratamento de um determinado câncer baseiam-se no estádio anatômico e no
diagnóstico histológico do câncer. Os objetivos do estadiamento e da classificação
histológica do câncer são:
a) ajudar o clínico a planejar o tratamento;
b) dar alguma indicação do prognóstico;
c) avaliar a eficiência do tratamento;
d) facilitar a troca de informações;
e) ajudar a continuação de estudos clínicos do câncer.
Existem inúmeros sistemas para classificar a extensão anatômica da doença.
O sistema TNM, da União Internacional Contra o Câncer (UICC) e do Comitê da
Associação Americana em Câncer (AJCC) é frequentemente utilizado. Nesse
27
sistema, T refere-se à extensão do tumor primário, N ao envolvimento de linfonodos
e M à extensão da metástase.
Conforme Inca (2004), a classificação TNM se dá:
a)Tx - tumor não pode ser avaliado;
b)Tis - carcinoma in situ;
c) T1 - tumor com até 2 cm. em sua maior dimensão;
d)T1 mic - carcinoma microinvasor (até 1 mm);
e)T1a - tumor com até 0,5 cm em sua maior dimensão;
f) T1b - tumor com mais de 0,5 e até 1 cm em sua maior dimensão;
g)T1c - tumor com mais de 1 cm. e até 2 cm em sua maior dimensão;
h)T2 - tumor com mais de 2 e até 5 cm em sua maior dimensão;
i) T3 - tumor com mais de 5 cm. em sua maior dimensão;
j) T4 - qualquer T com extensão para pele ou parede torácica;
k) T4a extensão para a parede torácica;
l) T4b edema (incluindo peau d'orange), ulceração da pele da mama, nódulos
cutâneos satélites na mesma mama;
m) T4c associação do T4a e T4b;
n)T4d carcinoma inflamatório;
o)Nx - Os linfonodos regionais não podem ser avaliados;
p)N0 - Ausência de metástase;
q)N1 – Linfonodo(s) homolateral(is) móvel(is) comprometido(s);
r) N2 - Metástase para linfonodo(s) axilar(es) homolateral(is), fixos uns aos
outros ou fixos a estruturas vizinhas ou metástase clinicamente aparente
somente para linfonodo(s) da cadeia mamária interna homolateral;
s) N2a - Metástase para linfonodo(s) axilar(es) homolateral(is) fixo(s) uns aos
outros ou fixos a estruturas vizinhas;
t) N2b - Metástase clinicamente aparente somente para linfonodo(s) da cadeia
mamária interna homolateral, sem evidência clínica de metástase axilar;
u)N3 - Metástase para linfonodo(s) infraclavicular(es) homolateral(is) com ou
sem comprometimento do(s) linfonodo(s) axilar(es), ou para linfonodo(s)
da mamária interna homolateral clinicamente aparente na presença de
evidência clínica de metástase para linfonodo(s) axilar(es) homolateral(is),
ou metástase para linfonodo(s) supraclavicular(es);
v) Homolateral (is) com ou sem comprometimento do (s) linfonodo (s) axilar
28
(es) ou da mamária interna;
w) N3a - Metástase para linfonodo(s) infraclavicular(es) homolateral(is);
x) N3b - Metástase para linfonodo(s) da mamária interna homolateral e para
linfonodo(s) axilar(es);
y) N3c - Metástase para linfonodo(s) supraclavicular(es) homolateral(is);
z) Mx metástase à distância não pode ser avaliada;
aa) M0 ausência de metástase à distância;
bb) M1 presença de metástase à distância (incluindo LFN supra-claviculares).
Os avanços tecnológicos tiveram um impacto drástico, e às vezes
perturbador, na prática clínica nos últimos anos. Por exemplo, o desenvolvimento
recente da biópsia de mama por agulha de grosso calibre guiada por imagens, tanto
pela tecnologia da estereotaxia como por ultra-som, provocou uma grande alteração
no diagnóstico de anormalidades detectadas pela mamografia (POLLOCK et al.,
2006).
Um paciente que se submete a exames extensos em geral fica temeroso em
relação aos procedimentos e ansioso pelos possíveis resultados dos exames. A
enfermeira pode ajudar a aliviar o medo e a ansiedade explicando-lhe os exames
que serão feitos, as prováveis sensações que serão experimentadas e a função do
paciente nos procedimentos dos exames. A enfermeira encoraja o paciente e a
família a verbalizar seus temores sobre os resultados dos exames, assiste o
paciente e a família durante todo o período de exame e reforça e esclarece as
informações transmitidas pelo médico, além de estimular o cliente a realizar técnicas
de relaxamento. A enfermeira também encoraja o paciente e a família a comunicar e
compartilhar suas preocupações e a discutir suas dúvidas e preocupações entre si
(BRUNNER; SUDDARTH, 2002).
29
2.7 TRATAMENTO
Segundo Brunner & Suddarth (2006), as opções de tratamento oferecidas aos
pacientes com câncer devem ser baseadas em metas realistas e atingíveis para
cada tipo específico de câncer. A gama de possíveis metas de tratamento pode
incluir a erradicação completa das doenças malignas (cura), sobrevida prolongada e
contenção do crescimento da célula cancerosa (controle) ou alívio dos sintomas
associados à doença (paliativo).
A equipe de saúde, o paciente e a família devem ter uma compreensão clara
das opções e metas do tratamento. A comunicação aberta e o apoio são vitais, já
que o paciente e a família reavaliam periodicamente os planos e metas de
tratamento quando se desenvolvem as complicações da terapia ou a doença avança
(BRUNNER; SUDDARTH, 2006).
O tratamento do câncer requer uma estrutura médico-hospitalar e recursos
humanos qualificados, integrando equipes multiprofissionais. O tratamento do câncer
pode ser feito através de cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou transplante de
medula óssea. Em muitos casos, é necessário combinar essas modalidades (INCA,
2002).
2.7.1 Cirurgia
A cirurgia foi o primeiro tratamento que alterou significativamente o curso da
doença neoplásica e, até hoje, é um dos principais métodos terapêuticos (INCA,
2008).
Segundo Pollock, et all (2006) embora possa haver discussões sobre o
significado relativo e o impacto geral de fatos específicos, alguns fatos novos
indicaram o início de novas eras de melhor eficácia terapêutica para determinadas
neoplasias. A mastectomia radical, por exemplo, tornou-se o tratamento de escolha
para o câncer de mama pouco depois de 1900 quando Halsted demonstrou o
controle eficaz da doença na parede torácica pela primeira vez.
De acordo com Brunner & Suddarth (2002), a excisão cirúrgica da totalidade
30
do câncer permanece como o método de tratamento ideal e é o mais
frequentemente usado. Contudo, a conduta cirúrgica específica pode variar por
diversos motivos. A cirurgia diagnóstica é o método definitivo para identificar as
características celulares que completam todas as decisões de tratamento. A cirurgia
pode ser o método primário de tratamento, ou pode ser profilática, paliativa ou
reconstrutora.
A cirurgia diagnóstica, como uma biópsia, usualmente visa obter uma amostra
tecidual para análise das células suspeitas de malignidade. Os três métodos mais
comuns são os métodos excisional, incisional e por agulha (BRUNNER;
SUDDARTH, 2002).
Conforme o Inca (2008), a margem de segurança, na cirurgia oncológica,
varia de acordo com a localização e o tipo histológico do tumor. Ao contrário do
tumor benigno, cuja margem de segurança é o seu limite macroscópico, o câncer,
pelo seu caráter de invasão microscópica, exige ressecção mais ampla. Na cirurgia
radical, além de os preceitos de cirurgia curativa a serem atingidos, é acrescida a
ressecção concomitante de órgãos ou regiões contíguas ou contínuas. Além da
margem cirúrgica mais ampla, é realizada usualmente linfadenectomia de pelo
menos uma estação (cadeia) linfonodal negativa de comprometimento neoplásico, e
também da(s) cadeia(s) linfonodal(is) primariamente em risco de comprometimento.
Isto leva aos conceitos de cirurgia D1 (quando apenas as cadeias primárias são
removidas), D2 (cadeias secundárias) e D3 (cadeias terciárias). Linfonodos
aumentados ou endurecidos (suspeitos), além da área da drenagem linfática
primária, devem ser biopsiados, caso não possam ser ressecados.
Quando a cirurgia é a conduta primária no tratamento do câncer, a meta é
retirar a totalidade do tumor ou o máximo possível (um procedimento por vezes
denominado desbaste) e qualquer tecido circunvizinho envolvido, incluindo
linfonodos regionais. A cirurgia profilática envolve a retirada de tecidos ou órgãos
não-vitais passíveis de desenvolver câncer. Cirurgia paliativa: quando a cura não
pode ser conseguida, as metas do tratamento são tornar o paciente o mais
confortável possível e promover uma vida satisfatória e produtiva pelo maior tempo
possível. A cirurgia reconstrutora pode seguir-se à cirurgia curativa ou radical e é
efetuada em uma tentativa de melhorar a função ou obter um efeito cosmético mais
desejável (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).
Segundo o Inca (2008), estima-se que cerca de 60% de todos os pacientes
31
portadores de câncer necessitem de cirurgia para o seu tratamento. Quase todos
são submetidos a algum tipo de procedimento cirúrgico para diagnóstico (como a
biópsia) ou estadiamento da doença. De um modo geral, os tumores de crescimento
lento são os melhores candidatos à cirurgia, e a cirurgia inicial para câncer tem
maior chance de cura do que a cirurgia para recidivas.
2.7.2 Radioterapia
O tratamento radioterápico se dá à base de aplicação de radiação direcionada
ao tumor ou ao local deste e tem por objetivo, se antes da operação, reduzir o
tamanho do tumor, e se após, evitar a volta da doença. A radiação bloqueia o
crescimento das células, e deve ser utilizada apenas na área afetada, evitando
atingir o tecido normal. As aplicações duram cerca de 15 minutos e devem ser feitas
diariamente, variando de 25 a 30 aplicações. O tratamento não apresenta
complicações. O local das aplicações adquire uma coloração parecida com a de
uma queimadura de sol (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).
Na terapia, os radioisótopos são utilizados em doses elevadas visando
justamente ao efeito deletério da radioatividade sobre determinados tecidos,
permitindo o estudo da fisiologia e das transformações bioquímicas dos organismos
vivos em condições normais, sem lhes alterar a higidez. O objetivo da radioterapia é
alcançar um índice terapêutico favorável, levando as células malignas a perderem a
sua lonogenicidade e, ao mesmo tempo, preservando os tecidos normais (INCA,
2008).
Segundo Brunner & Suddarth (2006), a dosagem de radiação depende da
sensibilidade dos tecidos-alvos à radiação e do tamanho do tumor. A dose tumoral
letal é definida como dose que erradicará 95% do tumor, enquanto preserva o tecido
normal. A dose de radiação total é liberada durante várias semanas para possibilitar
que o tecido saudável se repare e para atingir a maior morte celular ao expor mais
células à radiação quando elas começam a divisão celular ativa.
Segundo o Inca (2008), a radiação ionizante pode ser dividida em:
a) radiação corpuscular:
- partícula alfa – é uma partícula equivalente a um núcleo Hélio (2 prótons
32
e 2 nêutrons), com carga positiva. Devido à sua alta transferência linear de
energia, a radiação alfa cede a sua energia rapidamente para o meio,
tornando o seu poder de penetração no meio muito limitado;
- partícula beta – é um átomo com excesso de prótons ou nêutrons, em
seu núcleo, que tende a se estabilizar, levando à emissão de partículas
carregadas negativamente ou positivamente. Pode-se conceituar a
partícula beta como um elétron (e-) de origem nuclear com carga positiva
ou negativa. Dependendo da sua energia, ela pode alcançar de 1 a 2 cm
no tecido biológico;
b) radiação eletromagnética: são ondas eletromagnéticas de alta energia.
Podem ser de origem nuclear, geradas por isótopos radioativos, ou de
origem extra-nuclear, produzidas na eletrosfera. Quando é de origem
nuclear, um átomo com excesso de energia no seu núcleo (excitado) decai
para um estado de energia menor, emitindo um fóton, e quando tem
origem extra-nuclear, as ondas são produzidas por equipamentos
especiais, tais como: aparelhos de Raios X ou Aceleradores Lineares.
Essas radiações eletromagnéticas não possuem massa nem carga elétrica
e podem ser:
- radiação gama – são pacotes de energia, de origem nuclear, com grande
poder de penetração. Ela é liberada através do excesso de energia de um
núcleo atômico instável;
- radiação X – é produzida quando elétrons rápidos se chocam com a
eletrosfera de um átomo (alvo). A energia cinética desse elétron é
transformada em energia eletromagnética. É importante lembrar que a
origem dessa energia é extra-nuclear.
Conforme o Inca (2004), a radioterapia deve ser utilizada com o objetivo de
destruir as células remanescentes após a cirurgia ou para reduzir o tamanho do
tumor antes da cirurgia. Após cirurgias conservadoras deve ser aplicada em toda a
mama da paciente, independente do tipo histológico, idade, uso de quimioterapia ou
hormonioterapia ou mesmo com as margens cirúrgicas livres de comprometimento
neoplásico.
A toxicidade da radioterapia está localizada na região que está sendo
irradiada. A toxicidade pode ser aumentada quando a quimioterapia concomitante é
administrada. As reações locais agudas acontecem quando as células normais na
33
área de tratamento também são destruídas e a morte celular excede a regeneração
celular. Os tecidos corporais mais afetados são aqueles que normalmente se
proliferam com maior rapidez, como a pele, revestimento epitelial do trato
gastrintestinal, incluindo a cavidade oral, e a medula óssea. A integridade alterada
da pele é um efeito comum e pode incluir alopécia (perda dos cabelos), eritema e
desprendimento da pele (descamação) (BRUNNER; SUDDARTH, 2006).
Determinados
efeitos
colaterais
sistêmicos
também
são
comumente
experimentados por pacientes que recebem radioterapia. Estas manifestações, que
são generalizadas, incluem fadiga, indisposição e anorexia. Esta síndrome pode ser
secundária às substâncias liberadas quando se clivam as células tumorais. Os
efeitos são temporários e diminuem com a cessação do tratamento. Os efeitos
tardios da radioterapia também podem ocorrer em vários tecidos corporais. As
toxicidades podem intensificar-se quando a radiação é combinada a outras
modalidades de tratamento (BRUNNER; SUDDARTH, 2006).
Cabe ao enfermeiro especialista, ainda, traçar metas que assegurem uma
assistência de qualidade ao cliente oncológico atuando na prevenção, tratamento,
orientação
e
reabilitação
nos
procedimentos
radioterápicos,
através
da
sistematização da consulta de enfermagem. O enfermeiro deve promover parcerias
com toda a equipe de radioterapia, viabilizando o cumprimento das normas de
radioproteção,
e
garantir
participação
ativa
nos
programas
de
pesquisa,
contribuindo, portanto para uma exata aplicação da dose prescrita pelo
radioterapeuta no volume-alvo e realizando um cuidado seguro e humanizado
(INCA, 2002).
2.7.3 Quimioterapia
Esta terapia consiste no uso de medicamentos extremamente potentes no
tratamento do câncer. Também é usado para completar a cirurgia, podendo começar
antes ou após a operação. Ao contrário da cirurgia e da radioterapia que têm efeito
local, a quimioterapia age em todo o corpo, visando evitar a volta do tumor e o
aparecimento em outros órgãos (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).
Segundo Otto (2002) o sítio de aplicação da quimioterapia é principalmente
34
por via sistêmica (endovenosa). Também pode ser administrada de forma regional,
quando aplicada diretamente no tumor. De acordo com suas finalidades a
quimioterapia é classificada em:
a) quimioterapia adjuvante - quando usada em conjunto com outras
modalidades de tratamento (cirurgia, radioterapia, bioterapia) e com a
finalidade de prevenir micrometástases;
b) quimioterapia neo-adjuvante - administração de quimioterápicos para
diminuir o tamanho do tumor antes da remoção cirúrgica ou da
radioterapia;
c) quimioterapia primária - tratamento de clientes com câncer localizado, para
os quais há uma alternativa de controle completo do tumor;
d) quimioterapia paliativa - administração de quimioterápicos em clientes com
metástase diagnosticada ou recidiva do câncer.
As medicações antineoplásicas podem ser usadas de duas maneiras:
a) mono-quimioterapia - de uso restrito pela ineficácia em induzir respostas
significativas completas ou parciais na maioria dos tumores;
b) poli-quimioterapia - tem por objetivo atingir populações celulares em
diferentes fases do ciclo celular e utilização a ação sinérgica dos
quimioterápicos, diminuindo o desenvolvimento de resistência a eles
promovendo maior resposta por dose administrativa.
Como existem muitos tipos de câncer, é necessário usar vários tipos e
combinações de agentes quimioterápicos, classificados de acordo com seu
mecanismo de ação. Os agentes antineoplásicos mais empregados no tratamento
do câncer incluem os alquilantes polifuncionais, os antimetabólitos, os antibióticos
antitumorais, os inibidores mitóticos e outros (INCA, 2008).
Todo medicamento antineoplásico deve ser prescrito pelo médico, após uma
avaliação das condições clínicas, dos exames laboratoriais, principalmente do
hemograma, e do cálculo da superfície corpórea obtida através do peso e da altura
do paciente. O preparo das drogas antineoplásicas deve ser realizado com técnicas
assépticas rigorosas, em capela de fluxo laminar vertical e o profissional deve utilizar
gorro, máscara, avental de mangas longas e luvas, de preferência não entalcadas,
pois o talco favorece retenção de partículas (GUIMARÃES, 2004).
São várias as vias de administração de quimioterápicos: oral, intramuscular,
subcutânea, intra-arterial, intravesical, intratecal, intraperitoneal, sendo a mais
35
utilizada, a endovenosa. Para todas devem-se, antes da administração, informar o
paciente sobre o procedimento a ser realizado, possível efeitos colaterais e sintomas
a serem reportados, pois cada um deles possui cuidados específicos (GUIMARÂES,
2004).
O tratamento normalmente é feito com soro pela via endovenosa. Na maioria
das vezes, o tratamento dispensa a internação. Primeiramente, o paciente faz uma
consulta médica de rotina e, se estiver tudo normal, recebe o soro durante algumas
horas e está liberado para voltar para casa (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).
Segundo Murad & Katz (1996) apesar da quimioterapia por via endovenosa
ser a mais comum, sua administração pode provocar fortes irritações venosas, por
isto este tratamento tem sido feito por outras vias: oral, subcutânea, intramuscular,
intracavitária e tópica. A quimioterapia pode ser usada em diversas situações, e
mesmo em se tratando do mesmo tipo de câncer, pode ser usada de forma diferente
conforme a estratégia do tratamento.
A quimioterapia age sobre as células que tem um crescimento e multiplicação
acelerada, como as do câncer. Acontece que existem outras células do corpo que
possuem estas mesmas características, causando os famosos efeitos colaterais, tais
como anemia e diminuição da resistência a infecções causadas pela ação nas
células produtoras dos glóbulos sangüíneos vermelhos e brancos, queda de pêlos e
cabelos devido à ação nas células do folículo piloso, náuseas, vômitos e diarréia, em
decorrência da ação nas células do aparelho digestivo, além da dificuldade de
engravidar e parada da menstruação, já que as células do sistema reprodutor
também são afetadas (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).
A quimioterapia representa um avanço na cura e no controle do câncer,
aumentando a expectativa de vida do paciente. É essencial, no entanto, que os
profissionais de saúde que atuam nessa área tornem efetiva sua orientação quanto
aos objetivos e efeitos colaterais do tratamento quimioterápico, além, sobretudo, de
oferecer apoio emocional (MELO et al., 2002).
O tratamento quimioterápico é temido pelas mulheres devido à agressividade
dos efeitos colaterais tanto no nível
físico
quanto
psicológico,
afetando
principalmente auto-estima e a qualidade de vida. Por este motivo atualmente os
pesquisadores, discutem a melhora e o aperfeiçoamento da qualidade de vida para
pacientes submetidos ao tratamento, tendo em vista que apesar de todo o
desenvolvimento tecnológico, os tratamentos propostos por esta doença são
36
mutiladores, afetam a condição física, os aspectos emocionais, sociais e sexuais do
paciente (ANJOS, 2005).
Sabe-se que a quimioterapia é um tratamento doloroso e que implica em
efeitos colaterais fortes e danosos ao corpo. Ao mesmo tempo em que essa química
atinge as células cancerígenas, ela também atinge as células saudáveis, por não
conseguir distinguir uma das outras. Como toda e qualquer situação nova na vida do
indivíduo, a quimioterapia também pode gerar ansiedade e efeitos associados à
mesma (SAMPAIO, 2006).
A quimioterapia é possível, apesar dos seus efeitos tóxicos, porque os tecidos
normais se recuperam totalmente antes do que as células tumorais. É nesta
diferença de comportamento celular que a quimioterapia se baseia. As drogas
antineoplásicas possuem efeitos tóxicos diferentes em qualidade e intensidade.
Alguns deles são tão nocivos que podem indicar a interrupção do tratamento ou
ainda acarretar a morte do paciente e, por isso, devem ser previstos, detectados e
tratados com precocidade (INCA, 2002).
Para isto, segundo o Inca (2002), é necessária uma avaliação prévia do
paciente, cuja finalidade é a de assegurar que o seu organismo se encontra em
condições de superar os efeitos tóxicos dos medicamentos antiblásticos. Os exames
solicitados para proceder-se a esta avaliação dependem das drogas a ser utilizada,
dos seus efeitos tóxicos, do número de ciclos já recebidos e das condições clínicas
do paciente.
Assim, são requisitos para a aplicação da quimioterapia: a perda do peso
inferior a 10% do peso corporal anterior ao do início da doença e a ausência de
contra-indicação clínica para as drogas selecionadas. Os pacientes com maior
capacidade funcional e sintomas discretos respondem melhor ao tratamento e têm
uma sobrevida maior do que aqueles com menores capacidades funcionais, e com
sintomas graves. O objetivo das escalas de performance é a determinação da
eficácia dos tratamentos utilizados através da distribuição dos pacientes em grupos
de estudo clínico-terapêutico:
a) ausência de infecção ou infecção presente, mas sob controle;
b) a contagem das células do sangue e dosagem da hemoglobina sérica (os
valores exigidos para a aplicação de quimioterapia em crianças são menores)
dentro dos limites pré-determinados (INCA, 2002).
Outros exames devem ser solicitados, se assim o indicar a toxicidade
37
específica das drogas utilizadas, especialmente em pacientes acima de 60 anos de
idade. São exemplos: avaliação cardiológica (função cardíaca) de pacientes que
receberão adriamicina e avaliação da depuração da creatinina, em casos de
quimioterapia com metotrexato em doses altas ou cisplatina (INCA, 2002).
2.8 O CÂNCER DE MAMA E SUAS IMPLICAÇÕES
Receber o diagnóstico de câncer pressupõe uma série de conseqüências que
atingem diretamente o modo de vida do indivíduo. Algumas delas estão associadas
ao aspecto social e familiar; outras, ao psiquismo, como as idéias recorrentes de
morte, o medo de mutilação e da perda de algumas pessoas de seu convívio. A
qualidade do cuidado oferecido pelos profissionais de enfermagem tem a ver com a
inclusão desse aspecto. Um serviço abrangente, que inclua esta dimensão, ainda
que seja estimulado pela Organização Mundial da Saúde e esteja crescendo em
todo o mundo moderno, não é prevalente nos serviços públicos de saúde
brasileiros. Além disso, tal postura extrapola a competência do pessoal de
enfermagem que, em geral, é treinado principalmente para lidar com o corpo físico e
a dimensão biológica do indivíduo (VIEIRA; QUEIROZ, 2006).
Foi constatado que o câncer de mama é visto pela mulher como uma doença
ameaçadora, devastadora, horrível, apavorante, perigosa, triste, preocupante e
incontrolável. Ao ser diagnosticado, causa um inquestionável impacto tanto físico
quanto emocional para a mulher. Os sentimentos que mais comumente são
despertados em uma mulher ao ser mastectomizada são o medo, a perda, a
rejeição e a culpa. A perda da mama pode levar ao sentimento de mutilação ou até
mesmo de castração, significando a perda da feminilidade. Muitas vezes, as
mulheres sentem-se culpadas, atribuindo o aparecimento do câncer ao estilo de
vida que levavam e á influência do meio cultural em que estão inseridos, como,
hábitos alimentares, falta de cuidado com o corpo, estresse, herança familiar,
repressão dos sentimentos e trauma físico (PEREIRA et al., 2006).
A perspectiva da assistência integral à saúde reconhece a importância do
contexto, dos processos culturais e familiares, as intersubjetividades, considerando
as necessidades e os interesses relacionados com o dia-a-dia dos sujeitos
38
envolvidos. Todos esses aspectos devem ser definidos como pontos de partida e
chegada para todas as ações de cuidado individualizado (VIEIRA; QUEIROZ, 2006).
Nesse sentido, quando há uma abordagem diferenciada, com vista a uma
dimensão mais integrada do indivíduo, a qualidade do serviço de enfermagem varia
muito, de acordo com a instituição em que trabalham. As características presentes
no atendimento e a forma como o trabalho estão sendo desenvolvidas são fatores
peculiares de cada local especificamente (VIEIRA; QUEIROZ, 2006).
Por estar vivenciando um mundo desconhecido frente à quimioterapia, essas
mulheres
desencadeiam
sensações
conflitantes
e
aflitivas,
ocorrendo
um
comportamento de angústia, agitação e medo (BITTENCOURT; CADETE, 2002).
Ao receber o diagnóstico de câncer de mama, a mulher passa a ter muitas
dúvidas e questionamentos, devido ao estigma de doença terminal o que leva a
muito sofrimento e morte. Na atribuição de significados para as mamas na cultura
ocidental, é ressaltada sua importância como atributo físico e psíquico para o
organismo feminino. A alteração da estética e imagem corporal são aspectos a
serem considerados na prática profissional, especialmente quando se pensa em
uma assistência preocupada, também, com a dimensão psicossocial (FERREIRA;
MAMEDE, 2002).
Sabe-se que o estado emocional de um indivíduo prejudica o bom
funcionamento do sistema imunológico causando alterações bioquímicas que podem
ser consideradas como um dos fatores predisponentes ao desenvolvimento das
doenças. No entanto, essa vulnerabilidade não pode ser considerada isoladamente
diante do desenvolvimento de uma enfermidade e muitas questões precisam ainda
ser esclarecidas e comprovadas (GLASER; GLASER, 1989).
Não se tem como negar que o aumento da sobrevida de portadoras de câncer
de mama é, hoje, uma realidade. Porém, ainda amedronta muitas mulheres, pois as
constantes revisões a que ficam submetidas para avaliar a progressão da doença
deixam-nas extremamente ansiosas, com dúvidas e incertezas sobre uma possível
recorrência. Assim, o despertar de sentimentos de desesperança, revolta,
desamparo e a sensação da proximidade da morte podem gerar acomodação e
indiferença e algumas mulheres podem não desejar mais viver e desistir de lutar
contra o câncer. Tal situação precisa levar os profissionais da saúde a buscar
estratégias que maximizem as vivências de cuidados oferecidos, contribuindo para
uma melhor qualidade de vida a essas mulheres (PEREIRA et al., 2006).
39
Neste sentido, Forghieri (1993) afirma que as situações que alguém vivencia
não possuem apenas um significado em si mesmo, mas adquirem um sentido para
quem as experimentam, que se encontra relacionado a sua própria maneira de
existir.
O sentido que uma situação tem para a própria pessoa é uma experiência
íntima que geralmente escapa à observação, pois, o ser humano não é transparente.
Para desvendar sua experiência o pesquisador precisa de informações a este
respeito, fornecidas pela própria pessoa. A investigação desse tipo de experiência,
que constitui a vivência (FORGHIERI, 1993).
Sendo assim, Costenaro & Lacerda (2006) afirmam que a preocupação do
profissional de enfermagem necessita abranger não apenas o biológico, mas a
totalidade que permeia o cuidado holístico. O profissional não pode limitar a sua
atenção ao atendimento daquilo que é visível no corpo, ampliar a sua visão para o
todo é uma necessidade.
Para Bettinelli (2006), o profissional de enfermagem deve ter a capacidade de
utilizar a intuição e ter uma percepção bastante acurada para poder envolver-se
mais durante o cuidado.
2.9 DOR ONCOLÓGICA
A dor é um sintoma complexo e angustiante, com impacto na qualidade de
vida do paciente com câncer. As definições de dor evoluíram de explicações simples
do sintoma como um fenômeno puramente fisiológico, até nossa visão atual de sua
natureza multidimensional. A associação Internacional para o Estudo da Dor (1986)
propõe a definição de dor como “uma experiência sensorial e emocional
desagradável associada a dano tecidual real ou potencial, ou descrita em termos de
tal dano”. Essa definição reconhece a visão multidimensional da dor como uma
experiência individual que inclui aspectos físicos e psicossociais (POLLOCK et al.,
2006).
A dor é considerada um dos sintomas mais freqüentes nas neoplasias. É
também o mais temido pelos pacientes oncológicos. Estima-se que 10% a 15% dos
doentes de câncer apresentam dor de intensidade significativa nos casos de doença
40
inicial. Com o aparecimento de metástases, a incidência da dor aumenta para 25% a
30% e nas fases muito avançadas da enfermidade, 60% a 90% dos pacientes
referem dor de intensidade bastante expressiva. Aproximadamente nove milhões de
pessoas em todo o mundo sofrem de dor oncológica. Metade dos doentes sente dor
em todos os estágios do câncer e 70% em doença avançada (TULLI et al., 2007).
A dor no câncer é o resultado de múltiplas causas, incluindo envolvimento
direto do tumor, compressão ou infiltração de nervo ou comprometimento de partes
moles. Com freqüência, a dor também é resultado de tratamentos, incluindo
quimioterapia,
radioterapia
e
síndromes
pós-cirúrgicas,
como
a
dor
pós-
mastectomia. A dor resultante de estimulação de receptores nervosos é dor
nociceptiva, enquanto dor resultante de lesão de nervos é dor neuropática. Essas
classificações tornam-se importantes na seleção das opções de tratamento
(POLLOCK et al. 2006).
Segundo Tulli et al. (2007), a dor é classificada em aguda e crônica. A dor
aguda é de curta duração, normalmente em um prazo inferior a seis meses. A
intensidade da dor varia de fraca a severa, de causa pouco conhecida. O quadro de
dor crônica é aquele de longa duração, de causa conhecida ou não, que não
melhora após a terapêutica e com intensidade variada.
A dor crônica é freqüente em doentes com câncer e pode ser devido ao tumor
primário ou suas metástases, à terapia anticancerosa (cirurgia, radioterapia ou
quimioterapia) e aos métodos de diagnóstico. Em algumas situações, ela pode estar
relacionada a causas psicossociais. Este sintoma incapacita o paciente e acarreta
modificações danosas no âmbito orgânico, emocional, comportamental e social
(SILVA; ZAGO, 2001).
A fisiologia da dor é mais bem explicada pela percepção e resposta do
indivíduo a estímulos nocivos. Há diversos processos fisiológicos que resultam na
experiência de dor. O primeiro desse processo, a transdução, começa quando um
estímulo nocivo afeta uma terminação de nervo sensorial periférico que dá inicio a
todo fenômeno de percepção de dor. A transmissão, o processo seguinte, consiste
em uma série de eventos neurais subseqüentes que levam os impulsos elétricos
pelo sistema nervoso, do periférico ao central. A modulação, o terceiro processo, é
uma atividade neural que controla neurônios de transmissão da dor originada no
sistema nervoso periférico e/ou central. O quarto processo, a percepção, é o
correlato subjetivo da dor que engloba complexos fatores comportamentais,
41
psicológicos e emocionais, que são pouco compreendidos (POLLOCK et al., 2006).
De qualquer modo, o relato da experiência dolorosa pelo paciente aos
profissionais de saúde é fundamental para a compreensão do quadro álgico,
implementação de medidas analgésicas e avaliação da eficácia terapêutica. Se no
tratamento de pacientes com dor crônica é necessário considerar vários fatores que
interagem no processo, ressalta-se a importância de analisar e compreender a dor
como decorrente desses fatores, e não isoladamente, visto que o objetivo do
tratamento é a reabilitação global do indivíduo e não apenas corrigir um dos
aspectos isolados de sua expressão sintomática (SILVA; ZAGO, 2001).
2.9.1 Assistência de Enfermagem
Segundo Camargo & Souza (2003), a assistência de enfermagem em
oncologia, abrange os vários estágios da continuação saúde-doença, já que assistir
o outro que tem câncer possibilita a intervenção de enfermagem em diversos níveis,
seja na prevenção primária, na prevenção secundária, no tratamento do câncer, na
reabilitação e na doença avançada.
A Sistematização das Ações de Enfermagem (SAE) vem permitindo aos
enfermeiros um cuidar científico e humanizado destinado a uma assistência
qualitativamente adequada. Que assume dimensão especial para o paciente
oncológico no estabelecimento ético das prioridades, onde se deve considerar a
individualidade, singularidade, estilo de vida, crenças e valores culturais
(GARGIULO et al., 2007).
É importante saber que a SAE e seu registro no prontuário do cliente é uma
característica da enfermagem atual, representando uma conquista para os
profissionais e para os pacientes, refletindo, quando não implementada, há uma
perda das ações das enfermeiras no tempo e no espaço, dificultando a interação
com a equipe multidisciplinar e interdisciplinar, conseqüentemente, afetando a
qualidade da assistência prestada ao paciente oncológico.
Pacientes portadores de tumores malignos exigem uma assistência
diferenciada, pois carregam junto com a patologia o estigma da doença, a incerteza
do prognóstico, o medo na morte, a depressão e a ansiedade, mas também a
42
vontade de viver (GUIMARÂES; ROSA, 2008).
O enfermeiro é o membro da equipe de saúde que usualmente permanece
lado a lado com os pacientes durante todo o processo de saúde/doença, o que o
torna elemento primordial para o sucesso do tratamento. Figura também como
facilitadora e minimizador dos desconfortos trazidos por todo o processo da doença
oncológica durante a internação do paciente, principalmente no que diz respeito aos
possíveis tratamento a serem empregados, sejam ele cirúrgicos, quimioterápicos ou
outros. Além disso, deve estar muito bem preparado para enfrentar a problemática
do paciente oncológico, colocando-se face a face com as freqüentes frustrações do
tratamento e poucos retornos gratificantes. Nesse contexto, é fundamental que
pacientes
oncológicos
recebam
por
direito
uma
assistência
humanizada
(MOHALLEM; RODRIGUES, 2007).
Humanizar vem permeado de conceitos de cuidar e humanização, que são
elementos essências para compreender, refletir e acertar a fórmula da assistência
humanizada de enfermagem. Quando falamos de humanização, em assistência
humanizada, não podemos deixar de abordar o cuidado nos seus diversos aspectos
e expressões (MOHALLEM; RODRIGUES, 2007).
E o que é humanização? Segundo o dicionário Aurélio, humanização é o “ato
ou efeito de humanizar. Humanizar é tornar humano, dar condição humana a,
humanar”. O cuidar humanizado implica, por parte do cuidador, a compreensão do
significado da vida, a capacidade de perceber e compreender a si mesmo e ao
outro, situando no mundo e sujeito de sua própria história.
A humanização nos atendimento exige dos profissionais de saúde,
essencialmente, compartilhar com o seu paciente experiências e vivências que
resultem em aplicações do foco de suas ações, vista de regra restrita ao cuidar com
o sinônimo de ajuda, as possibilidades de sobrevivências. Nesse contexto,
humanizar o cuidar é dar qualidade à relação profissional da saúde-paciente. É
acolher as angústias do ser humano diante da fragilidade de corpo, mente e espírito
(MOHALLEM; RODRIGUES, 2007).
É possível afirmar que a assistência e os cuidados prestados pelo enfermeiro,
constituem um conjunto de esforços transpessoais direcionados a auxiliar o ser
humano, a obter o autoconhecimento, autocontrole, a auto cura e, dessa forma
protegendo, promovendo e preservando a existência do paciente (GUIMARÂES;
ROSA, 2008).
43
Os objetivos assistenciais visam a informar sobre rotinas hospitalares e
procedimentos a serem realizados, diminuindo nas clientes o estresse gerado pela
desinformação, facilitar ou possibilitar a recuperação física, emocional e social da
paciente, preparando-a para o autocuidado, isso é a realização de curativo,
exercício, dar voz ao cliente, permitindo que exponha seus medos, anseios, dúvidas,
e expectativas, identificar os aspectos e intervir naqueles que poderão prejudicar no
tratamento e na recuperação físico e moral, auxiliar à paciente e aos familiares a
identificar e mobilizar fontes de ajuda para resolução de problemas, facilitando o
acesso aos demais profissionais da equipe multidisciplinar, esclarecendo sobre o
tratamento, permitindo que os familiares tomem decisões sobre o tratamento
proposto (OLIVEIRA et al., 2007).
As ações de enfermagem abrangem planejamento, supervisão, execução e
avaliação de todas as atividades no setor em pacientes submetidos aos tratamentos.
A assistência de enfermagem deve ser prestada de forma sistematizada,
individualizada e embasada nos princípios norteadores das teorias dessas áreas.
Nesse sentido o processo de enfermagem serve de estrutura sistemática na qual o
enfermeiro busca informações, responde a indicações clínicas, identificações e
respostas a questões que afetam a saúde do paciente. Fundamentado nesses
preceitos, o cuidado de enfermagem terá maior qualidade de resolubilidade no
atendimento ao paciente (GUIMARÃES; ROSA, 2008).
O cuidado relacionado ao profissional de enfermagem refere-se às ações que
ele dispensa ao paciente. Essas ações, de acordo com a sua natureza, classificamse em ações, da área de técnica ou instrumental, que engloba os cuidados físicos e
terapêuticos e que correspondem às atividades técnicas da assistência de
enfermagem (higiene corporal, manutenção do conforto e integridade física
terapêutica), bem como as ações da área expressiva, que englobam atividade
relativa à manutenção do equilíbrio emocional do paciente e dizem respeito ao
aspecto
humanizado
do
relacionamento
enfermeiro-paciente
(MOHALLEM;
RODRIGUES, 2007).
O cuidado com o ser humano deve ser manifestado em atitudes que
valorizem e dignifiquem a vida humana, o respeito ao próximo, estando este
presente, ausente, consciente ou inconsciente (MOHALLEM; RODRIGUES, 2007).
Uma forma inicial, ou primeiro passo fundamental para humanizar a
assistência de enfermagem, é trabalhar com a expectativa do cliente e com a
44
percepção do que ele espera do nosso cuidado, da nossa assistência. Para que isso
ocorra, é importante que estejamos receptivos para ouvir mais do que falar, que
estejamos preocupados com as necessidades daquele que carece de um cuidado
individualizado. Não se deve perder o foco de uma abordagem holística, permitindo
sempre o envolvimento daqueles que dão apoio emocional e afetivo, suporte
econômico e social, sejam estes membros da família, vizinhos, parceiros, amigos ou
cuidadores (MOHALLEM; RODRIGUES, 2007).
A abordagem holística da assistência humanizada envolve também a
percepção do enfermeiro assistencial em sua prática. O delineamento dessa visão
permite que reflita sobre a sua filosofia de atuação, que referencial de valores possui
e que papel desempenha em relação à assistência direta com o paciente
(MOHALLEM; RODRIGUES, 2007).
A atuação do enfermeiro deve ser iniciada logo após o diagnóstico, por meio
da consulta de enfermagem, a ser realizada por ocasião da internação e antes de
cada modalidade terapêutica (INCA, 2004).
A assistência humanizada de enfermagem, especialmente a de pacientes
oncológicos, vai além da competência técnica ou científica. Antes de ser profissional,
deve ser uma atitude individual, pessoal, recheada de valores solidários,
compreensão, respeito ao próximo, às limitações do outro, a dor e ao sofrimento
humano, à perseverança, a vida e à morte. Para humanizar a assistência, deve
existir também uma filosofia institucional que favoreça não apenas os profissionais
de enfermagem para exercerem a assistência humanizada mas, também toda a
equipe interprofissional, dentro da sua complexidade conceitual e operacional
(MOHALLEM; RODRIGUES, 2007).
2.9.1.1 Cuidados de enfermagem à dor
O enfermeiro deve saber reconhecer/identificar "indícios da dor". Esta é uma
tarefa que pode gerar dificuldades, visto que pacientes e profissionais podem ter
concepções diferentes da dor. Esta pode apresentar-se de diversas maneiras, tais
como através do choro, gemido, alterações dos sinais vitais, agitação, tremor ou
comportamento verbal. Entretanto, o não aparecimento dos sinais citados não
45
significa ausência de dor. Alguns pacientes podem adaptar-se à dor, através do
desenvolvimento de um elevado autocontrole, suprimindo os sinais de sofrimento, ou
apenas permanecendo prostrados ou mais quietos que o habitual, devido ao
esgotamento físico e mental causados pela doença (TULLI et al., 2007).
A enfermagem tem buscado estudar e contribuir para a ampliação dos
conhecimentos sobre o tema. Em 1990, a Oncology Nursing Society adotou uma
posição sobre a dor do paciente oncológico, definindo objetivos para a prática,
considerações éticas e recomendações (SILVA; ZAGO, 2001).
Aumenta, a cada dia, o número de pessoas que sofrem de dor oncológica e
muitas delas permanecem sem tratamento adequado. No entanto, existem métodos
capazes de controlar este tipo de dor. Os cuidados atentos da enfermagem,
associados à terapêutica medicamentosa, são as bases para manejar a dor do
câncer, tornando-a suportável para o paciente (TULLI et al., 2007).
Os enfermeiros devem ter em mente que os pacientes têm direito a ter sua
dor aliviada, a persistência da dor ocasiona sofrimento inútil para o doente,
familiares, amigos e equipe de saúde (TULLI et al., 2007).
É importante que a enfermagem busque sempre a atualização do
conhecimento e do preparo para lidar com os problemas do paciente com câncer,
uma vez que ele é colocado frente a frente com frustrações de um trabalho com
poucos retornos gratificantes. Por esta razão, faz-se necessário o real entendimento
da sua função, de forma a ser impulsionado a continuar suas atividades (TULLI et
al., 2007).
Educar os profissionais que atuam na oncologia para o esclarecimento do
público quanto ao medo exagerado da dor neoplásica é de extrema importância,
para que os pacientes que necessitarem de terapias antiálgicas possam ser
assistidos de maneira mais tranqüila, sem medos ou fantasmas que aumentam a
ansiedade e induzam aos sofrimentos psicológicos desnecessários que dificultam o
seu tratamento (TULLI et al., 2007).
A avaliação da dor deve ser realizada não só durante os períodos de
internação ou consulta do paciente com câncer, mas também no domicílio. Para
isso, diários para registros das avaliações e das intervenções realizadas nos
domicílios devem ser utilizados (CHAVES, 2004).
Portanto, o enfermeiro deve exercer seu papel no controle da dor, ter
responsabilidade na avaliação diagnóstica, na intervenção e monitorização dos
46
resultados do tratamento, na comunicação das informações da dor do paciente,
como membro da equipe de saúde (SILVA; ZAGO, 2001).
Segundo Tulli et al. (2007), as avaliações e intervenções de enfermagem são:
a) avaliar o tipo de dor do paciente: localização, duração, qualidade e
influência nas atividades do cotidiano;
b) usar a escala de Eva (Anexo A)
para investigação cuidadosa dos
medicamentos já utilizados e atuais, a resposta e os efeitos colaterais
destes;
c) usar medidas alternativas para alívio, como: construção de imagem,
relaxamento e biofeedback;
d) incentivar medidas que promovam o relaxamento: massagem superficial,
compressiva ou vibratória;
e) transmitir a sensação de que a dor do paciente é compreendida e que
pode ser controlada;
f) promover o conforto físico através de camas, protetores de colchões,
aparelhos de apoio e demais equipamentos necessários;
g) procurar ajudar o paciente, os familiares e a equipe médica em relação à
necessidade de apoio para controlar a doença;
h) buscar ajuda de religiosos (quando o paciente professar uma determinada
religião e for receptivo);
i) controlar estímulos ambientais que possam prejudicar o paciente, tais
como: barulho, calor, luz etc., evitando bater portas ao entrar ou sair do
quarto ou enfermaria e controlando o volume da própria voz ao falar com o
paciente;
j) incentivar a buscar ajuda de um especialista, nos casos de dor intratável;
k) ajudar o paciente a imaginar que está se livrando da dor, sempre que
expira lentamente;
l) estimular medidas relacionadas à terapia ocupacional, leituras, televisão,
música e, se possível, trabalho com argila, aquarela, crochê, tricô;
m) comprometer-se com o paciente a não abandoná-lo, caso a dor persista,
continuando a buscar alternativas para controlá-la;
n) usar técnicas que ajudem no relaxamento, evitando fadiga, promovendo a
descontração do músculo esquelético, que reduz a intensidade da dor ou
aumenta a tolerância à ela;
47
o) administrar analgésicos previamente, antes do ressurgimento dos
sintomas da dor, a fim de evitar dor severa, conforme a prescrição médica;
p) solicitar ajuda de outros profissionais da saúde, caso apareça dor em
outras regiões do corpo, ou mesmo o aumento desta;
q) orientar quanto aos métodos de administração dos medicamentos,
determinados pelo pico de ação e duração do medicamento no organismo,
conforme necessidade do paciente e a prescrição médica;
r) observar e orientar o paciente a respeito dos efeitos colaterais dos
medicamentos de controle da dor, tais como, constipação, náuseas e
tolerância aos remédios; a fim de preveni-los e minimizá-los;
s) entrar em contato com profissionais de saúde que fazem uso de métodos
não farmacológicos no alívio da dor;
t) comunicar qualquer alteração de resposta ao esquema de controle da dor
- tal como nível de consciência, depressão respiratória (menor que oito
inspirações/minuto), constipação, vômitos incontroláveis e retenção
urinária - deve ser imediatamente comunicada ao médico assistente;
u) administrar medicações analgésicas em horários padronizados e não
apenas em momentos de crise;
v) procurar proporcionar ao paciente uma melhor qualidade de vida,
fornecendo condições de um sono tranqüilo, aliviando sua dor, controlando
o emocional e o fluxo de visitas;
w) manter o paciente em posição confortável, mudar decúbito sempre que
necessário, dar banhos de aspersão ou leito, trocas diárias de curativo,
cuidados com higiene oral e monitorização de sinais vitais;
x) observar sentimentos de tristeza, irritabilidade, medo, ansiedade e solidão,
buscando subsídios para compreender o estado emocional do paciente e
possibilitar-lhe apoio;
Ainda de acordo com Chaves (2004), o padrão da dor é avaliado pelo uso de
palavras que descreve o seu ritmo. O paciente será questionado se a dor é
constante, intermitente ou breve, e ainda sobre a data e o horário do seu início e
quando foi o último episódio. A determinação da localização da dor pode auxiliar na
determinação de sua etiologia. Na localização pode ser utilizado um diagrama
corpóreo, para que o paciente demonstre, assinalando em um desenho, as áreas
dolorosas. Outra forma é o próprio enfermeiro questionar o indivíduo sobre os locais
48
do corpo que doem e realizar o registro descritivo ou assinalar no diagrama de
localização. Novos sítios dolorosos que apareçam devem ser registrados, porque
podem sinalizar uma nova complicação.
O enfermeiro é o profissional da área da saúde que permanece mais tempo
próximo ao paciente; assim, tem responsabilidades no manejo da dor dos doentes
com câncer, proporcionando alívio do sofrimento e melhora da qualidade de vida. As
principais metas do tratamento da dor oncológica são possibilitar o alívio da dor
quando o paciente está em repouso ou realizando qualquer atividade. Para que
estas metas sejam alcançadas é necessário que depois de instituída a terapêutica,
esta seja reavaliada de modo constante para verificação de sua eficácia (CHAVES,
2004).
49
3 METODOLOGIA
A metodologia desenvolvida neste trabalho foi a qualitativa indireta, feita
através de pesquisa bibliográfica. Segundo Minayo (2007) este trabalho se resume
em uma pesquisa elaborada a partir de material já publicado, constituído
principalmente de livros, artigos de periódicos e atualmente com material
disponibilizado na internet.
Para a análise das publicações encontradas, buscou-se agrupá-las em três
tendências, com a finalidade de conhecer cientificamente o desenvolvimento, as
características e as implicações do câncer de mama, finalizando com as
considerações da enfermagem na dor oncológica. Este levantamento foi realizado
no acervo da biblioteca da Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE), sendo
utilizado livros, artigos científicos, revistas latino-americanas de enfermagem e sites
especializados como Scielo e Enfermagem on line, além de sites do Ministério da
Saúde, como o do INCA.
Inicialmente, foram levantadas informações sobre o câncer de mama
utilizando-se 8 (oito) livros, 21 (vinte e um) artigos científicos, 8 (oito) revistas
científicas e 10 (dez) sites da internet. Deste quantitativo de livros citados todos
foram utilizados; dos artigos científicos, 10 (dez) foram utilizados; das 8
(oito)
revistas, 5 (oito) foram utilizadas e dos 10 (dez) sites pesquisados todos foram
utilizados. As palavras-chave utilizadas para esta busca foram: definição, causas e
tratamento do câncer de mama.
No segundo momento, pesquisou-se sobre a assistência de enfermagem
direcionando-a para o paciente oncológico, sendo para esta busca levantados 2
(dois) livros e 10 (dez) artigos científicos.
No terceiro e último momento, foi revisado os aspectos relacionado à
definição da dor oncológica e as especificidades dos cuidados prestados mediante o
aparecimento deste sintoma. Para isto foram utilizados 2 (dois) livros e 8 (oito)
artigos científicos.
Este trabalho foi realizado no período de Fevereiro de 2009 a Outubro de
2009, sendo os dados selecionados e condensados ao estudo de acordo com o
objetivo. Apesar deste curto prazo de tempo, foi possível perceber uma grande
evolução e uma riqueza de material que fundamenta a compreender o câncer de
50
mama, suas implicações e assistência de enfermagem na dor oncológica.
Pode-se concluir que somente com a análise sistematizada e individualizada
das características desta patologia é que se poderá obter, não só eficiência dos
tratamentos, mas também eficácia nas respostas dos mesmos, propiciando um
incremento da qualidade de vida em saúde e uma vida com qualidade.
51
4 CONCLUSÃO
Pela análise dos dados apresentados percebemos que o câncer de mama,
apesar de toda evolução em sua propedêutica, é a neoplasia que mais amedronta
as mulheres, pois, implícito ao mesmo, existem impactos biopsíquicosociais que
afetam tanto a feminilidade quanto o modo de vida dessa cliente. O sentimento de
culpa muitas vezes é percebido na paciente oncológica, que devido à sua cultura,
acredita que seus hábitos de vida levaram-na a situação em que se encontra após o
diagnóstico, fato que não se confirma em meio literário, tendo em vista que o câncer
de mama ainda não tem seus mecanismos de tropismo por certos organismos bem
definidos pelos pesquisadores.
O medo, o sentimento de mutilação, a socialização e a familiarização
deficitária são aspectos várias vezes encontrados e que devem estar inseridos no
contexto terapêutico, que sempre deve ser um cuidado individualizado com
abrangência de todos os aspectos concretos e abstratos relacionados a essa
situação.
Vários estigmas são relacionados ao câncer de mama, como o sentimento de
morte eminente, a estética, a sexualidade etc. Esses têm de ser relevados na prática
de enfermagem devido ao fato que aspectos psiquicosociais têm influência direta na
terapia dessa mulher, dado que o estado emocional está correlacionado ao bom
funcionamento do sistema imunológico, sendo assim, esta cliente deve estar
esclarecida sobre a neoplasia e suas implicações, seu método terapêutico e todas
as suas dúvidas devem estar esclarecidas para o bom andamento da prática de
enfermagem.
Devemos salientar que o individualismo estará sempre presente nessa
cliente, e que o profissional da área de saúde deve estar atento às individualidades
construindo um vínculo de acesso às informações dadas e assim estar mais próximo
da realidade dessa mulher.
A assistência de enfermagem em oncologia deve estabelecer prioridades,
porque cada pessoa tem suas individualidades, singularidades, estilo de vida,
crenças e valores. A implementação do SAE na assistência prestada pelo
profissional enfermeiro é uma conquista para essa visão moderna do cuidado. Este
possibilitou um cuidado científico que demonstra a evolução vivida pela classe de
52
enfermagem
acarretando
uma
boa
resposta
no
cuidado
humanizado
e
qualitativamente adequado, a resposta a esse método é muito positiva.
O enfermeiro, por ser o profissional que na maioria dos casos é o que está
mais próximo, deve trabalhar a fim de minimizar e facilitar os processos de
sofrimento vivenciados, tentando controlar a dor e trabalhando para facilitar o
processo adaptativo ao tratamento.
Uma visão humanizada da abordagem é aquela que estimula o autocuidado,
auto conceito e auto cura, pois com isso o enfermeiro instiga a existência do cliente,
fato que ajuda na não desistência dessa cliente pela recuperação, sendo de boa
eficácia em termos psíquicosociais.
Delimitamos com essa pesquisa que uma visão holística deve estar presente
na assistência prestada pelos profissionais enfermeiros. A falta de conhecimento, as
angústias, os receios e todos os déficits no auto conceito estão diretamente
relacionados à qualidade da assistência prestada. Essa, muitas vezes, se preocupa
com objetos palpáveis, se esquecendo que a visão humanitária transcende a luta
apenas contra um crescimento descontrolado de células, e que a prática de
enfermagem abrange muito mais do que apenas cuidados diários como
administração de medicações, essa se pauta na melhoria das condições fisiológicas
mais sem se esquecer de que a vida é algo digno dos melhores recursos a serem
empregados.
Tendo em vista que a enfermagem é a arte do cuidado, e que qualidade da
assistência dada é medida pelo peso desse cuidado, um bom profissional tem de
estar atento sempre aos indícios de dor apresentados pela cliente oncológica, tais
como
choro,
gemido,
alterações
dos
sinais
vitais,
agitação,
tremor
ou
comportamento verbal, e até mesmo aqueles sinais não comumente achados como
a quietude e a prostração devido ao esgotamento de forças apresentados por essas
clientes.
Sendo assim, verificou-se por meio deste trabalho a necessidade de se
conhecer em profundidade as especificidades do câncer de mama, suas implicações
e as considerações de enfermagem frente à dor oncológica. Cabe ao profissional
aprimorar a cada dia mais seus conhecimentos técnico-científicos sobre os cuidados
a serem utilizados, proporcionando ao paciente e também à instituição de saúde
onde atua, maior eficiência no trabalho que realiza.
Com este estudo pôde-se perceber que é necessário um preparo especial dos
53
profissionais para melhor desempenharem suas funções frente a essas pacientes,
pois os enfermeiros são conhecedores de fatores de risco, sintomas inerentes aos
cânceres, favorecendo a prevenção e o diagnóstico, dessa forma, devem prestar
cuidados de qualidade aos pacientes que estão em tratamento e reabilitação.
54
REFERÊNCIAS
ABRÃO, Fauzer Simão. Tratado de oncologia genital e mamária. São Paulo:
Roca, 1995.
ANJOS, Anna. Experiência da terapêutica quimioterápica oncológica na visão
do paciente. Ribeirão Preto, 2005. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22132/tde-06052005-094800/>.
Acesso em: 01 abr. 2009.
BETTINELLI, Luiz Antônio. Cuidado Solidário. In: ________. BAGGIO, Maria
Aparecida. O significado de cuidado para profissionais da equipe de enfermagem.
Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 08, n. 01, p. 09 – 16, 2006. Disponível em
http://www.fen.ufg.br/revista/revista8_1/original_01.htm. Acesso em: 10 out. 2009.
BITTENCOURT, J. F. V.; CADETE, M. M. M. Vivências da mulher a ser
mastectomizada: esclarecimentos e orientações. Rev. Bras. Enfermagem, v. 55, n.
4, p.420-423, 2002.
BOUNDY, Janice (Colab.) et al. Enfermagem médico-cirúrgica. Rio de Janeiro:
Reichmann & Affonso, v. 3, 2004.
BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Coordenação Nacional
de Controle de Tabagismo - CONTAPP. Falando Sobre Câncer e Seus Fatores de
Risco. Rio de Janeiro: INCA, 1996.
_______. Instituto Nacional do Câncer. Cuidados paliativos oncológicos: controle
de sintomas. Rio de Janeiro: INCA, 2001.
_______. Instituto Nacional do Câncer. Ações de enfermagem para o controle do
câncer: uma proposta de integração ensino - serviço. Rio de Janeiro: INCA,
2002.
_______. Instituto Nacional do Câncer. Controle do Câncer de Mama. Rio de
Janeiro: INCA, 2004.
_______ . Instituto Nacional do Câncer. Estimativa 2006 – Incidência de Câncer
no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2005.
55
_______ . Instituto Nacional do Câncer. Estimativa de 2009 - Incidência de Câncer
no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2008.
_______ . Instituto de Nacional do Câncer. Ações de enfermagem para o controle
do câncer: uma proposta de integração ensino-serviço. 3. ed. Rio de Janeiro:
INCA, 2008.
_______ . Instituto de Nacional do Câncer. Câncer de Mama. Rio de Janeiro: INCA,
2009.
BRUNNER, Lilian S.; SUDDARTH, Doris S. Tratado de enfermagem médicocirúrgica. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.
BRUNNER, Lillian S.; SUDDARTH, Doris S. Tratado de enfermagem médicocirúrgica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
CAMARGO, Teresa Caldas; SOUZA, Emília de Oliveira. Atenção à mulher
mastectomizada: discutindo os aspectos ônticos e a dimensão ontológica da
atuação da enfermeira no Hospital do Câncer III. Ribeirão Preto, 2003. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010411692003000500008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 24 mar. 2009.
CHAVES, Lucimara Duarte. O enfermeiro no manejo da dor do câncer. Rev. Prática
Hospitalar, São Paulo, 2004.
COSTA, Cíntia C. Rezende et al. O adoecimento do portador de esclerose
múltipla: percepções e vivências a partir da narrativa de dois casos clínicos. RBPS,
Fortaleza, 2005.
COSTENARO, Regina Gema Santini; LACERDA, Maria Ribeiro. Quem cuida de
quem cuida? Quem cuida do cuidador? In: ________. BAGGIO, Maria Aparecida. O
significado de cuidado para profissionais da equipe de enfermagem. Revista
Eletrônica de Enfermagem, v. 08, n. 01, p. 09 – 16, 2006. Disponível em
http://www.fen.ufg.br/revista/revista8_1/original_01.htm. Acesso em: 15 out. 2009.
DUARTE, Tânia Pires; ANDRADE, Ângela Nobre. Enfrentando a mastectomia:
análise dos relatos de mulheres mastectomizadas sobre questões ligadas à
sexualidade. 2006. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413294X2003000100017&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 20 de mar. 2009.
56
FERREIRA, M. L. S.; MAMEDE, M. V. Representação do corpo na relação
consigo mesma após mastectomia. Rio de Janeiro, 2002. Disponível em:
< http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010411692003000300006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 12 fev. 2009.
FORGHIERI, Yolanda Cintrão. Psicologia fenomenológica: fundamentos, métodos
e pesquisas. São Paulo: Pioneira, 1993.
FRANCO, J. M. Mastologia. Formação do Especialista. Rio de Janeiro: Ateneu,
1997.
GARGIULO, Cínthia Aquino et al. Vivenciando o cotidiano do cuidado na
percepção de enfermeiras oncológicas. 2007. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/tce/v16n4/a14v16n4.pdf. Acesso em: 10 set. 2009.
GLASER, J. & GLASER, R. Psychoneuroimmunology: past, presente and future.
Health Psychology. 1989.
GUIMARÃES, José Renan Q. Manual de Oncologia. São Paulo: BBS ed., 2004.
GUIMARÃES, José Luiz M.; ROSA, Daniela Dornelles. Rotinas em Oncologia. São
Paulo: Art Méd., 2008.
HARRIS, J. R. et al. Diseases of the Breast.
Publishers, 1996.
Philadelphia, Lippincott-Raven
MAIESKI, V. M.; MANSANO, L. M. Mulheres com câncer de mama em
quimioterapia e sua influência sobre o trabalho. Curitiba, 2007. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22132/tde-06052005-094800/>.
Acesso em: 15 abr. 2009.
MELO, E. et al. Mulheres mastectomizadas em tratamento quimioterápico: um
estudo dos comportamentos na perspectiva do modelo adaptativo de Roy. Ceará.
2002. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/rbc/n_48/v01/pdf/artigo1.pdf>. Acesso
em: 10 fev. 2009.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa
qualitativa em saúde. 7. ed. São Paulo: Hucitec, 2007.
57
MOHALLEM, Andréa Gomes da Costa; RODRIGUES, Andréa Bezerra.
Enfermagem oncológica. Barueri: Manole, 2007.
MURAD, André Marcio; KATZ, Artur. Oncologia: bases clínicas do tratamento. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996.
OLIVEIRA, E. et al. Mulheres submetidas à mastectomia: assistência de
enfermagem no pré e pós-operatório no centro de saúde da mulher da criança e do
adolescente. Governador Valadares, 2007.
OTTO, Shirley E. Oncologia: enfermagem prática. Rio de Janeiro: Reichmann &
Affonso, 2002.
PEREIRA, Sandrine G. P. et al. Vivências de cuidados da mulher
mastectomizada: uma pesquisa bibliográfica. 2006. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003471672006000600013&lng=pt&nrm=iso> Acesso em: 05 fev. 2009.
PINHO et al. Câncer de mama: da descoberta à recorrência da doença. Fortaleza,
2007. Disponível em: <http://www.fen.ufg.br/revista/v9/n1/v9n1a12.htm > Acesso
em: 15 ago. 2009.
POLLOCK, E. et al. UICC manual de oncologia clínica. 8. ed. São Paulo:
Fundação Oncocentro de São Paulo, 2006.
SAMPAIO, A. C. P. Mulheres com câncer de mama: análise funcional do
comportamento pós-mastectomia. 2006. Disponível em:
<http://www.bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br/tde_arquivos/6/TDE-2006-0330T081631Z-1151/Publico/ana%20claudia.pdf>. Acesso em: 11 mar. 2009.
SILVA, Lili Marlene Hofstätter; ZAGO, Márcia Maria Fontã. O cuidado do paciente
oncológico com dor crônica na ótica do enfermeiro. Ribeirão Preto, 2001.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010411692001000400008&lang=pt> Acesso em: 15 ago. 2009.
SPENCE, Roy A. J.; JOHNSTON, Patrick G. Oncologia. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2003.
TULLI, A. et al. Dor Oncológica: os cuidados de enfermagem. Vitória, 2007.
58
Disponível em:
<http://www.rsbcancer.com.br/rsbc/7Suplemento.asp?nrev=N%C2%BA%C2%A07>
Acesso em: 15 ago. 2009.
VIEIRA, Carolina Pasquote; QUEIROZ, Marcos de Souza. Representações sociais
sobre o câncer feminino: vivência e atuação profissional. Porto Alegre, 2006.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010271822006000100009&script=sci_arttext&tlng=pt >. Acesso em: 16 ago. 2009.
ZELMANOWICZ, Alice de Medeiros. Diagnóstico do câncer de mama. 2008.
Disponível em: <http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?611>. Acesso em: 22
out. 2009.
59
ANEXOS
60
ANEXO A – ESCALA VISUAL ANALÓGICA
Anexo 1 – Escala Visual Analógica
Fonte: http://www.inca.gov.br/publicacoes/manual_dor.pdf
Download