GEOQUÍMICA DAS ÁREAS FONTES E DOS SEDIMENTOS EM SUSPENSÃO NA BACIA DO RIO PIABANHA-RJ Carla Semiramis Silveiraa, Vitor Schwenck Brandãob, Alfredo Victor Bellido Bernedoc a Universidade Federal Fluminense,e-mail: [email protected]; bUniversidade Federal Fluminense ,email: [email protected]; cUniversidade Federal Fluminense,e-mail: [email protected] Palavras-chave: Sedimentos em Suspensão; Bacia do Rio Piabanha Introdução Os sedimentos em suspensão transportados pelos rios precisam de estudos que tenham informações confiáveis sobre suas fontes. Isto se valida pois através desses sedimentos podemos ter noção e elaborar estratégias eficazes para acompanhar sedimentos que estejam sendo poluídos e também para permitir uma melhor compreensão do transporte e erosão de uma bacia hidrográfica. O estudo das fontes dos sedimentos em suspensão é muito importante, pois segundo Walling et. al. (2002), podemos ter uma idéia e compreender a dinâmica da transferência dos sedimentos da bacia para a calha fluvial, ou seja, quais áreas serão mais influenciadas por agentes erosivos, quais terão uma maior ação antrópica. A produção de sedimentos em bacias hidrográficas vem sendo amplamente estudada ao longo dos anos através de processos erosivos (Costa 2003). Guerra et al. (1999) afirma que os processos erosivos são originados por agentes, como águas fluviais e pluviais (erosão hídrica), ventos (erosão eólica) e ondas que são uma mistura da erosão hídrica com a eólica. Segundo Yang (1996) as variáveis que controlam esta produção são, o índice pluviométrico, o tipo de solo, a geologia da área, o uso do solo, a topografia, as características destes sedimentos como a química e a mineralogia, e o tamanho e alinhamento dos canais de drenagem. No presente trabalho, foi proposto o estudo da mineralogia e da geoquímica dos sedimentos em suspensão da bacia (MPS) do rio Piabanha-RJ (figura 1), aonde cada ponto representou uma sub-bacia, juntamente com possíveis áreas fontes da região, como unidades litológicas, tipo de solo e uso do solo para compará-los com o MPS. Para auxiliar na discussão, foram usados métodos estatísticos multivariados com análise de componentes principais. A área da bacia do Rio Piabanha, está situada nos terrenos Ocidental, Oriental e Paraíba do Sul da Faixa Ribeira, aonde podem ser notadas rochas migmatizadas do Complexo Rio Negro (Tupinambá et al., 1996), estando inseridas neste contexto rochas granito-gnáissicas do Batólito Serra dos Órgãos (Barbosa e Grossi Sad, 1985). Figura 1: Localização da bacia do rio Piabanha-RJ Materiais e Métodos A amostragem do material particulado em suspensão (MPS) foi feita em paralelo com o trabalho de doutorado da aluna Renata Barbosa Alvim. Foram coletadas 42 amostras, sendo dessas 21 no período úmido (fevereiro de 2013) e 21 no período seco (agosto de 2013). Esses pontos foram escolhidos, pois drenam sub-bacias com diferentes litologias e diferentes tamanhos. O Material Particulado em Suspensão foi determinado por medida gravimétrica, segundo a metodologia descrita em APHA (2001). Os pontos PB representam o Rio Piabanha, os pontos PT representam o Rio Preto, o ponto FG representa o Rio Fagundes, os ponto PS e PN representam um o Rio Paraíba do Sul e Paraibuna respectivamente, os pontos PQ representam o Rio Paquequer, os pontos FR representam o Rio Frades, os pontos BG representam o Rio Bengalas e o ponto CS corresponde ao Rio Córrego Sujo. Para a caracterização mineralógica e geoquímica das rochas, foram coletadas 14 amostras de rocha sã, considerando as unidades litológicas presentes na bacia. Foram também usados alguns dados da literatura para efeitos de comparação. Através da descrição macroscópica das 14 amostras de rocha, 10 foram escolhidas para serem analisadas. Estas foram moídas através de britagem e posterior pulverização em moinho de bolas e também cortadas para a confecção de lâminas petrográficas. A análise química foi feita através da fluorescência de raio-x (FRX), mais especificamente num Espectrômetro de Fluorescência de Raio X com Energia Dispersiva (EDXRF). A análise mineralógica foi feita através da difração de raios X tanto o MPS como para as rochas moídas no difratômetro Bruker D8 Advance. A interpretação dos resultados obtidos nas análises mineralógicas foi feita através dos programas PCW23 e ORIGIN 7 em conjunto com consulta de tabelas de Brindley & Brown (1980). Os valores obtidos na análise de FRX foram examinados através do software Statistic 8.0, utilizando a técnica de análise de componentes principais (PCA) para as amostras de MPS nos períodos seco e úmido e para as amostras de rocha. Ainda foi feito uma caracterização espacial da bacia do rio Piabanha, através do software Arcgis 10.3 com dados do CPRM 2012. A análise espacial foi feita para calcular as áreas das principais litologias, tipo de solo e uso do solo encontrados nas sub-bacias. Resultados e Discussão As rochas das sub-bacias dos pontos PB01 e PB02 são dominadas pelo Complexo Rio Negro, a dos pontos PB03, PB04 e PB06 são dominadas pelo Serra dos Órgãos com contribuição das rochas do Complexo Rio Negro assim como as sub-bacias do Rio Paquequer (PQ14 e PQ15) O ponto FG07 é o único ponto que tem um domínio do Grupo Andrândia e da Unidade Arcádia Areal que são litologias diferentes dos granitos metamorfizados do Terreno Oriental, podendo indicar uma assinatura mineralógica e geoquímica diferente para os seus sedimentos, representando assim uma sub-bacia com características do Terreno Ocidental. As rochas que dominam as sub-bacias do rio Preto (PT05, PT11, PT12, PT13) são donimadas pelas Suítes Serra dos Órgãos e Cordeiro. Vale ressaltar que o PT11 apresenta também uma porcentagem considerável do Complexo Rio Negro e Suíte Nova Friburgo. Os pontos FR17 e FR18 apresentam uma maior presença da Suíte Nova Friburgo sendo consideradas as subbacias mais representativas dessa litologia. A sub-bacia do ponto BG19 é considerada a representativa da Suíte Cordeiro e Suíte Serra dos Órgãos. Os resultados da mineralogía do MPS mostraram que a gibbsita (Al(OH)3), caulinita (Al2Si2O5(OH)4) e quartzo (SiO2) estão presentes em todas as amotras. Isso pode ser interpretado pelo fato dos feldspatos, que são minerais bastante abundantes nas rochas, se intemperizarem mais facilmente, perdendo elementos como Na, K, Ca, deixando apenas em sua estrutura o alumínio hidratado e sílica, se alterando para argilominerais como a caulinita e a gibbsita. O quartzo é um dos minerais mais resistentes ao intemperismo por ser um mineral mais estável e ser um dos últimos na fase de cristalização. Os minerais do grupo dos feldspatos também são bastante abundante nas amostras analisadas, mas especificamente os k-feldspatos (KAlSi3O8) e os plagioclásios ((Ca, Na)Al (Al,Si)Si2O8 ). Possivelmente isso ocorre pelo fato das rochas presentes nessa região serem ricas em feldspatos e também pelo intemperismo nas regiões que apresentam esses minerais não ser tão intensa quanto nas que esses minerais não aparecem. A sub-bacia do rio Fagundes (FG07) tem uma alta taxa de erosão pois não apresenta nenhum feldspato na sua mineralogia. Já as subbacias PT11, PT12, PQ14 e PQ15 apresentam feldspatos tanto no período úmido como no período seco, sendo interpretadas assim com menor taxa de erosão. De uma forma geral as amostras analisadas no período seco de agosto de 2013 apresentam uma maior concentração de feldspatos se compararmos com o período úmido de fevereiro de 2013, ou seja, no período úmido ocorre uma erosão maior devido as épocas de chuva. A figura 2 mostra a análise estatística multivariada dos casos analisados, para os resultados geoquímicos, aonde os que estão em vermelho são os do período seco e os que estão em azul são os do período úmido. Podemos observar dois grupos distintos aonde o grupo que se encontra no 1º quadrante é influenciado pelos argilominerais, mais provavelmente a gibbsita, podendo ser caracterizado como um sedimento que sofreu mais ação do intemperismo. O segundo grupo que se encontra no 4º quadrante sofre uma influência maior da silíca e do k-feldspato, representando assim um sedimento que não sofreu tanta ação da erosão. Considerando a localização do PB02 a jusante da cidade de Petrópolis, adimite-se que assim como o PQ15, no período seco, (a jusante da cidade de teresópolis) são os pontos de maior influência antrópica. Estes apresentam-se isolados (outliers) em um sub-grupo na análise multivariada. Os pontos que se encontram no período úmido estão notavelmente, em sua maioria, a direita dos pontos no período seco indicando que eles tem maior afinidade com Al2O3 e SiO2. Isso pode ser considerado pelo fato dos seus sedimentos serem enriquecidos em minerais mais intemperizados como a gibbsita, sendo o período seco mais representativo dos tipos de uso dos solos enquanto que o período úmido representa a mineralogia e a litologia das rochas presentes na bacia. A figura 3 apresenta a distribuição dos elementos químicos pela análise multivariada. A distribuição de varáveis, mostra no 1º quadrante principalmente os elementos Al2O3 e TiO2. Ainda no 1° quadrante podemos perceber que nele se encontra o grupo com um alto teor de argilominerais (caolinita) e principalmente a gibbisita, por causa do alumínio que está ali. No 2° quadrante podemos observar os elementos ferro, cromo e arsênio e um pouco mais abaixo entre o 2° e 3° quadrantes P2O5, MnO e ZnO, que indicam uma fase mais afetada pela ação antrópica, uma área mais poluída (Von Sperling 1995). O As2O3 está bem próximo do Fe2O3 pois é adsorvido por ele (Rankama 1950), contribuindo para um zona mais poluída. No 3° quadrante notamos o CaO e o Na2O juntos. Isso se da pelo provável fato do grupo dos plagioclásios estarem presentes. O 4° quadrante mostra elementos com o SiO2, o K2O, o MgO e o Rb2O. A proximidade do K2O com o SiO2 pode ser explicado pela presença de k-feldspatos no sistema, e o MgO perto do SiO2 é por causa das biotitas presente nas amostras de rocha. O Rb2O próximo ao K2O se deve pelo fato dele substitui-lo, na estrutura dos minerais (Rankama 1950). Figura 2: Resultado dos casos analisados. Projection of the variables on the factor-plane ( 1 x 2) 1,0 TiO2 Ga2O3 Al2O3 Fe2O3 Cr2O3 As2O3 Factor 2 : 19,50% 0,5 Br 0,0 Y2O3 CuO SO3 P2O5 MnO ZnO Nb2O5 SnO2 MgO Agradecimentos BaO CaO Os principais minerais que contribuem para os sedimentos são os argilominerais, a gibbsita, o quartzo e o grupo dos feldspatos. Notavelmente o período úmido é mais representativo da mineralogia e das litologias encontradas na bacia e o período seco é mais representativo de efeitos antrópicos. Esta ação antrópica resulta na geoquímica do MPS dominada por P2O5, As2O3 e Fe2O3 secundário. As sub-bacias do rio Paquequer e do rio Piabanha são bastante influenciadas pela ação antrópica da cidade de Teresópolis e Petrópolis no período seco, porém no período úmido, com a diluição do MPS, ele acaba sendo mais influenciado pelos feldspatos da Suíte Serra dos Órgãos. As sub-bacias do rio Preto são dominadas por argilominerais no período úmido, mostrando-se bastante erodida nesse período e representanda por feldspatos intemperizados das Suítes Serra dos Órgãos e Cordeiro. No período seco essas sub-bacias são influenciadas pela área agrícola. A sub-bacia do rio Fagundes (FG07) é a bacia mais diferente sendo bastante influenciada pelos metassedimentos do Grupo Andrelândia. As sub-bacias do Frades e do Córrego Sujo, tem sua fonte nos k-feldspatos da Suíte Serra dos Órgãos representando assim as sub-bacias que menos são afetadas pela erosão e o intemperismo. Os Autores gostariam de agradecer a Fundação CNPq pelo apoio recebido. Na2O ZrO2 -0,5 Rb2O SiO2 SrO K2O -1,0 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 Active Factor 1 : 36,23% Figura 3: Resultado das variáveis analisadas O primeiro quadrante é interpretado como processos surpegênicos intensos com abundância em caolinita e gibbsita. O segundo quadrante é dominado por ações antrópicas com a presença de Fe2O3 e P2O5. O terceiro e o quarto quadrantes foram considerados o grupo dos feldspatos aonde mais perto do CaO e do Na2O temos o domínio dos plagioclásios (3º quadrante) e mais perto do K2O e da SiO2 temos o domínio dos k-feldspatos (4º quadrante). De forma geral o eixo das abscissas, que é o fator um, é explicado pela ação antrópica que se concentra no lado esquerdo com elementos como o Fe2O3, o P2O5, o As2O3, etc. E por uma área dominada por silicatos que se encontra no lado direito. Como elementos que comprovam isso podemos citar o SiO2, o Al2O3, o K2O e o MgO. O eixo das ordenadas, que é o fator dois, pode ser diferenciado pela parte de cima do eixo aonde se concentram os argilominerais e a parte de baixo do eixo aonde se encontram uma concentração maior de feldspatos e quartzo. Considerações Finais: A litologia da região tem um papel fundamental na produção dos sedimentos em suspensão, podendo ser observado mineralogicamente, que o quartzo e os feldspatos, principalmente os potássicos, tem forte influência sobre esses sedimentos. Geoquimicamente os principais elementos são o SiO2 e o Al2O3 e em áreas com alta malha urbana o P2O5. Referências Bibliográficas Apha. American Public Health Association. Standard methods for examination of water and wastewater. 20th ed. Washington, Port City Press. cap.1:34-38 p. 2001. Barbosa, A.L.M & Grossi Sad, J.H. Batólito granítico da Serra dos Órgãos, Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Contrib. Geol. Petrol. Núcleo de Minas Gerais, SBGM, 1985:49-61, 1985. Brindley, G.W. & Brown, G., eds. Crystal structures of clay minerals and their X-ray identification. London, Mineralogical Society, 495p., 1980. Costa, M. F. T. Avaliação hidrossedimentológica de uma pequena bacia em urbanização. 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