A IDENTIDADE AMAZÔNICA: CONFLITO CONSENTIDO. FERNANDES, Marcionila CLEMENTINO, Jurani RAMALHO, Ailson GONZAGA, Rebeca O objetivo deste trabalho é contribuir com o debate sobre a ecologização da Amazônia e seu significado na construção da identidade regional. Nossa hipótese é que a idéia de uma Amazônia pré-moderna fora aceita pela própria academia que recebeu acriticamente as nomeações do que viria ser a Região na perspectiva de governos e instituições governamentais e governamentais, principalmente de países centrais que formularam não as principais políticas de preservação e gestão dos recursos naturais como LBA e PPG7. Nesta perspectiva, os formuladores das referidas políticas consideravam a Amazônia quase primitiva. Tratava-se de uma região envolta pelos rios e matas e animais exóticos exuberantes, partilhados por seus guardiães –povos da floresta –, os extrativistas, os ribeirinhos e as populações indígenas. Hoje, alguns autores no campo das ciências sociais se dão conta de que esse debate secundarizara as complexidades regionais e seus arranjos sociais urbanos, como também todas as problemáticas das regiões de florestas. E que a Amazônia primitiva parece ser um mito o qual deve ser desfeito. O que nos leva a supor que essa construção fora permitida a medida em que grande parte da intelectualidade regional, adotou o discurso do presente – cujo projeto era construir uma Amazônia Ecológica em detrimento do debate sobre os problemas sociais e ambientais. No evento intitulado O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO E A AMAZONIA realizado pela Universidade Federal do Pará no ano passado um tema recorrente em vários GTs fora “A identidade amazônica e como somos percebidos”. Esse debate nos remeteu a construção recente da Amazônia enquanto região ecológica. Os peritos e estudiosos da região internos e externos, permitiram muitas vezes no plano acadêmico que a Amazônia fosse pensada como um grande oásis ambiental coberto por matas e habitados por animais exóticos os quais conviviam com Povos da Floresta”, extrativistas e populações indígenas. A ideia construída principalmente pelos agentes e formuladores da política ambietal global era de que vivíamos cercados pelas matas e rios vivendo do estrativismo numa relação direta com a natureza, subsumindo desta construção identitária a própria modernização da Amazônia, com sua zona franca e duas grandes metrópoles, cujos problemas não diferem daqueles vivenciados pelas principais metrópoles brasileiras. A ecologização da Amazônia, ou a Divisão Ecológica Internacional (Fernandes, 2000) como classifiquei esse processo também contribuiu para que o projeto identitário de caráter primitivista que coube a sociedade amazônica, contribuiu também para que os conflitos sociais se tornassem invisíveis O Debate sobre meio ambiente reduz a preocupação com questões como as desigualdades e conflitos sociais. A violência rural, que transformou a Região Amazônica, na década de oitenta na área mais violenta do Brasil perde. A própria morte de Chico Mendes, assassinado por fazendeiro envolvido na disputa por terras deixa de ser resultante dos conflitos sociais o que faz dele, morto, o grande mártir do movimento ecológico. A questão da pobreza dissolvia-se diante “das florestas em chamas” e do “desaparecimento de animais silvestres”. A crise ambiental planetária, neste momento, coloca novamente a Amazônia na agenda política internacional, como fora a tônica da sua história. Desta vez, diferente do que aconteceu num passado recente cujo projeto era desenvolver a Região a partir da destruição das florestas, precisamos preservar o ecossistemas amazônicos visando o bem ecológico da própria humanidade. A partir deste contexto, novas teias sociais são acionadas novos atores e espacialidades são ressignificados. A valorização dos povos tradicionais, dos seus habitats e de regiões ricas em recursos naturais, por exemplo, se explica a partir da necessidade de envolver novos atores na preservação dos estoques de capital natural. A região passa a ser identificada como Espaço Verde principalmente. As demais cores, como o vermelho do conflito se confina ao escritos não dominantes o marron das telhas das metropoles regionais tem pouca visibilidade. O cinza que vem dos grandes complexos industrias não é relevante no debate da Amazônia com megabiodiversidade, com maior volume de água, com maior patrimônio genético desconhecido do ocidente. Um arcarboço teórico de inspiração biológica tende explicar a Amazônia a partir do que eu chamo de divisão ecológica internacional. Se o ocidente desenvolvido, com a crise transforma-se num planeta que precisa ser salvo A Região é um grande ecossistema com capacidade de contribuir com sua “salvação”. A ideia de planeta se une à de ecossistema. Fica estabelecido, assim, um movimento de identificação dos problemas ambientais globais com base num intricado contexto político-cientifico. Redefinem-se interesses políticos econômicos e ecológicos tendo como parâmetro as políticas ambientais. A demarcação dos territórios, a partir dos seus potenciais ecológicos, considerados importantes para o denominado equilíbrio planetário, é o que dá forma a divisão ecológica internacional. Discutir a identidade regional significa compreender o conceito da região no seio da divisão ecológica internacional. Estudo que tem relevância hoje no pensamento social amazônico. O que nos leva a crer que os estudiosos da região passado o boom do ecologismo se distanciam cada vez mais de um discurso oficial sobre a região amazônica e sua identidade. Quando pesa sobre sua razão a forte conotação de uma Amazônia pré-moderna construída a partir de processos políticos exógenos. A construção da Amazônia ecológica, numa perspectiva científica, política ou econômica, como já falamos, é parte do redimensionamento das territorialidades, e novos papéis econômicos e ecológicos que os países e as regiões assumem. Bibliografia GIDDENS, A. (1991), As conseqüencias da modernidade. 4 ed. São Paulo: UNESP. ______. (1998), Política, sociologia e teoria social: encontros com o pensamento social clássico e contemporâneo. São Paulo: UNESP. ______. TURNER, J. (Orgs.). (1999), Teoria social hoje. São Paulo: UNESP. GLIGO, N. (1980), Notas sobre la história ecológica da América Latina. In: GIGLIO, N. Estilos de dessarollo y meio ambiente en América Latina. 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