INTRODUÇÃO A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

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Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Geografia da População – Professor: Tibério Mendonça
INTRODUÇÃO A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO
Aspectos teóricos e metodológicos da geografia da população
Onde vivem as pessoas e por que vivem ali? Quantas e que tipo de pessoas vivem nas
diferentes partes do mundo?
Qual o sentido que têm estes padrões de distribuição por certas áreas? Estas questões
excitaram a curiosidade das pessoas pensantes desde há muito tempo. Hoje, quando as viagens
são muito mais frequentes e sabemos muito mais sobre o mundo e os povos do que antes, é
natural que estas perguntas se repitam com mais insistência. Devemos procurar as respostas não
só para satisfazer uma curiosidade casual, mas o que é muito mais importante, para resolver
problemas populacionais críticos – e também por causa da distribuição estratégica que as
respostas darão a questões científicas mais amplas. Se definirmos, provisória, e algo
imperfeitamente, a Geografia da População como a ciência que trata dos aspectos espaciais da
população, então não será difícil mostrar que sua investigação pode fornecer fatos e ideias de
grande importância tanto para o demógrafo – o estudioso da natureza e do comportamento das
populações – como para o geógrafo, o estudioso da natureza dos lugares.
A Geografia da População pode ser definida com precisão como a ciência que trata dos
modos pelos quais o caráter geográfico dos lugares é formado por um conjunto de fenômenos
de população que varia no interior deles através do tempo e do espaço, na medida em que
seguem suas próprias leis de comportamento, agindo uns sobre os outros e relacionando-se com
numerosos fenômenos não demográficos. “Lugar”, neste contexto, pode ser um território de
qualquer extensão, desde alguns hectares até a superfície inteira da Terra. Em termos mais
breves, o geógrafo da população estuda os aspectos espaciais da população no contexto da
natureza global dos lugares.
O propósito essencial dessa matéria é bem mais amplo e profundo que a tarefa
elementar de estabelecer onde as pessoas vivem, seu número e tipo. Como em todos os demais
campos da Geografia, o mero “onde” das coisas não pode ser aceito como uma definição
suficiente do campo e do propósito da Geografia da População.
Entender o perfil da população de um país é fundamental par o delineamento de políticas
públicas nas áreas de saúde, educação, habitação e sistema previdenciário, bem como para a
elaboração de análises, estudos e prognósticos sobre o desenvolvimento demográfico e
socioeconômico da nação.
Para traçar esse perfil populacional, são realizados os censos demográficos, pesquisas
detalhadas e abrangentes por meio dos quais são levantados informações referentes ao número
total de habitantes, à distribuição da população pelo território, à porcentagem de acesso da
população aos serviços capazes de assegurar saúde e bem-estar, entre outros.
Graças a esse fluxo de informações, que foi se tornando mais complexo e rico nas últimas
décadas, passa a ser possível compreender os movimentos e processos estruturais da sociedade.
À medida que o tratamento de dados foi se especializando conceitual e metodologicamente e
que o progresso técnico criou ferramentas de tratamento e recuperação de dados mais
adequadas, tornou-se possível uma maior desagregação dos níveis de análise – ou seja, um
detalhamento mais preciso, que constitui uma ferramenta essencial à realização de intervenções
na forma de políticas públicas localizadas.
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Um dos aspectos primordiais no estudo das populações é o estudo das dinâmicas
demográficas. Para isso, é preciso considerar o crescimento vegetativo, ou crescimento natural
da população. Este pode ser medido pela diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de
mortalidade de determinada população. A taxa de natalidade geralmente é expressa pelo
número de nascimentos para cada mil habitantes, em determinado período; a taxa de
mortalidade, por sua vez, é expressa em número de óbitos para cada mil habitantes. Quanto
maior for a diferença entre essas taxas, com valores positivos em favor do contingentes de
nascimentos – ou seja, se nascerem mais pessoas do que morrerem –, maior será o crescimento
vegetativo da população.
A dinâmica demográfica também considera a taxa de fecundidade, que indica o número
médio de filhos por mulher em idade fértil numa dada população: se a taxa de fertilidade for
igual a 2,1, considera-se que houve reposição populacional; se for superior a esse número, a
população cresceu; e, se for inferior, a população diminuiu.
O estudo da população é fundamental para podermos verificar a realidade quantitativa e
qualitativa da mesma. Para governantes em especial, é de fundamental importância pois,
permite traçar planos e estratégias de atuação, além de poder desenvolver um planejamento de
interesse social.
A população deve ser entendida como um recurso na medida em que representa mão de
obra para o mercado de trabalho, soldados para a defesa nacional, dentre outras coisas.
O ramo do conhecimento que estuda a população chama-se Demografia, portanto o
profissional da área é o demógrafo.
Demo- povo; Grafia- estudo, ou seja, Demografia é o estudo do povo/população. A
demografia é um estudo que engloba desde estudos individuais e dependentes até projetos do
governo em relação à população, como o IDH. Ao definir sua política (governo) tem duas opções:
estimular ou dificultar novos nascimentos. Medidas como complementação salarial para auxílio
aos pais que têm mais filhos ou aumento de impostos para os jovens de uma certa idade que
ainda não tenham filhos, podem ser chamadas natalistas, pois estimulam o aumento da taxa de
natalidade. Por outro lado, quando o governo sobretaxa o imposto para pais que têm mais filhos
ou desenvolve políticas diretas de controle da natalidade como liberação do aborto ou
distribuição de anticoncepcionais, está optando por uma política antinatalista.
Os primeiros assentamentos humanos eram dependentes da proximidade de água e,
dependendo do estilo de vida daquele grupo, outros recursos naturais, tais como terras aráveis,
para a prática da agricultura e criação de animais herbívoros, e presença de populações de
animais selvagens para a caça. No entanto, graças a grande capacidade dos seres humanos de
alterar o seu próprio habitat através de métodos como a irrigação, o planejamento urbano, a
construção de abrigos, o transportes de suprimentos e pessoas, a fabricação de mercadorias, a
agricultura e a pecuária, a proximidade de assentamentos humanos a fontes de recursos naturais
tornou-se desnecessária e, em muitos lugares, esse fator já não é uma força motriz no
crescimento ou declínio de uma população. A maneira pela qual um habitat é alterado muitas
vezes é fator determinante na evolução demográfica humana.
A tecnologia permitiu ao homem colonizar todos os continentes e adaptar-se a
praticamente todos os climas. Nas últimas décadas, os seres humanos têm explorado a
Antártida, as profundezas dos oceanos e o espaço exterior, embora a longo prazo a colonização
desses ambientes ainda seja inviável. Com uma população de mais de seis bilhões de indivíduos,
os seres humanos estão entre os mais numerosos grandes mamíferos do planeta. A maioria dos
seres humanos (65%) vive na Ásia.
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Alguns conceitos demográficos são fundamentais para a análise da população, abaixo
iremos elencar alguns:
População absoluta: População absoluta (é o número total de habitantes de um lugar (país,
cidade, região, etc.). Quando um determinado lugar possui um grande número de habitantes,
dizemos que ele é populoso ou de grande população absoluta; quando possui um pequeno
número de habitantes, dizemos que é pouco populoso ou de pequena população absoluta.
No entanto, ao considerarmos a qualidade de vida da população, esses conceitos devem
ser interpretados com atenção. Um país não oferece melhores ou piores condições de vida aos
seus cidadãos simplesmente pelo fato de se apresentar pouco ou muito povoado. Os Países
Baixos, apesar de terem uma alta população relativa (430hab/km²), possuem estrutura
econômica e de serviços públicos que atende às necessidades dos seus cidadãos. Já o Brasil, com
uma baixa população relativa, tem muitos problemas na área social por causa da carência de
serviços públicos, de empregos com salários dignos, de habitação etc. Nesse contexto, em última
instância, o que conta é a análise das condições de existência da população, e não apenas a
análise demográfica desprendida da realidade.
A população mundial hoje é de cerca de 6.914.946.101. Os dez países mais populosos do
mundo são:
1º. China: 1.336.310.750 de habitantes
2º. Índia: 1.186.185.625
3º. Estados Unidos: 311.114.784
4º. Indonésia: 234.342.422
5º. Brasil: 190. 732.694
6º. Paquistão: 166.961.297
7º. Bangladesh: 161.317.625
8º. Nigéria: 151.478.125
9º. Rússia: 141.780.031
10º. Japão: 127.938.000
Densidade demográfica ou população relativa: corresponde a média de habitantes por
quilômetros quadrados. Podemos obtê-la através da divisão da população absoluta pela área.
Quando a população relativa de um local é numerosa dizemos que esse local é muito povoado.
População absoluta
Área
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Apesar de ser bastante difundida e utilizada, saber a densidade de um país é uma
informação bastante vaga. Por se tratar de uma média, a partir dela nada podemos concluir a
respeito da distribuição efetiva da população do país pelo território.
Superpovoamento: corresponde a um descompasso entre as condições socioeconômicas da
população e à área ocupada. Isso quer dizer que, superpovoamento não depende apenas da
densidade demográfica, mas principalmente das condições de vida da população. Alguns países
com grande densidade demográfica podem não ser considerados superpovoados, enquanto
outros com densidade baixa assim o podem ser classificados. Um país pode ser superpovoado
mesmo que apresente baixa densidade demográfica.
Os Países Baixos (386hab/km²), a Bélgica (336hab/km²) e o Japão (341hb/km²), apesar de
serem países densamente povoados, não são considerados superpovoados, visto que suas
populações apresentam elevado nível de desenvolvimento socioeconômico e de bem-estar
social, considerando a área ocupada. Em contrapartida, a Índia, que apresenta densidade
semelhante (312hab/km²), é um país superpovoado, em virtude do insuficiente nível de
desenvolvimento econômico e tecnológico de sua população.
Recenseamento ou censo: corresponde á coleta periódica de dados estatísticos dos habitantes
de um determinado local.
No Brasil os recenseamentos são feitos de 10 em 10 anos, o último foi feito em 2010, pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), órgão estatal, apresentou uma população de
190.732.694.
Taxa de natalidade: corresponde à relação entre o número de nascimentos ocorridos em um ano
e a população absoluta, o resultado em geral é expresso por mil.
N.º de nascimentos X 1000 = taxa de natalidade
População absoluta
Exemplo: se num país cuja população total é de 20 milhões de habitantes nasceram em um ano
600 mil pessoas, temos:
600.000 x 1.000 = 30‰
20.000.000
Portanto, dizemos que a taxa de natalidade do país é de 30‰ (30 por 1.000), ou seja, em
um ano nasceram 30 crianças vivas para cada grupo de 1.000 habitantes.
A natalidade é ligada a vários fatores como, por exemplo, qualidade de vida da
população, ou ao fato de ser uma população rural ou urbana.
As taxas de natalidade no Brasil caíram muito nos últimos anos, isso se deve em especial
ao processo de urbanização que gerou transformações de ordem sócio-econômicas e culturais na
população brasileira.
Taxa de mortalidade: corresponde a relação entre o número de óbitos ocorridos em um ano e a
população absoluta, o resultado é expresso por mil.
N.º de óbitos X 1000 = taxa de mortalidade
População absoluta
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Exemplo: se num país cuja população total é de 20 milhões de habitantes morreram em um ano
300 mil pessoas, temos:
300.000 x 1.000 = 15‰
20.000.000
Assim, dizemos que a taxa de mortalidade do país é de 15‰ (15 por 1.000), ou seja, em
um ano morreram 15 habitantes para cada grupo de 1.000 habitantes.
Assim como a natalidade, a mortalidade está ligada em especial a qualidade de vida da
população analisada. Devemos observar que essa é a taxa de mortalidade geral e que, além dela,
existe a taxa de mortalidade infantil.
Mesmo prescindindo de variações sociais, nos países onde prevalecem camadas mais
jovens da população, esses índices têm significado bastante diferente. Uma maior população
jovem significa uma inflexão para baixo das taxas de mortalidade, frente a países onde a
população mais velha prevalece.
Predominância de população jovem é encontrada nos países menos desenvolvidos. Na
década de 1960, na América Latina, menores de 15 anos chegaram a ser de 45 a 50% do total
populacional.
Em Os Trabalhadores, Eric J. Hobsbawm, analisando o padrão de vida inglês de 1790 a
1850 utiliza as taxas de mortalidade como índice social. Embora com reservas, esse indicador
seria sensível aos padrões de vida da população. Portanto, revelaria, com sua queda, melhoras
nesse padrão, no começo da industrialização.
Hobsbawm reconhece que a variação do índice não é linear, da mesma forma que não o é
a dos padrões de vida. Em seu exemplo, as taxas de mortalidade caíram marcadamente entre
1780 e 1810, subiram daí em diante até 1840, e voltaram a cair nas décadas de 1870 e 1880. No
intervalo em que a mortalidade subiu, os problemas de desemprego teriam se intensificado.
Crescimento vegetativo ou natural: corresponde a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa
de mortalidade.
C.V. = natalidade - mortalidade.
Exemplo: se um país apresenta taxa de natalidade de 30‰ e taxa de mortalidade de 10‰, seu
crescimento vegetativo será de 20‰ (ou 2,0%).
C.V. = 30 – 20 = 10‰
Quando um local apresenta taxa de natalidade maior que a de mortalidade, a população
cresce, e vice-versa. Se duas taxas se igualarem, a população permanecerá estável, apresentando
crescimento zero ou nulo.
O crescimento vegetativo corresponde a única forma possível de crescimento ou redução
da população mundial, quando analisamos o crescimento de áreas específicas temos que levar
em consideração também as migrações.
O crescimento vegetativo brasileiro encontra-se em processo de diminuição, mas já foi
muito acentuado, em especial nas décadas de 50 à 70, em virtude especialmente da
industrialização.
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Taxa de mortalidade infantil: consiste nas mortes de crianças durante o seu primeiro ano de
vida é a base para calcular a taxa de mortalidade infantil que consiste na mortalidade infantil
observada durante um ano, referida ao número de nascidos vivos do mesmo período.
Muitos autores consideram que a taxa de mortalidade infantil é especialmente sensível
aos dramas sociais vividos pela população. Essa taxa é calculada multiplicando-se por mil o
número de crianças com menos de um ano, que morreram em determinado ano, e dividindo
pelo número de crianças nascidas vivas, nesse mesmo ano.
Mortalidade das crianças com menos de um ano x 1000
crianças nascidas vivas
Exemplo: se um país apresenta taxa de mortalidade infantil 10 mil e o nº de nascidos vivos foi de
5 milhões, temos
10.000 x 1000 = 2‰
5.000.000
Portanto, dizemos que a taxa de mortalidade infantil nesse país é de 2‰ (2 por 1.000), ou
seja, em um ano a taxa de mortalidade infantil foi de 2 para cada grupo de 1.000 nascidas vivas.
Taxa de fecundidade: corresponde a média de filhos por mulher na idade de reprodução. Essa
idade vai dos 15 aos 49 anos, o que faz com que em países como o Brasil, onde é comum
meninas abaixo dessa idade terem filhos, ela possa ficar um pouco distorcida.
Na década de 70 a taxa de fecundidade no Brasil era de 5,8 filhos por mulher, em 2009
esse número caiu para 1,94. Isso reflete a mudança que vem ocorrendo no Brasil em especial
com a urbanização e com a entrada da mulher no mercado de trabalho, que tem contribuído
com a redução significativa da taxa de natalidade e por consequência da taxa de fecundidade.
Expectativa de vida: corresponde a quantidade de anos que vive em média a população. Este é
um indicador muito utilizado para se verificar o nível de desenvolvimento dos países. A
expectativa de vida do mundo é de 67,2 anos.
No Brasil a expectativa de vida nas últimas décadas tem se ampliado. A expectativa de
vida do brasileiro é de 73, as mulheres viviam em média 77 anos, enquanto os homens 69,4
anos, esse aumento na expectativa também se deve a melhorias na qualidade médico sanitária
da população em virtude do processo de urbanização.
Os dez países de maior expectativa de vida são:
1. Japão 82,6
2. Islândia 81,8
3. Suíça 81,7
4. Austrália 81,2
5. Espanha 80,9
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6. Suécia 80,9
7. Israel 80,7
8. França 80,7
9. Canadá 80,7
10. Itália 80,5
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Crescimento da população
A população mundial conheceu ao longo da História períodos de brusco crescimento. A
revolução neolítica (10000-5000 a.C.), com o desenvolvimento da pecuária e da agricultura e a
passagem do nomadismo para a vida sedentária, elevou até 80 milhões o número de habitantes.
Desde o início do século XVIII, uma nova explosão demográfica, ligada à Revolução Industrial,
provocou um incremento no número de habitantes, até então desconhecido.
Desde a antiguidade, o crescimento populacional é tema de reflexão para muitos
estudiosos que se preocupam com o equilíbrio entre a organização da sociedade, a dinâmica
demográfica e exploração dos recursos naturais.
Na China, há mais de mil anos, textos apontavam as vantagens do que era considerada a
quantidade ideal de pessoas para manter um hipotético equilíbrio entre disponibilidade de terras
e a população local, indicando que o governo deveria incentivar as migrações de zonas muito
povoadas para outras com menor densidade de ocupação. Na Grécia antiga, Platão e Aristóteles
advertiram, como fez Malthus na Inglaterra muitos séculos depois, que seria possível aumentar
as áreas de cultivo na mesma velocidade do crescimento populacional, o que tenderia a
aumentar os níveis de pobreza e a escassez de alimentos ao longo das sucessivas gerações.
Somente a partir do século XVIII, com o desenvolvimento do capitalismo, o crescimento
populacional passou a ser estudado como um fato positivo, uma vez que, quanto mais pessoas
houvesse, mais consumidores também haveria. Nessa época, foi publicada a primeira teoria
demográfica de grande repercussão, formulada pelo economista inglês Thomas Robert Malthus
(1766-1834).
Os historiadores calculam que no ano 1 da Era Cristã o número de habitantes de nosso
planeta era de aproximadamente 250 milhões. O número de 500 milhões de pessoas só foi
atingido em 1650; de 1 bilhão, em 1850; de 2,5 bilhões, em 1950; e de 5 bilhões, em 1987. Em
dezembro de 2002, a população da Terra pulou para cerca de 6,2 bilhões de pessoas. Em 2011 a
população corresponde a 6,9 bilhões de habitantes.
Como se vê, o ritmo de crescimento demográfico intensificou-se com o tempo, embora
recentemente venha declinando um pouco. Assim a população mundial, que chegou a levar 1650
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anos para duplicar, dobrou novamente em apenas 37 anos – de 1950 a 1987. Alguns autores
chamam esse crescimento recente de “explosão demográfica”. Outros preferem falar em
“transição demográfica”.
Explosão demográfica é o aumento elevado e repentino da população de seres humanos.
É frequentemente associada a avanços tecnológicos, tendo a maior delas ocorrido no século XX
da era cristã.
O aumento brusco da população leva a um aumento também brusco do território
ocupado, e tem alguns efeitos ambientais e econômico-sociais catastróficos, daí a comparação
com uma explosão.
As explosões demográficas são observadas em duas situações:
 A introdução de novas tecnologias que reduzam a mortalidade (aumento na produção de
alimentos ou cura de doenças importantes);
 Em períodos de guerra ou grandes calamidades, em que a sobrevivência da sociedade
está ameaçada, registra-se importantes aumentos das taxas de natalidade. Neste caso, a
"explosão" também é chamada de baby boom.
Antes da Era Contemporânea, não era comum a contagem populacional, mas os
pesquisadores sabem com relativa certeza que houve algumas explosões demográficas em certos
pontos do globo:
 Com a Revolução Agrícola, na transição do período Paleolítico para o Neolítico(c. 8000
a.C.);
a descoberta da metalurgia, na Idade dos metais (c. 3500 a.C.), que deu início à Revolução
Urbana;
 Durante a Idade Média europeia (c. século XI), com a introdução de novas técnicas
agrícolas que sustentaram o revigoramento do comércio e das cidades.
Todas estas mudanças estão relacionadas ao aumento da produtividade agrícola, e
portanto à maior oferta de alimentos. É bem sabido que o ser humano, quando bem alimentado,
tem o sistema imunológico fortalecido, resistindo melhor a doenças e vivendo por mais tempo.
Como a taxa de natalidade, regida por outros fatores, se mantém estável, o resultado é o
aumento do número de seres humanos vivos.
Contudo, até o século XIX, a mortalidade ainda era extremamente elevada para os
padrões atuais, pois a humanidade não tinha recursos suficientes para combater grande parte
das doenças.
As grandes descobertas do século XX, como a penicilina, as vacinas, os antibióticos, a assepsia
das mãos e dos ferimentos, diminuíram bruscamente o índice de mortalidade. Como a
natalidade não foi reduzida, o resultado foi o aumento do crescimento vegetativo. Por volta de
1930, a população mundial atinge 2 bilhões de pessoas, sendo 100 milhões na Europa. Mais
tarde, houve uma repetição do que ocorreu na Europa nos países considerados
subdesenvolvidos.
Estudar a população é imprescindível para compreender como os seres humanos e suas
atividades econômicas têm provocado profundas alterações no planeta. Emergem muitos
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questionamentos sobre o crescimento desenfreado da população e sua distribuição irregular,
principalmente quanto aos problemas decorrentes das enormes desigualdades sociais.
Transição demográfica
Segundo a teoria da transição demográfica, o crescimento populacional se daria em fases,
o período anterior a transição ou pré-transicional, conhecido como regime demográfico
tradicional, seria aquele no qual as taxas de natalidade e mortalidade seriam elevadas, fazendo
com que o crescimento vegetativo fosse pequeno. A grande ruptura com esse período começa a
se dar nos países desenvolvidos com a Revolução industrial, já nos subdesenvolvidos isso ocorre
apenas em meados do século XX. O período posterior a transição ou pós-transicional, chamado
de regime demográfico moderno, se daria quando as taxas de natalidade e mortalidade
baixassem. Devido ao fato de que as taxas de mortalidade caem primeiro que as de natalidade,
durante a transição viver-se-ia um período de intenso crescimento populacional, chamado de
explosão demográfica, processo pelo qual passam ainda hoje vários países subdesenvolvidos.
A tendência é que a população mundial cessará de crescer acentuadamente somente por
volta do ano 2050. Esse fato decorre da transição demográfica. No período ou ciclo de transição
demográfica, o crescimento da população passa por três fases fundamentais. Os países
desenvolvidos já realizaram sua transição demográfica, estando, portanto, na terceira fase, ao
passo que os subdesenvolvidos, a grande maioria, só deverão completá-la por volta do ano 2050
ou até mais tarde.
Primeira fase ou fase do crescimento lento: Dos primórdios da humanidade até o final do século
XVIII, aproximadamente, embora a natalidade tenha sido elevada, a taxa de mortalidade
também era bastante alta, o que explica o baixo índice de crescimento demográfico desse
período. A expectativa ou esperança de vida, portanto, era baixa. A elevada mortalidade era
decorrente principalmente das precárias condições higiênico-sanitárias, das epidemias, das
guerras, da fome, etc.
Segunda fase ou crescimento rápido: Caracterizada por elevadas taxas de natalidade e baixas
taxas de mortalidade, nesta fase ocorre grande crescimento da população. Atualmente, a
maioria dos países subdesenvolvidos encontram-se nessa fase.
Na Europa ocidental, o sucesso da Revolução Industrial contribuiu para a melhoria das
condições higiênico-sanitárias, médico-hospitalares e alimentares e no combate às epidemias,
reduzindo a mortalidade de forma gradativa. Entretanto, a natalidade permaneceu elevada
durante quase todo o século XIX, o que explica o grande crescimento populacional da Europa
nesse período.
Após a Segunda Guerra Mundial o mundo assistiu a mais espetacular explosão demográfica de
todos os tempos, em apenas 55 anos, a população mundial que era de cerca de 2,2 bilhões de
habitantes, pulou para mais de 6 bilhões.
Terceira fase ou fase de baixíssimo crescimento demográfico ou estagnação: Nessa fase
caracterizada pela ocorrência de baixas taxas de natalidade e de mortalidade, resultando em
baixíssimo crescimento e até mesmo em estagnação do crescimento populacional, a transição
demográfica encontra-se concluída. Atualmente estão nessa fase os países desenvolvidos, a
maior parte deles com taxas de crescimento muito baixas, geralmente inferiores a 1%, nulas e
até negativas.
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Nos países subdesenvolvidos tem ocorrido uma transformação na estrutura familiar, na
qual vários fatores contribuem para que as mulheres tenham menos filhos.
O crescimento futuro da população é difícil de prever. As taxas de natalidade estão a
diminuir em geral, mas variam muito entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento.
As taxas de mortalidade podem mudar inesperadamente devido a doenças, guerras e
catástrofes, ou avanços na medicina.
Para tentar conter o elevado aumento populacional já estão tomadas e estudadas certas
medidas. É necessária a expansão de serviços de alta qualidade de planejamento familiar e saúde
reprodutiva. As gravidezes indesejadas ocorrem quando os casais que não querem ter uma
gravidez não usam nenhum método para regular eficazmente a fertilidade. Uma das prioridades
de vários governos dos países em vias de desenvolvimento deve ser oferecer aos casais e a
pessoas individuais serviços apropriados para evitar tais gravidezes.
Deve-se também divulgar mais informação sobre planejamento familiar e aumentar as
alternativas de métodos anticoncepcionais, nos casos em que tal seja legal.
É também muito importante a consciencialização do público sobre os meios existentes
para a regulação da fertilidade e o seu valor, da importância da responsabilidade e da segurança
na prática de relações sexuais e a localização dos serviços. Deverão ser criadas condições
favoráveis para várias famílias pequenas.
Importa também aumentar a escolaridade, especialmente entre as adolescentes.
Melhorias na situação econômica, social e jurídica das jovens e das mulheres poderão contribuir
para aumentar o seu poder de negociação, conferindo-lhes uma voz mais forte nas decisões
relacionadas com os aspectos reprodutivos e produtivos da família.
Distribuição geográfica da população
A desigual distribuição da população explica-se pela conjugação de fatores (naturais,
históricos e socioeconômicos) que favorecem ou restringem a ocupação dos territórios. Fatores
físicos ou naturais: áreas favoráveis à ocupação humana, chamadas de ecúmenas, e áreas
desfavoráveis à concentração populacionais, anecúmenas. Entre as áreas mais favoráveis estão,
por exemplo, as planícies (concentrando mais da metade da população mundial); Fatores
históricos e econômicos: a expansão colonizadora do século XVI, a Revolução Industrial na
segunda metade do século XVIII, promoveram grande urbanização nestas áreas.
O ecúmeno não seria explicado apenas por fatores naturais, mas também históricos. Ele
se deveria, no interior do meio geográfico, como obra humana. Neste sentido, o
desenvolvimento da civilização industrial, permitindo uma produção crescente, seria fator de
acréscimo da habitabilidade do globo. (Sujeito a contradições em face da concentração dos
lucros, que tem como consequência reduzir o acréscimo paralelo da população. Trata-se da
questão da superpopulação e do desemprego.
Podemos dizer que atualmente a distribuição desigual da população pela superfície do
planeta depende muito mais de fatores históricos e econômicos do que dos fatores naturais. A
modernização e a revolução tecnicocientífica permitiram superar grande parte das limitações
naturais, levando a humanidade a conquistar espaço antes inabitáveis.
Se a população dispõe de técnicas suficientes para superar as adversidades apresentadas
pelo ambiente, a influência dos fatores naturais tende a diminuir. Assim, mesmo áreas de difícil
ocupação (desérticas, com relevo montanhoso, etc.) são integradas ao processo produtivo,
atraindo população e investimentos em infraestrutura. Além disso, o grande crescimento da
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população em países subdesenvolvidos torna algumas dessas regiões as mais altas densidades
populacionais do planeta.
As atividades econômicas podem acarretar maior ou menor concentração populacional.
Por exemplo, as atividades industriais costumam ser responsáveis por grandes concentrações
populacionais.
As áreas de agricultura com mecanização intensa e de pecuária extensiva, apresentam
baixas densidades, pois essas atividades requerem pequena quantidade de mão-de-obra por
área.
Há desigualdades na ocupação dos continentes. Até meados do século XX, por volta de
2/3 dos habitantes da Terra estariam concentrados em 1/7 da superfície do globo. Apesar da
variação dos dados a respeito desta desigualdade, era unânime sua concentração na Europa,
China e Índia.
Calcula-se que no início deste século XXI, a cada ano, mais de 80 milhões de pessoas
passam a habitar a Terra, uma população equivalente à da Alemanha. A maioria será pobre e
viverá principalmente na África, na Ásia ou na América Latina. São nessas regiões que estão
situados os países de maior crescimento demográfico do mundo.
A distribuição da população mundial ocorre de forma desigual, havendo grande diferença
no contingente populacional dos continentes. Veja a população referente a cada um deles:
África: 1,008 bilhões de habitantes
América: 925,2 milhões de habitantes
Antártica: 4 mil habitantes (no verão) e 900 habitantes (no inverno)
Ásia: 4,115 bilhões de habitantes
Europa: 749,0 milhões de habitantes
Oceania: 36,6 milhões de habitantes
Portanto, o continente com maior concentração populacional é a Ásia (4,1 bilhões de
habitantes), correspondendo cerca de 65% da população mundial.
A África é o segundo continente mais populoso, tal fato se deve ao alto índice de
crescimento populacional dos países que a integram (2,1% ao ano). Sua população só não é
maior em virtude da baixa expectativa de vida, caracterizada como a menor do planeta. De
acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 21% da população
mundial habitará a África em 2050.
A Europa, que já representou 21% dos habitantes da Terra, atualmente, possui apenas
10,7%, sendo que a tendência é diminuir a cada ano, pois o continente já apresenta taxa de
crescimento populacional negativo.
A América, por sua vez, apresenta crescimento populacional de 1% ao ano, sendo que
essa taxa é maior se considerarmos apenas os países latino-americanos. Os Estados Unidos e o
Canadá possuem crescimento populacional de 0,9%.
As Teorias Demográficas
Thomas Robert Malthus publicou na Inglaterra seu Primer Ensayo Sobre La Población (O
Ensaio sobre o Princípio de População), no ano de 1798, e esta obra tornou-se uma referência
para o estudo da demografia no século XIX. Em sua essência o texto tinha como preceito o fato
de que a produção de alimentos crescia em Progressão Aritmética (PA), ou seja, (2,4,6,8...) e a
população mundial crescia em Progressão Geométrica (PG), ou seja (2,4,8,16,32...). Sabe-se que
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o crescimento em PG é muito mais rápido que o em PA, portanto, para Malthus, tal tendência
demográfica seria responsável pela situação de fome de parte da população. No entanto tais
preceitos são absolutamente falsos e a teoria do economista, portanto, também o é.
Crendo na exatidão de seus preceitos, o também religioso apresentou o problema à
sociedade em sua obra e nela também propôs soluções. Dentre elas destacam-se várias formas
de controle da natalidade como a abstinência sexual, o casamento tardio (pressupõe-se o sexo
liberado apenas após o matrimônio) e o celibato. Nota-se que todas as propostas são permeadas
de alguma forma por um caráter religioso que Malthus impôs ao seu discurso pretensamente
científico. Cabe considerar que além dos crescimentos da produção de alimentos e populacional
não ocorrerem em PA e PG respectivamente, a teoria malthusiana não vislumbrou as
transformações intensas que o processo de produção agrícola sofreu e que elevaram sua
produtividade. Hoje o mundo produz alimentos suficientes para alimentar quase o dobro da
população mundial, e a fome persiste. Onde está o erro?
Na distribuição desigual, é claro.
Malthus, em sua primeira versão do princípio de população, polemiza com os chamados
socialistas utópicos – Condorcet, Godwin, Wallace – cujas obras, de modo geral, propunham uma
sociedade igualitária como alternativa à situação de miséria vivida. Segundo ele, a causa
verdadeira dessa miséria humana não era a sociedade dividida entre proprietários e
trabalhadores, entre ricos e pobres. A miséria seria, na verdade, um obstáculo positivo, que
atuou ao longo de toda a história humana, para reequilibrar a desproporção natural entre a
multiplicação dos homens – o crescimento populacional – e a produção dos meios de
subsistência – a produção de alimentos.
Por trás dessa constatação estaria uma lei natural: a do crescimento da população num
ritmo geométrico e dos produtos de subsistência num ritmo aritmético.
A miséria e o vício são obstáculos positivos ao crescimento da população. Eles
reequilibram duas forças tão desiguais.
Em outras palavras, o crescimento natural da população, que é determinado pela paixão
entre os sexos, excede a capacidade da terra para produzir alimentos para o homem. A
dificuldade da subsistência exerce uma forte e constante pressão restritiva, sentida em um
amplo setor da humanidade: os mais pobres ficam com a pior parte e a menor parte, convivendo
com a fome e a miséria.
A miséria para Malthus, é, portanto, necessária. Ela aparece na fome, no desemprego, no
rebaixamento dos salários; então, ela mata, ela faz adoecer, ela reduz o número de matrimônios,
pois será mais difícil sustentar os filhos (obstáculo preventivo ou “obrigação moral”). Por outro
lado, ela incita os cultivadores a aumentar o emprego da mão-de-obra disponível, a abrir novas
terras ao cultivo, a re-harmonizar a relação população/recursos.
Ao se ampliarem os meios de subsistência, invariavelmente a população volta a crescer,
e, assim, os pobres vivem um perpétuo movimento oscilatório entre progresso e retrocesso da
felicidade humana.
Uma sociedade igualitária estimularia nascimentos, dessa forma estendendo a todos a
pobreza. A luta pela sobrevivência, nessas condições, faria triunfar o egoísmo. Malthus discorda,
inclusive, da assistência do Estado aos pobres, considerando-a nefasta, porque diminuindo a
miséria a curto prazo, favorece o casamento e a procriação dos indigentes.
Já no século XX o fenômeno da explosão demográfica contribuiu para que surgissem
novas teorias relacionadas ao crescimento populacional. As primeiras teorias associavam o
crescimento demográfico à questão do desenvolvimento e propunham soluções antinatalistas
para os problemas econômicos enfrentados pelos países subdesenvolvidos. Ficaram conhecidas
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como teorias neomalthusianas, por serem catastrofistas e por apontarem o controle
populacional como única saída. Mas, ao contrário de Malthus, os neomalthusianos eram
favoráveis ao uso de métodos anticoncepcionais e propunham a sua difusão em massa nos
países do mundo subdesenvolvido.
Com intuito de justificar a desigualdade da Divisão Internacional do Trabalho (DIT). Na DIT
Clássica os países centrais exportavam produtos industrializados para os países periféricos e
recebiam matérias-primas destes. A enorme diferença no valor das produções desses dois
grupos de países manteve as riquezas concentradas nos países industrializados e altamente
desenvolvidos. A relação comercial dos países periféricos é desvantajosa, pois eles compram
produtos caros e vendem produtos baratos e essa situação limita as possibilidades de
desenvolvimento desses países. Para mascarar esse processo é que surge a Teoria
Neomalthusiana.
Ela afirma que os países periféricos são pobres, pois sua população é muito grande e
consome seus escassos recursos. É fácil acreditar nessa ideia quando se compara o Reino Unido
ou a Alemanha com a China ou com a Índia. Os países europeus altamente desenvolvidos
possuem populações muito menores do que a destes países asiáticos, que apresentam quadros
sociais péssimos com altos níveis de pobreza. Mas se compararmos Brasil e Estados Unidos,
vemos que o nível de desenvolvimento norte-americano é maior e sua população também. Ou
seja, o problema não está no tamanho da população brasileira e sim na desigualdade, no abismo
econômico que separa esses dois países.
É semelhante ao que se diz das famílias pobres com muitos filhos. Se uma família tem
renda média de um salário mínimo e é formada por dez filhos, a família é pobre. E se uma família
com a mesma renda tiver apenas um filho? Será pobre também, pois um salário mínimo é pouco
para a sobrevivência de uma pessoa, quanto mais de uma família com pai, mãe e um filho. O
problema é ter muitos filhos? Não. O problema é a família não ter acesso a renda. É claro que as
condições de vida tendem a piorar com mais pessoas, mas, se for atingido um certo ponto de
pobreza, não faz diferença se há um filho ou dez. Todos terão condições péssimas de
sobrevivência. A única diferença é que temos mais pessoas sofrendo pela miséria.
O discurso neomalthusiano impõe aos países pobres a culpa pela própria pobreza e
esconde os limites impostos pela DIT injusta ao desenvolvimento deles. E ainda propõe um forte
controle de natalidade, o que estimulou, inclusive, o envio de equipes técnicas preparadas para
ensinar o planejamento familiar e praticar cirurgias de esterilização feminina. Sabe-se que em
alguns casos tais cirurgias eram feitas sem o consentimento das pessoas, das famílias. Algo
imposto, violando as liberdades pessoais e o direito de escolha. É para criticar essa visão
neomalthusiana e suas recomendações que surge a teoria reformista, cujo preceito principal é a
ideia de que a DIT injusta é responsável pelo subdesenvolvimento.
Os argumentos convincentes dos neomalthusianos foram desfeitos pela dinâmica
demográfica real. Os países que tiveram quedas acentuadas em suas taxas de natalidade foram
aqueles cujas conquistas econômicas estenderam-se à maioria dos habitantes, na forma de
maior renda e melhoria do padrão cultural. A história comprovou que havia uma inversão no
pensamento neomalthusiano. A redução do crescimento populacional não é o ponto de partida
para a conquista do desenvolvimento social e econômico, mas o ponto de chegada.
Essa dinâmica demográfica já havia sido apontada pelos reformistas, que destacavam as
conquistas socioeconômicas como responsáveis pela redução das taxas de crescimento
populacional. Para os reformistas, uma melhor distribuição de renda e o maior acesso à cultura e
à educação podem modificar os padrões de crescimento e promover a melhoria da qualidade de
vida das pessoas.
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Outra visão antinatalista surgiu com alguns ecologistas já no final da década de 1960, com
a publicação do livro A bomba populacional de Paul Ehrlich. Mas esses ecologistas não se
limitaram à questão demográfica para discutir as ameaças dos problemas ambientais.
Ressaltaram o papel negativo do consumismo da população dos países desenvolvidos e,
portanto, a necessidade de transformação do modelo econômico do mundo atual.
No final dos anos sessenta, paralelamente à emergência da ecodiplomacia, que visa
discutir entre os países as questões de caráter ambiental, surge o Ecomalthusianismo. Essa teoria
foi defendida pelo Clube de Roma, formado por cientistas, economistas e funcionários
governamentais de alto escalão, e baseia-se na ideia de que o sistema global é formado por
recursos finitos em acelerado processo de desgaste diante do crescimento populacional e das
demandas produtivas do mundo contemporâneo. A lógica é que quanto maior é a população,
maior o consumo dos recursos naturais.
Tendo em vista tal lógica, o Clube de Roma propôs o controle da natalidade nos países de
maior crescimento populacional - leia-se países da América Latina, África e Ásia. Além disso,
propôs uma mudança estrutural da economia que deveria passar de uma economia de produção
para uma economia de serviços. E é exatamente quando recomenda o controle da natalidade
nos países pobres que a teoria perde sua lógica, pois deve-se considerar as desigualdades no
padrão de consumo entre os países centrais e os periféricos.
Tomemos por exemplo a questão da água, que é um recurso estratégico. A Organização
Mundial de Saúde recomenda o consumo diário de 80 litros por pessoa/dia para ingestão,
higiene pessoal e doméstica, e para o preparo de alimentos. No Quênia o consumo médio é de 5
litros por pessoa/dia, a mesma média de água utilizada diariamente pelos norte-americanos para
lavar carros e regar jardins. Sabe-se que o crescimento vegetativo da população do Quênia é
bem maior do que o dos Estados Unidos, mas será que foi esse crescimento que gerou tamanha
diferença no consumo de água entre os dois países?
Não. A infraestrutura implementada e o desperdício norte-americano é que elevam o
consumo por pessoa/dia de sua população. Portanto não é necessário controlar a natalidade no
Quênia, pois não é lá que está o consumo excedente. Deve-se reduzir, todavia, o desperdício da
sociedade norte-americana. Mais uma vez o problema não é demográfico.
Ou seja: Malthusianismo, Neomalthusianismo e Ecomalthusianismo são teorias
demográficas que impõem as responsabilidades sobre a fome, o subdesenvolvimento e o
desastre ambiental mundial, respectivamente, sobre as famílias e países pobres, e defendem que
são estes que devem controlar suas taxas de natalidade. No entanto, esquecem-se de avaliar a
desigualdade existente na distribuição dos recursos alimentares, financeiros e no consumo dos
recursos naturais, que é alto nos países centrais e limitado nos países periféricos. A questão
resolve-se, portanto, ao se compreender que é a distribuição desigual dos recursos que gera tais
diferenças entre os países.
Referências Bibliográficas
DAMIANI, AMÉLIA LUISA. População e Geografia. São Paulo: Contexto, 1991.
ZELINSKY, WILBUR. Introdução à Geografia da População. São Paulo: Zahar, 1969.
GEORGE, PIERRE. Geografia da População. São Paulo: Bertrand Brasil, 1991.
PACHECO, M. V. Explosão demográfica e crescimento do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1974.
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