Indução Intravenosa Contextualizada Dr. Carlos Parsloe - Hospital Samaritano. São Paulo, SP Brasil A indução intravenosa é baseada na farmacocinética (FC) e na farmacodinâmica (FD) dos agentes assim como na interação entre eles, chamada de co-indução. Geralmente discute-se muito a interação entre os diversos fármacos mas pouco se avalia alguns parâmetros FC e FD essenciais ao objetivo de obter indução suave e condições de plano anestésico suficiente para os estímulos da laringoscopia/intubação e da incisão cirúrgica sem ocorrência de alterações hemodinâmicas concomitantes. A escolha do fármaco, da dose e do modo de administração em bolus ou por infusão, assim como a seqüência temporal dos fármacos intravenosos usados na indução deve ser feita em um contexto de seus atributos. Daí o termo sugerido: indução contextualizada. Neste particular, t ½ ke0 e Emax são dois atributos peculiares a cada fármaco e que devem ser levados em consideração ao planejar a indução. ke0 define a rapidez com que a concentração plasmática (Cp) se equilibra com a concentração na biofase (Cbio). t ½ ke0 define a metade deste tempo. O efeito máximo do fármaco (E max) é obtido após um tempo necessário para que seja atingido o ponto de equilíbrio Cp=Cbio. Estes dois atributos, t ½ ke0 e Emax, permitem definir a seqüência racional de administração dos fármacos para que todos exibam seus efeitos máximos simultaneamente. A tabela abaixo mostra tais atributos para alguns fármacos de uso comum. Serve como guia para a administração seqüencial dos fármacos intravenosos de modo racional. Convém lembrar que todo esquema teórico, baseado em dados populacionais, sofre o impacto da variabilidade individual e das condições clínicas dos pacientes exigindo avaliação ininterrupta dos efeitos clínicos para bem ajustar a dose a cada paciente. T1/2 ke0 Emax 1 1,2 Alfentanila 0,9 1,4 Tiopental 1,5 1.7 Propofol 2,5 2,2 4 2,8 Remifentanila Midazolam Fentanila Sufentanila 4,7 3,6 3 5,6 A indução contextualizada deve obedecer os dados apresentados na tabela, além de levar em conta a variabilidade individual e as interações medicamentosas. O fármaco com maior latência para Emax deve ser administrado em primeiro lugar seguido pelos fármacos com Emax respectivamente de menores latências, de tal forma que os efeitos máximos de todos sejam obtidos no mesmo momento. Desta forma, manobras como laringoscopia e incisão cirúrgica serão efetuadas no momento ideal de Emax simultâneo. Por exemplo, quando se elege a sufentanila e o propofol a seqüência correta de administração deveria ser: sufentanila 5,6 minutos antes do seu Emax (momento para laringoscopia/intubação) e propofol 3,4 minutos após, para proporcionar os 2,2 minutos necessários para o seu Emax. A seqüência temporal 32º CONGRESO ARGENTINO DE ANESTESIOLOGIA - MENDOZA 2003 Indução Intravenosa Contextualizada Dr. Carlos Parsloe - Hospital Samaritano. São Paulo, SP Brasil regrada é: sufentanila no momento 0 e propofol no momento 3,4. A soma de 3,4 com 2,2 dá os 5,6 minutos necessários para os Emax simultâneos. Não é razoável proceder à intubação sem ter aguardado os 5,6 minutos necessários para a exibição do Emax da sufentanila, que comanda a seqüência. A indução não contextualizada, pela inobservância dos tempos e das seqüências, para todos os fármacos, explica a ocorrência de episódios de hipertensão arterial e taquicardia que podem acompanhar a intubação traqueal realizada antes de aguardar o tempo necessário para os Emax simultâneos. Todo esquema ideal de dose e modo de administração refere-se à obtenção de um dado efeito em cada paciente específico e não simplesmente à obtenção de uma dada Cp. O efeito depende da obtenção da Cbio eficaz e por este motivo existe uma defasagem temporal obrigatória entre Cp e Cbio na dependência do tempo necessário para que seja atingido o ponto de equilíbrio entre as duas concentrações. A concentração no local de efeito, Cbio, é impossível de ser medida mas pode ser inferida pela Cp, capaz de ser medida em condições especiais de investigação clínica. Por este motivo, é conveniente deixar de pensar em termos de doses habituais em mg/Kg e passar a pensar em termos da Cp obtida, em ng/ml ou ug/ml. A indução contextualizada deve ainda mais avaliar a conveniência de administrar as doses em bolus ou por meio de infusão. A velocidade de administração nos dois casos deve obedecer à avaliação do efeito em cada paciente. Atualmente, a disponibilidade de bombas de seringa computadorizadas, incorporando programas farmacocinéticos, representa um avanço significativo na indução contextualizada. Já existem tais bombas para propofol, sufentanila e remifentanila. Os atributos farmacocinéticos da remifentanila são tão favoráveis que seu uso mediante bombas específicas praticamente pode ser dispensado na indução mas faz-se mais conveniente ao término da infusão, possibilitando manter o efeito analgésico sem comprometimento respiratório. Referências usadas: 1. Vuyk J, Engbers F and Groen-Mulder S. Editors. On the Study and Practice of Intravenous Anaesthesia. Kluwer Academic Publishers, 2000 2. Vianna PTG. Estudo farmacocinético dos opióides: modelo tricompartimental. Sufenta News Ano III, Nº 3, 2002. Janssen-Cilag Farmacêutica Ltda. Infoc. Código R-664915/1 32º CONGRESO ARGENTINO DE ANESTESIOLOGIA - MENDOZA 2003