FILOSOFIA E ECOLOGIA NOS POVOS DA AMAZÔNIA - CEFET

Propaganda
FILOSOFIA E ECOLOGIA NOS POVOS DA AMAZÔNIA: CONTRIBUIÇÕES
PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS
Samya de Oliveira Sanches1
Universidade do Estado do Amazonas-UEA
Manuel do Carmo da S. Campos2
Universidade do Estado do Amazonas-UEA
Maria Clara Silva-Forsberg3
Universidade do Estado do Amazonas-UEA
RESUMO: Este estudo tem por objetivo relacionar a Ecologia, enquanto reflexão
filosófica, com o Ensino de Ciências, a partir da visão ecológica (homem-natureza) nos
Waimiri-Atroari4, por meio da pesquisa bibliográfica, revisão de literatura e do
diagnóstico da situação que está sendo realizado na Comunidade representante da aldeia
dos Waimiri-Atroarí, localizado na Rua Recife, zona centro-sul de Manaus-Amazonas.
Neste artigo procurarar-se-á levantar questionamentos para a prática educacional dos
professores do ensino de Ciências, no sentido de contribuir como nova ferramenta
tecnológico-didática para sua melhor compreensão científica.
PALAVRAS-CHAVE: Filosofia; Ecologia; Ensino de Ciências.
Introdução e Objetivos
O objetivo geral quer compreender a relação homem-natureza enquanto conhecimento e
prática ecológica dos Waimiri-Atroarí, a partir de uma perspectiva filosófica e nos
objetivos específicos pretende-se:
•
Conhecer a relação ecológica mítico-racional do homem-natureza dos
Waimiri-Atroarí.
•
Analisar a relação homem-natureza dos Waimiri- Atroarí baseando-se nas
premissas ecológicas e sustentáveis.
•
Evidenciar a contribuição dessa relação homem-natureza dos WaimiriAtroarí para o ensino de Ciências na Amazônia.
1. Ecologia enquanto reflexão filosófica nos filósofos originários.
A preocupação com questões relacionadas à natureza e ao cosmos permeia a
humanidade desde tempos longínquos, mas de forma sistemática e até mesmo com um
rigor científico, se deu inicialmente com os filósofos originários na Grécia Antiga,
quando alguns gregos admirados e espantados com a realidade, insatisfeitos com as
explicações que a tradição mitológica lhes dava, começaram a fazer perguntas e buscar
respostas para elas.
O pensamento dos filósofos da natureza perguntava sobre o que é o ser e onde
poderíamos encontrá-lo, e detectava-se a resposta no real. A pergunta – onde todas as
coisas têm sua origem? – Tales respondeu que estava na água, elemento da natureza,
pois a água unifica todas as coisas, ela é a origem e sobrevivência dos seres, todas as
coisas dependem da umidade, a chuva fertiliza a terra e faz crescer as plantas. Para
Anaxímenes o princípio de todas as coisas era o ar, que gera, rege e governa todas as
coisas, as que foram e as que serão (Abbagnano, 1968).
Partindo desse princípio que o mundo, a natureza esta cheia de ser, cheia de vida, de
elementos, de substâncias constituintes das coisas na natureza esse estudo irá se
desenvolver de maneira que se evidencie como os Wamiri-Atraorí trabalham a questão
homem-natureza dentro de uma perspectiva ecológica e que possa trazer contribuições
para o ensino de Ciências na Amazônia.
2. A Ecologia nos Wamiri-Atroarí para o Ensino de Ciências.
Estamos num mundo globalizado em que as ferramentas tecnológicas e de multimídia,
favorecem informações sobre a ecologia de forma que nos damos conta de que não
estamos sozinhos e precisamos cuidar deste planeta e compreender do que trata a
2
temática ecológica, enquanto estudo das interações dos seres vivos entre si e com o
meio ambiente.
A palavra ecologia tem origem no grego “oikos", que significa casa, e "logos", estudo,
reflexão, dessa forma é o estudo da casa, ou de forma mais genérica, do lugar onde se
vive ( Reale e Antisseri, 2005), assim o meio ambiente afeta os seres vivos não só pelo
espaço necessário à sua sobrevivência e reprodução, mas também às suas funções vitais.
As relações entre os diversos seres vivos existentes num ecossistema incluem a
competição pelo espaço. Da evolução destes conceitos e da verificação das alterações de
vários ecossistemas, principalmente a sua degradação, pelo homem, levou ao conceito
da Ecologia Humana que estuda as relações entre o Homem e a Biosfera,
principalmente do ponto de vista da manutenção da sua saúde, não só física, mas
também social.
Dentro desse conceito maior que é a Ecologia encontramos o conceito de
Desenvolvimento Sustentavel (DS), em que recorreremos a Santos(2005) para nos
orientar quando afirma que a promoção da conservação da biodiversidade é um tema
relativamente recente no panorama científico mundial, tendo surgido nas décadas de
1980 e 1990 e rapidamente acolhido pelo discurso sobre a situação ambiental do
mundo, nomeadamente em fóruns internacionais como a Conferência do Rio de 1992 e
também a Convenção sobre Biodiversidade (CDB) das Nações Unidas (artº 2), que trata
o tema como “a variabilidade entre organismos vivos de todas as origens, incluindo
inter alia, a terrestre, a marinha e outros ecossistemas aquáticos e os complexos
ecológicos de que fazem parte, inclui a diversidade interna às espécies, entre espécies e
de ecossistemas”.
A idéia de sustentabilidade nos remete a uma questão ética e logo filosófica de cunho
ecológico, evidenciando-se assim uma interdisciplinaridade entre as ciências.
Dessa forma ensino de Ciências na Amazônia, seguindo uma tendência nacional,
segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) é uma das áreas em que se pode
reconstruir a relação homem/natureza de forma diferenciada, contribuindo para o
desenvolvimento de uma consciência social e planetária, visto que a partir dos anos 80,
3
este ensino se aproxima das Ciências Humanas e Sociais, reforçando o conhecimento
científico como construção humana e não como uma verdade natural, única e absoluta,
em que se percebe também a importância atribuída à História e à Filosofia da Ciência
no processo educacional.
3. Os Wamiri-Atroarí
No que se refere aos Waimiri-Atroarí, segundo Campos (2007), tudo é feito a partir da
comunidade, eles se recusam a qualquer atividade que seja solicitado individualmente,
até mesmo questionários. Em sua relação ecológica homem-natureza, Campos (2007)
observa que no que diz respeito especificamente ao cuidado com a natureza, o rio, o lixo
e o esgoto, eles enfatizam que os seus bisavôs lhes ensinaram a não poluir o meio
ambiente e que hoje, com a ajuda do Programa Waimiri-Atroarí eles desenvolvem
trabalhos de proteção ambiental, vigilância dos seus limites territoriais, além da coleta e
reciclagem de lixo.
Entre questões de outra ordem, a preocupação maior dos Waimiri-Atroarí consiste, de
acordo com Campos (2007) na não destruição da natureza, visto ela oferecer para os
seres vivos o oxigênio que precisam para viver.
No que trata da prática sustentável dos Waimiri-Atroarí, eles manifestam o cuidado com
a floresta, a terra, os animais e pássaros deve se ter porque estão sendo danificados e
ameaçados de extinção, como nos diz Campos, 2007, “todos cuidam da natureza para
que os seres vivos que nela habitam não entrem em extinção, porque eles dependem
desses animais para viver”.
Detecta-se de forma inicial uma estreita relação homem-natureza, que se fundamenta
em uma herança cultural passada de pai para filho e que será mais bem explorada a
partir do andamento das pesquisas e estudos a seres concluídos.
4. Problema, Hipótese e Procedimentos Metodológicos
4
Há uma cultura ecológica no cotidiano dos Waimiri-Atroarí? Se existe, ela é
proveniente da relação mítico-ético-racional homem-natureza herdada de seus
antepassados ou foi modificada por agentes externos com o passar do tempo?
Nossa pesquisa parte da premissa de que a relação homem-natureza dos antepassados
dos
Waimiri-Atroarí
como
transfundo
mítico-ético-racional
formatou
o
desenvolvimento ecológico no cotidiano desse povo.
Nesse sentido a pesquisa está sendo inicialmente bibliográfica, com a realização de
revisão de literatura, em que se buscará referenciais teóricos para embasá-la
epistemologicamente. No trabalho de campo estamos nos orientando a partir do método
dialético com a observação participante, entrevistas com perguntas aberta e fechadas e
etnografia.
5. Considerações Finais
No decorrer da pesquisa percebe-se que a relação entre Filosofia e Ecologia no
cotidiano dos Waimiri-Atroarí para o ensino de Ciências na Amazônia é de fundamental
importância para a construção científico-tecnológica da produção de conhecimento
dentro de uma perspectiva etnocientífica, tendo em vista que a cultura desse povo é uma
forma de conhecimento específico por tratar de saberes e de práticas peculiares ao seu
modo de vida.
Nesse sentindo, a discussão sobre a filosofia ,a ética, a ecologia no contexto amazônico
para a produção de saberes dos Waimiri-Atrori, abre viés para a integração e inclusão
dos indígenas na construção do conhecimento científico em espaços formais e nãofomais de educação, como instrumento de conhecimento, pesquisa e estudo.
7. Referências
ABBAGNANO, N. História da Filosofia. Vol.1. Lisboa,1968.
CAMPOS, M. do C. da S. Ecologia Humana, Natureza e Meio Ambiente nos povos
da Amazônia: Contribuições éticas, morais e culturais para o ensino de Ciências. UEA.
Editora BK: Manaus, 2007.
5
DELIZOICOV, D., Angotti, J.A., Pernanbuco, M.M. Ensino de Ciências.
Fundamentos e Métodos. São Paulo: Cortez, 2003.
NARDI, R., BASTOS, F., DINIZ, R.E.S. (Org). Pesquisas em ensino de Ciências.
Contribuições para formação de professores. São Paulo: Escrituras, 2004.
REALE, G., Antiseri, D. História da Filosofia. Vol.1. SP: Paulinas, 2005.
SANTOS, B.de S.S. (org). Semear outras Soluções: Os caminhos da biodiversidade
e dos conhecimentos rivais. RJ: Civilização Brasileira, 2005.
__________________.Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e
metodológicos da geografia. São Paulo: Hucitec, 1994.
1
Licenciada em Filosofia. Especialista em Ética e em Métodos e Técnicas em Pesquisa Social- UFAM.
Aluna do Mestrado Profissional em Educação e Ensino de Ciências - UEA
2
Teólogo e Filósofo – Graduação em Filosofia – Faculdade São Bento – Rio de Janeiro; Teologia –
PUC/ Rio de Janeiro; Mestrado em Teologia – iniciado na Academia Afonsiana – Pontifica Universidade
Lateranense – Roma e Pontifícia Universidade Gregoriana – Roma e concluído na PUC/ Rio de Janeiro;
Doutorado em Teologia Moral – Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção/ São Paulo – Brasil.
3
Bióloga, Mestre em Ciências Biológicas, área de concentração em Ecologia pelo INPA/Manaus, Ph.D.
em Environmental Sciences pela School of Public and Environmental Affairs, Indiana University,
Bloomington, Indiana, EUA.
4
Pertencentes a família lingüística Karib, os Waimiri-Atroarí se autodenominam Kinja. Habitam a terra
indígena Waimiri-Atroari localizada na divisa dos estados de Roraima e Amazonas. Existe em Manaus
uma sede do Programa Waimirr-Atroarí, na Av. Recife, Parque 10 de Novembro. Mesmo utilizando
utensílios industrializados, ainda conservam uma rica cultura material, retirando na floresta tudo que
necessitam para a produção de seus artefatos: palhas, sementes, folhas, penas e entre outros. O artesanato
não se destina apenas para uso domestico, mas também utilizado em seus rituais simbólicos (Campos,
2007).
6
Download