Polinização em Angiospermas - Prof. Dr. JOÃO CARLOS NORDI CONTEÚDO DA AULA 1. Polinização: Definição 2. Principais recursos florais X composição química: 2.1 Néctar 2.2 Pólen 2.3 Óleos e resinas 2.4 Exudados estigmáticos 2.5 Tecidos florais 2.6 Perfumes 3. Atração de polinizadores 3.1 Visual 3.2 Olfativo 4. Recompensas florais 5. Tipos de polinização 6. Mecanismos de transferência de pólen1. Polinização 7. Síndromes Em contraste, entre as Angiospermas, o surgimento de flores coincidiu com o surgimento de abelhas, borboletas, mariposas, aves e mamíferos, e a estrutura reprodutiva destas plantas foi selecionada de forma a atrair estes animais, surgindo então uma miríade de formas, tamanhos, cores, aromas e texturas, cada uma de acordo com uma estratégia mais ou menos específica de atração de polinizadores. 1. Polinização Definição = é o ato da transferência de grãos de pólen de uma flor para o estigma de outra flor, ou para o seu próprio estigma. Pode-se dizer que a polinização é o ato sexual das espermatófitas, já que é através deste processo em que o gameta masculino pode alcançar e fecundar o gameta feminino. • Surgiram novas estruturas, como nectários, anteras com pólen estéril, ornamentações, pétalas comestíveis, glândulas de perfume, óleo e resina, todos recursos benéficos assegurando que suas flores fossem visitadas e seu pólen carregado para outra flor da mesma espécie. • Atribui-se à elasticidade morfológica das flores de Angiospermas e sua capacidade de adaptação a diferentes agentes polinizadores (entre outros fatores), o seu esmagador sucesso sobre todos os outros grupos do Reino Vegetal. 2. Principais recursos florais X Composição química • NÉCTAR– Carboidratos, aminoácidos, lipídios, antioxidantes, alcalóides, proteínas, vitaminas e outros. • PÓLEN – Proteínas, carboidratos, aminoácidos, lipídios, minerais, enzimas, pigmentos e outros. • ÓLEO (elaióforos) – diglicerídeos e ácidos graxos livres saturados. • EXUDADOS ESTIGMÁTICOS – lipídios, açucares, aminoácidos, fenóis, alcalóides e antioxidantes. • TECIDOS FLORAIS – açucares, amido, proteínas, lipídios e outros. • PERFUMES – Terpenos, compostos aminóides, constituintes aromáticos 2.1 NÉCTAR Glicose + sacarose + frutose • Poucos aminoácidos (sapromiiófilas) + óleo; • Próximo a floema→modificação da seiva; • Mosca, abelha, borboleta, mariposa, beija-flor, morcego, vespa, coleóptero (próprio consumo); • Quantidade de néctar secretado – 0,03 mg a 150mg (menor nas floresmosca e maior nas flores-morcego). • Utilização do recurso – Provisão de recursos energéticos que serão utilizados para o vôo e outras atividades, entre elas a termo regulação. Nectários: Floral Extra-floral Extra floral nupcial Nectários florais Classificação quanto histologia: Epiteliais: Apresentam superfície lisa e epiderme com paredes finas, através das quais o néctar exuda de forma difusa Mesemquimáticos :O tecido interno, com células glandulares, secreta o néctar que exuda de aberturas semelhantes a estômatos. Tricomáticos – Podem formar papilas ou densostapetes de pêlos glandulares (origem epidérmica). Localização Geralmente são florais e localizam-se no receptáculo ou na base das pétalas ou sépalas. • Podem estar relacionados com os estames, com o ovário • Muitas vezes o tecido nectarífero encontra-se bem escondido em tubos ou esporões. Formas de nectários septais, em seções transversais do ovário. 1. Separado (e.g. Beschorneria, Agavaceae) 2. Confluente simples (e.g. Heliconia, Heliconiaceae) 3. Confluente convoluto (Pitcairnia, Bromeliaceae). 2.2 PÓLEN • Abelhas fêmeas (para as larvas), coleóptero,mosca, borboleta (Micropteryx), morcego (Glossofaga); • Atrativo original; • Bem exposto e de fácil acesso. 2.3 ÓLEOS E RESINAS • ~1% plantas • Mais calóricos; utilizados na construção de ninhos • Óleo (elaióforos) – Abelhas fêmeas solitárias • (Anthophoridae e Mellitidae – para larvas) Malpighiaceae, Calceolariaceae • Resinas- Clusiaceae, Euphorbiaceae ; Abelhas fêmeas Euglossa e Trigona Resina – Abelhas fêmeas Euglossa e Trigona 2.4 Exudados estigmáticos Especialmente em flores–armadilha- insetos 2.5 Tecidos florais Besouros, abelhas e morcegos 2.6 Perfume Sistema de polinização > Síndrome Euglossine • Machos de abelhas Euglossine = precursores de ferormônios sexuais. • Estruturas secretoras – osmóforos diferenciados. • Substâncias odoríferas – óleos essenciais não voláteis (forma líquida). Ocorrência: Orchidaceae, Solanaceae, Araceae. • Atrativa à longa distância e recompensa floral aos polinizadores (abelhas machos Euglossine). Modo de coleta Abelhas esfregam a substância odorífera em tufos de pêlos especiais, localizados nas pernas anteriores e transportam-na para uma porção inflada da tíbia das pernas posteriores. Função Ainda não são totalmente conhecidas. Os autores sugerem seu uso para estabelecer olfativamente rotas de vôo e poupar passos para a biossíntese de ferormônios masculinos utilizados no acasalamento. 3. Atração de polinizadores:visual e olfativa 3.1 Atração visual • Forma e cor = quanto maior e mais contrastante, mais efetiva a atração; • Detalhes na forma e maior concentração de flores, atração mais efetiva; • Insetos percebem diferenças na saturação das cores mais do que humanos. VISUAL= longa e curta distância (guias de néctar) ODOR = curta distância Pigmentos empregados na coloração (Vacúolos ou plastídios) Grupo mais comum em vacúolos > flavonóides –antocianinas (azul/vermelho/rosa) –antoxantinas (amarelo) –flavonas/flavonóis (guias de néctar > UV) • Grupo restrito > betalaínas –betacianinas –betaxantinas • Carotenóies> presentes em plastídios (amarelo) –carotenos –xantofilas • Branco > múltiplas reflexões nos espaços intercelulares de células não pigmentadas; • Preto > reflexos similares entre camadas de cores complementares; Antocianinas + antoxantinas / carotenóides > marrom Cores x grupos de polinizadores • Abelhas : > amarelo, púrpura • Borboletas: > vermelho, amarelo, azul, rosa, laranja • Aves: > vermelho • Morcegos: > creme, púrpura, esverdeado • Besouros: > creme, esverdeado • Mariposas: diurnas > vermelho, púrpura, rosa noturnas > branco • Moscas: antófilas: > creme, branco saprófilas: > marrom, púrpura com amarelo • Vespas: > marrom 3.2 Atração olfativa Três categorias principais • Terpenos • Benzenóides • Alifáticos sapromiiofilia> nitrogenados > indol, escatol Odor floral > caráter primitivo > Magnolia • Emissão difusa * em geral pétalas, tépalas e brácteas adjacentes * epiderme não mostra sinais de estruturas secretora Guia de odor • Áreas localizadas na corola; • Conduzem o visitante ao recurso; • Análogo aos guias visuais; • Associados a tecidos de natureza glandular. • Glândulas de odor elaboradas – osmóforos • Apresentam estrutura epitelial glandular bem definida, com tecido armazenador de óleo e de amido • Hidrólise > Liberação > Evaporação dos de calor óleos voláteis Atrativo à longa distância, muitas vezes com odor mimético(Aristolochiaceae, Orchidaceae, Asclepiadaceae, Araceae) 4. Recompensas florais Instintos básicos que levam um “agente” à flor: • Alimentar: > principal • Reprodutivo • Sexual • Oviposição • Cuidado com a prole • Abrigo: > raro • Territorialismo: > raro Alimentar = pólen, néctar, óleo, água • Primeiros visitantes (Mesozóico) : sugar e comer secreções estigmáticas, mastigar partes da flor→destrutivo, ingerir pólen. 5. TIPOS DE POLINIZAÇÃO • A – Autopolinização, autogamia ou polinização direta - é a transferência do pólen da antera para o estigma da mesma flor (caso que só ocorre quando a planta é hermafrodita). É pouco freqüente, ocorre na ervilha, no fumo, no algodão e em muitos cereais, exceção do milho e centeio. Em muitas espécies, pode levar a uma redução no vigor e na produtividade da espécie. Desvantagens: • Redução na variabilidade genética; • Decréscimo da proporção de loci heterozigotos; • Fixação de loci em estado de homozigose; • Menor variação intra-populacional; • Maior variação inter-populacional; • Progênie com menor vigor “imbreeding pression”. Vantagens: • Em ambientes onde a adaptabilidade reprodutiva está limitada pela escassez de polinizadores (autogamia espontânea); • Em indivíduos que iniciam novas colônias; • Quando o principal componente de adaptabilidade é a quantidade de sementes produzidas (anuais e monocárpicas). • B - Geitonogamia - é a transferência do pólen da antera para o estígma de outra flor situada na mesma planta, geralmente com flores masculinas e femininas (plantas monóicas); • C - Polinização cruzada, alogamia, polinização indireta ou xenogamia - é a transferência do pólen da antera para o estígma de uma flor situada em outra planta da mesma espécie. É o tipo que ocorre na maioria das plantas. FATORES QUE INFLUENCIAM A POLINIZAÇÃO CRUZADA HETEROSTILIA 1. FÍSICOS HERCOGAMIA MONOICISMO DIOCISMO DICOGAMIA: PROTANDRIA 2.TEMPORAIS 3. GENÉTICO Auto Incompatibilidade PROTOGENIA Heterostilia : Diferença de comprimento entre estiletes e estames. Há casos em que o estilete é maior que os estames e outros em que o estilete é menor (Ex: Primula). Hercogamia: separação espacial entre anteras e estigmas. Monoicismo = Andromonoicismo (aborto♀) Ginomonoicismo (aborto ♂ ) Dicogamia : diferença no desenvolvimento fisiológico dos estames e do gineceu Há dois casos a considerar na dicogamia: 01 - Protandria ou Proterandria - quando as anteras atingem a maturidade antes que o estígma. Como em muitas compostas, Campanulaceae, Apiaceae, Geraniaceae. 02 - Protoginia ou Proteroginia - quando o estígma amadurece primeiro que as anteras, tornando-se receptivo ao pólen, como na tanchagem (Plantago media) , no Arum e no papo-de-peru ou aristolóquia. A transferência de pólen pode ser através de fatores: 1) Abióticos = fatores ambientais (vento, água) 2) Bióticos = com auxílio de seres vivos; Os tipos gerais de polinização são os seguintes: • Falenofilia: através mariposas; • Miiofilia: polinização feita por moscas e mosquitos (Diptera); • Malacofilia: polinização feita por caracóis (Molusco); • Ornitofilia: polinização feita por aves; • Quiropterofilia: polinização por morcegos; • Terofilia: mamíferos não voadores; • Artificial: através do homem. FATORES ABIÓTICOS 7. SÍNDROMES Síndrome da ANEMOFILIA CARACTERÍSTICAS DAS FLORES • Flores geralmente sem cor, com sépalas e pétalas pouco desenvolvidas; • Produção de grande quantidade de grãos de pólen; • Anteras longas; • Estigmas grandes ou plumosos. Síndrome da HIDROFILIA CARACTERÍSTICAS DAS FLORES • Muito rara; • Maioria das plantas aquáticas é polinizada pelo ar e algumas por insetos; • Estigmas são grandes, sem ornamentação, podendo possuir ramificações para apreensão do grão de pólen • A HIDROFILIA pode ser : – Epihidrofilia = acima da água. Flores femininas possuem pedicelos que esticam ou crescem até a superfície. Flores masculinas ou se esticam ou se destacam ou liberam o pólen que flutua até a superfície. – Hipohirdrofilia = abaixo da água (Poucas espécies). Quando a transferência do grão de pólen é feita sob a água, os grãos de pólen apresentam adaptações para flutuação. Síndrome da MELITOFILIA CARACTERÍSTICAS DAS FLORES • Zigomorfia com grande efeito de profundidade; • Mecanicamente forte; • Imbricada, semi-fechada; • Cores vívidas, geralmente amarelo ou azul; • Guias de néctar presentes • Odor fresco, normalmente não muito doce; • Néctar escondido, mas não muito profundo, em quantidades moderadas; • Órgãos sexuais guardados, poucos estames; • Muitos óvulos Síndrome da CANTAROFILIA CARACTERÍTICAS DAS FLORES • Abertas, fechadas, em forma de disco, ou sino; • Unidade grande, achatada, cilíndrica; • Acesso fácil, órgãos sexuais expostos; • Cores pálidas, avermelhadas ou creme; • Produzem grande quantidade de pólen; • Freqüentemente são robustas; • Pouco atrativas visualmente, sem forma definida, sem efeito de profundidade, sem guias de néctar; • Possuem odor de frutos frescos ou em decomposição. Síndrome da PSICOFILIA CARACTERÍSTICAS DAS FLORES: • Geralmente tubulares e estreitas, de forma que apenas a probóscide do polinizador atinge o néctar. • Freqüentemente de hábito pendente ou horizontal. • Antese diurna, com cores chamativas (amarelo, roxo, azul, podendo ocorrer vermelho), sem perfume. Síndrome da FALENOFILIA CARACTERÍSTICAS DAS FLORES: • Geralmente tubulares e estreitas, de forma que apenas a probóscide do polinizador atinge o néctar; • Freqüentemente de hábito pendente ou horizontal; • Antese noturna, brancas e fortemente perfumadas com odor adocicado. Síndrome da MIIOFILIA CARACTERÍSTICAS DAS FLORES: • Regulares, simples, rasas (a probóscide das moscas geralmente é curta); • Cores geralmente claras, mas pálidas; • Guias de néctar freqüentemente presentes; • Odor imperceptível, (doce ou pútridos = Sapromiiofilia); • Néctar aberto e de fácil acesso; • Órgãos sexuais bem expostos. Síndrome da MALACOFILIA CARACTERÍSTICAS DAS FLORES: • • Menos freqüente; Ocorre nas plantas Aspidistra lurida e na Caltha palustris. Síndrome da ORNITOFILIA CARACTERÍSTICAS DAS FLORES: • Geralmente tubulares ou pendentes,com parede externa firme, sem odor, cores fortes (vermelhas e amarelas, mas também azuis ou verdeamareladas); • A "plataforma de pouso" que existe em flores polinizadas por insetos está ausente; Secretam muito néctar (mais diluído em relação às flores polinizadas por abelhas); • • Difícil acesso a polinizadores pequenos (abelhas e besouros), pois apresentam uma posição pendente; • Antese diurna, com abertura concentrada no início da manhã; • Ovário protegido. PÁSSAROS POLINIZADORES • Hummingbirds (Beija-flor, colibri) = Américas; • Honey creepers = Américas; • Honeyeaters = Austrália, Nova Guiné, Nova Zelândia (42 gen.,182 spp); • Sunbirds = África e Ásia (Mais de 100 gen.); • Spiderhunters = Índia,Filipinas (2 gen,11 spp); • Flowerpeckers =Ásia, Austrália,Índia, Filipinas. HUMMINGBIRDS Beija-flores (Trochilidae) • Cerca de 300 spp; • Neotropical, com principal área de riqueza de espécies nos Andes; • Muito leves, podendo ter menos de 3g, poucos com mais do que 10g; • Capacidade de aprendizado de cores, comum visita a flores vermelhas e laranjas; • Visitas principalmente pairando; Síndrome da QUIROPTEROFILIA CARACTERÍSTICAS DAS FLORES • Predominantemente nos trópicos (nos Andes até 3400m altitude), até 30°de latitude; • Abertura das flores no final do dia e disponibilidade de pólen e néctar à noite; • Coloração branca, creme, ocre-amarelado ou sombras esmaecidas de verde e/ou púrpura; • Odor noturno forte, diferente do de flores entomófilas, freqüentemente de fruto ou lembrando fermentação; • Usualmente duram apenas uma noite, são robustas e expostas ( acessíveis aos morcegos). Síndrome da TEROFILIA CARACTERÍSTICAS DAS FLORES • Unidades florais grandes(comparativamente com a de entomófilas), de construção firme, robustas e/ou curtos, em cores fortes escuras; • Néctar abundante, concentrado, rico em sacarose; • Odor semelhante a levedura ou de madeira, algumas vezes semelhante ao de flores quiropterófilas Algumas plantas e seus polinizadores NOME COMUM AGENTE POLINIZADOR Cebola abelhas, vespas e moscas Citrus abelhas melíferas Figo vespas Girassol abelhas melíferas, Maracujá mamangavas Abacate abelhas melíferas e selvagens vespas, moscas Brócolis abelhas melíferas e selvagens e Cacau abelhas selvagens e moscas Caju abelhas selvagens e moscas selvagens e mamangavas moscas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (Complementares) ANTONINI, Y. & MARTINS, R. P. 2003. The flowering-visiting bees at the ecological station of the Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brazil. Neotropical Entomology, v. 32, n. 4, p. 565-575. BRAGA, A. K. A 2000. Comunidade de Euglossini da Estação Ecológica de Paulo de Faria, Paulo de Faria, SP, e comportamento de coleta de fragrâncias pelos machos de Euglossa townsendi Cockerell (Hymenoptera: Apidae: Euglossini). Dissertação (Mestrado em Pós-graduação em Ciências - Entomologia) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - USP, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Orientador: Carlos Alberto Garofalo. BOUCHARD, S. et al. 2000. Nutrient preferences of Brazilian hummingbirds. Wilson Bulletin, v. 112, n. 4, p. 558-562. RAVEN, PETER H. 2007 Biologia Vegetal - 7ª Ed. http://pt.wikipedia.org/wiki/Poliniza%C3%A7%C3%A3o"