conflito, dinâmica territorial e o fenômeno dos

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Janeiro/Junho 2015
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A Evolução da Ordem Internacional e os Emergentes: Uma Perspectiva
Geopolítica e de Economia Internacional
Marcela Tarter da Rosa
Resumo
Esse artigo tem como objetivo refletir sobre o sistema internacional atual sob a ótica da
economia política internacional e, nesse sentido, o papel dos emergentes, destacando-se a
China e o Brasil. É analisada a evolução da economia política internacional a partir da
construção de novos arranjos institucionais do pós-Segunda Guerra Mundial. Da mesma forma,
busca-se mostrar como essas questões transformaram as cartografias e o pensamento
geopolítico tradicional. Novas conjunturas, como a crise mundial de 2008, trazem modificações
na economia política internacional, com a emergência de novos países que contestam a ordem
internacional então vigente e exigem mudanças na estrutura institucional multilateral que
permanece nos moldes definidos no pós-Segunda Guerra Mundial.
Palavras-chave: Geopolítica, Organismos Multilaterais, Países Emergentes, China, Brasil.
Abstract
This article aims to reflect on the current international system from the perspective of
international political economy and, in this sense, the role of emerging countries, highlighting
China and Brazil actions. It analyzes the evolution of international political economy from the
construction of new institutional arrangements of the post-World War II. Likewise, it seeks to
show how these issues have transformed cartography and traditional geopolitical thinking.
New situations, such as the 2008 global crisis, bring changes in the international political
economy, with the emergence of new countries that challenge the present international order
and that require changes in multilateral institutional structure that remains in a post Second
World War manner established.
Keywords: Geopolitics, Multilateral Organizations, Emerging Countries, China, Brazil.

Mestranda em Estudos Estratégicos Internacionais (PPGEEI)- UFRGS. Bacharel em Relações Internacionais-UFRGS. Bolsista
FAPERGS. [email protected].
Recebido para Publicação em 02/12/2014. Aprovado para Publicação em 23/02/2015.
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INTRODUÇÃO
N
a primeira parte de desenvolvimento deste artigo são apontados alguns aspectos de
base teórica da geopolítica. Apresenta-se as concepções de alguns autores tradicionais,
como Ratzel e Kjellén, as contestações de Lacoste à geografia tradicional e as
percepções atuais sobre a geopolítica. Após, trata-se da evolução da economia política
internacional pós-2ª Guerra Mundial para entender que foi necessário à geopolítica ampliar
sua análise a outros aspectos, tais como a redefinição dos mapas a partir dos resultados
suscitados pela economia internacional. O aumento dos fluxos comerciais e financeiros cria
novas cartografias. O poder de um Estado parece ser mais representado pela sua expansão
econômica mundial - através do comercio, investimentos externos, transnacionais - do que por
uma expansão territorial. A economia e a política internacional tornaram-se mais próximas. A
liberalização comercial nos países em desenvolvimento e a atuação de instituições
multilaterais ajudam a definir esse cenário.
Porém, o que uma crise que atinge principalmente os países desenvolvidos em um momento
que novas economias emergem, como as asiáticas, em especial a China representa para esse
sistema? E, nesse sentido, como se desenvolve os questionamentos dos países emergentes a
essa ordem internacional? Em uma segunda parte deste artigo, tratar-se-á das novas dinâmicas
que se apresentam no estudo da economia política internacional. Em uma subparte apresentarse-á o caso específico do Brasil como economia emergente. Por fim, serão feitas as
considerações finais.
O ENTENDIMENTO DO SISTEMA INTERNACIONAL
GEOPOLÍTICA E ECONOMIA POLÍTICA INTERNACIONAL
A
PARTIR
DA
Friederich Ratzel é o primeiro expoente da geopolítica alemã (chamada de Geopolitik). Ele seria
conhecido pela teoria do espaço vital (lebensraum). O espaço territorial para Ratzel seria
fundamental para o entendimento da sociedade. Contestaria o fato de que: “A maior parte dos
sociólogos estuda o homem como se ele se tivesse formado no ar, sem laços com a terra.”
(RATZEL, 1982, p.93). Para ele, um Estado pode ter menos cidadãos e conservar o território, o
problema seria a redução do território, pois, esse representa, para Ratzel (1982, p.94), o
começo do fim. Dessa forma, o território seria, para ele, a principal fonte de poder e segurança
de um Estado.
Na constituição da Geopolitik, deve-se acrescentar, às ideias de Ratzel de necessidade de
expansão estatal, as concepções de Kjellén e Haushofer (autor central da Geopolitik). Kjellén
tinha uma visão unitária do Estado e acreditava que o mesmo comportar-se-ia como um ser
vivo. (FONT; RUFÍ, 2006, p.60 e 61). Em Haushofer, estão presentes os conceitos de espaço vital
e organicismo na ideia da relação indissociável entre território e raça. Haushofer, assim como
Kjellén, via como negativo para o país e para as pessoas as migrações e a urbanização (FONT;
RUFÍ, 2006, p.63).
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Yves Lacoste, geógrafo francês, reivindicou uma geografia com compromisso político. “Lacoste
atribui à geopolítica uma capacidade de mobilização que a geografia política dos anos setenta
não possuía, pois estava imbuída de um academicismo distanciado da realidade e de qualquer
vislumbre de sua implicação crítica.” (FONT; RUFÍ, 2006, p.90). Segundo Yves Lacoste (1929,
p.50):
O desenvolvimento desse processo de especialidade diferencial se traduz
por essa proliferação das representações espaciais, pela multiplicação
das preocupações concernentes ao espaço (nem que seja por causa da
multiplicação dos deslocamentos). Mas esse espaço do qual todo mundo
fala, ao qual nos referimos todo tempo, é cada vez mais difícil de
apreender globalmente para se perceber suas relações com uma prática
global.
Yves Lacoste critica o mapa representado pelos geógrafos tradicionais. Assinala as dinâmicas
de um espaço com mobilidade de pessoas, mercadorias, etc. Os espaços se sobreporiam,
Lacoste fala de conjuntos espaciais que se interceptam uns aos outros. Porém, ao contrário do
que defendeu Lacoste, de que a geografia seria a verdadeira geopolítica, os estudos geopolíticos
de hoje não se dão em uma única disciplina, mas a partir de um campo de estudos
interdisciplinares (VEZENTINI, 2012, p.11).
Foi nos EUA que a geografia politizou-se devido às dinâmicas da Guerra Fria na década de
1970. “Os anos oitenta iniciam-se, pois, marcados pela geografia radical na academia e pela
radicalização da Guerra Fria e do liberalismo na área social.” (FONT; RUFÍ, 2006, p.90).
Segundo Vezentini (2012, p.16), as geopolíticas clássicas foram, em geral, explicações da
importância estratégica de determinados territórios, da necessidade de expansão territorial
para o fortalecimento do Estado e aquisição de hegemonia. Porém, as novas geopolíticas
surgiram no final da Guerra Fria e não teriam mais o Estado como único ator.
No pós-Guerra Fria, a divisão do mundo entre um sul atrasado e um norte desenvolvido não
necessariamente dá-se pela Linha do Equador, mas pode-se observar um novo mapa sob a
ótica da economia política. Além disso, o poder na economia mundial através, por exemplo, da
gestão da moeda de reserva internacional no caso dos EUA e, mesmo, a possibilidade de
trasnacionalização da economia, demonstram que a visão tradicional da geopolítica que
atrelava o poder do Estado a terra é problematizada por uma globalização comercial e
financeira.
A economia internacional do pós-2ªGuerra Mundial apresentou transformações a partir da
construção de instituições multilaterais a nível regional e mundial. A ausência de instituições
multilaterais pode ser considerada um dos elementos da recessão econômica nos anos 1930.
Segundo Jeffry A. Frieden (2008), as políticas clássicas utilizadas antes da 1ª Guerra Mundial
eram inúteis ou contraproducentes para combater a crise originária do colapso do padrão ouro
devido a um cenário econômico distinto. As economias industriais teriam passado a ser
dominadas por corporações enormes, produção em massa, sindicatos trabalhistas mais fortes,
e sistemas políticos mais democráticos (FRIEDEN, 2008, p.212). Não houve por parte dos
governantes o estabelecimento de medidas, no período entre guerras, para estabilizar a
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economia, ou seja, a construção de um sistema financeiro internacional viável (RAVENHILL,
2008). As instituições multilaterais foram uma marca do período pós-1945. Tem-se, por
exemplo, com o acordo de Bretton Woods, o surgimento do Fundo Monetário Internacional e o
Banco Mundial. Neste período a economia internacional cresceu, porém a desigualdade
também. É marcante o crescimento exponencial das empresas transnacionais que se tornaram
o ator chave da globalização econômica (RAVENHILL,2008, p.18).
Segundo Ravenhill (2008), o campo da economia política internacional (EPI) surgiu nos anos
1970 em resposta aos desenvolvimentos da economia mundial, da segurança internacional e
do estudo de economia e das relações internacionais. A política e as assimetrias de poder
sempre estiveram presentes nas relações econômicas globais, porém, nos anos 1970, novas
turbulências incitariam mudanças nas regras fundamentais (RAVENHILL, 2008, p.21). O estudo
seria dividido em três categorias: liberalismo, nacionalismo e marxismo. Porém essa divisão é
ampla uma vez que existem grandes variações dentro de cada uma das categorias. Hoje o
estudo da EPI está focado mais na explicação dos acontecimentos do que em uma prescrição
política (RAVENHILL, 2008). Amanda Dickins (2006) argumenta que os acontecimentos do
pós-guerra teriam dado origem à EPI, enquanto que, o desenvolvimento da economia
internacional, no pós-Guerra Fria, teria produzido mudanças na mesma. “The end of the Cold
War smoothed the path for economic liberalization, enlarging the sphere of international
economic exchange and expanding the remit and membership of the institutions that facilitate
such exchange.” (DICKINS, 2006, p.481).
Os EUA e seus aliados construíram uma ordem política, econômica e estratégica, no pósSegunda Guerra, que teria sido concebida como uma solução aos problemas que levaram à
depressão econômica, em 1930, e à guerra; tal ordem ter-se-ia desenvolvido quase
independentemente da Guerra Fria (DEUDNEY; IKENBERRY, 1999, p.180). Segundo Deudney e
Ikenberry (1999, p.180), as principais características dessa ordem não poderiam ser
explicadas por teorias realistas de relações internacionais devido à existência de relações de
reciprocidade e o elevado grau de institucionalização e multilateralidade .
No passado, os países em desenvolvimento teriam sido vistos como exceções na economia
internacional e o estudo a respeito desses países estaria ligado ao conflito “norte-sul”. Ou seja,
restringir-se-ia à problematização da existência de um centro desenvolvido industrializado e
uma periferia atrasada produtora de produtos primários. No pós-Guerra Fria, esses países, não
pertencentes às economias industrializadas avançadas, tiveram de aderir às regras da
economia internacional que beneficiavam os países desenvolvidos (DICKINS, 2006, p. 490).
Segundo Dickins (2006, p.490), esse cenário estaria mudando e alguns países em
desenvolvimento já estariam conseguindo operar com essas regras, ou além das mesmas, com
novas estratégias e interesses.
Diversos países em desenvolvimento começaram a liberalização comercial, na década de 1980,
adotando políticas orientadas. Assim como, no mesmo período, muitos países em
desenvolvimento aderiram à Organização Mundial de Comércio (OMC) (MILNER, 1999, P.94).
Cristina Pecequilo (2008) relaciona a década de 1990 com a criação de uma “nova ordem
mundial” liderada pelos EUA e embasada na multilateralidade e atuação na ONU. Esse
momento de pós-Guerra Fria foi acompanhado por crises econômicas e sociais que emergiram
nos anos 1980 nos países subdesenvolvidos, além da fragilidades geradas por governos que
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passavam da ditadura à democracia (PECEQUILO, 2008, p.137). A situação econômica obrigouos a se dirigirem ao FMI e Banco Mundial por ajuda financeira em troca da abertura comercial.
Segundo Joseph E. Stiglitz (2002, p.279), houve uma dissonância entre aquele que foi o suposto
objetivo da criação do FMI - promover a estabilidade econômica global- e seus objetivos mais
novos – liberalização do mercado de capitais por exemplo. Dessa forma, o FMI serviu mais aos
interesses da comunidade financeira do que à estabilidade global (STIGLITZ, 2002, p.279). A
liberalização dos mercados de capitais foi defendida pelas instituições financeiras como
benéfica ao futuro dos países em desenvolvimento. Hoje, devido aos resultados, como afirma
Stiglitz (2002, p.301): “Quase todos os envolvidos na área de desenvolvimento, até mesmo os
pertencentes ao establishment de Washington, agora concordam que a rápida liberalização de
mercados de capitais sem uma regulação prévia pode ser perigosa.”.
Se, por um lado, o colapso do padrão ouro e a crise mundial em 1930 podem ter sido causados
por uma ausência de instituições fortes. O que teria posteriormente sido sanado pelos
organismos internacionais do sistema de Bretton Woods (1945). Por outro, a crise que se
iniciou em 2008 agrava a necessidade de reformas dessas instituições, demanda discutida em
grupos como o BRICS. A criação de instituições multilaterais no pós-1945, que possibilitou a
estabilização financeira internacional, hoje necessita ser reestruturada uma vez que a
realidade não é a mesma do pós-2ª Guerra.
A ASCENÇÃO DOS PAÍSES EMERGENTES E A REDEFINIÇÃO DA ORDEM
INTERNACIONAL
A economia internacional do pós-Guerra Fria, como tratado anteriormente, apresentava uma
divisão entre centro e periferia: os países desenvolvidos, exportadores de produtos industriais
mais competitivos; e os países em desenvolvimento, importadores desses produtos e
exportadores, sobretudo, de produtos primários. O crescimento econômico chinês,
possibilitado a partir da gradual abertura comercial da década de 1970, fez com que a China se
apresentasse como um importante ator na economia internacional a partir da década de 1990.
A China, em decorrência da dependência de matérias-primas para o seu desenvolvimento
industrial criou novas dinâmicas na economia internacional a partir da relação comercial com
os países africanos, asiáticos e latino-americanos.
Pierre Salama (2012) assinala drásticas mudanças na economia mundial tanto na estrutura
como na hierarquia. Alguns países antes pertencentes à periferia passariam a exercer efeitos
de dominação sobre países avançados e em desenvolvimento (SALAMA, 2012, p.316). O autor
estaria se referindo, por exemplo, ao fato de a China ser considerada e, mais importante,
considerar-se um país em desenvolvimento, mas possuir uma relação típica de país
desenvolvido (em razão de exportar manufaturados intensivos em tecnologia e importar
matérias primas); além disso, exerceria um efeito de dominação frente aos EUA por ser
detentora de uma representativa parte dos ativos da dívida pública desse país.
A China vem adquirindo uma posição que - se não podemos dizer de confrontação- pelo menos
incômoda aos EUA, uma vez que traz novos desafios à influência internacional desse país. Em
informativo para o Congresso norte-americano (Congress Research Service), com intuito de
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delinear a elaboração de políticas em relação à China, Morrison (2014) demonstra
preocupações com o futuro dos EUA que, segundo ele, deve preocupar-se com a decisão
chinesa de manter a ordem internacional ou seguir outro caminho. “China is in a position to
help advance U.S. interests or to frustrate them. China’s rising economy has also enabled it to
boost its military capabilities.” (MORRISON, 2014, p.36).
Quanto ao fato do crescimento econômico chinês poder ser prejudicial aos EUA, Morrison
acredita que o desafio para os EUA seria convencer a China, primeiramente, do interesse dela
manter o sistema internacional como está, pois foi este, segundo ele, que a permitiu ter o
crescimento econômico que vem apresentando. Da mesma forma, um segundo aspecto seria
convencer a China da importância das reformas internas como um caminho para a
modernização de sua economia. Para isso, defende que ela deveria aumentar o gasto doméstico
e valorizar sua moeda, o que, segundo Morrison, possibilitaria uma recuperação mais rápida
das economias dos outros países (MORRISON, 2014, p.35).
A ascendência de países emergentes, como o agrupamento BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China,
África do Sul), coloca-se frente a uma ordem internacional que permanece nos moldes do pósGuerra Fria e que precisa inserir as demandas desses países nas negociações multilaterais.
Nesse sentido, a ampliação do G7 (EUA, Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão, Reino Unido)
para negociações em um G20, que inclui países em desenvolvimento, demonstra a importância
da participação desses países nas negociações multilaterais principalmente após a crise
mundial que teve início em 2008. A crise afetou, de forma mais profunda, os países centrais,
EUA e União Europeia, enquanto que muitos países em desenvolvimento continuaram
mantendo seu crescimento, mesmo que de forma reduzida, especialmente em razão do
fornecimento de commodities para a economia chinesa.
Se, por um lado, o colapso do padrão ouro e a crise mundial em 1930 podem ter sido causados
por uma ausência de instituições fortes. A crise que se iniciou em 2008 revela a necessidade de
reformas nessas instituições. A criação de instituições multilaterais no pós-1945 (ONU, Banco
Mundial, FMI) que possibilitou a estabilização financeira internacional, hoje necessita ser
reestruturada.
O BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) busca em suas propostas reforma dos
mecanismos multilaterais para que não sejam favoráveis aos países desenvolvidos. Na V
Cúpula dos BRICS, em 2013, os países membros defenderam a agenda de desenvolvimento do
G20; a reforma das instituições financeiras internacionais, demonstrando preocupação com o
ritmo lento da reforma do FMI; e um sistema comercial multilateral, aberto, transparente e
baseado em regras (MRE, 2013).
O BRASIL
O fim da Guerra Fria possibilitou ao Brasil diversificar suas parcerias comerciais. Para além da
dicotomia leste-oeste, a política desenvolvimentista brasileira procurou parcerias no eixo dos
países em desenvolvimento com o intuito de contrapor a dominância das relações comerciais
do tipo norte-sul. Da mesma forma, procurou-se também incrementar as relações diplomáticas
com esses países a partir da ideia do direito ao desenvolvimento e da cooperação em áreas
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estratégicas para esse fim. Assim, a união com intuito de pressionar às instituições
multilaterais- sejam as comerciais, financeiras, de segurança – para que executem políticas que
possibilitem o desenvolvimento dá-se também a partir de uma aproximação comercial,
estratégica e diplomática entre esses países.
A diplomacia brasileira respalda-se no multilateralismo e na defesa da normatização da ordem
internacional. A busca pelo multilateralismo dá-se de duas formas: a partir da formação de
alianças com países que tenham interesses comuns; e na crença em instituições de âmbito
global para regular a ordem internacional. Exemplo da primeira forma de multilateralismo
seria, além do BRICS, o IBAS (Índia, Brasil e África do Sul) e a UNASUL (União de Nações SulAmericanas). Quanto à segunda forma, tem-se principalmente a atuação brasileira na ONU,
considerando seus vários conselhos - em especial, o Conselho de Segurança- e na OMC
(Organização Mundial de Comércio). Essas duas formas de atuação multilateral do Brasil não
são contraditórias, pelo contrário, a formação de agrupamentos é uma maneira de unir forças
para agir em espaços multilaterais globais.
Para Amado Cervo (2011, p.531), a diplomacia brasileira seria regida pelo conceito de
multilateralismo da reciprocidade. Este multilateralismo presente na atuação brasileira em
organismos como OMC, para o comércio, e CSNU, para segurança, acabou estendendo-se para
todos os domínios das relações internacionais. O multilateralismo da reciprocidade possui
como pressupostos: regras para compor o ordenamento internacional; e elaboração conjunta
das mesmas de modo a garantir a reciprocidade dos efeitos (CERVO; BUENO, 2011, p.531). O
primeiro pressuposto vincula-se à credibilidade dada aos organismos multilaterais pela
diplomacia brasileira, e, o segundo, ao apoio à formação de coalisões entre os países
emergentes de forma a pressionar esses organismos a não favorecem os países mais ricos.
Na teoria de Joseph S. Nye (2008), soft power seria uma forma de atingir os objetivos desejados
através da atração e não da coerção ou pagamento. Os recursos de soft power de um país
estariam na sua cultura, valores e políticas. A diplomacia de multilateralismo brasileira pode
ser vista como uma estratégia de soft power.
A estratégia internacional ideal para um país seria unir o soft power ao hard power (poder
militar e econômico), chamada por Nye de smart power. O melhor cenário, para uma inserção
sustentável no sistema internacional, seria aquele de um fortalecimento da economia brasileira
para que seu hard power econômico agisse à altura de seu soft power diplomático. Contudo,
parece que o soft power diplomático brasileiro é predominante frente a suas capacidades
militar e econômica de hard power. A retórica diplomática brasileira possibilita que a utilização
do soft power seja a principal forma de influenciar a estrutura internacional a seu favor.
O Brasil vem diminuindo sua exportação de produtos de alta e média tecnologia e exportando
mais commodities com baixo valor agregado principalmente ao mercado chinês. Pierre Salama
(2012, p.316) considera a inserção brasileira na economia mundial cada vez menos
promissora. É discutível as consequências da especialização da pauta de exportação brasileira
em produtos primários. Tal cenário pode gerar uma desindustrialização do país que acabaria
exportando produtos com menor valor agregado e importando produtos de maior valor
agregado. Além disso, uma pauta de exportação restrita pode gerar vulnerabilidade. Uma
possível queda nos preços das commodities ou uma diminuição da demanda chinesa por esses
produtos podem ser prejudiciais para o balaço comercial. Contudo, como defende Pierre
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Salama, deve-se atentar que as dinâmicas atuais diferem do passado e os produtos primários
produzidos em países emergentes, como o Brasil, são intensivos em tecnologia.
De fato, o aumento dos preços das commodities no começo dos anos 2000 e das exportações
para a China possibilitaram saldos positivos na balança de pagamentos. Essa conjuntura
propiciou que o Brasil sentisse menos a crise de 2008. Os governos Lula e Dilma foram
marcados também pela estratégia de expansão do mercado interno, aumento de salários, e
políticas sociais assistencialistas. Porém, o crescimento do consumo interno, como estratégia
de crescimento econômico, também deve ser aliado a uma balança comercial não deficitária e
esse é o risco que corre o Brasil ao especializar-se em produtos de menor valor agregado em
comparação às suas importações.
A utilização do multilateralismo, seja através da formação de fóruns multilaterais, como o
BRICS, ou através da defesa da regulação das relações internacionais, através de instâncias
multilaterais de abrangência global, é a estratégia de soft power utilizada pelo Brasil. Segundo
Gelson Fonseca Jr. (2011, p.394), um multilateralismo forte é a melhor maneira para um país
como o Brasil, tido como uma potência media, influenciar as questões globais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O surgimento da Economia Política Internacional no pós-Segunda Guerra está fortemente
ligado com a transnacionalização da economia. Essa internacionalização dos aspectos
econômicos e suas consequências exigiram um campo de estudo que relacione os aspectos
políticos à economia internacional. Da mesma forma, a geopolítica agregou às suas análises
aspecto econômicos e sociais. Além disso, modificou-se a relação entre poder do Estado e
expansão territorial. Tornou-se, por exemplo, mais vantajoso deixar de possuir territórios
coloniais, e influenciar política e economicamente essas regiões.
O fim da Guerra Fria redefiniu os mapas, a diferença mais acentuada na ordem internacional
não mais foi o conflito leste-oeste, mas o conflito norte-sul. A década de 1990 foi marcada por
crises em países em desenvolvimento e pela expansão da liberalização comercial e financeira a
esses países. Assim como, as instituições multilaterais destacaram-se no cenário internacional,
questionando a ideia da geopolítica tradicional - e da teoria realista que tem por bases a mesma
- de que os Estados seriam os únicos atores no sistema internacional. Além disso, os fluxos
comercial, financeiro, de pessoas, entre outros, tomaram uma dimensão tão grande que, a
ligação do homem a terra retratada pela geopolítica clássica perdeu importância.
Quanto ao aumento da preponderância das instituições multilaterais, teve-se, por um lado, um
aumento da regulação através de normas do sistema internacional seja dos aspectos políticos,
econômicos ou de segurança. Mesmo que de forma parcial, pois esta estrutura multilateral não
pode ser considerada um governo mundial, diminuiu as desconfianças e instabilidades
internacionais. Por outro lado, as pressões de instituições, como o FMI, sobre os países em
desenvolvimento geraram políticas que dificultaram ainda mais o crescimento econômico
desses países. Foi feita uma abertura rápida e sem construção de capacidades internas que
possibilitassem tirar benefício da mesma.
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A China, por sua vez, fez uma abertura econômica gradual que, somada a outras características,
transformou-a em um ator extremamente relevante para a economia internacional atual. A
China, além de possibilitar a integração produtiva asiática, também foi responsável pelo
aumento da exportação de produtos primários por parte dos países em desenvolvimento. Tal
cenário, agregado ao aumento do preço das commodities, foi benéfico para esses países. No
entanto, foi controverso para alguns países em desenvolvimento, com base industrial
considerável, como o Brasil. Nesse sentido, seria discutível a possibilidade de uma
desindustrialização propiciada por esse modelo de economia internacional desenvolvido a
partir da preponderância chinesa na economia internacional.
Ao mesmo tempo, a China buscou uma maior integração com as instâncias multilaterais, sua
entrada na OMC em 2001 é um exemplo disso. Contudo, a sua união política com outros países
emergentes procura contestar o funcionamento de algumas instâncias multilaterais. A busca
por reformas, no entanto, não vem com o descrédito dessas instituições. Pelo contrário, buscase a manutenção das mesmas a partir da sua reestruturação.
A ascendência da China dá-se em um momento de crise para as economias centrais. Nesse
sentido, é propícia a formação do BRICS e a demanda desse agrupamento por instituições
multilaterais que não favoreçam os países centrais. O Brasil historicamente foi ativo nos fóruns
multilaterais. Utilizou-se da adesão a normas internacionais e da defesa da importância das
mesmas, na regulação das relações comerciais e políticas, como fim de dirimir as suas
fragilidades como potência econômica e militar. O objetivo político do BRICS coincide com o
objetivo da política externa brasileira de valorização do multilateralismo.
Como visto, Amanda Dickins (2006) assinalou dois momentos para a economia política
internacional: o surgimento no pós-guerra e as modificações do pós-Guerra Fria. A economia
política internacional parece novamente estar em transição. Novas conjunturas, como o
crescimento econômico exponencial chinês e sua participação preponderante na economia
internacional, além da recuperação lenta da crise mundial recente que sofrem países tidos
como centrais, parecem indicar isso. A intensificação da interdependência global comercial e
financeira também demonstra que há mais o que ser levado em consideração do que os
Estados delimitados por suas fronteiras.
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