Detecção de lâmina d’água em pista de aeródromo Glauber de Souza [email protected] João Paulo Nunes Góss [email protected] Marcio de Oliveira Santos [email protected] Thiago Ramos de Souza [email protected] Alunos do Curso Técnico de Meteorologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina Av. Mauro Ramos, 950, Centro, Florianópolis, Santa Catarina Resumo: Para evitar a hidroplanagem em pista de pouso e decolagem na área de aeródromo foi desenvolvido um sensor meteorológico que detecta nível de lâmina d’água, que é uma das principais causas de acidentes em aeroportos. Na construção do sensor foi utilizada uma associação em série de resistores alimentados por uma bateria, que, através de um leitor de tensão elétrica programável, transforma a leitura de tensão do circuito elétrico em milímetros. Após os testes, foi concluído que o sensor mostrou-se eficiente para a mensuração de nível de lâmina d’água. Palavras-Chave: Lâmina d’água. Sensor. Nível. Resistores. Hidroplanagem. Abstract: In order to avoid the hydroplaning in landing and taking off track in airfield area it was developed a meteorological sensor that detects the level of the water layer, which is a major cause of accidents in airports. In the sensor construction it was used an association in series of resistors using a battery, which, through a programmable electric voltage reader, becomes the reading of electric circuit voltage in millimeters. After the tests, it was concluded that the sensor showed efficient to measure the level of the water layer. Key Words: Water layer. Sensor. Level. Resistors. Hydroplaning. 1. Introdução Este artigo apresenta o desenvolvimento de um sensor meteorológico que detecta nível de lâmina d’água em pista de pouso e decolagem na área de aeródromo. A presença de água na pista favorece a ocorrência de hidroplanagem, que ocorre quando as aeronaves efetuam o pouso. Este sensor é de suma importância em aeroportos, pois a precisa detecção de água na pista, evita que acidentes trágicos ocorram, evitando que várias vidas sejam dizimadas. 2. Fundamentação teórica 2.1 A lâmina d’água A importância de se detectar lâmina d’água em uma pista de pouso e decolagem de aeronaves foi salientada por Santos (2004, p.17), que aponta as pistas contaminadas por água ou gelo como a quarta maior causa de acidentes em pousos e táxis nos Estados Unidos entre 1992 e 1996. A presença de uma lâmina d’água em uma pista de pouso e decolagem pode ter consequências preocupantes, como a hidroplanagem, que segundo Santos (2004, p.17), se inicia no ponto onde a elevação hidrodinâmica sob os pneus equivale ao peso do veículo conduzido sobre as rodas. A partir desse ponto, qualquer aumento da velocidade acima desse valor crítico elevará completamente o pneu do pavimento (é aí que a hidroplanagem se inicia). A mesma pode se apresentar de três formas: hidroplanagem viscosa, dinâmica e de borracha retornada. A formação desta hidroplanagem depende de alguns fatores como intensidade de chuva, tecnologias de segurança de voo, escoamento da pista do aeródromo, tipo de pavimento que, segundo Santos (2004, p.13), a Engineering Sciences Data Unit (ESDU) (1971, p.40) classifica os pavimentos em quatro tipos de acordo com a rugosidade da macro e da microtextura do mesmo. Essa hidroplanagem causa a perda do atrito entre o pneu da aeronave e o pavimento da pista. Segundo Santos (2004, p.11), se duas superfícies em contato tendem a se mover uma sobre a outra surge uma força “resistente” denominada força de atrito. Quando essa força de atrito se opõe à força aplicada, a constante de proporcionalidade entre o movimento é denominada coeficiente de atrito estático. O atrito é um dos fatores primordiais para a segurança de voo. Santos (2004, p.11), em um estudo com pneu e pavimento, concluiu que este coeficiente de atrito passa a depender de vários fatores, tais como, estado dos pneus, velocidade da aeronave, condições do pavimento e, principalmente, a presença de lâmina d’água. Para tentar conter o fator lâmina d’água na pista, a Infraero utiliza, nas pistas de pouso e decolagem de aeronaves, a tecnologia do grooving. Trata-se de ranhuras na pista de ¼ de polegada (cerca de 6 milímetros) de profundidade e ¼ de polegada de largura com uma polegada (aproximadamente 2,5 centímetros) de separação entre elas (DOMINGUES, 2006, p.27). Grooving ou ranhuramento é a única maneira eficaz para se evitar a hidroplanagem em situações de pousos em pistas molhadas. Seja em pistas construídas em pavimento rígido (concreto) ou flexível (asfalto). O ranhuramento aumenta o coeficiente de atrito, proporcionando maior área de contato não encharcada, agilizando o escoamento de água para as laterais da pista (SANTOS, 2004, p.40 apud DOMINGUES, 2006, p.27). Segundo a Infraero, sem informar muitos detalhes e extraoficialmente, pois não é feito a mensuração diária do dado, na pista de pouso e decolagem na área do aeródromo de Florianópolis, o máximo de acúmulo d’água gira em torno de 0,2 milímetros, devido ao grooving, que é uma tecnologia de escoamento muito eficaz. Contudo, segundo matéria publicada no site http://www.jusbrasil.com.br, no dia 31 de janeiro de 2007, uma das únicas formas de se detectar a presença de lâmina d’água na pista, se dá através de reclamações dos comandantes das aeronaves à torre de controle. 2.2 Sensores meteorológicos Atualmente existem alguns tipos de sensores meteorológicos para medir ou detectar nível de lâmina d’água. Esses sensores de níveis de água podem ser classificados em dois tipos de sensores: discretos e contínuos. Discretos, pois fazem a mensuração do dado a partir do momento que o nível de lâmina d’água atinge um determinado nível, e contínuos, pois fornecem um sinal proporcional ao nível da água. Na parte de instrumentação meteorológica, há uma extensa gama de sensores tanto presenciais quanto remotos, para mensurar o nível de lâmina d’água. Na parte de segurança de voo não se encontra registro na literatura de algum sensor que mensure entre 1 e 4 milímetros de lâmina d’água remotamente. Vale lembrar que para segurança no momento de pouso e decolagem o nível limite é de 4 milímetros. A maioria dos sensores de nível de lâmina d’água trabalha da mesma forma, porém, medindo a espessura da lâmina encontrando a resultante da soma da pressão da coluna d’água acima do sensor com a pressão atmosférica. o nível de lâmina d’água naquele determinado momento. É utilizado na área ambiental para mensurar níveis de poços, represas, entre outros, por meio de um poço tranquilizador. Também há os sensores ultrasônicos que, quando são microprocessados, realizam a compensação de temperatura, fornecendo dados de distância com uma pequena margem de erro. O sistema de radar, por sua vez, é utilizado para mensurar o nível de lâmina d’água, enviando um pequeno pulso de micro-ondas. Assim o transmissor tem um repulso, e esse tempo livre até receber o pulso refletido pela água corresponde diretamente à distância do nível. Esse sensor é indicado para ser utilizado em ambientes que possam apresentar algum risco tanto ao instrumento quanto ao homem. Já inseridos no mercado encontramse os sensores de sonda, que funcionam com a variação da resistência elétrica entre o eletrodo de referência e o eletrodo de controle de nível. As sondas de nível condutivo detectam a resistência de nível quando seus eletrodos são cobertos pelo produto. Também são utilizadas para informar dados de nível em poços, caixas d’água, reservatórios de água, entre outros. A régua linimétrica é uma forma de mensuração de nível em rios, represas, tanques, reservatórios e microhidrelétricas. O ponto negativo deste instrumento é que o mesmo possui uma grande possibilidade de erro. 3. Metodologia 2.2.1 Tipos de sensores 3.1 Descrição técnica O sensor de nível borbulhador funciona com um minicompressor que bombeia o ar através de um tubo de pressão dentro da água em intervalos de tempo já determinados. A pressão resultante dentro do tubo corresponde exatamente à pressão hidrostática acima do tubo. Sendo assim, este sensor mede O sensor proposto neste artigo é utilizado para mensuração de nível de lâmina d’água em quaisquer tipos de terreno, mais precisamente em pistas de pouso ou decolagem de aeronaves na área de aeródromo. Este sensor possui como características uma resistência elétrica que é utilizada para mensurar o dado de espessura de lâmina d’água, um circuito elétrico com cinco resistores associados em série, e todos com 4,7MΩ (megaohm) com 5% de tolerância, alimentados por uma fonte de 5 Volts. No intervalo de cada resistor foram adicionadas agulhas metálicas para realizar o contato do circuito elétrico com a lâmina d’água, possibilitando assim, a mensuração do dado, conforme mostra a Figura 1. FIGURA 1 – Esquema elétrico O sensor está disposto de tal forma que o circuito elétrico fique totalmente isolado, para evitar que as ações do tempo danifiquem o instrumento. Para uma mensuração precisa do dado de espessura de lâmina d’água é necessário o uso de mais de um instrumento, pois como se trata de segurança de voo deve-se ter uma redundância de informações, não confiando apenas na informação de somente um sensor. Os instrumentos devem ser colocados na lateral da pista a uma distância da superfície que se equipare a altura do meio da pista, pois, para a segurança do voo, a pista de pouso e decolagem não é totalmente plana e possui uma envergadura. Relativamente, um milímetro de lâmina d’água na pista equivale a tantos milímetros de lâmina d’água na lateral da pista, variando de aeródromo para aeródromo. Outra possibilidade seria a colocação de um instrumento no final ou no início da pista, longe da área onde as aeronaves pousam e decolam. 3.2 Construção e testes do protótipo Na fase inicial da construção do protótipo do instrumento, foi utilizada uma matriz de contato. Na matriz de contato foram inseridos os cinco resistores em uma associação em série, pois com esse tipo de associação obtêm-se um aumento da voltagem em cada resistor à medida que cada agulha entra em contato com a água possibilitando a mensuração do dado. Foram utilizados resistores com uma alta resistência, de 4,7MΩ, com o intuito de desprezar a resistência da água, que varia conforme o comprimento da área alagada. Nos primeiros testes que foram efetuados para verificar se o circuito estava funcionando, foi detectado o primeiro problema. Como a corrente do circuito é muito baixa e como a resistência interna do voltímetro, que é um instrumento de medida de tensão elétrica, gira em torno de 10MΩ, sendo muito alta, e próxima do valor dos resistores, houve interferência do voltímetro no circuito, e os dados obtidos foram diferentes dos cálculos efetuados anteriormente. Os testes indicaram que a voltagem de um determinado resistor com a interferência do voltímetro era de 0,73 Volts, quando deveria ser de 1 Volt, em uma associação em série de 5 resistores alimentados por uma bateria de 12 Volts, cuja tensão, ou diferença de potencial elétrico, é transformada em 5 Volts através do Datalogger CR800. Na construção do protótipo foram utilizados os seguintes materiais: cinco resistores de 4,7MΩ com tolerância de 5%, soldados em uma associação em série, tampa plástica para isolar os resistores, silicone para isolar a área onde foi colocado o circuito elétrico, fios de diferentes cores para diferenciar as posições em que serão conectados no Datalogger e a milimetragem de suas determinadas agulhas metálicas, bobina de fita VHS para isolar os resistores e expor as agulhas metálicas, caixa de acrílico com uma área de 104,04 centímetros quadrados e 3,6 centímetros de altura para proteção geral das intempéries do tempo, placa metálica para fazer contato com a água para fechar o circuito e servir de referência para o sensor, cola quente para não penetrar água no local onde estão armazenados os resistores e fita isolante para unir as peças. A figura 2 ilustra o protótipo. FIGURA 2 – Protótipo Já com o protótipo finalizado, foram inseridas as resistências soldadas com os fios de sinal de lâmina d’água, cujas pontas foram soldadas com agulhas metálicas que, ao tocar na água, fecham o circuito possibilitando a mensuração precisa no Datalogger e foi construída uma carcaça de acrílico para proteger o sensor de interferências externas, cujo fio terra deste circuito é conectado em uma placa metálica colada na carcaça de acrílico. Em seguida, foram efetuados mais testes, que possibilitaram a determinação da faixa de tensão específica para cada nível de lâmina d’água. 3.2.1 Resultados do protótipo Para a determinação das faixas de tensão para cada nível de espessura de lâmina d’água foi utilizado o Datalogger CR800, que transforma a leitura de tensão elétrica do circuito em algum tipo de dado, através do programa LoggerNet. No caso deste sensor, a espessura de uma lâmina d’água é expressa em milímetros. Com os dados preliminares já determinados foram efetuados mais testes para determinar a real faixa de voltagem para cada situação. A tensão do circuito sem que haja a presença de uma lâmina d’água fica entre 0 e 1,66 Volts. A partir do momento que a lâmina d’água faz contato com a agulha mais próxima da superfície se determina 1 milímetro de espessura da mesma, que corresponde a faixa de tensão entre 1,67 e 1,85 Volts. Quando a lâmina entra em contato com a segunda agulha determina 2 milímetros entre 1,86 e 2,19 Volts, com a terceira agulha determina 3 milímetros entre 2,2 e 2,99 Volts e com a quarta agulha determina 4 milímetros entre 3 e 5 Volts. Em uma associação em série de cinco resistores de igual resistência alimentados por uma tensão de 5 Volts, a tensão sobre cada resistor deveria ser de 1 Volt. Isto não ocorre devido à possibilidade da resistência do Datalogger, que forma uma associação em paralelo com os resistores, influenciar na tensão sobre cada resistor gerando os valores de voltagem descritos anteriormente. 3.3 Construção e testes do projeto final Após a construção, os testes efetuados e os resultados obtidos com o protótipo, teve início a construção do projeto final com o intuito de eliminar os erros encontrados no sensor citado no item 3.2. Foi feito uma nova proteção de acrílico com uma área de 196 centímetros quadrados e 2,9 centímetros de altura que possui oito furos arredondados na parte superior para o escoamento da água da chuva que porventura possa se acumular, com um telhado de acrílico com uma área de 324 centímetros quadrados, que é preso na proteção por quatro parafusos de inox, que possibilitam a retirada do telhado para a manutenção do circuito elétrico. Na base da proteção foram acopladas quatro porcas de inox em cada canto da mesma, por onde se regula a altura do instrumento através de parafusos de inox, para precisar em qual altura o instrumento deverá ficar em relação ao meio da pista onde as aeronaves efetuam o pouso e a decolagem. Manteve-se a associação de resistores em série de mesma resistência, a placa metálica e os fios coloridos e sua distribuição entre os resistores. A figura 3 ilustra o projeto final. Após a conclusão dos testes, os mesmos apresentaram uma consistência na faixa de tensão em cada nível de lâmina d’água, tendo como resultados que a tensão do circuito sem que haja a presença de uma lâmina d’água fica entre 0 e 1,67 Volts, com um milímetro de lâmina d’água entre 1,68 e 1,84 Volts, com 2 milímetros entre 1,85 e 2,09 Volts, com 3 milímetros entre 2,1 e 2,99 Volts, com 4 milímetros entre 3 e 5 Volts, com a programação (1) disposta da seguinte maneira: BeginProg Scan (5,Sec,0,0) VoltDiff (volt,1,mV5000,1,True ,0, _ 60Hz,1.0,0) FIGURA 3 – Sensor de lâmina d’água 3.3.1 Programação e resultados finais Com o projeto finalizado, mais testes foram efetuados com o Datalogger através de uma nova programação customizada através dos dados de tensão observados nesses testes. O instrumento de leitura de tensão elétrica, Datalogger CR800, foi programado através da ferramenta de programação Loggernet, no qual foi estipulado que o intervalo de execução da mensuração do dado seja efetuado a cada 5 segundos. Em seguida, foi programado que o fio de sinal de lâmina d’água e o fio de referência deste sinal seriam conectados na entrada diferencial, que é utilizada somente quando a corrente elétrica for muito pequena. Neste sensor de lâmina d’água a corrente elétrica se estabelece na escala de µA (microampère), pois o circuito possui uma alta resistência com uma alimentação de 5 Volts. milimetro = 0 If volt > 1680 Then milimetro = 1 EndIf If volt > 1850 Then milimetro = 2 EndIf If volt > 2100 Then milimetro = 3 EndIf If volt > 3000 Then milimetro = 4 EndIf (1) 4 Conclusão Com os resultados obtidos, o sensor proposto neste artigo mostra-se apto a medir dados de espessura de lâmina d’água, pré-determinados entre 0 e 4 milímetros. Seus resultados apresentaram grande coesão nos dados mensurados, demonstrando a eficiência do instrumento em efetuar suas medidas. Este instrumento pode ser utilizado para mensurar dados de espessura de lâmina d´água em diversas áreas de atuação, tais como, agricultura, pecuária, automobilismo, entre outras. Existe ainda a possibilidade de se acoplar um novo conjunto ao sensor, formado por quatro LEDs (diodo emissor de luz), onde cada um representa os níveis entre 1 e 4 milímetros da espessura de lâmina d’água, equipado com uma bateria auxiliar que somente entraria em funcionamento no momento em que a alimentação principal fosse interrompida. Sua utilidade seria para fins de manutenção no instrumento mensuração manual dos dados. e 5 Referências SANTOS, E. L. dos. Análise Histórica de Medição de Atrito das Pistas do Aeroporto Santos Dumont – RJ. 2004. Graduação – Divisa de Infra-Estrutura Aeronáutica Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São Jose dos Campos, SP. ESDU, ENGINEERING SCIENCES DATA UNIT. Frictional and Retarding Forces on Aircraft Tyres Part 1: Introduction. London, ano 1971, p. 40. SILVA, CLAUDIA DOMINGUES da. Desemborrachamento de Pista de Aeroporto. 2006. Trabalho de conclusão de curso – Engenharia Civil, Universidade do Anhembi Morumbi, SP. Comunicação Presença de Lâmina D’água, Piloto Pista. 31 de Janeiro 2007. Disponível em: http://www.expressodanoticia.com.br/. Acesso em: abr. 2009.