CAMPO ELÉTRICO EM UM CABO ISOLADO E BLINDADO João J. A. de Paula Introdução Os materiais utilizados como isolação dos cabos elétricos têm uma rigidez dielétrica tão alta que este parâmetro somente é considerado em média e alta tensão. Cabos de baixa tensão têm sua isolação normalmente dimensionada em função de sua resistência mecânica. Já os cabos de média e alta tensão – o limite não é perfeitamente definido, considerando-se média tensão valores acima de 3 kV ou até acima de 6 kV – têm normalmente, sobre a isolação, uma blindagem que é normalmente aterrada, garantindo uma tensão praticamente igual a zero sobre a superfície dessa isolação. O termo “rigidez dielétrica” refere-se ora à tensão elétrica capaz de alterar as características elétricas do material da isolação, tornando-o condutivo, ora ao campo elétrico associado a essa tensão. Usam-se também termos como “gradiente elétrico máximo” ou “gradiente de perfuração do dielétrico” para designar o máximo campo elétrico suportável pela isolação do cabo. Evidentemente, não se quer que o cabo opere sob seu campo elétrico máximo, mas sob um valor bem menor que garanta seu bom desempenho ao longo dos anos. Desenvolvimento Teórico Aplicando a equação de Poisson: ∇2V = − ρv ε onde: V = potencial elétrico (V) ρv = densidade volumétrica de cargas (C/m3) ε = permissividade do meio (F/m) Assumindo que não existam cargas livres na isolação, ρv = 0, e têm-se a equação de Laplace: ∇2V = 0 (1) Em coordenadas cilíndricas: 1 ∂ ∂V 1 ∂ 2 V ∂ 2 V ∇ V = ⋅ r ⋅ + + ⋅ r ∂r ∂r r 2 ∂θ 2 ∂z 2 2 As variações em função do ângulo (θ) e do comprimento (z) inexistem; portanto: 1 ∂ ∂V ∇ 2 V = ⋅ r ⋅ r ∂r ∂r (2) Igualando (1) e (2): 1 ∂ ∂V ⋅ =0 r⋅ r ∂r ∂r Chamando r ∂V =K ∂r (3) e considerando que a tensão na superfície do condutor seja Vo e que a tensão na superfície da isolação seja zero: Integrando (3) resulta: r ∂V =K ∂r 0 R Vo ro ∫ dV = ∫ K=− Vo ln R ro ===> K⋅ dr r dV = K ⋅ ===> (4) dr r − V o = K ⋅ ln R ro Igualando (4) e (3): r V ∂V =− o R ∂r ln ro ou − ∂V = ∂r Vo (5) R r ⋅ ln ro → Como E = −gradV = − ou E = − ∂V ∂r ∂V → ur ∂r (6) Comparando (5) e (6): E= Vo r ⋅ ln R ro O gradiente máximo Emáx. ocorrerá no condutor, para r = ro e o gradiente mínimo Emín. ocorrerá sobre a isolação, para r = R: E máx. = Vo ro ⋅ ln R ro E mín. = Vo R ⋅ ln R ro Aplicação Tipicamente, a curva da rigidez dielétrica com o tempo de um material tem a forma: Como não se quer a ruptura do dielétrico, trabalha-se com um gradiente menor que o máximo suportável e com uma certa margem de segurança. A margem de segurança é necessária pois fatores como temperatura, umidade, impurezas, etc. podem alterar o valor máximo suportável do material. Muitas vezes, explora-se a curva realizando-se ensaios de tensão de curta duração. Avaliações estatísticas da rigidez dielétrica são também realizadas, de forma a garantir uma vida útil elevada da instalação. Estabelecido o valor do gradiente máximo de trabalho, o valor da tensão elétrica fase-terra (Vo) e a seção do condutor – de onde se tem o valor de ro – calcula-se, pela expressão de Emáx. o valor da espessura da isolação necessária. É preciso ter em mente, entretanto, que este desenvolvimento foi feito partindo-se da premissa de que a tensão na camada externa da isolação seria nula, fato que somente ocorre caso haja uma blindagem metálica perfeitamente aterrada.