Sistema de Telemetria Para Automatizar o Abastecimento de Água Utilizando da Plataforma Java Marcelo Duarte Lima Renzo Paranaíba Mesquita INATEL Instituto Nacional de Telecomunicações Santa Rita do Sapucaí, Brasil [email protected] INATEL Instituto Nacional de Telecomunicações Santa Rita do Sapucaí, Brasil [email protected] Resumo — Este artigo tem por finalidade apresentar o desenvolvimento de um sistema composto de uma aplicação na plataforma Java e um equipamento eletrônico de telemetria, para proporcionar o monitoramento e controle de dispositivos remotos, com o intuito de facilitar a operação de abastecimento de água municipal. Também serão abordados detalhes sobre o desenvolvimento destas aplicações como também características e informações sobre as necessidades de automação do sistema autônomo de abastecimento de água em cidades de Minas Gerais. I. INTRODUÇÃO Dentre os recursos naturais existentes no planeta terra, a água é o elemento mais precioso, pois se apresenta como elemento essencial para existência das espécies que habitam este planeta. Pela grande presença deste elemento no planeta, por muito tempo os recursos hídricos foram utilizados de forma irracional pelos seres humanos, por serem considerados recursos infindáveis e renováveis. Segundo Victorino (2007), dentre toda a água existente no planeta, a àgua salgada ocupa 97% do total, o que vem a ser impossível para consumo. A água utilizável está nos rios, nos lagos, nas águas da chuva e na água subterrânea. No entanto, elas todas juntas correspondem a apenas 1% do volume de água doce apropriada para consumo [1]. Com o aumento da população mundial e com a crescente consciência sobre o caráter esgotável da água, surge a necessidade da gestão eficiente deste recurso a fim de obter uma melhor utilização. Diante deste cenário, a automação dos processos e a coleta de informações relativas às atividades envolvidas no abastecimento de água se tornaram atividades essenciais em grande parte das companhias que oferecem este tipo de serviço. Um sistema de abastecimento de água tem por objetivo prestar um serviço fundamental para a saúde e o bem estar de uma população, oferecendo um serviço de fornecimento de água com qualidade. A infraestrutura de um sistema de abastecimento hídrico é composta por diversas estações, que cuidam desde a captação da água até o monitoramento do consumo pelos clientes [2]. Com o objetivo de automatizar e melhorar a performance da operação de coleta e distribuição do abastecimento de água do SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) da cidade de Boa Esperança-MG, foi desenvolvido um sistema que telessupervisiona as estações de bombeamento e as estações reservatórias de água da cidade por meio de unidades remotas de telemetria instaladas em pontos específicos do perímetro urbano. Neste artigo, serão abordados quais foram os principais componentes necessários para prover este tipo de serviço ao SAAE, e também serão abordados os conceitos das ferramentas e tecnologias utilizadas no desenvolvimento do sistema. Primeiramente será discutido como os serviços autônomos de água e esgoto são constituídos, em seguida serão abordados detalhes de algumas tecnologias utilizadas como conceitos sobre a linguagem de programação JAVA e o banco de dados MySQL, componentes essenciais utilizados para implementação do software supervisório. Ainda em tecnologias utilizadas será discutido maiores detalhes da tecnlogia GSM, o respectivo módulo que permite a comunicação entre as unidades a serem monitoradas e o sistema de controle. Veremos também as ferramentas Altium Designer utilizada para o projeto do hardware do sistema e o Codewarrior, utilizado para implementação do firmware da unidade de controle. Serão abordadas também as estruturas internas do projeto e por fim as funcionalidades disponíveis aos usuários operadores do sistema oferecidas pelo software supervisório. II. SAAE - SERVIÇO AUTÔNOMO DE ÁGUA E ESGOTO O Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) é formado por empresas públicas de saneamento básico, voltadas para o abastecimento de água e tratamento de esgoto das cidades onde o serviço não foi licitado à empresas privadas. Os SAAEs estão presentes em grande parte dos municípios brasileiros, sendo regidos por legislações municipais e não subordinados a apenas um, mas por diversos organismos governamentais. Na maioria dos casos, a criação dos SAAEs era advinda de programas de saneamento do Ministério da Saúde. Na década de 1960, muitos foram geridos em parceria com a extinta Fundação de Serviços de Saúde Pública (FSESP)[3], baseando nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros [4]. Os SAAEs também são beneficiados por alguns programas governamentais, como por exemplo, o Programa de despoluição de bacias hidrográficas da Agência Nacional de Águas (ANA) [5]. A ANA é uma agência vinculada ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) [6]. Este programa não financia obras, os recursos somente são liberados mediante o cumprimento de metas de desempenho das estações de tratamento de esgotos (ETEs). Para o SAAE do município de Boa Esperança, localizado ao sul do estado de Minas Gerais, foi desenvolvido um Sistema Automatizado de Monitoramento e Controle que visa centralizar informações relevantes dos pontos de interesse dentre as estações da rede de abastecimento de água. De forma geral, o sistema consiste de um hardware que faz a leitura do nível dos tanques, realiza o acionamento das bombas e monitora o status das mesmas e, um software supervisório, que recebe informações geradas pelo Sistema de telemedição, permitindo seu gerenciamento pelos funcionários da SAAE. Os detalhes de implementação e tecnologias utilizadas serão abordados nos tópicos seguintes. III. TECNOLOGIAS UTILIZADAS A. MWS (Management Water Supply) O Sistema desenvolvido utiliza do MWS (Management Water Supply), que é um sistema desenvolvido pela empresa Hera [7] baseado em um sistema SCADA (Supervisory Control and Data Aquisition). Um sistema SCADA neste caso nada mais é que um software que monitora, controla e alarma diferentes partes gerenciáveis de um sistema a partir de um local central [8], funcionando como um servidor de coleta de dados. O Sistema, por meio de sensores e atuadores instalados nas unidades automatizadas (UTR's - Unidades Terminais Remotas), possibilita a medição a distância do nível dos reservatórios. O sistema também permite o telecontrole para o acionamento do bombeamento à distância, agilizando a operação e supervisão das unidades. A tecnologia utilizada neste sistema envolve diversos meios de comunicação que vão desde a infraestrutura provida por empresas operadoras de sistemas de telefonia móvel, até empresas provedoras de acesso à internet. Os dados são transmitidos ao sistema MWS via GPRS (General Packet Radio Service)[9] por meio da rede das operadoras de telefonia móvel (tecnologia de comunicação GSM). B. A PLATAFORMA JAVA Para desenvolvimento do software supervisório, foi utilizada uma das linguagens de programação mais populares dos últimos tempos, a linguagem Java. Java é uma linguagem de programação e plataforma computacional lançada pela primeira vez pela Sun Microsystems em 1995 [10]. É uma linguagem orientada a objetos [11] e com uma documentação muito extensa, facilitando assim o desenvolvimento de projetos por meio dela. A sintaxe da linguagem Java é muito similar às linguagens C e C++. Uma das principais características da plataforma Java, é a presença de uma máquina virtual (Virtual Machine) [12]. C. O BANCO DE DADOS MYSQL O MySQL é um sistema de gerenciamento de banco de dados (SGBD)[13] que utiliza a linguagem SQL (Structured Query Language)[14] como linguagem oficial para manipulação dos dados. O MySQL foi criado na Suécia por dois suecos e um finlandês: David Axmark, Allan Larsson e Michael "Monty" Widenius, e desde então, tem se tornado um dos bancos de dados mais populares do mundo, perdendo apenas para o banco de dados Oracle[15], segundo dados do DB-Engines Ranking, como mostra a Figura 1. Dentre as vantagens oferecidas por este banco, podemos destacar: é uma plataforma gratuita, possui boa portabilidade podendo ser executado em qualquer plataforma atual, possui compatibilidade com inúmeras linguagens de programação e oferece um bom desempenho e estabilidade chegando muitas vezes a ser superior a muitos bancos de dados comerciais. Hoje, o banco de dados MySQL é propriedade da empresa Oracle Corporation, porém, ainda é um banco de dados de código aberto e continua sendo distribuido gratuitamente. Figura 1. Ranking de banco de dados segundo o DB-Engines Ranking [16]. D. A TECNOLOGIA GSM A comunicação entre o sistema supervisório e as unidades remotas, utiliza a rede das operadoras de telefonia móvel como meio de troca de dados. Na década de 80, as autoridades européias viram a necessidade de implantar um sistema digital de telefonia móvel, pois até este período, a Europa era tomada por vários padrões analógicos, em sua maioria incompatíveis entre si [17], dando inicio a padrões digitais, dentre eles o GSM. O GPRS é uma evolução da tecnologia GSM. É um serviço, sobreposto ao GSM, de conexão à internet, sem a necessidade de estabelecer uma chamada telefônica de dados para transferir informações [18]. O GPRS ainda incorpora o protocolo TCP/IP em seus serviços, permitindo uma grande variedade de aplicações, dentre elas a telemetria. O TCP/IP (Transmission Control Protocol / Internet Protocol), é um conjunto de protocolos de comunicação que oferece um serviço de troca de dados "fim-a-fim". Este conjunto de protocolos é organizado em forma de camadas, seguindo um modelo de referência, chamado modelo OSI (Open Systems Interconnection) onde cada camada tem um conjunto de responsabilidades, disponibilizando serviços às camadas subsequentes [19]. É um protocolo difundido mundialmente, nele se baseiam quase todas as estruturas de rede de dados utilizadas atualmente. O estabelecimento da conexão entre os dispositivos que compõem o projeto é realizada por meio de Sockets. Um Socket nada mais é que um fluxo de comunicação entre um programa cliente e um programa servidor em uma rede. Cada Socket possui um endereço de acesso, que é formado por um endereço IP de um host e uma porta. Na Figura 2 pode-se visualizar como funciona o processo de troca de mensagens entre cliente e servidor utilizando da interface Socket. SERVIDOR IP / PORTA CLIENTE IP / PORTA Dentre os diversos fabricantes de módulos GSM atuantes no mercado atual, foi utilizado o módulo GL865-QUAD [20] da fabricante italiana Telit, devido a familiaridade com o módulo e os bons resultados oferecidos por ele em experiências anteriores. A Figura 3 ilustra o módulo utilizado. Figura 3. Módulo GSM utilizado no projeto. O módulo GL865-QUAD, possui funcionalidades que podem ser aplicáveis a sistemas automotivos, de segurança, telemetria, transmissão de voz, SMS, dados ou FAX, além de possuir compatibilidade com o protocolo TCP/IP e utilizar da tecnologia GPRS. O módulo possui o recurso Easy GPRS que permite aos usuários entrar em contato com dispositivos na internet e estabelecer fluxo de dados por meio de Socktes com até seis conexões simultâneas [21] . Este recurso de comunicação pode ser visto como uma forma de obter uma conexão serial "virtual", totalmente transparente entre o software de aplicação, servidor na Internet e o firmware implementado na unidade que gerencia as atividades do módulo. CRIA SOCKET TCP LISTEN CONNECT (SERVIDOR) ACCEPT (CLIENTE) Figura 4. Exemplo da pilha de protocolos envolvidos nos dispositivos GSM da Telit. [22] RECEBE DADOS ENVIA DADOS ENVIA DADOS RECEBE DADOS CLOSE SOCKET CLOSE SOCKET FIM DA CONEXÃO Figura 2. Estabelecimento de um socket para troca de mensagens TCP. Dentre as especificações do módulo, estão citadas as mais utilizadas no projeto. Modelo GL865-QUAD, frequências de operação compatíveis, 850, 900, 1800 e 1900 MHz, os protocolos da rede da operadora são: GSM/GPRS protocol stack 3GPP, permite o acesso à pilha TCP/IP para configuração do APN e conexão ao servidor utilizando comandos AT, a mínima sensibilidade de sinal é de: 108dBm para 850/900 MHz e -107dBm para 1800/1900 MHz . A taxa de comunicação serial, para troca de informações da unidade de controle pode ser definida entre 300 a 115.200 bps. IV. FERRAMENTAS UTILIZADAS A. NETBEANS Para o desenvolvimento do supervisório por meio da linguagem Java, foi utilizada a IDE de desenvolvimento NetBeans. Uma IDE de desenvolvimento nada mais é que um software que facilita o desenvolvimento de novas aplicações em uma certa linguagem. O NetBeans IDE oferece suporte abrangente e de primeira classe para as tecnologias e melhorias de especificação Java mais recentes. Com seu Editor Java em constante aprimoramento, muitas funcionalidades avançadas e uma extensa linha de ferramentas, modelos e exemplos, o NetBeans IDE se apresenta como uma das ferramentas mais interessantes para desenvolver aplicativos em Java atualmente. Ele também fornece modelos de códigos, dicas de codificação e ferramentas de refatoração. O editor suporta várias linguagens [23], incluindo Java, C/C++, XML, HTML, PHP, Groovy, Javadoc, JavaScript e JSP, permitindo assim utilizar de várias outras linguagens de programação e tecnologias em uma só ferramenta. Como o NetBeans é uma IDE extensível, é possível ainda adicionar suporte para muitas outras linguagens. B. ALTIUM DESIGNER MySQL) por meio de annotations [27]. O Hibernate também oferece facilidades de consulta e recuperação de dados, reduzindo significantemente o tempo de desenvolvimento gasto com a manipulação manual de dados no SQL e JDBC (Java Database Connector). O Hibernate é um software livre de código aberto e distribuído com a licença LGPL [28]. V. HARDWARE DO SISTEMA De acordo com Coelho e Lobue (2006), o desenvolvimento do controle industrial tem sido fortemente influenciado pela tecnologia dos dispositivos microprocessados, que possibilitaram tornar o controle dos processos industriais totalmente distribuído[29], e neste projeto não foi diferente. Os dispositivos microprocessados foram de vital importância para permitirem o acesso às informações relevantes de certas partes do sistema de distribuíção de água da SAAE. A. DESCRIÇÃO DO HARDWARE O hardware do sistema, utilizado como unidade remota de controle e telemetria, é constituído por um microcontrolador, que embarca toda a lógica de operação do hardware, uma fonte de alimentação, entradas de sensores e saídas de atuadores, além do dispositivo de comunicação GPRS (módulo GSM Telit). A Figura 5 ilustra a placa da unidade de controle e a Figura 6 ilustra por meio de blocos os principais componentes que formam esta placa. Para a implementação das unidade de controle remotas do sistema, o esquema elétrico e a placa de circuito impresso (PCI) do hardware foram desenvolvidos utilizando a ferramenta Altium Designer versão 10.391391. O Altium Designer é uma ferramenta Ecad para construção de projetos eletrônicos, esquema elétrico e layout de placas de circuitos impressos [24]. Com esta ferramenta, foram desenvolvidas três placas de circuito impresso: a placa de controle, a placa sensora (entradas) e placa atuadora (acionamentos). C. CODEWARRIOR DEVELOPMENT STUDIO O firmware [25] embarcado no microcontrolador utilizado na unidade de controle, foi implementado utilizando o CodeWarrior Development Studio versão 10.1, que é um ambiente de desenvolvimento integrado (IDE) para os microcontroladores da Freescale. Esta ferramenta fornece uma estrutura para o desenvolvimento de aplicações embarcadas complexas [26]. D. HIBERNATE Figura 5. PCI principal da unidade de controle. A fim de facilitar a manipulação dos dados no banco de dados MySQL, foi utilizado um framework de persistência de dados denominado Hibernate. O Hibernate é um framework para o mapeamento objeto-relacional escrito na linguagem Java. Este framework facilita o mapeamento dos atributos entre uma representação de dados de um modelo de objeto (por exemplo, o Java) para dados de modelo relacional (por exemplo, os tipos de dados utilizados no do módulo enquanto conectado ao servidor, como SMS, chamadas telefônicas, análise de nível de sinal e gerenciamento de várias conexões simultâneas. 5) Circuito de entrada: Circuito de entrada analógica 4 a 20 mA para leitura de nível de tanque. Circuito de entrada digital de retorno do quadro elétrico para verificar status do motor, considerando motor ligando quando tensão entre 5 a 24 Vdc. 6) Circuito de saída: Circuito de acionamento, via contato seco de relé, para ligar e desligar motores. B. FIRMWARE Figura 6. Diagrama em blocos da unidade de controle. A seguir serão descritas de forma sucinta algumas das principais características de cada componente desta placa: 1) Fonte de Alimentação: A Fonte de alimentação do sistema possui entrada de 12 Vdc e saída 3,67 Vdc. Ela é responsável por alimentar os blocos microcontrolador, módulo GSM e memória EEPROM. O fabricante do módulo GSM recomenda uma fonte que suporte picos de 2A, fato comprovado durante análise de consumo do equipamento quando o modulo GSM inicia comunicação com a operadora para efetuar diversas operações como registro na operadora, enviar e receber SMS, realizar e receber ligações e iniciar conexão GPRS. Para suprir as necessidades de alimentação foi utilizado para a fonte, o regulador chaveador LM2596 [30] que suporte até 3A em sua saída. 2) Unidade de Controle: A unidade de controle é responsável pela leitura das entradas, acionamento das saídas e gerenciamento das atividades do módulo GSM. Ela utiliza comunicação serial RS232 para o tráfego de comandos e notificações, possibilitando a comunicação com o software supervisório. A unidade de controle é composta por um microcontrolador de 8-bits, modelo 9S08SH16 da fabricante Freescale. 3) Memória EEPROM: Unidade de memória não volátil que armazena as configurações do sistema, por exemplo o APN (Access Point Name) e guarda as configurações da operadora de telefonia móvel que permitem o acesso a sua rede de dados para o acesso à internet para o estabelecimento da comunicação da unidade remota com o software supervisório. 4) Módulo GSM: Módulo GSM Telit GL865-QUAD. Realiza a comunicação da unidade remota com o software supervisório via GPRS, gerenciado pelo firmware embarcado no microcontrolador da unidade de controle. É possível configurá-lo com dois tipos de conexões, modo comando e modo online. Foi utilizado o tipo de conexão em modo comando, pois no modo online qualquer dado impresso na serial é transmitido, impedindo a utilização de vários recursos Em sua definição, firmwares ou softwares embarcados são softwares embutidos em qualquer equipamento, seja ele de qualquer natureza. Podemos exemplificar como softwares embarcados os equipamentos portáteis de medição, os sistemas operacionais de celulares, os software de máquinas fotográficas digitais, máquinas de lavar, impressoras, software de equipamentos de rede como os roteadores[31], entre outros. No meio eletrônico, são considerados sistemas embarcados os softwares desenvolvidos para executarem tarefas específicas em equipamentos específicos, diferente de equipamentos de propósito geral como um computador pessoal. Para maior organização e um melhor entendimento do sistema a fim de facilitar a manutenção e atualização do software embarcado, o firmware embarcado na unidade de controle foi dividido em pacotes. Dentre os pacotes do firmware destacamos três pacotes principais: interface, device e module_GSM. 1) Pacote de Interface: No pacote de interface são configurados os parâmetros dos registradores do microcontrolador separados por tipos de periféricos, portais de entrada e saída, definição da interrupção periódica, definição dos parametros da comunicação serial e suas respectivas interrupções ao enviar e receber dados. 2) Pacote Device: No pacote device é feita a implementação da lógica para o acesso e controle dos periféricos externos da unidade de controle. Temos a implementação do protocolo I2C (Inter-Integrated Circuit), protocolo de comunicação com dispositivos interligados em barramento serial, utilizado para comunicação com a memória EEPROM 3) Pacote Module_GSM: No pacote module_GSM é feito o gerenciamento das atividade do módulo separados em controle de chamada telefônica, controle de envio e recepção das mensagens SMS e controle de configurações e conexões GPRS. Toda a lógica que utiliza as funcionalidades descritas acima estão implementadas em uma classe chamada main.c de acordo com o fluxograma da Figura 7. A. DESCRIÇÃO DO SOFTWARE DE CONTROLE INICIO A tela principal do sistema supervisório disponibiliza ao operador uma lista de unidades remotas. Cada unidade remota, ao ser selecionada, exibe seus dispositivos, tanques e bombas com seus respectivos status. Está disponível também a visualização de alarmes e acesso às opções de solicitação de status e desligamento de todas as bombas em caso de emergência. A Figura 8 ilustra a tela principal com todas as opções oferecidas por ela. INICIALIZAÇÃO DOS REGISTRADORES MICRO-CONTROLADOR, TIMERS, COMUNICAÇÃO SERIAL, ENTRADAS, SAÍDAS, VARIAVEIS INICIALIZAÇÃO DO MODULO GSM CONTROLE DA MAQUINA DE ESTADOS VERIFICAÇÃO DE RECEPÇÃP GPRS ACIONAMENTO DOS ATUADORES VERIFICAÇÃO DE RECEPÇÃP DE SMS EXECUTA CONFIGURAÇÃO VERIFICAÇÃO DE RECEPÇÃP DE SMS EXECUTA CONFIGURAÇÃO VERIFICAÇÃO DA CONEXÃO COM SERVIDOR EXECUTA CONEXÃO ANÁLISE DOS SENSORES ENVIO DE STATUS Figura 8. Tela principal do sistema supervisório. ANÁLISE DOS ATUADORES Figura 7. Fluxograma do firmware. VI. SOFTWARE SUPERVISÓRIO Como discutido, o sistema supervisório utilizado pelos operadores a fim de gerenciar remotamente as partes relevantes do sistema de distribuição de água foi desenvolvido na linguagem de programação Java utilizando da IDE de desenvolvimento NetBeans e utiliza como base de dados o banco de dados MySQL. A fim de facilitar o acesso aos dados no banco de dados MySQL, no projeto do software supervisório também foi utilizado o framework Hibernate. Além de permitir o gerenciamento remoto das partes do sistema, o software supervisório permite o cadastro de novas unidades remotas com seus respectivos dispositivos a serem monitorados, permitindo ao operador adicionar mais pontos a serem gerenciados quando necessário. As partes mais relevantes do software supervisório serão descritas adiante. A tela de configuração possibilita cadastrar novos operadores no sistema, cadastrar novas unidades remotas, visualizar logs do sistema, verificar configurações de rede e ainda planejar ações automáticas. Nas configurações das unidades remotas, podem ser determinadas quantas e quais bombas e tanques pertencem a uma unidade remota. O administrador do sistema poderá ainda vincular um determinado reservatório a uma ou mais bombas cadastradas no sistema, ainda que a bomba definida não pertença a mesma unidade remota. O sistema pode operar por ações automáticas solicitando status de nível de reservatório e status das bombas automaticamente, ligar e/ou desligar uma bomba de acordo com o nível de um reservatório específico e desligar bombas automaticamente em caso de falha de leitura de nível. Para maior segurança operacional, novos usuários podem ser cadastrados no sistema com diferentes níveis de acesso. Todas as ações executadas no sistema são armazenadas em um log de eventos permanente, que gera relatórios de operações do sistema. Mesmo as ações mais simples como solicitar manualmente o status de uma ou todas as UR`s (Unidades Remotas), ligar/desligar uma determinada bomba, verificar quais UR`s estão online, entre outras ações, são armazenadas no log do sistema. As configurações de rede permitem determinar qual porta de comunicação será utilizada, configurar o tempo de solicitação automática de status das unidades remotas, configurar o timeout da resposta das unidades remotas, além de outras opções de controle do servidor do sistema supervisório. Todas as conexões ativas são listadas detalhadamente, exibindo o nome da UR, IP, e porta utilizada. Por utilizar conexão via GPRS entre as UR`s e o sistema de controle, não há limite geográfico de operação, bastando que a área tenha cobertura de alguma operadora de telefonia, permitindo também que as operações ocorram em tempo extremamente rápido. Todas as unidades remotas previamente configuradas se conectam automaticamente ao sistema de controle, que as identifica e solicita um status inicial. Caso haja alguma tentativa de conexão inválida, esta é finalizada e registrada em um log. O sistema monitora ainda o estado de todas as conexões, evitando que as operadoras finalizem a comunicação ou que ocorra algum erro quando o IP e/ou porta de comunicação das UR`s é alterado pela operadora de telefonia. Todas as informações trocadas entre o sistema de controle e as UR`s geram um alerta ao operador e podem ser visualizadas tanto na interface operacional de forma gráfica quanto em uma interface de alarme de forma textual mais detalhada. VII. CONCLUSÃO Nesse trabalho foi mostrada a importância da automação nos sistemas de abastecimento de água e como a tecnologia pode auxiliar no processo de gerenciamento destes sistemas de forma mais ágil. O que deve ficar evidenciado é que com a automatização dos processos de distribuição de água, as empresas fornecedoras deste serviço poderão melhorar ainda mais o gerenciamento de suas estruturas e minimizar significativamente suas perdas, consequentemente fornecendo um serviço de melhor qualidade à população. Após a finalização e implantação do sistema, o sistema foi estendido à todas as demais unidades da rede de abastecimento de água da cidade de Boa Esperança, isso porque foi evidenciado que as vantagens técnicas de operação dos pontos dos reservatórios e de bombeamento automatizados são grandes e com informações mais precisas, comparado a um sistema manual convencional. O grande desafio deste projeto, está concentrado no aprendizado de algumas tecnologias utilizadas. Para o futuro, há a necessidade de expandir os meios de comunicação utilizados no projeto, como explorar os módulos 900 MHZ para até 10Km que possibilitam comunicação ponto a ponto ou em rede. Outro meio de comunicação que vem se popularizando é a tecnologia Zigbee, comunicação sem fio para distancias de até 2Km, também multiponto. Estes recursos possibilitam a independência de infraestrutura de comunicação. Durante a implantação do sistema houveram solicitações de ampliação do sensoriamento e controle do sistema, como o monitoramento de pressão e vazão das adutoras, com controle elétrico de válvulas da rede de distribuição. Apesar do sistema objetivar a supervisão das operações de distribuição de água tratada, houveram solicitações relacionadas as operações da estação de de tratamento de esgoto. Como o tratamento de esgoto utiliza microbiologia para degradar os componentes químicos, se faz necessária a medição e controle continuo de ph, temperatura e oxigenação, para que os micro-organismos utilizados no tratamento possam sobreviver e se reproduzir. As informações geradas no processo de tratamento, devem ser armazenadas continuamente para geração periódicas de relatórios, que são enviadas aos órgãos ambientais, este requisito implica também em utilizar um DATALOG (registradores de dados), pois em caso de falha de comunicação, os dados não seriam perdidos. 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