A INFLUÊNCIA DO FENÔMENO VERANICO EM JANEIRO DE 2006: UM ESTUDO DE CASO DA SUA ATUAÇÃO EM BELO HORIZONTE, MG. ALENCAR, R.C.C. 1 FONSECA, G.L. PRUDENTE, C. N. RESUMO Em Janeiro de 2006 foi registrado na capital mineira o fenômeno veranico, sendo este caracterizado por uma estiagem de no mínimo quatro dias durante o período chuvoso. Tal bloqueio pode ser atribuído a formação (estabilização) de um vórtice ciclônico em altos níveis da atmosfera (aproximadamente 200 hpa) influenciando assim, em um movimento de subsidência de ventos, logo redução das nuvens. Tal fenômeno foi o maior dos últimos seis anos (segundo análise dados do Instituto Nacional de Meteorologia – INMET), atingindo um período de 19 dias interruptos de seca. A dinâmica da capital mineira está intrinsecamente correlacionada à dinâmica do estado, onde podemos observar o predomínio das massas Anticiclone Tropical Atlântico, Anticiclone Polar e Depressão do Chaco (Nimer – 1989 – apud Lopez – 1996). Com a formação de um veranico (bloqueio atmosférico em altos níveis), os padrões meteorológicos (temperatura, precipitação, umidade, dentre outros) são diretamente influenciados, resultando em diversas anomalias. ABSTRACT In January of 2006 he was registered in the State Minas Gerais capital the droughts phenomenon, being this characterized by without rain of at the very least four days during the rainy period. Such blockade can be attributed the formation (stabilization) of a cyclone vortex in high levels of the atmosphere (approximately 200 hpa) thus influencing, in a movement of winds, then reduction of clouds. Such phenomenon was the greater of last the six years (according to analysis given of the National Institute of Meteorology - INMET), reaching a period of 19 days consecutive of drought. The dynamics of the mining capital is correlated to the dynamics of the state, where we can observe the predominance of the masses Atlantic Tropical Anticyclone, Polar Anticyclone and Depression of the Chaco (Nimer – 1989 – apud Lopez – 1996). With the formation of a drought. (atmospheric blockade in high levels), the meteorological standards (temperature, precipitation, humidity, amongst others) directly are influenced, resulting in diverse anomalies. 1 Graduando do curso de geografia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, – Belo Horizonte. Rua Carlos Peixoto N? 522 Bairro São Lucas – Belo horizonte – MG. Telefone: (31) 88077142 E-mail: [email protected] Palavras-chave: Veranico; Janeiro; Belo Horizonte. INTRODUÇÃO O estado de Minas Gerais, em função da sua localização e extensão territorial possui uma grande diversidade climática, apresentando desde o clima tropical semi-árido no norte, até o clima tropical de altitude de verões frios no extremo sul do seu território. Tal diversidade climática resulta da combinação de fatores tanto da escala global quanto da escala local e que se refletem num dos principais parâmetros que definem o clima de uma região: o regime pluviométrico. Apesar do padrão de distribuição espacial de chuvas em Minas Gerais ser bastante diversificado, algumas características são comuns a praticamente todas as regiões como: dois períodos bem definidos, sendo um chuvoso no verão e o outro seco no inverno; e a precipitação que em sua quase totalidade, concentra-se em 6 ou 7 meses do ano, sendo o trimestre dez/jan/fev, responsável por mais de 50% do total anual (MARCANTE, 2005). Durante o período de janeiro de 2006, foi registrado o fenômeno veranico, sendo este o maior dos últimos seis anos na capital mineira, atingindo um período de 19 dias interruptos de seca. Tal vórtice ciclônico teve um deslocamento do Nordeste Brasileiro para o Sudeste, o que favoreceu o fenômeno do veranico atuar com grande intensidade em toda região. Esse deslocamento é perceptível através das imagens a seguir divulgadas no Site do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC-INPE). Posicionamento VCAN – Fonte INPE Posicionamento VCAN – Fonte INPE DADOS UTILIZADOS E METODOLOGIA Em detrimento de uma maior espacialização do fenômeno, foram confeccionados mapas, com o intuito de representar o desvio padrão em todo Estado mineiro, e a partir daí, correlacionar o desvio de precipitação em Minas Gerais com a influência do veranico em Belo Horizonte, uma vez que esse compara dados coletados em diversas regiões do Estado. Além da análise pluviométrica do mês de janeiro desde 1989 - cedido pelo site oficial do INMET 4 , tratamento de dados referentes à temperatura, umidade e nebulosidade. RESULTADOS E DISCUSSÕES Cartograma 1: Anomalia do mês de Janeiro 2006 A elaboração do mapa acima baseou-se em uma hierarquização de dados pluviométricos acumulados que são comparados a média histórica e seu desvio padrão (intervalo de oscilação da média histórica), sendo as cores quentes negativo e cores frias positivo. Sendo assim, podemos observar claramente que as regiões mais afetadas pelo veranico são as regiões Norte, Central e Leste. A área do Triangulo mineiro, Sudoeste, Noroeste e (pontualmente) a Zona da Mata, obtiveram índices equivalentes, ou próximo, da media histórica. Uma curiosidade é o extremo Sul de Minas, única região que apresentou uma ligeira alta. Tal ocorrência relaciona diretamente com a altimetria da região (em torno de 1600m) e a proximidade de São Paulo (área que foi muito influenciada por frentes frias no período em questão). A região assinalada com um o é a área aproximada da Região Metropolitana de Belo Horizonte, e como pode-se observar, os índices de anomalia são consideráveis, ficando entre -1 e- 2 SPI. • Condição do tempo: Uma das conseqüências do veranico é dificultar a formação de nuvens, uma vez que o fenômeno configura-se como uma alta pressão na superfície, logo, ventos subsidentes. Na tabela a seguir pode-se visualizar a nebulosidade da capital mineira no mês em estudo. Para elaboração dessa, é feito a divisão do céu em 10 partes. O número da nebulosidade consiste em quantos décimos do céu estava coberto por nuvens. 4 INMET: Instituto Nacional de Meteorologia; www.inmet.gov.br Como se pode observar, até o dia 15 a nebulosidade em BH foi considerável principalmente no período diurno (12 e 18 horas UTC), configurando um tempo nublado a parcialmente nublado. Em tal período já observamos que o centro do VCAN posicionava-se o Nordeste do Brasil, já do dia 17 em diante, esse deslocou para o Sudeste, tornando-se mais atuante em MG nos dias 23 a 27. • Temperatura e Umidade: A presença de nuvens influencia diretamente na temperatura, uma vez que essa é responsável por absorver e/ou refletir radiação Solar no período diurno (ate 20% do total), quanto no período noturno reter o calor emitido pela Terra. Com a presença do veranico a temperatura em BH, nos dias de sua maior atuação, ficou até 6,8°C acima da media histórica, atingindo uma temperatura máxima de 35°C nos dias 25 e 26 (as temperaturas quase se igualaram a máxima absoluta de BH que é de 35,3°C no dia 30/01/1988) e a média da temperatura máxima ficou 1,1°C acima da média. Já a umidade atingiu valores críticos, sendo a mínima 26% no dia 25, muito abaixo da normal climatológica: 79%, o que resulta (em conjunto com a alta temperatura) num tempo seco e um elevado desconforto térmico podendo gerar problemas respiratórios como, por exemplo: Asma, Bronquite, Pneumonia e etc. • Precipitação: Condizendo com os fenômenos mencionados anteriormente, o índice de precipitação apresentou valores muito abaixo da média histórica. Segundo dados do INMET, as chuvas de janeiro ocorreram nos dias 03, 05, 06, 08, 28, 29 e 30, resultando assim, em um acumulado de 144,2mm (49% da média histórica) apresentando um total de 24 dias sem chuvas na capital no mês de janeiro de 2006 sendo que desses, 19 dias seguidos sem chuva. Tal fato resultou em uma anomalia mensal de precipitação de 50 à 100mm Anomalia de Precipitação – Janeiro 2006. Fonte: CPTEC Tal fato configurou o maior veranico dos últimos seis anos (possuímos dados de dias de chuva apenas de 2000 ate 2006), e o janeiro mais seco desde 1996, ou seja, dos últimos 11 anos e o janeiro mais seco dos últimos 18 anos. Toda essa escassez gerou um déficit de 150,2mm abaixo da média histórica, o que resultou em prejuízos para o cinturão verde da região metropolitana de Belo Horizonte e um agravamento no quadro de atendimento hospitalar. CONCLUSÕES A atuação do fenômeno na capital mineira foi fator marcante no índice de atendimentos em centros de saúde de Belo Horizonte, casos por motivos respiratórios atingiram crianças e idosos, em função do aumento de temperatura e queda de vapor d’água na atmosfera. A influência do veranico sobre a produtividade das culturas também foi significativa na Região Metropolitana de Belo Horizonte, principalmente pelo mês vigente coincidir com a fase na qual algumas plantações são mais sensíveis à deficiência hídrica. No cerrado, o veranico coincide, muitas vezes, com o período de florescimento da planta, ou seja, na fase mais sensível. A previsão da ocorrência dos veranicos para uma região é fundamental e, aliada às conseqüentes perdas que este veranico pode acarretar, torna-se ferramenta importante para o desenvolvimento da agricultura e maior manutenção de centros e postos clínicos. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ABREU, M. L. Climatologia de Estação Chuvosa de Minas Gerais: De Nimer (1977) à Zona de Convergência do Atlântico Sul. Revista Geonomos, número 1, volume VI. 1998. Belo Horizonte, MG. CASTRO NETO, P.; VILLELA, E.A. Veranico: um problema de seca no período chuvoso. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.12, n.138, p.59-62. 1986. MARCANTE, R. Caracterização do regime pluviométrico da região Centro-Sul de Minas Gerais. Anais do XI Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada, USP. São Paulo. 2005. p. 1775 – 1761 SILVA, A. B. Estudos Geológicos, hidrogeológicos , geotécnicos e geoambientais integrados do município de Belo Horizonte. Belo Horizonte: UFMG. 1995. 450 p. SOUSA, S.A.V.; PERES, F.C. Programa computacional para a simulação da ocorrência de veranicos e queda de produção. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA, 25, 1996, Bauru. CD Rom. FET-UNESP/SBEA. ANEXOS: Chuvas em Janeiro de 2006 – Belo Horizonte. Fonte: INMET Comparativo das Precipitações em Janeiro de 1989 à 2006 900 800 247% Precipitação (mm) 700 220 600 172 500 170 158% 154% 142 400 120% 115% 296,3 300 76 80 71 67 200 56 % 50 30 100 49 % 30 0 Ano 1989 1990 1991 1992 Precipitação (mm) 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Média Histórica Evolução da precipitação em Belo Horizonte nos últimos 18 anos 2001 2002 2003 2004 2005 Fonte: Inmet 2006