UMA SÍNTESE SOBRE A APRENDIZAGEM DE FILOSOFIA NA ATUALIDADE NOVAES, Flávio de, - EADCON [email protected] NEUBAUER, Airton, Filho-EADCON [email protected] Eixo Temático: Didática:Teorias, Metodologias e Práticas. Agência Financiadora: Não contou com financiamento Resumo Em uma sociedade super moderna, voltada para o consumismo desenfreado, fundamentada na busca do útil, como ensinar filosofia a um grupo de adolescentes que estão lutando em meio às pressões do vestibular? Este é o foco deste trabalho que objetiva delinear uma metodologia que alcance o propósito de trazer a filosofia para a realidade deles para assim desconstruir a visão que eles têm do que venha a ser a realidade. Um ensino que busque não como propósito, mas como conseqüência a formação de cidadãos que antes de criticar, saibam criar conceitos aprofundados e que percebam o real dentro do senso comum. Palavras-Chave: Filosofia. Aprendizagem. Metodologia. Didática. 1 Introdução Este trabalho tem por objetivo refletir sobre o ensino de filosofia dentro do contexto analisado por Gilles Lipovestky e definido como hipermodernismo, como os conceitos de hiperconsumismo e hiperfuncionalidade moldam o senso comum contemporâneo e como isto afeta o aluno e sua visão da filosofia enquanto estudo sistemático e contemplativo. A partir dos conceitos formulados por Obiols (2002) e Lipovestsky (2004)é que fundamentaremos as provocações e conclusões desta pesquisa, assim como uma tentativa de entender como a filosofia poderia alcançar o ideal do Ministério da Educação e Cultura como agente formador de cidadania e apresentar uma idéia de como o aluno enxerga a filosofia enquanto matéria de ensino médio. 8063 Também medita-se neste trabalho sobre como o pensamento utilitarista pode ofuscar o propósito da filosofia enquanto, parafraseando Merleau-Ponty, meio de “reaprender a ver o mundo”, e uma tentativa de aplicar um método ao seu ensino. Espero que este sirva de abertura para a discussão de qual é a importância do ensino de filosofia para o ensino médio. 2. Desenvolvimento da pesquisa 2.1 Atitudes do ensino de filosofia Lipovetsky (2004) levanta um conjunto de idéias para definir o que viria a ser o cerne do pensamento contemporâneo. Nesta série de argumentações ele levanta duas questões importantes, a exploração do mundo material e a importância da aparência através da moda. Lipovetsky (2004, p. 18) afirma ainda que: [...] do mesmo modo que os homens, no Ocidente moderno, se dedicam à exploração intensiva do mundo material e à racionalização intensiva das tarefas produtivas, eles afirmam, por meio do caráter efêmero da moda, o poder de iniciativa que têm sobre a aparência. Nos dois casos, afirma-se a soberania e a autonomia humanas que se exercem tanto sobre o mundo natural quanto sobre o âmbito estético. Ou seja, a luta do homem atual, assistida pela regulamentação proveniente da moda, seria de mostrar soberania e autonomia sobre o mundo natural e sobre sua aparência, não questioná-la ou pensá-la, mas dominá-la através da exploração técnica e de tecnologias. A questão não é mais ser, mas a aparência obtida através da moda. O ser humano deixa de ser “sapiens” para tornar-se “consumirecus”. Dentro desta perspectiva a velocidade da moda imporia uma necessidade de se transformar sem ter o tempo de se refletir no que se está transformando. O tempo exigido para se pensar no “ser” seria demais para uma geração decidida em “obter”. Nos tempos de informação imediata gastar tempo refletindo é sinônimo de perda de tempo. Dentro deste contexto temos a volta o ensino de filosofia no ensino médio, com a exigência de, transformar alunos em cidadãos. Seria esta a função da filosofia? Se esta o fora, como fazê-lo dentro de um contexto hipermoderno? 8064 Como tão bem afirma Gallo (apud KOHAN, 2004, p. 214): Admitir e adotar o sentido de uma educação filosófica como sendo a formação de nossos jovens para o exercício da cidadania consiste, a um só tempo, em trair a filosofia, promovendo não a sua afirmação, mas produzindo o seu desprezo, e em tomar a educação como uma “de-formação”, aos moldes do processo educativo do macaco de Kafka. Assim levanta-se a problemática sugerida neste projeto: Como desenvolver métodos de se criar conhecimento filosófico atraente e legítimo, enquanto agentes capazes de criar conceitos nos tempos atuais, sem reduzi-la a apenas uma utilidade única, a de formar cidadãos? De forma alguma este projeto tem por pretensão desenvolver um método último e permanente de como se ensinar filosofia. Antes, a intenção é de, analisando o contexto contemporâneo e os métodos propostos atualmente, levantar hipóteses que possam ser aplicadas de forma a provocar os alunos a discutirem problemas a partir de textos filosóficos recorrendo à história da filosofia e a criarem conceitos. Como afirma Obiols (2002, p. 122) Frente ao problema filosófico, o essencial é buscar possíveis soluções ou ao menos suas diferentes abordagens. Como nos encontramos com um grupo de estudantes, trata-se de discutir as possíveis “soluções” ou enfoques que surjam e mostrar suas possibilidades e limitações. O ensino de filosofia hoje é uma realidade, assim como é uma realidade a falta de profissionais que trabalhem em tal área ou tenham conhecimento de mecanismos e metodologias que os levem a uma empreitada bem sucedida. A aversão que muitos jovens têm pela idéia de terem de passar o ensino médio estudando algo que, ao ver deles, não trará resultado palpável para o seu futuro sucesso profissional já tem levantado debates dentro e fora das salas de aula. A idéia diminuta de que a filosofia serve para, apenas como uma de várias ferramentas, formarem cidadãos é a pregada pelos atuais Parâmetros Curriculares Nacionais de Ciências Humanas e suas Tecnologias. 8065 A necessidade de se buscar diferentes abordagens para um público diferenciado pela necessidade de se exprimir como únicos, regidos pela efemeridade e pelo paradoxo tornam a este presente projeto relevante. 2.2 Hiperconsumismo Carlos Drummond de Andrade, conclui seu poema “eu, etiqueta” desta forma: [...] por me ostentar assim, tão orgulhoso De ser não eu, mas artigo industrial, Peço que em meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é Coisa. Eu sou a Coisa, coisamente. Estrofe forte, de um poeta visionário que enxergou uma sociedade que abriria mão de sua identidade enquanto seres humanos para então, em nome da moda, serem “objetivados”. Com conotação parecida Lipovetsky (2007, p. 25) proclama o hiperconsumismo explicando-a de tal forma: [...] as indústrias e os serviços agora empregam a lógica de opção, estratégia de personalização dos produtos e dos preços, a grande distribuição empenha-se em políticas de diferenciação e de segmentação, mas todas essas mudanças não fazem mais do que ampliar a mercantilização dos modos de vida, alimentar um pouco mais o frenesi das necessidades, avançar um grau na lógica do “sempre mais, sempre novo” que o último meio século já concretizou com o sucesso que se conhece. [...]a nova sociedade que nasce funciona por hiperconsumo, não por “des-consumo”. Desta forma pode-se notar que a sociedade contemporânea tem como marca a valorização do consumo, o autor chega a sugerir o termo “homo consumirecus”, pois para cada celular mais moderno, carro novo, televisão cada vez mais fina, haverá um consumidor ávido para tê-lo e assim sentir-se mais completo, mais “moderno”. É dentro desta perspectiva que podemos chamar a hipermodernidade como o período de extrema liberalidade, caracterizada pela fluidez, pela flexibilidade, paradoxal e totalmente indiferente a princípios estruturais e voltada sempre para a idéia de novo. A tradição perde o seu peso para a curiosidade do porvir. 8066 O grande representante desta hipermodernidade seria o “Narciso”, não visto como no período da modernidade, mas agora transformado em uma figura com ares de maduro, responsável e paradoxal. Pois ao mesmo tempo em que anseia pelo novo, acha interessante colecionar coisas antigas, ao mesmo tempo em que louva “junkie food” sai no final de semana para comer em um restaurante de comida caseira (já não seria paradoxal o bastante sair de casa para comer comida caseira?) aparenta maduro, mas nega-se a sair dos limites da juventude ou da infância, responsável mesmo que vemos proliferar atitudes irresponsáveis, trotes violentos em primeiro anistas poderia ser um bom exemplo. É dentro deste contexto, com salas de aulas cheias de Narcisos hipermodernos, com professores também hipermodernos (afinal de contas, somos parte de nosso tempo) que os Parâmetros Curriculares Nacionais de Ciências Humanas e suas Tecnologias conclamam os professores de filosofia a formar cidadãos: A nova legislação educacional brasileira parece reconhecer, afinal, o próprio sentido histórico da atividade filosófica e, por esse motivo, enfatiza a competência da Filosofia para promover, sistematicamente, condições indispensáveis para a formação de cidadania plena! (BRASIL, 1997). Em que pese essa competência, entretanto, cumpre destacar que, embora imprescindíveis, os conhecimentos filosóficos não são suficientes para o alcance dessa finalidade. Aliás, constitui-se quase num truísmo pedagógico o afirmar que todos os conhecimentos, disciplinas e componentes curriculares da Educação Básica são necessários e importantes na formação de cidadania do educando. Nesse sentido, embora restaurando para a Filosofia o papel que lhe cabe no contexto educacional, a legislação tratou igualmente de indicar como se deve corretamente dimensioná-la no Ensino Médio: a rigor, portanto, o texto refere-se aos conhecimentos da Filosofia que são necessários para o fim proposto. Destarte, a fim de atender à demanda legal, devemos fazer um esforço para recortar, do vasto universo dos conhecimentos filosóficos, aqueles que imediatamente precisam e podem ser trabalhados no Ensino Médio, o que, convenhamos, não é tarefa fácil. Diminuir toda a Filosofia para apenas a formação de cidadãos (será que é esta a única função do pensamento filosófico?) é tão estranho quanto colocar em negrito para promovê-lo de forma sistemática e apenas com os conteúdos voltados á cidadania. A filosofia foi diminuída a instrumento de formação de cidadãos, ao invés de objeto de estudo complexo voltado a reaprender a ver o mundo através de realidades que desafiam o 8067 senso comum e assim formar pessoas com capacidade crítica, e ainda recebemos o convite de recortarmos o que acharmos necessário para fazê-lo! A Filosofia tem como característica ser sistemática, porém apenas impô-la desta forma, com apenas um objetivo e ainda recortada de sua realidade para “Narcisos hipermodernos” acostumados a ouvirem música, navegarem na internet, assistirem televisão falarem pelo telefone enquanto esperam o sinal do microondas (ou seja, vemos com este exemplo a hiperfuncionalidade do Narciso) ao mesmo tempo de forma totalmente assistemática me parece bastante infundado. É pedir para que a filosofia se torne apenas mais uma matéria afastada da realidade dos jovens que, com repúdio, apenas decorarão fórmulas para passarem de ano. Com este panorama que é proposto este trabalho monográfico, sem pretensão de ser mais um trabalho de metodologia de ensino, mas sim como uma contribuição para que o ensino de filosofia seja mais bem compreendido e melhor praticado por alunos e professores. 2.3. Síntese dos resultados obtidos na pesquisa Entre os 92 alunos que responderam as 6 questões e, levando em consideração o núcleo de cada pergunta, poder-se-ia chegar a tal análise: 83 alunos disseram que a filosofia tem algum tipo de utilidade, a maior parte das respostas deste grupo pode se exemplificar com a resposta abaixo transcrita: A partir que começamos estudar filosofia, vemos o mundo de um jeito diferente, aprendemos a questionar e a perceber coisas que antes nunca paramos para pensar e ver. Nove (9) alunos disseram que a filosofia não tinha nenhuma utilidade, como justificativa poderia citar estas colocações: “Não, por que eu acho que é uma coisa que eu não vou precisar no futuro”. “Não, por que são idéias ou conceitos diferentes do que realmente é verdade” Quanto à importância, 87 alunos disseram achar a filosofia importante no ensino médio enquanto 5 não viam o porquê de mais uma matéria. Em relação à crítica quanto à aula de filosofia, foram unânimes! Todos disseram de uma maneira ou de outra, que achavam as aulas muito teóricas e que gostariam que as aulas tivessem mais interatividade e fossem mais descontraídas (inclusive sugerindo filmes, músicas e vídeos do Youtube). 8068 Quarenta (40) alunos não vêem nenhuma vantagem em se estudar filosofia para o vestibular, enquanto 52 disseram que a matéria é importante por aprofundar o pensar levando a um complemento para outras matérias como história e literatura, assim como serve de auxílio para a produção da redação. Para estes alunos um professor de filosofia ideal tem que ter profundo conhecimento do assunto (conhecimento enciclopédico), ser claro, falar a linguagem deles, e principalmente, ser divertido. A última questão tratava da aula em si, e para os alunos uma boa aula de filosofia teria que conter prática (em detrimento da teoria), vídeos, música e principalmente não ser cansativa. Antes, pode-se dizer que a filosofia tem propósito e este propósito é criar conceitos. Como afirma Deleuze e Guattari (1992, p. 13):“O filósofo é o amigo do conceito, ele é conceito em potência. Quer dizer que a filosofia não é uma simples arte de formar, de inventar ou fabricar conceitos, pois os conceitos não são necessariamente formas, achados ou produtos. A filosofia, mais rigorosamente, é a disciplina que consiste em criar conceitos.” Portanto, os alunos colocaram que tinha uma utilidade tanto quanto os que colocaram que não tinha, estavam na verdade buscando na filosofia aquilo que todo o conjunto educacional tem refletido desde a segunda metade do século XX – a educação como tudo, deve trazer técnica, deve trazer poder de fabricação e de obtenção material, senão é inútil. Explica Obiols (2002): No mundo moderno, a necessidade de instruir e educar a grandes massas da população com o objetivo de proporcionar ma formação geral, preparar para o mundo do trabalho ou ainda para continuar estudos em nível superior levou a alguns a conceber os processos de ensino a partir de um ponto de vista técnico. Se não há produção técnica, é inútil, se é inútil não tem valor...será? Qual é a utilidade de um por do sol? Qual é a utilidade de um idoso ou de um índio? Qual é a utilidade do diferente? Dentro deste contexto não é de se espantar queimarem o próximo e depois justificarem que era brincadeira... Este é o papel da filosofia, questionar além das aparências utilitárias e, ao questionar, criarem conceitos que sobrepujam o senso comum. É ajudar e ser ajudado a voltar a se espantar, e não achar tudo óbvio e, pela pesquisa, percebe-se que enquanto educadoresfilósofos temos falhado neste intento, ao justificar a volta do ensino de filosofia com o 8069 objetivo de “formar cidadãos” também é impor uma utilidade que não é da filosofia, formar cidadãos é conseqüência de um sistema de ensino sadio como um todo, e não de uma vertente apenas do conhecimento. À utilidade esperada pelos alunos, notou-se também a busca pelo “professor-show”, a aula tem que ser divertida, tem que ter entretenimento, não pode ser cansativo, nos chama a atenção a colocação de Lipovetsky (2007, p. 63): O hiperconsumidor é aquele que espera o inesperado nos ambientes mercantis programados, que busca universos “loucos” ou feéricos, experiências e espetáculos sempre mais alucinantes. Ele quer afogar-se em um fluxo de sensações excepcionais, movendo-se num espaço-tempo fun, teatralizado, desprovido de todo risco e desconforto. A lógica do consumo é um tanto simples, “pago a escola, logo devo aprender coisas úteis de forma divertida”, e as sugestões seguem – filmes, vídeos, músicas, sites com emoticons - de uma forma que não cause cansaço, porém podemos questionar: O que de valor e de propósito se agrega à vida sem suor e esforço? Será que aprender é apenas um exercício narcísico de experimentação voltada ou prazer? São estes questionamentos que, ao criar conceitos, dever-se-ia questionar-se em uma aula de filosofia. O que nos leva à pergunta final desta conclusão: Como poderia ser uma aula de filosofia? Os três passos metodológicos sugeridos Obiols (2002) nos parecem ser bastante lúcidos e atentos a realidade dos alunos atuais. A questão levantada por Obiols (2002) seria a de aprender filosofia - história da filosofia e seus pensadores de forma sistemática e aprender a filosofar - criar conceitos, soluções ou indagações a novos problemas. A questão, segundo Obiols (2002, p. 121), seria: No primeiro momento, o do início, trata-se de colocar um problema ou questão filosófica que será objeto de consideração; a colocação do problema é responsabilidade fundamental do professor, é uma proposta de trabalho que deve incluir as ações necessárias para que os estudantes façam seu esse problema ou questão filosófica: trata-se de problematizar o problema, de provocar a perplexidade e despertar o interesse frente àquilo que será objeto de tratamento. Neste primeiro momento entrariam filmes, músicas, vídeos, referentes ao problema proposto para chamar a atenção dos alunos e então lhes causar o espanto (no sentido filosófico – aquilo que clama por uma justificativa, contemplação) necessário para então discutir, pensar, refletir (sendo este o segundo momento) para se criar, buscar possíveis soluções ou 8070 enfoques que surjam e mostrem possíveis limitações ou possibilidades. “O segundo momento do desenvolvimento corresponde à necessária abstração filosófica. Frente ao problema filosófico, o essencial é buscar possíveis soluções ou ao menos suas diferentes abordagens.” (OBIOLS, 2002, p. 122). O terceiro momento seria o de criar os conceitos, trabalhá-los e documentá-los, como conclui Obilios: O terceiro momento, ou encerramento, é a etapa em que se volta ao concreto, recapitula-se o caminho percorrido, trata-se de fazer consciente até onde se chegou e que questões permanecem abertas, em que nos enriquecemos. É o momento de síntese, das instâncias de aplicação e de avaliação das aprendizagens e do ensino.(2002, p.124) Levando estes pontos em consideração, voltaríamos à problemática do trabalho “Como pode a filosofia manter seu propósito dentro de um contexto hipermoderno, utilitarista e voltado para o excesso de conteúdo?” e pensar um seguinte cenário: Levar, a título de discussão livre, o problema dos termos “cansativo”, “entretenimento”, “valor” e tentar chegar a uma essência destes conceitos que foram tantas vezes colocados nas respostas, poderíamos inclusive discutir algumas respostas e tentar chegar a um denominador comum. Colocar este problema enquanto uma questão filosófica seria fazer filosofia, seria não dizer “faça como eu faço”, mas enunciar “façamos juntos”, criando uma discussão, mesmo que eles neste primeiro momento não saibam, filosófica. No segundo momento propor uma busca na história da filosofia e em filósofos de quais caminhos poderia ser viáveis para propor uma alternativa para a problemática, delimitar e buscar possíveis soluções. O terceiro momento seria o de produzir uma síntese, a conclusão encima do discutido, tentar chegar ao consenso de que se pode produzir pensamento crítico sobre o fato aula, pensaria até em algo como “metaaula” já que seria uma seqüência de aulas de filosofia destinadas a pensar e produzir um ensaio filosófico sobre o que é a aula de filosofia. Assim podemos manter o propósito da filosofia, o de questionar sem encerrar a discussão, o de questionar e aceitar ser objeto de questionamento. Considerações finais 8071 Mostra-se dentro das considerações finais a questão do perigo de se atribuir uma utilidade à filosofia, a filosofia é justamente questionar o porquê de tudo ser útil, sua reflexão é justamente não se tornar utilitarista e utilitária, de certo modo o filósofo deve lutar pela “inutilidade” perene da filosofia. Esta busca por uma utilidade para a filosofia é perigosa, Sócrates, Platão e Aristóteles foram críticos de um grupo de pensadores contemporâneos que buscavam transformar a filosofia em um pensamento utilitário, estes pensadores eram conhecidos como sofistas. Pode-se inferir que para um educar real e construir uma filosofia que não caia em mero trabalho informativo utilitarista precisaram buscar alternativas que levem os alunos a, partindo de análise de problemas filosóficos e construções conceituais criados a partir de fontes da história da filosofia, entender o seu contexto atual através da problematização e buscarem a criar conceitos que lhes revelem propósitos além do que se acredita ser o fácil e divertido-o necessário. E a partir deste estudo o que eu pude aprender ser o necessário? Aprendemos que o necessário é, partindo do princípio que a filosofia é livre pensamento, entender o que subjaz o pensamento dos alunos pesquisados e, a partir do que cremos e que forma o senso comum, juntos, discutirmos e tentarmos chegar à essência do que o problema propõe e trabalhar conceitos que possam levar a um aprofundamento reflexivo. Neste sentido a pesquisa para a produção deste trabalho levou-nos á questionar o que é ensinar filosofia. Se é que filosofia em última instância se ensina, e pensar que na verdade ela não está para ser colocada como mero conteúdo informativo, mas aprendida com o aluno e construída dentro do contexto educacional, para então extrapolar a sala de aula e por conseqüência formar cidadãos-alunos e professores. REFERÊNCIAS BRASIL. MEC - Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: A Secretaria, 1997. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é filosofia?. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992. Coleção TRANS GALLO, Sílvio. O macaco de Kafka e os sentidos de uma educação filosófica. In: KOHAN, Walter (Org.). Políticas do ensino de filosofia. Rio de Janeiro: DP&A, 2004, Coleção Sócrates 8072 LIPOVETSKY, Gilles; A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. LIPOVETSKY, Gilles. Os tempos hipermodernos. São Paulo: Barcarolla, 2004 OBIOLS, Guillermo. Uma introdução ao ensino de filosofia. Ijuí. Unijuí, 2002. Coleção filosofia e ensino.