Surto de intoxicação por abamectina em bezerros recém

Propaganda
Surto de intoxicação por abamectina em bezerros recém nascidos no
município de Várzea Grande, Mato Grosso
Arruda, F.P., Dias, G.B.G., Ducatti, K.R., Caldeira, F.H.B., Moraes, L.G., Cardoso, K.G.M., Soares, L.C.M., Colodel, E.M.
Autor correspondente: [email protected] (Colodel, E. M.). Universidade Federal de Mato Grosso. Av. Fernando
Correia da Costa, 2367- Bairro Boa Esperança - Cuiabá, MT. Cep. 78068-900, Brazil.
PALAVRAS CHAVE: Avermectinas, mortalidade, bovinos.
INTRODUÇÃO: A abamectina é um dos principais antiparasitários utilizados em animais de produção, devido ao
amplo espectro de ação e margem de segurança [3]. A abamectina geralmente não tem efeitos tóxicos nos
animais quando utilizada na dose recomendada (0,2 mg/Kg) pois apresenta alto peso molecular e não atravessa
facilmente a barreira hemato-encefálica (BHE) para atuar no Sistema Nervoso Central (SNC). Entretanto o uso
equivocado da abamectina em bezerros no Brasil têm resultado no aparecimento de surtos de intoxicação
iatrogênica com consequentes mortalidades. Surtos de intoxicação têm sido reportados em bezerros no Pará, Rio
Grande do Sul, Maranhão, Paraíba e Mato Grosso do Sul [5]. O objetivo deste trabalho foi relatar um surto de
mortalidade em bezerros recém-nascidos tratados com o antiparasitário em uma propriedade rural localizada no
município de Várzea Grande, Mato Grosso.
MATERIAIS E MÉTODOS: Uma propriedade de pecuária de corte, com aproximadamente 3000 animais criados
sob manejo extensivo e inseminação de matrizes foi acometida por um surto de mortalidade em bezerros. Foi
realizado acompanhamento clínico-epidemiológico através da obtenção do histórico de evolução da intoxicação
e das mortalidades ocorridas. Um bezerro macho com características fenotípicas da raça nelore, com 3 dias de
idade foi necropsiado e amostras de encéfalo, pulmão, coração, fígado, baço, rins e intestinos foram coletadas,
fixadas em formalina a 10%, processadas rotineiramente para exame histopatológico e analisadas em
microscopia óptica.
RESULTADOS: No dia do nascimento dos animais era administrado a dose de 1 ml de solução injetável a base de
abamectina a 1% de longa ação por via subcutânea em dose única nos bezerros. Um dia após a aplicação da
solução de abamectina os animais apresentaram apatia, sialorréia e ataxia, indo a óbito em um período de três a
quatro dias. Dos nove animais que adoeceram apenas um se recuperou, sendo encaminhado ao Hospital
Veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso para tratamento sintomático de suporte. Dos animais que
morreram, um foi submetido a exame de necropsia. Não foram observadas alterações macroscópicas e
histológicas significativas.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO: Este surto de mortalidade de bezerros na zona rural do município de Várzea Grande
se assemelha ao descrito por Riet-Correa [6] em 2007, referindo-se aos primeiros casos de intoxicação
iatrogênica por abamectina no Brasil, que ocorreram imediatamente após o lançamento das abamectinas no
mercado. Nessa época recomendava-se a administração de 0,2mg/Kg de ivermectina em bezerros recém
nascidos para evitar miíase do umbigo. Quando as abamectinas foram lançadas no mercado muitos produtores
utilizaram estas drogas em lugar das ivermectinas causando morte de numerosos bezerros de menos de três dias
de idade. Da mesma forma que o surto ocorrido em Capitão Poço, PA, onde morreram 10 bezerros recémnascidos após a administração de abamectina na dose de 1ml por animal, independentemente do peso [5].
Levando-se em consideração a média de peso ao nascer de bezerros da raça nelore de 32,42 Kg [4], a dose de 1ml
é em média 1,5 vezes a dose recomendada de abamectina. Normalmente as doses recomendadas desta
substância não causam intoxicação, porém qualquer espécie pode ser afetada se a dose for alta o suficiente para
penetrar na BHE [6]. Dos nove animais que receberam o antiparasitário, apenas um se recuperou, provavelmente
devido a resistência individual à droga. Entretanto oito animais morreram recebendo dosagem de abamectina
próxima à dose recomendada o que demonstra a susceptibilidade de recém-nascidos ao fármaco [1] fato este
dado ao desenvolvimento incompleto da barreira hemato-encefálica [2]. A ausência de lesões nos tecidos é uma
característica dos casos de intoxicação por avermectinas [5,6] auxiliando no diagnóstico final e excluindo
possíveis outras causas de mortalidade nesses animais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1. Andrade S. F., Santarém V. A. Endoparasiticida e ectoparasiticida. In: Andrade, S. F. (ed) Manual de
Terapêutica Veterinária. 2.ed. São Paulo: Roca, 2002. p. 469-470.
2. Courtney C. H., Roberson, E. L. Chemotherapy of parasitic disease. Antinematodal drugs. In: Adams H. R.
(ed) Veterinary Pharmacology and Therapeutics. 7th ed. Ames: Iowa State University Press, 1995. p.
916-922.
3.
4.
5.
6.
Forbes A. B. A review of regional and temporal use of avermectins in cattle and horses worldwide. Vet
Parasitol. 48:19–28. 1993.
Jung, L. C. S. et al. Efeito da idade da vaca sobre peso ao nascimento e calculados aos 120 e 210 dias de
idade de um rebanho de bovinos da raça Nelore. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
ZOOTECNIA, 49., 2012, Brasília. Anais... Brasília: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2012. (CD-ROM).
Seixas, J. N. et al. Aspectos clínicos e patogenéticos da intoxicação por abamectina em bezerros Pesq. Vet.
Bras. 26(3):161-166, 2006.
Riet-Correa, F. Intoxicação por avermectinas e milbemicinas. In: Riet-Correa, F. et al (ed). Doenças de
Ruminantes e Equídeos. 3.ed. v.2. Santa Maria: Pallotti, 2007. p. 52-55.
Download