Análise fonoaudiológica dos efeitos do ruído na saúde auditiva dos

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Análise fonoaudiológica dos efeitos do ruído na saúde auditiva dos
motoristas de ônibus da cidade de Itaperuna
Bianca Marques Rocha
Daianny de Souza Silva
Priscieli Porto Costa
Acadêmica em Fonoaudiologia na Faculdade Redentor
Maria Esther de Araújo - Fonoaudióloga, Mestre em Gestão Ambiental
Docente na Faculdade Redentor e AVM Faculdade Integrada - RJ
Resumo:
Este artigo apresenta uma breve revisão sobre os efeitos dos riscos ocupacionais
em motoristas de ônibus de transporte coletivo, destacando os aspectos
relacionados aos efeitos do ruído para a audição, exposição ocupacional, os efeitos
adversos, perda auditiva e saúde do trabalhador. Como objetivo de analisar os
efeitos que os riscos ocupacionais podem causar na saúde dos motoristas, em
especial a saúde auditiva. Através de pesquisa empírica, optou-se por uma coleta de
dados direta, utilizando-se um formulário (anexo), aplicado em uma amostra
aleatória, contatando-se que esses trabalhadores estão inseridos em um ambiente
de trabalho que não favorece a sua saúde, ou seja, sua integridade física, mental e
social. Desta forma, verifica-se a necessidade de elaborar ações que visem a
prevenção não somente auditiva, mas de todo o aspecto biopsicossocial. Afim de
visar melhores condições de trabalho e preservação da saúde dos motoristas numa
visão fonoaudiológica.
Palavras-chaves: Efeitos do ruído; Exposição ocupacional; Perda auditiva;
Saúde do trabalhador.
Introdução/ Apresentação
O estudo da fonoaudiologia em relação a exposição dos trabalhadores a
riscos ocupacionais é de extrema importância, já que este pode não somente intervir
em relação à saúde auditiva destes, mas também em sua qualidade de vida, pois
são diversos os fatores capazes de interferir na saúde e qualidade de vida desses
profissionais, no exercício de suas atividades laborais.
O conhecimento quanto ao ruído e seus efeitos na saúde do trabalhador, a
exposição ocupacional, a legislação que ampara o trabalhador, a saúde do
trabalhador com enfoque da intervenção fonoaudiológica, são os destaques desse
artigo. Espera-se, com base nessa leitura, uma compreensão de profissionais de
diferentes áreas sobre o papel da fonoaudiologia em relação aos indivíduos
expostos a riscos ocupacionais.
Fundamentação Teórica
Para o desenvolvimento biopsicossocial do indivíduo os setes sentidos são
fundamentais, e a audição é um dos mais importantes para que este ocorra, por
isso, qualquer fator que possa comprometer deve ter uma atenção especial
(SIVIERO, FERNANDES, LIMA, et al., 2005).
O mundo atual está cada vez mais urbanizado, e devido a este imenso
crescimento o ruído vem se destacando como uma das poluições mais prejudiciais à
vida dos indivíduos, sendo esta chamada de poluição sonora urbana (LACERDA,
FIGUEIREDO, NETO et al., 2012). De acordo com Yonezaki & Hidaka (2013), esta
poluição ocorre devido a uma ou várias fontes sonoras ruidosas, que se encontram
ao mesmo tempo. Sendo esta considerada a maior causa de poluição, estando em
terceiro lugar na atualidade.
De acordo com Morais (2011), o ruído está presente em toda parte do mundo
e praticamente em todos os ramos de atividade. Além de ser um som desagradável,
este pode ser constante ou alternado e de impacto, sendo este caracterizado por ser
de uma intensidade muito alta de duração pequena. Para Bisi, Coifman, Ferreira
et.al. (2013), este som ocorre devido à ausência de harmonia das ondas em
frequência e componentes, no qual pode causar lesões ao sistema auditivo do
trabalhador.
O que mais tem chamado à atenção para este acontecimento é o ruído
gerado pelo tráfego de veículos, pois este influencia na saúde auditiva dos
trabalhadores, mais especificamente a dos motoristas (LACERDA, FIGUEIREDO,
NETO et al., 2012). Esta poluição sonora, está primeiramente relacionada aos
ônibus, e seguido por outros veículos como ambulâncias, caminhões e motos.
(FREITAS & NAKAMURA, 2003 apud ROSSI, 2011).
Segundo Freitas & Nakamura (2004), este tipo de poluição ocorre
principalmente devido ao atrito dos veículos ao asfalto, o que em muitos casos este
se apresenta em má estado de conservação; ausência de isolamento acústico e
escapamento dos motores, além das buzinas. Os profissionais que trabalham nesse
ambiente acabam por se expor ao risco da surdez/perda auditiva ocupacional pela
exposição a elevados níveis de ruído, somados a exposição concomitante aos
químicos ototóxicos, existentes, como o monóxido de carbono, que podem agravar
os efeitos (YONEZAKI & HIDAKA, 2013).
Melnick (1999), diz que o ruído gera efeitos sobre a audição dos indivíduos
expostos a ele e acarreta prejuízos a saúde dos trabalhadores. No aparelho auditivo,
os efeitos da exposição ao ruído faz com que ocorra na orelha interna lesões das
células ciliadas do Órgão de Corti (ROSSI, 2011). Yonezaki & Hidaka (2013),
relatam que quando esta ocorre em forte intensidade pode levar a três efeitos, que
são definidos como efeitos temporários ou permanentes e o trauma acústico. Além
desses efeitos existem sintomas que o trabalhador pode apresentar. Segundo
Moraes (2011), um dos sintomas mais comuns é o zumbido, porque este provoca
desconforto ao trabalhador; dificuldades de compreender a fala e intolerância a sons
intensos. Existem ainda outros sinais e sintomas, tais como, perda auditiva; sono
alterado; alteração neurológica; alterações vestibulares com ocorrência de vertigens
e desequilíbrio; problemas digestivos; alterações no comportamento, como
irritabilidade, ansiedade, isolamento; hipertensão arterial; impotência sexual.
Para Leão & Dias (2010), são inúmeros os efeitos em sua saúde, já que o
elevado nível de pressão sonora trazem para os trabalhadores uma grande
dificuldade na comunicação, que envolve a sua detecção, discriminação, localização
e identificação do som; do indivíduo manter-se atento e concentrado; apresenta
também sinais de estresse, fadiga e dificuldades relacionadas a memória. Estes
dentre tantos outros estão associados aos acidentes de trabalho.
A energia sonora deste geralmente causa efeitos diversos no ser humano.
Sendo que estes podem ocorrer desde alterações mais graves, com problemas
irreversíveis, até as mais passageiras, sem muito comprometimento (ROSSI, 2011).
Quanto aos aspectos legais e normativos, o ruído faz parte de dois riscos: os
físicos e os ergonômicos, de acordo com as normas regulamentadoras NR9 E NR17.
Siviero, Fernandes, Lima et.al., (2005) relata que um dos principais fatores a levar a
uma Perda Auditiva Induzida por Níveis Elevados de Pressão Sonora (PAINEPS) é o
ruído ocupacional. Que está relacionado ao trabalho, no qual ocorre uma diminuição
gradual da acuidade auditiva, decorrente da exposição contínua a este (BISI,
COIFMAN, FERREIRA et.al., 2013).
Alves & Fiorini (2012), relatam que a PAINEPS é uma doença ocupacional
que gera uma perda auditiva neurossensorial, geralmente bilateral, acometendo
inicialmente as frequências de 4 e/ou 6 KHz, apresentando melhora em 8 KHz. Esta
tem uma progressão elevada nos primeiros 15 anos de exposição. Pois, uma
exposição constante a um ruído intenso, em média de oito horas por dia em torno de
85dB(A), pode ocasionar alterações estruturais na orelha interna do trabalhador,
determinando a existência desta patologia. (MORAES, 2011). Desta forma a
PAINEPS acarreta uma perda auditiva que ocorre de forma progressiva, indiciosa e
irreversível, relacionada ao tempo de exposição, a intensidade e a suscetibilidade de
cada trabalhador. (LEÃO & DIAS, 2010).
A NR7 diz que para que ocorra a fiscalização desta exposição, devem ser
realizados exames admissionais e periódicos, objetivando avaliar se houve
mudanças ou não do limiar auditivo destes indivíduos (Azevedo, Bernardo, Shing
et.al., 2009). De acordo com Silva & Costa (1998), é difícil dar diagnóstico de perda
auditiva relacionada ao ruído ambiental e sugerir medidas corretas, devido a várias
razões: primeiro, depende de um exame subjetivo que necessita da colaboração do
trabalhador e segundo por interferir em problemas econômicos e sociais. Já que,
quando as condições de trabalho não são favoráveis, o desgaste, o envelhecimento
e doenças somáticas podem advim como consequência (IGNÁCIO, 2011). Desta
forma, Ignácio (2011) diz que é preciso identificar e entender esses problemas, no
qual o trabalhador se expõe, para que seja possível propor condutas adequadas,
para tal é indispensável a atuação de profissionais da saúde em empresas de
transporte coletivo, em alerta à saúde desses motoristas, para que seja possível a
prática de promoção de saúde e prevenção dos riscos e doenças ocupacionais.
Para Ignácio (2011), no Brasil a saúde do trabalhador compõe uma área da
Saúde Pública no Sistema Único de Saúde (SUS) que objetiva promoção e proteção
da saúde deste através de desenvolvimento de ações de vigilância dos riscos
existentes nos ambientes e condições de trabalho. Trata-se de uma tarefa árdua,
que requer a atuação de uma equipe especializada. No que se refere a saúde
auditiva do trabalhador, é necessário uma equipe multidisciplinar composta por
fonoaudiólogos e médicos que estudam o paciente e profissionais da segurança e
medicina do trabalho
que realiza estudo em relação as condições de trabalho
(SILVA & COSTA, 1998).
Metodologia
Materiais e Métodos
Este artigo caracteriza-se como um estudo empírico realizado no Município de
Itaperuna estado do Rio de Janeiro, com motoristas de empresas de transporte
coletivo urbano de ônibus que trabalham em veículos com motor dianteiro.
A coleta constou-se com uma amostra aleatória de 17 motoristas de ônibus,
com idade entre 27 a 63 anos, considerando-se a jornada de trabalho, o tempo de
atuação profissional e as condições de trabalho.
A pesquisa foi realizada em três etapas:
A primeira etapa foi composta pelo levantamento bibliográfico, para uma
análise mais detalhada a respeito do estudo em questão.
A segunda ocorreu por meio da observação em loco das condições e jornada
de trabalho de seguindo o trajeto de um terminal a outro.
A terceira constou-se da realização da coleta direta, utilizando um formulário
estruturado (Anexo), com questões relacionadas à saúde dos trabalhadores,
respondido pelos motoristas de ônibus. Logo após estas etapas, foi realizado uma
analise de discussão a respeito dos resultados obtidos.
Resultados
Observação em loco:
Na etapa em questão observou-se que os veículos possuem motor dianteiro,
produzindo vibração e calor. Um fato notório e preocupante está nas péssimas
condições de conservação dos veículos, que apresentam janelas que entram em
vibração quando o motor no veículo é acionado, agravando durante a locomoção.
Soma-se a má conservação os assentos frouxos e a má higienização no interior do
veículo.
No que se refere as condições de trabalho, os motoristas dirigem sentados
em poltronas que não favorece sua postura, sem a utilização de cinto de segurança,
produzindo riscos ergonômicos por esforço repetitivo e psicofísico. Alguns veículos
contam com trocadores, no entanto, em boa parte, o motorista realiza dupla função.
Durante a jornada, o motorista é submetido ao ruído e vibração do motor, ao
ruído produzido pelos freios e pelas portas, ao abrir e fechar. Em boa parte do trajeto
as ruas encontram-se em má estado de conservação e com muitos buracos,
algumas nem mesmo são asfaltadas, produzindo mais ruído e vibração, além de
uma grande dispersão de partículas de suspensão. Observou-se que alguns
motoristas utilizando fones de ouvido, optando por ouvir música durante o trajeto.
Resultados:
1) Em relação ao tempo de atuação laboral nesta profissão.
Tabela 1
Tempo de
0 a 5 anos
6 a 10 anos
serviço
11 a 20
21 a 30
31 a 40
anos
anos
anos
Quantidade
8
2
4
2
1
Porcentagem
47,05%
11,76%
23,52%
11,76%
5,9%
2) Em relação a atividades exercidas anteriormente.
Tabela 2
Já teve outra
Sim
Não
14
3
82,35%
17,65%
profissão?
Quantidade
Porcentagem
A tabela 2.1 - Identificação da atividade exercida anteriormente.
Profissão
Motorista de
Motorista de Marceneiro Outros
caminhão
ambulância
Quantidade
10
2
1
1
Porcentagem
71,42%
14,3%
7,14%
7,14%
Tabela 2.2 - O tempo das atividades laborais exercidas anteriormente.
Anos de profissão
0 a 10
11 a 20
Acima de 20
Quantidade
7
5
2
Porcentagem
50%
35,8%
14,2%
Tabela 2.2.1 – Características do ambiente de trabalho anterior ao atual.
Características do
Silencioso
Ruidoso
Outros
Quantidade
2
12
-
Porcentagem
14,3%
85,7%
-
ambiente de trabalho
Quanto a queixa de problemas auditivos, 88,23% relatam não apresentar
desconforto e 11,77% relataram desconforto quanto ao ambiente de serviço.
Quanto a saúde, 23,52% relataram ser hipertensos.
Quando questionado a respeito do uso de medicamentos, 82,35%relataram
não fazer uso de medicamentos frequentes, e 17,65% relataram fazer uso de
medicamentos como Atenolol, Pressat, com indicação a tratamento de hipertensão.
Quanto a existência problemas auditivos na família destes trabalhadores,
76,47% relataram presença de alterações ou queixa quanto a audição.
Tabela 3 - Exposição a ruídos fora do trabalho.
Exposição
Sim
Não
Às vezes
Quantidade
2
14
1
Porcentagem
11,77%
82,35%
5,88%
Um dos pontos relevantes na pesquisa em questão foi em relação aos sinais
e sintomas de alteração auditiva. Apenas um participante, equivalente a 5,88%
relatou apresentar zumbidos e vertigem com sudorese.
Tabela 4 - A respeito do desconforto auditivo relacionado a sons fortes.
Sons fortes
Sim
Não
Quantidade
6
11
Porcentagem
35,3%
64,7%
incomodam?
Na coleta referente a dificuldade de acompanhar uma conversa em grupo ou
até mesmo individual, 11,8% relataram apresentar alguma dificuldade.
Já para o item de assistir/ouvir televisão ou rádio em volume muito intenso
17,65% relatam possuir esse este hábito.
Tabela 5 - Quanto ao estresse em relação ao seu ambiente de trabalho.
Classificação referente ao estresse
Participantes
Confortável
11
Irritado
4
Cansado
2
Desmotivado
1
*Neste item os participantes assinalaram mais de uma opção.
Tabela 6- Quanto a se sentir cansado ou sonolento.
Apresenta sonolência?
Participantes
Percentual
Nunca
14
82,36%
Raramente
-
-
Um pouco
2
11,76%
Bastante
1
5,88%
O tempo todo
-
-
No formulário houve um questionamento a respeito da exposição à algum tipo
de explosão. E de acordo com os dados coletados estabeleceu-se que 17,65% já
estiveram expostos a algum tipo de explosão como, por exemplo, a de um pneu de
caminhão.
Quanto a realização de avaliação auditiva, 100% relatam ter passado por uma
avaliação, ao longo de sua vida profissional.
A respeito do uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) apenas 35,
2% relatam já ter utilizado EPIs do tipo: capacete, óculos, auditivos e máscaras,
porém no exercício atual não utilizam nenhum tipo.
Tabela 7- Tempo de utilização do EPI.
Participante
Por quanto tempo
fez uso do EPI?
A-
1 ano
B-
2 anos
C-
3 anos
D-
10 anos
E-
18 anos
F-
Não soube responder
Tabela 8 – Realização de exames admissionais.
Exames admissionais
Sim
Não
Participantes
15
2
Tabela 9 – Realização de exames periódicos.
Exames periódicos
Sim
Não
Participantes
11
6
* Alguns dos indivíduos relataram não possuir o tempo de serviço indicado para
realização do exame periódico, enquanto outros relataram desconhecer a existência
desses exames.
Tabela 10 – Sensações percebidas após um dia de trabalho.
Percebe após 1 dia de trabalho sente?
Participantes
Normal
14
Zumbido
1
Tontura
-
Baixa auditiva
1
Plenitude auricular
-
Irritação nos olhos
2
Cansaço
1
Irritação da mucosa nasal
-
Outros:
-
*Neste item os participantes assinalaram mais de uma opção.
Discussão
Ignácio (2011) cita que a saúde do trabalhador encontra-se em relação a
inúmeros determinantes como, por exemplo, os fatores de risco ocupacionais, que
envolvem os riscos físicos, químicos, mecânicos e os decorrentes da organização
laboral.
Siqueira (2012) relata que estes trabalhadores realizam, em um único dia de
trabalho, vários deslocamentos atendendo a uma diversidade de passageiros, em
um ambiente nem sempre adequado.
Na primeira etapa da pesquisa, observou-se que os motoristas estão
expostos a riscos ocupacionais diversos, destacando-se os ambientais e
ergonômicos, pelas condições do ambiente de trabalho, esforço psicofísico e
movimentos repetitivos, como a troca de marcha do veículo. A ausência de
manutenção do veículo acaba por expor o trabalhador a riscos que poderiam ser
evitados ou minimizados, como o bom acondicionamento do motor e estado geral do
veículo, reduzindo o risco por vibração, calor e ruído.
Foi observado que, para minimizar o ruído, alguns destes profissionais fazem
o uso de fones de ouvido durante o serviço. Esse comportamento, além de tirar a
atenção e concentração do profissional, faz com que os quadros de saúde auditiva
se agravem.
Constatou-se ainda que esses profissionais também encontram-se expostos a
gases tóxicos derivados da combustão dos veículos automotores, como o monóxido
de carbono, tanto do próprio veículo como dos outros que se encontram na via que
este percorre, além das partículas em suspensão.
Ramos (2006), relata que uma das perdas auditivas ocupacionais refere-se ao
PAINPES, já que esta é uma perda provocada por exposição a níveis elevados de
ruído, e que esta perda ocorre de forma gradual e de acordo com a individualidade
de cada um. Para o tempo das atividades laborais exercidas anteriormente, as
características do ambiente que os motoristas se encontravam foram expostas na
tabela 2.2.1, com um resultado de 85,7% se encontravam em um ambiente
extremamente ruidoso.
Foram analisados ainda fatores como a ingestão de medicamentos ototóxicos
e se há ou já teve quadros hipertensivos destes profissionais. De acordo com
Marchiori, Filho & Matsuo (2006), a diminuição da audição pode ser devido à
hipertensão arterial. Pois estudos de Marková (1990) apud Marchiori, Filho & Matsuo
(2006), na República Tcheca, considerou que os hipertensos são fatores para que
haja uma perda auditiva. E nos dados coletados pode verificar que 23,52%, relatam
ter hipertensão e ainda apresentam problemas auditivos.
A exposição aos elevados níveis de pressão sonora pode gerar nos
indivíduos expostos a estes uma intolerância a sons intensos (PALMA, 1999). Nesta
pesquisa houve o relato de que 35,3% dos entrevistados apresentam esta
intolerância, sendo um resultado de acordo com a autora supracitada. Além disso,
Bezerra & Iório (2006) relatam que estes elevados níveis podem sim comprometer a
audição, já que a cóclea é um órgão muito sensível e vulnerável.
Em relação a tabela 6., a análise a respeito do estresse não foi compatível
com o que Morais (2011) demonstra. Pois mais da metade dos entrevistados
ressalvam se sentir confortável, não apresentam picos de estresse, e o restante
mostrou-se sentir cansado, irritado e desmotivados. Resultados esses compatíveis
com o que Passchier-Vermeer; Passchier (2000); Tse; Flin; Mearns (2006) apud
Siqueira (2012) relatam, que no ambiente de trabalho dos motoristas, ocorrer fatores
que levam ao estresse.
Fiorini (1991) apud Ávila (2007), afirma que uma das perturbações que o
ruído causa é em relação ao sono. Pois durante o dia, devido às várias horas de
trabalho escutando um ruído desagradável, o sono é prejudicado, e isto vem a
prejudicar o seu rendimento no dia seguinte, como o cansaço, a sonolência durante
a execução deste (SELIGMAN, 1997 apud ÁVILA, 2007).
A respeito da exposição à algum tipo de explosão foram atribuídos 17,65%
dos indivíduos que já estiveram expostos a algum tipo de explosão, e 82,35% nunca
tiveram expostos a algum risco como este. Este é um fator importante pois, se
exposto a um risco como este provavelmente teve alguma lesão a nível de sistema
auditivo, e como seu trabalho de motorista apresenta riscos, este pode vir a ter um
agravamento do quadro.
A tabela 8., aborda uma das formas de identificar se existe uma perda
auditiva quando o indivíduo começa a trabalhar em uma empresa, cujo exame é
chamado de exame admissional, e existe o que é realizado periodicamente, afim de
identificar se o cargo que o profissional ocupa acarreta danos a saúde auditiva,
afirma Yonezaki & Hidaka (2013). Através da coleta dos dados pode-se constatar
que 88,23 % dos trabalhadores da empresa em questão realizam exames
admissionais, e 64,8 % realizam os periódicos. No entanto, quando questionados, ao
exporem suas repostas pareciam estar omitindo informações, por medo de virem a
perder seu emprego.
A respeito do uso dos EPIs, observou-se que os motoristas não fazem o seu
uso; ficam expostos também aos raios solares, pois a maior parte dos ônibus não
possuem cortinas, além da sua limpeza interior que se encontra precária.
A empresa ainda não dispõem de um programa de conservação auditiva
(PCA), o qual seria muito importante para os trabalhadores ali presentes. Pois de
acordo com Cézar (2000), o PCA visa prevenir a saúde auditiva dos trabalhadores
expostos a ambientes de risco. Ainda segundo este, o programa engloba uma
equipe multidisciplinar que conta com a participação de um fonoaudiólogo.
Em saúde ocupacional, a atuação fonoaudiológica é de grande importância,
pois este profissional visa realizar o monitoramento, coordenação e participação do
programa em questão, além de realizar palestras com um publico que engloba
desde os trabalhadores ate mesmo os empresários. Ele irá acompanhar a audição
dos indivíduos, afim de preservar a audição normal ou ate mesmo aquelas já
afetadas (CÉZAR, 2000).
Considerações
É fato que os motoristas de ônibus encontram-se expostos a condições
insalubres, pois são na maioria das vezes são na maioria das vezes obrigados a
seguir as normas que a empresa estabelece e não a que o Ministério do Trabalho
sugere.
Um dos aspectos mais gritantes em relação a estes é o ruído, que é um dos
riscos ocupacionais mais encontrados em relação aos motoristas de ônibus, isto
devido o motor destes encontrarem-se na dianteira, e não terem uma manutenção
regular, já que em muitos dos ônibus a parte relacionada ao enclausuramento, entre
tantos outros fatores citados no decorrer do artigo contribuem com os riscos
auditivos.
Desta forma os motoristas estão expostos a condições de trabalho
extremamente inapropriadas. E isto faz com que muitas vezes estes não venham a
reclamar por medo de serem demitidos. O que pode ser analisado em relação aos
motoristas entrevistados, é que o relato foi incoerente com o que a literatura
apresenta isto por receio de algum tipo de retaliação. No entanto, algumas
informações foram coerentes.
Além disso, é importante frisar a possível mudança dos motores dianteiros
para a parte traseira, pois está seria uma grande vantagem à saúde auditiva. Sabese que haverão gastos para realizar estas mudanças, e demandará tempo até que
todos os veículos possam ser trocados, no entanto, é de grande valia realizar este
investimento afim de evitar que com o passar do tempo haja gastos com
aposentadorias, remédios, exames entre outros devido a atividade laboral ser
insalubre. Contudo, acredita-se que para a melhoria da saúde auditiva e psicossocial
dos trabalhadores devem ser implementadas as medidas do PCA, com a
participação da fonoaudiologia para que haja a prevenção acima de tudo.
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ANEXO
Formulário com trabalhadores expostos ao ruído
Esse formulário é parte integrante da construção de uma pesquisa realizada pelo curso de
fonoaudiologia. Não haverá identificação e as informações serão utilizadas exclusivamente
para fins acadêmicos.
Data: ________________
Idade:________________
Sexo: ( ) Masculino
( ) Feminino
Perguntas:
1- Há quanto tempo trabalha como motorista de ônibus?
Resposta:_________________________________________
2- Já teve outra profissão?
Resposta:____________________________ Qual função:____________________________
Por quanto tempo?____________________________________________________________
Como era o ambiente? ( ) Silencioso ( ) Ruidoso
Outros:_____________________________________________________________________
3- Já teve/ou tem problemas de ouvido?
Sim ( )
Não ( )
Tipo:_______________________________________________________________________
4- Já teve ou tem hipertensão?
Sim ( ) Não ( )
5- Faz ou fez uso de algum medicamento?
Sim ( ) Não ( ) Qual: ______________________________________________________
Por quanto tempo?____________________________________________________________
6- Já fez cirurgia de ouvido?
Sim ( ) Não ( )
Tipo:_______________________________________________________________________
7- Tem alguém na família com problemas de audição?
Sim ( ) Não ( )
Qual:_______________________________________________________________________
8- Fica exposto ao ruído fora do trabalho?
Sim ( ) Não ( )
Tipo:_______________________________________________________________________
9- Sente “barulhos no ouvido” - zumbido?
Sim ( ) Não ( )
Constante ( ) Inconstante ( ) Só no silêncio ( )
De que tipo?_________________________________________________________________
10- Sente “tonteira” - vertigem?
Não ( )
Sim ( ) - Rotatórias ( ) Não rotatórias ( )
11- Sente desconforto a sons fortes?
Com vômitos ( )
Com sudorese ( )
Sim ( )
Não ( )
12- Tem dificuldade em acompanhar uma conversa em grupo ou até mesmo individual?
Sim ( ) Não ( )
13- Assiste/ ouve rádio ou televisão em volume intenso quando está na presença de outra
pessoa?
Sim ( ) Não ( )
14- Como se sente em relação ao ruído no ambiente de trabalho?
( ) Confortável ( ) Irritado ( ) Cansado ( ) Desmotivado
15- Sente-se sonolento?
( ) Nunca ( ) Raramente
( )Um pouco
( ) Bastante
( ) O tempo todo
16- Já esteve exposto a algum tipo de explosão?
Sim ( ) Não ( )
17- Já sofreu traumatismo craniano encefálico?
Sim ( ) Não ( )
18- Já realizou exames audiométricos?
Sim ( ) Não ( )
19- Como considera a sua audição?
Normal ( )
Reduzida bilateral ( )
Reduzida orelha esquerda ( )
Reduzida orelha direita ( )
20- Faz ou já fez uso do EPI?
Sim ( ) Não ( )
Por quanto tempo?____________________________________
21- Fez exames admissionais: Sim ( ) Não ( )
Faz exames periódicos: Sim ( ) Não ( )
22- Após um dia de trabalho sente?
Normal ( )
Zumbido ( ) Tontura ( )
Irritação nos olhos ( )
Cansaço ( )
Qual?_________________________
Qual?_________________________
Baixa auditiva ( ) Plenitude auricular ( )
Irritação da mucosa nasal ( )
Outros?_____________________________________________________________________
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