Processos de Transferência e de Transporte 2007/08 Trabalho Prático - 5 MEDIDA DA CONDUTIVIDADE TÉRMICA DE DIFERENTES MATERIAIS Objectivo - Determinação da condutividade térmica de 5 diferentes materiais de construção. 1. Introdução O calor pode ser transferido de um ponto para o outro por três processos diferentes: condução, convecção e radiação. Cada processo pode ser analisado separadamente e tem as suas relações matemáticas específicas. A transmissão de calor por condução é característica do transporte através dos sólidos. As entidades responsáveis por este transporte são os electrões de condução e/ou as vibrações da rede cristalina. Quando dois sistemas, a temperaturas diferentes, são postos em contacto térmico, dá-se um fluxo de energia sob a forma de calor do sistema à temperatura mais elevada para o sistema à temperatura mais baixa. O transporte de calor modificará as temperaturas dos dois sistemas, os quais tenderão a ficar à mesma temperatura final. Quando esta situação é atingida diz-se que os sistemas estão em equilíbrio térmico. A taxa de transporte de calor entre os dois sistemas pode ser alterada se entre eles for colocada uma barreira que ofereça alguma resistência à passagem da energia. Designemos estas barreiras de separação entre dois subsistemas por paredes, de acordo com a nomenclatura usada habitualmente em termodinâmica. A taxa a que a energia térmica é transferida através destas paredes é função, entre outras coisas, do material de que é constituída e das suas características geométricas. No caso limite em que uma parede praticamente não se deixa atravessar pelo calor diz-se isolante térmica; no limite oposto designa-se por diatérmica ou boa condutora de calor. A taxa à qual a energia térmica atravessa uma parede de espessura h e área A é dada por: Q kA∆T = , h ∆t onde k representa a condutividade térmica do material de que é feita a parede em questão, ∆T é a diferença de temperaturas entre os dois sistemas ligados através da parede e ∆t é o tempo durante o qual os sistemas estão em contacto com a parede. Note-se, pois, que o escolher um material com um pequeno valor de k, para realizar determinado isolamento, não garante que a estrutura fique bem isolada, pois a quantidade de calor conduzida depende também de três outros importantes factores: área, espessura e gradiente de temperatura. Sendo A e h característicos da peça de material a usar, a determinação experimental de k implica também fixar ∆T. Contudo, e em geral, as temperaturas dos sistemas em contacto alteram-se à medida que se dá a transferência de energia térmica. Fixar ∆T implica usar dois sistemas cuja diferença de temperaturas não varie significativamente durante o processo. Os sistemas capazes de fornecer (ou receber) energia térmica sem sofrerem variação da temperatura designam-se, como sabemos, por reservatórios de calor. No presente trabalho usar-se-á como reservatório de calor “quente” uma câmara de vapor de água (à temperatura de 100 ºC) e como reservatório “frio” um pedaço de gelo fundente (à temperatura de 0 ºC). Desta forma ∆T é constante e igual a 100 ºC. Figura 2 A determinação da condutividade térmica, k, implica também o conhecimento da quantidade de calor, Q, transferida através da parede no intervalo de tempo ∆t. Nesta experiência o valor de Q é determinado recorrendo ao conceito de calor latente. Regra geral, quando uma massa de Departamento de Física da FCTUC 1/5 Processos de Transferência e de Transporte 2007/08 determinada substância absorve uma dada quantidade de calor, a sua temperatura aumenta. No entanto, há casos em que o calor absorvido é utilizado numa modificação da fase do material (transição de fase), não havendo variação macroscópica da sua temperatura. A quantidade de energia térmica absorvida por unidade de massa num processo de transição de fase de uma substância designa-se por calor latente da substância. Neste trabalho, o calor transferido através da parede é usado para provocar a mudança de fase de gelo para água. Medindo a massa de água resultante da fusão do gelo, mg, durante a transferência de calor entre o reservatório quente e o reservatório frio, e conhecendo o calor latente de fusão da água, determina-se a quantidade de calor que atravessa a parede através da expressão: Q = m g Lg , onde Lg é o calor latente de fusão do gelo = 79.7 cal.g-1 (1 cal = 4.19 J). 2. Montagem experimental Material O aparelho utilizado inclui o equipamento mostrado na figura 1: • • • • • Gerador de vapor de água (produz vapor aproximadamente à taxa de 10g/min) Câmara de vapor com um sistema apropriado para montagem da amostra Copo de gelo 2 copos para recolha do gelo fundido e do vapor de água condensado Materiais para o estudo da condutividade térmica: vidro, madeira, lexan (plástico), masonite e pedra laminada (as placas de madeira, masonite e pedra laminada estão cobertos com folha de alumínio para não serem impregnadas de água). Além deste é ainda necessário o seguinte material: • • • • Uma balança para determinar a massa de gelo fundido Cronómetro Vaselina Craveira Figura 1 Departamento de Física da FCTUC 2/5 Processos de Transferência e de Transporte 2007/08 Para se medir a condutividade térmica de diferentes materiais será utilizada a técnica cujos elementos estão especificados na figura 1. Uma placa de cada tipo de material (espessura h) é presa entre uma câmara de vapor, que mantém uma das suas superfícies à temperatura constante de 100 ºC, e um bloco de gelo que mantém a outra superfície à temperatura de 0 ºC. Estabelece-se, portanto, uma diferença fixa de ∆T = 100 ºC entre as duas superfícies do material. O calor transferido é medido recolhendo a quantidade de água correspondente ao gelo derretido. A condutividade térmica, k (cal.cm-1s-1ºC-1) , é assim determinada através da equação: k= m g .Lg .h Q.h = , Ag .∆t.∆T Ag .∆t.∆T onde mg é a massa (gramas) de gelo fundido, Lg é o calor latente de fusão do gelo, h (cm) é a espessura da placa de material, Ag é a área (cm2)do bloco de gelo em contacto com o material, ∆t (s) é o tempo durante o qual o gelo derrete e ∆T (ºC) é a diferencial em temperatura entre as superfícies da placa. A experiência a realizar tem como objectivo determinar a quantidade de água, obtida a partir da fusão do gelo, em função do tempo. O método proposto apresenta, contudo, uma limitação importante: uma fracção da quantidade de água obtida não resulta da transferência de energia entre o reservatório quente e o reservatório frio através da parede, mas da transferência de energia entre a atmosfera e o gelo. Para fazer essa contabilização seria necessário incluir, na equação anterior, um termo que caracterizasse este processo de transferência. Este factor pode ser determinado experimentalmente, medindo a “taxa temporal” de massa de gelo fundido devido apenas às trocas de energia térmica entre o reservatório frio (gelo) e o meio ambiente. 3. Realização Experimental 3.1 – Coloque o copo de gelo (devidamente tapado) sob água corrente até o gelo ficar solto das paredes do frasco. 3.2 – Meça, usando a craveira, a espessura h da placa do material a testar. 3.3 – Monte a placa a testar sobre a câmara de vapor de água como mostra a figura 1. Tenha o cuidado de encostar a placa contra a goteira para que não se escoe água para fora do copo. Use um pouco de vaselina para assegurar a vedação nos pontos onde considerar necessário. 3.4 – Meça o diâmetro do bloco de gelo. Registe esse valor como d1. Ponha o bloco de gelo por cima da placa de material a testar, como mostra a figura 1. Não tire o gelo do copo; certifique-se apenas de que o gelo se pode mover livremente dentro do copo. 3.5 – Deixe o gelo ficar na posição descrita até que comece a fundir e fique em contacto total com o material a testar. Não comece a registar dados antes do gelo começar a derreter porque ele poderá estar inicialmente a uma temperatura inferior a 0 ºC. 3.6 – Comece por obter os dados correspondentes à taxa de fusão do gelo à temperatura ambiente procedendo do seguinte modo: 3.6.1 – Registe a massa do copo usado para receber o gelo fundido. 3.6.2 – Recolha o gelo fundido nesse recipiente durante o tempo de medida ta (aproximadamente 10 minutos). Departamento de Física da FCTUC 3/5 Processos de Transferência e de Transporte 2007/08 3.6.3 – Determine a massa do recipiente mais água no final do tempos ta e daí retire o valor mg1 da massa de gelo fundido. 3.7 – Introduza vapor de água gerado pela máquina de vapor na câmara de vapor. Deixe o vapor fluir durante vários minutos até que as temperaturas se equilibrem e o fluxo de calor seja estacionário. (Coloque o copo para recolha do vapor condensado debaixo da saída apropriada da câmara de vapor (figura 1). 3.8 – Esvazie o recipiente usado para recolher o gelo fundido. Repita o passo 3.6 mas desta vez com o vapor a entrar para a câmara de vapor. Como anteriormente, meça e registe mg2, a massa do gelo fundido e t, o tempo durante o qual o gelo fundiu (5 a 10 minutos). 3.9 – Meça novamente o diâmetro do bloco de gelo e registe esse valor como d2. Tabela I Registo de Dados Amostra h d1 d2 ta mg1 t mg2 4. Tratamento de dados 4.1 – Determine o valor médio de d1 e d2, <d>, o diâmetro médio do gelo durante a experiência. 4.2 – Use o valor de <d> para determinar Ag, a área através da qual o calor fluiu entre a câmara de vapor e o gelo. 4.3 – Divida mag1 por ta e mag2 por t para determinar Ra e R, as taxas às quais o gelo funde antes e depois de se ligar o vapor. 4.4 – Subtraia Ra de R para obter R0, a taxa à qual o gelo fundiu devido apenas à diferencial em temperatura. 4.5 – Calcule k, a condutividade térmica da amostra, tendo em conta que ∆T é a diferença entre o ponto de ebulição da água (100 ºC ao nível do mar) e 0 ºC. R0 .Lg .h (cal.cm-1.s-1.ºC-1) Ag ∆T Tabela II Tratamento de Dados κ= Amostra <d> Departamento de Física da FCTUC Ag Ra R R0 k 4/5 Processos de Transferência e de Transporte 2007/08 5. Discussão e conclusões Comente a experiência realizada e os resultados obtidos atendendo aos valores esperados (tabelados ou fornecidos pelos fabricantes dos materiais) apresentados na Tabela III. Tabela III Substância Masonite k (cal.cm-1.s-1.ºC-1) 1.13 x 10-4 Madeira (Pinho) 206 x 10-4 a 3.3 x 10-4 Plástico 4.6 x 10-4 Rocha laminada 10.3 x 10-4 ANEXO Gerador de Vapor Figura 3 1. Encha o reservatório de 1 litro a metade ou ¾ da sua capacidade e feche-o com a rolha de duas saídas. 2. Ligue o gerador e rode o botão de aquecimento até ao máximo (8) de modo a obter vapor de água, o que acontecerá ao fim de cerca de 10-15 minutos para o reservatório a ¾. Departamento de Física da FCTUC 5/5